Advir 22 - Asduerj

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para superar o trauma causado pelo assassinato do amigo. De forma ainda mais cruel, descobriram-se mergulhados em um sistema capaz de tudo para permanecer no poder. “Foi muito chocante. Não tínhamos ainda tomado consciência de que um ato estudantil, uma simples passeata, poderia causar aquilo”, lembra Jane Corona. Para Valter Duarte, a “brutalidade” conhecida naquele 22 de outubro marcou de forma definitiva a turma, a faculdade e até mesmo a história da UEG. “Não passava pela nossa cabeça uma repressão tão violenta”, constata. Entre os estudantes, a constatação de que não havia limites para o regime levou a uma encruzilhada. Sem mais espaço para a luta aberta contra a ditadura, restavam poucos caminhos que não o da clandestinidade. Esta foi a opção do psiquiatra Adail Ivan Lemos após aquele dia. Herdeiro de uma família de políticos gaúchos, Adail apostava na negociação dentro e fora da Faculdade de Ciências Médicas. O trágico desfecho do dia do protesto fez com que mudasse de idéia e transformou a sua vida. Estudante aplicado, que até então ambicionava tornar-se médico cirurgião, abandonou a faculdade e ingressou na luta armada pouco tempo depois. “Naquele dia percebi que não havia muita escolha”, afirma. Não foram poucos a fazer a mesma avaliação. Mesmo estando em pauta desde o golpe de 64, a reação armada ganhou mais adeptos a partir do episódio. Luiz Tenório recorda-se de uma reunião de estudantes dias depois, na qual a maior parte dos presentes expressava incertezas quanto ao futuro do movimento. “Começou-se a discutir abertamente formas mais avançadas de luta, que, ao final, apelidou-se luta armada”. Quarenta anos depois, a memória daquele dia é dolorosa demais para alguns. Dilson Pires, que traz no corpo as marcas dos acontecimentos, tenta expulsá-las da lembrança. “Não gosto, me faz mal”, emociona-se. Para João Lopes Salgado, é algo difícil de superar: “Penso se aquilo não poderia ter sido evitado, se poderia ter sido um de ADVIR ADVIR Nº Nº 22 22 • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 28 28
nós que estava à frente do movimento. Do fundo da minha alma, é isso, eu tenho essa sensação. Ele não devia ter morrido”. Se os chavões devem ser evitados, alguns são inescapáveis. A memória de Luiz Paulo e do dia da sua morte não se esvaeceu para seus cole- gas. “Foi um tiro que matou o Luiz e matou um pouquinho todos nós. Por outro lado, nos uniu. A gente se reencontra até hoje. A cada dois ou cinco anos. A Turma está morrendo, quase 10% já se foi. Então, está na hora da gente contar esta história”, sintetiza Evelyn Eisenstein. ADVIR ADVIR Nº Nº 22 22 • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 29 29
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