senar instituto - Canal do Produtor
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A terra que ensinou a Paraíba a ler<br />
Cajazeira é um <strong>do</strong>s maiores municípios da Paraíba. A cidade originou-se de um sítio denomina<strong>do</strong> "Cajazeiras", por causa das árvores.<br />
Essa terra fez parte da sesmaria concedida em 1767, pelo Governa<strong>do</strong>r da Capitania, Jerônimo José de Melo, ao pernambucano Luís<br />
Gomes de Albuquerque. O neto de Luís Albuquerque, Padre Inácio Rolim, fun<strong>do</strong>u a “Escolinha da Serra”, por volta de 1829. A escola<br />
cresceu e começou a atrair estudantes de vários esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> nordeste. Em 1843, o Padre Rolim ergue uma "Casa Escola" na fazenda de<br />
seus pais, mais tarde denominada de colégio, que começa a funcionar inclusive em regime de interna<strong>do</strong>. Lá estuda, por exemplo, o<br />
Padre Cícero, <strong>do</strong> Juazeiro <strong>do</strong> Norte, conheci<strong>do</strong> missionário. Muitas outras personalidades estudaram e passaram a morar nas<br />
imediações <strong>do</strong> colégio. Na Paraíba, costuma-se dizer que Cajazeiras é a terra que ensinou a Paraíba a ler. Foram as moradias<br />
construídas perto <strong>do</strong> colégio que deram origem ao município. Cajazeiras tem uma população de 57.875 pessoas. Com Índice de<br />
Desenvolvimento Humano de 0,692, ocupa a 7ª posição no ranking <strong>do</strong> IDH municipal da Paraíba, entre os 223 municípios. No ranking<br />
nacional, está na 3236ª posição, entre os 5.560 municípios brasileiros.<br />
Um cadinho de feijão com farinha<br />
O exercício de resgatar a sua trajetória desde o Sítio Mina<strong>do</strong>r mexe com a emoção de Seu Francisco. Ele está em São Paulo há 35 anos e já lá<br />
se vão 25, desde a última vez em que visitou Cajazeira.<br />
Como outros migrantes, Seu Francisco vive a contradição de acreditar que a vida melhorou em São Paulo e o desejo de reviver a vida na<br />
lavoura. Se por um la<strong>do</strong> ele relembra o prazer de trabalhar na terra, de ver a terra devolver o trabalho como alimento, o cheiro da terra, <strong>do</strong><br />
milho, da manga <strong>do</strong>ce, por outro, tem memórias muito sofridas.<br />
Começou a trabalhar na roça da família com cinco anos de idade. Lembra que o pai fazia para os filhos menores uma enxadinha para carpir.<br />
“Meu pai dizia que serviço de menino é pouco, mas quem perde é louco. Olha que frase! Mas era por que não tinha outra opção, filha”, lembra<br />
Francisco. Por que para to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> comer, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> tinha que trabalhar. Nos arre<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sítio não tinha escola. Aliás, falar em serviços<br />
públicos na área rural com seu Francisco é como falar de miragens, fenômenos estranhos à vida na roça. Escola, posto médico, assistência<br />
social ? “Tinha isso não, filha!”.<br />
A escola mais perto ficava a duas léguas <strong>do</strong> sítio. “Você sabe aquelas veredinhas, que você vai passan<strong>do</strong>, o mato cheio de orvalho? Pois era<br />
assim”. E criança não tinha tempo de ir para escola. O serviço da lavoura consumia toda a energia da família. Serviços de saúde? Posto de<br />
Saúde ficava longe, tinha que ir jumento, de burro... A lembrança de algum cuida<strong>do</strong>, um tipo de atendimento afinal, vem junto com a imagem<br />
de Mãe Chica, a parteira que amparou seus irmãos. No seu caso, quan<strong>do</strong> Mãe Chica chegou só restou cortar o umbigo, por que ele já estava<br />
no mun<strong>do</strong>.<br />
A alimentação, pelo menos, a terra da família de Francisco garantia, quan<strong>do</strong> a seca não destruía tu<strong>do</strong>. Vendiam ou trocavam alguma coisa<br />
extra. De quinze em quinze dias o pai ia à feira comprar café, fumo, açúcar. “A gente tinha também uns porquinhos, peru, galinhas. Quan<strong>do</strong><br />
matava um porco, a mãe mandava entregar um pedaço para o vizinho, que dias depois matava também um animal e devolvia a gentileza”,<br />
lembra Francisco. “Mas a coisa lá não era fácil não. Na minha época eu não sabia nem o que era um rádio a pilha!”. E essa condição foi a<br />
responsável pela decisão de tentar a vida em outro canto. Num lugar em que a natureza não tivesse tanto poder de mudar o destino e onde<br />
houvesse a possibilidade de construir uma vida menos limitada. Os filhos que tivesse poderiam ter escola, médico, formação.<br />
Depois que Francisco serviu no Tiro de Guerra, TG, em Cajazeiras, vincula<strong>do</strong> a 7ª Região Militar, ele resolveu que era hora de partir. O TG é<br />
uma instituição militar <strong>do</strong> Exército Brasileiro, que forma reservistas. O convoca<strong>do</strong> pode conciliar a instrução militar e o trabalho, ou o estu<strong>do</strong>.<br />
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