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Advir 22 - Asduerj

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NCENDIARAM A GUANABARA<br />

são de um excedente de candidatos não-classificados<br />

no vestibular. Mesmo após ser pressionado por um<br />

alto dirigente do MEC, o diretor em exercício, Paulo de<br />

Carvalho, manteve a recusa. A represália veio por meio<br />

de corte de verbas, como relata Fábio Daflon, em<br />

“Título Provisório – O movimento estudantil nas<br />

Ciências Médicas”.<br />

Para os alunos, a questão era posta não mais como<br />

uma mobilização imediatista, e sim como uma luta pela<br />

reforma universitária. Em discurso durante a colação<br />

de grau da turma de 66, citado por Daflon, o professor<br />

Arnoldo Flávio da Rocha e Silva saudou a<br />

mobilização estudantil: “Vós tereis orgulho de dizer<br />

que pertenceis à classe que sustentou uma luta tão<br />

desigual e pôde desmascarar os coveiros da autonomia<br />

universitária.”<br />

O debate evolui, no ano seguinte, para a proposição<br />

de uma mudança no currículo e na<br />

metodologia de ensino da Ciências Médicas. A discussão<br />

é recuperada por Tenório: “O currículo era<br />

totalmente dissociado da realidade epidemiológica<br />

de mortalidade do país. Aprendíamos dentro da<br />

universidade coisas que não íamos ver pelo resto da<br />

vida e deixávamos de aprender o bê-á-bá da medicina<br />

e da saúde pública”.<br />

Em 1967, uma comissão formada por estudantes<br />

se reúne durante todo o ano para discutir o tema. Nas<br />

férias, elaboram um documento que é apresentado<br />

no início do período letivo, em março de 68.<br />

A A A g ggreve<br />

g<br />

Divulgado mão a mão e em grandes murais, como<br />

informa Daflon, o texto, que expressava as prerrogativas<br />

sob as quais os estudantes pretendiam encaminhar<br />

a reforma curricular, arrolava duras críticas ao<br />

modelo vigente. Dentre elas, a de que “o ensino superior<br />

no Brasil” definia-se “como um meio atraente de<br />

promoção individual, sem qualquer vínculo ou compromisso<br />

direto e imediato com o crescimento global<br />

da comunidade”. E, mais, a formação médica estava<br />

“caracterizada pelo espírito competitivo, pela<br />

irresponsabilidade frente aos problemas da socieda-<br />

de”; denunciava-se a “supervalorização da medicina<br />

de ‘alta qualidade’ levando à desvalorização da medicina<br />

voltada para a realidade”.<br />

Catalisando a insatisfação estudantil, o Casaf tentou<br />

articular a reestruturação do currículo, por meio<br />

de comissões paritárias de professores e alunos. A<br />

irredutibilidade das instâncias acadêmicas à reivindicação<br />

estudantil deflagrou, em agosto, uma greve de<br />

presenças e provas, que durou mais de noventa dias.<br />

Durante a greve ocorrem assembléias memoráveis.<br />

Os alunos, que assistiam às aulas sem responderem à<br />

chamada ou realizarem os exames, eram convocados<br />

quase que diariamente a se reunirem no refeitório ou<br />

no pátio da Faculdade. “Havia dias em que tínhamos<br />

duas assembléias, e a participação era maciça”, afirma<br />

Jane Corona, primeira secretária do Casaf na gestão<br />

que se iniciou em agosto de 68. Participavam, em<br />

média, de trezentos a quatrocentos alunos, segundo<br />

a estimativa de vários entrevistados.<br />

Da crise no Congresso Nacional à Primavera de<br />

Praga, tudo era tema para intermináveis discussões.<br />

“No dia em que as pessoas receberam a notícia da<br />

invasão da Tchecoslováquia pela União Soviética, houve<br />

uma proposta de que se queimasse, em protesto, a<br />

bandeira dos invasores. Alguém retrucou com o argumento<br />

de que se deveria também queimar a bandeira<br />

americana. Foi uma confusão e, por fim, não se queimou<br />

bandeira nenhuma”, conta Valter Duarte.<br />

Voluntarismo à parte, a disputa política se expressava<br />

nos inflamados discursos das assembléias. “Existia<br />

uma oposição de direita, articulada, que competia<br />

conosco. Havia muita tensão. Eram assembléias intensas”,<br />

recorda-se João Andrade, tesoureiro da gestão<br />

68 do Casaf. A exemplo do que ocorria em outros centros<br />

acadêmicos e DCEs, a disputa pela direção do<br />

Casaf travava-se, mesmo antes do golpe, entre grupos<br />

de coalizão progressistas, a “Unidade Estudantil”, e<br />

grupos direitistas de inspiração lacerdista, cujo nome<br />

foi mudado, após o golpe, de “Ordem e Progresso”<br />

para Movimento de Renovação Universitária. Seu lema<br />

era “estudante é para estudar”. Para um dos seus<br />

líderes, Carlos Alberto da Silva, citado por Daflon, “o<br />

ADVIR ADVIR Nº Nº <strong>22</strong> <strong>22</strong> • • OUTUBRO OUTUBRO DE DE 2008 2008 • • 33<br />

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