Djalma Limongi Batista - Cineclube Brasil
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evista cineclubebrasil<br />
novembro 2004<br />
30<br />
<strong>Cineclube</strong><br />
debate<br />
Das exibições promovidas pelo Centro Cineclubista de São<br />
Paulo, escolhemos a do curta-metragem Zagati (Nereu Cerdeira<br />
& Edu Felistoque, <strong>Brasil</strong>, 2001, cor/p&b, 17 min.) para alvo dos<br />
“torpedos” publicados nesta edição.<br />
Em todas as futuras edições de CINECLUBEBRASIL, publicaremos<br />
comentários sobre filmes exibidos em cineclubes. Você<br />
pode colaborar, enviando-nos textos a respeito de debates<br />
realizados em seu cineclube, acompanhados de material<br />
fotográfico. O espaço é este!<br />
Como sempre, os comentários e as opiniões são de absoluta<br />
responsabilidade de seus autores.<br />
Zagati, realidade ou ficção?<br />
O documentário Zagati já recebeu 18 prêmios, tornando-se<br />
um dos curtas mais premiados e exibidos do País. Em média,<br />
um curta tem sobrevida de um ano. Zagati tem três e demonstra<br />
continuar em pleno crescimento. Segundo os diretores, o<br />
segredo do sucesso está na magia da personagem, que, no<br />
filme, nos remete à emoção por meio de um tratamento quase<br />
ficcional. A personagem não só nos conta sua trajetória, mas<br />
nos envolve em sua história: é uma verdadeira cartarse. Tudo<br />
é muito espontâneo, como ressaltam os diretores, mas existem<br />
momentos em que foi necessária uma certa dramaturgia para<br />
manter o encantamento. O mais surpreendente neste<br />
documentário é que, por muitos momentos, temos a sensação<br />
de que a personagem foi criada, que ela não existe. Isto ocorre<br />
não só pela figura singular de Zagati, mas pela direção, pela<br />
fotografia e pela direção de arte.<br />
Existem imagens impressionantes, como é o caso de uma<br />
panorâmica de casas amontoadas que dá a sensação de uma<br />
montagem ao som off de Zagati, que parece ter saído de uma<br />
ficção em preto-e-branco. Resumindo, o filme sintetiza-se numa<br />
frase de Zagati: “As pessoas têm obras-primas em casa e jogam<br />
no lixo, viram sucata.” A realização deste trabalho traduz esta<br />
reflexão: os diretores fizeram o filme com sobras de negativos de<br />
comerciais em super 16 mm, transformaram o que poderia virar<br />
lixo em arte. Talvez a fala de Zagati também retrate as obras<br />
cinematográficas brasileira — obras de arte que acabam em<br />
prateleiras, não chegam nas telas (ao público) e acabam virando<br />
sucata, simplesmente por falta de uma política de exibição. Zagati<br />
tem o dom de dialogar com o público, e talvez este seja seu maior<br />
talento, tratar a arte como esta merece.<br />
por Joseane Alfer<br />
do Centro Cineclubista de São Paulo<br />
fotos: arquivo<br />
fotos: Edu Felistoque e Nereu Cerdeira<br />
Nereu Cerdeira e Edu Felistoque