Scarlatti e a música no reino dos melômanos - ECA-USP

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- muitos da própria família -, reunia-se com cenógrafos, libretistas, poetas e pintores (KIRKPATRICK, 1953, p.7). A educação musical de Scarlatti foi provavelmente desenvolvida no meio doméstico, por meio do contato e ensinamentos adquiridos pelo convívio com outros membros da sua família, uma vez que não há registro nos conservatórios de Nápoles de que Scarlatti tenha recebido qualquer educação formal. Especula-se que tenha estudado com Bernardo Pasquini, o que parece bastante improvável. Pasquini era também um excelente cravista, vinha da escola de Palestrina e escrevia de maneira totalmente oposta a Scarlatti, o primeiro compositor a dedicar-se ao estudo das características do estilo livre do cravo. Entretanto, é bastante provável, que Scarlatti tenha recebido, de alguma fonte, instruções elementares sobre canto, baixo-contínuo, teclado e contraponto. Mais tarde foi solicitado por seu pai a auxiliá-lo no ofício de músico, arranjando e copiando músicas, afinando instrumentos, acompanhando ensaios e participando das inúmeras obrigações de um assistente. Em 1702, Domenico Scarlatti, então com pouco mais de 16 anos, e seu pai deixam Nápoles, empreedendo uma viagem de quatro meses para Florença. A exemplo de seu pai, Alessandro, e de seu suposto professor Bernando Paquini, Scarlatti era um virtuose do teclado. É fato que, durante sua estadia na Itália, tenha feito uso especialmente do cravo para demonstrar suas habilidades ao público. É possível afirmar ainda que escreveu a maioria de suas mais de 500 sonatas pensando especificamente no cravo. Mesmo assim, assume-se algum tipo de contato entre os Scarlatti e Cristofori – que em 1709 conclui o seu “cembalo col piano e forte” – tenha ocorrido (KIRKPATRICK, 1953, p.14), já que nesta viagem, por ocasião do aniversário do príncipe Ferdinando de Médici, foram apresentados motetos em sua homenagem, compostos por Alessandro Scarlatti. Cristofori foi o inventor do pianoforte, instrumento para o qual Scarlatti também compôs muitas de suas Sonatas (OGEIL, 2006, p.61). Os Scarlatti se estabelecem em Roma em 1708, a serviço da rainha Maria Casimira da Polônia. Aos 23 anos Domenico Scarlatti já era um exímio cravista, embora só dez anos mais tarde tenha se apresentado publicamente por duas vezes, em Roma. Ele parece ter sido, no cotidiano, uma pessoa quieta e reservada, preferindo ficar à margem das atenções, tão poucos são os comentários sobre ele deixados pelos seus contemporâneos. Foi provavelmente nesta época que Scarlatti conheceu Haendel, com quem desenvolveria a mais importante amizade durante sua estadia na Itália. Eram ambos virtuoses do cravo e tinham a mesma idade. Também é possível identificar, nas
primeiras óperas compostas por ambos, uma grande proximidade estilística. Mais tarde, quando Scarlatti desenvolveu seu estilo próprio nas peças para cravo, poucas características se mantiveram em comum. Como não é possível datar as composições de juventude de Scarlatti, não é possível definir seu estilo de composição na época em que conheceu Haendel. Assim, não é possível afirmar se realmente houve uma troca de influências. Na primavera de 1708, Haendel estava em Roma apresentando sua Resurrezzione, composta a partir de um texto de Carlo Capeci. Scarlatti, um ano depois, também estava em Roma preparando seu oratório La Conversione di Clodoveo Re di Francia, sobre um texto do mesmo Capeci. Neste mesmo ano, Haendel deixou a Itália e os dois amigos não se encontraram novamente. Durante seu último ano de serviços junto à rainha Maria Casimira, Domenico estabeleceu contato com o Vaticano e lá empregou-se na Basilica Giulia, em 1714. Logo em seguida serviu o embaixador português, Marquês de Fontes, em Roma. Em 6 de setembro de 1720, Domenico Scarlatti apresenta e dirige, em Lisboa, uma Serenata para o aniversário da rainha Marianna de Portugal. Um ano mais tarde, em 1721, aos 36 anos e com exatamente a metade dos seus 72 anos de vida, Domenico Scarlatti se estabelece em Lisboa, a serviço do rei D. João V, como mestre de capela e também para ser o preceptor musical de seu irmão mais novo, Don Antônio, e de sua filha, a Infanta Maria Bárbara. Scarlatti e Maria Bárbara Recém-casada com o príncipe de Astúrias, Fernando VI, a princesa portuguesa Maria Bárbara muda-se para Madri em 1729, aos 18 anos. Maria Madalena Bárbara Xavier Leonor Teresa Antónia Josefa, nascida em 1711, era filha do rei D. João V de Portugal e da arquiduquesa Marianna da Áustria - que depois de casada tornou-se rainha de Portugal - e trouxe Domenico Scarlatti, seu preceptor musical desde 1721, para a corte espanhola . Scarlatti ficou a serviço de Maria Bárbara até o final de sua vida, em 1758. Os anos de estudo e da prática do teclado com Scarlatti fizeram de D. Maria Bárbara uma exímia cravista. Scarlatti por sua vez, com 44 anos, já era um compositor experiente, embora ainda não houvesse iniciado a composição importante de sua vida - as 555 Sonatas para teclado. Elas começam a ser compostas em 1738. Essercizi, por exemplo, dedicada ao rei D. João V. A partir dessas composições, Scarlatti passou a
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