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COLÓQUIO SABER E PODER Focus, Unicamp, 10/2008 influência junto aos usineiros para que voltassem atrás na decisão, o que foi feito. Sua atuação pesou também como um elemento favorável na disputa pela presidência da OCB. À frente da OCB, Roberto Rodrigues buscou influir nas eleições de 1986, promovendo candidatos mais próximos aos interesses das cooperativas. Posteriormente, desenvolveu um trabalho de lobby junto aos parlamentares, de modo a introduzir dispositivos que atendessem aos interesses cooperativistas na nova Constituição. Tais dispositivos diziam respeito, por exemplo, à autonomia das cooperativas em relação ao Estado e ao reconhecimento da isonomia das cooperativas de crédito em relação às instituições do sistema financeiro. Essa atuação de Roberto Rodrigues no sentido de contemplar os interesses cooperativistas no texto da Constituição se deu em paralelo com o seu trabalho junto à Frente Ampla da Agropecuária Brasileira. Ambas foram importantes para a projeção não apenas de Roberto Rodrigues, mas também para a própria afirmação do agronegócio no Brasil. Ao mesmo tempo em que se projetava nacionalmente, Roberto Rodrigues passou a estabelecer vínculos internacionais. Nesse movimento, passou a investir na Organização das Cooperativas da América (OCA), que existia desde 1963, com sede em Bogotá, Colômbia, mas não exercia uma forte liderança. A partir da OCA, Roberto Rodrigues tornou-se membro do Conselho da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), sediada em Genebra, na Suíça, que reunia centenas de representações de diferentes países, com uma forte presença de cooperativas de consumo, sobretudo do antigo Leste Europeu. Na ACI, Roberto Rodrigues veio a ocupar a presidência do Comitê Agrícola, em 1991, a presidência do Conselho das Américas e, por isso mesmo, a vice-presidência da Aliança, em 1992, tornando-se o presidente desta, já em 1997. Nesse processo de internacionalização, alguns resultados importantes para a afirmação do agronegócio no Brasil foram produzidos. Um deles foi a criação de um banco cooperativo no Brasil, a partir dos exemplos de instituições semelhantes existentes em outros países, como o Rabobank Nederland, localizado em Utrecht, e o Crédit Agricole, francês, visitados por Roberto Rodrigues. As cooperativas de produtores brasileiras de café, açúcar, soja, frango, porco, entre outros, entraram em contato com as de consumidores de outros países e passaram a vender diretamente a elas, sem a necessidade de mediação de empresas de trading. As cooperativas constituíram a sua própria trading, em 1990, a EXIMCOOP (Exportadora e Importadora de Cooperativas Brasileiras S.A.). As missões internacionais, por conta disso, se Carreiras, redes e internacionalização 10
COLÓQUIO SABER E PODER Focus, Unicamp, 10/2008 intensificaram e as cooperativas e suas organizações foram criando seus departamentos de comércio exterior. Não foi somente no âmbito das organizações de cooperativas que esse processo se observou. Na verdade, parte do grupo que esteve à sua frente buscou também, ao mesmo tempo, ocupar a liderança de outras organizações mais tradicionais. Assim é que, em meados dos anos 1980, com o apoio da OCB, tendo à frente Roberto Rodrigues, o agrônomo mineiro Alysson Paulinelli, ministro da Agricultura no governo do general Ernesto Geisel (1974-1979), assumiu a presidência da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA). Paulinelli era visto pelo grupo que o apoiou como um dos melhores ministros da Agricultura da história recente do país, tanto pelo Programa Nacional do Álcool, o Pró-Álcool, quanto pelo PRODECER, Programa de Desenvolvimento dos Cerrados, que estimulou a ocupação das áreas de cerrado. Com Paulinelli à frente, e com o apoio de Roberto Rodrigues, a CNA, juntamente com a OCB, filiou-se à FIPA, Federação Internacional dos Produtores Agrícolas. Tanto Roberto Rodrigues, pela OCB, quanto Alysson Paulinelli, com a CNA, e também Flávio Tiles de Menezes, presidente da SRB, tiveram papel de destaque na Frente Ampla da Agropecuária Brasileira. Do esforço de coordenação da Frente resultou a possibilidade que passou a ter esse grupo de influir não somente na formulação da nova Constituição, mas também em importantes espaços de formulação e avaliação de políticas públicas e tomada de decisões. Suas reivindicações pesaram, por exemplo, na formatação da lei número 8.171, de 17 de janeiro de 1991, que dispunha sobre a política agrícola. Roberto Rodrigues passou a participar de diversos conselhos, como o Conselho de Crédito Rural e Agroindustrial, criado em 1986, o Conselho Nacional de Comércio Exterior (CONCEX), do Ministério da Fazenda, entre 1989 e 1990, o Conselho Nacional de Política Agrícola, instituído pela lei 8.171, a Comissão Empresarial de Competitividade (CEC), criada junto ao Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento, em 1991, coordenando o grupo de agribusiness, o Conselho Monetário Nacional, de 1992 a 1993. 19 De 1993 a 1994, no governo de Luiz Antônio Fleury Filho, então do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), Roberto Rodrigues foi secretário de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo. Uma das ações empreendidas por ele à 19 Cf. http://www.coophalicerce.org.br/roberto.html consultado em 10/04/2009. Carreiras, redes e internacionalização 11
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