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Foto a Foto - Jornal Vinho & Cia

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Todo <strong>Vinho</strong><br />

Degustando<br />

sustentabilidade<br />

“Em linha contrária<br />

à enologia química,<br />

os produtos<br />

orgânicos e biodinâmicos<br />

desenvolvem-se no mundo.<br />

Sérgio Inglez desvenda<br />

alguns dos seus “mistérios”<br />

Nos velhos tempos, era prática corrente<br />

a apanha de frutas quando<br />

as primeiras já haviam sido picadas<br />

por algum pássaro frugívoro local, que<br />

caracterizava a certificação de qualidade<br />

da própria natureza! Com relação às uvas,<br />

isso andou muito em moda nas terras armênias<br />

há cerca de 10 mil anos!<br />

Mais recentemente, há cerca de 200<br />

anos, os vinhedos europeus pecavam pela<br />

falta de vigor de muitas das variedades<br />

clássicas e pela susceptibilidade aos ataques<br />

de doenças fúngicas.<br />

Empolgados com a produtividade<br />

e a resistência das variedades híbridas<br />

americanas, os europeus importaram<br />

um sem-número de mudas. Os famosos<br />

vinhos Chianti, durante anos, levaram em<br />

seu corte vinho de Isabel!<br />

Num primeiro momento houve uma<br />

grande euforia, mas, em seguida, sobreveio<br />

o flagelo da filoxera, causado por um<br />

inseto que devora as raízes das videiras.<br />

Foi uma grande devastação, que resistia<br />

a todos os tratamentos de choque, desde<br />

defensivos até à inundação de vinhedos.<br />

Felizmente, a solução definitiva foi<br />

ecologicamente correta: tomou-se um<br />

galho enraizado de videira americana e<br />

enxertou-se em seu topo a videira européia<br />

selecionada. Pronto, aí estava salva a vi-<br />

10<br />

tivinicultura mundial, pois uma Cabernet<br />

Sauvignon enxertada sobre cavalo americano<br />

está protegida contra a filoxera!<br />

Mas, ao término da Primeira Grande<br />

Guerra, mais curta que o previsto, havia<br />

enormes sobras de produtos químicos de<br />

fabricação de artefatos bélicos.<br />

Empresários apressaram-se no desenvolvimento<br />

de aplicações para consumir<br />

todo aquelas sobras baratas. Um dos aproveitamentos<br />

foi aplicar na produção de<br />

defensivos agrícolas, com a conseqüente<br />

campanha para uso intensivo de pesticidas,<br />

herbicidas e outras modalidades<br />

homicidas.<br />

Com o aumento da população consumidora,<br />

as regiões produtoras tiveram que<br />

aumentar sua produção e isto praticamente<br />

ocorreu “at any price”. Uma profusão de<br />

tipos de vinho impôs o incremento das<br />

agressões ao meio ambiente.<br />

Preocupados com a implosão do<br />

planeta, produtores mais esclarecidos<br />

vêm aderindo a um retorno às origens,<br />

resgatando a produção de vinhos sob condições<br />

ambientais de sustentabilidade. Até<br />

recentemente, por total desconhecimento,<br />

havia certa resistência contra os vinhos<br />

orgânicos ou biodinâmicos.<br />

Quando participei da degustação vertical<br />

dos vinhos de Jean-Pierre Amoreau,<br />

do centenário Château Le Puy, localizado<br />

em área nobre de Bordeaux, tive prova definitiva<br />

da qualidade superior dos vinhos,<br />

a despeito de serem biodinâmicos, como<br />

querem os céticos.<br />

Depois, degustando vinhos da AOC<br />

Coulée de Serrant, Sauvennières, do Loire,<br />

denominação particular para os vinhos<br />

biodinâmicos de Nicolas Joly, amplos, untuosos,<br />

frescos e de grande preenchimento<br />

do centro da boca, definitivamente varri<br />

toda sorte de prevenções e preconceitos<br />

que vinha ouvindo de produtores que ado-<br />

tam soluções mais simples, mas danosas<br />

à sustentabilidade do planeta.<br />

Na Argentina, província de Salta,<br />

visitei a bodega mais antiga em funcionamento<br />

naquele país, que opera alguns<br />

dos vinhedos mais altos do mundo. São<br />

vinhedos biodinâmicos cultivados de<br />

2.500 a 3.111 metros de altitude!<br />

Ao invés de fertilizantes e defensivos<br />

químicos, os tratos culturais são conduzidos<br />

com materiais do próprio local,<br />

preparados com cuidados especiais.<br />

Na preparação dos compostos concentrados,<br />

este material é acondicionado em<br />

chifres ou bexigas de animais que ficam<br />

durante meses enterrados no solo para<br />

sofrerem maturação biodinâmica. Depois<br />

disso, os compostos básicos são dinamizados<br />

através da mistura com veículos<br />

de aplicação. O composto biodinâmico<br />

final é aplicado por meio de equipamentos<br />

especiais.<br />

A defesa biodinâmica dos fatores<br />

nocivos, pragas, fungos e insetos, é realizada<br />

com preparados de ervas locais que<br />

são aplicados no vinhedo para ativar as<br />

resistências naturais da videira.<br />

Um ponto determinante é o equilíbrio<br />

da videira, obtida pela produção calibrada<br />

com cargas menores de uvas de qualidade<br />

superior.<br />

Na adega da Colomé, amplas e moderníssimas<br />

instalações em aço inoxidável<br />

dão suporte ao trabalho enológico com os<br />

recursos naturais (leveduras selvagens) e<br />

sem a utilização de aditivos, muito comum<br />

na enologia química para corrigir o vinho,<br />

para dar aromas e cor que efetivamente<br />

não são dele.<br />

O argumento final, sem discussões<br />

estéreis, está na degustação de toda linha<br />

de vinhos Colomé, com vinhos de grande<br />

presença de boca, complexidade e agradabilidade.<br />

Se deu água na boca, em São Paulo<br />

você encontra, na Decanter, os vinhos<br />

biodinâmicos da Colomé como Colomé<br />

Reserva, Colomé Estate Malbec, Colomé<br />

Torrontés, Amalaya e outros.<br />

Sérgio Inglez de Souza<br />

Escritor e consultor<br />

sergio@jornalvinhoecia.com.br<br />

<strong>Vinho</strong>&<strong>Cia</strong> - No. 57

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