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<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong><br />
Ano 6 - Número 54 - R$ 8,00<br />
ConVisão<br />
Alberto Arizu, Luigi Bosca<br />
Jean Charles Villard<br />
O show da Decanter<br />
Dario Pieropan<br />
Júlio Bastos, Quinta do Carmo<br />
Domingos Alves de Souza<br />
Destaques<br />
do evento de<br />
vinhos da<br />
importadora<br />
que trouxe<br />
grandes<br />
produtores<br />
ao Brasil<br />
Gianni Menotti, Villa Russiz<br />
Josef Reiterer, Arunda<br />
www.jornalvinhoecia.com.br<br />
E mais: enogastronomia em alta em Florianópolis<br />
Acari Amorim, Quinta da Neve<br />
Nicolas Saelzer, Caliterra
Aperitivo<br />
EstE é um<br />
Uma brincadeira envolvendo<br />
o nosso colunista<br />
e amigo Beto Acherboim<br />
na edição passada suscitou<br />
uma polêmica sobre ser ou não<br />
ser sério este veículo de comunicação.<br />
E a resposta é sim, mas<br />
também é não, dependendo do<br />
ponto de vista.<br />
No lugar do texto do Beto,<br />
colocamos uma foto do colunista<br />
em um anúncio, em estilo<br />
velho oeste norte-americano, e a<br />
palavra “procura-se”, seguida de<br />
frase explicando que recompensaríamos<br />
com bom texto quem<br />
achasse o colunista que não<br />
havia encaminhado em tempo ao<br />
editor o seu texto da edição. Uns<br />
acharam a brincadeira muito engraçada,<br />
e outros, de mau gosto,<br />
Nas páginas desta edição...<br />
4- Acontece<br />
No mundo do vinho<br />
6- <strong>Vinho</strong> Tinta<br />
(Custódio)<br />
8- <strong>Vinho</strong>&Saúde<br />
(Jairo Monson)<br />
9- Decanter Wine Show<br />
4<br />
jornal sério?<br />
por quebrar a seriedade do jornal<br />
e do colunista.<br />
Respeitamos democraticamente<br />
a opinião de todos, porém<br />
defendemos a brincadeira.<br />
Afinal, um dos propósitos de<br />
qualquer veículo de comunicação,<br />
além de bem informar, é<br />
chamar a atenção e desenvolver<br />
conteúdos bons para se apreciar<br />
e gerar debates.<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> reúne, há tempo,<br />
a maior equipe especializada<br />
em vinho no país, e o que une<br />
essa equipe de vários locais do<br />
Brasil é a missão do jornal de<br />
falar sobre a bebida e demais<br />
prazeres ligados à gastronomia<br />
de modo descontraído, simples<br />
e com bom humor. Aqui todos<br />
escrevem livremente, sem qual-<br />
16- América do Sul<br />
(Euclides Penedo Borges)<br />
17- Velho Mundo<br />
(Walter Tommasi)<br />
18- Novo Mundo<br />
(Beto Acherboim)<br />
19- <strong>Vinho</strong> na Academia<br />
(Carlos Arruda)<br />
20- Que negócio é esse?<br />
(Álvaro Cézar Galvão)<br />
21- Mercado do <strong>Vinho</strong><br />
(Adão Morellatto)<br />
9<br />
quer censura. Apresentamos as<br />
avaliações e recomendações com<br />
as devidas responsabilidades e<br />
imparcialidades, ressaltando o<br />
positivo, mas algumas vezes com<br />
críticas, e frequentemente com<br />
toques bem humorados.<br />
A conhecidíssima rádio CBN<br />
usa e abusa do bom humor entre<br />
os seus jornalistas. Esse método<br />
de comunicação torna a sua audição<br />
mais agradável e atrativa,<br />
e não diminui a seriedade das<br />
notícias e dos comentários.<br />
E após essa séria polêmica,<br />
com seriedade destacamos nesta<br />
edição a grande feira realizada<br />
pela importadora Decanter em<br />
quatro capitais brasileiras.<br />
Seriamente estréia um renomado<br />
colunista: João Lombardo,<br />
22- Reportando<br />
(Denise Cavalcante)<br />
23- Circuito do <strong>Vinho</strong><br />
(Fernando Quartim)<br />
24- <strong>Vinho</strong> é arte<br />
(Maria Amélia)<br />
25- Uai!<br />
(Andréa Pio)<br />
26- De Catarina<br />
(João Lombardo)<br />
versando sobre Santa Catarina,<br />
em ascensão gastronômica.<br />
Ainda nossa equipe traz muitas<br />
dicas e informações acerca do<br />
sério mundo do vinho. Ou não<br />
seria sério? Seriamente, é melhor<br />
julgar você mesmo. Tim-tim!<br />
Regis Gehlen Oliveira, editor<br />
23 29<br />
28- Viajando com vinho<br />
(Adriana Bonilha)<br />
29- Charutos & Destilados<br />
(Cesar Adames)<br />
30- Comportamento<br />
(Didú Russo)<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong><br />
Ano 6 - Número 54<br />
www.jornalvinhoecia.com.br<br />
Editor<br />
Regis Gehlen Oliveira<br />
Publicação<br />
ConVisão<br />
Al. Araguaia, 933, 8o. and.<br />
Alphaville<br />
06455-000, Barueri, SP<br />
Colaboradores<br />
Adão Morellatto / Adriana Bonilha<br />
Álvaro C. Galvão / Andréa Pio<br />
Beto Acherboim / Carlos Arruda<br />
Cesar Adames / Custódio<br />
Denise Cavalcante / Didú Russo<br />
Norio Ito / Euclides Penedo Borges<br />
Fernando Quartim / Jairo Monson<br />
João Lombardo / Maria Amélia<br />
Renato Frascino / Sérgio Inglez<br />
Walter Tommasi<br />
Assinaturas e<br />
Propaganda<br />
(11) 4192-2120<br />
jornal@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> é uma publicação da<br />
ConVisão relativa ao segmento de<br />
vinhos e suas companhias naturais,<br />
como gastronomia, restaurantes,<br />
prazer, conhecimento, viagens e<br />
outras. Circula principalmente em São<br />
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais<br />
e Rio Grande do Sul, nos principais<br />
restaurantes e lojas especializadas.<br />
Pode ser adquirido por assinaturas<br />
ou em bancas selecionadas.<br />
Os artigos e comentários assinados não refletem<br />
necessariamente a opinião da editoria.<br />
A menção de qualquer nome neste veículo não<br />
significa relação trabalhista ou vínculo contratual<br />
remunerado.<br />
Associado à<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
3
4<br />
Acontece<br />
No mundo do vinho<br />
Horizontal EspEtacular<br />
Que tal provar cinco vinhos de uma linha premium de rótulos<br />
chilenos? A equipe do <strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> fez isso na vinda ao Brasil do<br />
enólogo-chefe da Viña Ventisquero, Felipe Tosso (foto acima).<br />
Ele apresentou a boa linha Grey, com preços na faixa de 80 reais,<br />
que abrange o branco Chardonnay e os tintos Carmenère, Merlot,<br />
Cabernet Sauvignon e Syrah.<br />
Mostraram-se espetaculares o Chardonnay, amanteigado, seco,<br />
leve, com ótima acidez e intensidade de sabor, e o Carmenère, com<br />
toques de cacau, boa untuosidade e madeira na medida certa, sem os<br />
excessos costumeiros de carvalho de muitos vinhos chilenos.<br />
Mas você mesmo pode comparar e escolher os seus favoritos. Os<br />
vinhos da Ventisquero são distribuídos no Brasil pela Cantu:<br />
(0300) 210-1010.<br />
curso dE<br />
alta Gastronomia<br />
A FAAP (Fundação Armando<br />
Álvares Penteado) de<br />
São Paulo promove a segunda<br />
edição do Curso de Extensão em<br />
Alta Gastronomia, e abre inscrições<br />
para início de setembro. É<br />
dirigido a chefs recém-formados,<br />
empreendedores da área e<br />
amantes da gastronomia. Serão<br />
15 meses de aulas, às terças e<br />
quintas-feiras e eventualmente<br />
aos sábados. Entre o corpo docente<br />
estarão Emanuel Bassoleil,<br />
Ana Luiza Trajano, Luciano<br />
Boseggia, Breno Raigorodski e<br />
outros. (11) 3662-7311 ou art.<br />
diretoria@faap.br.<br />
sElo fiscal<br />
Em janEiro<br />
A Receita Federal prorrogou<br />
para a partir do início do ano<br />
que vem a entrada em vigor da<br />
legislação que exige a colocação<br />
de selo fiscal nos vinhos, à semelhança<br />
dos destilados.<br />
Como medida para combater<br />
a sonegação, parte do mercado<br />
receia que tenha impacto no<br />
preço, sobretudo dos pequenos<br />
produtores.<br />
Grand tastinG<br />
A Grand Cru promoveu em<br />
agosto em São Paulo seu Grand<br />
Tasting. À prova estiveram para<br />
degustação uma seleção de rótulos<br />
da importadora de variados<br />
países.<br />
(11) 3062-6388<br />
VErtical EspEtacular<br />
Se uma degustação horizontal é interessante, uma vertical é<br />
instigante. O enólogo Andrés Sanhueza (foto abaixo) conduziu em<br />
São Paulo, no restaurante Fasano, somente para profissionais, uma<br />
prova da linha top da vinícola Santa Ema, a Catalina, com preços no<br />
mercado em torno de 160 a 200 reais. Na mesa estiveram presentes<br />
os rótulos das safras de 1998, 2001, 2003, 2005, 2006 e 2007.<br />
Todas as safras dos anos 2000 do Catalina foram produzidas com<br />
corte de aproximadamente 75% Cabernet Sauvignon, 18% Carmenère<br />
e 7% Cabernet Franc. A de 1998 foi feita com 70% Cabernet Sauvignon,<br />
15% Merlot e 15% Cabernet Franc.<br />
A maioria da equipe do <strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> gostou mais da 1998, com<br />
jeito de Velho Mundo, bastante elegante, sutil, bem arredondada,<br />
com toques herbáceos e um ligeiro salgado, próprio do terroir. A de<br />
2005, a segunda na preferência, com ares de Novo Mundo, já é bem<br />
mais frutada, potente e encorpada.<br />
Os vinhos da Santa Ema são distribuídos pela Vinoteca:<br />
(41) 3373-3444.<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
o VEnEnciador E o jErEz<br />
Para promover o Jerez Fino Tio Pepe, a Inovini, divisão de vinhos<br />
da importadora Aurora, trouxe um autêntico venenciador para fazer<br />
o serviço do Jerez. A última vez que os brasileiros apreciaram o Jerez<br />
Fino servido da mais tradicional forma oriunda da Espanha foi há<br />
mais de dez anos, em sua última vinda ao País.<br />
Esse profissional é especializado em extrair a bebida de dentro da<br />
barrica sem danificar o véu de “flor” que protege o vinho da oxidação,<br />
por meio de uma ferramenta denominada venência. O que torna o<br />
espetáculo fascinante é a precisão com que ele serve o Jerez: primeiro<br />
introduz a venência pela boca do bojo da barrica e, com um golpe<br />
seco e preciso, rompe a “flor”, extrai o vinho limpo, lança ao ar para<br />
que se oxigene e recolhe com a taça sem deixar com que uma só gota<br />
caia pra fora. Dessa forma, o vinho chega agitado e, para o delírio<br />
dos especialistas, libera todos os aromas de uma só vez.<br />
O venenciador que fez o espetáculo foi Genaro Benítez, o mesmo<br />
que esteve pela última vez em território nacional há mais de dez anos.<br />
Desde os 18 anos ele pratica diariamente essa arte que aprendeu com<br />
o famoso, e já falecido, Pepe Ortega. Quando Pepe se aposentou, em<br />
1973, Benítez ocupou seu lugar, viajando, desde então, pelos cinco<br />
continentes a mais de 100 países.<br />
Aqui no Brasil, ele fez apresentações em um Festival de Jamón,<br />
com entradas e pratos que levam o tradicional embutido espanhol na<br />
receita e harmonizam perfeitamente com o Jerez.<br />
Além do Tio Pepe, vinho próprio para ser servido pelo venenciador,<br />
a Inovini importa com exclusividade para o mercado brasileiro<br />
outros rótulos produzidos pelo grupo González Byass: Beronia Blanco<br />
de Viura, Beronia Crianza, Beronia Reserva, Beronia Gran Reserva,<br />
da região de Rioja, e o famoso Solera 1847, Jerez Oloroso Doce.<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
curso sommEliEr ais no Brasil<br />
Acontece<br />
A AIS (Associazione Italiana Sommelier) está oferecendo em São<br />
Paulo o curso para Sommelier Internacional, com o apoio do ICIF<br />
(Italian Culinary Institute for Foreigners). Apoiam o projeto também<br />
a Abresi (Associação dos Bares, Restaurantes e Similares), que sedia<br />
o curso de São Paulo, a Aregala (Associación de los Restauradores<br />
Gastronómicos de las Américas) e a firma Bormioli Rocco & Figli,<br />
que produz e fornece os copos para as degustações.<br />
O curso fornecerá diploma da AIS, a mais antiga das associações<br />
de sommeliers italiana, e da WSA (Worldwide Sommelier Association).<br />
Os cursos da AIS se dividem em 3 níveis, com duração de uma<br />
semana (de segunda a sexta) cada um, num total de 6 horas por dia.<br />
Os primeiros dois níveis do curso serão dados inicialmente em São<br />
Paulo, sendo que o primeiro nível será ministrado pelo conselheiro<br />
AIS e professor de várias universidades italianas, Lorenzo Giuliani.<br />
O terceiro nível, também de uma semana, será dado na Itália, na sede<br />
do ICIF, no Castelo de Costigliole d’Asti.<br />
lançamEntos dE azEitE E VinHos portuGuEsEs<br />
Tomás Roquette esteve no<br />
país para acompanhar vários<br />
lançamentos de suas empresas<br />
portuguesas: Herdade do Esporão,<br />
Quinta do Crasto e Roquette<br />
& Cazes, esta em parceria com<br />
a família Cazes, do Chateau<br />
Lynch-Bages (de Bordeaux,<br />
França).<br />
Uma primeira novidade é o<br />
azeite premium Quinta do Crasto,<br />
extra virgem, do Douro, com<br />
sabor espetacular e bela garrafa<br />
italiana. A 45 reais está barato.<br />
Na linha dos vinhos, o Esporão<br />
Branco Reserva 09 (R$75)<br />
está maravilhoso, untuoso e delicioso.<br />
O tinto Esporão Private<br />
Selection 07 (R$186) está ótimo,<br />
bastante concentrado e saboroso.<br />
O também tinto Roquette &<br />
Cazes 06 (R$144), de Touriga<br />
Nacional, Touriga Franca e Tinta<br />
Roriz, é concentradíssimo, está<br />
hoje bastante taninoso e tem<br />
potencial para ser bem bebido<br />
daqui a alguns anos.<br />
A Qualimpor distribui todos<br />
os produtos no Brasil:<br />
(0800) 702-4492<br />
Para maiores informações entrar em contato pelos telefones:<br />
(11) 3825-1950 e 3825-1950 ou pelo e-mail brazil@icif.com.<br />
5
6<br />
<strong>Vinho</strong> Tinta<br />
Com o pirata...<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
C<br />
M<br />
Y<br />
CM<br />
MY<br />
CY<br />
CMY<br />
K<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
O AUGE AOS<br />
ANOS
8<br />
<strong>Vinho</strong> & Saúde<br />
É verdade que...<br />
Muito provavelmente, sim. Estudos feitos nos<br />
Estados Unidos da América e na Espanha sugerem<br />
que o uso adequado do vinho no preparo<br />
dos alimentos, além de enriquecer os aromas e sabores,<br />
pode reduzir o risco de doenças e agregar benefícios<br />
para a saúde.<br />
Há séculos o vinho é usado nas preparações gastronômicas<br />
porque ele enriquece os aromas e sabores dos<br />
alimentos, dando personalidade, expressão e fineza aos<br />
pratos.<br />
Ele também evita que os alimentos grudem na panela.<br />
Esta propriedade ímpar o torna um importante aliado de<br />
quem cozinha.<br />
O vinho é amplamente utilizado em receitas gastronômicas<br />
para marinar, em sopas, grãos, carnes, massas<br />
e até mesmo em sobremesas e frutas. As possibilidades<br />
são muitas. E para isso pode-se usar tanto os brancos,<br />
tintos, licorosos ou espumantes.<br />
A Dra. Azlin Mustapha da Universidade de Missouri<br />
apresentou uma interessante pesquisa durante sessão<br />
científica do Instituto de Tecnologia de Alimentos, em<br />
...pratos prEparados<br />
com VinHo trazEm<br />
BEnEfícios à saúdE<br />
julho do ano passado, em Chicago. Ela mostrou que o<br />
vinho tinto mata a bactéria Helicobacter pylori. Esse<br />
microrganismo chega ao nosso corpo pela ingestão, principalmente<br />
de alimentos e água. Ela é a principal causa de<br />
úlcera péptica, gastrite e até mesmo câncer do estômago.<br />
A pesquisadora constatou também que o vinho tinto mata<br />
outras bactérias como a Escherichia coli, Salmonellas, Estafiloccocus,<br />
Pneumoccocus entre outras. Esses agentes<br />
são os que mais causam infecções intestinais, urinárias e<br />
respiratórias. A Dra. Azlin salienta que o vinho eliminou<br />
essas bactérias sem atingir as probióticas. Essas são microorganismos<br />
do bem que fazem parte da flora normal<br />
do tubo digestivo e ajudam na digestão.<br />
É importante salientar que esse estudo foi feito em<br />
laboratório, isto é, in vitro. Esses resultados, apesar de<br />
empolgarem, nem sempre são reprodutíveis em seres<br />
humanos. Estudos em animais, ou seja, in vivo, estão<br />
em andamento, e dentro de pouco tempo teremos os<br />
resultados.<br />
O que torna os alimentos dourados e dá determinados<br />
sabores aos alimentos são as aminas heterocíclicas,<br />
formadas pela reação de Maillard. Esta reação ocorre<br />
?<br />
durante o processo normal de cozimento. Aminoácidos<br />
e carboidratos, pelo calor, sofrem ação dos radicais livres<br />
e formam as aminas heterocíclicas. Essas aminas são<br />
tóxicas para os gens e mutagênicas – podem causar uma<br />
série de tipos de cânceres.<br />
A Dra. Rosa Busquets e colegas da Faculdade de<br />
Química da Universidade de Barcelona, na Espanha,<br />
fizeram um interessante trabalho publicado no Journal of<br />
Agricultural and Food Chemistry. Ela comparou peitos<br />
de frangos fritos previamente marinados com vinho e não<br />
marinados. Os que foram preparados com vinho tinham<br />
quase 90% menos aminas heterocíclicas.<br />
Como vimos, o vinho tem se mostrado bonançoso<br />
para a nossa saúde tanto na taça como na panela.<br />
Jairo Monson<br />
Médico e escritor<br />
jairo@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
dEcantEr<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
WinE sHoW 2010<br />
Mercado<br />
Fotos: Gladstone Campos<br />
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis abrigaram em cinco dias o terceiro Decanter Wine<br />
Show, na sua edição de 010, realizado pela importadora Decanter. Estiveram para degustação cerca de<br />
500 rótulos diferentes, apresentados pessoalmente por 1 produtores e 5 enólogos das diversas vinícolas<br />
do catálogo da importadora. Quase 4 mil pessoas estiveram presentes nos confortáveis espaços, e a equipe do<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> esteve presente em peso, conferindo tudo. Nas páginas seguintes trazemos vários destaques...
Mercado<br />
10<br />
o mElHor<br />
até 100 rEais<br />
Por Didú Russo<br />
Os 71 produtores que Adolar e Edson Herman<br />
trouxeram para o Decanter Wine Show 2010 tinham<br />
em suas mesas um total de 486 garrafas! Impossível<br />
provar tudo em dois dias em São Paulo. Em eventos<br />
como esses, além de ter muito vinho para se degustar<br />
em pouco tempo, também existe um lado social<br />
importante, pois sempre um amigo quer lhe contar<br />
algo, um leitor seu vem se apresentar, e a educação<br />
exige que você dê atenção.<br />
Então me dispus a degustar apenas os vinhos<br />
abaixo de R$100. Poderia assim prestar um serviço<br />
interessante aos meus leitores e telespectadores (no<br />
http://blogdodidu.ip.net você encontra 30 vídeos de<br />
produtores), pois a grande maioria das pessoas é comum<br />
como eu, e não tem disponível a toda hora mais<br />
do que 100 reais para beber um vinho.<br />
Não podemos perder de vista a realidade brasileira,<br />
sei que muitos vivem num gueto de ilha da fantasia,<br />
mas a maioria não. Eu mesmo, sendo paparicado<br />
por produtores e importadores, sou um privilegiado<br />
em termos de degustar, passando dos mil vinhos em<br />
um ano.<br />
Depois, R$100 é um valor que dá para comprar<br />
muita comida. Vá a um supermercado e pense em<br />
coisas básicas, como arroz, feijão, macarrão, molho<br />
de tomate, frango, etc., e veja a quantidade de alimento<br />
que se pode comprar com isso. Essa é sempre<br />
uma reflexão comum que tenho com o crítico Jorge<br />
Carrara.<br />
Assim, com esse corte de valor eu pensei que<br />
poderia realizar meu intento. Qual nada, eram 213<br />
rótulos abaixo dos R$100. Descartei os espumantes<br />
e caí para 198, e depois de muito empenho consegui<br />
degustar 138 vinhos. Desses gostaria de destacar os<br />
da tabela seguinte, que me chamaram a atenção e que<br />
você deveria experimentar (a lista está em ordem de<br />
preço).<br />
24 dicas dE VinHos até 100 rEais<br />
01- Sol des Andes Carmenère R$ 24,00<br />
02- Calia Terra Alta R$ 31,65<br />
03- Sauvignon Gris Filgueira R$ 33,00<br />
04- Marques de Montemor de Dorina Lindman da Quinta da Plansel R$ 35,00<br />
05- Santa Inês Sauvignon Blanc R$ 35,70<br />
06- Quinta da Neve Cabernet Sauvignon R$ 39,60<br />
07- Altas Quintas 600 Alentejano de Portalegre R$48,00<br />
08- Caldas Douro de Domingos Alves de Souza R$ 49,70<br />
09- Bio-Sur Carmenère, o orgânico da Caliterra R$ 56,30<br />
10- Vermentino Occhio a Vento Marema IGT 2008 Rocca delle Macìe R$ 59,00<br />
11- Dão Malvasia Fina da Quinta dos Maias R$ 63,85<br />
12- Château Bel Air Perponcher Reserve (TT e BCO) R$ 68,85<br />
13- Prado Rey Roble R$ 70,00<br />
14- Dona Maria Rosado R$ 71,00<br />
15- Le Chardonnay Grand Vin Villard R$ 74,40<br />
16- Alain Brumont Torus Rouge 2007 R$ 77,55<br />
17- De Ferrari Toscana IGT do Boscarelli R$ 78,75<br />
18- La Planta de Ignácio Arzuaga R$ 80,00<br />
19- Colomé Malbec Estate R$ 81,70<br />
20- Chardonnay Single Vineyard Quebrada Seca De Martino R$ 84,00<br />
21- Alvarinho Contacto de Anselmo Mendes R$ 86,00<br />
22- Saurus Barrel Fermented Malbec Família Schroeder R$ 89,00<br />
23- Encruzado da Quinta dos Roques R$ 94,85<br />
24- Tokaji Furmint Édes Biodinâmico R$ 98,00<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
o Bom custo-BEnEfício dos VinHos sul-amEricanos<br />
Por Sérgio Inglez de Souza<br />
Quem se debruçar sobre passado recente, talvez<br />
voltando uns trinta anos, vai encontrar o grosso do<br />
mercado brasileiro consumindo vinhos inferiores, tanto<br />
europeus e quanto sul-americanos. Na entrada da<br />
década de 1980, em pleno nascedouro da era Robert<br />
Parker, o nível de qualidade dos vinhos passou a ser<br />
classificado em números de 50 a 100, quer do próprio<br />
Parker, quer da Jancis Robinson, quer das grandes<br />
revistas como a Wine Spectator. Na mesma linha<br />
surgiram as classificações por estrelas, taças, rolhas...<br />
e assim por diante. A contribuição fundamental dessas<br />
iniciativas foi acordar produtores e exportadores para<br />
uma nova relação com o mercado, baseada em vinhos<br />
dentro de uma pirâmide de custo-qualidade. No cone<br />
sul-americano, a evolução foi rápida e decidida.<br />
O encontro com o padrão do Decanter Wine<br />
Show 2010, retrato da competência do amigo Adolar<br />
Hermann, foi a prova do que estou afirmando.<br />
Lá estavam, dentre muitos, expositores do Brasil,<br />
Argentina, Uruguai e Chile.<br />
O Brasil estava muito bem representado pela<br />
Quinta da Neve, que é a vinícola pioneira da região<br />
serrana de São Joaquim, Santa Catarina. Seus vinhedos<br />
situam-se na altitude de 1.200 metros e produzem<br />
uvas de alta qualidade, resultando vinhos distintivos<br />
como o Chardonnay. No evento colocou para degustação<br />
o Cabernet Sauvignon (R$39,60) e o Pinot Noir<br />
(R$63), este que é considerado o melhor brasileiro<br />
desta variedade.<br />
Entre os argentinos, tivemos importantes destaques.<br />
A Viña Alicia é uma boutique winery de excepcional<br />
qualidade, que comercializa 15 mil garrafas por<br />
ano, exportadas para os mais exigentes mercados do<br />
mundo. Sua faixa de preços vai de R$64 a R$195. Um<br />
destaque de qualidade especial é o branco Tiara 2007<br />
(R$123), corte de Riesling, Alvarinho e Savagnin,<br />
uma verdadeira jóia, e o Brote Negro Malbec 2007<br />
(R$195) que conheci antes do lançamento ao ganhar<br />
na vinícola uma garrafa ainda sem rótulo! Um Malbec<br />
de vinhedo único no mundo!<br />
A Luigi Bosca, como grande vinícola, oferece<br />
um leque de vinhos que abrange preços de R$32,40<br />
a R$373,35. O reserva Brut Nature Champenoise<br />
(R$93,80), corte de Chardonnay e Pinot Noir, talvez<br />
seja o melhor espumante argentino. O Finca<br />
Los Nobles Malbec Verdot 2005 (R$180,15) traz a<br />
elegância da Malbec com os nervos da Petit Verdot.<br />
Muito bom.<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
De Salta, noroeste argentino, vêm os vinhos da Bodega<br />
Colomé, uvas cultivadas nos vinhedos de maior<br />
altitude do mundo, entre 2.200 e 3.111 metros. Destaque<br />
para o Torrontés 2008 (R$41,70) e o excepcional<br />
Colomé Reserva 2007 Malbec e Cabernet Sauvignon<br />
(R$194,95).<br />
A uruguaia Bouza tem uma área de 18 hectares de<br />
vinhedos em Las Violetas e Melilla, na região de Montevidéu,<br />
e trabalha os vinhedos com baixa produtividade e<br />
com seleção das uvas. Levou para o Decanter Wine Show<br />
um vinho branco e cinco tintos. O branco Albariño 2009<br />
mostra-se perfeito na tipicidade varietal. Dos tintos, o<br />
Tannat A8 Parcela Única 2007 é um soberbo varietal, que<br />
põe a tremer todos os produtores franceses do Madiran;<br />
o ícone Monte Vide Eu 2006 revela toda a criatividade<br />
do enólogo ao montar o assemblage de Tannat, Merlot e<br />
Tempranillo – imperdível!<br />
O Chile também estava bem representado. A Caliterra<br />
surgiu em 1996 pela associação de E.Chadwick com<br />
R.Moldavi, focando inicialmente nas grandes produções<br />
de vinhos mais correntes. Em 2004 Chadwick adquiriu<br />
a participação americana e, com sua visão de vinhos de<br />
qualidade, tratou de obter o que o vale de Colchagua<br />
tem de melhor a oferecer. Seus vinhos varrem a faixa de<br />
R$41,80 a R$245,00. O Sauvignon Blanc Tributo Single<br />
Vineyard 2008 (R$66,20) é um digno Chadwick. Já o<br />
Cenit 2006 (R$245,00) – corte de Cabernet Sauvignon,<br />
Mercado<br />
Alicia Arizu, da Viña Alicia<br />
Malbec, Carmenère e Petit Verdot – é um ícone simplesmente<br />
imperdível!<br />
A Villard State, uma bodega boutique, está focada<br />
na elaboração de pequenos lotes de vinhos de qualidade,<br />
a partir do terroir do Valle de Casablanca. Sua<br />
gama de vinhos custa de R$59,70 a R$171,50, com<br />
destaque para o refrescante Sauvignon Blanc Reserve<br />
Expression 2008 (R$59,70), e o Le Pinot Noir Gran<br />
Vin 2007 (R$120,00), considerado o melhor varietal<br />
chileno desta casta.<br />
A Viña El Principal tem seus 54 hectares nas fraldas<br />
dos Andes, a 800 metros de altitude, em Pirque,<br />
no Valle del Maipo, próximo a Santiago. Seus vinhos<br />
estão na faixa de preços de R$44,30 a R$245,00. O<br />
mais notável custo-benefício é o Memórias 2006, corte<br />
de Cabernet Sauvignon e Carmenère (R$117,20),<br />
robusto e de boca muito agradável.<br />
Desta forma os vinhos sul-americanos vão bem ao<br />
encontro do consumidor e marcam seu território no<br />
mercado brasileiro. A evolução dos rótulos mostram<br />
o potencial para avançar ainda mais nos diversos<br />
nichos de estilos de vinho apreciado aqui no Brasil.<br />
A Decanter, mais uma vez, confirma sua posição de<br />
casa voltada à garimpagem de bons rótulos de tintos,<br />
brancos e espumantes, enfim, vinhos para todos os<br />
paladares.<br />
11
1<br />
Mercado<br />
dEstaquE para as BolHinHas: cHampaGnEs E EspumantEs<br />
Por Walter Tommasi<br />
No primeiro dia do Decanter Wine Show deste<br />
ano decidi me concentrar somente nos brancos.<br />
Para esta edição quis focar ainda mais, escrevendo<br />
apenas sobre o mundo das bolhinhas: Champanhes,<br />
Espumantes, etc.<br />
A Decanter tem uma ampla variedade de produtos<br />
dentro desta linha, mas realmente existem dois produtores<br />
para os quais eu sempre bato continência: o da<br />
trentina Ferrari, que infelizmente nesta ocasião não<br />
estava presente, e o champagne Barnaut.<br />
Nesse mundo de mousses e perlages a coisa<br />
parece até complicada, mas é bem simples. Temos<br />
as ‘Brut”, champanhes básicas, se assim podemos<br />
dizer, onde a Barnaut, uma casa fundada em 1874,<br />
certamente produz uma das melhores disponíveis no<br />
mercado. Temos depois as Blanc de Blanc, produzidas<br />
só com uvas brancas, temos as Blanc de Noir<br />
só produzidas com tintas, as rosés, e finalmente as<br />
especiais, safradas, millésimes, que são as que pouca<br />
gente tem condições de tomar pelos altos preços que<br />
elas alcançam.<br />
Mesmo assim meu destaque vai para a Barnaut<br />
Millesime Brut Grand Cru 1999, que além da altíssima<br />
qualidade tem a vantagem de ter um preço “baixo”<br />
quando comparado ao das outras do mesmo nível<br />
(R$280). Sei que não é pouco, mas sugiro que você a<br />
prove em uma data especial. Garanto que você nunca<br />
irá esquecer. Olfativamente é marcada pela presença<br />
de nozes, leveduras e tostado muito agradável. Na<br />
boca apresenta seu grande diferencial, pois, mesmo<br />
tendo muita acidez, é macia, sedosa, trazendo um<br />
final de boca de quero muito mais.<br />
Aproveito também para fazer uma menção honrosa<br />
a um espumante do Alto Ádige que tive o prazer<br />
de tomar pela primeira vez, o nome é Arunda, produzido<br />
de forma artesanal pelo seu proprietário Josef<br />
Reiterer, e que usa o corte tradicional de Chardonnay<br />
e Pinot Nero. O sr. Josef é uma figura e tanto. Perguntado<br />
porque o catálogo tinha o exemplar de 2004 e ele<br />
estava me servindo uma de 2001, ele assumiu que ele<br />
havia se enganado na hora de pegar as garrafas, e que<br />
no meio das 2004 havia três 2001, mas que isto era<br />
motivo de felicidade para os poucos que tivessem a<br />
oportunidade de prová-la. Resultado: tomamos duas<br />
taças juntos. É um delicioso espumante que tinha<br />
o olfativo de um champanhe, um corpo um pouco<br />
menos intenso do que os bons irmãos franceses, mas<br />
com balanço de boca de fazer inveja. Para quem quer<br />
variar um pouco a origem de seus espumantes, aí foi<br />
uma grande dica.<br />
Laurette e Philippe Secondé<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
duas Estórias:<br />
do uruGuai<br />
E dE portuGal<br />
Por Álvaro Cézar Galvão<br />
Destaco duas entrevistas interessantes que fizemos<br />
no Decanter Wine Show: uma do Uruguai e<br />
outra de Portugal.<br />
Do Uruguai, Sebastián Delorrio, da Bodega Filgueira,<br />
contou que em 1927 a família Filgueira, com<br />
a chegada de Manuel Filgueira da região da Galícia,<br />
começou a vinificar as uvas para vinhos de mesa<br />
e vender a granel. Em 1992, a esposa do filho de<br />
Manuel, que hoje capitaneia a bodega, a dra. Martha<br />
Chiossoni de Filgueira reestruturou a bodega para<br />
vinificar vinhos finos. Hoje contando com a assessoria<br />
técnica do enólogo francês Pascal Marty vinifica perto<br />
de 155 mil garrafas por ano.<br />
Possui 46 ha na região sul do país, a pouca distância<br />
do rio Santa Lucia, nas cercanias da histórica Villa<br />
San Juan Bautista, hoje Santa Lúcia, em Canelones.<br />
Contou-me Sebastián, orgulhoso, que a Filgueira<br />
vinifica e engarrafa na propriedade, não havendo<br />
intervalo maior que uns 15 minutos da colheita para<br />
a cantina, preservando o frescor das uvas e a sua<br />
qualidade. Da sua produção, 40% é exportada. Planta<br />
as cepas Sauvignon Blanc, Chardonnay, Sauvignon<br />
Gris, Merlot, Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc,<br />
Syrah, Pinot Noir e claro a Tannat.<br />
Outro fato que contou com orgulho é que foi a primeira<br />
bodega da América do Sul a obter o Certificado<br />
de Qualidade ISO 9.001/2.000, e em 2005 obteve a<br />
certifficação ambiental ISO 14.001/2004.<br />
Da sua linha, o Sauvignon Gris 08 (R$33) foi o<br />
branco de que gostei, bem clarinho, muito fresco. O<br />
meu tinto preferido foi o Tannat 2008 (R$29), pois<br />
quase não passa por barril. Para os tintos Sebastián<br />
disse que usam leveduras selvagens, o que em parte<br />
me traduz o porque da diferença dos seus vinhos.<br />
Júlio Bastos, da Dona Maria, ou Quinta do Carmo,<br />
em Estremoz no Alentejo, foi eleito o produtor do ano<br />
de 2009 pela Revista de <strong>Vinho</strong>s, de Portugal.<br />
Os nomes Quinta do Carmo e Dona Maria remontam<br />
à época do império. Segundo conta a história, a<br />
Quinta foi adquirida por D. João V para oferecer a<br />
uma cortesã, D. Maria, por quem estava perdidamente<br />
apaixonado. Foi essa cortesã que deu o nome à Quinta<br />
e ao vinho nela atualmente produzido.<br />
Faz aproximadamente 150 anos que se produz<br />
vinhos na propriedade, mas só a partir de 1988 é que<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
Júlio começou a comercializar em escala nacional e<br />
internacional. Em 1992 formou uma joint venture com<br />
a Rothschild, pensando em crescimento, e a experiência<br />
fez com que a vinificação fosse transferida de local.<br />
Júlio nunca abandonou a idéia de voltar à sua origem e<br />
ele mesmo vinificar seus vinhos, então decidiu vender<br />
sua participação na sociedade e voltou a produzir, agora<br />
na sua vinícola e da maneira que sempre se fez, ou seja,<br />
com a maioria dos vinhos com a pisa à pé em lagares de<br />
mármore, sem, no entanto, deixar a tecnologia e a modernidade<br />
disponíveis, como por exemplo, o controle de<br />
temperatura. Em 2001 comprou uma propriedade e em<br />
2002 outra ao lado, onde havia uma vinha velha com cerca<br />
de 40 anos. Em 2003 finalmente fez a primeira vindima<br />
da nova etapa da sua vida.<br />
Mercado<br />
As cepas plantadas são Alicante Bouchet, Aragonez,<br />
Petit Verdot, Syrah, Cabernet Sauvignon, Touriga<br />
Nacional e a famosa Periquita (Castelão).<br />
Exporta para o Brasil e para mais de 13 países, e<br />
hoje produz cerca de 300 mil garrafas por ano, mas<br />
deve chegar às 500 mil em breve.<br />
Dos vinhos provados, destaco os seguintes:<br />
- Dona Maria 2008 (R$71)<br />
- Amantis Branco 2008 (R$98)<br />
- Dona Maria Reserva 2005 (R$155)<br />
Sebastián Delorrio<br />
Não pense que foi “só isso”, o Decanter Wine<br />
Show 2010 teve muito mais.<br />
13
Mercado<br />
14<br />
E para quEm Gosta dE BEBidas fortEs: armaGnac<br />
Por Cesar Adames<br />
O Decanter Wine Show trouxe pela primeira<br />
vez ao Brasil Jerôme Delord, da tradicional família<br />
produtora de Armagnac Delord. Durante o evento,<br />
Delord conversou com <strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong>.<br />
Qual é a diferença entre Cognac e<br />
Armagnac?<br />
Jerôme Delord - Os dois são produzidos na França,<br />
provêm de regiões demarcadas, têm graduação<br />
alcoólica de 40%, usam a uva como ingrediente base<br />
para sua produção, e algumas variedades são comuns<br />
para as duas bebidas. A principal diferença entre eles<br />
é o processo de destilação: enquanto o Cognac passa<br />
por um processo de bi-destilação o Armagnac é destilado<br />
uma única vez.<br />
E qual é o resultado no gosto das bebidas?<br />
Delord - Esta pequena diferença faz com que o<br />
Armagnac fique com aspecto mais rústico, encorpado e<br />
complexo, enquanto o Cognac fica mais delicado, sutil<br />
e rico em aromas.<br />
Qual é a história da família Delord e sua ligação<br />
com Armagnac?<br />
Delord - A família já está na quarta geração e elabora<br />
desde 1893 alguns dos mais complexos destilados da<br />
região de Bas Armagnac. Temos mais de 700 barricas<br />
de carvalho, onde repousam até hoje Armagnacs com<br />
mais de 100 anos.<br />
E quais são os estilos que estão sendo importados<br />
para o Brasil?<br />
Delord - O Armagnac Delord pode ser encontrado<br />
em cinco versões. O primeiro é o Armagnac VSOP<br />
com 5 anos, bastante rústico e um pouco agressivo<br />
em boca. O Napoleon, com 9 anos de envelhecimento,<br />
tem sabor persistente e equilibrado. O Armagnac XO,<br />
com 15 anos, é fino e sofisticado. O Bas Armagnac 25<br />
Ans d’Âge apresenta uma persistência aromática longa<br />
que combina com o tempo de envelhecimento deste<br />
Armagnac. O Bas Armagnac 1970 é um milesimé elegante<br />
que mostra a importância das safras especiais.<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
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15
América do Sul<br />
Presença francesa<br />
em Mendoza<br />
“Vários são os<br />
produtores franceses<br />
que se instalaram<br />
na região argentina de<br />
Mendoza. Quem? O que<br />
fizeram? Que produzem?<br />
Euclides Penedo fala<br />
Jacques Montalembert, Diane Fabre,<br />
Jean Bousquet, Michelle Bonnie,<br />
François Lurton, Brigite Subra... e<br />
outros tantos. Estou falando da França?<br />
Não, falo da Argentina.<br />
O influente e agora discutido enólogo<br />
internacional Michel Rolland havia revelado<br />
a potencialidade da vitivinicultura<br />
argentina para os franceses nos anos 80:<br />
ele diria mais tarde para todo o mundo:<br />
“O potencial argentino para a vinicultura<br />
é impressionante; a diversidade de suas<br />
perspectivas futuras é dramática. Se há um<br />
lugar... para um desenvolvimento genuíno<br />
de uma nova e excepcional viticultura,<br />
esse lugar é certamente a Argentina”.<br />
Jean Michel Arcaute, premiado enólogo<br />
do Château Clinet em Bordeaux e precursor<br />
da presença francesa em Mendoza,<br />
deixou isso claro, pouco antes de falecer,<br />
em 2001, num acidente de barco em<br />
Arcachon, na França: “...o amigo Michel<br />
Rolland me encorajou a visitar a América<br />
do Sul em 1991... meu encontro com o<br />
vinho argentino me cativou... diversas<br />
variedades, o clima, a disponibilidade de<br />
amplos terrenos... logo enxerguei o enorme<br />
potencial de Mendoza, onde o melhor<br />
Malbec do mundo fixou residência...”.<br />
Empreendedor visionário, Arcaute<br />
convenceu, por sua vez, diversos investidores<br />
e enólogos franceses a se estabelecerem<br />
na Argentina. Alguns deles,<br />
16<br />
como Catherine Péré-Vergé, do Pomerol<br />
(proprietária dos Châteaux Montviel, La<br />
Gravière e Le Gay), e Alfred e Michele<br />
Bonnie, de Bordeaux (Chateaux Malartic-Lagravière<br />
e Gazin-Rocquencourt),<br />
juntaram-se a Rolland para formar as<br />
vinícolas Clos de los Siete, Flechas de Los<br />
Andes, Diamandes e Monteviejo. Outros<br />
chegaram também, para ficar: a família<br />
d’Aulan, os Lurton, Hervé Fabre, Philippe<br />
Subra, Jean Bousquet...<br />
Os d’Aulan eram proprietários da<br />
Champagne Piper-Heidsieck, em Reims.<br />
Depois de vendê-la, criaram a empresa<br />
Edonia, que abrange várias áreas da<br />
França – Médoc, Saint Emilion, Calvados<br />
– além de Tokaji, na Hungria. Eles<br />
fincaram pé em Mendoza em 1999, sob a<br />
influência de Arcaute, criando a Bodega<br />
Alta Vista, hoje com capacidade para 2,2<br />
milhões de litros de vinho por ano. Fica<br />
em Chacras de Coria e possui vinhedos<br />
tanto em Luján de Cuyo (Las Compuertas,<br />
Alto Agrelo) como no Valle de Uco<br />
(Campo de los Andes, Altos del Cepillo),<br />
com Malbec, Cabernet Sauvignon, Syrah,<br />
Petit Verdot e Chardonnay.<br />
Pierre Lurton uniu forças ao enólogo<br />
Nicolas Audebert para criar o Cheval des<br />
Andes, joint venture do Cheval Blanc,<br />
“premier cru” de Bordeaux, com a Terrazas<br />
de los Andes, de Perdriel. O que cativou<br />
Lurton em especial foi a descoberta<br />
de um vinhedo de Malbec pré-filoxérico<br />
com 75 anos de existência. Dedicou-se<br />
então a criar um “premier cru” do Novo<br />
Mundo, em Mendoza.<br />
A vinícola Fabre Montmayou em<br />
Vistalba é de propriedade do casal Hervé<br />
e Diane Joyaux Fabre. Com capacidade<br />
para produzir um milhão de litros de<br />
vinho por ano e estocagem para 250 mil<br />
garrafas, ela tem em Hervé não somente<br />
seu principal executivo mas também<br />
um técnico, ao lado do enólogo Quentin<br />
Pommier, ambos voltados para a noção de<br />
“terroir”, tão cara aos franceses. São 90<br />
hectares de Malbec, Cabernet Sauvignon,<br />
Merlot e Chardonnay.<br />
Carinae Viñedos y Bodegas é um<br />
projeto relativamente novo, iniciado há<br />
sete anos, em Cruz de Piedra, Maipu.<br />
Brigite e Philippe Subrá, com quem estive<br />
aqui no Rio, chegaram a Mendoza vindos<br />
da França em 1998, reconstruíram uma<br />
antiga bodega butique de Cruz de Piedra<br />
e agora dedicam-se ao desenvolvimento<br />
de seus vinhedos, totalizando 18 hectares<br />
em Tres Esquinas (Maipu) e Perdriel<br />
(Lujan de Cuyo), com Malbec, Cabernet<br />
Sauvignon e Syrah.<br />
Last but not least, citemos o Domaine<br />
Jean Bousquet, cujo proprietário pertence<br />
a uma terceira geração de vinicultores de<br />
Carcassone, no sul da França. Estabelecido<br />
em Tupungato, a 1200 metros de<br />
altitude, em 1997, dedica-se à viticultura<br />
orgânica e conta com 120 hectares de<br />
vinhedos em Gualtallary.<br />
Talvez desse para continuar com mais<br />
alguns, mas fiquemos por aqui, pois a<br />
listagem e descrições acima parecem<br />
suficientes para demonstrar a extraordinária<br />
importância da presença francesa<br />
na vinicultura mendocina.<br />
Euclides Penedo Borges<br />
Presidente da ABS-Rio<br />
euclides@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
Do Velho Mundo<br />
ou “estilo” Velho Mundo?<br />
“Você sabe mesmo<br />
o que significa no<br />
mundo do vinho a<br />
palavra Velho Mundo?<br />
Origem? Estilo?<br />
E que exemplos temos?<br />
Walter Tommasi conta<br />
Paisagem na Toscana<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
Mesmo escrevendo sobre vinhos<br />
do Velho Mundo há muito<br />
tempo nunca dei uma explicação<br />
sobre o que isto realmente significa.<br />
Vamos lá, então.<br />
Muita gente faz uma boa confusão<br />
entre “vinhos do Velho Mundo” e<br />
“vinhos com estilo do Velho Mundo”.<br />
A primeira titulagem tem a ver apenas<br />
com a origem dos vinhos. Desta forma<br />
qualquer vinho produzido na Europa é<br />
um vinho do Velho Mundo. Já a segunda<br />
titulagem é conferida apenas aos vinhos<br />
que apresentam o estilo de produzir vinhos<br />
seguindo as tradicionais técnicas de<br />
vinificação e de tratos culturais que vem<br />
sendo usados há séculos pelos produtores<br />
europeus.<br />
Como reconhecer um vinho de “estilo”<br />
Velho Mundo? Primeiramente observe o<br />
grau alcoólico, pois este costuma estar de<br />
12,5% para baixo. Por quê? As uvas usadas<br />
nem sempre são colhidas tão maduras,<br />
a maceração dos mostos não costuma ser<br />
longa, e o afinamento ocorre em grandes<br />
toneis de madeira. O resultado disto: vinhos<br />
menos exuberantes olfativamente,<br />
menos frutados, mais evoluídos e com<br />
aromas terciários mais austeros, evocando,<br />
sottobosco, toques terrosos e animais.<br />
Na boca, sempre mais leves, com acidez<br />
marcada, taninos secos, corpo médio,<br />
enfim, mais elegantes.<br />
Um bom exemplo destas características<br />
pode ser notado em alguns grandes<br />
vinhos do Piemonte e da Toscana na Itália.<br />
Velho Mundo<br />
Mas, cuidado, pois em ambas as regiões<br />
hoje se produzem vinhos com estilo Velho<br />
Mundo, estilo Novo Mundo e até mesmo<br />
alguns que ficam no meio dos dois mundos.<br />
A diferenciação de quem é quem, ou<br />
o que é o que, virá de consultas a pessoas<br />
que conheçam vinhos e que já provaram<br />
as diferentes marcas, ou por conta própria,<br />
observando a característica dos vinhos<br />
tomados com as noções básicas acima<br />
expostas. Bom exercício, e precisando de<br />
ajuda é só pedir. Tim-tim!<br />
Walter Tommasi<br />
Consultor e palestrante de vinhos<br />
tommasi@jornalvinhoecia.com.br<br />
1
Novo Mundo<br />
Na torcida,<br />
com as bebidas<br />
“Procurado, foi<br />
encontrado o<br />
colunista Beto<br />
Acherboim. Estava ainda<br />
em clima da Copa do<br />
Mundo. Como?<br />
Ele mesmo explica aqui.<br />
Em função da Copa do Mundo,<br />
fiz um pequeno intervalo. Neste<br />
torneio de 2010, a situação mais<br />
difícil foi escolher para quem torcer.<br />
Afora o nosso Brasilzão, para o qual minha<br />
torcida independeu dos Dunguismos,<br />
Teixerismos e outros “ismos” cometidos,<br />
18<br />
eram vários os candidatos. Como sempre,<br />
escolhi pelo vinho do país, pois, no mínimo,<br />
me divirto. Oh, dúvida cruel...<br />
Na minha ala, “Novo Mundo da língua<br />
inglesa”, estavam todos os representantes:<br />
Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia<br />
e África do Sul. Sinceramente, se fosse um<br />
torneio de rúgbi eu entraria como franco<br />
favorito, com os All Blacks (NZ) e Springboks<br />
(AFS). Mas o futebol é jogado com<br />
os pés, e aí as alas do Tommasi (Velho<br />
Mundo) e do Euclides (América do Sul)<br />
chegam poderosas... Espanha, Portugal,<br />
França, Itália, Alemanha, Grécia, Suíça,<br />
Eslovênia... Quase toda a turma de representantes<br />
da Europa estava lá. Acho que<br />
faltaram “apenas” Hungria e Romênia,<br />
dos que tem alguma tradição. Do lado sul-<br />
americano, além do Brasil, os hermanos<br />
argentinos, chilenos e uruguaios.<br />
Mariana há de me perdoar, mas pensei<br />
em direcionar a torcida pela – digamos<br />
– simpatia das torcedoras. Aí não tinha<br />
saída: todas as equipes citadas, mais Holanda,<br />
Dinamarca, Coréia do Sul, Japão,<br />
Paraguai (representado pela neo-musa<br />
porta-celular), Camarões, Gana, Eslováquia,<br />
Inglaterra...<br />
Chega de dúvida! Decidi então o<br />
seguinte: torcer pelo Brasil, e, se não chegasse<br />
lá, escolheria outra seleção. Como<br />
vimos, chegamos às quartas de final, sendo<br />
barrados pela Holanda. Ficamos então a<br />
escolher entre Alemanha e seus Rieslings,<br />
Gewürz e outros tantos brancos maravi-<br />
lhosos, até então a equipe com melhor<br />
futebol da copa; Espanha, com seu incrível<br />
repertório de tintos estruturados, brancos<br />
e cavas, seleção favorita antes da copa,<br />
mas que vinha com altos e baixos, jogando<br />
“pro gasto” ; Uruguai, com seus bravos<br />
Tannats, cheios de vigor e “garra”, que não<br />
se dá por vencido em momento algum ; e<br />
Holanda, que, no “mundo alcoólico” deve<br />
sua fama à “invenção” do Gim.<br />
Fomos beber aos semifinalistas. Comecei<br />
por um gim-tônica (com zest de<br />
laranja, para ficar na cor certa), ou foi<br />
melhor sair de Riesling? Ou Tannat? Ou<br />
Cava? Não, fiz os embates : gim-tônica<br />
x Tannat, que, com muita garra, tentou<br />
agüentar até o fim, mas, infelizmente,<br />
não deu. Naquele dia, com o petisquinho,<br />
o que desceu melhor foi o birinaite “laranja”.<br />
Dia seguinte, a coisa complicou:<br />
medir forças entre Riesling e Ribera del<br />
Duero? Como era um dia mais friozinho,<br />
esquentei o clima com o bravo espanhol.<br />
Para a disputa do terceiro lugar, Riesling<br />
(com o reforço de um Müller – que<br />
não era Thurgau) bateu, com muita sutileza,<br />
no bravo e aguerridoTannat uruguaio,<br />
até porque o peixão da tarde combinou<br />
mais com o classudo e pálido alemão.<br />
Final, domingão. Petiscamos, e, logicamente,<br />
o birinaite laranja começou bem,<br />
mas, na hora do esquenta, com um belo<br />
assado, veio com tudo um tintão da Rioja,<br />
e, sem cerimônias, conquistou seu lugar<br />
– merecido – no mais alto grau do pódio.<br />
Depois foi só me esbaldar, com toda a leva<br />
(Catalunha, Penedés, Priorato, Ribera del<br />
Duero, Navarra, Toro, Rueda, Bierzo, La<br />
Mancha, e o resto da trupe), e apagar. Viva<br />
a Espanha! Até a próxima!<br />
Beto Acherboim<br />
Enófilo e são-paulino<br />
beto@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
<strong>Vinho</strong>s<br />
na nova era da Internet<br />
“A comunicação<br />
muda à medida que<br />
a tecnologia evolui,<br />
nada para no tempo. E<br />
um site de vinhos lança<br />
uma proposta inovadora.<br />
Carlos Arruda detalha.<br />
Enquanto escrevo, ouço a noticia:<br />
circula a última edição impressa<br />
do JB! A perda de hegemonia dos<br />
jornais, impérios de mídia há séculos, não<br />
deixa de ser impressionante. Senhores da<br />
comunicação desde sempre, perderam seu<br />
lugar não para a TV ou rádio, mas para a<br />
Internet.<br />
Sempre fui pioneiro em idéias e realizações,<br />
entre elas o primeiro shopping<br />
eletrônico da América do Sul em 1993 e<br />
o primeiro provedor Internet de Minas, em<br />
1995. Naquela época o vinho era assunto<br />
de poucos conhecedores, que aprendiam<br />
e descobriam em viagens e livros.<br />
Pioneiramente eu e o Dr. Júlio Anselmo<br />
criamos em 1997 o primeiro site brasileiro<br />
sobre vinhos, juntando dois assuntos<br />
inusitados: <strong>Vinho</strong> e Internet. Treze anos<br />
depois, a Academia do <strong>Vinho</strong> é a primeira<br />
resposta natural do Google para o verbete<br />
vinhos, tendo mais de 5.000 links apontando<br />
para seu endereço. Apesar dessa<br />
notoriedade, sua importância é relativa,<br />
pois esse porto de informações é apenas<br />
uma parada de visitantes, geralmente<br />
iniciantes no mundo do vinho.<br />
A Internet não fez baixas apenas na<br />
mídia. As redes sociais, as manifestações<br />
individuais nos mais variados temas (põe<br />
variado nisso...) criaram uma liberdade<br />
de expressão jamais vista e – glória nas<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
alturas – abriu-se o comércio eletrônico!<br />
A princípio falava-se em bilhões em faturamento,<br />
mas não foi tãaao rápido quanto<br />
esperado.<br />
Assisti de camarote à entrada em operação<br />
de lojas de vinhos na rede, trazendo<br />
ao consumidor um leque opções inexistente<br />
em seu comércio local. Como toda<br />
loja virtual, são sites cheios de ofertas,<br />
promoções, banners, pisca-piscas e toda<br />
sorte de chamarizes irritantes, mas que<br />
funcionam bem (infelizmente...) exatamente<br />
por isso.<br />
Penso que a comunicação elegante,<br />
inteligente, clara e de fácil acesso é o<br />
caminho para um mundo melhor, mas nós<br />
consumidores alimentamos essa poluição<br />
visual quando a ela sucumbimos. Costumo<br />
dizer que os vinhos mais vendidos são<br />
Château Desconto e Promoção DOC...<br />
Como pioneiro renitente, anuncio aqui<br />
um lançamento inusitado: um site onde o<br />
visitante pode ao mesmo tempo aprender<br />
sobre vinhos e comprá-los, ampliando<br />
seus conhecimentos ao descobrir regiões<br />
vinícolas de todo o mundo e tendo ao seu<br />
alcance os vinhos da região consultada.<br />
Parece óbvio, mas só depois de feito. Para<br />
isso, engrenagens técnicas importantes<br />
são necessárias. Juntos, a Academia do<br />
<strong>Vinho</strong> e a Estação do <strong>Vinho</strong> aceitaram<br />
esse desafio.<br />
Nessa proposta o site de informações<br />
didáticas funciona como um menu, ou<br />
carta de vinhos, dirigindo o visitante<br />
pelas inúmeras regiões vinícolas do<br />
mundo, informando suas características,<br />
particularidades, principais uvas e vinhos,<br />
Denominações de Origem e apresentando<br />
ao lado os vinhos para compra.<br />
Minha expectativa é que esse sistema<br />
de navegação ajude a ampliar a percepção<br />
dos consumidores para a grande diversidade<br />
de vinhos disponível, convidando a<br />
comprar e conhecer vinhos inusitados em<br />
<strong>Vinho</strong> na Academia<br />
vez de repetir o tinto do Mercosul sempre<br />
em oferta.<br />
Não, não acho que vou mudar o comportamento<br />
das pessoas, mas posso tentar,<br />
sabem por quê? Porque o mundo do vinho<br />
é grande demais para se ficar parado num<br />
mesmo canto. Prefiro arriscar em um<br />
vinho que não conheço a repetir o que já<br />
sei que é ótimo.<br />
Junto com essa novidade, lançamos<br />
também um clube de vinhos, onde o<br />
associado paga uma mensalidade fixa e<br />
recebe em sua casa dois vinhos todo mês,<br />
selecionados por sua personalidade e bom<br />
custo-benefício. Além disso, leva junto<br />
uma revista eletrônica com informações<br />
completas sobre o país tema do mês.<br />
País? O clube se chama Confraria Volta<br />
ao Mundo, que visitará um país por mês,<br />
oferecendo aos associados diversidade e<br />
surpresas. Para essa operação nosso parceiro<br />
será a Expand, que oferecerá vinhos<br />
especiais de seu portfólio.<br />
Vejam isso tudo entrando em operação<br />
no endereço www.academiadovinho.com.<br />
br. Alea jacta est.<br />
Carlos Arruda<br />
Academia do <strong>Vinho</strong><br />
arruda@jornalvinhoecia.com.br<br />
1
<strong>Vinho</strong>: Que Negócio é Esse?<br />
Brasileiros às cegas<br />
parecem importados<br />
“Na feira Expovinis,<br />
o Instituto Ibravin<br />
promoveu para os<br />
frequentadores um teste às<br />
cegas com diversos vinhos.<br />
Álvaro Cézar Galvão fala<br />
qual foi o resultado<br />
Por várias vezes tenho dito neste<br />
espaço que a melhor ação para o<br />
negócio é os vinhos serem mostrados<br />
e degustados em promoções e eventos,<br />
locais de venda, lojas, supermercados,<br />
etc... E isso vale para os vinhos brasileiros<br />
em particular, porque só assim poderão<br />
se tornar conhecidos, e consequentemente<br />
procurados por aqueles que deles<br />
gostarem.<br />
Em que pese todas as dificuldades<br />
que as pessoas em nosso país enfrentam,<br />
muitas delas provenientes de falta de cultura,<br />
civilidade e educação, tenho visto e<br />
gostado das ações propostas pelo Ibravin<br />
(Instituto Brasileiro do <strong>Vinho</strong>) para mostrar<br />
os vinhos nacionais, aqui e lá fora.<br />
Durante a Expovinis 2010, a maior<br />
feira do gênero da América Latina, que<br />
aconteceu em abril, o Ibravin promoveu<br />
o que chamou de teste cego, dando a degustar<br />
uma taça com vinho, sem mostrar<br />
rótulos, aleatoriamente aos interessados, e<br />
pedindo que fosse feito um comentário e<br />
se dissesse, se possível, o provável país de<br />
origem do vinho provado. A esmagadora<br />
maioria (80%) citou países com maior<br />
tradição vinícola, como França, Itália,<br />
Chile e Argentina, mas na verdade eram<br />
todos vinhos finos brasileiros, e na faixa<br />
de preços de R$20 a R$30.<br />
0<br />
Não quero ser mais realista do que o<br />
rei, degusto vinhos de todas as origens e<br />
países, e gosto dos vinhos bons, independente<br />
de serem deste ou daquele país, com<br />
maior ou menor tradição em vinificação.<br />
Creio que assim também todos deveriam<br />
proceder, mas sei também que o preconceito<br />
é forte e o desconhecimento sobre<br />
nossa produção ainda é muito grande.<br />
Precisamos ser mais engajados nas<br />
questões que colocam nossos produtos,<br />
quaisquer que sejam eles, em confronto<br />
com os vindos de fora, pois muitas vezes<br />
os estrangeiros são muito piores, mas<br />
“como o importado sempre é melhor”<br />
podemos incorrer em erros grosseiros.<br />
Será somente pelos preços que nossos<br />
vinhos ainda sejam alijados do processo<br />
de busca e de consumo?<br />
Precisamos todos exercer controles em<br />
relação aos produtos, preços, políticas de<br />
subsídios, importações e exportações, em<br />
todas as áreas, e pensar um pouco no nosso<br />
país. Vejam um exemplo do mercado de<br />
suco de uva natural. A nossa indústria está<br />
festejando um alentador incremento de<br />
vendas, o que proporciona melhores condições<br />
de vida principalmente à viticultura<br />
familiar e aos pequenos produtores. Mas<br />
os órgãos que representam o campo e o<br />
setor – como Ibravin, Câmara Setorial da<br />
Cadeia Produtiva Vitivinícola e Agavi<br />
– estão preocupados com as reiteradas<br />
tentativas do governo da Argentina de<br />
colocar aqui seu suco de uvas a granel, ou<br />
seja, para competirem em preço. Não pude<br />
acreditar na notícia, é muito contraditória.<br />
Não acham, ou não será tanto assim?<br />
Até o próximo brinde!<br />
Álvaro Cézar Galvão<br />
Colunista<br />
alvaro@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
Os ventos<br />
sopram para o leste<br />
“Tem ideia de quanto<br />
já representam os<br />
vinhedos plantados<br />
na China em relação ao<br />
total do mundo? E a sua<br />
produção vinícola?<br />
Adão Morellatto conta<br />
Caros amigos bebedores e amantes<br />
de vinhos, podem ficar atentos<br />
e espertos, em determinado momento<br />
vamos ter vinho chinês em nossas<br />
gôndolas, isto mesmo, chinês, como quase<br />
tudo que está hoje em nossas casas. Está<br />
havendo uma revolução produtiva e qualitativa<br />
naquelas bandas.<br />
Muitas empresas ocidentais, como<br />
todo exportador, têm sérios problemas de<br />
acessibilidade nesse planeta específico,<br />
devido à sua burocracia complicadíssima,<br />
logística inconcebível e garantias<br />
comerciais nada claras. Assim, a saída<br />
foi aproveitar um terroir familiar para lá<br />
se instalar, premeditando um crescente<br />
consumo futuro, que não encontrará em<br />
nenhum outro lugar do mundo.<br />
Conforme dados da OIV, a Ásia<br />
(leia-se China) em superfície já representa<br />
21,10% dos vinhedos mundiais,<br />
ante 15,7% nos anos 90. Já possui quase<br />
470.000 ha, o que a posiciona em 5º lugar,<br />
bem próxima à Turquia. Só perde para os<br />
três primeiros do ranking: Espanha, França<br />
e Itália. Como comparativo, em área, a<br />
Argentina ocupa o 8º lugar, representando<br />
apenas 48% da área chinesa.<br />
Em produtividade de uvas a Ásia já<br />
representa 26,5%, ante 14% nos anos 90.<br />
Para assustar qualquer produtor vinícola,<br />
a China saiu da produção de 30 milhões<br />
de quilos em 2000 para 75 milhões em<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
2009, e em crescimento só perde para a<br />
Itália, que produz 82 milhões, o que para<br />
ser ultrapassada pela China é apenas um<br />
pequeno passo. O Brasil, com sua imensidão<br />
de terras disponíveis, posiciona-se em<br />
14°, com produção de apenas 14 milhões<br />
de quilos. Em produção de uvas frescas,<br />
a Ásia já representa 56% de market share.<br />
Para reverter essa finalidade e produzir<br />
vinho não necessita de muito esforço.<br />
Na produção vinícola a China já se<br />
encontra na 7ª posição, com 12 milhões<br />
de hectolitros, idêntica à da Austrália.<br />
Junto com USA e Rússia, está entre os<br />
únicos países que apresentam desempenho<br />
positivo de consumo nos últimos 10 anos.<br />
Na China já se consomem perto de 13,7<br />
milhões de hectolitros, o que é nada se<br />
observada a sua imensa população, mas<br />
é surpreendente pela rapidez como se desenvolve.<br />
Os vinhos importados ainda não<br />
chegam a 10% do total de vinho consumido<br />
no país, “situação invejada e almejada<br />
pelos produtores brasileiros”.<br />
Para os chineses, o vinho ainda tem<br />
uma conotação mais poética, traduzida<br />
em celebração, felicidade e abundância, e<br />
é lá um presente muito apropriado devido<br />
à sua intensa cor rubi, algo mágico para<br />
os nascidos nas terras de Confúcio. O<br />
seu consumo na China ainda está muito<br />
ligado ao luxo, mas é relevante mencionar<br />
que já há uma população próxima de 380<br />
milhões de pessoas com capacidade financeira<br />
para adquirir vinhos de qualidade. A<br />
China já ultrapassou o Japão como maior<br />
consumidor de vinhos na Ásia, e de acordo<br />
com alguns experts italianos está a ponto<br />
de tornar-se o maior consumidor mundial<br />
de vinhos neste ano.<br />
Estive em Fujian, Guangdong e Macau<br />
em 2008. Não pense encontrar lá marcas<br />
tradicionais de Lambrusco, Chianti,<br />
Prosecco, Bordeaux, Borgonha, Rioja,<br />
Douro, Maipo, Napa Valley, etc., o que<br />
se vê e se toma é um autêntico vinho<br />
chinês das empresas mais representativas<br />
locais: Changyu Pioneer Wine Ltd., que<br />
produz desde 1892 e se acredita ser a 10ª<br />
maior vinícola do mundo; Dinastia Wine<br />
Ltd. e China Great Wall Wine Co. A<br />
maior região produtora chinesa é Yantai<br />
- Penglai, na costa leste, com suas mais<br />
de 140 vinícolas, que produzem 40% do<br />
total do país.<br />
O mercado interno chinês para o vinho<br />
é projetado para se tornar o maior do<br />
mundo em pouco tempo, embora o atual<br />
consumo anual per capita seja de apenas<br />
0,35 litros. Muito recentemente, o vinho<br />
chinês começou a aparecer nas prateleiras<br />
da Califórnia e do oeste do Canadá. Embora<br />
alguns críticos tenham tratado estes<br />
vinhos com o mesmo tipo de descaso com<br />
que os vinhos chilenos e australianos eram<br />
tratados, outros reconheceram uma nova<br />
fronteira, com potencial de rendimento<br />
Mercado do <strong>Vinho</strong><br />
de alguns achados interessantes, e outros,<br />
ainda, tomaram simplesmente conhecimento<br />
de que a China está produzindo<br />
vinhos de mesa comparáveis aos vinhos<br />
de outros países mais tradicionais.<br />
Em se tratando de China, tudo o que<br />
é produzido é mais econômico e barato,<br />
pois é feito em larga escala, com uma<br />
capacidade inimaginável de produtividade<br />
a custo relativamente baixo. Logo, poderemos<br />
apreciar vinhos “made in china”<br />
em nossas gôndolas. Já provei e confesso<br />
que não devem nada a seus similares<br />
internacionais.<br />
Adão Morellatto<br />
Consultor internacional de vinhos<br />
adao@jornalvinhoecia.com.br<br />
1
Reportando<br />
importadora<br />
Diferente das outras importadoras<br />
que lançam seus catálogos anualmente,<br />
a importadora Portus<br />
Cale, que neste ano completa 25 anos de<br />
existência, apresenta sua lista de produtos<br />
em forma de uma revista, Portus Cale,<br />
com informação e histórico das empresas<br />
que representa.<br />
A nova edição comemora junto com a<br />
italiana Mantellassi, localizada no sul da<br />
Toscana, os 50 anos de vida da vinícola.<br />
Essa é a primeira vinícola fora de Portugal<br />
a ser importada pela Portus Cale. Da Mantelassi<br />
chegam três rótulos, cujos preços<br />
variam de R$40 a R$200.<br />
Nascida em 1985, a Portus Cale é conhecida<br />
principalmente pela importação<br />
dos vinhos portugueses da Bacalhôa e<br />
do Porto Taylor´s. Desde 2008 integra<br />
o seu catálogo a vinícola italiana Mantelellassi.<br />
Nos últimos anos, a Portus Cale<br />
passou por grandes mudanças na modernização<br />
de sua administração, visando se<br />
quE sE modErniza<br />
adequar às novas tendências de mercado.<br />
O lançamento da nova revista da empresa<br />
é mais uma forma de falar diretamente ao<br />
seu público alvo.<br />
A história da empresa está muito<br />
ligada ao seu fundador, Manuel Augusto<br />
Garcia, visionário e com muito conhecimento<br />
do mercado de hotelaria e gastronomia.<br />
A Portus Cale foi a conseqüência<br />
de um sonho seu de trabalhar com vinhos,<br />
sua grande paixão. Visando inicialmente<br />
ajudar amigos donos de vinícolas de Portugal,<br />
Manuel trouxe alguns vinhos para<br />
comercializar em São Paulo. Ao perceber<br />
nesta área boas oportunidades de negócios<br />
criou a Portus Cale.<br />
Até recentemente a Portus Cale permaneceu<br />
fiel a essas duas vinícolas portuguesas.<br />
Em torno do ano 2000 começou uma<br />
nova fase para a Portus Cale, com trabalho<br />
mais profissional, estruturado e orientado<br />
para o mercado. Vem experimentando<br />
crescimento contínuo, com investimentos<br />
substanciais, e passou a ter posição mais<br />
agressiva. Um destes movimentos foi a<br />
mudança para sede própria com elegante<br />
show room no bairro de Perdizes.<br />
Atualmente a Portus Cale importa<br />
45 rótulos, entre tintos, brancos, rosés,<br />
espumantes e Porto. Muitos dos produtos<br />
importados pela Portus Cale receberam<br />
prêmios e boas pontuações em guias<br />
internacionais. O vinho Taylor´s Vintage<br />
2003 recebeu a incrível pontuação<br />
máxima de 100 Pontos do Parker, e o<br />
vinho italiano da Mantellassi, Le Sentinelle<br />
2005, recebeu 92 pontos do mesmo<br />
crítico. Além disso, as próprias vinícolas<br />
receberam prêmios e certificações que<br />
atestam a qualidade de seus produtos<br />
internacionalmente.<br />
Os vinhos importados pela Portus Cale<br />
são muito conhecidos dos apreciadores<br />
de vinhos, com o Quinta da Bacalhoa,<br />
mas em sua revista apresentam novos<br />
rótulos produzidos por essa vinícola,<br />
com excelente qualidade e bom custobenefício<br />
– que ainda são novidades para<br />
muitos consumidores –, como o Meia Pipa<br />
(R$45), produzido nas Terras de Sado, ou<br />
“Como começou uma<br />
importadora que já<br />
está há 5 anos no<br />
mercado de vinhos? Que<br />
rótulos traz? Como evolui?<br />
Em mais uma reportagem,<br />
Denise Cavalcante revela<br />
o Serras de Azeitão (R$ 29). Vale uma<br />
pesquisa detalhada sobre seus rótulos.<br />
A revista é trimestral e elaborada<br />
pela mesma editora da revista Gosto. É<br />
distribuída em pontos freqüentados por<br />
apreciadores do vinho ou enviada aos<br />
clientes. Quem desejar recebê-la pode<br />
ligar na empresa.<br />
Portus Cale<br />
Av. Dr. Arnaldo, 1714, Perdizes<br />
(11) 3675-5199, São Paulo<br />
Denise Cavalcante<br />
<strong>Jornal</strong>ista<br />
denise@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
Pinheiros, um dos mais antigos bairros<br />
da cidade de São Paulo, com<br />
mais de 450 anos, esparramava-se<br />
pelas várzeas e meandros do rio Pinheiros.<br />
Este, formado pela confluência dos rios<br />
Grande e Guarapiranga, dava continuidade<br />
aos respectivos cursos iniciados no<br />
alto da Serra do Mar, em direção oposta ao<br />
litoral, levando suas águas ao rio Tietê e<br />
daí, ao interior do Estado até o rio Paraná.<br />
A bacia do rio Pinheiros era uma extensa<br />
várzea inundável a cada período de chuvas<br />
e que, depois de urbanizada, passou<br />
a sofrer com as enchentes.<br />
No início do século passado, a concessionária<br />
de energia elétrica de São Paulo<br />
– que era a Light – havia feito o represamento<br />
do rio Grande para armazenar água<br />
para a geração de energia elétrica na usina<br />
de Henry Borden, a 700 metros abaixo, na<br />
cidade de Cubatão.<br />
O grande desnível entre o alto da serra<br />
e a cidade de Cubatão dava ao projeto da<br />
usina grande eficiência.<br />
Na década de 20, um engenheiro da<br />
Light de nome Billings resolveu inverter o<br />
curso das águas dos rios Tietê e Pinheiros,<br />
que, através de dois sistemas de bombeamento,<br />
eram levadas e despejadas no<br />
reservatório da usina Henry Borden. Com<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
o aumento do volume de água, a usina<br />
cresceu, foram instaladas novas turbinas<br />
e a represa ganhou o nome de Billings,<br />
como a conhecemos hoje. Na ocasião, o<br />
projeto, de tão criativo e interessante, foi<br />
motivo de comentários nas crônicas do<br />
Prêmio Nobel de Literatura britânico de<br />
1907 Rudyard Kipling, indiano e autor do<br />
famoso poema “SE”.<br />
O projeto do engenheiro Billings<br />
retificou os meandros do rio Pinheiros e<br />
o colocou em um canal artificial como o<br />
vemos hoje. Esta obra permitiu a urbanização<br />
do bairro de Pinheiros e grandes<br />
aproveitamentos vieram em seguida, tal<br />
como a instalação do bairro de Alto de Pinheiros,<br />
região onde se encontram hoje o<br />
Colégio Santa Cruz, o Parque Villa Lobos,<br />
clubes, inúmeras instalações bancárias,<br />
restaurantes, lojas comerciais e a famosa<br />
Praça Panamericana.<br />
Pois é, entre os inúmeros pontos de<br />
interesse da Praça Panamericana está o<br />
Senzala Restaurante, na verdade o conjunto<br />
restaurante e o Senzala Bar e Grill,<br />
que, quase juntos, nasceram entre 1970 e<br />
1972. O Bar e Grill logo se transformou<br />
em local de badalação da juventude, com<br />
ótimo chope, e ao seu lado, atravessando<br />
a rua, o restaurante, mais sóbrio!<br />
Circuito do <strong>Vinho</strong><br />
“Sabe o que permitiu<br />
a urbanização do<br />
bairro Alto de<br />
Pinheiros em São Paulo<br />
e o surgimento de um<br />
restaurante? Voltando no<br />
tempo, Quartim nos conta<br />
do BillinGs<br />
para o sEnzala<br />
A arquitetura do Bar e Grill é muito<br />
bonita, interessante e especialmente do<br />
meu agrado, em belíssima composição de<br />
vidros e madeiras. O restaurante acaba de<br />
passar por reforma mantendo suas características<br />
originais, com muita versatilidade<br />
e oferecendo um cardápio de cozinha<br />
internacional com pratos de aves, carnes,<br />
peixes e belas massas.<br />
Paralelamente ao cardápio convencional,<br />
o Senzala é reconhecido por seus<br />
grelhados, com um variado número de<br />
cortes de carne bovina, cordeiros e o pintado<br />
na brasa, que é muito bom! Dentro<br />
da versatilidade, o Senzala também é visto<br />
pelos seus clientes como um ótimo lugar<br />
para uma pizza, cuja presença já se nota a<br />
partir da happy hour e atravessa o jantar.<br />
Em seu salão interno, bastante amplo,<br />
rolam muitos encontros de executivos no<br />
almoço, e na simpática varanda lateral o<br />
ambiente se torna mais propício a um papo<br />
a dois, ou mesmo à reunião de amigos e<br />
amigas em clima bem descontraído.<br />
A cozinha do Senzala é cuidada pelo<br />
Enilson que leva muito a sério suas tarefas<br />
agradando plenamente sua fiel clientela.<br />
No salão, tudo está sob a supervisão do<br />
Carleonis, ou, de maneira mais descontraída,<br />
do Leo.<br />
A adega do Senzala, posto que não<br />
vivo sem o fabuloso néctar de Baco,<br />
merece um upgrade, para ficar à altura<br />
da versátil cozinha. Apresenta uma variedade<br />
de uns 30 rótulos a preços bastante<br />
acessíveis.<br />
Emblemático, o restaurante já se integrou<br />
aos hábitos dos moradores do bairro,<br />
que são recebidos com muito carinho pela<br />
equipe do Leo.<br />
O Senzala pode integrar o Circuito<br />
do <strong>Vinho</strong>, onde encontramos um ótimo<br />
serviço em ambiente bastante agradável,<br />
em que o vinho, sempre presente, faz um<br />
final feliz!<br />
Senzala: Praça Panamericana, 31, Alto<br />
de Pinheiros, (11) 3812-5582, São Paulo<br />
Fernando Quartim<br />
Presidente da SBAV-SP<br />
quartim@jornalvinhoecia.com.br<br />
3
<strong>Vinho</strong> é Arte<br />
4<br />
VErona,<br />
Uma região para se apaixonar:<br />
poucos locais no mundo podem<br />
ser tão especiais quanto o Vêneto.<br />
Se a Itália já é um charme – pelos idioma,<br />
história, anos de cultura e muita arte –,<br />
imagine uma cidade inspiradora para um<br />
romance clássico mundial como Romeu<br />
e Julieta. Esta é Verona. Suas pequenas<br />
ruas, a graça da natureza, o astral dos jovens<br />
que vão até lá estudar nas universidades,<br />
a proximidade com o Lago di Garda,<br />
tudo lá convida a apreciar a vida.<br />
Quem é da Serra Gaúcha, se sente em<br />
casa. Não só a natureza é bastante parecida,<br />
como também as pessoas, o dialeto,<br />
os hábitos alimentares. Até mesmo a hospitalidade,<br />
lembra os sorrisos dos nossos<br />
agricultores, o gostinho do pão caseiro.<br />
Foi desta região, do Vêneto, que muitos<br />
dos nossos imigrantes vieram e aqui buscaram<br />
manter suas tradições. Até mesmo a<br />
“passarinhada”, a polenta e outras iguarias<br />
são originais destas terras.<br />
É lá que nasce o Valpolicella: as italianíssimas<br />
e tintas uvas Corvina, Rondinella<br />
e Molinara reinam absolutas, muitas ainda<br />
em sistema de latada, formando desenhos<br />
e mosaicos de vinhedos muito bonitos.<br />
romEu E juliEta<br />
Esse vinho, que pode ser leve e frutado,<br />
como também ter bastante corpo e persistência,<br />
foi por muito tempo banalizado<br />
em alguns países: hoje há a preocupação<br />
da retomada da qualidade e valorização<br />
do “terroir”.<br />
Lá também nasce o “Amarone della<br />
Valpolicella”. Talvez seja um dos mais<br />
curiosos processos de elaboração de vinhos,<br />
com “apassiamento” das uvas. Após<br />
a colheita, as uvas não vão para o lagar:<br />
seguem inteiras, em caixas plásticas,<br />
para galpões com temperatura constante,<br />
luz natural e bastante ventilação. É primordial<br />
que estejam em ótima sanidade,<br />
sem fungos nem grãos danificados. Lá<br />
permanecem por quatro meses. Durante<br />
esse período, ocorre uma concentração<br />
natural dos açúcares, e a uva se torna<br />
quase passa. Em alguns casos a Botrytis<br />
Cinerea pode atacar, garantindo ainda<br />
mais complexidade. Após esse período, há<br />
o esmagamento e a fermentação. Tem-se<br />
então um vinho muito denso, encorpado,<br />
com sabores bem peculiares e graduação<br />
alcoólica em torno de 15º. Muitos o<br />
consideram com toque de amargor, daí a<br />
origem do nome: Amarone. Após, o vinho<br />
pode envelhecer em barris de carvalho,<br />
bem como de cerejeira, como é o caso dos<br />
vinhos ícones da Seregho Alighieri. Já na<br />
propriedade de Micheli Castellani é possível<br />
ver essas uvas e compreender mais<br />
sobre esse complexo sistema, degustando<br />
o ícone “Cinco Stelle”.<br />
Em alguns casos, parte do vinho Valpolicella<br />
também pode receber uvas que<br />
sofreram o apassiamento, chamando-se<br />
assim “Valpolicella Ripasso”. Essa já é<br />
uma garantia de um vinho mais denso,<br />
sem perder a delicadeza regional. E há<br />
também o doce Reccioto, que pode ser<br />
uma ótima opção para as sobremesas com<br />
chocolate.<br />
O Amarone é um vinho para meditar,<br />
e pede queijos fortes e carnes exóticas.<br />
Precisa decantação, anos de adega: toda<br />
esta potência merece tempo e muito<br />
respeito. Ao comprar, procure sempre os<br />
bons produtores: estes cuidam com mais<br />
carinho de todas as etapas do processo,<br />
principalmente da qualidade da uva.<br />
Visitar o Vêneto é mágico. Se for,<br />
aproveite para dar a volta no Lago di Garda,<br />
apreciando suas mansões e paisagens.<br />
Recomendo que fique nas hospedarias<br />
“Maria Amélia foi<br />
da Serra Gaúcha<br />
para uma das<br />
mais românticas regiões<br />
vínicolas do mundo. E nos<br />
conta aqui sobre o que o<br />
Vêneto tem de bom<br />
familiares (Bed&Breakfast), em meio aos<br />
vinhedos, nos pequenos povoados como<br />
Negrar, que permitem vivenciar o cotidiano<br />
familiar, estar pertinho dos vinhedos e<br />
vinícolas, além do fácil acesso a Verona.<br />
Tudo que melhor harmoniza com vinho:<br />
ótima gastronomia, muitas colinas e um<br />
clima repleto de romantismo, perfeito para<br />
se apaixonar!<br />
Maria Amélia Duarte Flores<br />
Enóloga<br />
maria.amelia@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
Mil vezes, não! Não vou botar o<br />
bedelho em assunto que não é<br />
da minha competência. Pode ir<br />
se desenganando quem estiver, a priori e<br />
só pelo título, supondo que vou falar dos<br />
benefícios terapêuticos do vinho, de polifenóis,<br />
de resveratrol, ácido málico, tanino<br />
e mais coisas mágicas que a uva contém<br />
e transmite ao seu herdeiro universal: o<br />
vinho. Ele, concordo, da formação da baga<br />
ao desarrolhar da garrafa, é, por si só, uma<br />
aula de Química Orgânica. Mas não sou<br />
versada em Química. Não visto o jaleco<br />
branco dos laboratórios de experimentação,<br />
entre retortas, pipetas e os líquidos<br />
coloridos dos alexânderes que povoam<br />
as bancadas de mármore branco. Este é<br />
assunto para o médico, especialista e PhD,<br />
Jairo Monson. Sou apenas uma honrada e<br />
humilde apreciadora de vinhos.<br />
No entanto, esses tais benefícios terapêuticos,<br />
milênios antes que químicos<br />
e terapeutas os estabelecessem – e lhes<br />
dessem os nomes complicadíssimos (que<br />
fazem a alegria dos enochatos, diga-se)<br />
–, já eram sabidos e comprovados pelos<br />
povos da Terra. Raramente houve civilização<br />
antiga, da meia-lua do Crescente<br />
Fértil aos Orientes Mais Extremos, e<br />
até de outras longitudes e latitudes, que<br />
não tivesse feito o seu vinho, desde, é<br />
claro, que dispusesse da matéria prima.<br />
A vinificação, como tudo no mundo, foi<br />
se aperfeiçoando no correr dos tempos e<br />
a prática foi estabelecendo diretrizes e<br />
métodos.<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
E não se pense que aqueles vinhos<br />
iniciais, do Paleolítico à Antiguidade,<br />
eram assim tão desprotegidos e suscetíveis<br />
de azedamento. Não tinham, claro,<br />
a vida longa que muitos milênios depois<br />
acabou impressa na estrutura dos vinhos,<br />
mas estou convencida de que os antigos<br />
tinham lá as suas maneiras de conservá-lo<br />
por algum tempo. Imersão das ânforas em<br />
água, odres cercados de areia ou serragem<br />
demolhada, cobertura de galhas, buracos<br />
cavados sob toldos e outros expedientes<br />
existiam, não há dúvida, pois se fosse para<br />
viver bebendo vinagre, a Humanidade<br />
teria excomungado o vinho, e assim seria,<br />
no mínimo, até que a ciência enológica<br />
mostrasse os seus segredos .<br />
A propósito, a enóloga Maria Amélia<br />
Flores publicou aqui, dia desses um belo<br />
artigo sobre o <strong>Vinho</strong> da Madeira, surgido<br />
do vai-pra-lá-vem-pra-cá dos tonéis que<br />
viajavam nos porões dos navios, sujeitos<br />
a intempéries e oscilações climáticas. Então,<br />
não exagero se suponho (apenas suponho)<br />
que o Oriente Médio dos tempos<br />
bíblicos conheceu alguma coisa parecida<br />
com esse tipo de vinho. Naqueles trechos,<br />
à época, viajava-se balançando em cima<br />
de camelos, sob um sol de fogo que cedia<br />
lugar às noites geladas, donde ser plausível<br />
que um “madeira” da Antiguidade<br />
tenha surgido e alegrado muitas raças e<br />
muitos sítios do Velho Testamento, bem<br />
longe da Ilha. Mas o que quero situar<br />
aqui é a idéia de que o vinho, nos seus<br />
primórdios, foi feito e ingerido como<br />
“Provavelmente<br />
embalada por uma<br />
boa taça com pão<br />
de queijo, Andréa Pio<br />
vai para a história antiga<br />
buscar explicações sobre o<br />
ato de beber vinho<br />
BEBEr VinHo.<br />
alimento. É a tese que um dia pretendo<br />
desenvolver.<br />
Pois é. O fato é que beber vinho é<br />
coisa tão antiga quanto a primária descoberta<br />
pelos nossos ancestrais rudimentares<br />
de que uma baga espremida resultava<br />
num caldinho saboroso. Daí à objetiva<br />
fabricação do vinho – então um vinho<br />
obviamente primitivo – foi um passo:<br />
nossos antepassados, com a experiência<br />
(essa atitude da qual resultou, resultam e<br />
resultarão, tantas descobertas maravilhosas!)<br />
perceberam que ali estava um item<br />
precioso a ser adotado na sua dieta. Sim,<br />
na sua dieta! O vinho, mesmo aquele sumo<br />
elementar dos antanhos, era um alimento<br />
– novo, agradável e benfazejo.<br />
E assim os nossos avós de milênios<br />
atrás, paralelamente ao bem estar que<br />
lhes proporcionava o tal caldinho, sentiram<br />
logo o outro efeito dele: a euforia,<br />
donde nasceu o espírito festivo, ao qual,<br />
conforme o volume ingerido e o nível de<br />
suportabilidade do ingestor, se seguiram<br />
os estágios que vão da sonolência às ardências,<br />
até mesmo aos desastres; como<br />
ainda hoje. Na minha tese, entretanto, o<br />
vinho foi originalmente instituído como<br />
alimento. Não se pode descartar, naturalmente,<br />
que muitas vezes ele era tomado<br />
para, deliberadamente, instaurar o “clima<br />
de festa”, que sempre desbordava para as<br />
pândegas mais enfoguetadas. Isso me fez<br />
lembrar os manuscritos de Eubulus – administrador<br />
de Atenas de 355 a 346 aC,<br />
Uai!<br />
como E para quê?<br />
sobre as 10 taças de vinho: “Eu preparo<br />
três taças para o moderado: uma para a<br />
saúde, que ele sorverá primeiro, a segunda<br />
para o amor e o prazer e a terceira para o<br />
sono. Quando essa taça acaba, os convidados<br />
sábios vão para a casa. A quarta é<br />
a menos demorada, mas é a da violência.<br />
A quinta é do tumulto, a sexta da orgia,<br />
a sétima do olho roxo, a oitava é a do<br />
policial, a nona da ranzinzice e a décima<br />
a da loucura e da quebradeira”. Mas não<br />
creio que as oportunidades do excesso<br />
fossem costumeiras: qualquer sociedade,<br />
que vivesse em festivais constantes ou<br />
bebesse até se avinagrar e ficar pastosa,<br />
virava presa fácil dos inimigos, numa<br />
época em que a Humanidade vivia de<br />
guerras de conquista, raptos, saques e toda<br />
sorte de absurdos sócio-políticos – muitos<br />
ainda recorrentes neste Vigésimo Primeiro<br />
Século D.C.<br />
Andréa Pio<br />
<strong>Jornal</strong>ista e editora do guia Uai<br />
andrea@jornalvinhoecia.com.br<br />
5
De Catarina<br />
EnoGastronomia<br />
A<br />
enogastronomia anda em alta em<br />
Florianópolis. A capital catarinense<br />
assiste a uma efervescência<br />
em torno do tema vinho e comida. Praticamente<br />
todas as casas que promovem culinária<br />
destacada procuram montar cartas<br />
de vinhos em sintonia com os pratos dos<br />
cardápios. Os eventos enogastronômicos<br />
têm-se multiplicado e se tornado constantes<br />
nos bons restaurantes. Resultado:<br />
ganham os clientes, profissionais da área,<br />
importadores e produtores de vinhos.<br />
O restaurante Bianco chamou o chef<br />
italiano Luciano Boseggia, ex-Fasano, para<br />
colocar em marcha o festival enogastronômico<br />
Il Giro d’Itália. A cada semana Boseggia<br />
prepara um menu típico de uma das<br />
20 regiões italianas, com entrada, primeiro<br />
prato, prato principal e sobremesa. As receitas<br />
são harmonizadas com vinhos do Novo<br />
Mundo, numa proposta para mostrar que a<br />
gastronomia da Velha Bota pode combinar<br />
perfeitamente com vinhos da Terra Nova.<br />
Nos dias de festival, a casa lota.<br />
6<br />
“Em estréia no<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong>,<br />
o jornalista e<br />
sommelier João Lombardo<br />
nos traz notícias frescas da<br />
efervecente Floripa, que<br />
evolui no vinho e na mesa<br />
Em alta Em florianópolis<br />
Na mesma direção, outros restaurantes<br />
estão transformando eventos enogastronômicos<br />
em rotina. O restaurante Lo<br />
Stivale, em Ponta da Canas, norte da ilha,<br />
já organizou noites com vinhos italianos<br />
da Pio Cesare e Rocca delle Macìe. O<br />
Café Riso está sendo palco do festival<br />
chamado Confraria do <strong>Vinho</strong>. Em duas<br />
quintas-feiras por mês são apresentados<br />
vinhos de vários países, europeus e do<br />
Novo Mundo. O evento virou sucesso<br />
de público.<br />
Vários produtores têm vindo a Florianópolis<br />
prestigiar essa movimentação.<br />
O português Messias Vigário participou<br />
recentemente de jantar para o lançamento<br />
do vinho Douro Messias Unoked 2008,<br />
um tinto fresco, elaborado com as castas<br />
do Douro, sem passagem por madeira.<br />
O jantar, harmonizado, aconteceu na<br />
Marisqueira Sintra, um restaurante que<br />
prepara peixes e frutos do mar à moda<br />
portuguesa. Também no início de agosto,<br />
a produtora Dorina Lindmann conduziu<br />
uma degustação no restaurante Chez Toi,<br />
onde apresentou seus vinhos alentejanos.<br />
Um cardápio francês foi elaborado especialmente<br />
pelo chef Marcelo Guzzo, para<br />
harmonizar com os vinhos da produtora.<br />
Outra produtora portuguesa, Filipa<br />
Pato, participou também, em agosto, de<br />
jantar no restaurante O Lusitano. Ela<br />
apresentou dois vinhos, ainda inéditos em<br />
Florianópolis, que foram harmonizados<br />
com pratos da casa: o Bossa e o Nossa,<br />
os chamados “vinhos doidos”. Outros<br />
produtores também vieram a Florianópolis<br />
mostrar seus produtos, em sintonia com a<br />
gastronomia praticada na ilha. Entre eles,<br />
Marcelo Retamal, da chilena De Martino,<br />
Fabrice Rosset, da Champagne Deutz, e<br />
Sérgio Cuadra, da Caliterra.<br />
Nessa ebulição, também participam<br />
da cena os vinhos das altitudes de Santa<br />
Catarina. Procurados pelos turistas nos<br />
meses de verão, eles escoltam com elegância<br />
o ano todo pratos com ingredientes<br />
do mar e da serra catarinense, e também<br />
receitas internacionais. Vinícolas como<br />
a Villa Francioni, Quinta Santa Maria,<br />
Quinta da Neve, Pericó, Sanjo e Villagio<br />
Grando colocam seus vinhos em eventos<br />
enogastronômicos na cidade. E os vinhos<br />
das altitudes invadem o litoral catarinense.<br />
Essas iniciativas estão ajudando a promover<br />
vinhos nacionais e internacionais.<br />
E a criar a cultura enogastronômica em<br />
Florianópolis.<br />
João Lombardo<br />
<strong>Jornal</strong>ista e sommelier<br />
lombardo@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
<strong>Vinho</strong> está na moda<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
e a gente faz o estilo<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong>
Viajando com <strong>Vinho</strong><br />
De volta ao lar,<br />
recebendo amigos<br />
8<br />
“Que tal na volta de<br />
férias dar um tempo<br />
nas viagens, curtir o<br />
lar e convidar amigos para<br />
juntos beberem vinho?<br />
Como? Adriana Bonilha<br />
dá algumas dicas<br />
Cansei... Acabaram as férias e com<br />
ela o meu pique por viagens. Afinal<br />
tenho rodado o mundo junto<br />
com vocês.<br />
E, se não se opuserem, desta vez quero<br />
dar um tempo, e ficar em casa.<br />
Quero curtir o aconchego do meu lar.<br />
Voltar para casa e poder sentir que aquele<br />
espaço me pertence, que guarda os meus<br />
objetos preferidos e que também toma<br />
conta de mim.<br />
Momentos de introspecção e relax,<br />
poder não fazer nada ou simplesmente assistir<br />
a um bom filme ou ler um envolvente<br />
livro... Por falar nisto, vocês estiveram na<br />
Bienal, em São Paulo?<br />
Mas a vida não pode ser de isolamento.<br />
Então sugiro que não se esqueçam de que<br />
no aconchego do lar também cabe nossos<br />
amigos. A sugestão? Traga-os para seu<br />
espaço. Invente ocasiões, desculpas...<br />
Com certeza não podem faltar comidinhas<br />
e “aquele” vinho.<br />
Se a decisão for por um jantarzinho,<br />
primeiramente decidam o cardápio. Qual<br />
será o aperitivo? O prato principal, a<br />
sobremesa, os acompanhamentos para o<br />
cafezinho...<br />
Depois programem um passeio no empório<br />
preferido. Escolham pacientemente<br />
os ingredientes, os detalhes, os mimos de<br />
seu prato.<br />
Aí estacionem na sessão dos vinhos.<br />
Se precisarem de ajuda e o empório tiver<br />
o serviço, peçam ajuda ao sommelier.<br />
Contem suas façanhas e aceitem as sugestões.<br />
Se não for o caso ou não se sentirem<br />
à vontade, vocês têm algumas opções.<br />
Arrisquem. Optem pelo vinho que vocês<br />
já conhecem e lhes agradaram. Fica mais<br />
fácil se antes do passeio consultarem um<br />
livro de harmonizações e já decidirem<br />
algumas das opções para orientar a busca<br />
na prateleira.<br />
Pronto?! Já está bom, né? Afinal,<br />
quero voltar ao lar. Fantasiar-me de chef:<br />
colocar meu avental, meu tok (também<br />
quero um chapéu de chef!) e colocar a<br />
mão na massa. Já abro uma garrafa. Ah,<br />
não se preocupe, trouxe uma de reserva!<br />
Está tudo pronto.<br />
Agora é só aguardar a hora e curtir<br />
as boas companhias que vocês mesmos<br />
escolheram como amigos. E tenham um<br />
ótimo jantar! (xi, desculpa, ou almoço!<br />
Pois, afinal, não sei se vocês são notívagos<br />
como eu).<br />
Mas, apesar de todo o meu discurso,<br />
já tomei fôlego, e estou de malas prontas!<br />
E você?<br />
Adriana Bonilha<br />
Colunista<br />
adriana@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
Charutos & Destilados<br />
A cerveja<br />
dos revolucionários<br />
“A história da<br />
cervejaria Rogue<br />
Beer passa por uma<br />
foto inusitada de uma<br />
mulher na parede de um<br />
bar no Oregon. Cesar<br />
Adames revela os detalhes<br />
Especializada em cervejas especiais,<br />
como a belga Malheur, a<br />
importadora Tarantino continua<br />
investindo nos rótulos americanos que<br />
nunca foram importados para o Brasil.<br />
Depois das cervejas da Anderson Valey<br />
e da Flying Dog chegam agora 14 rótulos<br />
da cervejaria Rogue Beer, que produz 41<br />
estilos diferenciados.<br />
A história da Rogue começa em<br />
1988, em Ashland, no estado do Oregon,<br />
como um brew pub num porão. O lugar<br />
ficou pequeno e Jack Joyce, um dos<br />
criadores da marca, vagou em Newport,<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
Oregon, em busca de um novo espaço.<br />
Uma tempestade de neve muito grande<br />
cruzou seu caminho e ele refugiou-se no<br />
famoso restaurante Mo´s Clam Chowder.<br />
A fundadora Mohave Neimi contou sobre<br />
seu sonho de morar em cima de um<br />
bar e que ela poderia ter o local perfeito<br />
para o novo “Rogue Brew Pub”, com<br />
apenas duas condições: ter uma foto dela<br />
nua numa banheira na parede do bar e<br />
que a cervejaria ajudasse a comunidade<br />
local.<br />
Rogue é uma pequena revolução, que<br />
se expressa por meio de cervejas artesanais,<br />
e essa é a maneira como a cervejaria<br />
é conduzida. O espírito da marca, até<br />
mesmo o nome, sugere uma revolução,<br />
um incentivo para que as coisas sejam<br />
feitas de forma diferente. As cervejas são<br />
criadas para ter um caráter único, inovador<br />
na composição e na fabricação, sem comprometer<br />
a qualidade. A Rogue acredita<br />
que se não for pra ser assim a cerveja nem<br />
precisa ser feita. Ela faz os produtos para<br />
os conhecedores, os empresários e para os<br />
revolucionários, o que exige trabalhar com<br />
o melhor, quer se trate de lúpulo, malte,<br />
fermento, água ou pessoas.<br />
Dos 14 rótulos disponíveis no mercado<br />
vale a pena experimentar os seguintes.<br />
Hazelnut Brown Néctar, no estilo<br />
Brown Ale, que tem 4.8% de álcool.<br />
Tem cor marrom escura, aroma de avelã,<br />
sabor de castanhas, achocolatada, e final<br />
maltado. O sabor é persistente e o corpo<br />
é leve.<br />
Morimoto Soba, no estilo Specialty<br />
Grain, que tem 5.2% de álcool. O delicado<br />
sabor do trigo-sarraceno, um tipo muito<br />
utilizado na cozinha japonesa e famoso<br />
pelo seu valor nutricional, traz um final<br />
amendoado para essa cerveja leve e refrescante.<br />
O aroma é bastante maltado, de<br />
grãos, e levemente adocicado.<br />
WHisky classificado<br />
Escrito por David Wishart e editado<br />
pela Larousse, a obra traz para o<br />
Brasil a identificação feita pelo autor<br />
de 12 dimensões de um single malt e<br />
incorpora os mais de 400 termos até<br />
então usados para classificar a bebida.<br />
A partir dessa classificação é possível<br />
identificar os whiskies por meio do<br />
paladar e compreender porque fatos<br />
como região, tempo de conservação,<br />
lugar onde o whisky é preservado, entre<br />
outros aspectos, são tão importantes<br />
para o resultado final do produto.<br />
David Wishart apresenta ainda as<br />
principais destilarias e conta um pouco<br />
da história e das características de cada<br />
uma, o que faz com que cada whisky<br />
tenha sua própria identidade.<br />
Além do guia prático para transformar<br />
o leitor num especialista, Whisky<br />
Classificado também fornece notas de<br />
degustação, mapas regionais, perfis de<br />
Juniper Pale Ale, no estilo Pale Ale,<br />
que tem 5.9% de álcool. A cerveja tem cor<br />
de açafrão e um bom equilíbrio de malte.<br />
Seu aroma é floral, com um final seco,<br />
adstringente e condimentado, vindo do<br />
zimbro adicionado à cerveja.<br />
Brutal Bitter, no estilo Bitter Ale, que<br />
tem 6.2% de álcool. Levemente turva, é<br />
uma Imperial Bitter cítrica, com sabor<br />
lupulado e estupendo aroma de lúpulo.<br />
Bastante interessante, tem notas frutadas,<br />
como maracujá e manga. É condimentada,<br />
levemente picante e com amargor<br />
pronunciado.<br />
Cesar Adames<br />
Consultor gastronômico<br />
adames@jornalvinhoecia.com.br<br />
marcas de acordo com a nova classificação<br />
e uma ampla pesquisa com informações<br />
e história das 85 destilarias<br />
mais tradicionais da Escócia.
Comportamento<br />
30<br />
Pernod 65<br />
e Maria Bethânia<br />
“Havia um tempo, no<br />
fim da década de 60,<br />
em que Didú Russo<br />
apreciava o Pernod 65,<br />
ou melhor, se esquentava<br />
com ele antes de ir com sua<br />
jovem turma a um show...<br />
Quem como eu foi jovem no fim<br />
da década de 60 e começo da<br />
década de 70 não deve se lembrar<br />
de muita coisa, se é que viveu. Se lembrar<br />
de muita coisa é por que ficou a observar.<br />
Os que pularam no palco e tomaram parte<br />
na ação, parodiando Nikos Kazantzakis,<br />
estes se lembram de pouco...<br />
Eu adorava o Pernod 65 – que ainda<br />
existia ilegalmente naquele tempo, depois<br />
veio o 45 –, ele mais anestesiava<br />
o corpo do que o cérebro. Adorava essa<br />
sensação.<br />
Um dos relances maravilhosos que<br />
tenho dessa época é do Show Rosa dos<br />
Ventos de Maria Bethânia, dirigido por<br />
Fauze Arap. Esteve no Tuca e no Maria<br />
Della Costa na rua Paim. Não me lembro<br />
de onde passou primeiro. Fui muito aos<br />
dois, e até sonhava explodir colorido<br />
numa apresentação qualquer dentro daquele<br />
clima absolutamente beatnik.<br />
Eu então dava um “esquenta”, como<br />
dizem hoje, antes de ir ao show, para<br />
curtir melhor tudo, e levava no bolso uma<br />
garrafinha com mais um pouco... Que fan-<br />
tástico foi viver aquele momento em que<br />
tudo era possível de ser consertado! Tudo.<br />
Isso é juventude: a possibilidade.<br />
Lembro-me de que saíamos com a<br />
força daquele show mais alcoolizados ou<br />
drogados do que entrávamos, e íamos a<br />
algum lugar para discutir tudo, o show, as<br />
coisas, o que fazer, o que estava errado,<br />
tudo. Discutíamos a genialidade da colocação<br />
dos textos declamados da Clarice<br />
Lispector, de Fernando Pessoa, a graça da<br />
Bethânia jovem – dando suas corridinhas<br />
graciosas de um lado para o outro –, a sua<br />
força inacreditável no palco para a mulher<br />
tão pequenininha que é, e a incrível fusão<br />
de um bolero dentro de uma música.<br />
Também me lembro de poemas incríveis,<br />
de frases de que nunca esqueci,<br />
como “nessa vida que sou meu sono e<br />
não sou meu dono, quem sou é quem me<br />
ignora e vive nessa névoa que sou eu...<br />
só me encontro quando de mim fujo...”<br />
ou “... e então quando estiveres perto eu<br />
arrancarei teus olhos e os colocarei no<br />
lugar dos meus. E tu arrancará meus olhos<br />
e os colocará no lugar dos teus. Então eu te<br />
olharei com os teus olhos e tu me olharás<br />
com os meus...”.<br />
Será que a Bethânia não vai reeditar<br />
esse show? Ou talvez a Marisa Monte<br />
poderia fazer uma homenagem a ela<br />
relendo o show. Eu iria... Mesmo sem o<br />
Pernod 65...<br />
Didú Russo<br />
Confraria dos Sommeliers<br />
didu@jornalvinhoecia.com.br<br />
<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 53
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 53<br />
Não é de hoje<br />
que um brinde<br />
faz você<br />
vender mais.<br />
A Abravinho tem revistas especializadas no mundo do vinho. São milhares de aficcionados pela arte, pela história e pela magia<br />
contida em cada garrafa. Um público altamente selecionado, com excelente poder aquisitivo e que entre uma safra e outra está<br />
atento à sua mensagem. Anuncie numa das revistas da Abravinho e ganhe muitos apreciadores para o seu produto ou serviço.<br />
31
São Joaquim é a terra da premiada<br />
Vinícola Pericó. Desse terroir gelado a 1300 m<br />
de altitude nascem vinhos de qualidade<br />
com sabores e aromas únicos.<br />
Deguste Pericó, vinhos finos das terras de altitude e da neve catarinense.