Tabus lingüísticos e expressões cristalizadas - let.unb.br
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ou mal de São Lázaro, a AIDS de doença ruim ou isso que anda ou doença<<strong>br</strong> />
sexualmente transmissível.<<strong>br</strong> />
O terceiro e último grupo a<strong>br</strong>ange nomes das partes e funções do corpo, sexo e<<strong>br</strong> />
palavras de juramento. No Brasil, por exemplo, para o ato sexual em si, é mais fácil<<strong>br</strong> />
dizer afogar o ganso, molhar o biscoito, fazer João e Maria. Assim, vão-se criando<<strong>br</strong> />
novos nomes, apelidos e eufemismos, para driblar ou adaptar alguns nomes tidos como<<strong>br</strong> />
feios, obscenos, grosseiros. Nesse contexto, a genitália, tanto masculina quanto<<strong>br</strong> />
feminina, são campos férteis para a invenção, a construção do novo, do tabu, do<<strong>br</strong> />
eufemismo social. Por vezes, surgem palavras curiosas, engraçadas, todas nascidas da<<strong>br</strong> />
imaginação humana. Em Cuba, por exemplo, para os órgãos genitais existem varias<<strong>br</strong> />
designações na linguagem coloquial. fondillo, trasero, nalgas (tabu culo) chocho, pipi,<<strong>br</strong> />
la cosita , perilla para designar o órgão genital feminino, em vez de usar a palavra bollo<<strong>br</strong> />
que, em muitos países latinos significa pãozinho. No caso do órgão masculino se usa<<strong>br</strong> />
pito, rabo, miem<strong>br</strong>o, pois é um tabu nomear pelo nome verdadeiro que seria pinga, que<<strong>br</strong> />
no Brasil não tem conotação negativa, é uma bebida alcoólica, a tão conhecida cachaça.<<strong>br</strong> />
Ao tratar-se de relações sexuais, é de praxe o uso de eufemismos ou disfemismos: fazer<<strong>br</strong> />
amor, transar, ficar com alguém, dormir com alguém, levar alguém para a cama,<<strong>br</strong> />
etc..Conseqüentemente, no que se refere às relações sexuais é um tabu usar o verbo<<strong>br</strong> />
singar (transar) e no caso é substituído por hacer el amor, estar (ficar). No Brasil o<<strong>br</strong> />
órgão masculino é chamado de piu-piu, peru, aparelho, arame, arma, banana, bicho,<<strong>br</strong> />
bimba, bordão, cacete, canivete, caralho, chouriço, co<strong>br</strong>a, espada, ferramenta, ganso,<<strong>br</strong> />
instrumento, lenha, lingüiça, mastro, mem<strong>br</strong>o, minhoca, minhocão, negócio, nervo,<<strong>br</strong> />
passarinho, pau, pau-de-cabeleira, piça, picha, picolé, pirulito, pistola, pito, porrete.<<strong>br</strong> />
Já no caso do órgão feminino encontramos aranha, bacalhau, barata, bichochota,<<strong>br</strong> />
bixoxota, bom<strong>br</strong>il, buceta, chochota, concha, crica, gruta-do-amor, lacraia, lasca,<<strong>br</strong> />
negócio, passarinha, perereca, periquita, periquito, xoxota. Para expressar a qualidade<<strong>br</strong> />
ou características seria aranha, barata para o feminino e mastro, espada para o<<strong>br</strong> />
masculino.<<strong>br</strong> />
Assim, ainda há tabus na vida social, sob os efeitos de repressão dos costumes,<<strong>br</strong> />
principalmente aqueles que se referem às práticas sexuais. Muitas vezes as palavras são<<strong>br</strong> />
disfarçadas, por exemplo, puta e prostituta, ramera (quenga em português) por mujer<<strong>br</strong> />
de la vida (mulher da vida, as trabalhadoras da noite, damas da noite). Até os anos 60<<strong>br</strong> />
do século passado eram proibidas as palavras: puta, aborto, masturbação, sexo oral,<<strong>br</strong> />
sexo anal, etc. No caso da palavra transar é comum nestes últimos tempos ouvir o verbo<<strong>br</strong> />
nhanhar, que apareceu na boca de um dos personagens de telenovela. Em Cuba a<<strong>br</strong> />
palavra menstruação é substituída por regra, ou pela expressão estar con la cruz roja<<strong>br</strong> />
(estar com a cruz vermelha). Os homossexuais do sexo masculino são chamados de<<strong>br</strong> />
pato, pássaro, invertido, maricón e as de sexo feminino de invertidas, tortilleras,<<strong>br</strong> />
entanto que no Brasil são chamadas de sapatão, o que mostra o preconceito da<<strong>br</strong> />
sociedade com relação a essas pessoas. Se uma mulher está grávida é comum ouvir<<strong>br</strong> />
está em estado, mas em estado de que?<<strong>br</strong> />
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