História da Província de Santa Cruz - Unama
História da Província de Santa Cruz - Unama
História da Província de Santa Cruz - Unama
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
www.nead.unama.br<br />
a saber <strong>da</strong> Capitania <strong>de</strong> Porto Seguro para o Norte fica uma, e <strong>da</strong> do Espírito Santo<br />
para o Sul fica outra: e em ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las assumiste seu Governador com a<br />
mesma alça<strong>da</strong>. O <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> do Norte resi<strong>de</strong> na Bahia <strong>de</strong> Todos os Santos, e o <strong>da</strong><br />
ban<strong>da</strong> do Sul no Rio <strong>de</strong> Janeiro. E assim fica ca<strong>da</strong> um em meio <strong>de</strong> suas jurisdições,<br />
para <strong>de</strong>sta maneira po<strong>de</strong>rem os moradores <strong>da</strong> terra ser melhor governados e á custa<br />
<strong>de</strong> menos trabalho.<br />
E vindo ao que toca ao governo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e sustentação <strong>de</strong>stes moradores,<br />
quanto ás casas em que vivem ca<strong>da</strong> vez se vão fazendo mais custosas e <strong>de</strong><br />
melhores edifícios: porque em principio não havia outras na terra se não <strong>de</strong> taipa e<br />
térreas, cobertas somente com palma. E agora há já muitas sobra<strong>da</strong><strong>da</strong>s e <strong>de</strong> pedra<br />
e cal, telha<strong>da</strong>s e forra<strong>da</strong>s como as <strong>de</strong>ste Reino, <strong>da</strong>s quais há ruas mui compri<strong>da</strong>s, e<br />
formosas nas mais <strong>da</strong>s povoações <strong>de</strong> que fiz menção. E assim antes <strong>de</strong> muito<br />
tempo (segundo a gente vai crescendo) se espera que haja outros muitos edifícios e<br />
templos mui sumptuosos com que <strong>de</strong> todo se acabe nesta parte a terra <strong>de</strong><br />
enobrecer.<br />
Os mais dos moradores que por estas Capitanias estão espalhados, ou quase<br />
todos, tem suas terras <strong>de</strong> sesmaria <strong>da</strong><strong>da</strong>s e reparti<strong>da</strong>s pelos Capitães e<br />
Governadores <strong>da</strong> terra. E a primeira cousa que preten<strong>de</strong>m adquirir, são escravos<br />
para nelas lhes fazerem suas fazen<strong>da</strong>s e si uma pessoa cega na terra a alcançar<br />
dous pares, ou meia dúzia <strong>de</strong>les (ain<strong>da</strong> que outra cousa não tenha <strong>de</strong> seu) logo tem<br />
remédio para po<strong>de</strong>r honra<strong>da</strong>mente sustentar sua família: porque um lhe pesca e<br />
outro lhe caça, os outros lhe cultivam e granjeiam suas roças e <strong>de</strong>sta maneira não<br />
fazem os homens <strong>de</strong>spesa em mantimentos com seus escravos, nem com suas<br />
pessoas. Pois <strong>da</strong>qui se po<strong>de</strong> inferir quanto mais serão acrescenta<strong>da</strong>s as fazen<strong>da</strong>s<br />
<strong>da</strong>queles que tiverem duzentos, trezentos escravos, como há muitos moradores na<br />
terra que não tem menos <strong>de</strong>sta quantia, e <strong>da</strong>í para cima.<br />
Estes moradores todos pela maior parte se tratam muito bem, e folgam <strong>de</strong><br />
aju<strong>da</strong>r uns aos outros com seus escravos, e favorecem muito os pobres que<br />
começam a viver na terra. Isto geralmente se costuma nestas partes, e fazem outras<br />
muitas obras pias, por on<strong>de</strong> todos têm remédio <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, e nenhum pobre an<strong>da</strong> pelas<br />
portas a mendigar como nestes Reinos.<br />
CAPÍTULO V<br />
Das plantas, mantimentos e frutas que há nesta <strong>Província</strong>.<br />
São tantas e tão diversas as plantas, frutas, e ervas que há nesta <strong>Província</strong>,<br />
<strong>de</strong> que se podiam notar muitas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que seria cousa infinita escrevê-las<br />
aqui to<strong>da</strong>s, e <strong>da</strong>r noticia dos efeitos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma meu<strong>da</strong>mente. E por isso nem farei<br />
agora menção se não <strong>de</strong> algumas em particular, principalmente <strong>da</strong>quelas <strong>de</strong> cuja<br />
virtu<strong>de</strong> e fruto Participam os Portugueses.<br />
Primeiramente tratarei <strong>da</strong> planta e raiz <strong>de</strong> que os moradores fazem seus<br />
mantimentos que la comem em lugar <strong>de</strong> pão. A raiz se chama mandioca, e a planta<br />
<strong>de</strong> que se gera é <strong>de</strong> altura <strong>de</strong> um homem pouco mais ou menos. Esta planta não é<br />
muito grossa, e tem muitos nós: quando a querem plantar em alguma roça cortamna<br />
e fazem-na em pe<strong>da</strong>ços, os quais metem <strong>de</strong>baixo <strong>da</strong> terra, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cultiva<strong>da</strong>,<br />
como estacas, e <strong>da</strong>í tornam arrebentar outras plantas <strong>de</strong> novo: e ca<strong>da</strong> estaca <strong>de</strong>stas<br />
cria três ou quatro raízes e <strong>da</strong>í para cima (segundo a virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> terra em que se<br />
13