Livro Completo - Ramacrisna
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“Ainda agora estamos batendo em várias portas em busca de um<br />
engenheiro que nos prepare o projeto para construção do novo<br />
prédio da Rua Rio Casca, 387. Muitos já nos serviram com amor<br />
à causa pública e por isso não os procuramos para outros movimentos.<br />
Iremos proporcionar a novos elementos a oportunidade<br />
de servirem à causa da criança (...). Acreditamos que isso não<br />
seja difícil, pois não é solicitação de caráter paternal, mas de<br />
sentido coletivo e patriótico.”<br />
O ato de confiança de Márcio Gomes, acatando o apelo, fez o<br />
professor Arlindo escrever em outro artigo para que todos escrevessem<br />
no caderno de seus corações o gesto desse ilustre engenheiro,<br />
pois são atos como esse que aglutinam os homens de<br />
coração em favor de um mundo melhor e dão coragem para<br />
continuar trabalhando pela maravilhosa causa da criança desassistida.<br />
“Nesse tempo de convivência com o professor Arlindo”, conta<br />
Márcio Gomes, “aconteceu uma coisa que ficou gravada em minha<br />
memória: eu fui convidado para um almoço na <strong>Ramacrisna</strong>,<br />
em Betim. Lá encontrei modestas instalações, onde estavam<br />
abrigados cerca de duzentos internos. Quando eu cheguei, me<br />
deparei com um clima de festa e um coral formado por alguns<br />
internos entoando belíssimas canções. Eu pensei que estavam comemorando<br />
alguma coisa, quando o professor Arlindo me disse<br />
que aquela recepção era para mim e que os meninos estavam<br />
cantando em minha homenagem. Fiquei emocionado ao ver um<br />
agradecimento ser externado com tanta alegria. Eu percebi, naquele<br />
momento, o quanto o prédio que eu estava construindo era<br />
importante para aquela instituição.”<br />
Márcio Gomes conta que a construção do prédio de três andares<br />
foi tranqüila, pois a equipe estava determinada a concluir o trabalho.<br />
Depois da adesão e dos projetos concluídos, deu-se início<br />
à obra em setembro de 1966. Um dos poucos empecilhos foram<br />
mesmo algumas entidades de classe se indignar por saber que o<br />
serviço era totalmente gratuito e voluntário.<br />
Ao final de quinze meses, aconteceu a inauguração, em janeiro<br />
de 1968. Para Márcio Gomes, ficou perpetuada a gratidão em<br />
uma placa afixada na parede principal do prédio que tem os seguintes<br />
dizeres: “Ao Engenheiro Márcio Gomes dos Santos, paladino<br />
da causa do menor abandonado, a homenagem da Missão<br />
<strong>Ramacrisna</strong>. 28 de janeiro de 1968”.<br />
David Rosário Colares foi atendido pela Missão <strong>Ramacrisna</strong>, du-<br />
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Inauguração do 2º prédio onde hoje funcionam as salas de aula,<br />
a redação dos “Antenados” e o Templo Maha Sarasvati. Foto de 1964<br />
Missão <strong>Ramacrisna</strong> . 50 ANOS<br />
rante 7 anos. A primeira lembrança da sua chegada na Instituição<br />
é a placa indicativa com os dizeres “Organização de amparo ao<br />
menor abandonado”. David acreditava que ali os meninos ficariam<br />
abandonados para sempre. Ele não queria ser abandonado<br />
numa instituição. Somente o passar do tempo fez David entender<br />
o significado daquelas palavras e descobrir como a vida era tranquila<br />
na <strong>Ramacrisna</strong>. “Tínhamos comida na hora certa, cama limpinha<br />
pra dormir todas as noites e melhor de tudo era o carinho e<br />
o tratamento que o professor Arlindo nos dava.”<br />
Desde que saiu da Instituição, em 1982, David não tinha voltado<br />
à <strong>Ramacrisna</strong>. Com a mente cheia de lembranças, ele fala emocionado<br />
de como é rever as pessoas e este ambiente onde morou<br />
e foi muito bem cuidado. “Mesmo estando com problemas sérios<br />
de saúde, foi na <strong>Ramacrisna</strong> que eu fiz o curso de datilografia, o<br />
que me valeu para conseguir um emprego na capital. Na época<br />
eram aproximadamente 80 crianças. Só tinham os dois prédios lá<br />
em cima, uma granja, as fábricas de macarrão e de telas.”<br />
Talvez um dos momentos mais importantes da <strong>Ramacrisna</strong> aconte-<br />
ceu entre os anos de 1962 e 1967, quando a Instituição passava<br />
por grandes necessidades, até a falta de alimentos e roupas. Mesmo<br />
assim, por amor à Humanidade, o professor Arlindo nunca se<br />
abatia. Tinha uma fé inabalável e uma ausência total de cansaço.<br />
Nesses cinco anos ele construiu os três prédios da instituição,<br />
perfurou e fez funcionar o poço artesiano, assistia a 300 meninos<br />
internos, incrementou a assistência educacional com seis professoras<br />
competentes, manteve a circulação do jornal O Poder, lançou<br />
outras campanhas para levantar doações. Ao mesmo tempo<br />
abriu inscrições para receber novos internos, instruía as crianças<br />
nas artes gráficas e no plantio de hortas. Essas grandes ações<br />
simultâneas mostram o ritmo acelerado dos acontecimentos, magistralmente<br />
dirigidos pelo Professor Arlindo.<br />
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