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História da Província de Santa Cruz - Unama

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www.nead.unama.br<br />

maridos na re<strong>de</strong> e assim os visitam e curam como se eles fossem as mesmas<br />

pari<strong>da</strong>s. Isto nasce <strong>de</strong> elas terem em muita conta os pais <strong>de</strong> seus filhos, e <strong>de</strong>sejarem<br />

em extremo <strong>de</strong>pois que parem <strong>de</strong>les <strong>de</strong> em tudo lhes comprazer. Todos criam seus<br />

filhos viciosamente, sem nenhuma maneira <strong>de</strong> castigo, e mamam até a i<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sete, oito anos, se as mães té então não acertam <strong>de</strong> parir outros que os tirem <strong>da</strong>s<br />

vezes. Não há entre eles nenhumas boas artes a que se dêem, nem se ocupam<br />

noutro exercício senão em granjear com seus pais o que hão <strong>de</strong> comer, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong><br />

cujo amparo estão agasalhados até que ca<strong>da</strong> um por si é capaz <strong>de</strong> buscar sua vi<strong>da</strong><br />

sem mais esperarem heranças <strong>de</strong>les nem legitimas <strong>de</strong> que enriqueçam, somente lhe<br />

pagam com aquela criação em que a natureza foi universal a todos os outros<br />

animais que não participam <strong>de</strong> razão.<br />

Mas a vi<strong>da</strong> que buscam e granjearia <strong>de</strong> que todos vivem, é á custa <strong>de</strong> pouco<br />

trabalho, e muito mais <strong>de</strong>scansa<strong>da</strong> que a nossa: porque não possuem nenhuma<br />

fazen<strong>da</strong>, nem procuram adquiri-la como os outros homens, e assim vivem livres <strong>de</strong><br />

to<strong>da</strong> a cobiça e <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> riquezas, <strong>de</strong> que as outras nações não<br />

carecem; e tanto que ouro nem prata nem pedras preciosas têm entre eles nenhuma<br />

valia, nem para seu uso têm necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> nenhuma cousa <strong>de</strong>stas, nem doutras<br />

semelhantes.<br />

Todos an<strong>da</strong>m nus e <strong>de</strong>scalços assim machos como fêmeas, e não cobrem<br />

parte alguma <strong>de</strong> seu corpo. As camas em que dormem são umas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fio <strong>de</strong><br />

algodão que as Índias tecem num tear feito á sua arte; as quais tem nove, <strong>de</strong>z<br />

palmos <strong>de</strong> comprido, e apanham-nas com uns cor<strong>de</strong>eis que lhe rematam nos cabos,<br />

em que lhes fazem umas aselhas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> ban<strong>da</strong> por on<strong>de</strong> as penduram <strong>de</strong> uma<br />

parte e doutra, e assim ficam dous palmos pouco mais ou menos suspendi<strong>da</strong>s do<br />

chão <strong>de</strong> maneira que lhes possam fazer fogo <strong>de</strong>baixo para se aquentarem <strong>de</strong> noite<br />

ou quando lhes for necessário.<br />

Os mantimentos que plantão em suas roças, com que se sustentam são<br />

aqueles <strong>de</strong> que atras fiz menção, s. mandioca e milho saburro. Alem disto aju<strong>da</strong>m-se<br />

<strong>da</strong> carne <strong>de</strong> muitos animais que matam, assim com frechas como por industria <strong>de</strong><br />

seus laços e fojos on<strong>de</strong> costumam caçar a maior parte <strong>de</strong>les. Tão bem se sustentam<br />

do muito marisco e peixes que vão pescar pela costa em janga<strong>da</strong>s, que são uns tres<br />

ou quatro paus pegados nos outros e juntos <strong>de</strong> modo que ficam á maneira dos<br />

<strong>de</strong>dos <strong>da</strong> mão estendi<strong>da</strong>, sobre os quais po<strong>de</strong>m ir duas ou tres pessoas ou mais se<br />

mais forem os paus, porque são mui leves e sofrem muito peso em cima d’água.<br />

Tem quatorze ou quinze palmos <strong>de</strong> comprimento, e <strong>de</strong> grossura ao redor, ocuparam<br />

dous pouco mais ou menos.<br />

Desta maneira vivem todos estes Índios sem mais terem outras fazen<strong>da</strong>s<br />

entre si, nem granjeiras em que se <strong>de</strong>svelem, nem tão pouco estados nem opiniões<br />

<strong>de</strong> honra, nem pompas para que as hajam mister: porque todos, como digo, são<br />

iguais e em tudo tão conformes nas condições, que ain<strong>da</strong> nesta parte vivem<br />

justamente, e conforme à lei <strong>da</strong> natureza.<br />

CAPÍTULO XI<br />

Das guerras que tem uns com os outros e a maneira com que se hão nelas.<br />

Estes Índios têm sempre gran<strong>de</strong>s guerras uns contra outros e assim nunca se<br />

acha neles paz nem será possível, segundo são vingativos e odiosos, ve<strong>da</strong>rem-se<br />

entre eles estas discor<strong>da</strong>is por outra nenhuma via, senão for por meios <strong>da</strong> doutrina<br />

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