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Um novo olhar<br />
sobre o Cone Sul<br />
“Em 005, Euclides<br />
Penedo fizera em um<br />
artigo uma previsão<br />
acerca do futuro dos<br />
vinhos no Cone Sul. Agora,<br />
anos depois, ele nos conta<br />
como está o panorama.<br />
As regiões e os países de tradição<br />
vinícola da parte sul da América<br />
do Sul passaram por um dramático<br />
e até inesperado período de ajustamento<br />
e desenvolvimento nos últimos<br />
quarenta anos em termos de cultivo de<br />
uvas viníferas e de elaboração de vinhos<br />
finos. Para evitar interpretações imprecisas,<br />
torna-se útil delinearmos a área a que<br />
nos referimos.<br />
O limite norte é o paralelo 25 Sul, que<br />
passa por Salta, no noroeste argentino, e<br />
por Curitiba, PR, no Brasil. O limite sul é<br />
o paralelo 40 Sul, passando pelo alto Rio<br />
Negro, já na Patagônia, área que divide<br />
com a Ilha Sul da Nova Zelândia o título<br />
de região vinícola mais ao sul que existe<br />
no mundo do vinho. Os limites leste e<br />
oeste são, respectivamente, a costa do<br />
Atlântico e a costa do Pacifico.<br />
Em conseqüência dos esforços para<br />
melhorar a qualidade, ampliar mercados<br />
internos e conquistar mercados externos,<br />
consolidaram-se nesse quase retângulo<br />
quatro grandes áreas, a saber: a região<br />
andina, a Patagônia, os Pampas e as serras<br />
gaúcha e catarinense.<br />
A região dos Andes, com Mendoza na<br />
vertente leste da Cordilheira e com o Vale<br />
Central chileno na vertente oeste, destaca-se<br />
internacionalmente com seus tintos<br />
<strong>Vinho</strong> & <strong>Cia</strong> - No. 57<br />
estruturados e alcoólicos, em particular<br />
de suas castas emblemáticas, a Malbec no<br />
lado argentino, a Carmenère no lado chileno.<br />
Os vinhos andinos – brancos, tintos,<br />
rosados, espumantes ou doces – são uma<br />
realidade atual consolidada, reconhecida<br />
e presente nos quatro cantos do mundo.<br />
Vide, por exemplo, os tintos chilenos<br />
Almaviva, Chadwick e Don Melchor, e os<br />
argentinos Nicolas Catena Zapata, Malbec<br />
Nicásia ou Luigi Bosca Ícono, entre tantos<br />
outros destaques internacionais.<br />
A Patagônia, com seus projetos distintos<br />
– uns gigantescos, como Bodegas<br />
del Fin del Mundo, outros menores mas<br />
de qualidade superlativa, como a Noemía<br />
– acha-se em fase de afirmação. Seus<br />
poucos produtores, entre eles a pioneira<br />
Humberto Canale, estão ali à procura de<br />
um nicho maior de mercado, tanto para<br />
brancos frescos como para tintos da Pinot<br />
Noir ou outros mais estruturados.<br />
O Pampa inclui áreas do Uruguai<br />
– com seus Tannat de bom tamanho – e<br />
da Campanha Gaúcha – no lado brasileiro,<br />
em fase de expansão consistente<br />
e encorajadora, de viticultura moderna,<br />
cuidadosa, algumas com cultivo orgânico.<br />
Veja-se, exemplificando, os projetos da<br />
Miolo Wine Co. na Fazenda do Seyval e<br />
em Palomas, onde adquiriu recentemente<br />
as vastas áreas da Almadén.<br />
Na Serra Gaúcha verifica-se notável<br />
progresso na elaboração de tintos de qualidade<br />
superior; mas é na sua vocação para<br />
a elaboração de Espumantes que a região<br />
se distingue, tornando-se gradualmente<br />
a Champagne das Américas. A área foi<br />
ampliada com a incorporação, no norte do<br />
Rio Grande do Sul, dos Campos de Cima<br />
da Serra, a mil metros de altitude, e com<br />
a implantação surpreendentemente rápida<br />
da vitivinicultura no planalto catarinense,<br />
onde projetos novos mas ambiciosos,<br />
América do Sul<br />
Vinhedos da Villaggio Grando, em Santa Catarina<br />
como Villagio Grando, Quinta da Neve<br />
e Vila Francioni, entre outros, vem se<br />
destacando nesse início de milênio.<br />
Os parágrafos acima são adaptados de<br />
um artigo meu de 2005 sobre o Cone Sul,<br />
pelo qual me atrevi a fazer previsões. Vejo<br />
que não errei muito. Como eu havia escrito<br />
então, o Cone Sul completa a primeira<br />
década deste milênio com uma posição<br />
de destaque no mundo do vinho, bem<br />
diferente da forma distanciada e pouco<br />
reverente com que era tratado nos Atlas<br />
enológicos do século passado.<br />
Euclides Penedo Borges<br />
Presidente da ABS-Rio<br />
euclides@jornalvinhoecia.com.br<br />
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