senar instituto - Canal do Produtor
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RECRIAR A VIDA, AINDA QUE À FERRO<br />
Antonio Edinal<strong>do</strong> da Silva<br />
Veio de Iatí, Pernambuco<br />
Vive em Paraisópolis<br />
Ali ninguém aprendeu<br />
outro ofício, ou aprenderá:<br />
mas o sol, de sol a sol,<br />
bem se aprende a suportar.<br />
Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto<br />
Seu Antonio Edinal<strong>do</strong> nasceu no interior de Pernambuco, microrregião <strong>do</strong> Agreste, a 286 km de Recife. Nem parece tanto, quan<strong>do</strong> a medida é<br />
a estrada, kilometros. Mas se outros indica<strong>do</strong>res forem utiliza<strong>do</strong>s para medir distâncias, Iatí está muito, muito longe da capital <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>.<br />
Isso ainda agora, nos dias de hoje – Iatí tem o 183º IDH-M entre os 185 municípios pernambucanos. Ou seja, é o terceiro pior município nos<br />
indica<strong>do</strong>res de renda, longevidade e educação. Recife tem um IDH de 0,797, e ocupa o 3º lugar no município no ranking estadual, fican<strong>do</strong><br />
atrás de Fernan<strong>do</strong> de Noronha e Paulista.<br />
A família de Seu Antonio fazia parte da grande maioria de iatienses que viviam na área rural. Mas sua família não era proprietária de terras, e<br />
fez o primeiro movimento rumo a uma vida melhor. Saíram <strong>do</strong> povoa<strong>do</strong> em que viviam para morar na sede <strong>do</strong> município, em busca de<br />
trabalho. Mas pouca coisa mu<strong>do</strong>u.<br />
Na região, trabalho equivale a roçar, semear, colher, abrir a terra. E mesmo moran<strong>do</strong> na sede <strong>do</strong> município, E mesmo moran<strong>do</strong> na sede <strong>do</strong><br />
município, era da roça que tiravam seu sustento, trabalhan<strong>do</strong> de sol a sol, na lida com a terra. “Vida de luta, muita luta mesmo”, afirma Seu<br />
Antonio. A palavra que mais aparece na narrativa sobre o passa<strong>do</strong> no interior de Pernambuco, é “sofrimento”, seguida de fome, sede, de um<br />
desalento de não ter o que fazer. A narrativa de Seu Antonio aponta uma carência absoluta de alternativas de gestão da própria vida, na<br />
medida em que não havia, em Iatí, qualquer proteção social que garantisse a sobrevivência. O deserto <strong>do</strong> qual ele fala é o deserto da<br />
desproteção social.<br />
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