História da Província de Santa Cruz - Unama
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www.nead.unama.br<br />
obras por santas e boas, e que sua tenção não é outra senão <strong>de</strong>dica-las a nosso<br />
Senhor, <strong>de</strong> quem somente esperam a gratificação e prêmio <strong>de</strong> suas virtu<strong>de</strong>s.<br />
CAPÍTULO XIV<br />
Das gran<strong>de</strong>s riquezas que se esperam <strong>da</strong> terra do sertão.<br />
Esta <strong>Província</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> alem <strong>de</strong> ser tão fértil como digo, e abasta<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
todos os mantimentos necessários para a vi<strong>da</strong> do homem, é certo ser tão bem mui<br />
rica, e haver nela muito ouro e pedraria, <strong>de</strong> que se tem gran<strong>de</strong>s esperanças. E a<br />
maneira como isto se veio a <strong>de</strong>nunciar e ter por causa averigua<strong>da</strong> foi por via dos<br />
Índios <strong>da</strong> terra. Os quais como não tenham fazen<strong>da</strong>s que os <strong>de</strong>tenham em suas<br />
pátrias, e seu intento não sejam outro senão buscar sempre terras novas, afim <strong>de</strong><br />
lhes parecer que acharão nelas imortali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong>scanso perpetuo, aconteceu<br />
levantarem-se uns poucos <strong>de</strong> suas terras, e meterem-se pelo sertão <strong>de</strong>ntro: on<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> terem entrado algumas jorna<strong>da</strong>s, foram <strong>da</strong>r com outros Índios seus<br />
contrários, e ali tiveram com eles gran<strong>de</strong> guerra. E por serem muitos, e lhes <strong>da</strong>rem<br />
nas costas, não se pu<strong>de</strong>ram tornar outra vez a suas terras: por on<strong>de</strong> lhes foi forçado<br />
entrar pela terra <strong>de</strong>ntro muitas léguas. E pelo trabalho e má vi<strong>da</strong> que neste caminho<br />
passaram, morreram muitos <strong>de</strong>les, e os que escaparam foram <strong>da</strong>r em uma terra,<br />
on<strong>de</strong> havia algumas povoações mui gran<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong> muitos vizinhos, os quais<br />
possuíam tanta riqueza que afirmaram haver ruas mui compri<strong>da</strong>s entre eles, nas<br />
quais se não fazia outra cousa senão lavar peças douro e pedrarias.<br />
Aqui se <strong>de</strong>tiveram alguns dias com estes moradores: os quais vendo-lhes<br />
algumas ferramentas que eles levavam consigo perguntaram-lhes <strong>de</strong> quem as<br />
haviam, ou porque meios lhes vinham ter ás mãos. Respon<strong>de</strong>ram-lhe que uma certa<br />
gente habitava ao longo <strong>da</strong> costa <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> do Oriente, que tinha barba e outro<br />
parecer diferente, <strong>de</strong> que as alcançavam, que são os Portugueses. Os mesmos<br />
sinais lhes <strong>de</strong>ram estoutros dos Castelhanos do Peru, dizendo-lhes que tão bem <strong>da</strong><br />
outra ban<strong>da</strong> tinham noticia haver gente semelhante, então lhes <strong>de</strong>ram certas ro<strong>de</strong>las<br />
to<strong>da</strong>s chapa<strong>da</strong>s douro, e esmalta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> esmeral<strong>da</strong>s, e lhes pediram que as<br />
levassem, para que se acaso fossem ter com eles a suas terras lhes dissessem que<br />
se a troco <strong>da</strong>quelas peças e outras semelhantes lhes queriam levar ferramentas, e<br />
ter comunicação com eles, o fizessem que estavam prestes para os receber com<br />
muito boa vonta<strong>de</strong>. Depois disto partiram-se <strong>da</strong>í e foram <strong>da</strong>r em o Rio <strong>da</strong>s<br />
Amazonas, on<strong>de</strong> se embarcaram em algumas canoas que fizeram e a cabo <strong>de</strong> terem<br />
navegado por ele acima dous anos, chegaram á <strong>Província</strong> do Quito, terra do Peru,<br />
povoa<strong>da</strong> <strong>de</strong> Castelhanos. Os quais vendo esta nova gente espantaram-se muito, e<br />
não sabiam <strong>de</strong>terminar don<strong>de</strong> eram, nem a que vinham. Mas logo foram conhecidos<br />
por gentio <strong>da</strong> <strong>Província</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>de</strong> alguns Portugueses que então na mesma<br />
terra se acharam. E perguntando por eles a causa <strong>de</strong> sua vin<strong>da</strong> contaram-lhes o<br />
caso meu<strong>da</strong>mente fazendo-os sabedores <strong>de</strong> tudo o que lhes havia sucedido. E isto<br />
veio-nos á noticia, e assim por via dos Castelhanos do Peru, on<strong>de</strong> estas ro<strong>de</strong>las<br />
foram vendi<strong>da</strong>s por gran<strong>de</strong> preço, como pela dos mesmos Portugueses que lá<br />
estavam quando isto aconteceu, com os quais falaram alguns homens <strong>de</strong>ste Reino,<br />
pessoas <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> e dignas <strong>de</strong> credito, que testificam ouvirem-lhes afirmar tudo<br />
isto por extenso <strong>da</strong> maneira que digo. E sabe-se <strong>de</strong> certo que está to<strong>da</strong> esta riqueza<br />
nas terras <strong>da</strong> Conquista <strong>de</strong> El Rei <strong>de</strong> Portugal, e mais perto sem comparação <strong>da</strong>s<br />
povoações dos Portugueses, que dos Castelhanos. Isto se mostra claramente no<br />
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