Scarlatti e a música no reino dos melômanos - ECA-USP
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escrever exclusivamente para sua aluna, produzindo ao longo desse período mais de 490<br />
Sonatas.<br />
O rei Felipe V morre em julho de 1746 e em outubro ascendem ao tro<strong>no</strong><br />
Fernando VI e Maria Bárbara. O casal real fez sua entrada em Madri com muita pompa,<br />
touradas e fogos de artifício. Maria Bárbara e Fernando VI tinham a <strong>música</strong> como o<br />
antídoto para o tédio e a depressão, males que martirizaram Felipe V. A ligação entre<br />
eles - especialmente Maria Bárbara - com a <strong>música</strong> foi inequivocadamente muito forte.<br />
Fernando e Maria Bárbara continuaram com as diversões às quais estavam acostuma<strong>dos</strong><br />
como príncipe e princesa de Astúrias. Ao assumirem o poder transformaram a corte de<br />
Madri em uma riquíssima “corte musical” e para lá foram trazi<strong>dos</strong> músicos <strong>no</strong>táveis de<br />
toda a Europa. O mais conhecido deles é o amigo de infância e conterrâneo de <strong>Scarlatti</strong>,<br />
o castrato Farinelli, que era o cantor mais bem pago da Europa e que, mesmo assim, foi<br />
contratado para longas temporadas em Madri e, posteriormente, para tratar <strong>dos</strong> eventos<br />
musicais da corte. Farinelli tinha inclusive bastante influência política junto ao rei e à<br />
rainha. Não existem relatos oficiais de que <strong>Scarlatti</strong> tenha-se ressentido por não<br />
comandar as produções musicais. Seu prestígio junto à rainha se dava em um nível<br />
mais íntimo. Ela foi sua musa inspiradora. Para ela, <strong>Scarlatti</strong> compôs sua extensa série<br />
de Sonatas.<br />
O reinado de Fernando VI e Maria Bárbara foi essencialmente um “reinado <strong>dos</strong><br />
melôma<strong>no</strong>s”. Enquanto estiveram <strong>no</strong> poder ocuparam-se quase que exclusivamente<br />
com a questão musical e as festividades. Domenico <strong>Scarlatti</strong>, preceptor e introdutor da<br />
arte musical à infanta Maria Bárbara, gozava cada vez mais de alto prestígio junto à<br />
rainha, não para o trabalho de coordenação <strong>dos</strong> eventos, mas sim por ser um mestre e<br />
amigo de muitos a<strong>no</strong>s. No itinerário anual do casal real que incluia Buen Retiro, o<br />
Pardo, Aranjuez e o Escorial, <strong>Scarlatti</strong> sempre os acompanhava, ou só a Maria Bárbara,<br />
<strong>no</strong>s casos em que o rei permanecia em Madri. Provavelmente muitas das Sonatas foram<br />
escritas nestas viagens (KIRKPATRICK, 1953, p.107).<br />
<strong>Scarlatti</strong>: Do ofício musical à <strong>música</strong> absoluta<br />
A corte musical espanhola contava com muitos músicos, compositores e<br />
instrumentistas, na maioria italia<strong>no</strong>s. Além de <strong>Scarlatti</strong> e <strong>dos</strong> residentes Corselli,<br />
Cerradini e Mele, também passaram pela corte compositores de óperas trazi<strong>dos</strong> por<br />
Farinelli. Nomes como Hasse, Galuppi, Jomelli e outros foram compositores cujas