Tabus lingüísticos e expressões cristalizadas - let.unb.br
Tabus lingüísticos e expressões cristalizadas - let.unb.br
Tabus lingüísticos e expressões cristalizadas - let.unb.br
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
nome, so<strong>br</strong>enome ou apelido com que é conhecido em seu meio: o Sr. Fulano (nome)<<strong>br</strong> />
ou o pai de Fulana (nome da esposa).<<strong>br</strong> />
O homem não se referirá à mulher que vive com ele sem ser casada como<<strong>br</strong> />
amante e muito menos como amásia ou concubina. Será namorada, companheira,<<strong>br</strong> />
amiga. Estes são alguns eufemismos, porém os disfemismos neste tipo de relação<<strong>br</strong> />
também são muito usados: a mina, o caso, o cacho, a outra, a filial, etc. Por outro lado,<<strong>br</strong> />
no caso da amante em relação à esposa, esta será a mulher dele, a mãe de meus filhos<<strong>br</strong> />
ou é citada pelo nome, mas também pode ser designada disfemisticamente como a<<strong>br</strong> />
encrenca ou algum epíteto semelhante. Já o marido se referirá à mulher como a patroa<<strong>br</strong> />
ou pelo seu próprio nome. A mulher (esposa) se referirá a ele pelo nome de batismo,<<strong>br</strong> />
pelo so<strong>br</strong>enome ou até por um apelido. Uma mulher considerada sem compromisso<<strong>br</strong> />
pode referir-se a seu novo par como namorado ou, modernamente, como escort.<<strong>br</strong> />
Os negros durante muito tempo e até hoje são vítimas dos apelativos raciais<<strong>br</strong> />
como resultado do preconceito e discriminação. Em Cuba e no Brasil utilizam-se<<strong>br</strong> />
palavras como pessoa de cor, persona de color cartucho, moreno, preto em vez de<<strong>br</strong> />
negro, mulato ou mestiço para se falar de uma pessoa negra. Assim, a cor da pele ainda<<strong>br</strong> />
é, infelizmente, fator de preconceito, por isso os substantivos negro e negra são<<strong>br</strong> />
freqüentemente substituídos por escuro / escura; escurinho / escurinha ou também por<<strong>br</strong> />
pessoa de cor (sempre se referindo à cor negra). Pode ocorrer também a síncope do r<<strong>br</strong> />
por imitação da linguagem infantil, para denotar afetividade: nego/ nega; neguinho /<<strong>br</strong> />
neguinha. Muitos disfemismos são relacionados ao negro/negra, alguns deles ao se<<strong>br</strong> />
tratar de pessoas corpulentas: negão / negona; negrão/negrona. Algumas definições<<strong>br</strong> />
injuriosas relacionadas às pessoas de raça negra foram retiradas dos dicionários após a<<strong>br</strong> />
campanha contra o preconceito.<<strong>br</strong> />
A palavra velho também se tornou ofensiva, pois ninguém admite mais, salvo<<strong>br</strong> />
em alguns casos, ficar velho. Essas pessoas preferem ser chamados de companheiro ou<<strong>br</strong> />
companheira, pessoas de idade, pessoas mais velhas, experientes ou adultas ou<<strong>br</strong> />
simplesmente da terceira idade. Muitas vezes não nos referimos aos idosos como<<strong>br</strong> />
velhos, mas como velhinhos. As instituições geriátricas cuidam de velhinhos e<<strong>br</strong> />
velhinhas. O termo idoso é o mais usado na linguagem oficial, geralmente como<<strong>br</strong> />
adjetivo: um senhor idoso, uma senhora idosa.<<strong>br</strong> />
Algo semelhante ocorre com referência aos cegos. Ou se usa o diminutivo<<strong>br</strong> />
(ceguinho, ceguinha), ou, o que é mais comum, deficiente visual, ainda que a<<strong>br</strong> />
deficiência não seja comp<strong>let</strong>a. Já com os surdos não há essa preocupação, nem essa<<strong>br</strong> />
complacência. Não se usa diminutivo, embora nas instâncias oficiais se empregue um<<strong>br</strong> />
eufemismo equivalente ao do cego: deficiente auditivo. As jovens de algumas<<strong>br</strong> />
profissões ou ocupações são freqüentemente designadas pelo diminutivo:<<strong>br</strong> />
professorinha, freirinha, costureirinha, empregadinha, etc., o que não ocorre, a não ser<<strong>br</strong> />
excepcionalmente, com as de outras profissões ou ocupações: cantora, modelo,<<strong>br</strong> />
cozinheira, faxineira, babá, telefonista, etc.<<strong>br</strong> />
Segundo Coseriu (1982, p.71) o tabu lingüístico é um fato eminentemente<<strong>br</strong> />
social que veta o uso de certas palavras por razões de natureza emotiva. O tabu<<strong>br</strong> />
5