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Foto a Foto - Jornal Vinho & Cia

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<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong><br />

Ano 6 - Número 57 - R$ 8,00<br />

ConVisão<br />

Abravinis 2010<br />

<strong>Foto</strong> a <strong>Foto</strong><br />

o clima da feira de vinhos ao consumidor<br />

realizada no Clube Pinheiros<br />

em São Paulo,<br />

que trouxe bons vinhos a bons preços<br />

www.jornalvinhoecia.com.br<br />

E mais as dicas da maior equipe especializada em vinho no país


Aperitivo<br />

O que traz<br />

Chega o fim de mais um<br />

ano e o começo de outro,<br />

pensamos em muitas<br />

coisas, o que foi bom, o que foi<br />

ruim, o que podemos mudar,<br />

melhorar, alterar, desistir, o<br />

que devemos fazer, o que não...<br />

Olhamos para a frente, para trás,<br />

a família, os amigos, os amores,<br />

a vida, o que conquistamos...<br />

Comemoramos.<br />

Nas páginas desta edição...<br />

4- <strong>Vinho</strong> Tinta<br />

(Custódio)<br />

6- <strong>Vinho</strong>&Saúde<br />

(Jairo Monson)<br />

8- No Brasil, o vinho do gelo<br />

(Mercado)<br />

O vinhO e a cOmpanhia<br />

E numa comemoração quase<br />

todas as pessoas adultas pensam<br />

em brindar com uma bebida. Nas<br />

datas mais especiais o vinho é a<br />

preferência para a saudação, seja<br />

espumante, tinto ou branco. Tem<br />

o simbolismo e a imagem de algo<br />

bom para a alma. É companheiro<br />

indispensável nestas horas.<br />

E pouco a pouco no Brasil<br />

o vinho ganha espaço também<br />

04 08<br />

10- Todo <strong>Vinho</strong><br />

(Sérgio Inglez de Souza)<br />

11- América do Sul<br />

(Euclides Penedo Borges)<br />

12- Velho Mundo<br />

(Walter Tommasi)<br />

13- Novo Mundo<br />

(Beto Acherboim)<br />

14- <strong>Vinho</strong> na Academia<br />

(Carlos Arruda)<br />

15- Que negócio é esse?<br />

(Álvaro Cézar Galvão)<br />

no dia-a-dia das pessoas. Com<br />

moderação, traz saúde, traz<br />

alegria.<br />

Falar sobre ele nos traz igualmente<br />

satisfação. Aqui, a maior<br />

equipe especializada em vinho<br />

no país trouxe em 2010 muita informação,<br />

e vai trazer em 2011.<br />

Comemoramos o que trazemos<br />

nas próximas páginas, e nas<br />

próximas, e nas próximas... É<br />

16- Reportando<br />

(Denise Cavalcante)<br />

17- Circuito do <strong>Vinho</strong><br />

(Fernando Quartim)<br />

18- <strong>Vinho</strong> é arte<br />

(Maria Amélia)<br />

19- Uai!<br />

(Andréa Pio)<br />

20- De Santa Catarina<br />

(João Lombardo)<br />

bom acompanhar em boa companhia.<br />

Ótimo 2011! Tim-tim!<br />

Regis Gehlen Oliveira, editor<br />

17 20<br />

21- Charutos & Destilados<br />

(Cesar Adames)<br />

22- Comportamento<br />

(Didú Russo)<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong><br />

Ano 6 - Número 57<br />

www.jornalvinhoecia.com.br<br />

Editor<br />

Regis Gehlen Oliveira<br />

Publicação<br />

ConVisão<br />

Al. Araguaia, 933, 8o. and.<br />

Alphaville<br />

06455-000, Barueri, SP<br />

Colaboradores<br />

Adão Morellatto / Adriana Bonilha<br />

Álvaro C. Galvão / Andréa Pio<br />

Beto Acherboim / Carlos Arruda<br />

Cesar Adames / Custódio<br />

Denise Cavalcante / Didú Russo<br />

Norio Ito / Euclides Penedo Borges<br />

Fernando Quartim / Jairo Monson<br />

João Lombardo / Maria Amélia<br />

Sérgio Inglez / Walter Tommasi<br />

Assinaturas e<br />

Propaganda<br />

(11) 4192-2120<br />

jornal@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> é uma publicação da<br />

ConVisão relativa ao segmento de<br />

vinhos e suas companhias naturais,<br />

como gastronomia, restaurantes,<br />

prazer, conhecimento, viagens e<br />

outras. Circula principalmente em São<br />

Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais<br />

e Rio Grande do Sul, nos principais<br />

restaurantes e lojas especializadas.<br />

Pode ser adquirido por assinaturas<br />

ou em bancas selecionadas.<br />

Os artigos e comentários assinados não refletem<br />

necessariamente a opinião da editoria.<br />

A menção de qualquer nome neste veículo não<br />

significa relação trabalhista ou vínculo contratual<br />

remunerado.<br />

Associado à<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> Tinta<br />

Reciclagem...<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

5


6<br />

<strong>Vinho</strong> & Saúde<br />

É verdade que...<br />

uva traz Os mesmOs<br />

É<br />

um erro pensar que comendo uvas o organismo<br />

terá os mesmos benefícios que bebendo vinho.<br />

A uva, além de altamente palatável, é uma<br />

dádiva para a saúde. É por isso que a natureza nos oferece<br />

ela em cachos. Além das propriedades medicinais, ela é<br />

uma importante fonte de energia e um valoroso reconstituinte<br />

energético e metabólico.<br />

O produto da videira é uma das frutas mais doces e<br />

calóricas: contém cerca 15 a 17g de glicose e frutose e<br />

70 calorias para cada 100g de fruto. Os açúcares da uva<br />

são de assimilação rápida, isto quer dizer de consumo<br />

rápido pelo organismo, não se depositando. Isso a torna<br />

muito útil como reconstituinte metabólico e energético,<br />

antes, durante ou após atividades ou situações de grande<br />

consumo de energia.<br />

A uva ainda contém vitaminas do Complexo B (principalmente<br />

B1, B3 e B5) e Vitamina C, que são essenciais<br />

no metabolismo dos açúcares e do potássio, grandes<br />

responsáveis pela mecânica muscular. Nela encontramos<br />

também muitos sais minerais e oligoelementos. Eles são<br />

de grande importância, principalmente na constituição e<br />

benefíciOs que O<br />

metabolismo dos ossos, sangue e nervos. O bago contém<br />

alguns ácidos orgânicos, como o ácido linoleico, tartárico,<br />

málico, cítrico, succínico e fumárico, dentre outros.<br />

Eles têm um papel fundamental na digestão. Não foi por<br />

nada que Bacco escolheu, entre tantos, a uva como o seu<br />

alimento preferido.<br />

O vinho é o produto da fermentação da uva madura<br />

e sadia. Muitos dos componentes do vinho não existem<br />

na uva. O álcool é um exemplo. Ele e outros compostos<br />

são obtidos da fermentação dos açúcares da uva pelas<br />

leveduras. Nessa reação é produzido álcool, gás carbônico<br />

e calor.<br />

Os principais responsáveis pelos efeitos do vinho<br />

na saúde são os polifenóis e o álcool. Aqueles provêm<br />

quase que exclusivamente da uva. Noventa a 95% deles<br />

estão nas sementes e cascas da fruta. Um pouco vem da<br />

polpa da fruta e uma pequena parte pode vir da madeira,<br />

nos vinhos que passam por barricas. Os polifenóis são<br />

extraídos da uva durante a fermentação, principalmente<br />

pela ação do álcool, que tem uma afinidade química muito<br />

grande com eles. Quem melhor extrai os polifenóis da<br />

uva é o álcool.<br />

vinhO<br />

?<br />

É um erro pensar que comendo uvas o organismo<br />

irá absorver os polifenóis. Ao comer uvas, muitas vezes<br />

desprezamos as cascas e sementes – justamente onde<br />

se concentram quase a totalidade destes compostos<br />

ímpares. Além disso, o organismo não sabe retirá-los da<br />

fruta. Parte significativa deles não é solúvel em água e<br />

sim no álcool. O sistema digestório absorve melhor os<br />

polifenóis quando na presença do álcool, e tem extremas<br />

dificuldades de absorvê-los de outra forma.<br />

A uva é uma fruta extraordinária que repassa leal e<br />

desinteressadamente os seus compostos para o vinho.<br />

Este, durante a sua caprichosa elaboração, processa,<br />

aprimora e combina em grande harmonia estes elementos,<br />

de modo que o resultado é um alimento e uma bebida de<br />

grande complexidade e muitas virtudes. É por isso que<br />

o vinho é o néctar dos deuses.<br />

Jairo Monson<br />

Médico e escritor<br />

jairo@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> está na moda<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

e a gente faz o estilo<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong><br />

7


8<br />

Mercado<br />

abravinis<br />

fOtO a fOtO<br />

A<br />

primeira feira ao consumidor Abravinis, na sua edição 010, trouxe a oportunidade de aquisição de bons<br />

vinhos a bons preços. Em amplo e confortável espaço no elegante e tradicional Clube Pinheiros em São<br />

Paulo, ao lado do Shopping Iguatemi, num dos melhores pontos do país, reuniu grandes importadores,<br />

vinícolas nacionais e expositores de acessórios. Em cada estande foi possível degustar os vinhos e fazer pedidos de<br />

compra na hora. Na lojinha no mesmo local os produtos adquiridos podiam ser retirados e já levados diretamente<br />

para o carro no estacionamento ao lado. Tudo com muita facilidade. O clima foi de bastante descontração, e pode<br />

aqui ser sentido de perto, foto a foto...<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

Participaram da feira: AB Flug, Adega<br />

Alentejana, Art des Caves, Casa de<br />

Madeira, Casa do Pão de Queijo, Casa<br />

Valduga, Dionísio Clube de <strong>Vinho</strong>s,<br />

Domno, Grand Cru, Interfood, La Pastina,<br />

Maison des Caves, Max Brands, Mistral,<br />

MS Import, Península, Sabrage, Salton,<br />

VCT, Viníssimo e World Wine.<br />

A Abravinis 2010 foi promovida pela<br />

Abravinho (Associação Brasileira da<br />

Imprensa de <strong>Vinho</strong>), por meio dos veículos<br />

de comunicação associados Adega,<br />

Alta Gastronomia, Prazeres da Mesa e<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong>, e contou com a participação<br />

e organização da Exponor Brasil. A loja<br />

no local foi operada por Egidio Silvestri,<br />

da Wine Pro.<br />

Mercado


Todo <strong>Vinho</strong><br />

Degustando<br />

sustentabilidade<br />

“Em linha contrária<br />

à enologia química,<br />

os produtos<br />

orgânicos e biodinâmicos<br />

desenvolvem-se no mundo.<br />

Sérgio Inglez desvenda<br />

alguns dos seus “mistérios”<br />

Nos velhos tempos, era prática corrente<br />

a apanha de frutas quando<br />

as primeiras já haviam sido picadas<br />

por algum pássaro frugívoro local, que<br />

caracterizava a certificação de qualidade<br />

da própria natureza! Com relação às uvas,<br />

isso andou muito em moda nas terras armênias<br />

há cerca de 10 mil anos!<br />

Mais recentemente, há cerca de 200<br />

anos, os vinhedos europeus pecavam pela<br />

falta de vigor de muitas das variedades<br />

clássicas e pela susceptibilidade aos ataques<br />

de doenças fúngicas.<br />

Empolgados com a produtividade<br />

e a resistência das variedades híbridas<br />

americanas, os europeus importaram<br />

um sem-número de mudas. Os famosos<br />

vinhos Chianti, durante anos, levaram em<br />

seu corte vinho de Isabel!<br />

Num primeiro momento houve uma<br />

grande euforia, mas, em seguida, sobreveio<br />

o flagelo da filoxera, causado por um<br />

inseto que devora as raízes das videiras.<br />

Foi uma grande devastação, que resistia<br />

a todos os tratamentos de choque, desde<br />

defensivos até à inundação de vinhedos.<br />

Felizmente, a solução definitiva foi<br />

ecologicamente correta: tomou-se um<br />

galho enraizado de videira americana e<br />

enxertou-se em seu topo a videira européia<br />

selecionada. Pronto, aí estava salva a vi-<br />

10<br />

tivinicultura mundial, pois uma Cabernet<br />

Sauvignon enxertada sobre cavalo americano<br />

está protegida contra a filoxera!<br />

Mas, ao término da Primeira Grande<br />

Guerra, mais curta que o previsto, havia<br />

enormes sobras de produtos químicos de<br />

fabricação de artefatos bélicos.<br />

Empresários apressaram-se no desenvolvimento<br />

de aplicações para consumir<br />

todo aquelas sobras baratas. Um dos aproveitamentos<br />

foi aplicar na produção de<br />

defensivos agrícolas, com a conseqüente<br />

campanha para uso intensivo de pesticidas,<br />

herbicidas e outras modalidades<br />

homicidas.<br />

Com o aumento da população consumidora,<br />

as regiões produtoras tiveram que<br />

aumentar sua produção e isto praticamente<br />

ocorreu “at any price”. Uma profusão de<br />

tipos de vinho impôs o incremento das<br />

agressões ao meio ambiente.<br />

Preocupados com a implosão do<br />

planeta, produtores mais esclarecidos<br />

vêm aderindo a um retorno às origens,<br />

resgatando a produção de vinhos sob condições<br />

ambientais de sustentabilidade. Até<br />

recentemente, por total desconhecimento,<br />

havia certa resistência contra os vinhos<br />

orgânicos ou biodinâmicos.<br />

Quando participei da degustação vertical<br />

dos vinhos de Jean-Pierre Amoreau,<br />

do centenário Château Le Puy, localizado<br />

em área nobre de Bordeaux, tive prova definitiva<br />

da qualidade superior dos vinhos,<br />

a despeito de serem biodinâmicos, como<br />

querem os céticos.<br />

Depois, degustando vinhos da AOC<br />

Coulée de Serrant, Sauvennières, do Loire,<br />

denominação particular para os vinhos<br />

biodinâmicos de Nicolas Joly, amplos, untuosos,<br />

frescos e de grande preenchimento<br />

do centro da boca, definitivamente varri<br />

toda sorte de prevenções e preconceitos<br />

que vinha ouvindo de produtores que ado-<br />

tam soluções mais simples, mas danosas<br />

à sustentabilidade do planeta.<br />

Na Argentina, província de Salta,<br />

visitei a bodega mais antiga em funcionamento<br />

naquele país, que opera alguns<br />

dos vinhedos mais altos do mundo. São<br />

vinhedos biodinâmicos cultivados de<br />

2.500 a 3.111 metros de altitude!<br />

Ao invés de fertilizantes e defensivos<br />

químicos, os tratos culturais são conduzidos<br />

com materiais do próprio local,<br />

preparados com cuidados especiais.<br />

Na preparação dos compostos concentrados,<br />

este material é acondicionado em<br />

chifres ou bexigas de animais que ficam<br />

durante meses enterrados no solo para<br />

sofrerem maturação biodinâmica. Depois<br />

disso, os compostos básicos são dinamizados<br />

através da mistura com veículos<br />

de aplicação. O composto biodinâmico<br />

final é aplicado por meio de equipamentos<br />

especiais.<br />

A defesa biodinâmica dos fatores<br />

nocivos, pragas, fungos e insetos, é realizada<br />

com preparados de ervas locais que<br />

são aplicados no vinhedo para ativar as<br />

resistências naturais da videira.<br />

Um ponto determinante é o equilíbrio<br />

da videira, obtida pela produção calibrada<br />

com cargas menores de uvas de qualidade<br />

superior.<br />

Na adega da Colomé, amplas e moderníssimas<br />

instalações em aço inoxidável<br />

dão suporte ao trabalho enológico com os<br />

recursos naturais (leveduras selvagens) e<br />

sem a utilização de aditivos, muito comum<br />

na enologia química para corrigir o vinho,<br />

para dar aromas e cor que efetivamente<br />

não são dele.<br />

O argumento final, sem discussões<br />

estéreis, está na degustação de toda linha<br />

de vinhos Colomé, com vinhos de grande<br />

presença de boca, complexidade e agradabilidade.<br />

Se deu água na boca, em São Paulo<br />

você encontra, na Decanter, os vinhos<br />

biodinâmicos da Colomé como Colomé<br />

Reserva, Colomé Estate Malbec, Colomé<br />

Torrontés, Amalaya e outros.<br />

Sérgio Inglez de Souza<br />

Escritor e consultor<br />

sergio@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


Um novo olhar<br />

sobre o Cone Sul<br />

“Em 005, Euclides<br />

Penedo fizera em um<br />

artigo uma previsão<br />

acerca do futuro dos<br />

vinhos no Cone Sul. Agora,<br />

anos depois, ele nos conta<br />

como está o panorama.<br />

As regiões e os países de tradição<br />

vinícola da parte sul da América<br />

do Sul passaram por um dramático<br />

e até inesperado período de ajustamento<br />

e desenvolvimento nos últimos<br />

quarenta anos em termos de cultivo de<br />

uvas viníferas e de elaboração de vinhos<br />

finos. Para evitar interpretações imprecisas,<br />

torna-se útil delinearmos a área a que<br />

nos referimos.<br />

O limite norte é o paralelo 25 Sul, que<br />

passa por Salta, no noroeste argentino, e<br />

por Curitiba, PR, no Brasil. O limite sul é<br />

o paralelo 40 Sul, passando pelo alto Rio<br />

Negro, já na Patagônia, área que divide<br />

com a Ilha Sul da Nova Zelândia o título<br />

de região vinícola mais ao sul que existe<br />

no mundo do vinho. Os limites leste e<br />

oeste são, respectivamente, a costa do<br />

Atlântico e a costa do Pacifico.<br />

Em conseqüência dos esforços para<br />

melhorar a qualidade, ampliar mercados<br />

internos e conquistar mercados externos,<br />

consolidaram-se nesse quase retângulo<br />

quatro grandes áreas, a saber: a região<br />

andina, a Patagônia, os Pampas e as serras<br />

gaúcha e catarinense.<br />

A região dos Andes, com Mendoza na<br />

vertente leste da Cordilheira e com o Vale<br />

Central chileno na vertente oeste, destaca-se<br />

internacionalmente com seus tintos<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

estruturados e alcoólicos, em particular<br />

de suas castas emblemáticas, a Malbec no<br />

lado argentino, a Carmenère no lado chileno.<br />

Os vinhos andinos – brancos, tintos,<br />

rosados, espumantes ou doces – são uma<br />

realidade atual consolidada, reconhecida<br />

e presente nos quatro cantos do mundo.<br />

Vide, por exemplo, os tintos chilenos<br />

Almaviva, Chadwick e Don Melchor, e os<br />

argentinos Nicolas Catena Zapata, Malbec<br />

Nicásia ou Luigi Bosca Ícono, entre tantos<br />

outros destaques internacionais.<br />

A Patagônia, com seus projetos distintos<br />

– uns gigantescos, como Bodegas<br />

del Fin del Mundo, outros menores mas<br />

de qualidade superlativa, como a Noemía<br />

– acha-se em fase de afirmação. Seus<br />

poucos produtores, entre eles a pioneira<br />

Humberto Canale, estão ali à procura de<br />

um nicho maior de mercado, tanto para<br />

brancos frescos como para tintos da Pinot<br />

Noir ou outros mais estruturados.<br />

O Pampa inclui áreas do Uruguai<br />

– com seus Tannat de bom tamanho – e<br />

da Campanha Gaúcha – no lado brasileiro,<br />

em fase de expansão consistente<br />

e encorajadora, de viticultura moderna,<br />

cuidadosa, algumas com cultivo orgânico.<br />

Veja-se, exemplificando, os projetos da<br />

Miolo Wine Co. na Fazenda do Seyval e<br />

em Palomas, onde adquiriu recentemente<br />

as vastas áreas da Almadén.<br />

Na Serra Gaúcha verifica-se notável<br />

progresso na elaboração de tintos de qualidade<br />

superior; mas é na sua vocação para<br />

a elaboração de Espumantes que a região<br />

se distingue, tornando-se gradualmente<br />

a Champagne das Américas. A área foi<br />

ampliada com a incorporação, no norte do<br />

Rio Grande do Sul, dos Campos de Cima<br />

da Serra, a mil metros de altitude, e com<br />

a implantação surpreendentemente rápida<br />

da vitivinicultura no planalto catarinense,<br />

onde projetos novos mas ambiciosos,<br />

América do Sul<br />

Vinhedos da Villaggio Grando, em Santa Catarina<br />

como Villagio Grando, Quinta da Neve<br />

e Vila Francioni, entre outros, vem se<br />

destacando nesse início de milênio.<br />

Os parágrafos acima são adaptados de<br />

um artigo meu de 2005 sobre o Cone Sul,<br />

pelo qual me atrevi a fazer previsões. Vejo<br />

que não errei muito. Como eu havia escrito<br />

então, o Cone Sul completa a primeira<br />

década deste milênio com uma posição<br />

de destaque no mundo do vinho, bem<br />

diferente da forma distanciada e pouco<br />

reverente com que era tratado nos Atlas<br />

enológicos do século passado.<br />

Euclides Penedo Borges<br />

Presidente da ABS-Rio<br />

euclides@jornalvinhoecia.com.br<br />

11


1<br />

Velho Mundo<br />

O que esperar<br />

“Walter Tommasi,<br />

na enogastronomia<br />

italiana, fala sobre<br />

um vinho doce típico e<br />

o costume em relação<br />

aos biscoitos Cantuccini.<br />

Mergulhar ou não?<br />

Muitas pessoas já ouviram falar<br />

do Brunello de Montalcino,<br />

mas nunca tiveram a oportunidade<br />

de provar, e aqueles que tiveram esse<br />

prazer certamente ficaram entre gostar,<br />

ou não do vinho. Afinal qual era a expectativa?<br />

E é exatamente nesta palavra que<br />

consiste a base desta matéria.<br />

A princípio temos três tipos de consumidores:<br />

aqueles que gostam de vinhos<br />

com estilo do Velho Mundo, os<br />

que gostam do estilo Novo Mundo, e os<br />

que respeitam as duas escolas e tomam<br />

todos. Para os amantes do Velho Mundo<br />

e para os que gostam de todos, tomar um<br />

Brunello também pode trazer decepções,<br />

e isso sempre ocorre caso o exemplar<br />

seja muito jovem, pois seus taninos serão<br />

ainda verdes e o vinho pedirá maturação<br />

em garrafa. Para aqueles que gostam dos<br />

Novo Mundo normalmente a experiência<br />

tende a ser meio decepcionante, visto<br />

seu paladar estar acostumado a vinhos<br />

frutados, estruturados e livre da percepção<br />

dos taninos, achando que falta estrutura<br />

ao vinho. Vejamos, então, um pequeno<br />

resumo do que esperar de um Brunello.<br />

VISUAL – A Sangiovese, não é<br />

uma uva com alta concentração de cor,<br />

portanto um Brunello é mais ralo do que<br />

os Merlot, Cabernet Sauvignon e outros.<br />

de um Brunello<br />

Claro que a maior ou menor concentração<br />

depende também do processo de vinificação<br />

(tempo de permanência do mosto<br />

em contato junto às cascas), assim como<br />

de seu cultivo (menor produtividade traz<br />

maior concentração de cor). Sua cor é<br />

rubi quando jovem, mas rapidamente<br />

evolui para o granada que aí permanece<br />

por muitos anos.<br />

OLFATIVO – O Disciplinare (regulamentação)<br />

do Brunello prevê um longo<br />

tempo de maturação (mínimo de 2 anos<br />

em botes de carvalho, mais mínimo de 4<br />

meses em garrafa , que para os reservas vai<br />

para 6 meses, notando que o vinho só pode<br />

ser colocado no mercado em janeiro do 5º<br />

ano após a sua colheita e para os reservas<br />

só no 6º ano), processo este que faz com<br />

que os vinhos ganhem mais complexidade.<br />

A predominância de aromas do vinho<br />

fica entre o frutado (ameixa, cereja) e o<br />

floral (violeta), mas há toques balsâmicos,<br />

uma série de terciários (entre eles, cacau,<br />

chocolate, café), especiarias (pimenta<br />

preta e canela), de terroso, alcaçuz e mentolado.<br />

Por durarem muito tempo, com<br />

o passar dos anos eles ainda ganham<br />

notas de couro, suor e piche.<br />

GUSTATIVO – O Brunello<br />

impressiona a todos por unir a<br />

elegância com a estrutura. O<br />

vinho é altamente gastronômico<br />

por ter alta acidez,<br />

mas é balanceada pelo<br />

álcool por volta dos<br />

13% e pelo seu tanino<br />

marcado, porém<br />

sempre fino,<br />

o que deixa<br />

seu tripé sem<br />

arestas. Possui<br />

grande estrutura, uma<br />

persistência longa, e traz<br />

no seu retrogosto a mesma<br />

complexidade olfativa e um final de<br />

boca muito elegante.<br />

Pronto, agora você já pode tomar o<br />

seu Brunello di Montalcino sabendo o que<br />

ele pode lhe oferecer. Mas observe que<br />

este descritivo traz as principais características<br />

dos Brunellos tadicionalistas. Se<br />

o exemplar que você tomar for diferente<br />

disto, tendo maior alcoolicidade, se suas<br />

frutas forem mais adocicadas, se a baunilha<br />

prevalecer entre os terciários e se sua<br />

cor for mais escura, você estará tomando<br />

um Brunello produzido dentro do estilo<br />

novomundista. Mas agora pelo menos<br />

você saberá distingui-los. Salute!<br />

Walter Tommasi<br />

Consultor e palestrante de vinhos<br />

tommasi@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


Bebendo<br />

estrelas<br />

“O que têm em comum<br />

Francis Coppola,<br />

Antonio Banderas,<br />

Olivia Newton John, Sting,<br />

Ronaldo Fenômeno, Galvão<br />

Bueno e Bob Dylan?<br />

Beto Acherboim explica.<br />

Fiquem calmos, esta não é uma coluna<br />

voltada ao Champagne... As<br />

estrelas, neste caso, são “estrelas”<br />

mesmo, celebridades, pessoas famosas,<br />

pop-stars, seja lá qual definição você<br />

preferir. Um fenômeno que já se iniciou<br />

há algum tempo, e que tem como pólo<br />

principal o novo-mundo vinícola, sempre<br />

um celeiro de novas tendências.<br />

As formas de ligação entre o vinho e<br />

a celebridade são diversas, passando pela<br />

compra da propriedade, seu gerenciamento<br />

e até o simples “golpe marketeiro”,<br />

pelo qual a estrela empresta seu nome a<br />

um viticultor ou vinícola – hoje em dia<br />

há empresas responsáveis por contratos<br />

de cessão de imagens com celebridades<br />

– para fazer um vinho com seu nome.<br />

Seja no cinema, na TV, na música ou nos<br />

esportes, diversas são as histórias destas<br />

celebridades com o vinho.<br />

Aparentemente, o estopim deste fenômeno<br />

remonta ao ano de 1975, quando<br />

o cineasta Francis Ford Coppola, já com<br />

alguma fama – e algum dinheiro no bolso<br />

– resolveu seguir os passos de seu avô,<br />

viticultor “caseiro” na Itália, e comprou<br />

uma parte da histórica vinícola Inglenook<br />

Estate, no Napa Valley. Nasceu então a<br />

Niebaum-Coppola Estate Winery.<br />

No ano de 1995, comprou a parte<br />

que faltava da propriedade. Mais tarde,<br />

rebatizou-a Rubicon Estate, o nome de<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

seu principal vinho.<br />

Gérard Depardieu, a despeito de seu<br />

famosíssimo nariz, é outro que ultrapassou<br />

a barreira da paixão e transformou um hobby<br />

em negócio. Desde o final da década<br />

de 80 é produtor de vinhos em diversas<br />

regiões. Possui vinhedos em Bordeaux,<br />

Vale do Loire, Languedoc, Espanha, Argentina,<br />

e também no Marrocos.<br />

Estes são talvez dois dos maiores<br />

exemplos desta ligação celebridade &<br />

vinho. Veja outros exemplos do cinema<br />

e da TV.<br />

Antonio Banderas é sócio de uma vinícola<br />

na Espanha, na Ribera del Duero, a<br />

Bodegas Anta Natura, rebatizada após sua<br />

entrada de Bodega Anta Banderas.<br />

Sam Neill, ator de Jurassic Park, é<br />

proprietário da Two Paddocks Winery<br />

em Central Otago, Nova Zelândia, desde<br />

1993, fazendo Pinot Noir excelente, segundo<br />

alguns críticos.<br />

Olivia Newton John, a atriz angloaustraliana<br />

de Grease, tem uma linha de<br />

vinhos chamada Koala Blue na Austrália,<br />

provavelmente aproveitando-se de seu<br />

prestígio para fazer um pouco mais de<br />

$$$.<br />

Johnny Depp, o capitão Jack Sparrow,<br />

ator marcante em diversos filmes, é casado<br />

com a francesa Vanessa Paradis e mora<br />

no sul da França, em Plan-de-la-Tour,<br />

onde está começando a fazer vinho, não<br />

se sabe se para consumo próprio ou para<br />

comercialização.<br />

Carole Bouquet, de 007 For your eyes<br />

only, é proprietária de uma vinícola em<br />

Pantelleria, onde faz o típico Moscato<br />

desde 1994.<br />

Olivier Anquier, o “modelo-padeiroapresentador-chef-restaurateur”,<br />

(ufa)<br />

francês de alma brasileira, também entrou<br />

neste meio, com 3 vinhos elaborados no<br />

sul do país pela Don Giovanni, com destaque<br />

para o espumante brut .<br />

E o narrador Galvão Bueno (ele mesmo),<br />

não poderia deixar de entrar neste<br />

meio, adquirindo uma propriedade na<br />

Campanha Gaúcha, e com a consultoria da<br />

Vinícola Miolo (Adriano Miolo e Michel<br />

Rolland) já comercializa um tinto e um<br />

espumante.<br />

Na música existem também vários<br />

exemplos.<br />

O cantor Sting possui uma Villa na<br />

Toscana, local pelo qual apaixonou-se e<br />

onde mora há mais de 10 anos. Lá produz<br />

vinhos orgânicos, embora ainda não os<br />

comercialize.<br />

Bob Dylan entrou meio sem querer,<br />

autorizando o uso de sua imagem, mas<br />

depois chegou até a ajudar nos cortes da<br />

Fattoria Le Terrazze, no Marche.<br />

Também na Itália, desta vez na Sicilia,<br />

Mick Hucknall, do Simply Red adquiriu<br />

uma vinícola, e, com ajuda de um enólogo<br />

tarimbado da região produz seu “Il<br />

Cantante” .<br />

Aqui no Brasil a aposta foi direta e de<br />

diversas formas. Bell Marques, do grupo<br />

Chiclete com Banana e sua esposa Ana<br />

abriram uma importadora na Bahia (a Ana<br />

Import), que cresce a cada ano, com bons<br />

rótulos em seu portfólio. Não contente,<br />

Bell começou a vender vinhos com rótulos<br />

próprios, os Chicleteiro e Cantador, feitos<br />

na Argentina com a uva Malbec.<br />

Há também um “time” de esportistas<br />

que, após a consagração e conquista de<br />

prestígio e dinheiro (sim, $$$, pois, sem<br />

isso, não dá para pagar uma empreitada<br />

dessas), resolveu apostar na vitivinicultura<br />

como negócio. Vejam alguns exemplos.<br />

Mario Andretti (multicampeão das<br />

Fórmulas 1 e Indy), e sua Andretti Winery<br />

no Napa Valley.<br />

Novo Mundo<br />

Jarno Trulli (italiano que corre na<br />

Fórmula 1), com sua Podere Castorani<br />

no Abruzzo.<br />

Ernie Els (golfista) e sua Engelbrecht<br />

Els Vineyards em Stellenbosch.<br />

Greg Norman (golfista) com sua Greg<br />

Norman Estates Wine, em diversas regiões<br />

da Austrália e EUA.<br />

Elias Figueroa (grande zagueiro chileno),<br />

com seus vinhos Don Elias no Vale<br />

do Maule.<br />

Ronaldo Fenômeno, que, mais por<br />

marketing ou até gosto pessoal, é acionista<br />

minoritário da Bodega Emilio Moro, na<br />

Ribera del Duero.<br />

E há também algumas formas diferenciadas<br />

de ligação entre vinho e celebridades.<br />

Para Marilyn Monroe há um vinho<br />

lançado todo ano, desde 1985, sempre<br />

no dia de seu aniversário (1º de junho),<br />

e é voltado para colecionadores, sempre<br />

esgota rapidamente.<br />

Rolling Stones, Madonna, Pink Floyd<br />

e Kiss, todos, têm contrato com a empresa<br />

Celebrity Cellars, que produz vinhos com<br />

rótulos associados às imagens destes<br />

artistas. São produtos voltados a colecionadores,<br />

e que, em alguns casos, esgotam<br />

rapidamente, mesmo com preços que<br />

podem chegar a mais de cem dólares.<br />

E você, qual tipo de estrela prefere<br />

beber? Até a próxima!<br />

Beto Acherboim<br />

Enófilo e são-paulino<br />

beto@jornalvinhoecia.com.br<br />

1


1<br />

<strong>Vinho</strong> na Academia<br />

O preço<br />

da fama<br />

“Uma reportagem<br />

sobre degustação<br />

de vinhos famosos<br />

chamou a atenção de<br />

Carlos Arruda sobre<br />

alguns aspectos. Quais?<br />

Confira...<br />

Como todo principiante na descoberta<br />

do vinho, eu também reverenciei<br />

muitos e muitos rótulos<br />

“de peso” nos primeiros anos de envolvimento<br />

com esse rico tema. Considero-me<br />

um degustador mediano, sempre atento ao<br />

caminhar, e admiro muito alguns amigos<br />

que têm uma facilidade desconcertante<br />

para perceber em detalhes os aromas e<br />

sabores dos vinhos em prova.<br />

Meu filho canhoto e inábil se tornou<br />

um reputado violonista clássico, graças à<br />

sua perseverança e muito, muito estudo.<br />

Cá do meu lado, esforço-me para aprender<br />

sempre, deixando de lado as opiniões e<br />

resenhas, e me concentrando na taça à<br />

minha frente.<br />

Dou aulas para sommeliers e sommelières<br />

aprendizes, com eles aprendo,<br />

e tento ensinar tudo que sei, mas insisto<br />

sempre na máxima solidão da profissão:<br />

“Numa prova, em frente a uma taça de<br />

vinho, você só tem o lápis, o papel em<br />

branco e a sua percepção. Desenvolva-a,<br />

pois ela é sua única aliada!”<br />

Trabalhando como consultor, professor<br />

e avaliador de produtos, me deparo<br />

com essa situação sempre, e com seu<br />

desafio aprendo cada vez mais.<br />

Recentemente li uma reportagem<br />

sobre um painel de degustação de vinhos<br />

do Rhône, publicada por revista especializada<br />

da maior confiabilidade, que em sua<br />

equipe tenho amigos e conhecidos. Me<br />

surpreendi e me alegrei, pois os resultados<br />

ali demonstrados revelam muitas verdades<br />

do mundo do vinho, algumas não tão<br />

agradáveis: uma quinzena de vinhos, entre<br />

eles alguns “monstros sagrados” da região,<br />

campeões eméritos de pontuações e<br />

avaliações pelo mundo, merecidos detentores<br />

de fama e respeito. Ao lado, alguns<br />

nomes conhecidos, mas não tão famosos,<br />

e outros quase novidades, desconhecidos<br />

de muitos consumidores.<br />

Importantíssimo explicar aos menos<br />

familiarizados: os vinhos são degustados<br />

“às cegas”: cada degustador preenche uma<br />

ficha técnica com suas avaliações (corpo,<br />

aroma, acidez, equilíbrio, tipicidade, notas<br />

gustativas, estrutura, etc.), traduzidas em<br />

pontos, que somados dão uma nota ao<br />

vinho. As notas são computadas estatisticamente<br />

e se chega a uma média do grupo,<br />

que pretende tão somente expressar uma<br />

apreciação genérica para aquele vinho.<br />

Reveladas as notas dos degustadores,<br />

surpresa, surpresas:<br />

- Alguns grandes nomes decepcionaram<br />

em sua colocação no painel, com<br />

pontuação baixa;<br />

- Alguns vinhos com preços mais altos<br />

no grupo não fizeram jus a pontuações<br />

altas;<br />

- Os vinhos com melhores notas não<br />

eram os mais caros;<br />

- Alguns vinhos de preços mais<br />

baixos surpreenderam pela qualidade<br />

apresentada.<br />

Obviamente isso tudo dá o que pensar,<br />

e para os leigos talvez dê para desesperar<br />

(e agora, o que eu faço?). Tenho certeza<br />

que alguns pontos de análise podem ajudar<br />

todos os amantes do vinho a tirar algumas<br />

conclusões:<br />

- Notas e pontuações raramente expressam<br />

o estilo peculiar de um vinho.<br />

Seu perfil de personalidade gustativa<br />

pode agradar mais a uns que a outros.<br />

A média das notas de um grupo é um<br />

cálculo frio, que aplaina sensações que<br />

você, caro leitor, pode valorizar muito<br />

mais (ou menos).<br />

- Vinícolas famosas, que em algum<br />

momento têm ou tiveram vinhos aclamados<br />

pela crítica mundial, nem sempre produzem<br />

o vinho perfeito, pois as condições<br />

da safra, a troca de enólogo e as pressões<br />

financeiras, por exemplo, podem afetar o<br />

produto final.<br />

- Nem só do Olimpo surgem bons<br />

vinhos: nomes desconhecidos podem surpreender<br />

com produtos interessantíssimos<br />

a preços convidativos – estas são sempre<br />

gratas surpresas. O mundo do vinho muda<br />

rápido, novas tecnologias e muita criatividade<br />

estão em ação.<br />

- Não devemos beber rótulos. A humildade<br />

perante uma taça desconhecida<br />

é nossa única aliada na busca do conforto<br />

e do prazer que o vinho nos proporciona,<br />

sem preconceito. Responda rápido: gosta<br />

ou não desse vinho?<br />

- Nem sempre o alto valor de uma garrafa<br />

é garantia de prazer: o estilo peculiar<br />

de um vinho é seu grande denominador<br />

de qualidade.<br />

- Não espere milagres: bons vinhos<br />

têm seu preço, mas a fama, essa sim tem<br />

seu preço...<br />

Carlos Arruda<br />

Academia do <strong>Vinho</strong><br />

arruda@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


A saída<br />

associativa<br />

“A junção de esforços<br />

pode gerar benefícios<br />

para os negócios do<br />

mundo do vinho?<br />

Da Galícia, na Espanha,<br />

Álvaro Galvão traz uma<br />

luz sobre o assunto.<br />

Não sou especialista em cooperativismo,<br />

tenho mesmo algumas<br />

restrições quanto ao modo de gestão<br />

de algumas cooperativas, mas tenho de<br />

admitir que quando se tem a necessidade<br />

de crescer o ditado antigo “a união faz a<br />

força” se faz valer.<br />

Estive na Espanha a convite de uma<br />

jovem associação, criada em 2003 na<br />

Galícia, mais especificamente em Chantada,<br />

cuja denominação “Asociación de<br />

Adegueiros e Transformadores do Miño”<br />

aglutina esforços de uma série de bodegas<br />

e transformadores da região vinícola D.O<br />

Ribeira Sacra. Seus objetivos, claro, são<br />

o de unir forças para numa mesma linha<br />

de trabalho levar o desenvolvimento de<br />

projetos que possam agregar valor, qualidade<br />

e quantidade mais expressivos aos<br />

produtores, que sozinhos não alcançariam<br />

e não teriam como desenvolver e aplicar<br />

tecnologias e melhorias departamentais<br />

em seus negócios.<br />

A associação foi fundada com apoio<br />

do Instituto Galego de Promoción<br />

Econômica(IGAPE), com financiamento<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

da la Caixa. Reúne bodegas que tradicionalmente<br />

utilizam métodos ancestrais de<br />

vitivinicultura e vinificação, sem querer<br />

perder as características rústicas do local,<br />

aliás, muito parecidas com as do Douro.<br />

Lá as uvas são cultivadas nas encostas<br />

agrestes e ainda cobertas de matas nativas<br />

ao longo do rio Minho, onde só podem<br />

ser colhidas manualmente e com muito<br />

sacrifício, em parcelas tão pequenas que<br />

chegamos a duvidar do seu retorno financeiro<br />

(algumas medem cerca de 1200 m2<br />

ou até menos).<br />

Claro que há maiores, mas, pelo que se<br />

nota, a cooperativa, ou a associação, está<br />

desde o início beneficiando exatamente<br />

os pequenos produtores, colocando ao<br />

alcance métodos e numerário para o<br />

crescimento produtivo e qualitativo. A<br />

quantidade de vinhos, no caso, se torna<br />

mais expressiva, diluindo custos. A associação<br />

emprega a mão de obra local<br />

quando as famílias de viticultores ou<br />

vinicultores não dão mais conta, e, enfim,<br />

traz o progresso e agrega valor ao produto<br />

melhorado.<br />

A associação convidou alguns formadores<br />

de opinião, eu dentre eles, representantes<br />

de importadoras e grandes redes<br />

de supermercados para participar da “I<br />

Xornadas de Internacionalización”, que<br />

se destinou a mostrar a outros mercados,<br />

no caso o Brasil, seus produtos e a sua<br />

região peculiar, com enorme potencial<br />

turístico, a meu ver a mola propulsora da<br />

iniciativa.<br />

Conheci produtos regionais, como os<br />

vinhos tintos da uva Mencia, os brancos<br />

que usam as cepas conhecidas no lado do<br />

Minho português, a Albariño e a Loureiro,<br />

a Godello e Treixadura. Também conheci<br />

os licores, com aguardente vínica extraída<br />

das cascas das uvas ou ‘orujo’, que servem<br />

de veículo à linha, possuem 40% de álcool<br />

e compõem uma gama de produtos desde<br />

os licores com ervas, frutas e café, até a<br />

<strong>Vinho</strong>: Que Negócio é Esse?<br />

aguardente pura, uma grapa por assim<br />

dizer, cuja capacidade de produção, já<br />

grande para os padrões locais, chega a<br />

180 mil litros anuais.<br />

Associações e cooperativas, acima de<br />

tudo bem administradas, que realmente<br />

levam seus membros ao desenvolvimento<br />

sustentado – política praticada em Chantada,<br />

em harmonia com a natureza e a<br />

história do local –, só podem ter o nosso<br />

aplauso, e é por isso que digo: “<strong>Vinho</strong>, que<br />

negócio é esse!”. Até o próximo brinde!<br />

Álvaro Cézar Galvão<br />

Colunista<br />

alvaro@jornalvinhoecia.com.br<br />

15


Reportando<br />

Os vinhos da marca Yali foram<br />

relançados no Brasil, em outubro,<br />

pela importadora Domno<br />

do Brasil. Esta linha da Viña Ventisquero<br />

foi batizada em homenagem a Yali,<br />

a região pantanosa mais importante da<br />

zona central do Chile, no Vale del Maipo.<br />

Esta região concentra 25% das espécies<br />

de aves existentes no Chile, incluindo as<br />

migratórias.<br />

Inspirada nesse refúgio da natureza,<br />

a empresa optou por desenvolver a linha<br />

Yali com o compromisso de destinar<br />

recursos para a preservação do meio<br />

ambiente. A compensação de todas as<br />

emissões de gás carbônico do transporte<br />

ao redor do mundo e a utilização de<br />

garrafas mais leves dentro do contexto<br />

de reciclagem são alguns pontos importantes<br />

dos projetos vinculados à linha de<br />

vinhos Yali.<br />

Esses vinhos já obtiveram reconhecimento<br />

em países como Inglaterra, Irlanda,<br />

Estados Unidos e Finlândia. Nos países<br />

onde se estabelecem, buscam parceiros na<br />

área de proteção da vida silvestre ou do<br />

meio ambiente, como na Irlanda, com a<br />

BirdWatch Ireland, ou na Inglaterra, com<br />

a WWT (Wildfowl and Wetlands Trust).<br />

16<br />

em linha<br />

Os vinhos Yali são dirigidos a um<br />

público “antenado”, pessoas que se voltam<br />

à essência da vida, conectando-se<br />

com a vida silvestre. São vinhos jovens,<br />

frescos, com todos os requisitos que<br />

vinhos de classe devem ter. A produção<br />

é supervisionada pelo enólogo Sergio<br />

Hormazábal.<br />

São quatro as linhas de vinhos Yali:<br />

a básica, com um Chardonnay e um Cabernet<br />

Sauvignon/Syrah; a Wetland, com<br />

30% do vinho envelhecido pouco tempo<br />

em madeira, com um Merlot e um Cabernet<br />

Sauvignon/Carménère; a National<br />

Reserva, com um Sauvignon Blanc e um<br />

Carmenère /Syrah, com 70% envelhecido<br />

em carvalho, com aroma intenso de frutas<br />

maduras e grande potencial de guarda; e a<br />

linha Three Laggons, envelhecida por 12 a<br />

14 meses em carvalho, com um Cabernet<br />

Sauvignon e um Syrah.<br />

A vinícola também apresenta um vinho<br />

especial, o Yali Edição Limitada, um<br />

Carmenère com 15% Syrah. Tem intenso<br />

aroma de frutas maduras com notas de<br />

especiarias, e passou 16 meses em barricas<br />

de carvalho francês, com potencial de<br />

guarda de 10 anos.<br />

Os preços variam de 27 a 95 reais.<br />

cOm a natureza<br />

A Taylor´s colocou à venda um<br />

dos vinhos mais raros do mundo: o <strong>Vinho</strong><br />

do Porto SCION, um vinho pré-filoxérico<br />

de importância histórica, que<br />

com 155 anos de envelhecimento em<br />

casco está em perfeitas condições. A<br />

equipe de provadores do Robert Parker<br />

atribuiu 100 pontos ao SCION, o que<br />

atesta bem a qualidade deste vinho.<br />

Em 2008 o enólogo da Taylor’s<br />

provou o vinho que repousava num<br />

armazém de uma família do Douro que<br />

o mantinha como reserva privada, com<br />

a exceção de um casco que dizem ter<br />

sido adquirido por Winston Churchill.<br />

Em 2009 a Taylor’s comprou os cascos<br />

após constatar que as 15 décadas de envelhecimento<br />

tinham-no concentrado e<br />

conferido uma complexidade mágica.<br />

Denise Cavalcante<br />

<strong>Jornal</strong>ista<br />

denise@jornalvinhoecia.com.br<br />

vinhO dO pOrtO de 1855<br />

O Taylor’s SCION é apresentado<br />

numa embalagem especial, inspirado<br />

numa caixa de instrumentos do século<br />

XIX, com detalhes artísticos que<br />

enobrece o produto, engarrafado num<br />

decanter de cristal soprado manualmente.<br />

Na caixa uma edição limitada<br />

de um livro com a história do SCION<br />

e de sua fantástica viagem através do<br />

tempo. A capa ostenta a gravação a<br />

ouro da palavra SCION numa fonte<br />

histórica de 1874.<br />

Foram produzidas apenas 1000<br />

garrafas desta raridade. O preço recomendado<br />

em Portugal é de 2.500€,<br />

e todas já estão vendidas. Algumas<br />

garrafas serão destinadas ao Brasil, e<br />

serão vendidas pela Portus Cale, importadora<br />

exclusiva da Taylor´s.<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


Fernando Quartim<br />

Presidente da SBAV-SP<br />

quartim@jornalvinhoecia.com.br<br />

um senhOr<br />

Recentemente tivemos a oportunidade<br />

de realizar, em São Paulo, a<br />

Assembléia da Academia Iberoamericana<br />

de Gastronomia. Seus membros<br />

são, respectivamente, as Academias<br />

de Gastronomia da Espanha, Andaluzia,<br />

Portugal, Argentina, Brasil, México e<br />

Peru.<br />

A Academia Brasileira de Gastronomia<br />

teve a honra de ser a anfitriã desse<br />

evento que se desenrolou entre as formalidades,<br />

no espaço do Instituto Cervantes,<br />

com apresentação à imprensa das diversas<br />

Academias presentes, incluindo a Iberoamericana<br />

e a Internacional; o coquetel<br />

de inauguração da exposição “Alimentos<br />

de Ida e Volta”; e a entrega dos prêmios<br />

de melhor Chef revelação para a Helena<br />

Rizzo, do restaurante Mani, e o prêmio de<br />

Literatura Gastronômica à escritora Rosa<br />

Belluzzo, ambos concedidos pela Academia<br />

Internacional de Gastronomia.<br />

Na parte informal e mais apetitosa do<br />

programa, apresentamos alguns detalhes<br />

da culinária brasileira aos estrangeiros,<br />

iniciando os trabalhos, ainda na véspera<br />

do evento, com um delicioso jantar preparado<br />

pelo velho conhecido Alencar, do<br />

restaurante Santo Colomba, todo feito com<br />

produtos típicos da Culinária brasileira.<br />

O coquetel da inauguração da exposição<br />

foi preparado com especialidades<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

bacalhau<br />

brasileiras pela nossa queridíssima Bel<br />

Coelho, do restaurante Dui, e o almoço<br />

no Dalva e Dito, onde os estrangeiros (e<br />

nós também) puderam experimentar as<br />

brasilidades magnificamente elaboradas<br />

pelo mestre Alex Atala. Todos ficaram<br />

muitíssimo bem impressionados com<br />

nossa culinária! Para um bom arremate<br />

– pois a turma era especializada em comida<br />

–, tivemos um jantar no D.O.M., que<br />

não descreverei os detalhes para não dar<br />

muita água na boca dos meus abnegados<br />

leitores, mas vou falar de um só: foram<br />

doze os pratos servidos, todos eles com<br />

tipicidades nacionais. Simplesmente um<br />

deslumbre!<br />

Nesta ocasião tive a oportunidade de<br />

trocar e confirmar alguns conceitos com o<br />

presidente da academia portuguesa sobre<br />

um tema que me encanta: o bacalhau!<br />

Entre os itens da nossa conversa esteve<br />

o reforço de que o bom bacalhau começa<br />

com a pesca do peixe certo, o chamado<br />

Gadus Morhua, nas frias águas do Atlântico<br />

Norte nas proximidades da Noruega,<br />

além dos diferentes métodos aplicados no<br />

preparo do peixe para que ele se torne um<br />

excelente prato a ser degustado. Confirmamos<br />

que existem pescadores que após<br />

capturarem seus peixes congelam-nos<br />

ainda no barco, e após o retorno a terra,<br />

depois de uns seis meses, descongelam<br />

para fazer a limpeza das vísceras, a salga e<br />

a secagem. Este processo é considerado de<br />

qualidade inferior, pois a melhor técnica<br />

é a de após a pesca o peixe ser limpo a<br />

bordo e salgado para secagem definitiva<br />

quando da chegada em terra firme. Um<br />

detalhe que parece insignificante, mas faz<br />

enorme diferença no bacalhau que estará<br />

servido em nossos pratos.<br />

Todos esses detalhes e muitos outros<br />

a respeito das técnicas para a escolha e<br />

posterior preparo de um bom prato de<br />

bacalhau podem ser encontrados aqui<br />

bem perto de nós, no Circuito das Águas<br />

Paulistas.<br />

Logo após a Revolução dos Cravos<br />

em Portugal, José Maria Ferreira de Pinho<br />

Martins ou, mais fácil, o Martins, resolveu<br />

tirar férias e passear pela Venezuela, mas<br />

após deflagrar seu programa teve que<br />

fazer uma modificação de roteiro e, ao<br />

invés da Venezuela, veio dar os costados<br />

cá no Brasil.<br />

Diz ele que se encantou pela terra<br />

– acho que é uma questão genética –, de tal<br />

forma se afeiçoou ao nosso convívio que<br />

se casou com a simpática Adriana, brasileira,<br />

e montou o restaurante chamado<br />

Sr. Bacalhau, na cidade turística de Serra<br />

Negra. Do sucesso conseguido resolveu<br />

expandir, e montou outra casa, com o<br />

mesmo nome, em Jaguariúna, próximo<br />

de Serra Negra e Campinas.<br />

Circuito do <strong>Vinho</strong><br />

Martins é muito mais fanático do que<br />

eu por bacalhau, e foi com ele que aprendi<br />

detalhes da pesca, dos tipos de barcos e<br />

métodos de preparo, além de muitos outros<br />

como, por exemplo, dessalgar para<br />

não perder o colágeno, ou seja, aquele<br />

meladinho que podemos encontrar entre<br />

as lamelas da carne do bacalhau.<br />

Seus restaurantes têm, dentro da<br />

simplicidade do nosso interior, requintes<br />

europeus, como, por exemplo, os garçons<br />

fazerem o serviço de mesa usando luvas,<br />

além de serem extremamente atenciosos<br />

e garantirem um clima descontraído e<br />

amigável. Os pratos, de bacalhau naturalmente,<br />

são impecáveis, muito gostosos e<br />

justificam a ida até lá.<br />

Já ganhou estrelas no Guia 4 Rodas,<br />

e tem uma adega de aproximadamente<br />

700 garrafas, com mais de 25 rótulos de<br />

vinhos variados, incluindo evidentemente<br />

bons portugueses, brancos e tintos, muito<br />

embora eu seja um ferrenho defensor dos<br />

brancos com bacalhau!<br />

O Sr. Bacalhau pode integrar o Circuito<br />

do <strong>Vinho</strong>, onde encontramos um ótimo<br />

serviço em ambiente bastante agradável,<br />

em que o vinho, sempre presente, faz um<br />

final feliz!<br />

Sr. Bacalhau<br />

Rua 14 de Julho, 511, Centro<br />

Serra Negra - SP, Fone: (19) 3842-1342<br />

17


<strong>Vinho</strong> é Arte<br />

18<br />

pane di tOni<br />

Maria Amélia Duarte Flores<br />

Enóloga<br />

maria.amelia@jornalvinhoecia.com.br<br />

e O imagináriO infantil<br />

Desde criança esperava com ansiedade<br />

a chegada do Natal: não era<br />

somente os presentes, a alegria,<br />

as coisas novas. A casa com cheiro de tinta<br />

(tem que reformar até o final-de-ano),<br />

aguardar os primos que viriam de longe,<br />

hora de colocar uma roupa bonita. Era<br />

hora de ver aquela mesa farta.<br />

Na serra gaúcha o conceito de “mesa<br />

farta” é levado a sério: sempre se serve<br />

quase o dobro do que se precisa, entre doces,<br />

salgados, e, claro, o tradicionalíssimo<br />

panettone. É aquele pão doce, recheado<br />

de frutas ou chocolate, delicioso, sendo<br />

parte do ritual, feito em casa, por alguma<br />

vizinha ou padeiro local.<br />

O Panettone é uma das iguarias natalinas<br />

mais apreciadas e difundidas no<br />

mundo, sendo mais do que só um alimento,<br />

é presente, tem significados, congrega.<br />

Original das famílias do norte da Itália,<br />

conta a lenda que teria sido criado por<br />

um padeiro da cidade de Milão, chamado<br />

Toni, e, com o tempo, o nome “Pane-di-<br />

Toni” teria se difundido por todo o país.<br />

Hoje há uma enorme quantidade de<br />

marcas e, mais recentemente, Panettones<br />

Gourmet, assinados por chefs e grandes<br />

grifes, cheios de sabor e criatividade.<br />

Outros ingredientes e muita criatividade<br />

têm sido incorporados nas receitas.<br />

Como sempre no mundo do vinho,<br />

bebidas e alimentos andam juntos, não<br />

só no paladar, mas nas suas origens,<br />

no surgimento, pois a natureza parece<br />

sempre harmonizar tudo ao seu redor.<br />

Em Asti, pequeno vilarejo do Piemonte,<br />

surgiu um espumante de uvas moscatéis,<br />

de baixa graduação alcoólica e doce pelo<br />

próprio açúcar na uva, elaborado de forma<br />

artesanal pelos camponeses e hoje uma<br />

referência em produtos a nível mundial.<br />

É atualmente uma bebida de moda, elaborado<br />

com muita qualidade pelas vinícolas<br />

brasileiras, sob a denominação “Espumante<br />

Moscatel”. Leve, delicado, casual, este<br />

tipo de bebida tem conquistado muitos<br />

apreciadores. Por ter apenas 7º alcoólicos,<br />

convida a degustar uma taça nas variadas<br />

horas do dia. Quem não gosta de brut e<br />

muitas vezes não aprecia nem vinho, dificilmente<br />

resiste a esta perfumaria, doce<br />

e saborosa.<br />

Por tradição, em Asti, na Itália, é<br />

bebido até mesmo pelas crianças na hora<br />

do brinde natalino, quando é servido o<br />

Panettone. É a combinação ideal. O sabor<br />

das frutas em passa ou cristalizada, cítrico<br />

e doce, e a maciez da massa são perfeitos<br />

para receber o perfume de um moscatel.<br />

Este espumante deve ser apreciado muito<br />

jovem, para preservar bem o aroma frutado.<br />

É preciso também que tenha um toque<br />

de acidez, para não ficar desequilibrado.<br />

Neste ponto, os exemplares brasileiros<br />

levam vantagem sobre os italianos, pois<br />

com todo o processo de importação, muitos<br />

já podem chegar às lojas com mais<br />

tempo em garrafa; o brasileiro pode ter<br />

mais frescor. Outra vantagem é o preço:<br />

moscatéis costumam ter excelente relação<br />

custo-benefício.<br />

É uma bebida que mexe com o imaginário<br />

infantil: volto a ser criança, mas com<br />

a delícia de desfrutar o que é permitido aos<br />

adultos. No Natal é bom apreciar uma bela<br />

fatia do Pane-di-Toni junto com um bom<br />

moscatel: tenha certeza, toda sua família<br />

vai adorar a experiência.<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

páginas<br />

um vinhedO na tOscana<br />

Una Passione Italiana<br />

Ferenc Máté<br />

Ed. Seoman, 270 págs<br />

R$29,90<br />

Tomados de uma passione pela Toscana,<br />

do casal Ferenc e Candace Máté,<br />

decidem recuperar um abandonado mosteiro<br />

do século XIII, em Montalcino, e<br />

transformá-lo numa vinícola de sucesso.<br />

A inspiradora história é, aliás, um sopro<br />

de estímulo para amantes da boa gastronomia<br />

e dos vinhos que nutrem um desejo<br />

contido em um dia mandar tudo às favas e<br />

fazer taliquali. Mesmo sem fotos, o texto<br />

bem humorado nos leva a partilhar da deslumbrante<br />

paisagem, da calorosa acolhida<br />

da comunidade e da gastronomia toscana,<br />

sem contar, e é claro, dos seus vinhos<br />

soberbos. Relata também adversidades,<br />

o prazer e amor depositados na busca da<br />

casa dos seus sonhos, os segredos de como<br />

cuidar de uma videira e como gerir uma<br />

pequena vinícola familiar.<br />

sabOrOsas<br />

Os segredOs dO vinhO<br />

Marnie Old<br />

Ed.Prumo, 200 págs<br />

R$ 39,90<br />

Sua majestade, o vinho, mas sem<br />

stress ou pedantismo. A proposta genial de<br />

Marnie é apresentar apenas o necessário<br />

para se ter mais prazer ao beber. A obra<br />

não trata o vinho como uma jóia líquida<br />

a ser acumulada e venerada, mas como<br />

um prazer que deve ser compartilhado e<br />

apreciado. E, ao invés de informações técnicas<br />

– até mesmo para os iniciantes não<br />

perderem a visão do todo – ela ensina que<br />

o ideal é começar pelo que eles têm em<br />

comum e não pelo que distingue um estilo<br />

do outro. Além da consultoria técnica<br />

da sommelier brasileira Claudia Tomasi,<br />

de Bento Gonçalves (RS), reúne pérolas<br />

de conhecimento compartilhadas por 40<br />

especialistas em vinhos da atualidade<br />

(maioria dos EUA), e todas são finalizadas<br />

com a nota da autora. A sommelier Marnie<br />

Old é mestra na área de vinhos e cervejas<br />

dos EUA e ganhou fama pelas explicações<br />

intuitivas e pelo uso do senso comum na<br />

abordagem de tópicos complexos.<br />

receitas de mOlhOs<br />

Michel Roux<br />

Ed. Larousse, 304 págs<br />

R$59,90<br />

Depois de premiado com o Glenfiddich<br />

Visual, a clássica obra publicada em<br />

1996 chega ao Brasil em versão revista<br />

pelo autor, um dos mais aclamados chefs<br />

do mundo. Neste novo olhar para os molhos<br />

salgados e doces, Roux não só atualiza<br />

os grandes clássicos como apresenta<br />

um leque de novas e tentadoras receitas<br />

de fácil preparo, criadas para acompanhar<br />

pratos mais leves. São mais de 200 receitas<br />

de molhos, doces e salgados e suas<br />

variantes, além de um capítulo que orienta<br />

como combinar molhos com alimentos. A<br />

Larousse lançou também outros dois de<br />

receitas do mesmo autor: com Ovos e de<br />

Massas, ambos a R$59,90.<br />

Andréa Pio<br />

<strong>Jornal</strong>ista e editora do guia Uai<br />

andrea@jornalvinhoecia.com.br<br />

Uai!<br />

O gOstO dO vinhO<br />

Émile Peynaud e Jacques Blouin<br />

Ed. WMF Martins Fontes, 258 págs<br />

R$125,00<br />

Eis um verdadeiro tratado sobre<br />

degustação. Nesta edição atualizada (a<br />

primeira foi em 1980), a obra leva em<br />

conta o que hoje se sabe a respeito dos<br />

mecanismos de percepção dos gostos e<br />

dos cheiros, englobando os tipos de consumo<br />

e os tipos de vinhos disponíveis no<br />

mundo. Com conceitos históricos bem definidos,<br />

a obra analisa as ações corpóreas<br />

do vinho no organismo e as sensações que<br />

desperta em todos os nossos sentidos. Os<br />

autores ensinam que degustar é a base do<br />

saber-beber. E ressaltam: “vinhos incitam<br />

à sobriedade, e o alcoolismo é a sanção<br />

do mal beber”.<br />

1


De Santa Catarina<br />

0<br />

João Lombardo<br />

<strong>Jornal</strong>ista e sommelier<br />

lombardo@jornalvinhoecia.com.br<br />

casta emblemática<br />

Portugal quer dar maior visibilidade<br />

e aumentar presença de seus vinhos<br />

nos mercados internacionais. Entre<br />

eles, o Brasil. Para isso, o setor vitivinícola<br />

discute a possibilidade de eleger a<br />

Touriga Nacional como a casta símbolo<br />

do país. A exemplo do que acontece no<br />

Chile, com a Carménère, e na Argentina,<br />

com a Malbec.<br />

A Touriga Nacional gera vinhos macios<br />

e agradáveis, monovarietais ou em<br />

cortes, capazes de ajudar a promover a<br />

qualidade e, na esteira, a vinicultura portuguesa<br />

como um todo, na visão de muitos<br />

produtores. Uma vinicultura amparada<br />

fortemente na diversidade regional e num<br />

leque que contempla cerca 340 variedades<br />

de uvas, maciçamente castas autóctones,<br />

num país de apenas 848 quilômetros<br />

de comprimento e 250 quilômetros de<br />

largura.<br />

Entre os dias 9 e 11 de dezembro<br />

último, foi realizada na cidade do Porto a<br />

Wines of Portugal International Conference<br />

2010, a primeira grande conferência do<br />

vinho português. O evento reuniu mais de<br />

100 jornalistas, 400 convidados estrangeiros<br />

e diversas personalidades importantes<br />

do mundo do vinho. Entre elas, a crítica<br />

inglesa Jancis Robinson. Noventa produ-<br />

tores e respeitados enólogos portugueses<br />

reuniram-se na Wine Fair, feira paralela,<br />

onde colocaram em degustação o que há<br />

de melhor na vitivinicultura portuguesa.<br />

“Portugal não é suficientemente<br />

conhecido como produtor de vinhos de<br />

qualidade”, afirmou o presidente da ViniPortugal,<br />

Francisco Borba. Para mudar<br />

esse quadro, foi criada a marca Wines of<br />

Portugal, em torno da qual serão desenvolvidas<br />

ações em diversos países – entre<br />

eles o Brasil – para promover os vinhos<br />

portugueses. A promoção da Touriga<br />

Nacional é uma das estratégias discutidas.<br />

“Procuramos uma casta nacional que<br />

fosse exemplo de nossa diversidade… O<br />

exemplo mais completo desta diversidade,<br />

aliada à tipicidade de características de<br />

alta qualidade, é a Touriga Nacional”,<br />

disse Francisco Borba.<br />

Para o presidente da ViniPortugal, a<br />

Touriga Nacional é uma marca dos vinhos<br />

portugueses. Mas a intenção não é promover<br />

apenas a Touriga ou os monovarietais<br />

produzidos com ela. “Somos um país de<br />

blends e a Touriga Nacional está presente<br />

na maior parte deles, é uma casta que se<br />

encontra de norte a sul do país”, salientou<br />

Francisco Borba. “Mas isso não significa<br />

que as ações da ViniPortugal serão efe-<br />

para pOrtugal<br />

tuadas só à volta da Touriga Nacional…<br />

Devemos encarar isso como uma ‘ferramenta”,<br />

declarou.<br />

Portugal é o quinto produtor europeu<br />

de vinhos e o décimo produtor mundial,<br />

informa a Wines of Portugal, com base em<br />

dados médios de 2000 a 2008 do Instituto<br />

da Vinha e do <strong>Vinho</strong> – IP. O mesmo instituto<br />

informa que a produção portuguesa<br />

entre 2009 e 2010 foi superior aos 5,8 milhões<br />

de hectolitros. O país tem 26 DOCs<br />

(Denominações de Origem Controlada) e<br />

29 IPRs (Indicação de Proveniência Regulamentada).<br />

Além de onze denominações<br />

de <strong>Vinho</strong>s Regionais.<br />

Os vinhos portugueses estão presentes<br />

em onze países, no exterior. O principal<br />

mercado de exportação é Angola, para<br />

onde seguiram um pouco mais de umquinto<br />

das exportações portuguesas de<br />

vinhos no primeiro semestre de 2010. O<br />

segundo mercado é o francês. O Brasil<br />

ocupa o sétimo lugar no ranking das exportações<br />

de vinhos do país, em volume.<br />

Mas é um mercado onde se registram os<br />

maiores investimentos para a promoção<br />

dos vinhos portugueses, informa o presidente<br />

da Viniportugal, Francisco Borba.<br />

A Alemanha, Estados Unidos e o Reino<br />

Unido são outros importantes países para<br />

Direto do Porto, Portugal<br />

os vinhos portugueses. E Portugal está<br />

interessado nos mercados emergentes da<br />

Ásia, Leste Europeu, China e Rússia.<br />

Na Wines of Portugal International<br />

Conference 2010 foram escolhidos os dez<br />

melhores vinhos de Touriga Nacional,<br />

entre trinta amostras produzidas de Norte<br />

a Sul do País. A escolha coube a um júri<br />

internacional. Casta originária da região<br />

do Dão – onde ela melhor se expressa,<br />

segundo enólogos portugueses – a Touriga<br />

gera vinhos muito típicos e aromáticos,<br />

com notas frutadas e florais. Na boca, os<br />

vinhos da casta apresentam-se macios e<br />

muito agradáveis ao paladar. O resultado<br />

foi anunciado no jantar de encerramento<br />

da conferência. Foram escolhidos12<br />

vinhos, devido a empates. São eles os<br />

seguintes:<br />

Alfaraz Touriga Nacional 2008 - Alentejo<br />

Churchill’s Estates Touriga Nacional 2008 Douro<br />

Encontro Touriga Nacional 2008 - Bairrada<br />

Herdade São Miguel Touriga Nac. 2008 Alentejo<br />

Inquieto Touriga Nacional 2008 Douro<br />

Marques dos Vales Grace 2008 Algarve<br />

Munda 2008 Dão<br />

Pedra Cancela Touriga Nacional 2008 Dão<br />

Quinta da Pedra Alta Touriga Nac. 2007 Douro<br />

Quinta das Marias 2008 Dão<br />

Quinta do Cardo Touriga Nac. 2008 Beira Interior<br />

Quinta do Vallado Touriga Nacional 2008 Douro<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


Companheiros do charuto, o Brandy<br />

e o <strong>Vinho</strong> de Sobremesa sempre<br />

tiveram lugar à mesa quando<br />

se trata de uma boa harmonização. O<br />

Brandy é uma categoria de bebida obtida<br />

pela destilação do vinho com 40 a 45%<br />

de graduação alcoólica. O mais famoso e<br />

antigo dos brandies é o Cognac, produzido<br />

na região de mesmo nome na França.<br />

No Brasil temos duas excelentes opções<br />

de Brandies, o Casa Valduga V.O.P XV,<br />

e o Gran Reserva Twenty Years Brandy<br />

ambos produzidos pela Casa Valduga no<br />

Vale dos Vinhedos, Rio Grande do Sul.<br />

O V.O.P XV foi obtido pela dupla<br />

destilação em alambique de cobre e tem<br />

quinze anos de maturação em barricas<br />

de carvalho francês. Ele tem cor amarelo<br />

ouro intenso e aromas de especiarias,<br />

frutas secas, figo, chocolate e tabaco.<br />

<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

Na boca o paladar é aveludado, macio e<br />

intenso.<br />

O Casa Valduga Gran Reserva foi<br />

elaborado a partir de uma seleção de<br />

uvas Trebbiano dos vinhedos da família.<br />

Após a elaboração do vinho base<br />

branco, foi realizada a destilação dupla e<br />

posteriormente o envelhecimento foi em<br />

barris de carvalho francês por vinte anos.<br />

Com garrafas numeradas e assinadas pelo<br />

enólogo João Valduga este brandy tem cor<br />

amarelo ouro, aroma delicado de ameixas<br />

secas, canela e figo maduro. Na boca<br />

desce macio com toques de amêndoas e<br />

avelãs alem de baunilha transmitido pela<br />

maturação em barricas de carvalho.<br />

Os dois brandies vão muito bem com<br />

charutos cubanos como o Hoyo de Monterrey<br />

Epicure No. 2 e o Montecristo No. 4.<br />

Um vinho de sobremesa que vem<br />

made in<br />

Charutos & Destilados<br />

surpreendendo os apreciadores é o Villa<br />

Francioni Licoroso Botrytis Sauvignon<br />

Blanc 2005, único vinho brasileiro obtido<br />

pelo processo de podridão nobre. O vinho<br />

é produzido pela Villa Francioni na região<br />

de São Joaquim, serra de Santa Catarina,<br />

e tem quantidade de apenas 500 garrafas<br />

produzidas. O vinho tem 16,4% de teor<br />

alcoólico, cor amarelo dourado cristalino<br />

e aroma com notas iniciais de passas,<br />

figo e abacaxi. Na boca o teor alcoólico é<br />

bem equilibrado com a acidez tipicamente<br />

pronunciada da Sauvignon Blanc, além<br />

de ter uma boa persistência e retrogosto<br />

marcante. Este vinho passa por um estágio<br />

em barris de carvalho francês novos, e tem<br />

potencial de guarda de 15 anos.<br />

Uma sugestão de charuto para esta<br />

harmonização é o Monte Pascoal Robusto<br />

produzido em Cruz das Almas, Bahia.<br />

brasil<br />

Cesar Adames<br />

Consultor gastronômico<br />

adames@jornalvinhoecia.com.br<br />

1


Comportamento<br />

“Há muitos anos, Didú Russo conheceu um homem poderoso. Ele contava estórias, algumas implubicáveis.<br />

Tinha uma grande coleção de charutos e vinhos. E num dia Didú pensou...<br />

dr. caiO<br />

Tive o grande prazer de desfrutar da<br />

amizade de Caio Alcântara Machado,<br />

o Dr. Caio como era chamado.<br />

Ele já estava coroa quando o conheci por<br />

intermédio do Thomaz Souto Corrêa, no<br />

tempo em que achei que fui importante na<br />

publicidade na Editora Abril.<br />

Dr. Caio tinha defeitos que eu adorava:<br />

fumava charutos dos bons, contava histórias<br />

incríveis, não poupava as críticas,<br />

tinha personalidade e gostava de vinho<br />

bom, especialmente Petrus.<br />

Seus charutos eram de produção exclusiva.<br />

Nunca havia visto isso, ele tinha um<br />

charuteiro cubano que produzia seus “triple<br />

coronas” excepcionais, dos quais fumei<br />

e O sOnhO de pObre<br />

vários, graças ao destino e a generosidade<br />

dele. Por várias vezes fui à tarde em seu<br />

escritório em Higienópolis, para fumarmos<br />

um charuto de duas horas e conversar.<br />

Ele não era bonito, não, mas era poderoso,<br />

e por isso teve grandes conquistas<br />

românticas. Me contou histórias impublicáveis,<br />

infelizmente, e, claro, muito saborosas.<br />

Coisas do arco da velha, quando,<br />

por exemplo, teve ótimas mulheres a troco<br />

de meias de seda sem costura que trazia<br />

da Europa. Hahahaha, imaginem isso. E<br />

com aquelas feiras então no tempo do<br />

Ibirapuera... Cada história!<br />

Bem, um dia ele me levou na casa da<br />

frente de seu escritório para me mostrar<br />

seu estoque de vinho e de charuto. Madona<br />

Mia di Sapri! Uma casa cheia de<br />

charutos climatizados e caixas de vinho.<br />

Vários tipos de charuto e de vinho. Fiquei<br />

impressionado. “Mas, Dr. Caio, tudo<br />

isso?”. “É para garantir”, dizia...<br />

Aí eu fiquei pensando que o Dr. Caio<br />

poderia ficar eternizado na minha família.<br />

Imaginava que a campainha de casa<br />

tocaria numa manhã próxima do Natal<br />

e seria o Dr. Caio com uma caixa de<br />

Petrus e uma de charutos pessoais triple<br />

coronas! É para você, Didú. Aproveite<br />

com sua família. Nossa! Já imaginaram?<br />

Meus filhos contariam isso sempre para<br />

meus netos, e eles para os filhos. Mas<br />

não aconteceu, ele faleceu antes disso.<br />

Deveria ter contado a ele essa minha idéia,<br />

não? Hahahahaha, os pobres sempre têm<br />

sonhos idiotas mesmo, uma espécie de<br />

Frank Capra sem talento.<br />

Didú Russo<br />

Confraria dos Sommeliers<br />

didu@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57


<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />

Não é de hoje<br />

que um brinde<br />

faz você<br />

vender mais.<br />

A Abravinho tem revistas especializadas no mundo do vinho. São milhares de aficcionados pela arte, pela história e pela magia<br />

contida em cada garrafa. Um público altamente selecionado, com excelente poder aquisitivo e que entre uma safra e outra está<br />

atento à sua mensagem. Anuncie numa das revistas da Abravinho e ganhe muitos apreciadores para o seu produto ou serviço.


A s m u d a s d a s v i d e i r a s v i e r a m d a F r a n ç a ,<br />

Em São Joaquim, SC, um cantinho do Brasil onde a neve não é assim tão rara,<br />

nasceu o primeiro vinho do gelo brasileiro.<br />

A 1300 m.s.n.m., no rico terroir da altitude catarinense,<br />

a Vinícola Pericó ousou produzir um vinho raro,<br />

feito com uvas colhidas a -7,5°C e processadas ainda congeladas.<br />

a i n s p i r a ç ã o d o C a n a d á ,<br />

a g a r r a f a d a I t á l i a .<br />

M a s o t e r r o i r q u e g e r o u e s t e v i n h o d o g e l o<br />

<strong>Vinho</strong> do gelo Pericó, entre os poucos do mundo, o 1º e único brasileiro.<br />

é 1 0 0 % b r a s i l e i r o .<br />

<br />

B r a s i l

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