15.04.2013 Views

VÁRIAS HISTÓRIAS Machado de Assis - a casa do espiritismo

VÁRIAS HISTÓRIAS Machado de Assis - a casa do espiritismo

VÁRIAS HISTÓRIAS Machado de Assis - a casa do espiritismo

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Seguiu-se uma pausa <strong>de</strong> alguns segun<strong>do</strong>s. O clarineta foi pé ante pé<br />

preparar o remédio; o editor levantou-se e <strong>de</strong>spediu-se.<br />

— A<strong>de</strong>us.<br />

— Olhe, disse o Pestana, como é provável que eu morra por estes<br />

dias, faço-lhe logo duas polcas; a outra servirá para quan<strong>do</strong> subirem<br />

os liberais.<br />

Foi a única pilhéria que disse em toda a vida, e era tempo, porque<br />

expirou na madrugada seguinte, às quatro horas e cinco minutos,<br />

bem com os homens e mal consigo mesmo.<br />

A Desejada das Gentes<br />

— AH! CONSELHEIRO, aí começa a falar em verso.<br />

— To<strong>do</strong>s os homens <strong>de</strong>vem ter uma lira no coração, — ou não sejam<br />

homens. Que a lira ressoe a toda a hora, nem por qualquer motivo,<br />

não o digo eu, mas <strong>de</strong> longe em longe, e por algumas reminiscências<br />

particulares... Sabe por que é que lhe pareço poeta, apesar das<br />

Or<strong>de</strong>nações <strong>do</strong> Reino e <strong>do</strong>s cabelos grisalhos? é porque vamos por<br />

esta Glória adiante, costean<strong>do</strong> aqui a Secretaria <strong>de</strong> Estrangeiros. . .<br />

Lá está o outeiro célebre. . . Adiante há uma <strong>casa</strong>..<br />

— Vamos andan<strong>do</strong>.<br />

— Vamos... Divina Quintília! Todas essas caras que aí passam são<br />

outras, mas falam-me daquele tempo, como se fossem as mesmas <strong>de</strong><br />

outrora; é a lira que ressoa, e a imaginação faz o resto. Divina<br />

Quintília!<br />

— Chamava-se Quintília? Conheci <strong>de</strong> vista, quan<strong>do</strong> andava na Escola<br />

<strong>de</strong> Medicina, uma linda moça com esse nome. Diziam que era a mais<br />

bela da cida<strong>de</strong>.<br />

— Há <strong>de</strong> ser a mesma, porque tinha essa fama. Magra e alta?<br />

— Isso. Que fim levou?<br />

— Morreu em 1859. Vinte <strong>de</strong> abril. Nunca me há <strong>de</strong> esquecer esse<br />

dia. Vou contar-lhe um caso interessante para mim, e creio que<br />

também para o senhor. Olhe, a <strong>casa</strong> era aquela... Morava com um<br />

tio, chefe <strong>de</strong> esquadra reforma<strong>do</strong>, tinha outra <strong>casa</strong> no Cosme Velho.<br />

Quan<strong>do</strong> conheci Quintília... Que ida<strong>de</strong> pensa que teria, quan<strong>do</strong> a<br />

conheci?<br />

— Se foi em 1855...<br />

— Em 1855.<br />

— Devia ter vinte anos.<br />

— Tinha trinta.<br />

— Trinta?<br />

— Trinta anos. Não os parecia, nem era nenhuma inimiga que lhe<br />

dava essa ida<strong>de</strong>. Ela própria a confessava e até com afetação. Ao<br />

contrário, uma <strong>de</strong> suas amigas afirmava que Quintília não passava<br />

<strong>do</strong>s vinte e sete; mas como ambas tinham nasci<strong>do</strong> no mesmo dia,<br />

dizia isso para diminuir-se a si própria.<br />

29

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!