16.04.2013 Views

No. 23/1979

No. 23/1979

No. 23/1979

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Chego a essa Universidade carregado de per-<br />

manentes lembrancas. Nao daquelas que a<br />

vida vivida acumula em nossa memoria, se-<br />

dimentadas pela experiencia, e sim das que<br />

nos vem dos livros, das conversas, das cro-<br />

nicas de jornal, com transunto das vivencias<br />

alheias.<br />

Parece-me que ja andei por estes corredo-<br />

res, por estes patios, por estas salas de aula,<br />

por estes saloes capitulares, com a tradicio-<br />

nal capa e meus compendios, e recitei, tam-<br />

bem, os meus poemas.<br />

Nao precisei ler o velho Teofilo Braga para<br />

viver este ambiente. Bastou-me ler as cartas<br />

que daqui mandou o poeta Ant6nio Gon-<br />

calves Dias aos seus amigos do Maranhao e<br />

em que nos fala de seus companheiros, de<br />

seus estudos, de seus livros, de seu teatro,<br />

de sua poesia, de seus amores, porque foi<br />

aqui que se formaram os mestres que deram<br />

as glorias da cultura literaria ao Brasil e,<br />

principalmente, a minha terra natal.<br />

Ao tempo em que os estudantes brasileiros<br />

saiam ds suas Provincias para o Recife, pa-<br />

ra o Rio de Janeiro e para Sao Paulo, a fim<br />

de recolherem ali os seus titulos superiores,<br />

era para Coimbra que vinham os estudantes<br />

do Maranhao.<br />

Por essa epoca, uma linha de navegacao di-<br />

reta unia Lisboa a Sao Lu is. Ora levava no-<br />

vos imigrantes, ora trazia os futuros bacha-<br />

reis. Era mais facil estudar em Portugal do<br />

que em Pernambuco. Por isso mesmo reali-<br />

zamos ali este milagre: Nao precisamos ter<br />

qualquer instituto de ensino superior, alem<br />

do velho seminario de Santo Antonio, para<br />

conquistar, no seculo XIX, a preeminencia<br />

intelectual que nos confere um capitulo a<br />

parte da historia da cultura brasileira.<br />

<strong>No</strong> mesmo corte de tempo, deu o Mara-<br />

nhao ao Brasil o seu maior poeta, na pessoa<br />

de Goncalves Dias, o grande prosador, na<br />

pessoa de Joao Francisco Lisboa, amigo de<br />

Alexandre Herculano, o seu maior homem<br />

de ciencia, na pessoa de Joaquim Gomes de<br />

Souza, o grande matematico de que tanto<br />

nos orgulhamos, o seu maior biografo, na<br />

pessoa de Antonio Henriques Leal, famoso<br />

autor dos quatro tomos de Pantheon Ma-<br />

ranhense, amigo de Cami lo Castelo Branco.<br />

Foi a mesma linha de navegacao que daqui<br />

nos levou Manuel de Bittencourt, jornalista<br />

e romancista que preparou a geracao litera-<br />

ria ao final do seculo XIX e comeco deste<br />

seculo, definida por Humberto de Campos,<br />

nas suas Memorias, como o ultimo estilo<br />

de Atenas.<br />

Ao tempo da Colonia, daqui sairam estu-<br />

dantes de teologia para conclu irem seus es-<br />

tudos no seminario de Santo AntBnio, se-<br />

gundo nos conta o Padre Bettendorf, na sua<br />

Historia dos Jesuitas no Maranhao.<br />

Entre os bachareis por Coimbra que se<br />

transferiram para o Maranhao, dois, tam-<br />

bem poetas, se destacam: Jose Tomas Quin-<br />

tanilha, Juiz-de-Fora em Sao Luis, que se<br />

fez brasileiro aderindo a Constituicao do<br />

Imperio, foi amigo de Filinto Elisio e de<br />

Bocage, e Joaquim Jose Sabino, autor de<br />

farta producao poetica e de uma tragedia --<br />

a "<strong>No</strong>va Castro".<br />

Mas a vinda dos maranhenses e mais mar-<br />

cante. O primeiro deles a se graduar foi Jo-<br />

se Pereira da Silva, que de 1777 a 1785<br />

aqui estudou Direito, Matematica e Filoso-<br />

fia, e em nossa terra se tornou jornalista<br />

combativo, poeta repentista a maneira de<br />

Bocage.<br />

Odorico Mendes, ja no ja no inicio do secu-<br />

lo XIX, veio estudar Medicina, estudou Fi-<br />

losofia, e voltou para participar, com seu<br />

jornal "O Argos da Lei", das lutas pela In-<br />

dependencia e sua consolidacao. Neo-clas-<br />

sico, tradutor de Homero, Virgilio, Voltai-<br />

re, foi o patriarca e inspirador do Humanis-<br />

mo da geracao de Goncalves Dias e Antonio<br />

Henriques Leal.<br />

Em 1838 aqui chegou um caboclo mara-<br />

nhense de quinze anos. Chamava-se Anto-<br />

nio Goncalves Dias. Durante sete anos viveu<br />

a vida boemia de estudante, estudante po-<br />

bre, torturado:<br />

"Triste foi minha vida em Coimbra, que e<br />

triste viver fora da Patria, subir degraus<br />

alheios e por esmola sentar-se a mesa es-<br />

Documento digitalizado pela equipe de Mundorama - Divulgação Científica em Relações Internacionais (http://www.mundorama.net).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!