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A representação infantil da violência na mídia - ECA-USP

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES2007


MARCIA APARECIDA GIUZI MAREUSEA REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA:uma perspectiva para repensar a EducaçãoUNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES2007


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMARCIA APARECIDA GIUZI MAREUSEA REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA:uma perspectiva para repensar a EducaçãoTese apresenta<strong>da</strong> ao Departamento deComunicações e Artes, como exigência parcial docurso de Pós-Graduação, linha de pesquisaComunicação e Educação, para obtenção do grau dedoutor em Ciências <strong>da</strong> Comunicação.Orientadora: Profa. Dra. Elza Dias PachecoUNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES20071


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATESE DE DOUTORADO DEFENDIDA EMSão Paulo ____ de ______________________ de 2007.PERANTE A BANCA EXAMINADORA CONSTITUÍDA PELOS PROFESSORES:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Profa. Dra. Elza Dias PachecoOrientadora2


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAGRADEÇO!À minha Orientadora, que sempre acreditou e tudo fez para que eu chegasseaté aqui!À minha família, razão deste percurso!Aos amigos, colegas e colaboradores pela força e carinho!Às Instituições de Ensino pelo espaço, tempo e acolhimento, sem os quaiseste trabalho não teria se concretizado!Às crianças e aos seus pais!3


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADedico este trabalho a TODAS as crianças...E a todos os que se interessam pelo universo <strong>infantil</strong>...Em especial, às crianças - co-autoras - deste trabalho....Na esperança de um mundo melhor!4


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIARESUMOA proposta deste estudo foi conhecer a representação de violência que ascrianças constroem <strong>na</strong>s relações sociais e com a mídia, a partir do desenhoanimado, desdobrando-se em dimensio<strong>na</strong>r o impacto de suas representações noprocesso de socialização e de construção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> infância, e emexplicitar a possível relação entre violência <strong>na</strong> mídia e violência individual e social.Compreendeu um estudo descritivo, de <strong>na</strong>tureza qualitativa e incluiu pesquisabibliográfica e levantamento junto às crianças e adultos. A partir de um exercício dedescrição, comparação e análise dos discursos de crianças e de seus pais, comsuporte em referenciais teóricos sobre cultura contemporânea, violência erepresentação social, foi possível constatar que as crianças reconhecem diferentesdimensões do fenômeno, discrimi<strong>na</strong>m entre a violência real e ficcio<strong>na</strong>l e identificamgêneros televisivos e situações, às quais se sentem vulneráveis. Reconhecem imitaros perso<strong>na</strong>gens e seus comportamentos <strong>na</strong>s brincadeiras, porém afirmam que nãomatariam <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> real.Palavras-chave: cultura infanto-juvenil, desenho animado, mídia, representaçãosocial, violência.5


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAABSTRACTThe purpose of this study is to investigate the representation of cartoon-relatedviolence that children build into their social relationships and with the media. Thestudy also aims to size the impact of their representations in the process ofsocializing and subjectivity building during childhood, and to show the possiblerelationship between violence in the media and individual and social violence. This isa descriptive and qualitative study which includes bibliographic research and surveyswith children and adults. By describing, comparing and a<strong>na</strong>lyzing the language fromchildren and their parents, theoretical references on contemporary culture, violenceand social representation, it was possible to verify that children recognize differentdimensions of the phenomenon, differentiate between real and fictio<strong>na</strong>l violence, andidentify television genres and situations to which the feel vulnerable. Childrenrecognize they emulate characters and their behavior, but claim they would not kill inreal life.Key words: children-youth culture, cartoon, media, social representation, violence6


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASUMÁRIOI. INTRODUÇÃO __________________________________________________________________ 81. OBJETIVOS________________________________________________________________ 201.1. Objetivo Geral ___________________________________________________________ 201.2. Objetivos Específicos _____________________________________________________ 202. METODOLOGIA ____________________________________________________________ 21O processo de obtenção, registro e análise dos <strong>da</strong>dos _______________________________ 23A definição do Instrumento_____________________________________________________ 23Os sujeitos e o trajeto <strong>da</strong> pesquisa ______________________________________________ 25A análise dos discursos _______________________________________________________ 28CAPÍTULO 1 CULTURA CONTEMPORÂNEA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO: O LUGAR DASCRIANÇAS______________________________________________________________________ 301.1. Entendendo a Cultura Contemporânea Pós- Moder<strong>na</strong> _____________________________ 311.2. O mundo contemporâneo e as novas mediações culturais __________________________ 381.3. A família, a infância e a socialização <strong>da</strong>s crianças <strong>na</strong>s diferentes culturas______________ 391.3.1. As diferentes linguagens: marcas de um novo tempo e de novas relações__________ 451.3.2. Cultura Pós- Moder<strong>na</strong> e Modos de Subjetivação_______________________________ 48CAPÍTULO 2 MAPEANDO A VIOLÊNCIA _____________________________________________ 512.1. Raízes <strong>da</strong> violência no homem________________________________________________ 522.2. Violência: diferentes perspectivas teóricas ______________________________________ 58CAPÍTULO 3 A DINÂMICA DA VIOLÊNCIA NA SOCIEDADE E O LUGAR DA CRIANÇA_______ 783.1 Violência e Socie<strong>da</strong>de _______________________________________________________ 793.2. Violência e Infância_________________________________________________________ 863.3.Crescendo em meio à violência: a criança e a violência <strong>na</strong> mídia _____________________ 963.3.1. A criança e a violência televisiva ___________________________________________ 973.3.3. Violência e desenvolvimento saudável _____________________________________ 101CAPÍTULO 4 O ESPAÇO DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ________________ 1084.1.Contribuições <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> linguagem para o estudo <strong>da</strong>s Representações Sociais ____ 1094.2. Condições de produção e circulação <strong>da</strong>s representações sociais: socie<strong>da</strong>de, cultura elinguagem __________________________________________________________________ 1214.2.1. Reali<strong>da</strong>de e Ver<strong>da</strong>de ___________________________________________________ 1294.2.2. Representação e Reali<strong>da</strong>de Social ________________________________________ 1344.3. Representação Social, Mídia e Construção do Sujeito ____________________________ 1384.3.1. A constituição do sujeito, o enfoque interacionista e os diferentes discursos ________ 1384.3.2. Mídia e Subjetivi<strong>da</strong>de: O Confronto Reali<strong>da</strong>de e Ficção ________________________ 142CAPÍTULO 5 DAS CRIANÇAS PESQUISADAS: COTIDIANO E RELAÇÃO COM A TV _______ 1465.1. As Crianças: Estrutura e Dinâmica Familiar_____________________________________ 1485.2. A TV como Espaço de Construção <strong>da</strong>s Representações Sociais ____________________ 1605.2.1. Sobre o tempo frente à TV _______________________________________________ 1615.2.2. Características <strong>da</strong> Recepção: Audiência Compartilha<strong>da</strong>________________________ 1655.2.3. O controle dos pais sobre a TV ___________________________________________ 171CAPÍTULO 6 A PROGRAMAÇÃO TELEVISIVA COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO DEREPRESENTAÇÕES: A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA ___________________ 1806.1. Os Pais: Representações dos Adultos a mediarem as representações infantis_________ 1826.2. A programação televisiva e as representações infantis: o que as crianças assistem e por queassistem____________________________________________________________________ 2006.3. O desenho animado e a representação <strong>infantil</strong> de violência________________________ 208CONSIDERAÇÕES FINAIS________________________________________________________ 230BIBLIOGRAFIA _________________________________________________________________ 248ANEXO A ______________________________________________________________________ 265ANEXO B ______________________________________________________________________ 266ANEXO C ______________________________________________________________________ 267ANEXO D ______________________________________________________________________ 268ANEXO E ______________________________________________________________________ 2697


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAI.INTRODUÇÃO“O pesquisador deve sempre esforçar-se paraapreender a reali<strong>da</strong>de total e concreta, mesmo quesaiba não poder alcançá-la, a não ser de maneiraparcial e limita<strong>da</strong>; para isso, deve empenhar-se paraintegrar ao estudo dos fatos sociais a história <strong>da</strong>steorias a respeito desses fatos, bem como para ligaro estudo dos fatos <strong>da</strong> consciência à sua localizaçãohistórica e à sua infra-estrutura econômica e social.”Lucien Goldmann8


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO desenvolvimento tecnológico, em especial o ocorrido no universo <strong>da</strong>stelecomunicações e <strong>da</strong> informática tem marcado significativamente o nosso mundo,gerado novas formas de vi<strong>da</strong> e de relacio<strong>na</strong>mentos, redefinindo a cultura 1 .Diferentes produtos midiáticos passaram a compor o espaço público <strong>na</strong>socie<strong>da</strong>de atual, transformando-se em importantes instrumentos de socialização ede construção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>. Nesse sentido, a compreensão de como asidenti<strong>da</strong>des dos sujeitos contemporâneos se desenvolvem diz respeito àestruturação <strong>da</strong>s mensagens pelos diferentes ca<strong>na</strong>is de comunicação e às relaçõesque os indivíduos estabelecem com as mesmas.Muitas são as questões que se colocam quando o assunto faz referência aoimpacto de computadores, videogames e demais produtos <strong>da</strong> mídia <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>spessoas e <strong>na</strong> sua formação. Dentre os diferentes meios de comunicação, a TVmerece destaque e se coloca no centro <strong>da</strong>s preocupações sociais.Volta<strong>da</strong> primeiramente para o lazer e entretenimento, não é possível negarseu potencial educativo. Mesclando ficção e reali<strong>da</strong>de, a televisão passou aconstituir-se em importante instrumento de aproximação do homem com o mundo,por ela criado e recriado. A violência presente <strong>na</strong> TV, ti<strong>da</strong> como ca<strong>da</strong> vez maior emais diversifica<strong>da</strong>, vem sendo fortemente responsabiliza<strong>da</strong> por comprometimentosnos processos de socialização, especialmente <strong>da</strong>s crianças, seu público mais fiel.Este cenário tem conduzido a constantes reflexões em torno <strong>da</strong> apropriaçãoque a criança faz <strong>da</strong> violência televisiva como meio <strong>na</strong>turalmente legítimo deinteração social e resolução de conflitos.1 Pierre Lévy (1993) fala que a partir <strong>da</strong> linguagem e <strong>da</strong>s técnicas, o homem foi construindo outrostempos, e denominou cibercultura o conjunto <strong>da</strong>s técnicas (materiais e intelectuais), de práticas eatitudes, de modos de pensar, de aprender e de valores que se desenvolveram a partir dociberespaço - conceito criado para fazer referência ao novo meio de comunicação resultante <strong>da</strong>interconexão mundial de computadores, assim como o conjunto de informações disponíveis e osindivíduos que por ela <strong>na</strong>vegam. A importância desses novos espaços reside no fato de esses novosinstrumentos, como nos propõe Vygotsky (1984) gerarem estilos de pensamentos distintos. Assim,somos levados a concluir que novos contextos requerem uma análise <strong>da</strong>s diversas articulações dosistema cognitivo humano com as diferentes técnicas. Por outro lado, a cultura contemporânea nosintroduz a outras redes de significação, uma vez que as diferentes linguagens constroem amploshipertextos não só de computadores, mas também resultantes do diálogo entre as diferentes mídiascom reflexos significativos em nível individual.1 VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social <strong>da</strong> Mente. S.P., Martins Fontes, 1984.LEVY, Pierre. As Tecnologias <strong>da</strong> Inteligência. S.P., Editora 34, 1993.9


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA socie<strong>da</strong>de tem se mobilizado frente ao crescimento e a varie<strong>da</strong>de de formasde violência que têm marcado as relações entre as pessoas <strong>na</strong> contemporanei<strong>da</strong>de.Tem sido possível constatar ain<strong>da</strong>, o aumento <strong>da</strong> incidência de atos violentospraticados por crianças e, à mídia tem sido atribuí<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de por grandeparte desses acontecimentos, uma vez que é vista como espaço significativo decriação e recriação dessa violência, em nível real e ficcio<strong>na</strong>l.Já se reconhece a necessi<strong>da</strong>de de a análise do fenômeno considerar, não sóaspectos relativos às mídias, mas também, fatores sociais, econômicos e culturaisde difusão de sua programação. Porém, o fato de haver reconhecimento <strong>da</strong>existência de inúmeros fatores imbricados <strong>na</strong> relação <strong>da</strong> criança com os media, nãominimiza a percepção de que o contato com atos violentos prejudica odesenvolvimento <strong>infantil</strong>, podendo resultar em comportamentos violentos oudesequilíbrios internos. Neste sentido, as questões <strong>da</strong> violência tem sido atrela<strong>da</strong>sàs questões <strong>da</strong> saúde.Wilson 2 apresenta <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s investigações 3 realiza<strong>da</strong>s pela AssociaçãoMédica Norte-America<strong>na</strong> (1996), Associação Psicológica Norte-America<strong>na</strong> (1993),Centros de Controle de Doenças (1991), Instituto Nacio<strong>na</strong>l de Saúde Mental (1982)e o Ministério <strong>da</strong> Saúde Norte-Americano (1972), entre outros. Estes <strong>da</strong>dos revelamque o contato com a violência televisiva pode causar vários efeitos adversos nosespectadores, não só em crianças, mas também em adultos. Dentre os efeitosencontram-se: aprendizagem de atitudes e comportamentos agressivos,dessensibilização à violência e, maior medo de ser atingido pela violência real.Os discursos midiáticos violentos e suas influências ao pensarmos aconstrução do sujeito, tem sido ca<strong>da</strong> vez mais objeto de interesse dos estudiosos<strong>da</strong>s mais diferentes áreas e nem mesmo os desenhos animados ficam imunes àsacirra<strong>da</strong>s críticas a que a programação televisiva vem sendo submeti<strong>da</strong>, sendoconsiderados capazes de instigar as mais diversas formas de violência, e2 WILSON, B. J. et.al. A <strong>na</strong>tureza e o contexto <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> televisão america<strong>na</strong>. In: CARLSONN,U.& FEILITZEN (Orgs.) A criança e a violência <strong>na</strong> mídia. S.P., Cortez, 1999.3 Relata análise, conduzi<strong>da</strong> por pesquisadores <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Califórnia, em Santa Bárbara, departe de um estudo norte-americano fi<strong>na</strong>nciado pela Associação Nacio<strong>na</strong>l de TV a cabo em 1994,que teve 3 anos de duração e intitulado Estudo <strong>da</strong> Violência <strong>na</strong> Televisão Nacio<strong>na</strong>l (NTVS).10


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdetermi<strong>na</strong>ndo posicio<strong>na</strong>mentos diversos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>na</strong> tentativa de minimizaressa possível influência negativa. 4Apesar de uma longa tradição de pesquisas a respeito do impacto <strong>da</strong>s mídiassobre a violência 5 “real”, resultantes de diferentes abor<strong>da</strong>gens e metodologias, nãotem sido possível comparação ou generalização dos <strong>da</strong>dos, uma vez que a questãotem sido abor<strong>da</strong><strong>da</strong> por diferentes ângulos, com base em paradigmas distintos, e têmorigem em diferentes contextos sócio-culturais.Cabe ressaltar, que a maioria <strong>da</strong>s tendências têm um elemento teóricometodológico comum, a busca por uma relação de causali<strong>da</strong>de entre as mensagens<strong>da</strong>s mídias e os comportamentos agressivos dos indivíduos; porém, de formarecorrente, evidenciam que as relações <strong>da</strong>s crianças e dos adolescentes com asmensagens de violência, suas leituras e interpretações são extremamentecomplexas e nem sempre estão voltados para fatores imbricados <strong>na</strong> recepção.Ao mesmo tempo em que as discussões apontam para novos rumos, que nãoos <strong>da</strong> proibição, outros estudos buscam uma visão mais objetiva do fenômenorelação TV/ criança e estão orientados para a luta por uma programação dequali<strong>da</strong>de a ser construí<strong>da</strong>, e, por uma maior compreensão do fenômeno televisivono processo de subjetivação de crianças e adolescentes, em especial, dentro de4 Como exemplo, propondo o uso do v-chip, dispositivo que possibilita o controle <strong>da</strong> programação,como forma de impedir a criança de ter acesso a desenhos e, a programações considera<strong>da</strong>si<strong>na</strong>dequa<strong>da</strong>s e prejudiciais. Procedimentos como esse têm sido principalmente vistos como uma açãoautoritária e inviável, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as características <strong>da</strong> programação televisiva, as relações que seestabelecem entre as diferentes mídias e, os direitos que as crianças e jovens vêm conquistando nomundo contemporâneo em decorrência de uma nova forma de conceber a infância e a adolescência.5 Segundo Thierry de Vedel, pesquisador do Centro de Estudos <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Política Francesa, são seteas tendências de pesquisa nessa área agrupa<strong>da</strong>s em: Teoria <strong>da</strong> catarse (FESHBACH, S., 1995,apud VEDEL, 2001, p. 11): a violência <strong>na</strong> tela permite uma realização fantasmática <strong>da</strong>s pulsõesagressivas bem como a economia <strong>da</strong> passagem ao ato. Teoria do filabatismo: a televisão permiteaos telespectadores provar sem risco o prazer <strong>da</strong> violência. Teoria <strong>da</strong> inibição: as ce<strong>na</strong>s de violênciamostram as consequências que decorrem dela e ensi<strong>na</strong>m os espectadores a temerem sua própriaviolência. Teoria do vício: a repetição <strong>da</strong>s ce<strong>na</strong>s de violência visio<strong>na</strong><strong>da</strong>s conduz a umainsensibilização progressiva com relação à violência. Teoria de uma incubação cultural(GERBNER, G,1969, apud VEDEL, 2001, p.11): a televisão influi sobre a maneira pela qual osindivíduos representam a reali<strong>da</strong>de social. Teoria <strong>da</strong> ativação (BERKOWWITZ,L., 1984, apudVEDEL, 2001, p.11): a violência vista <strong>na</strong> televisão ativa as predisposições agressivas dos indivíduos.Teoria <strong>da</strong> aprendizagem social (BANDURA, A., 1965; HUSSMAN, L.R. & ERON, L.D.1984, apudVEDEL, p.11): os comportamentos agressivos são aprendidos com base em modelos decomportamentos vistos <strong>na</strong> televisão; esses modelos estocados em memória podem ser reproduzidosem certas circunstâncias. Esta classificação foi cita<strong>da</strong> por BELLONI, M. L. Infância, máqui<strong>na</strong>s eviolência. Educação e Socie<strong>da</strong>de, Campi<strong>na</strong>s, v.25, n.87, p.575-598, maio/ago. 2004, p. 590. G.11


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAuma perspectiva que leve em consideração, todos os atores envolvidos nessarelação.De acordo com Belloni 6 , resultados <strong>da</strong>s pesquisas qualitativas realiza<strong>da</strong>s noBrasil têm permitido concluir, que a relação com as mensagens de violênciacontribuem para a formação de valores sobre a própria agressivi<strong>da</strong>de e a violênciareal. Mostram ain<strong>da</strong>, que as influências são potencializa<strong>da</strong>s quando as criançaspertencem a universos culturais menos favorecidos, apontam para a estetização <strong>da</strong>violência e para a legitimação ética de meios violentos, <strong>na</strong> perspectiva de que “osfins justificam os meios.”Encontros diversos entre estudiosos reforçam a preocupação <strong>da</strong>s diferentesinstâncias sobre o tema e conduzem a perspectivas diferencia<strong>da</strong>s de análise. Em1997, em Paris, o 1º Fórum Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l Os jovens e a mídia, amanhã reuniu 50pesquisadores e trabalhos com abor<strong>da</strong>gens e metodologias diferentes. Ain<strong>da</strong>, <strong>na</strong>França em 1999, um colóquio sobre Mídias, violência e educação, chamou aatenção para as ambigui<strong>da</strong>des do tema, uma vez que falar de violência <strong>na</strong> mídia,pode significar considerar o fato em si ou o tratamento icônico, diferença difícil deestabelecer no uso cotidiano, em que as mensagens midiáticas favorecem aconfluência entre ficção e reali<strong>da</strong>de, num ritual que reforça a verossimilhança 7 .No circuito inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, desde 1995, a Cúpula Mundial de Mídia paraCrianças e Adolescentes tem promovido encontros a ca<strong>da</strong> três anos em diferentespaíses, tendo o mais recente, Mídia de Todos, Mídia para Todos, acontecido noBrasil em 2004; esse objetivou principalmente, desenvolver o olhar crítico <strong>da</strong>scrianças sobre a mídia, a partir <strong>da</strong> discussão junto aos professores e profissio<strong>na</strong>isenvolvidos com reformas curriculares.6 BELLONI, Maria Lucia. Infância, máqui<strong>na</strong>s e violência. Educação e Socie<strong>da</strong>de, Campi<strong>na</strong>s, v.25,n.87, maio/ago, 2004, p.575-598.7 Apesar do nome, verossimilhança não implica uma relação tão estreita com a ver<strong>da</strong>de quanto possaparecer. Ela não está relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com o que ocorre de fato <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, mas com as convençõesque a própria <strong>na</strong>rrativa impõe. Estas convenções podem ser retira<strong>da</strong>s de noções pré-estabeleci<strong>da</strong>s oupodem ser cria<strong>da</strong>s origi<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong> <strong>na</strong>rrativa, está diretamente ligado com o universo cultural ehistórico do espectador e é <strong>da</strong>do a partir <strong>da</strong> aproximação, ou não, dos eventos com estasconvenções.12


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAÉ importante constatar as novas dimensões que o debate relativo à influência<strong>da</strong> TV sobre o comportamento <strong>infantil</strong>, já decorrente de algumas déca<strong>da</strong>s,atualmente vem assumindo. O acesso aos meios de comunicação tem sidoreconhecido como um direito de crianças e jovens 8 , <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que lhesproporcio<strong>na</strong>m informação e participação, e, dessa forma se estabelece umparadoxo, pois ao mesmo tempo em que reconhece o potencial educativo <strong>da</strong> TV,esta mesma socie<strong>da</strong>de a questio<strong>na</strong>, responsabilizando-a pela violência manifesta<strong>da</strong>por crianças e jovens, seus mais assíduos telespectadores.Os estudos contemporâneos apontam para a necessi<strong>da</strong>de de repensarmos oprocesso de comunicação, fugindo ao paradigma funcio<strong>na</strong>lista presente <strong>na</strong>s váriasdiscipli<strong>na</strong>s <strong>da</strong>s Ciências Sociais, que compreende os diferentes discursos <strong>da</strong> mídiacomo fatores que interferem de forma direta sobre o pensamento, e, as ações dosreceptores, subjugados às mensagens recebi<strong>da</strong>s. As propostas atuais estãoorienta<strong>da</strong>s para a substituição <strong>da</strong> idéia de que as linguagens (objetos, gestos,imagens) são utiliza<strong>da</strong>s para transmitir um conjunto de significados e o fazem, poruma concepção que privilegie o estudo <strong>da</strong> recepção e <strong>da</strong>s mediações 9 envolvi<strong>da</strong>snos processos comunicacio<strong>na</strong>is.Segundo Freitas 10 , o pensar sobre as questões <strong>da</strong> mediação sofrealterações significativas a partir <strong>da</strong> visão de Seaussure sobre a Linguagem, doadvento <strong>da</strong> Antropologia Estrutural e <strong>da</strong> Psicanálise, discipli<strong>na</strong>s que nos oferecemcomo fun<strong>da</strong>mento comum para pensar a mediação, um conceito chamado estruturae, como elemento comum, a linguagem. Pesquisas volta<strong>da</strong>s para a relação dos8 Visando garantir o direito <strong>da</strong>s crianças de livre acesso às comunicações, a Convenção <strong>da</strong> ONUsobre os Direitos <strong>da</strong> Criança, incluiu dois artigos que se referem especificamente à mídia (artigos 13 e17). Segundo o Artigo 13: A criança terá o direito à liber<strong>da</strong>de de expressão; este direito incluiráliber<strong>da</strong>de para procurar, receber e partilhar informações e idéias de todos os tipos,independentemente de fronteiras, oralmente, por escrito ou <strong>na</strong> forma impressa ou de arte, ou porintermédio de qualquer outro meio de escolha <strong>da</strong> criança. Segundo o Artigo 17, os estados-membrosreconhecem a importante função desempenha<strong>da</strong> pela mídia de massa e assegurarão que a criançatenha acesso a informações e materiais de diversas fontes <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, especialmenteaquelas que objetivam a promoção de seu bem -estar social, espiritual e moral, e sua saúde física emental.9 O conceito de mediação foi trazido por Vygotsky para a Psicologia e diz respeito a instrumentos esignos que se interpõem entre o homem e o mundo e possibilitam a apreensão do mundo pelohomem.10 FREITAS, Jeanne Marie M.de. Ciências <strong>da</strong> Linguagem: contribuição para o estudo dos media.Revista Comunicações e Artes, n. 29, set-dez,1996.13


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAprocessos cognitivos com os produtos midiáticos também têm contribuído paraeluci<strong>da</strong>r a questão.Dentro desse cenário e visando atender a uma necessi<strong>da</strong>de premente <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de, de pais e educadores de compreenderem o fenômeno em função <strong>da</strong>sdimensões que o mesmo tem alcançado, <strong>na</strong>sce nosso interesse em desven<strong>da</strong>r arepresentação de violência construí<strong>da</strong> pela criança, a partir de seu contato com osdesenhos animados presentes <strong>na</strong> programação televisiva, importante espaço derelações e de brincadeiras no mundo contemporâneo.Nesse contexto as questões presentes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e que norteiam estetrabalho são: O que é violência para a criança? Quando um desenho animado éconsiderado violento?A criança efetivamente reconhece os desenhos japonesescomo mais violentos do que os norte-americanos? A representação de violência pelacriança difere <strong>da</strong> representação do adulto? Que elementos compõem essarepresentação?Por outro lado, dentre as hipóteses levanta<strong>da</strong>s estão a de que a violência nãoé intrínseca a determi<strong>na</strong>do conteúdo, de modo que determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s situações podemser ti<strong>da</strong>s como violentas ou não, em função <strong>da</strong> maneira escolhi<strong>da</strong> para abordá-las e<strong>da</strong>s diferentes mediações que contribuem para a representação que faz dos objetos<strong>da</strong> mídia, de onde decorre outra hipótese, a de que frente aos produtos <strong>da</strong> mídia ascrianças teriam representações diferentes se compara<strong>da</strong>s às dos adultos.Estas hipóteses conferem relevância ao estudo, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que se opõemàs propostas vigentes, direcio<strong>na</strong>m-se para a complexi<strong>da</strong>de do fenômeno, e uma vezconfirma<strong>da</strong>s irão contribuir com um novo olhar sobre as questões relativas a criançae mídia.Estas hipóteses têm suporte em importantes resultados, como os <strong>da</strong>pesquisa Desenho Animado <strong>na</strong> TV: mitos, símbolos e metáforas 11 que revelaramque as crianças percebiam como engraça<strong>da</strong>s situações considera<strong>da</strong>s violentas pelosadultos e que aspectos tidos como violentos, não se constituíam em marcassignificativas para a criança, assim como mostrou serem tanto os desenhos norte-11 PACHECO, Elza Dias. Desenho Animado <strong>na</strong> TV: mitos, símbolos e metáforas. LAPIC /<strong>ECA</strong> /<strong>USP</strong>,2000. (Pesquisa Integra<strong>da</strong>)14


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAamericanos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 40, como os atuais norte-americanos ou mesmo osdesenhos japoneses, os preferidos pelas crianças.Outro estudo, 50 anos de desenho animado <strong>na</strong> TV brasileira 12 também trouxesubsídios para as hipóteses levanta<strong>da</strong>s. Ao comparar os desenhos que sedestacaram nesse período, a partir de <strong>da</strong>dos relativos à origem, ano de produção eapresentação <strong>na</strong> televisão brasileira, características <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa e perso<strong>na</strong>genspermitiram concluir que os conteúdos dos desenhos, independente de origem ouépoca, abor<strong>da</strong>m temas semelhantes e que as diferenças apresenta<strong>da</strong>s decorremprincipalmente do contexto em que foram criados e <strong>da</strong>s novas tecnologias deprodução. Nesse sentido, os desenhos de hoje não teriam conteúdos mais violentosdo que os atuais, contrariando posição <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de a respeito.O mesmo estudo mostrou ain<strong>da</strong>, que os perso<strong>na</strong>gens ou conteúdos dosdesenhos circulam por outros produtos como os videogames ou jogos decomputador adquiridos ou baixados <strong>da</strong> Internet, passando a integrar a culturainfanto-juvenil contemporânea através de fontes varia<strong>da</strong>s. Assim, evidencia anecessi<strong>da</strong>de de que diferentes mediações sejam considera<strong>da</strong>s, quando a propostafor avaliar a relação desenho animado/ criança, e, sua importância <strong>na</strong> construção<strong>da</strong>s representações de crianças e jovens sobre a violência.O que se observa é que estudos de <strong>na</strong>turezas diversas têm buscado eluci<strong>da</strong>ra relação entre características <strong>da</strong> programação televisiva e a violência que marcou oséculo XX, estendendo-se amplamente no novo milênio. Porém, a violênciaconsidera<strong>da</strong>, diz respeito principalmente à quanti<strong>da</strong>de de casos de agressão, ce<strong>na</strong>sde morte e tiros por segundo contidos <strong>na</strong> programação, ou ain<strong>da</strong>, discussõesrelativas ao potencial de agressivi<strong>da</strong>de que a violência real ou ficcio<strong>na</strong>l possamgerar, e isso se estende para os estudos dos desenhos animados.Sem dúvi<strong>da</strong>, reconhecer a parcela de contribuição de agressões físicas,situações de luta que conduzem a mortes e outras manifestações do gêneroconstituem uma proposta sedutora, pela objetivi<strong>da</strong>de que representa. Mas, acompreensão <strong>da</strong> possível influência dos meios de comunicação <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção de12 MAREUSE, Márcia A.G. 50 anos de desenho animado <strong>na</strong> TV brasileira. S.P., 2002. Dissertação(Mestrado). Escola de Comunicações e Artes /Universi<strong>da</strong>de de São Paulo.15


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAsituações de adversi<strong>da</strong>de para as crianças ou <strong>na</strong> formação de crianças violentasextrapola as dimensões dos fatos exibidos nos desenhos animados, assim como nosdemais produtos <strong>da</strong> mídia ou, a relação que se estabelece entre eles.A Câmara Inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l para Crianças e a Violência <strong>na</strong> Tela, assim como oComitê <strong>da</strong> ONU para os Direitos <strong>da</strong>s Crianças, têm alertado para a necessi<strong>da</strong>de deas pesquisas envolvi<strong>da</strong>s com os problemas decorrentes <strong>da</strong>s novas tecnologiasadotarem uma perspectiva mais ampla, situando a mídia no contexto <strong>da</strong>cotidiani<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong> pela criança.Dentro desta perspectiva, o presente estudo ao buscar as representações deviolência construí<strong>da</strong>s no universo <strong>infantil</strong> e eleger o desenho animado comoreferência, considerou-o <strong>na</strong> relação com outros gêneros dentro <strong>da</strong> programação, ecom outras mídias, incluiu um olhar sobre a participação <strong>da</strong> televisão no cotidiano <strong>da</strong>criança e <strong>na</strong>s condições de recepção televisiva que estas vivências determi<strong>na</strong>m,além de considerar as mediações do universo adulto, representa<strong>da</strong>s por seus pais.Neste sentido, ao se propor a conhecer a representação que a criança faz desuas próprias vivências ou <strong>da</strong>s que se apresentam a ela no universo midiático, assimcomo os elementos que a fazem caracterizar esses “fatos” vividos ou a elaapresentados como violentos, contribui para ampliar as possibili<strong>da</strong>des decompreensão dos “efeitos” do contato próximo e intenso com a TV, importanteespaço de socialização no mundo contemporâneo.Um problema de pesquisa focado nesta temática oferece inúmeraspossibili<strong>da</strong>des, uma vez que a questão se insere num amplo e diversificadoespectro conceitual relacio<strong>na</strong>do à violência, inclui posturas frente ao espaço <strong>da</strong>smídias no universo dos processos comunicacio<strong>na</strong>is, o que significa entender comoestes processos são construídos, como atuam <strong>na</strong> construção dos sentidos, e alémde reconhecer as diferentes mediações que envolvem.Esta proposta compreende ain<strong>da</strong> uma reflexão relativa à criança sobre a qualestamos nos referindo, o que nos conduz a um trajeto pela compreensão não só desuas dimensões cognitivas e emocio<strong>na</strong>is, mas de aspectos que definem a infância<strong>na</strong> contemporanei<strong>da</strong>de. Além dessas, outras dimensões em jogo dizem respeito aos16


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdireitos <strong>da</strong> criança à informação, e às implicações <strong>da</strong> violência presentes nos meiosde comunicação à sua saúde e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.Outras ain<strong>da</strong>, talvez pudessem ser identifica<strong>da</strong>s, porém, as aqui descritas jáapontam para a complexi<strong>da</strong>de do problema, que tem encontrado <strong>na</strong>s diferentespesquisas, respostas que buscam <strong>da</strong>r conta desses universos separa<strong>da</strong>mente.A busca pela compreensão <strong>da</strong> violência em suas diferentes dimensões temsido amplamente estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, a análise de conteúdo dos programas tidos comoviolentos por grande parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de também têm se constituído em objetos deestudo; a relação entre atos de violência e violência vivencia<strong>da</strong> <strong>na</strong> mídia constituiuniverso significativo de pesquisas e caracterizam-se por estudos longitudi<strong>na</strong>is, emque outras variáveis não são considera<strong>da</strong>s amplamente; porém só maisrecentemente estudos voltados para a compreensão <strong>da</strong>s mediações e <strong>da</strong>representação social que determi<strong>na</strong>m têm sido desenvolvidos.O objeto em questão constitui um fenômeno 13 social em sentido amplo aobuscar a relação entre violência presente nos desenhos animados,representação <strong>infantil</strong> e construção de subjetivi<strong>da</strong>des. O âmbito social ficademarcado ao consideramos que a violência acontece no espaço de diálogo entreos homens e que os atos humanos são reconhecidos como tal, em função de umcontexto individual e coletivo específicos; que o objeto de violência a<strong>na</strong>lisado é odesenho animado, gênero televisivo com o qual as crianças têm contato constanteno mundo contemporâneo e, que as representações sociais resultam deconhecimentos de senso comum produzi<strong>da</strong>s no cotidiano de ca<strong>da</strong> um.Assim definido, o objeto diz respeito a pontos específicos, exigências <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de pretende eluci<strong>da</strong>r e cuja compreensão trará contribuições significativas,não só para aqueles envolvidos com a mídia, como para aqueles que reconhecemque a formação do ci<strong>da</strong>dão considera a compreensão dos meios de comunicação. Ofenômeno assim estruturado, aponta para sua <strong>na</strong>tureza dinâmica e não condiz com13 O significado de fenômeno vem <strong>da</strong> expressão grega fainomenon e deriva do verbo fainestai quequer dizer mostrar-se a si mesmo. Assim fenômeno significa aquilo que se mostra, que se manifesta(...) aquilo onde algo pode tor<strong>na</strong>r-se manifesto, visível em si mesmo (...) os gregos identificavam osfenômenos como ta onta que se quer dizer enti<strong>da</strong>des. Uma enti<strong>da</strong>de pode manifestar-se a si mesmade várias formas, dependendo, em ca<strong>da</strong> caso do acesso que se tem a ela. (MARTINS e BICUDOapud, GARNICA, A.V. M. Algumas notas sobre pesquisa qualitativa e fenomenologia. Interface-Comunicação, Saúde e Educação, v.1, n.1, 1997, p.111.)17


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAum modelo estático e fragmentado de investigação, e assim sua <strong>na</strong>tureza passa adefinir a metodologia de investigação.As respostas a estas questões pressupõem a identificação de posturas <strong>da</strong>scrianças e pais frente ao espaço <strong>da</strong>s mídias no universo dos processoscomunicacio<strong>na</strong>is, a compreensão de como elas atuam <strong>na</strong> construção dos sentidos,além do reconhecimento de que entre as mediações que interagem nessaconstrução, estão as dimensões cognitivas, emocio<strong>na</strong>is e sociais, defini<strong>da</strong>s pelaconcepção de infância no mundo contemporâneo.Reconheci<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong>s mídias <strong>na</strong> educação formal e informal, asdiferentes dimensões de análise possíveis quando o assunto diz respeito à violênciatelevisiva, suas implicações sobre a socialização <strong>da</strong>s crianças e as crescentespropostas de que a programação televisiva seja leva<strong>da</strong> para a sala de aula, pais eprofessores se deparam com o desafio de favorecerem a incorporação <strong>da</strong>sdiferentes tecnologias à educação, com base em reflexões sob os diferentesaspectos dessa relação.Este estudo ao buscar conhecer a representação <strong>infantil</strong> <strong>da</strong> mídia violenta, combase nos desenhos animados pretende oferecer aos pais, educadores e à socie<strong>da</strong>deem geral, referências para a construção de um olhar crítico, de modo a contribuir <strong>na</strong>efetivi<strong>da</strong>de e ampliação do diálogo com os meios de comunicação e, por decorrênciafavorecer a construção de uma relação autônoma <strong>da</strong> criança com a TV.Este trabalho inicia apresentando o referencial teórico que subsidiou esteestudo em 4 (quatro) capítulos e dedica os (dois) últimos à representação <strong>infantil</strong> deviolência e ao contexto de sua produção.O capítulo 1 compreende um olhar sobre as vivências de Crianças e Jovens<strong>na</strong> Cultura Contemporânea. Os capítulos 2 e 3 foram dedicados respectivamente aMapear a Violência e buscar compreender a Dinâmica <strong>da</strong> Violência <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de eo Lugar <strong>da</strong> Criança. O capítulo 4 compreende o estudo <strong>da</strong>s Representações Sociais.No capítulo 5 adentramos para o universo <strong>da</strong> pesquisa de campo que falaDas Crianças Pesquisa<strong>da</strong>s: cotidiano e relação com a TV e, por fim o Capítulo 618


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdiscorre sobre A Programação Televisiva como espaço de construção deRepresentações: A Representação Infantil <strong>da</strong> Violência.19


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA1. OBJETIVOS1.1. Objetivo GeralO estudo tem por objetivo obter uma concepção de violência que caracterizeo universo <strong>infantil</strong> pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong>s representações que as crianças constroem <strong>na</strong>srelações sociais e com a mídia, a partir do desenho animado, desdobrando-se emdimensio<strong>na</strong>r o impacto <strong>da</strong> violência e de suas representações no processo desocialização e de construção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> infância, com o fim de explicitar apossível relação entre violência <strong>na</strong> mídia e violência individual e social.1. 2. Objetivos Específicos1. Reconhecer aspectos do discurso televisivo, em especial do desenho animado,que se constituem em marcas envolvi<strong>da</strong>s <strong>na</strong> construção de sentidos pela criança;2.Identificar as “marcas” representa<strong>da</strong>s como violência e as possíveis interferênciasem suas construções subjetivas;3. Comparar as representações infantis às dos adultos, com relação à violência,presente nos desenhos animados indicados pelas crianças;4. Ampliar a discussão relativa à participação de outros possíveis agentes envolvidos<strong>na</strong> representação <strong>infantil</strong> de violência, convergindo para outras dimensões deanálise;5. Contribuir para a formação de uma consciência crítica relativa ao espaço <strong>da</strong> mídia<strong>na</strong> construção <strong>da</strong>s representações de violência pela criança;6. Favorecer subsídios para reflexões e ações no sentido de garantir às criançasuma educação que se aproprie dos meios de comunicação, como espaço econstrução de emancipação individual e coletiva.20


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA2. METODOLOGIAEste estudo foi orientado por um modelo de ciência que pressupõe acompreensão de um fenômeno como resultante <strong>da</strong> interdependência existente entreambiente geral, processos de pensamento e construção do conhecimento, nãoseparando o indivíduo do mundo em que vive e de seus relacio<strong>na</strong>mentos, e quereconhece o sujeito como um elemento constitutivo de uma rede de relações. Deacordo com este modelo, sujeito e objeto não são vistos como uni<strong>da</strong>des distintas, eo objeto pode ser definido de uma maneira ou de outra, dependendo do olhar doobservador/pesquisador.Segundo Zohar apud Moraes, 14 1997, a Teoria Quântica e o Princípio <strong>da</strong>Incerteza que invadiu a linguagem dos psicólogos e sociólogos, oferece umacompreensão nova <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de ao propor uma interdependência entre ambientegeral e pensamento, e, têm a ver com o mundo <strong>da</strong>s experiências do senso comum,com as percepções e as emoções vivi<strong>da</strong>s alia<strong>da</strong>s aos problemas pessoais e sociais.O delineamento metodológico proposto atende às características do objetoem questão e do modelo de ciência adotado. Compreendeu um estudo descritivo, de<strong>na</strong>tureza qualitativa e incluiu pesquisa bibliográfica e levantamento junto às criançase adultos.A opção por uma pesquisa qualitativa é totalmente coerente com ospropósitos de uma compreensão de mundo que não privilegia o rigor tradicio<strong>na</strong>l dosmétodos e a neutrali<strong>da</strong>de do pesquisador em relação ao universo pesquisado, emdetrimento de um olhar específico. Na abor<strong>da</strong>gem qualitativa o termo pesquisaganha um novo significado e constitui um caminho alter<strong>na</strong>tivo face às posturasclássicas defini<strong>da</strong>s pelo Positivismo.14 Para a mecânica quântica o universo é essencialmente não determinístico. No lugar de um modeloplanetário de átomo, com elétrons orbitando em volta de um núcleo, a física quântica propõe umgráfico, que mostra onde têm maior ou menor probabili<strong>da</strong>de de existir. To<strong>da</strong> a matéria pode serentendi<strong>da</strong> segundo uma ótica dual, podendo de comportar como on<strong>da</strong> ou como partícula. Em 1927,Werner Heisenberg formula um método para interpretar a duali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Quântica, o Princípio <strong>da</strong>Incerteza, segundo o qual , pares de variáveis interdependentes, com tempo e energia, veloci<strong>da</strong>de eposição, não podem ser medidos com precisão absoluta.MORAES, M.C. O paradigma educacio<strong>na</strong>l emergente. Campi<strong>na</strong>s, S.P., Papirus,1997.21


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA“(...) passando a ser concebido como uma trajetória circular em torno do que sedeseja compreender, não se preocupando única e aprioristicamente comprincípios, leis e generalizações, mas voltando o olhar à quali<strong>da</strong>de, aoselementos que sejam significativos para o observador-investigador“. 15Há <strong>na</strong> pesquisa qualitativa uma preocupação com o processo que ultrapassaa preocupação com o produto e ela pode ser efetiva<strong>da</strong> de diferentes formas. Nãopressupõe a necessi<strong>da</strong>de de que uma amostra estratifica<strong>da</strong> seja defini<strong>da</strong>, desde quese propõe a a<strong>na</strong>lisar as informações coleta<strong>da</strong>s, compreender o significado e asrelações nelas expressas, considerando a situação avalia<strong>da</strong> e não a quanti<strong>da</strong>de deinformantes que repetem a mesma informação.Porém, muitas vezes, de acordo com as características do objeto e <strong>da</strong>influência que possa sofrer considerando-se diferentes contextos, cabe aopesquisador a determi<strong>na</strong>ção de uma amostra intencio<strong>na</strong>l. No caso específico destapesquisa, uma amostra intencio<strong>na</strong>l 16 envolvendo três segmentos foi considera<strong>da</strong>pertinente, pois determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s características, deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s vivências específicascomo membros de determi<strong>na</strong>do segmento têm sido aponta<strong>da</strong>s como responsáveispor representações específicas relativas ao fenômeno estu<strong>da</strong>do.Dentro dessa perspectiva, três segmentos foram considerados relevantes. Oprimeiro segmento, S1, incluiu crianças residentes em um condomínio residencialfechado, localizado em Tamboré, Município de Santa<strong>na</strong> do Par<strong>na</strong>íba, alunos dediferentes escolas particulares de renome <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de de São Paulo e lá instala<strong>da</strong>s.A escolha deste segmento foi determi<strong>na</strong><strong>da</strong> pela situação especial em quevivem as crianças, pois apesar dos muros do condomínio e <strong>da</strong>s guaritas deproteção, experimentam o espaço <strong>da</strong> rua, <strong>da</strong>s casas sem grades e <strong>da</strong>s brincadeiras<strong>na</strong> calça<strong>da</strong>. Essas experiências, no entanto, não se assemelham às vivi<strong>da</strong>s emoutros tempos pelas crianças <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de, ao contrário, são marca<strong>da</strong>s por diferenças15 GARNICA, A.V. M. Algumas notas sobre pesquisa qualitativa e fenomenologia. Interface-Comunicação, Saúde e Educação, v.1, n.1, 1997, p.110.16 Pessoas que segundo critérios do pesquisador, sejam capazes de transmitir as informaçõesnecessárias relativas a aspectos relevantes para o estudo.22


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAsignificativas uma vez que não possibilitam o convívio com a diversi<strong>da</strong>de e apadronização atinge a própria configuração <strong>da</strong>s moradias.Estudos têm apontado para o fato de que o diferente causa estranhamento epode assumir a quali<strong>da</strong>de de assombro ou de horror <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que não éentendido 17. Assim, <strong>da</strong> estética urba<strong>na</strong> à pessoal, os modelos são delineados dentrode configurações específicas que desconhecem outras. Dessa forma, as criançasresidentes nestes espaços seriam mais suscetíveis a esses estranhamentos.Os demais, S2 e S3, corresponderam a crianças de uma escola particular ede uma escola pública respectivamente, de modo a garantir a representativi<strong>da</strong>de decontextos sócio-culturais específicos. O S2 incluiu alunos de um colégio de classemédia no bairro de Moema, <strong>na</strong> zo<strong>na</strong> Sul de São Paulo, escolhido em função <strong>da</strong>abertura junto à Direção, o que facilitava o contato com as crianças 18 e, o S3, foiconstituído por alunos de uma escola pública do bairro <strong>da</strong> Lapa localizado <strong>na</strong> Zo<strong>na</strong>Oeste de São Paulo 19.Além <strong>da</strong>s dimensões considera<strong>da</strong>s <strong>na</strong> determi<strong>na</strong>ção dos respectivossegmentos, a escolha dos mesmos privilegiou diferentes regiões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de egarantiu maior diversi<strong>da</strong>de de contextos sócio, econômicos e culturais.O processo de obtenção, registro e análise dos <strong>da</strong>dosA definição do InstrumentoConsiderando o caráter de subjetivi<strong>da</strong>de do estudo, a entrevista semiestrutura<strong>da</strong>foi o principal instrumento de coleta utilizado. A escolha desteinstrumento deve-se ao fato de o mesmo permitir maior flexibili<strong>da</strong>de e possibilitaruma investigação mais ampla sobre as vivências. Somente em situações17 CASTRO, Lucia Rabello de. A aventura urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro. R.J., FAPERJ/ 7Letras, 2004.18 Esta postura tem suporte em estudo desenvolvido por Castro, acima referen<strong>da</strong><strong>da</strong>, que mostra oquanto em uma socie<strong>da</strong>de toma<strong>da</strong> pelas mais varia<strong>da</strong>s formas de violência, os adultos sentem-seconstantemente ameaçados e zelam por suas crianças evitando o contato com estranhos.19 O contato com a Coorde<strong>na</strong>ção dessa escola foi intermediado por uma professora conheci<strong>da</strong> <strong>da</strong>pesquisadora.23


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAespecíficas, quando não foi possível um contato com os pais, optou-se pelo uso doquestionário semi-aberto.A proposta de trabalhar com entrevistas e questionários pode ser utiliza<strong>da</strong> emto<strong>da</strong>s as fases de um trabalho de investigação. São instrumentos apropriados paraestudos que buscam entender atitudes, preferências, necessi<strong>da</strong>des e sentimentosenvolvidos em fenômenos complexos ou no desenvolvimento e implementação deprogramas relacio<strong>na</strong>dos a dificul<strong>da</strong>des, necessi<strong>da</strong>des ou conflitos não claros oupouco explicitados.Nesta pesquisa a elaboração de ambos, entrevista e questionário, em função<strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de do tema e dos paradigmas que o subsidiam levou emconsideração um amplo e diversificado universo de questões ti<strong>da</strong>s como pertinentesà investigação. Antes de focar no questio<strong>na</strong>mento diretamente ligado ao objeto <strong>da</strong>pesquisa, a entrevista voltou-se para obter junto às crianças, <strong>da</strong>dos que ascaracterizassem como nome, i<strong>da</strong>de, escolari<strong>da</strong>de, profissão e escolari<strong>da</strong>de dos pais.Apesar de focar para a representação construí<strong>da</strong> sobre a violência com base<strong>na</strong> programação televisiva, em especial o desenho animado, abordou outrosaspectos tidos como variáveis importantes <strong>na</strong> construção destas representações,dentre eles:• Os hábitos <strong>da</strong>s crianças e dos pais como telespectadores, não só aquelesrelativos à programação que assistem, mas também os relacio<strong>na</strong>dos ao tempodesti<strong>na</strong>do à TV e ao ambiente que compõe o contexto de recepção televisiva;• A existência de controle dos pais quanto ao uso <strong>da</strong> televisão e de outrasmídias e as bases em que este controle se encontra estruturado;• A programação assisti<strong>da</strong>, a razão <strong>da</strong> escolha, os elementos tidos comoviolentos considerando-se a programação descrita.Assim, a busca pela compreensão dos elementos que participam <strong>da</strong>elaboração do conceito de violência pelas crianças a partir de elementos presentesno discurso midiático, implicou percorrer uma ampla rede de relações.24


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAs questões propostas foram orienta<strong>da</strong>s com base em teorias que sustentamser o plano interno decorrente do plano externo, e, serem as experiências vivi<strong>da</strong>sintegra<strong>da</strong>s ao mundo interior, definindo e redefinindo subjetivi<strong>da</strong>des. Levam emconsideração também, o fato de o universo <strong>da</strong> criança no mundo contemporâneo sercaracterizado pela primazia <strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong> automação, por avançostecnológicos, pela presença <strong>da</strong> televisão, do computador, <strong>da</strong> Internet e do vídeo, e,por uma socie<strong>da</strong>de assenta<strong>da</strong> <strong>na</strong> lógica do consumo.Todos esses aspectos associados a um novo conceito de família edetermi<strong>na</strong>dos por novas práticas sociais deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s relações estabeleci<strong>da</strong>s comas diferentes mídias foram considerados <strong>na</strong> elaboração do instrumento, deixandoevidentes algumas hipóteses que norteiam o estudo. O roteiro de entrevista <strong>da</strong>scrianças e dos pais, assim como o questionário proposto se encontram descritos nosanexos A e B respectivamente.Os sujeitos e o trajeto <strong>da</strong> pesquisaA coleta de <strong>da</strong>dos teve início com o pré-teste do instrumento em julho de2005. Neste momento, foram testados o roteiro <strong>da</strong> entrevista, o questionário voltadopara os pais, além dos procedimentos de coleta de <strong>da</strong>dos.Com relação aos instrumentos ficou evidente a necessi<strong>da</strong>de de que algumasquestões fossem incluí<strong>da</strong>s, de modo que o roteiro sofreu reformulações Oquestionário não se mostrou um instrumento efetivo, em função do pequeno retornoe, este <strong>da</strong>do fez com que o estudo privilegiasse, sempre que fosse possível, asubstituição do questionário pelas entrevistas com os pais.Durante o pré-teste as entrevistas com as crianças foram propostas emduplas ou trios e, por terem garantido participação espontânea <strong>da</strong>s crianças, esteprocedimento foi mantido durante a pesquisa.A coleta de <strong>da</strong>dos propriamente dita ocorreu nos meses de maio, junho ejulho de 2006. No que diz respeito aos aspectos éticos, respeitando a Resolução nº196/96 do Conselho Nacio<strong>na</strong>l de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos,25


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAa entrevista aconteceu após a assi<strong>na</strong>tura do Termo de Consentimento Livre eEsclarecido (Anexo C).O procedimento de coleta envolveu:• Entrevistas com crianças compreendendo a faixa etária de seis a onzeanos 20 , estu<strong>da</strong>ntes de 1ª a 4ª série do ensino fun<strong>da</strong>mental, provenientes de escolaspúblicas e priva<strong>da</strong>s, buscando identificar os desenhos que assistem, o queclassificam como violência e seus sentimentos e reações frente a ce<strong>na</strong>s aponta<strong>da</strong>scomo violentas no desenho ou, <strong>na</strong> programação em geral;• Entrevistas com pais para identificação <strong>da</strong>s representações adultocêntricas e<strong>da</strong>s mediações envolvi<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s representações dessas crianças;• Exposição de um grupo de crianças aos desenhos previamente selecio<strong>na</strong>dos,segui<strong>da</strong> de entrevista volta<strong>da</strong> para a obtenção de marcas significativas por elesaponta<strong>da</strong>s;Contrapondo-se às posturas clássicas de construção de conhecimento, acoleta de <strong>da</strong>dos não obedeceu a um rigor e padronização dos métodos einstrumentos. Os delineamentos variaram dentro de ca<strong>da</strong> segmento, sendoajustados às possibili<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s diferentes situações.No condomínio, uma vez que o espaço permitiu, as entrevistas ocorreram emdiferentes lugares, sendo que as crianças foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>na</strong> quadra, <strong>na</strong> área deconvivência e <strong>na</strong> residência de uma delas. Essa opção metodológica resultou deexperiências em estudos anteriores que apontaram para essa possibili<strong>da</strong>de 21 com opropósito de minimizar o constrangimento diante do pesquisador e <strong>da</strong> situação e,conseqüentemente ao garantir maior espontanei<strong>da</strong>de para responder.Embora o entrevistador se dirigisse a ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s crianças individualmente,elas foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>na</strong> presença de outras que se encontravam no localpermaneceram ao redor e, muitas vezes chegaram a interceptar o diálogo oucomentar as respostas dos colegas entrevistados.20 A razão <strong>da</strong> escolha deve-se a forma de pensar característica <strong>da</strong> criança, segundo Piaget, aointeresse dessa faixa por desenhos animados e por serem considerados mais suscetíveis, enquantosubjetivi<strong>da</strong>des em formação. PIAGET, Jean. Seis Estudos de Psicologia. R.J. Forense, 1969.21 PACHECO, Elza Dias. Desenho Animado <strong>na</strong> TV: mitos, símbolos e metáforas. S.P., LAPIC / <strong>ECA</strong>//<strong>USP</strong>, 1999.(Pesquisa Integra<strong>da</strong>)26


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIANas escolas, embora o espaço em que ocorreram as entrevistas tenha sidoúnico e escolhido de modo a não interferir com a roti<strong>na</strong> <strong>da</strong> instituição, as criançastambém não ficaram a sós com o pesquisador. Foram encaminha<strong>da</strong>s em dupla, outrio ao local em que transcorreram as entrevistas.O pesquisador formulava a pergunta e deixava as crianças à vontade pararesponderem, sem necessariamente determi<strong>na</strong>r quem deveria falar primeiro, e assimas respostas foram fluindo de maneira espontânea.Assim como ocorreu no condomínio foi comum a interação <strong>da</strong>s criançasdurante as entrevistas, inclusive fazendo comentários no sentido de confirmar oucontrariar a fala do outro, ou ain<strong>da</strong>, propondo uma nova idéia a respeito docomentário do colega.Embora o procedimento de coleta não contemplasse uma rigidez absoluta,não deixou de levar em consideração as possíveis interferências decorrentes dessaproposta, mas considerou serem estas menos significativas do que o estranhamentocausado pelo contato com o pesquisador, ou a inquietação frente a determi<strong>na</strong><strong>da</strong>pergunta que não estivesse pronto a responder, o que poderia gerar inibição ecomprometer a obtenção <strong>da</strong>s informações.As crianças foram incentiva<strong>da</strong>s a falar mesmo quando seus discursos nãocorrespondessem aos propósitos <strong>da</strong> pesquisa. Esse posicio<strong>na</strong>mento tem comosuporte a idéia de que <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que falam, constroem <strong>na</strong>rrativas quepossibilitam a organização do pensamento e que a interpelação de suas falaspudesse ser interpreta<strong>da</strong> como uma avaliação negativa e impedir que semanifestassem sobre os aspectos de interesse do estudo.Para Moscovici 22 e Lefebvre 23 , ano, a apreensão dos elementos de suacotidiani<strong>da</strong>de pelo indivíduo e a construção de representações sobre esse mundo,ocorre a partir <strong>da</strong>s referências dos grupos mais próximos como a família e a escola.Essa proposição orientou nosso interesse em identificar junto aos pais aspectos que22 MOSCOVICI, S. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis, Vozes,2004.23 TEDESCO, J.C. Paradigmas do Cotidiano: introdução à constituição de um campo de análisesocial. Cap. III e VI. R. S., Santa Cruz do Sul, EDUNISC, 1999.27


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIApudessem ser vistos como capazes de intermediar as significações construí<strong>da</strong>spelas crianças.Os procedimentos propostos para a coleta de <strong>da</strong>dos junto aos pais diferiram<strong>da</strong>s propostas de coleta junto às crianças. Para os pais do S1 e do S3 foramenviados questionários, sendo que no primeiro retor<strong>na</strong>ram quatro e, no segundosomente um, sendo que foi respondido pela irmã mais velha e não pela mãe ou pai.Com os pais do S2 foram realiza<strong>da</strong>s entrevistas semi-estrutura<strong>da</strong>s, individuais, <strong>na</strong>escola, em horários previamente agen<strong>da</strong>dos.A opção pelo questionário decorreu <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s para umcontato com as mães dos S1 e S3, em função <strong>da</strong>s suas ocupações profissio<strong>na</strong>is noprimeiro caso, sendo que no segundo caso, as razões não foram explicita<strong>da</strong>s. Adisponibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Direção, no S2 foi fator primordial <strong>na</strong> intermediação dos contatos.O conteúdo <strong>da</strong>s descrições foi gravado e em segui<strong>da</strong> transcrito, com objetivode obter as falas em sua totali<strong>da</strong>de. As descrições obti<strong>da</strong>s nos discursos e ossignificados que emergiram, à consciência de ca<strong>da</strong> sujeito, geraram um conjunto deinformações que foram submeti<strong>da</strong>s à análise.A análise dos discursosdistintos:A análise do discurso contido <strong>na</strong>s entrevistas compreendeu momentosO primeiro passo compreendeu a leitura <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s crianças e dos paisregistra<strong>da</strong>s <strong>na</strong> íntegra, a fim de obter um panorama geral do conteúdo manifesto.para que o pesquisador se familiarizasse com as experiências relata<strong>da</strong>s.Em um segundo momento, várias leituras dos discursos foram realiza<strong>da</strong>s, demodo a identificar convergências e divergências inter<strong>na</strong>s, e para que as expressõessignificativas para a compreensão do fenômeno, já previstas no roteiro ou queemergiram <strong>da</strong>s falas dos participantes pudessem ser separa<strong>da</strong>s do conjunto dodiscurso.28


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs discursos <strong>da</strong>s crianças e dos pais foram organizados emdimensões/uni<strong>da</strong>des passíveis de comparação. No universo <strong>da</strong>s dimensõesconsidera<strong>da</strong>s, foram delimita<strong>da</strong>s categorias relativas a uni<strong>da</strong>des de significadosencontra<strong>da</strong>s e isola<strong>da</strong>s nos discursos.Posteriormente, em terceiro lugar, as falas <strong>da</strong>s crianças e dos pais conti<strong>da</strong>snessas uni<strong>da</strong>des de significados foram transpostas para a linguagem <strong>da</strong>pesquisadora, e, em alguns momentos cruza<strong>da</strong>s segundo os segmentos a quepertenciam os participantes ou a amostra pesquisa<strong>da</strong>- crianças/ pais.Acompanhou todo esse estudo, pesquisa bibliográfica que subsidiou aproposta metodológica desenvolvi<strong>da</strong> e que possibilitou a construção do referencialteórico relativo às diferentes dimensões que envolvem o fenômeno que se constituiem objeto deste estudo. Nesse sentido, incluiu informações sobre a cultura infantojuvenilno mundo contemporâneo e construção do sujeito <strong>na</strong> era <strong>da</strong> tecnologia <strong>da</strong>sinformações, um olhar interdiscipli<strong>na</strong>r e histórico em relação à violência, segui<strong>da</strong> deum aprofun<strong>da</strong>mento teórico <strong>na</strong> compreensão <strong>da</strong> teoria denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> RepresentaçõesSociais, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as suas contribuições para explicar o conhecimento de senso-comumde fatos sociais. Entre os autores trazidos para subsidiar o olhar sobre a cultura, emespecial, a infanto-juvenil, estão Barbero, Bosi, Jobin&Souza, Mafessoli, TeixeiraCoelho. O estudo buscou em Foucault, Arendt, Dadoun, Jurandir Freire Costa, alémde Freud suporte para as reflexões relativas à violência e Tedesco, Moscovici eSchaff. Outros nomes circularam por todo o trabalho como Vygotsky, Tofler, Morin.O estudo compreendeu ain<strong>da</strong>, assistir ca<strong>da</strong> um dos desenhos citados pelascrianças e elaborar uma ficha técnica, que incluiu: país de origem, produção, ano deexibição, <strong>na</strong>rrativa, perso<strong>na</strong>gens e spin-off, informações obti<strong>da</strong>s em sua maioria emsites <strong>da</strong> Internet (anexo D). Trechos dos desenhos japoneses e norte-americanosmais comentados, foram gravados em CD e compõem este volume.Por fim, com base em to<strong>da</strong>s as falas e significações delas decorrentes e, comsuporte nos referenciais teóricos selecio<strong>na</strong>dos e em análise <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas eperso<strong>na</strong>gens dos desenhos foi possível proceder à descrição e análise do fenômenopesquisado.29


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 1CULTURA CONTEMPORÂNEA E MEIOS DE COMUNICAÇÃO:O LUGAR DAS CRIANÇAS“O coração modernizado pelas tecnologias, pelaveloci<strong>da</strong>de, pelos espaços modernizados...Não sesabe ao certo como isso aconteceu, como mu<strong>da</strong>mos epara onde estamos indo. Acelerando essa correntezacom novi<strong>da</strong>des que se inventam ca<strong>da</strong> sema<strong>na</strong> e sãoveicula<strong>da</strong>s pelas mídias, surgem as notícias <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>se dos amores, dos famosos, dos emergentes, dosávidos, e de qualquer catapultado à celebri<strong>da</strong>de porinstantes, que servem de referência para o vazio emque nos encontramos”30


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA1.1. Entendendo a Cultura Contemporânea Pós- Moder<strong>na</strong>Durante muito tempo o termo cultura esteve atrelado ao mundo <strong>da</strong> produçãoescrita, proveniente <strong>da</strong>s instituições de ensino e pesquisa, reconheci<strong>da</strong> comopertencendo às classes mais altas e segmentos mais protegidos <strong>da</strong> população.Mu<strong>da</strong>nças <strong>na</strong> conjuntura social fizeram com que essa idéia de cultura fosseabando<strong>na</strong><strong>da</strong> e o termo cultura passou a fazer referência ao conjunto de valores ebens her<strong>da</strong>dos e compartilhados por uma comuni<strong>da</strong>de ou a práticas que expressamum estado de espírito ou um comportamento coletivo.A cultura segundo Lefebvre 24 corresponde ao intercâmbio entre a ideologia ea práxis. A cultura é um modo de repartir os recursos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e, porconseguinte, de orientar a produção, entendendo por produção, não só a produçãode bens, mas a produção de si mesmo.As formas de as pessoas serem e estarem no mundo contemporâneo são oresultado de transformações que tiveram início com a industrialização e hojeassumem diferentes características, que se convencionou chamar de pósmoderni<strong>da</strong>de.Para entender um fenômeno é necessário conhecer o universo em que estáinserido, <strong>da</strong>í a necessi<strong>da</strong>de de identificarmos aspectos que caracterizam esse novotempo. Por outro lado, entender esse novo tempo significa buscar o contexto que ooriginou, o que nos remete a história, mais especificamente à Revolução Industrial.A industrialização contribuiu para que uma série de produtos fosse invadindonossos espaços e, esses produtos foram possibilitando novas formas de vi<strong>da</strong> emsocie<strong>da</strong>de. Dentre as novas invenções destacam-se as que geraram transformaçõesnos sistemas básicos de comunicação e resultaram em novas linguagenscomunicacio<strong>na</strong>is, de importância crucial para a integração <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des huma<strong>na</strong>s,até então liga<strong>da</strong>s por redes físicas, como as rodovias, as ferrovias e as vias pluviais.A industrialização trouxe consigo um grande contingente <strong>da</strong> população para aci<strong>da</strong>de, em busca <strong>da</strong> ascensão e do progresso, de modo que a partir do início do24 LEFEBVRE, Henry. A Vi<strong>da</strong> Cotidia<strong>na</strong> no Mundo Moderno. S. P., Ática, 1991.31


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAséculo XX foi possível assistir a alterações significativas <strong>da</strong>s formas de vi<strong>da</strong> <strong>na</strong>ci<strong>da</strong>de, atendendo à idéia e ao ideal de desenvolvimento que se instala com essanova ordem. As mu<strong>da</strong>nças estruturais, decorrentes <strong>da</strong> nova ordem econômica esocial que se estabeleceu, fizeram com que a cultura deixasse de ser homogênea.Surge a socie<strong>da</strong>de de massa e o homem médio que deixa de ser pensado em suaindividuali<strong>da</strong>de e passa a ser representado por diferentes estatísticas e, emdecorrência, o que se convencionou chamar de cultura de massa.De acordo com Bosi 25 , podemos classificar diferencialmente a cultura combase em diferentes critérios de análise. Se estabelecermos relação entre cultura econtrole, podemos falar em cultura alie<strong>na</strong><strong>da</strong> ou autônoma, já se o critério for valorese objetos, em cultura de classes (rico, pobre, burguês ou operário).Assim, considerando a cultura como um conjunto de bens compartilhados porum grupo, Bosi sugere uma divisão que extrapola a idéia de cultura erudita ouacadêmica e cultura popular, a primeira centra<strong>da</strong> no sistema educacio<strong>na</strong>l e oriun<strong>da</strong><strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des e a outra representa<strong>da</strong> por bens materiais e simbólicostradicio<strong>na</strong>is, denomi<strong>na</strong>dos de folclore. Intermediando esse dois campos culturais,Bosi aponta ain<strong>da</strong>, a cultura criadora, extra-universitária, delinea<strong>da</strong> por poetas,escritores e artistas em geral e a cultura de massa ou indústria cultural, emdecorrência dos tipos móveis de imprensa e <strong>da</strong> industrialização.Com relação à Indústria Cultural, a define como sendo regi<strong>da</strong> pelos mesmosprincípios <strong>da</strong> produção econômica, e difundi<strong>da</strong> em larga escala pelos meios decomunicação. De acordo com Bosi, a cultura de massa apesar de cortarverticalmente todos os extratos <strong>da</strong> população existe principalmente no interior <strong>da</strong>sclasses médias.A cultura produzi<strong>da</strong> <strong>na</strong>s academias, no entanto, ultrapassa seu universo, deorigem, pois diferentes meios de comunicação alimentam-se dela, de modo queseus conteúdos passam também a compor a cultura de massa.25 BOSI, Alfredo. Dialética <strong>da</strong> Comunicação. São Paulo, Companhia <strong>da</strong>s Letras, 1993.32


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIANo entanto, a cultura de massa ou indústria cultural é considera<strong>da</strong> como umesvaziamento <strong>da</strong> cultura erudita, não sendo vista como veículo de difusão de cultura,mas como forma de impedir acesso à mesma e destruir suas formas.O conceito de cultura de massa ou indústria cultural foi proposto por Adorno eHorkheimer <strong>na</strong> déca<strong>da</strong> de 30, que a<strong>na</strong>lisaram a produção industrial dos bensculturais como movimento global <strong>da</strong> cultura, com base no <strong>na</strong>zi-facismo vigente.Segundo Mattelart 26 , 1997, a produção cultural de acordo com a visão dos mesmos,assemelha-se à produção de qualquer mercadoria, atendendo a mesmaracio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de técnica, organização e planejamento administrativo, exigidos <strong>na</strong>produção de automóveis por exemplo, com fins de rentabili<strong>da</strong>de econômica econtrole social.A cultura de massa, num primeiro momento sofre acirra<strong>da</strong> crítica,principalmente <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> Escola de Frankfurt e a partir de 1960, os intelectuaisfrente à indústria cultural subdividem-se em apocalípticos e integrados. Foramdenomi<strong>na</strong>dos apocalípticos àqueles que se posicio<strong>na</strong>vam contra os meios decomunicação e à cultura de massa, e integrados, os que defendiam ademocratização, o acesso de milhões a essa cultura de lazer.É importante salientar que as diferenças culturais ficam demarca<strong>da</strong>sessencialmente pela linguagem, importante referencial que se constitui no principalproduto <strong>da</strong> cultura, assim como seu principal instrumento de transmissão.De acordo com Vygotsky 27 , a linguagem entendi<strong>da</strong> como um conjuntoespecífico de signos criados pelo homem para representar o mundo, além depossibilitar a comunicação entre os homens, é constituinte do humano, permite a eleinter<strong>na</strong>lizar o mundo e desenvolver formas de pensar e agir mais complexas.Da luz elétrica à televisão, dos computadores à Internet, foram muitas esignificativas, as mu<strong>da</strong>nças que atingiram os espaços urbanos, a arquitetura <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de, as relações entre as pessoas e em suas subjetivi<strong>da</strong>des, caracterizando oque se convencionou chamar de moderni<strong>da</strong>de.26 MATTELART, Armand & Michele. História <strong>da</strong>s Teorias <strong>da</strong> Comunicação. S.P., Loyola,1999, p.77.27 VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social <strong>da</strong> Mente. S.P., Martins Fontes, 1984.33


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO projeto <strong>da</strong> Moderni<strong>da</strong>de envolveu os três últimos séculos <strong>da</strong> CulturaOcidental Européia, iniciando-se no Século XVIII e firmando-se no século XIX.Porém, no início do século XX, propostas inovadoras vêm reestruturar as “ver<strong>da</strong>desexistentes” e alterar o núcleo do conhecimento humano.Em 1905, Einstein propõe a teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong>de e os conceitos de espaço etempo são revistos, deixando de existir em si mesmos, para só existirem em funçãode um observador, determi<strong>na</strong>ndo que <strong>na</strong><strong>da</strong> é igual o tempo todo e gerando umavisão relativista do universo. Mais tarde, propostas marxistas e o advento <strong>da</strong>Psicanálise contribuem com um novo pensamento sobre o social. Estastransformações constituem-se em marcos <strong>da</strong> Moderni<strong>da</strong>de.Na Moderni<strong>da</strong>de a questão nuclear é a linguagem, uma linguagem queaponta para a auto-referência e a auto-crítica, e se diversifica a partir do avanço <strong>da</strong>ciência, tendo essencialmente as funções metalinguística e estética a lhe conferiremesta posição.Até então, e principalmente no século XVI, um mesmo homem percorria oscaminhos <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong> técnica, <strong>da</strong> estética e outros tantos. Ain<strong>da</strong> no século XVII,Ciência e Religião formavam um par, onde aquele que propusesse a separaçãopoderia ser queimado em praça pública. Contrariamente ao que ocorria <strong>na</strong>Antigui<strong>da</strong>de, onde prevalecia a noção de que tudo no mundo era um contínuo, domundo <strong>na</strong>tural à historia psicológica do indivíduo, a Moderni<strong>da</strong>de assiste a umadescontinui<strong>da</strong>de no comportamento, no modo de pensar, de forma que aquilo queparecia indivisível, passa a ser fracio<strong>na</strong>do em partes, assi<strong>na</strong>lando assim a passagemdo sintético para o a<strong>na</strong>lítico.O projeto <strong>da</strong> Moderni<strong>da</strong>de traz consigo uma necessi<strong>da</strong>de dedesmembramento que resultou <strong>na</strong>s diferentes especializações do conhecimento,Ciência, Religião, Filosofia e Estética, e posteriormente em subdivisões dentrodessas especiali<strong>da</strong>des. Foi no interior desse processo, que arte e ciência setransformaram em campos opostos de atuação, percepção e compreensão domundo.34


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAUma característica <strong>da</strong> Moderni<strong>da</strong>de que decorre principalmente do avançotecnológico e dos meios de comunicação é a forte predominância <strong>da</strong> representaçãosobre o real. Esta predominância fica claramente demarca<strong>da</strong>, se observarmos queas situações fictícias <strong>da</strong>s telenovelas são trata<strong>da</strong>s como se fossem reais ou que sãofeitas referências a autores, como se fossem os próprios perso<strong>na</strong>gens por elescriados em determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s seções dos jor<strong>na</strong>is, <strong>da</strong>s populares às mais eruditas. A TVtambém traz para a tela atores mortos, levando a mais uma forma de representaçãodo real. Na moderni<strong>da</strong>de surge uma cultura de representação.A moderni<strong>da</strong>de não chegou a todos os lugares paralelamente e no Brasil, osprimeiros contornos <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de foram sentidos em meados do século XX.Segundo Teixeira Coelho 28 ”haverá tantas noções de moderno, modernismo emoderni<strong>da</strong>de quantos forem os espaços e os tempos considerados. Haverá aquela eesta moderni<strong>da</strong>de, uma moderni<strong>da</strong>de “deles” e a “nossa” moderni<strong>da</strong>de.” Isto sugereque ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de engajou-se <strong>na</strong> moderni<strong>da</strong>de de acordo com suasespecifici<strong>da</strong>des e em diferentes momentos.À socie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong> corresponde o avanço tecnológico que disponibilizapara o mundo uma série de produtos, que são substituídos ca<strong>da</strong> vez maisrapi<strong>da</strong>mente, alterando <strong>na</strong> mesma proporção o modo de vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de.No bojo <strong>da</strong> industrialização surge uma socie<strong>da</strong>de capitalista que tem oconsumo como propulsor do desenvolvimento. Ca<strong>da</strong> novo produto forja uma novanecessi<strong>da</strong>de, e os diferentes meios de comunicação, transformados em espaços deinteração social, disponibilizam estes produtos ao mesmo tempo em que sãoconsumidos e reinventados “...os ver<strong>da</strong>deiros modelos culturais são renegados, ou melhorsubstituídos pela padronização absoluta do desejo. As subjetivi<strong>da</strong>des contemporâneas se expressamcomo ‘kits de perfis-padrão que obedecem à órbita do mercado”. 29Segundo Vygotsky 30 , os diferentes signos e instrumentos presentes nodiferentes contextos constituem-se em mediadores de nossa relação com o mundoe, à medi<strong>da</strong> que conduzem a diferentes formas de agir, fazem com que as pessoas28 COELHO, Teixeira. Moderno- Pós Moderno. São Paulo: Editora Iluminuras, 1995.29 JOBIM E SOUZA, Solange. Infância, Violência e Consumo. In: JOBIM E SOUZA, Solange.Subjetivi<strong>da</strong>de em questão: a infância como crítica de cultura, R.J., 7 Letras., 2000, p.93.30 VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social <strong>da</strong> Mente. S.P., Martins Fontes, 1984.35


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAvenham a ser de uma ou de outra forma. Em diferentes lugares e ou em diferentesmomentos históricos, diferentes subjetivi<strong>da</strong>des são construí<strong>da</strong>s, deriva<strong>da</strong>s derelações específicas entre sujeito e objeto.O novo arranjo do tempo e <strong>da</strong>s relações dentro desse espaço-tempo, quecorresponde a esse avanço técnico, dá origem conseqüentemente a uma mobili<strong>da</strong>desocial. Esse período assiste a uma nova posição <strong>da</strong> mulher frente ao homem, doempregado frente ao patrão, do negro frente ao branco e <strong>da</strong> criança perante oadulto. Essas mu<strong>da</strong>nças englobam também a moral e a ideologia.Assim como a moderni<strong>da</strong>de surge a partir <strong>da</strong> Primeira Revolução Industrial,criando as máqui<strong>na</strong>s, o proletariado, as novas relações sociais e de trabalho, a pósmoderni<strong>da</strong>detem início no momento em que o desenvolvimento tecnológico passa aser mais refi<strong>na</strong>do e mais rápido, nos diferentes setores, entre eles o <strong>da</strong> eletrônica,partindo <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> TV para o computador e assistindo a substituição do sistemadigital pelo a<strong>na</strong>lógico.A partir <strong>da</strong>s imagens cria<strong>da</strong>s no computador, surge a reali<strong>da</strong>de virtualdesprendi<strong>da</strong> do modelo real, que permite ao sujeito ser mais do que um espectadore interagir com ela. A produção de imagens passa a pertencer ao terreno <strong>da</strong>ssimulações e não mais <strong>da</strong>s representações.O surgimento de uma socie<strong>da</strong>de tecnológica em substituição a umasocie<strong>da</strong>de industrial define novas formas de relacio<strong>na</strong>mento e vem caracterizar oque se convencionou chamar de pós- moderni<strong>da</strong>de. O termo pós-moderni<strong>da</strong>de éusado tanto para desig<strong>na</strong>r um estilo ou movimento, quanto to<strong>da</strong> uma conjuntura <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de pós anos 70.Em tempos pós-modernos não se ousa falar em uma única forma deexpressão cultural váli<strong>da</strong>, ocorre uma maior abertura para os diversos universosculturais e para a busca de novos esquemas conceituais, não sendo possívelestabelecermos uma níti<strong>da</strong> diferenciação entre características culturais entendi<strong>da</strong>scomo padrões, valores, hábitos, e fazendo emergir o conceito de culturas híbri<strong>da</strong>s.Não se pode falar com precisão sobre o início e as especifici<strong>da</strong>des <strong>da</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de. Alguns consideram que o termo só se aplique às socie<strong>da</strong>des do36


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPrimeiro Mundo e, surgem especulações sobre as possíveis <strong>da</strong>tas de seu início, quevariam de 1930 à aproxima<strong>da</strong>mente 1970, dependendo do contexto considerado,seja ele geográfico ou estético.O que fica evidenciado em algumas colocações, é que a cultura <strong>da</strong> pósmoderni<strong>da</strong>desó estaria acontecendo em países do Primeiro Mundo, e em função<strong>da</strong>s transformações por que passaram as artes, a ciência e a literatura no séculopassado. Pensando-se as condições em que se vive nos demais países, e que ascondições econômicas estão atrela<strong>da</strong>s às culturais, fica difícil pensar até mesmo emmoderni<strong>da</strong>de em países subdesenvolvidos.No entanto, Teixeira Coelho 31 afirma que esta relação não se aplica em todosos níveis e que podemos encontrar no universo estético, enquanto relativamenteautônomo, o elemento específico capaz de definir a pós-moderni<strong>da</strong>de, uma vez queele abarca uma multiplici<strong>da</strong>de de aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> contemporânea e, apontaGlauber Rocha, como indicativo de que a pós-moderni<strong>da</strong>de no Brasil teve início apartir dos anos 60.Numa tentativa de delinear os possíveis traços <strong>da</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de emconfronto com a moderni<strong>da</strong>de, Coelho serve-se dos mitos de Prometeu e deHermes. Prometeu seria visto como símbolo do homem moderno, por aspirarapoderar-se <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e Hermes, deus-mensageiro e aproximador, símbolo dointercâmbio e <strong>da</strong> composição entre os contrários, descompromissado com a idéia deuma ver<strong>da</strong>de única e disponível para o gozo dos prazeres imediatos. Estes mitosrevelam então as características de maior rigidez frente aos fatos que marca abusca do conhecimento <strong>na</strong> moderni<strong>da</strong>de, em contraste com a flexibi<strong>da</strong>de einevitabili<strong>da</strong>de que marcam os tempos pós- modernos.Além desses traços genéricos que apontam algumas diferenças entre os doismomentos, a questão temporal parece estabelecer uma maior diferenciação entreambas; a moderni<strong>da</strong>de pressupõe que os acontecimentos tenham um começo, umdesenrolar e uma solução linear em termos temporais, enquanto a pós-moderni<strong>da</strong>denão acredita <strong>na</strong> impossibili<strong>da</strong>de de um desfecho não resolvido e não pensa o tempo31 COELHO, Teixeira. Moderno & Pós Moderno. São Paulo: Editora Iluminuras, 1995.37


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcomo suporte de construção e realização de um projeto de vi<strong>da</strong> futura, enfatizando opresente, o aqui e agora.O pensamento pós-moderno despoja-se <strong>da</strong> idéia de identi<strong>da</strong>de permanente,<strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de e rege-se primordialmente pela aceitação <strong>da</strong>s instabili<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>heterogenei<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> relativização dos marcos referenciais e de doutri<strong>na</strong>stotalizantes. Diferentemente do que ocorreu até os anos 60, a negação <strong>da</strong>sinstituições é substituí<strong>da</strong> pela contestação. Isto significa que o pensamento pósmodernoadmite a existência de posições contrárias e seus adeptos, porém procuraengajamento em outras esferas, integrando as contradições.As repercussões do pensamento pós–moderno em termos culturais refletemessa característica integradora, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que não se observam oposições entreas culturas ditas eruditas e as culturas de massa e popular, e sim, uma maiorabertura para os diversos universos culturais e as diversas formas de sensibili<strong>da</strong>decontemporânea e a busca de novos esquemas conceituais, que privilegiem osensível e o sensorial, contrariamente ao que acontecia <strong>na</strong> moderni<strong>da</strong>de, em que seprivilegiava o intelectual e eventualmente se recorria ao sensível.Convém reforçar, que assim como diferentes estados, países, territóriosvivem o estado ou estágio <strong>da</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de, também as diferentes linguagensvivem diferentes estágios desse pensamento. Ca<strong>da</strong> linguagem tem um tempo e um espaçopróprios, o que significa que ca<strong>da</strong> uma é uma pós- moderni<strong>da</strong>de 32 .1.2. O mundo contemporâneo e as novas mediações culturaisPartindo <strong>da</strong> definição de cultura como um conjunto de valores e bensher<strong>da</strong>dos e compartilhados por uma comuni<strong>da</strong>de, ou ain<strong>da</strong> como um conjunto depráticas que expressam um estado de espírito ou um comportamento coletivo,buscamos compreender como a revolução tecnológica, que levou primeiramente ainstauração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de midiática, tendo a linguagem audiovisual como domi<strong>na</strong>nte32 COELHO, Teixeira. Moderno & Pós Moderno. São Paulo: Editora Iluminuras, 199538


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAe, as mídias a<strong>na</strong>lógicas, segui<strong>da</strong> <strong>da</strong>s digitais como suporte, determi<strong>na</strong>ram novasmediações no interior <strong>da</strong>s famílias e no contexto social mais amplo.1.3. A família, a infância e a socialização <strong>da</strong>s crianças <strong>na</strong>s diferentes culturasAs marcas <strong>da</strong> industrialização e <strong>da</strong> urbanização <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de contemporâneanão só resultaram em um novo conceito de família e, em novas e diversifica<strong>da</strong>sformas de interação, como vieram determi<strong>na</strong>r uma nova dinâmica de convivênciaentre seus integrantes <strong>na</strong> própria família e <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.Entender as representações infantis significa situar a criança no universo <strong>da</strong>cultura em que está inseri<strong>da</strong> e desven<strong>da</strong>r as diferentes mediações que as origi<strong>na</strong>m,considerando serem a estrutura familiar e o conceito de infância, importantesconstituintes <strong>da</strong> criança, e portanto, de sua representação de mundo.Uma breve retrospectiva histórica permite eluci<strong>da</strong>r esse discurso e favorece acompreensão do panorama atual. Para Ariès 33 , a infância tal como se inscreve nomundo atual, nem sempre existiu, tendo emergido no início do período moderno.Seus estudos deixam evidente a idéia de que o surgimento <strong>da</strong> infância estariaintimamente ligado ao surgimento <strong>da</strong> família moder<strong>na</strong> ou família conjugal, <strong>na</strong> qual asrelações priva<strong>da</strong>s entre pais e filhos tor<strong>na</strong>ram-se mais importantes, como diz Arièsdo que a honra <strong>da</strong> linhagem, a integri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> herança ou a i<strong>da</strong>de e permanência donome.As obras de arte pesquisa<strong>da</strong>s por Ariès revelam que durante a I<strong>da</strong>de Média eaté o século XII, a criança vivenciou um quase anonimato, uma vez que não existiuqualquer representação <strong>da</strong> criança. A ausência <strong>da</strong> palavra infância no dicionárioconstitui outro um indicativo <strong>da</strong> inexistência desse referente.A inexistência <strong>da</strong> infância como uma categoria específica indica que ascrianças não eram pensa<strong>da</strong>s como diferentes dos adultos, conviviam no meio deles,partilhavam de brincadeiras a experiências sexuais, com base em uma moral que33 ARIÈS, Philippe. História Social <strong>da</strong> Criança e <strong>da</strong> Família. R.J., LTC, 1981.39


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAnão estabelecia limites rígidos a uns e a outros, ensi<strong>na</strong>ndo-os, o que fazer e comoviver.Conta Ariès, sobre as ativi<strong>da</strong>des de um menino, futuro rei, que <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de dequatro a seis anos de i<strong>da</strong>de jogava arco, cartas, xadrez e participava de jogos dosadultos, como raquetes e inúmeros outros jogos de salão. Também assistia a lutasentre os bretões, ao espetáculo de cães lutando com ursos, e participava <strong>da</strong>s festastradicio<strong>na</strong>is de Natal e dos Reis. Aos sete anos, jogava <strong>da</strong>dos com fi<strong>da</strong>lgos do rei,aprendeu a matar, a caçar, a atirar e a praticar jogos de azar, ao mesmo tempo emque continuava a brincar de bonecas.Nessa estrutura familiar que antecedeu à industrialização, as trocas afetivas ea socialização transcorriam fora <strong>da</strong> família, num contexto povoado por vizinhos,homens e mulheres, crianças, velhos, amos e criados, sendo a passagem <strong>da</strong> criançapela família construí<strong>da</strong> <strong>na</strong> diversi<strong>da</strong>de.“Essa família antiga tinha por missão senti<strong>da</strong> por todos - a conservação dos bens, aprática comum de um ofício, a aju<strong>da</strong> mútua quotidia<strong>na</strong>, num mundo em que umhomem e mais ain<strong>da</strong> uma mulher isolados não podiam sobreviver e, ain<strong>da</strong> noscasos de crise, a proteção <strong>da</strong> honra e <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s. Ela não tinha função afetiva.” 34O sistema de parentesco era a forma pela qual os indivíduos se reconheciamno mundo: ser filho, parente, compadre, cabra, escravo do senhor proprietário,conferia os limites e possibili<strong>da</strong>des para ca<strong>da</strong> indivíduo.A industrialização e urbanização fizeram surgir uma nova família. A partir doséculo XVIII, a família conjugal (pai, mãe, filhos, avós) forma<strong>da</strong> por poucosintegrantes se fortalece. Essa família tem como características a per<strong>da</strong> deimportância do parentesco extenso, independência econômica dos filhos, aumento<strong>da</strong> participação <strong>da</strong> mulher no sistema produtivo, <strong>na</strong>tali<strong>da</strong>de planeja<strong>da</strong> e reduzi<strong>da</strong>,acarretando a conseqüente diminuição <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de pater<strong>na</strong>.A família nuclear condiz com a socie<strong>da</strong>de industrial, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que seusmembros são voltados para si e não mais para um agrupamento maior. Suas34 ARIÈS, Philippe. História Social <strong>da</strong> Criança e <strong>da</strong> Família. R.J., LTC, p.139.40


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfunções se restringiram à socialização <strong>da</strong> criança e estabilização <strong>da</strong>s perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>desadultas, e a afetivi<strong>da</strong>de passa a fazer parte e manter as relações dessa nova família.Assim, paralelamente ao surgimento de uma família reduzi<strong>da</strong> <strong>na</strong>sce um novosentimento de infância acompanhado de uma mu<strong>da</strong>nça de mentali<strong>da</strong>de, que incluiproteção, cui<strong>da</strong>do e atenção à criança.Ao conceito de infância fica atrela<strong>da</strong> a idéia de que a criança é detentora deuma pureza a ser resguar<strong>da</strong><strong>da</strong> e, que se deve preservar a morali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança. AIgreja se opõe significativamente à idéia de que os jogos fossem inofensivos àscrianças, razão para proibi-los.Segundo Calligaris, dentro de um referencial moderno, o conceito de infânciapressupõe a criança como um caricatura <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de impossível ”... vesti<strong>da</strong> de feliz,isenta <strong>da</strong>s fadigas do sexo e do trabalho, idealmente despreocupa<strong>da</strong>...” 35Como as crianças de determi<strong>na</strong>dos segmentos <strong>da</strong> população não tinham asmesmas oportuni<strong>da</strong>des era negado a determi<strong>na</strong>dos setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>deexpressarem o sentimento de Infância. No entanto, o fato de o conceito de infâncianão atingir determi<strong>na</strong>dos grupos sociais, não significa negar a origem e a existênciade amor nessa relação, mas sim, reconhecer que ape<strong>na</strong>s determi<strong>na</strong>dos grupostinham legitimi<strong>da</strong>de para desfrutar desse sentimento.Embora a moderni<strong>da</strong>de tenha trazido um novo olhar sobre a criança, umolhar mais preocupado com sua proteção e sustentado em uma nova moral, isto veioimpedir que as crianças participassem <strong>da</strong>s mesmas experiências que os adultos, demodo que seus mundos foram significativamente demarcados. O afastamento <strong>da</strong>criança dos adultos foi uma <strong>da</strong>s conseqüências mais radicais do sentimentomoderno <strong>da</strong> infância, afirma Ariès.De forma diferente do que acontecia antes <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de, crianças eadultos hoje, têm espaços determi<strong>na</strong>dos por limites específicos e não mais semisturam, constituem suas histórias separa<strong>da</strong>mente.35 CALLIGARIS, Contardo. O reino encantado chega ao fim. A Folha de São Paulo, Caderno Mais, jul1995.41


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO distanciamento entre adultos e crianças veio favorecer novas formas desociabili<strong>da</strong>de decorrentes <strong>da</strong> aproximação com as novas tecnologias presentes nomundo contemporâneo e possibilitar identificações em que o Outro é <strong>da</strong> ordem dotelevisivo e do virtual.Não são mais os Outros semelhantes a nós, as pessoas <strong>da</strong> família e <strong>da</strong>snossas relações que contam suas histórias, que falam e deixam falar. Assim comoas <strong>na</strong>rrativas ficcio<strong>na</strong>is, as <strong>na</strong>rrativas do cotidiano também são recria<strong>da</strong>s eapresenta<strong>da</strong>s para as crianças por meio dos diferentes meios de comunicação, demodo que o mundo real dá lugar ao televisual.Em outros tempos, os contatos <strong>da</strong>s crianças com seus pares ocorriam <strong>na</strong>sruas, através de conversas <strong>na</strong>s calça<strong>da</strong>s, <strong>da</strong>s pela<strong>da</strong>s, do pega-pega, <strong>da</strong> brincadeirade casinha. Os brinquedos, <strong>na</strong> maioria improvisados, surgiam e ganhavam novasarticulações graças à imagi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong>s crianças.A revolução técnico-industrial veio transformar significativamente este cenárioe construiu para crianças e jovens um universo amplo e diversificado de objetosdesti<strong>na</strong>dos ao lazer, ao mesmo tempo em que passou a bombardeá-los deinformação, fazendo inclusive com que o Outro de suas relações, fosse fortementeconstituído pelos produtos <strong>da</strong> mídia.As transformações culturais vieram também delimitar um novo espaço debrincadeiras, que deixou de ser a rua para se situar dentro <strong>da</strong>s próprias casas e ouse restringindo ain<strong>da</strong> mais para dentro, no próprio quarto, de modo que asbrincadeiras de ontem aparecem de roupa nova, tendo como suporte os meios decomunicação impressos ou audiovisuais, ou constituindo-se eles mesmos nospróprios brinquedos.A rede de relações entre as famílias não mais se faz independente dosconteúdos <strong>da</strong> mídia, ora giram em torno dela, pois crianças e adultos interagem <strong>na</strong>presença deles, tendo seus conteúdos como fundo, ou muitas vezes os conteúdostratados <strong>na</strong> mídia se constituem no conteúdo <strong>da</strong>s relações. As experiências pessoaisassumem um segundo plano, as histórias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um são menos42


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAsignificativas do que as histórias dos protagonistas que encar<strong>na</strong>m os diferentesperso<strong>na</strong>gens.Segundo Jobim 36 , as crianças assimilam muito cedo e com rapidez os valoresque atuam como manipuladores dos significantes sociais, de maneira que nãoconsomem o objeto em si, mas aquilo que o objeto representa para as pessoas queo possuem.E é por essa ótica do consumo, reconhecido como um consumidor, queapesar do afastamento em relação ao adulto, a criança não rompe com o mundoadulto. De início a criança é introduzi<strong>da</strong> <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de de consumo a partir <strong>da</strong>sproduções culturais diretamente direcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s a elas, mais tarde passam a consumiros produtos derivados dessas produções como as camisetas, mochilas e outrosobjetos , movimentando um extenso e diversificado mercado.Para Vasconcelos ”A infância, não é um momento ape<strong>na</strong>s de formação - como a históriavem nos ensi<strong>na</strong>ndo, mas de adestramento para as perspectivas históricas <strong>da</strong> família” 37 e, à famílianuclear corresponde um homem cujo perfil é marcado pela individuali<strong>da</strong>de, pelabusca do patrimônio e pelo estabelecimento de uma política de produção econsumo, de modo que a educação vai se incumbindo de garantir essa proposta.No mundo moderno, assim como ocorria <strong>na</strong> família patriarcal, a criança devegarantir a manutenção <strong>da</strong>s perspectivas ideológicas dessa família e, para isso sofreum processo de adultização. O econômico e o consumo são os elementos que vêemgarantir a sua participação <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.“Percebe-se uma proposta à criança, no sentido de fazê-la não só reprodutora dosvalores sociais <strong>da</strong> família, e reprodutora <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong>de social, como transgressorae, nesse sentido, a mídia adentra para o campo <strong>da</strong>s influências e <strong>da</strong> transgressão,<strong>da</strong> adultização, não só pela garantia do poder econômico, mas para <strong>da</strong>r-lhe36 JOBIM e SOUZA, S. Ladrões de Sonhos e Sabonetes. In. JOBIM e SOUZA, S. Subjetivi<strong>da</strong>de emquestão : a infância como crítica <strong>da</strong> cultura. R.J., 7 Letras, 2000, p.106.37 VASCONCELOS, Paulo Alexandre C. Mediações Culturais e a Reificação <strong>da</strong> Infância. In:VASCONCELOS, Paulo Alexandre C. Comunicação e Imaginário <strong>na</strong> Cultura Infanto-Juvenil. S.P.,Zouk, 2001, p.14.43


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAidenti<strong>da</strong>de a partir <strong>da</strong> participação dos cânones, produtos e performances que asocie<strong>da</strong>de acata no discurso midiático.” 38É importante ressaltar ain<strong>da</strong>, que o novo papel <strong>da</strong> mulher <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de etornou mais escassa a presença <strong>da</strong>s mães nos lares junto às crianças, fato quetambém contribuiu para a estreita relação entre as crianças e os produtos <strong>da</strong>revolução tecnológica.Castro, 2004, afirma que ficar em casa significa ter que preencher o tempovazio, quando não se tem <strong>na</strong><strong>da</strong> que fazer, a não ser as tarefas <strong>da</strong> escola ou aju<strong>da</strong>r amãe, presente ou ausente, com as tarefas domésticas. Para preencher o tempo,para gastá-lo, crianças e jovens, ca<strong>da</strong> vez mais sozinhas buscam algo ou alguémcom quem possam desfrutar esse espaço e assim, a maioria <strong>da</strong>s crianças e jovensficam imersas <strong>na</strong> tecnologia.“... Se fico em casa, logo ligo a televisão , já que não tenho <strong>na</strong><strong>da</strong> que fazer...Gostode ficar <strong>na</strong> sala vendo televisão, às vezes vou <strong>na</strong> cozinha, como lanche e vejo maistelevisão...Meus irmãos tão <strong>na</strong> escola, minha mãe no trabalho; aí fico sozinha, vejominha televisão, arrumo a casa para minha mãe.” 39Castro, 2004, a<strong>na</strong>lisa os deslocamentos <strong>da</strong>s crianças e jovens no mundocontemporâneo e mostra que são poucos os espaços urbanos em que a criança e ojovem de hoje têm a oportuni<strong>da</strong>de de se deslocar.Segundo a pesquisa que realizou junto a adolescentes no Rio de Janeiro, odeslocamento é desejado por eles, mas nem sempre aprovado pelos pais, o que sejustifica em função <strong>da</strong> nova ordem dos contextos urbanos, de perigos e deestranhamentos reforçados paradoxalmente pela violência decorrente do nãoreconhecimento do que venha a ser diferente de si. Neste sentido, são poucas asexperiências concretas vivi<strong>da</strong>s, o que faz com que as possíveis experiências de38 VASCONCELOS, Paulo Alexandre C. Mediações Culturais e a Reificação <strong>da</strong> Infância. In:VASCONCELOS, Paulo Alexandre C. Comunicação e Imaginário <strong>na</strong> Cultura Infanto-Juvenil. S.P.,Zouk, 2001, p.14-15.39 CASTRO, Lucia Rabello de. A Aventura Urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro. 2002, p.44.44


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdeslocamento incitem a curiosi<strong>da</strong>de fazendo crianças e jovens imagi<strong>na</strong>rem comoseria isso ou aquilo.Não só o espaço <strong>da</strong>s brincadeiras, como os brinquedos atendem a essa novaordem. Pensar a criança e o jovem significa pensar questões decorrentes <strong>da</strong>evolução tecnológica.1.3.1. As diferentes linguagens: marcas de um novo tempo e de novasrelaçõesO deslocamento de contingente significativo de parte <strong>da</strong> populaçãoconstituí<strong>da</strong> por artesãos, operários, prestadores de serviço, comerciantes ebiscateiros do eixo rural para o urbano, configurou-se como terreno propício paraque empresários se voltassem para uma produção industrial e mecaniza<strong>da</strong> de benssimbólicos a ser consumi<strong>da</strong> sem maiores comprometimentos”...cria-se assim, para essepúblico, a industria cultural como se criara para a elite o mercado <strong>da</strong> arte -era a produção simbólicaque se mercantilizava em todos os níveis <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de”. 40Na déca<strong>da</strong> de 50, as possibili<strong>da</strong>des de registro e reprodução, alia<strong>da</strong>s acombi<strong>na</strong>ção de diferentes linguagens fizeram surgir os diferentes veículos decomunicação, capazes de atingir um grande contingente de pessoassimultaneamente e proporcio<strong>na</strong>ndo a ampla divulgação <strong>da</strong> cultura de massa. Orádio, a televisão e o cinema são os marcos desse novo mundo. A indústria docinema passou a investir fortemente no público <strong>infantil</strong>, ao mesmo tempo em que aTV se populariza, povoando o mundo <strong>infantil</strong> de novos estímulos sensoriais eengendrando-as fortemente em uma cultura de representação.Mais tarde, por volta dos anos 80, surgem os primeiros videogames e ovideocassete, aproximando-os ca<strong>da</strong> vez mais do mundo <strong>da</strong>s imagens e definindoformas específicas de interação com o mundo. O desenvolvimento dos sistemas detelecomunicações e sua associação com a Informática, fizeram com que as criançasca<strong>da</strong> vez mais ficassem imersas no universo <strong>da</strong>s tecnologias.40 CASTRO, Lucia Rabello de. A Aventura Urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro, 2002, p.41.45


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO computador, a Internet, a TV a cabo, o celular e os games criam umuniverso diferenciado de relações. Essa nova tecnologia que se convencionouchamar digital 41 , fez emergir de forma significativa, as socie<strong>da</strong>des em rede <strong>da</strong>ndoorigem ao que se convencionou chamar Cibercultura.À cultura contemporânea corresponde uma socie<strong>da</strong>de marca<strong>da</strong> pela relaçãoentre computadores, entre computadores e outras mídias, entre os diferentesusuários e a máqui<strong>na</strong>, envolvendo diferentes discursos construídos a partir <strong>da</strong>combi<strong>na</strong>ção de diferentes linguagens, e favorecendo a construção de um amplohipertexto 42 .As novas linguagens e suas intersecções correspondem a uma intrica<strong>da</strong> rede.O aprendizado sobre o mundo, a comunicação com os amigos, a lição de casa e abrincadeira estão atrelados ao contato com a TV, o vídeo, o DVD, o videogame e ocomputador.Criar pági<strong>na</strong>s, construir blogs 43 , interagir no orkut ou no massinger assimcomo jogar ou <strong>na</strong>morar são possibili<strong>da</strong>des do mundo virtual, redefinido em um novotempo e espaçoO celular também compõe o universo dos acessórios <strong>da</strong>s novas gerações edefinem formas específicas de relacio<strong>na</strong>mento, como alter<strong>na</strong>tivas às ligações:mensagens de texto (torpedo), e-mail, e múltiplas funções como agen<strong>da</strong>, rádio, TV,secretária e banco eletrônico, além de entretenimentos.Há poucos anos a média de i<strong>da</strong>de para começar a usar celular era 13 anos,hoje ca<strong>da</strong> vez mais cedo as crianças fazem uso dele e, se constituem no público que41 Resultante <strong>da</strong> tradução <strong>da</strong> linguagem visual ou sonora produzi<strong>da</strong> por qualquer veículo ou técnicapara a linguagem numérica.42 Um conjunto de nós ligados por conexões, onde os nós podem ser palavras, imagens, gráficos,seqüências sonoras e outros hipertextos, articulados de forma não linear. A função do hipertexto podeser de comunicação, informação ou organização de conhecimentos.43 Diário virtual- uma pági<strong>na</strong> <strong>da</strong> Web cujas atualizações (chama<strong>da</strong>s posts) são organiza<strong>da</strong>scronologicamente. Estes posts podem ou não pertencer ao mesmo gênero de escrita, referir-se aomesmo assunto ou ter sido escritos pela mesma pessoa. A maioria dos blogs são miscelâneas ondeos blogueiros escrevem com total liber<strong>da</strong>de.46


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAmais consome celulares, computadores, MP3 44 e Ipod´s 45 . Além de divertimento ecomodi<strong>da</strong>de a tecnologia proporcio<strong>na</strong> prazer e, com ela vem embutido um certostatus por possuir determi<strong>na</strong>do produto.Em redes de fast food tem sido normal ver diversos adolescentesintercalarem uma batata frita com uma digita<strong>da</strong> no laptop, já que algumas delastor<strong>na</strong>ram-se em ponto de encontro para jovens baixarem música, acessarem site derelacio<strong>na</strong>mentos orkut e conversarem pelo MSN.Do ponto de vista comercial, para atingir este público as estratégias maiseficientes são campanhas em TV, games e Internet, ou seja, ferramentas visuais,uma vez os jovens familiarizados com as tecnologias são capazes de absorver umareali<strong>da</strong>de mais sofistica<strong>da</strong> em termos de informações.Seja por comodi<strong>da</strong>de ou por simples prazer em utilizar as inovaçõestecnológicas, o fato é que os jovens dessa geração se comunicam e se relacio<strong>na</strong>mca<strong>da</strong> vez mais distantes uns dos Outros.As conexões proporcio<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelos espaços virtuais fizeram desaparecer anoção de público constituí<strong>da</strong> por grupos anônimos de pessoas, conectados à redecomo uma massa. As inúmeras possibili<strong>da</strong>des técnicas vieram garantir apossibili<strong>da</strong>de de uma interativi<strong>da</strong>de que assume um novo formato, que privilegia umarelação mais individualiza<strong>da</strong> e a construção de uma rede de significações maisespecífica, a partir dos hipertextos construídos.“As salas abertas de bate-papo <strong>na</strong> Internet cumprem, muitas vezes, a fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de deestarem juntos e virtualmente, repassando o dia-a dia. ... A fugaci<strong>da</strong>de dos temas eassuntos parece refletir o cotidiano urbano: veloz e fugaz. Alia<strong>da</strong> aodescompromisso de estar ali conversando, uma vez que um pode entrar e outrosair sem mais nem menos, ou ser expulsa (quica<strong>da</strong>) pelo operador de ca<strong>na</strong>l, a44 Meio popular de distribuição de canções45 Ipod é um meio que armaze<strong>na</strong> mídia em um disco rígido acoplado, enquanto os modelos menores,o IpodNano, usam memória flash. Como a maioria dos players portáteis digitais, o Ipod pode servircomo um armaze<strong>na</strong>dor de <strong>da</strong>dos quando conectado a um computador47


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAconversa nos chats não cumpre a função de apresentar desafios para umaelaboração mais profun<strong>da</strong> do que se viveu”. 46A busca pela compreensão de como as crianças ressignificam o mundo, econstroem suas identi<strong>da</strong>des passa por uma compreensão do contexto sócio-culturalem que estão inseridos.Nesse sentido, pensar a cultura infanto-juvenil emergente significa pensar acriança e o jovem como produto e sujeito de uma socie<strong>da</strong>de tecnológica. Produto,porque as crianças e os jovens de hoje, <strong>na</strong>sceram e vêem se constituindo, dentro deum universo povoado por uma série de objetos, instituições e relações determi<strong>na</strong><strong>da</strong>sa partir <strong>da</strong>s transformações decorrentes dos avanços tecnológicos, em especial dosmeios de comunicação, uma vez que dela se apropriam, fazendo uso de maneiraprópria.Uma vez que com as tecnologias <strong>da</strong> comunicação novas noções de tempo eespaço são experimenta<strong>da</strong>s, os referentes <strong>da</strong>s relações deixam de ser proximi<strong>da</strong>de,vizinhança, parentesco para se estruturarem em função de interesses comuns. Aocontrário do que ocorre com outras mídias, em que a informação fica disponível emum determi<strong>na</strong>do horário, o acesso à rede pode acontecer em qualquer tempo.A identificação e a compreensão <strong>da</strong> cultura infanto-juvenil no mundocontemporâneo implica um olhar sobre estes aspectos, que indubitavelmente sãodetermi<strong>na</strong>ntes.1.3.2. Cultura Pós- Moder<strong>na</strong> e Modos de SubjetivaçãoEsta nova civilização que traz consigo novos estilos de família, modos detrabalhar, brincar, amar e viver diferentes, uma nova economia, novos conflitospolíticos, transformações <strong>na</strong>s artes e <strong>na</strong>s ciências e implicam igualmente em uma46 CASTRO, Lucia Rabello de. A aventura urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro. R.J., FAPERJ/7Letras, 2004.48


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAconsciência altera<strong>da</strong>, nos permitem falar em novos modos de subjetivação, comopropõe Saraiva 47 .A idéia de um eu e de uma identi<strong>da</strong>de, privados, únicos e singulares, cujodesenvolvimento compreende e obedece a uma ordem linear e pré-determi<strong>na</strong><strong>da</strong>,com início <strong>na</strong> infância e término <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adulta é típica <strong>da</strong> Moderni<strong>da</strong>de e, adesintegração <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de, uma <strong>da</strong>s marcas mais significativas dessa novaera, ou dessa nova On<strong>da</strong>, a terceira, como propôs Tofler, 1980.O esvaziamento deste sujeito individual tem sido proclamado e interpretadopor diferentes teóricos e suas hipóteses contribuem para a compreensão dos novosmodos de subjetivação. A morte do sujeito moderno compreende a ruptura com umamoral domi<strong>na</strong>nte e universal em substituição a uma ética relativiza<strong>da</strong>, volta<strong>da</strong> para ocoletivo, dependente de grupos ou tribos.“A ruí<strong>na</strong> dos grupos sociais consoli<strong>da</strong>-se me torno dos grupos e galeras urba<strong>na</strong>sentricheirados em hostes estetiza<strong>da</strong>s pelos hábitos de consumo. Patricinhas,grungers, mauricinhos, punks, <strong>da</strong>rks. Parece marcante também o ódio àqueles quenão pertencem a suas hostes, que se reverte em manifestações de cruel<strong>da</strong>de emrelação a eles, num ato que representa um retrocesso <strong>da</strong>s relações, uma vez queesse padrão de comportamento já existia há alguns séculos”. 48A construção de uma subjetivi<strong>da</strong>de típica dessa nova era estaria liga<strong>da</strong> aquestões <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de e sociabili<strong>da</strong>de. Caracteriza-se por um esvaziamento dosujeito, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que o rompimento com a articulação entre passado, presentee futuro nos conduziria a um eterno presente e a uma per<strong>da</strong> do sentido <strong>da</strong> história econseqüentemente de nossa herança cultural e simbólica. Sem passado nosdesvencilhamos de uma experiência coletiva e compartilha<strong>da</strong> para vivermos umaexperiência individual que não é efeito de relacio<strong>na</strong>mento social.47 SARAIVA, J.E.M. Do individualismo moderno ao <strong>na</strong>rcisismo contemporâneo: a produção <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de do consumo. In. JOBIM e SOUZA, S. Subjetivi<strong>da</strong>de em questão : ainfância como crítica <strong>da</strong> cultura. R.J., 7 Letras, 2000.48 MAFESSOLI, M. O tempo <strong>da</strong>s tribos: o declínio do individualismo <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des de massa. R.J.,Forense, 1987,49


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASão marcas desse novo mundo, relações huma<strong>na</strong>s ca<strong>da</strong> vez mais vazias eindiretas, e crise dos valores morais que serviam como medi<strong>da</strong> para oestabelecimento de identi<strong>da</strong>des de modo que ...”hoje os indivíduos se sentem órfãos deideais imaginários, de modelos de auto-percepção” 49 . Isso conduz a crescentes índices dedependentes <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s drogas, estados de estresse e depressão,acompanhados do aumento de violência e van<strong>da</strong>lismo.A partir dessas considerações buscou-se encaminhar as discussões parauma maior compreensão de que as formas de violência que marcam o mundocontemporâneo, não devem ser busca<strong>da</strong>s em espaços específicos, mas no conjunto<strong>da</strong>s situações que permeiam este novo tempo.O capítulo que se segue reúne contribuições de pensadores de diversasáreas do conhecimento <strong>na</strong> tentativa de mapear o fenômeno <strong>da</strong> violência.49 Jor<strong>na</strong>l do Brasil . Em busca do sujeito contemporâneo: Psica<strong>na</strong>listas se reúnem para debater osefeitos <strong>da</strong> globalização sobre o homem. Pronunciamento de Jurandir Freire Costa.50


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 2MAPEANDO A VIOLÊNCIA“Sempre que alguém quer e realiza o mal do outro,alguma coisa mo mundo de desestrutura; to<strong>da</strong> ação oupalavra perversa, to<strong>da</strong> a injustiça é um crime contra a<strong>na</strong>tureza mais ampla, que nos inclui, a nós, sereshumanos, vulneráveis e grandiosos, patéticos e dignostudoisso por sermos ape<strong>na</strong>s humanos”.Lia Luf51


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEste capítulo busca uma compreensão do fenômeno – violência −caminhando em busca de suas raízes e fazendo um percurso de identificação <strong>da</strong>sdiferentes possibili<strong>da</strong>des de conceituação que lhe têm sido atribuí<strong>da</strong>s, considerandoseteóricos e contextos diversos.2.1. Raízes <strong>da</strong> violência no homemMuitos são os estudos que preferem explicar a violência, com base <strong>na</strong> noçãode agressivi<strong>da</strong>de ti<strong>da</strong> como um processo primário presente em todo ser humano edescartando <strong>da</strong> violência os aspectos sociológicos nele contidos. Com relação àagressivi<strong>da</strong>de também tem sido pensa<strong>da</strong> com base <strong>na</strong> etimologia <strong>da</strong> palavraagressão, ad gradior, que significa mover-se para adiante, fazendo com quenecessariamente não seja compreendi<strong>da</strong> como destrutiva, maléfica ou anormal, mascomo uma tendência i<strong>na</strong>ta para crescer e domi<strong>na</strong>r a vi<strong>da</strong>, predispondo o homem aoataque e ao combate.Buscando um aprofun<strong>da</strong>mento com relação à temática agressivi<strong>da</strong>de,Michaud 50 faz um recorte que perpassa por diversas áreas do conhecimento como aneurologia, a etologia e a antropologia pré-histórica, além de contribuições deestudos <strong>da</strong> psicologia e <strong>da</strong> psicanálise.O caminho percorrido por Michaud permitiu constatar que do ponto de vistaneurológico, a agressivi<strong>da</strong>de consiste em uma resposta <strong>na</strong>tural do organismo àssituações de estresse, podendo ter origem em um desequilíbrio, surgindo paracombatê-lo ou ain<strong>da</strong>, se constituir em elemento desencadeador de síndromes dea<strong>da</strong>ptação gerais (modificações endócri<strong>na</strong>s, metabólicas, perturbaçõescardiovasculares) e locais (reações inflamatórias, úlceras, abcessos). Relata aexistência de pesquisas que mapearam os centros desencadeadores e inibidores <strong>da</strong>agressivi<strong>da</strong>de, assim como as manipulações farmacológicas, demonstrando arelação entre agressivi<strong>da</strong>de e bases neurológicas. Reconhece também, que aocolocarem em evidência as bases neurológicas <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de, essas pesquisas50 MICHAUD, YVES. A Violência. S.P., Ática, 1989.52


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAnão levam em consideração as significações aprendi<strong>da</strong>s, nem mesmo o simbolismoenvolvido no desencadeamento e controle <strong>da</strong>s mesmas.Michaud mostra, com base em estudos desenvolvidos pela etologia, quefocam o comportamento animal em seu ambiente <strong>na</strong>tural, ser possível concluir que aagressivi<strong>da</strong>de não é aprendi<strong>da</strong>, é própria do homem e de outros animais. No casoaos animais a agressivi<strong>da</strong>de é intra específica, funcio<strong>na</strong>ndo de modo programado eautomático, além de ter funções precisas – permite a repartição territorial segundoos recursos dos nichos ecológicos, o estabelecimento de hierarquias sociais,intervém <strong>na</strong> seleção dos parceiros sexuais−levando o animal a responder aestímulos específicos e a emitir comportamentos determi<strong>na</strong>dos.... “os animais deespécies diferentes se evitam dispersando-se e só a relação de pre<strong>da</strong>ção dá lugar a confrontos quenão são particularmente cruéis; o pre<strong>da</strong>dor mata sua presa e esta procura fugir ou defender-se. “ 51A agressivi<strong>da</strong>de intra-específica, uma vez que orienta<strong>da</strong> por armas dosanimais como garras, chifres, dentes é pouco destrutiva e associa-se à ritualização,o que a redirecio<strong>na</strong> ou a tor<strong>na</strong> simbólica. Os estudos etológicos mostram que emsituações artificiais ou de fracasso do instinto, os animais desenvolvemcomportamentos patológicos. Tais estudos permitem concluir ain<strong>da</strong>, que aagressivi<strong>da</strong>de é i<strong>na</strong>ta e tem funções positivas <strong>na</strong> a<strong>da</strong>ptação <strong>da</strong> espécie, aspectomais difícil de ser reconhecido no homem.A antropologia pré-histórica explica a agressão a partir <strong>da</strong> perspectivaevolucionista, referindo-se ao momento em que o macaco, em pé, com as mãoslivres, cria instrumentos, parte para a caça, rompe com a <strong>na</strong>tureza animal, tor<strong>na</strong>-secarnívoro, um pre<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> caça e de seus semelhantes.As armas, a inventivi<strong>da</strong>de e as técnicas aumentam as possibili<strong>da</strong>des deestragos pelo homem e do ponto de vista <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> espécie, isso se deu umavez que ele, inicialmente medroso, se transformou em des<strong>na</strong>turado e conquistador,levando a concluir que a cultura tornou os instintos perigosos.“Em oposição aos animais −que em sua imediatici<strong>da</strong>de e <strong>na</strong> ausência deproibições, não são nem pacíficos, nem cruéis, mas simplesmente <strong>na</strong>turais, cujos51 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p. 73.53


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAacessos de fúrias nunca são excessos− em matéria de violência a humani<strong>da</strong>decomplica, inventa, acrescenta e refi<strong>na</strong>: transgride com furiosa inventivi<strong>da</strong>de.” 52Esses estudos permitem considerar que a agressivi<strong>da</strong>de no homeminicialmente teve caráter a<strong>da</strong>ptativo, porém, mais tarde, quando este começou aviver em grupo e se apoderar <strong>da</strong>s técnicas, o instinto foi se tor<strong>na</strong>ndo nocivo. Noentanto, dentro <strong>da</strong> perspectiva antropológica, o homem não teve sua <strong>na</strong>turezaanimal ameaça<strong>da</strong> pela cultura, sendo um animal cuja des<strong>na</strong>turação é sua própriaessência. A agressivi<strong>da</strong>de do homem tem a ver com a sua inventivi<strong>da</strong>de, que o tira<strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de do mundo animal, a partir dos instrumentos que cria e que sãodesti<strong>na</strong>dos ao conhecimento.Neste sentido a violência huma<strong>na</strong> é fun<strong>da</strong>dora <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, representauma transgressão à continui<strong>da</strong>de <strong>na</strong>tural. Por outro lado, o homem ao mesmo temponutre uma sensação de nostalgia pela situação de não pertencimento ao mundoanimal e reage de forma violenta, no sacrifício, <strong>na</strong> cruel<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> destruição,demonstrando uma imagi<strong>na</strong>ção incrível a serviço <strong>da</strong> produção <strong>da</strong> dor, do pavor e <strong>da</strong>morte tão bem representados nos rituais de suplício relatados por Foucault.Além <strong>da</strong>s contribuições <strong>da</strong> neurologia, <strong>da</strong> etologia e <strong>da</strong> antropologia préhistórica,a agressivi<strong>da</strong>de e a violência encontram nos vários ramos <strong>da</strong> psicologia,diferentes estudos e possibili<strong>da</strong>des de análise, que vão desde estudosexperimentais, aos que se baseiam <strong>na</strong>s interações sociais ou os desenvolvidosdentro de uma perspectiva clínica, em especial a psica<strong>na</strong>lítica.Os estudos experimentais buscam conhecer os estímulos desencadeadores<strong>da</strong> raiva, como a hiperestimulação, os efeitos de calor ou do barulho excessivo. Emoutra categoria estão os estudos de Bandura 53 que enfatizam a importância dos52 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p. 77.53 Para Bandura, uma pessoa quando observa<strong>da</strong> por outra se constitui em um modelo para a mesma,que busca imitá-la, objetivando obter as mesmas consequências frente a um determi<strong>na</strong>docomportamento (reforço vicariante). As pessoas buscam imitar primeiramente as pessoas que gostame que respeitam, que consideram atraentes e poderosas, do mesmo sexo e que tenhamcaracterísticas que considerem semelhantes a si mesmo.54


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAmodelos <strong>na</strong> aprendizagem <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de, estendendo-se para o impacto dosmodelos agressivos divulgados pela mídia sobre as crianças.A psicologia social segue buscando explicações para a agressivi<strong>da</strong>de eviolência focando <strong>na</strong>s situações de interação, a partir dos papéis sociais e <strong>da</strong>srelações de poder e autori<strong>da</strong>de. As pesquisas deixam claro, aspectos como o nãoreconhecimento pelos sujeitos, de agressivi<strong>da</strong>de em si mesmos, mas sempre comoresultado de agressão sofri<strong>da</strong> e, portanto, colocando a origem <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>desempre no outro.A psicologia, a partir de uma abor<strong>da</strong>gem dinâmica, considera a agressãocomo uma reação típica à frustração. Dentro desta perspectiva, as circunstânciasque envolvem frustração aproximam os indivíduos do que faz mal a eles,provocando irritação e agressivi<strong>da</strong>de.Dollar 54 numa perspectiva <strong>da</strong> psicologia dinâmica compreende a agressãocomo uma reação à frustração 55 . As pesquisas de Dollar partiram de estudos quemediram a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s raivas dos bebês com base <strong>na</strong> quanti<strong>da</strong>de de leite deque haviam sido privados.Santos 56 reconhece que a agressivi<strong>da</strong>de acompanha as crianças desde o<strong>na</strong>scimento e concor<strong>da</strong> com Dollar, quando este afirma que as experiências defrustração que os bebês têm com a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> mamadeira, resultam emagressivi<strong>da</strong>de. Acredita, porém que a agressão <strong>na</strong> primeira infância, não poderáservir a outras funções, que não a de protesto.As experiências propostas por Dollar se estenderam para a explicação <strong>da</strong>sagressivi<strong>da</strong>des presentes em nossa socie<strong>da</strong>de como deriva<strong>da</strong>s de frustrações com aeducação, a concorrência econômica ou, ain<strong>da</strong>, sexuais e, a partir de seus estudos,conclui que essa agressivi<strong>da</strong>de passa a ser reorienta<strong>da</strong> para o esporte, para osfilmes e para a imprensa sensacio<strong>na</strong>lista. Dentro <strong>da</strong> perspectiva de que a violência é54 DOLLAR, apud MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática,1989, p. 79.55 Aqui defini<strong>da</strong> como o estado de um sujeito, para quem estão proibi<strong>da</strong>s, as respostas adequa<strong>da</strong>saos estímulos que ele recebe.56 SANTOS, Maria Celeste Cordeiro dos. Raízes <strong>da</strong> Violência <strong>na</strong> Criança e Danos Psíquicos. In.WESTPHAL, Márcia Faria. (Org.) Violência e Criança. São Paulo, Edusp, 2002.55


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAuma resposta <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de resultante de frustrações, enquanto as pessoasforem obriga<strong>da</strong>s a permanecerem em condições sub-huma<strong>na</strong>s, a agressivi<strong>da</strong>de semanifestará de modo violento.Também dentro de uma concepção desenvolvimentista se reconhece que aagressivi<strong>da</strong>de seja ativa<strong>da</strong> pelas frustrações responde pela orientação do organismono sentido de buscar equilíbrio com o seu meio, do homem com o mundo, exercendofunção estruturante <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que garante a socialização e humanização doindivíduo. Junto com a afetivi<strong>da</strong>de define o posicio<strong>na</strong>mento ético do homem peranteo bem e o mal.Segundo Byington, ambas, agressivi<strong>da</strong>de e afetivi<strong>da</strong>de fazem parte dorelacio<strong>na</strong>mento humano e enquanto a afetivi<strong>da</strong>de diz sim, a agressivi<strong>da</strong>de diz não.Afirma que sem a capaci<strong>da</strong>de de dizer não, é impossível viver. A afetivi<strong>da</strong>deaproxima o homem do que faz bem a ele e a agressivi<strong>da</strong>de repudia aquilo que ofrustra e faz mal.“Se adotarmos a tese que a frustração gera a agressivi<strong>da</strong>de e que a agressivi<strong>da</strong>desem ter uma saí<strong>da</strong> construtiva tende a gerar destrutivi<strong>da</strong>de e violência,compreenderemos o aumento intenso <strong>da</strong> violência entre nós. O aumento <strong>da</strong>violência <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des moder<strong>na</strong>s deve ser estu<strong>da</strong>do no contexto de ca<strong>da</strong> país ede ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de”. 57Por fim, ao focar a psicanálise é possível verificar que a noção deagressivi<strong>da</strong>de está presente desde cedo <strong>na</strong> obra de Freud, porém não dentro deuma visão clássica, como um modo de relação com o outro, de violência exerci<strong>da</strong>contra o outro. A agressivi<strong>da</strong>de para Freud não se aplica só às relações com oobjeto, mas diz respeito às ações consigo mesmo. No campo <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de osfenômenos que chamam a atenção de Freud inicialmente são os que dizem respeitoà auto-agressão, como sentimento de culpa inconsciente, tendências masoquistas57 BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A Violência e a Construção Social <strong>da</strong> Democracia, 1999, p.1.Palestra <strong>na</strong> mesa redon<strong>da</strong> sobre violência com A<strong>na</strong> Lúcia Pastore Schritzmeyer, Vilma Pinheiro eRubens Adorno, coorde<strong>na</strong>ção de Júlio Lerner e orientação <strong>da</strong> Secretaria de Justiça de São Paulo,Secretário Belizário dos Santos Júnior, Facul<strong>da</strong>de de Direito de São Paulo, 01.10.1997.56


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdo ego. De forma coincidente com Freud, para Lacan, “A noção de agressivi<strong>da</strong>decorresponde à violência que o sujeito se faz a si próprio”. 58Mais tarde, Freud fala <strong>da</strong> relação <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de com certas formas deativi<strong>da</strong>de e através <strong>da</strong> fusão e difusão <strong>da</strong>s pulsões, sugere a ambigui<strong>da</strong>de <strong>da</strong>agressivi<strong>da</strong>de nos sentimentos em que o amor disputa com o ódio, nos sonhos edesejos de morte dos seres próximos. A agressivi<strong>da</strong>de pode <strong>na</strong>scer de umanecessi<strong>da</strong>de vital, em ligação com o instinto de vi<strong>da</strong>, relacio<strong>na</strong>do à auto-conservaçãodo indivíduo; pode também vir de uma pulsão destrutiva, uma pulsão de agressão,que se estrutura sob a noção denomi<strong>na</strong><strong>da</strong> de pulsão de morte, tendência àdestruição do sujeito e do objeto, que vem ocupar o primeiro plano <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> psíquica,e descrito em Além do princípio do prazer.Freud sempre procurou mostrar o que havia de destrutivo e agressivo nocomportamento e nos desejos do sujeito e a pulsão de morte passou a justificar aviolência presente <strong>na</strong> <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong>. Em O Mal Estar <strong>na</strong> Civilização,reafirma...”aqui, como já reconhecemos o problema consiste em descartar o maior obstáculoencontrado pela civilização, qual seja a agressivi<strong>da</strong>de constitucio<strong>na</strong>l contra o ser humano.” 59Na sequência, Freud ao falar <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de e destrutivi<strong>da</strong>de do homem,introduz a palavra violência num primeiro momento liga<strong>da</strong> à agressivi<strong>da</strong>de instintiva,ao desejo de destruição inerente ao ser humano, escondido por motivos de <strong>na</strong>turezaerótica ou idealista, indicando que os motivos vis ou nobres servem para desculpar odesejo de destruição.Ain<strong>da</strong> segundo a visão psica<strong>na</strong>lítica é a disjunção entre os instintos de vi<strong>da</strong> ede morte que conduz à agressivi<strong>da</strong>de. Quando as forças agressivas são usa<strong>da</strong>spara alimentar os impulsos sexuais, ajudá-los a atingir o seu fim se tor<strong>na</strong>mconstrutivas, possessivas. Noutra hipótese, as forças agressivas contrariam essesimpulsos sexuais e se tor<strong>na</strong>m prejudiciais e dissimula<strong>da</strong>s.A agressivi<strong>da</strong>de oculta, provoca<strong>da</strong> pelos complexos, pelas neuroses pode serdetecta<strong>da</strong> pelos métodos projetivos (testes). A agressivi<strong>da</strong>de patológica manifestasesob uma forma violenta no epiléptico, de forma fria no paranóico. Encontra-se por58 LACAN, Jacques. O Seminário. Livro 4: A Relação de Objeto. R.J., Jorge Zahar Editor, 1992.59 COSTA, Jurandir Freire. Violência e Psicanálise. São Paulo, Graal, 1989, p.23.57


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAvezes em numerosos estados mórbidos, nomea<strong>da</strong>mente nos concernentes àafetivi<strong>da</strong>de.A Psicanálise, em um segundo contexto, vê a violência como resultante deconflitos de interesses, que só poderão ser evitados, se for cria<strong>da</strong> uma instânciamaior capaz de arbitrar com relação aos conflitos, uma instância instaura<strong>da</strong> nopoder. A essa instância corresponderiam o direito e a lei; no entanto, essa lei e essedireito já seriam resultado de violência, uma vez que se constituem a partir <strong>da</strong> forçade uma comuni<strong>da</strong>de e têm como proposta, voltar-se contra seus oponentes. Nessesentido, a diferença <strong>da</strong> força presente, no que se rotula como violência ou lei, estáno fato de que a força <strong>na</strong> lei ou direito, não corresponde à força de um indivíduo,mas de uma comuni<strong>da</strong>de, articula<strong>da</strong> com base em identificações de interesses egarantias por vínculos emocio<strong>na</strong>is entre os indivíduos. Nesse sentido a violência,mesmo sendo com frequência toma<strong>da</strong> como algo que aflora do interior do indivíduo,pode ser explica<strong>da</strong> como resultado de uma reação às condições exter<strong>na</strong>s.Jurandir Freire Costa em As faces <strong>da</strong> Violência 60 diz ter abando<strong>na</strong>do a idéiade ir buscar uma essência <strong>da</strong> violência, um perfil que a torne inconfundível emrelação a outras práticas de poder e considera a violência como ruptura no sentidodo contínuo vivido, alteração do movimento mais amplo, deriva<strong>da</strong> de elementosexternos ao sujeito, que fazem com que ele perca a familiari<strong>da</strong>de consigo próprio.Assim, reforça a idéia a violência resulta de agressivi<strong>da</strong>de como força vital que aoser destruí<strong>da</strong> em seu desenvolvimento se transforma em violência, de modo serpossível falar que nem to<strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de é violência, mas to<strong>da</strong> violência é um tipode agressivi<strong>da</strong>de.2.2. Violência: diferentes perspectivas teóricasReconhecer a violência como um tipo de agressivi<strong>da</strong>de não significareconhecer sua <strong>na</strong>tureza, relações e possibili<strong>da</strong>des, proposta deste capítulo.Independente <strong>da</strong>s dimensões e dos fenômenos que se pretende conhecer, aetimologia <strong>da</strong>s palavras sempre sugere um caminho possível para se pensar60 Entrevista concedi<strong>da</strong> à Revista Percurso n.01.www/2uol.com.br/percurso main,11/09/2005.58


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdiferentes temas, de modo que este caminho foi o escolhido para o estudo <strong>da</strong>violência.Originária <strong>da</strong> palavra vigor, força, o termo violência caracteriza-se maisprecisamente como o emprego <strong>da</strong> força, as vias de fato 15 ; carrega ain<strong>da</strong> a noção decoação, de superiori<strong>da</strong>de física de uns sobre os outros. Mais profun<strong>da</strong>mente, Vissignifica a força em ação, o recurso de um corpo para exercer sua força e, portanto,a potência, o valor e a força vital; indica também, quanti<strong>da</strong>de, aglomeração, o queleva à associação de multidão à violência.A violência tendo no seu núcleo a idéia de força permite ser desig<strong>na</strong><strong>da</strong> poruma gama de comportamentos e ações físicas, no entanto é principalmente vistacomo uma questão de agressão e maus tratos e assim, deixa marcas.Yves Michaud 16 diz que a força é o que é, e somente se tor<strong>na</strong> violênciaquando passa <strong>da</strong> medi<strong>da</strong> ou perturba uma ordem. Amplia a noção de violência comoforça irresistível de uma ação e ao mesmo tempo extrapola o caráter brutal a elaassociado, quando diz que essa força assume sua qualificação de violência emfunção de normas que variam muito. Ao reconhecer as normas como qualificação deviolência, admite que poderá haver tantas formas de violências quantas normasexistirem e, que ain<strong>da</strong> devem ser considera<strong>da</strong>s outras dimensões além <strong>da</strong> física eexemplifica apontando para as decorrentes <strong>da</strong> pressão exerci<strong>da</strong> para que alguémaja contra a sua vontade. Segundo ele, ain<strong>da</strong>, mesmo uma explosão de sentimentospode assumir um caráter de violência.Percebe-se que ao falar <strong>da</strong> violência, as pessoas remetem-se a expressõescomo erupção, explosão, que dispensam qualquer tentativa de eluci<strong>da</strong>r a origem <strong>da</strong>violência, qualquer que ela seja, <strong>da</strong>ndo a idéia de um acontecimento repentino.15 No código pe<strong>na</strong>l as violências são considera<strong>da</strong>s nos artigos 309, 310, 311 sob a rubrica agressões,violências e vias de fato, incluindo os atos que exprimem a agressivi<strong>da</strong>de e a brutali<strong>da</strong>de do homem,dirigi<strong>da</strong>s contra seus semelhantes e causando-lhes traumatismos e lesões mais ou menos graves. Taldefinição reforça o vínculo entre violência e emprego <strong>da</strong> força física segui<strong>da</strong> de <strong>da</strong>nos físicosduradouros. Porém, com a evolução do direito e a definição foi amplia<strong>da</strong> e as vias de fato incluemgestos mais imateriais, como xingamentos ou coação sobre uma pessoa ou contra seus bens. Dessaforma, a violência além de um fato físico passa a fazer referência a normas e como violação denormas qualquer coisa pode ser considera<strong>da</strong> violência.16 MICHAUD, Yves. A Violência.São Paulo, Ática, 1989.59


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASobre esse aspecto, Dadoun 17 diz que a violência pode ser encara<strong>da</strong> como umafatali<strong>da</strong>de histórica, que oscila para o lado do desvario, <strong>da</strong> loucura, a não ser quealgum foco religioso a conduza para a encar<strong>na</strong>ção do bem ou do mal. Pode tambémser concebi<strong>da</strong> como algo que aflora, brota, o que implica considerá-la como algo aser controlado, mesmo reconhecendo-se o desconhecimento de todos os fatoresque a origi<strong>na</strong>m.O movimento no sentido de buscar uma racio<strong>na</strong>lização <strong>da</strong> violência deve sercompreendido em to<strong>da</strong> a sua ambigüi<strong>da</strong>de, que nos faz reconhecer que a violêncianão se caracteriza por um ato ou fato, mas se constitui em um fenômeno que possuidiferentes interfaces. Em diferentes socie<strong>da</strong>des ou em diferentes momentos elarecebe valorizações, sendo tolera<strong>da</strong>, proibi<strong>da</strong>, encoraja<strong>da</strong> ou passandodesapercebi<strong>da</strong>, e sua definição está principalmente atrela<strong>da</strong> a esse âmbito deanálise, uma vez que essas interfaces são construí<strong>da</strong>s através de representações eenvolvem diferentes momentos, lugares, pessoas.O ato violento não traz em si uma etiqueta de identificação. “O mais óbvio dosatos violentos, a agressão física, o tirar a vi<strong>da</strong> de outrem, não é tão simples, pois pode envolvertantas sutilezas e tantas mediações, que pode vir a ser descaracterizado como violência”. 18A compreensão <strong>da</strong>s diferentes formas que a violência assume <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>decontemporânea, não cabe em uma única definição, sendo possível dizer <strong>da</strong>existência de múltiplas violências, em função de como venha a ser pensa<strong>da</strong>. Assim,poderá ser conceitua<strong>da</strong> de uma forma, se vista como inerente à condição huma<strong>na</strong>ou de outra, se for defini<strong>da</strong> de acordo com o significado que possa assumir frente adetermi<strong>na</strong>dos momentos históricos e políticos, ou ain<strong>da</strong>, se vista como decorrente dedetermi<strong>na</strong><strong>da</strong>s relações.Vários estudiosos se propuseram a desven<strong>da</strong>r o caráter diversificado emultifacetado <strong>da</strong> violência e fornecem diferentes possibili<strong>da</strong>des de pensar ofenômeno, que ain<strong>da</strong> permanece obscuro. Esse estudo trará a contribuição denomes que trouxeram reflexões significativas sobre o tema no mundocontemporâneo, como Han<strong>na</strong>h Arendt, Foucault, Dadoun, Jurandir Freire Costa.17 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio sobre o “homo violens”. R.J., Difel, 1998. Dadoun é professor<strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris VII-Jussieu e produtor no France Culture. Especialista em Psicanálise,análise literária e cinematográfica.18 ODÁLIA, Nilo. O que é violência. S.P., Brasiliense, Coleção Primeiros Passos, 1996, p.23.60


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASegundo Arendt 19 , apesar de a violência assumir importante papel nodecorrer <strong>da</strong> história, <strong>da</strong> política e dos negócios de um modo geral, e de a socie<strong>da</strong>detentar efetuar um controle <strong>da</strong> mesma, raramente tem sido atribuí<strong>da</strong> a ela, umaconsideração especial, permanecendo como um fenômeno margi<strong>na</strong>l.Han<strong>na</strong>h ao buscar uma definição de violência, a<strong>na</strong>lisa-a em contraposição anoção de poder, entendido como instrumento de domi<strong>na</strong>ção exercido pelo homemsobre o próprio homem, no sentido de Sartre e Voltaire, para quem o poder significafazer dos outros, instrumento de minha vontade, fazer com que os outros ajam deacordo com o que eu escolho e nesse sentido, o poder coercitivo seria arepresentação máxima <strong>da</strong> força ema<strong>na</strong><strong>da</strong> pelo poder.A estudiosa qualifica o poder como uma forma de violência que satisfaz quemo exerce, cujo conceito é o mesmo desde a Antigui<strong>da</strong>de e ain<strong>da</strong> considera que opoder não representa só o domínio do homem sobre o homem, mas também érepresentado pelas diferentes políticas de governo, sejam elas oligarquias oudemocracias. Fazendo distinções entre poder e violência, afirma que o poder sempredepende de números, e a violência, até certo ponto, pode operar sem eles.A significativa diferença entre essas duas condições se tor<strong>na</strong> mais claraquando diz que a forma mais extrema do poder encontra-se <strong>na</strong> condição de todoscontra um e a mais extrema violência <strong>na</strong> condição de um contra todos. Acrescentaain<strong>da</strong>, que esta última nunca é possível sem instrumentos, pois acredita que asminorias, mesmo agindo de forma violenta, a não ser em situações esporádicas ouhipotéticas detêm o domínio <strong>da</strong>s situações. Reforça também, que a minoria domi<strong>na</strong>somente quando a maioria se recusa a usar o poder e se coloca como observador,ou quando é conivente com a situação.Arendt também se posicio<strong>na</strong> contra ao fato de as ciências políticas nãofazerem distinção entre as palavras-chave poder, vigor, força e autori<strong>da</strong>de,considerando que esses termos fazem referência a fenômenos distintos. Acrescenta19 Han<strong>na</strong>h Arendt, importante nome <strong>da</strong> filosofia política de nosso século, <strong>na</strong>sceu em Hannover, em 14de outubro de 1906. Doutorou-se em filosofia, com uma tese sobre Santo Agostinho, em 1928, <strong>na</strong>Universi<strong>da</strong>de de Heidelberg. Com o início do Nazismo em 1933, foge para Paris e, depois para osEstados Unidos onde permanece até a sua morte, em 4 de dezembro de 1975. Escreveu Sobre aViolência, nos idos de 1968-1969, e nele reflete sobre acontecimentos de um passado que trouxemu<strong>da</strong>nças significativas para o mundo e, a partir desse universo pretende explicitar a <strong>na</strong>tureza e ascausas <strong>da</strong> violência pelo eixo <strong>da</strong> política.61


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAa esses, violência, e afirma que embora todos venham sendo usados para indicar osmeios de domi<strong>na</strong>ção de homens sobre homens, a seu ver, estes são erroneamenteusados como sinônimos e se propõe a defini-los buscando deixar níti<strong>da</strong> adiferenciação entre eles.Poder, conceito chave do seu pensamento político “corresponde à habili<strong>da</strong>dehuma<strong>na</strong> não só para agir, mas para agir em concerto”. 20 O poder pertence ao grupo que olegitima e que pode escolher alguém para exercê-lo, desaparecendo quando o grupose esvanece. Considera o vigor como uma proprie<strong>da</strong>de inerente a um objeto oupessoa, pertencendo ao seu caráter, condição singular de ca<strong>da</strong> um. Ressalta,porém, que mesmo o vigor do mais forte, pode ser dizimado por outros, quando seunem para arrui<strong>na</strong>r quem o possui.Considera que o vocábulo força, embora empregado no cotidiano comosinônimo de violência, deveria ter seu uso reservado para fazer referência a forças<strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza ou a forças <strong>da</strong>s circunstâncias. Deveria indicar a energia libera<strong>da</strong> pormovimentos físicos e sociais.Entende autori<strong>da</strong>de como uma condição investi<strong>da</strong> em alguém, aparecendoclaramente <strong>na</strong>s relações entre pais e filhos, professores e alunos. Corresponde aoreconhecimento inquestionável <strong>da</strong> obediência, sendo desnecessário o uso decoerção ou persuasão. “A autori<strong>da</strong>de é incompatível tanto com a utilização de meios externos decoerção −onde a força é usa<strong>da</strong>, a autori<strong>da</strong>de em si mesma fracassou−, tanto com a persuasão, à qualpressupõe igual<strong>da</strong>de e opera mediante um processo de argumentação”. 21Fi<strong>na</strong>lmente considera que a violência se aproxima do vigor, distinguindo-sepor seu caráter instrumental. Meios, implementos, instrumentos, ferramentas, são ossubstantivos usados pela autora, planejados e usados com o objetivo de aumentar ovigor <strong>na</strong>tural ou mesmo substituí-lo.Embora a autora faça essas distinções, reconhece que vigor, força, poder,autori<strong>da</strong>de e violência entende que não se referem a compartimentos estanques <strong>na</strong>vi<strong>da</strong> real (...) Assim, o poder institucio<strong>na</strong>lizado em comuni<strong>da</strong>des organiza<strong>da</strong>s freqüentemente20 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. R.J. Relume- Dumará, 1994(1969), p.36.21 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Entre o passado e o futuro. 2 ed. S.P., Perspectiva, 1972, p.129.62


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAaparece sob a forma de autori<strong>da</strong>de, exigindo reconhecimento instantâneo e inquestionável; nenhumasocie<strong>da</strong>de poderia funcio<strong>na</strong>r sem isso.” 22Arendt contrapõe a violência ao poder e ao estado. Reconhece o poder e nãoa violência como essência de todo o governo, uma vez que a violência depende deinstrumentos, portanto de orientação e justificativa para atingir sua fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de. Ain<strong>da</strong>,para ela o poder não precisa de justificativa, é inerente à própria existência <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong>des políticas. O poder emerge quando as pessoas se unem e agem emconjunto, necessita mesmo é de legitimi<strong>da</strong>de, que se dá do início dessa união,sendo difícil de ser altera<strong>da</strong> por decisões posteriores. Entretanto, afirma queviolência sempre pode destituir o poder. Faz ain<strong>da</strong> uma distinção entre poder ecomando. “Se a essência do poder é a efetivi<strong>da</strong>de do comando, então não há maior poder do queaquele emergente do cano de uma arma.” 23Forçar alguém mediante violência, orde<strong>na</strong>r ao invés de persuadir, constituíammodos pré-políticos de li<strong>da</strong>r com as pessoas, próprios do lar e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em família,mas não corresponde ao sentido político encontrado em sua gênese histórica. Paraa isonomia grega ou vivitas roma<strong>na</strong>, o conceito de poder não se assentava <strong>na</strong>relação mando-obediência e não identificava poder e domínio.Por fim reconhece total oposição entre violência e poder, afirmando que emsituações em que um domi<strong>na</strong>, o outro está ausente, de modo que o enfraquecimentodo poder faz emergir a violência e, se esta emergência for significativa, a violênciainstala-se no lugar do poder, destruindo-o Assim, a violência tem a capaci<strong>da</strong>de dedestruir o poder, mas jamais de criá-lo. Deixa claro também, que o poder não podesequer ser tomado como “não violência” e que a violência não pode ser deriva<strong>da</strong> deseu oposto, o poder.Além <strong>da</strong> revisão conceitual, Han<strong>na</strong>h contribui para a desmistificação doconceito, o que corresponde à des<strong>na</strong>turalização, à despersonificação e àdesdemonização <strong>da</strong> violência. Arendt discor<strong>da</strong> de pensadores como Niezstche eBérgson, no que se refere ao que ela denomi<strong>na</strong> de justificação biológica <strong>da</strong>violência, pois não reconhece a violência e o poder como manifestações <strong>na</strong>turais doprocesso vital, ao contrário, os reconhece pertencendo ao âmbito político.22 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. R J., Relume- Dumará, 1994 (1969), p.32.23 Id, p.32.63


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADesmistifica ain<strong>da</strong>, a concepção que busca personificar a violência e o poder, <strong>da</strong>r aeles a condição de sujeito <strong>da</strong> ação, afirmando “Ela não promove causas, nem a história,nem a revolução, nem o processo, nem o retrocesso, mas pode servir para dramatizar queixas”. 24Sua desdemonização pode ser explica<strong>da</strong> por seu próprio caráter instrumental, quelhe possibilita uma certa racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, à medi<strong>da</strong> em que é eficaz em realizar o fimque a justifica. “O ponto central (...) é que, em certas circunstâncias, a violência −o agir semargumentar, sem o discurso e sem contar com as consequências − é o único modo de reequilibrar asbalanças <strong>da</strong> justiça”. 25Segundo Han<strong>na</strong>h, para compreender a violência é necessário buscar suaorigem e <strong>na</strong>tureza, e nessa busca Foucault 26 traz contribuições significativas. EmVigiar e Punir faz uma análise <strong>da</strong> violência sem utilizar o termo, caracterizando asdiferentes práticas de punição presentes em nossa civilização, <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de média aomundo contemporâneo; porém, esse estudo privilegia as práticas que tiveram início<strong>na</strong> I<strong>da</strong>de Média e persistiram até meados do século XIX.Foucault mostra que as práticas punitivas eram dirigi<strong>da</strong>s essencialmente parao corpo, <strong>da</strong>í talvez as razões <strong>da</strong> forte associação entre agressão física e violência,que persiste até nossos dias, de modo que muitas vezes, a agressão física constituia única forma em que a violência se tor<strong>na</strong> passível de identificação.Durante séculos, o Código Pe<strong>na</strong>l exigiu quando <strong>da</strong> não obediência às leis, osuplício dos corpos 27 , que vigorou até meados do século XIX. O suplício, como24 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. R.J., Relume- Dumará, 1994 (1969), p.58.25 Id, p.47.26 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões. 9ª ed. Petrópolis, Vozes,1991.27 Foucault reconhece a legitimi<strong>da</strong>de de se fazer uma história dos castigos com base <strong>na</strong>s idéiasmorais ou <strong>na</strong>s estruturas jurídicas, porém enfatiza serem nossas socie<strong>da</strong>des marca<strong>da</strong>s por sistemaspunitivos que mesmo quando as práticas exerci<strong>da</strong>s não implicam em técnicas violentas ousangrentas, infringem o corpo <strong>na</strong>s suas forças, utili<strong>da</strong>de ou submissão. Isso faz com que os castigosdevam ser estu<strong>da</strong>dos e sua história reconstruí<strong>da</strong> com base no que ele denominou como ‘uma certaeconomia política dos corpos’, uma vez que os corpos não devem ser vistos, somente em suas basesbiológicas, mas também em suas bases políticas, marca<strong>da</strong>s por relações de poder que têm alcanceimediato sobre ele, que nos remete a um outro saber sobre o corpo e nos faz pensar que o corpo, doponto de vista do trabalho e <strong>da</strong> economia, só se tor<strong>na</strong> útil, se ao mesmo tempo contiver força esubmissão. Outro aspecto tem a ver com o fato de o suplício ocorrer em uma socie<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> qual oregime de produção e as forças de trabalho, não têm a utili<strong>da</strong>de e o valor de mercado que lhes sãoconferidos em uma Socie<strong>da</strong>de Industrial, pois <strong>na</strong> época a vi<strong>da</strong> estava entremea<strong>da</strong> de mortesrepresenta<strong>da</strong> pela por doenças, epidemias, o que tor<strong>na</strong>va a morte familiar e de certa formaba<strong>na</strong>lizava a vi<strong>da</strong>.64


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAagente político do sistema punitivo, revelador de ver<strong>da</strong>de e agente de poder,constitui-se como uma forma de violência aplica<strong>da</strong> à violência do crime.As práticas envolvi<strong>da</strong>s no suplício visavam à mutilação dos corpos até àmorte, compreendendo o esquartejamento, queimaduras, marcas simbólicas,realiza<strong>da</strong>s <strong>na</strong> presença de um público, como forma de levar o conde<strong>na</strong>do aconfessar o crime. Outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de confissão dos crimes caracterizavam-sepelo uso de coleira de ferro, vestes multicores e grilhetas nos pés com trocas dezombarias, desaforos e si<strong>na</strong>is de rancor e cumplici<strong>da</strong>de entre os conde<strong>na</strong>dos e osespectadores. “É um fenômeno inexplicável, a extensão <strong>da</strong> imagi<strong>na</strong>ção dos homens para abarbárie e a cruel<strong>da</strong>de” 28Segundo Foucault, o suplício deve ser visto como uma produção diferencia<strong>da</strong>de sofrimentos que tem relação com o poder, um poder que transita entre as práticasexerci<strong>da</strong>s pelo carrasco em nome dos soberanos, o discurso dos conde<strong>na</strong>dos e opúblico participante, não devendo ser comparado a uma raiva sem lei, ao mesmotempo em que não corresponde a qualquer punição corporal.A execução no suplício representava um rito, em que estava previsto não sóque o conde<strong>na</strong>do proclamasse a sua culpa reconhecendo-a de viva voz, mastambém através de um cartaz que levava consigo. Nesse ritual o conde<strong>na</strong>do nãotinha o direito à defesa, a buscar a inocência, mas sim afirmar o crime cometido.“Ele promove a articulação do escrito como o oral, do secreto com o público, doprocesso de inquérito com a operação de confissão; permite que o crime sejareproduzido e voltado para o corpo visível do criminoso, faz com que o crime nomesmo horror se manifeste e se anule (...) Talvez a noção de atroci<strong>da</strong>de seja uma<strong>da</strong>s que mais desig<strong>na</strong>m a economia do suplício <strong>na</strong> antiga prática pe<strong>na</strong>l (...) aatroci<strong>da</strong>de de um crime é também a violência do desafio lançado ao soberano: é oque vai provocar <strong>da</strong> parte dele uma réplica que tem por função ir mais longe nessaatroci<strong>da</strong>de(...)sendo princípio <strong>da</strong> comunicação do crime com a pe<strong>na</strong>, ela é poroutro lado a exasperação do castigo em relação ao crime(...) é o ritual do inquérito28 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões. 9ª ed. Petrópolis-R.J., Vozes,1991, p. 34.65


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAque termi<strong>na</strong> e <strong>da</strong> cerimônia onde triunfa o soberano. E ela os une no corposupliciado” 29A violência pratica<strong>da</strong> nos suplícios mantinha estreita relação com o poder, aorepresentar o poder do rei concretizado no praticante ou, ao transformar osconde<strong>na</strong>dos em heróis pelo discurso do arrependimento. O que se desprende dessasituação é que apesar de o soberano propor a execução <strong>da</strong> pe<strong>na</strong> ou suprimi-la,assumindo o papel de agente político <strong>da</strong> pe<strong>na</strong>, não fica identificado com a fúria <strong>da</strong>ação, uma vez que é realiza<strong>da</strong> pelo carrasco que, em certo sentido, passa a seridentificado com o criminoso. O fracasso do carrasco também trazia à to<strong>na</strong>, a idéiade que o conde<strong>na</strong>do seria perdoado e esse fazia uso <strong>da</strong> demora para a execução <strong>da</strong>sentença, promovendo tentativas que visavam sua suspensão até o último momento.Nesse ritual era significativo e ambíguo o papel do povo. Servia detestemunha do castigo, tinha direito a tomar parte xingando, insultando e ain<strong>da</strong>,afirmava o poder soberano que o utilizava como recurso para atemorizar. Ao mesmotempo invertia o sentido do ritual, ao manifestar sua recusa ao poder punitivo,declarar sua compaixão pelo conde<strong>na</strong>do ou não reconhecer como váli<strong>da</strong>, a pe<strong>na</strong>aplica<strong>da</strong> ao delito fazendo emergir protestos e tumultos, que por sua vez facilitavama ação de ladrões e colaboravam para o enfraquecimento do poder soberano.Ao retomar essas formas de punição e as relações que as envolviam,Foucault permite que sejam feitas associações <strong>da</strong> violência, não só com o poder,mas com a força ema<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong>s multidões, dos aglomerados, quando relata que opovo consegue reverter a pe<strong>na</strong> e ain<strong>da</strong> proporcio<strong>na</strong> a ação de ladrões. Permitetambém uma comparação com Arendt para quem a violência destitui o poder, nãopodendo ser identifica<strong>da</strong> com ele, e para quem a demonstração mais forte dessepoder se verifica quando há uma manifestação de um contra todos e de violência, nocaso de um contra a maioria, não acontecendo sem instrumentos.Foucault ain<strong>da</strong> relata que os discursos contidos nos rituais passavam a fazerparte <strong>da</strong> literatura e visavam garantir o exemplo e a exortação. Os folhetinsaju<strong>da</strong>vam a perpetuar o mecanismo iniciado com o suplício e neles estavam29 MICHEL, Foucault. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões, 9ª ed. Petrópolis, Vozes, 1991,p. 51-52.66


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIApresentes casos reais ou fictícios, sendo alimentados pelas <strong>na</strong>rrativas de crimes eagindo de forma equivoca<strong>da</strong> sobre o povo, uma vez que o conde<strong>na</strong>do se tor<strong>na</strong>vaherói pela quanti<strong>da</strong>de de crimes praticados ou ain<strong>da</strong>, pela declaração dearrependimento, tor<strong>na</strong>ndo-se uma espécie de santo, depois de morto.É possível comparar o efeito do discurso público iniciado no suplício e comtrânsito pelos folhetins, com o papel <strong>da</strong> mídia <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea aodivulgar os atos violentos; a televisão se transforma no espaço público e expõe opúblico às mais varia<strong>da</strong>s formas de violência, construindo o espetáculo. Por outrolado, outras mídias como o jor<strong>na</strong>l, as revistas passam a recriá-los, e seus agentessão confundidos com os ver<strong>da</strong>deiros heróis. Contextos diferentes em que osmesmos mecanismos estão presentes, embora organizados por instrumentosespecíficos aos momentos.Retomando o suplício que ocorria nesses ver<strong>da</strong>deiros espetáculos, o séculoXVII aos poucos vai vendo extinguir-se.“A punição pouco a pouco deixou de ser uma ce<strong>na</strong> (...) as funções deixarampouco a pouco de serem compreendi<strong>da</strong>s, ficou a suspeita de que tal rito que <strong>da</strong>vafecho ao crime tinha com ele afini<strong>da</strong>des espúrias: igualando-o ou mesmoultrapassando-o em selvageria, mostrando e acostumando os expectadores a umaferoci<strong>da</strong>de de que todos queriam vê-los afastados (...) invertendo no últimomomento os papéis, fazendo o carrasco se parecer com o criminoso, os juízes aosassassinos, fazendo o supliciado objeto de pie<strong>da</strong>de e admiração”. 30Em meados do século XVIII o sofrimento físico e a dor deixam de serelementos constitutivos <strong>da</strong> pe<strong>na</strong> e a relação castigo-corpo passa a ocupar outradimensão. Ao envolver a prisão, a reclusão, os trabalhos forçados, a servidão, ainterdição de domicilio, <strong>da</strong> alimentação ou mesmo sexual, o corpo ain<strong>da</strong> continua aintermediar a liber<strong>da</strong>de. No entanto, o castigo deixa de ser a arte <strong>da</strong>s “sensaçõesinsuportáveis” contra o corpo, para <strong>da</strong>r lugar a uma economia dos direitossuspensos, que passa a atingir a alma.30 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões, 9ª ed. Petrópolis, Vozes,1991, p.14.67


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAÉ importante frisar que o julgamento deixou de ser um ato que faz referênciaa um objeto concreto, o crime ou delito. Junto a eles são julga<strong>da</strong>s as agressivi<strong>da</strong>des,as violações, as perversões, elementos invocados para explicar os fatos a seremjulgados e que são também impulsos e desejos. Nesse momento, a vontade do réuimbrica<strong>da</strong> no crime passa a ser reconheci<strong>da</strong> e a ela outras condições vão sendoatrela<strong>da</strong>s, instituindo-se a violência simbólica. ”São as sombras que se escondem por trásdos elementos <strong>da</strong> causa, que são julga<strong>da</strong>s e puni<strong>da</strong>s”. 31A questão não mais reside em o fato ser comprovado ou delituoso; sãoacrescenta<strong>da</strong>s ao fato, dimensões que dizem respeito à origem do crime, em nívelconsciente e inconsciente relativas ao meio ambiente, ou à hereditarie<strong>da</strong>de. Aloucura é inseri<strong>da</strong> no código pe<strong>na</strong>l para destruir a pe<strong>na</strong> e não para torná-la maissuave, como foi interpreta<strong>da</strong>.A literatura também acompanha esse deslocamento; não são mais aspessoas do povo a se tor<strong>na</strong>rem heróis por seus crimes, mas há uma reescrita docrime e a apropriação <strong>da</strong> crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de sob outras formas aceitáveis. Foucaultcaminha apontando para as outras formas de punição, que trazem consigo a idéiade que <strong>na</strong> punição a humani<strong>da</strong>de deve ser respeita<strong>da</strong>.O carrasco, segundo Foucault é substituído por um exército de técnicos:psiquiatras, médicos, capelães, educadores, pelo emprego de psicofarmacos e todosprimam por aplicar uma pe<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de que se pretende incorpórea; porém, o que sepercebe é que <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de as punições não abando<strong>na</strong>m o corpo, mas encontramnovas formas de atingir o corpo. Temos então, um corpo sujeitado a espaços,formas e tempos definidos, um corpo submetido à discipli<strong>na</strong> e ao isolamento,respondendo a outras formas de violência.Dadoun nos oferece um novo caminho no sentido de compreender a violênciae partindo <strong>da</strong>s diferentes concepções de homem deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s concepçõesevolucionistas, introduz o conceito de homo violens 32 . Considera a violência é função31 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões. 9ª ed. Petrópolis, Vozes,1991, p. 22.32 Dadoun amplia as desig<strong>na</strong>ções recebi<strong>da</strong>s pelo homem no decorrer dos tempos. Partindo do homosapiens e do homo faber, representantes de habili<strong>da</strong>des intelectuais e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de fabricar,produzir, em direção ao homo politicus, feito para viver em socie<strong>da</strong>de e pela socie<strong>da</strong>de, defendido porAristóteles, e, passando por outras versões surgi<strong>da</strong>s como o homo religious, o homo economiccus, o68


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAestruturante do ser humano, não reconhece a etimologia <strong>da</strong> palavra suficiente parajustificar sua função e busca compreender a violência a partir de três referenciais: asfiguras <strong>da</strong> violência, o percurso <strong>da</strong> violência e a relação poder e violência.Para ele, um caminhar pela história do universo e <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de nos permitefalar <strong>da</strong>s figuras <strong>da</strong> violência que se apresentam em três formatos correspondendo àgênese, ao extermínio e ao terrorismo.Dadoun ao retomar a gênese, mostra como esse período foi marcado poruma sucessão de atos violentos que culmi<strong>na</strong> com o assassi<strong>na</strong>to de Abel por seuirmão Caim, e esse ato é descrito como um ato de cólera, uma manifestação inter<strong>na</strong>,psicológica, cuja origem está no próprio Deus.Ao criar o homem à sua imagem, Deus estaria transferindo a ele todos osseus poderes, e citando a Bíblia, Dadoun ilustra “... preencham a terra e subjuguem-<strong>na</strong>:dominem os peixes do mar, os pássaros do céu”. 33 Caminhando pela história <strong>da</strong>humani<strong>da</strong>de, outros exemplos demonstram a violência do criador, como a presenteno extermínio provocado com o dilúvio, em que preservou somente Noé, sua famíliae os animais que colocou <strong>na</strong> Arca.A violência assume um novo formato no extermínio e tem a ver com asquestões de quanti<strong>da</strong>de e matança desenfrea<strong>da</strong>, enquanto ao terrorismocorresponde uma violência qualitativa. O terrorismo surge de modo mais exato aoespecificar o alvo e tem dupla ação, residindo no interior e no exterior do grupo; paraos terroristas a violência não está em seus próprios atos, mas decorre de umaviolência antecedente: domínio político ou colonial, exploração econômica eopressão social. O terrorismo é marcado por outro tipo de violência, a qual tem a vercom as formas que regulam e sustentam a estrutura do grupo tais como as relaçõesde força e domínio, a obrigação de fideli<strong>da</strong>de, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de força<strong>da</strong>, relações tensase conflituosas.Além de identificar as figuras <strong>da</strong> violência, Dadoun considera a violência comoestruturante do sujeito em diferentes tempos e lugares, e para a<strong>na</strong>lisá-la sugere umhomo astheticus, que realça as ligações do homem com a arte e a estética e o homo aequalis,homem do povo, chega a um homem cuja constituição está imbrica<strong>da</strong> pela violência.33 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio acerca do “homo violens”. R. J., Difel, 1998, p. 37.69


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcorte a partir <strong>da</strong> ordem <strong>na</strong>tural do desenvolvimento <strong>da</strong>s coisas, do <strong>na</strong>scimento até àmorte, invocando a sexuali<strong>da</strong>de, o trabalho, a racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, a alteri<strong>da</strong>de eidenti<strong>da</strong>de, passando pelo tempo, a morte e o terror.O <strong>na</strong>scimento é visto por ele como a primeira instância de violência, emfunção <strong>da</strong> ruptura brutal que se dá entre o mundo intra-uterino e o mundo exterior.Nesse processo a violência também assola a mãe em função de intervenções de<strong>na</strong>tureza diversas, que a atingem no plano orgânico e simbólico. Dadoun citaLeboyer e sua proposta de acolhi<strong>da</strong> do recém <strong>na</strong>scido, como pessoa de direito eobrigação.A infância segue marca<strong>da</strong> pela violência decorrente dos conflitos internosconstitutivos do próprio psiquismo, desencadea<strong>da</strong>s pelo confronto com o Superego,Complexo de Édipo, pulsão de morte e por violências exter<strong>na</strong>s exerci<strong>da</strong>s dediferentes formas, pelo meio ambiente.“Quantas vezes a família, ambiente fechado e carregado de intensa afetivi<strong>da</strong>denão foi apresenta<strong>da</strong> e denuncia<strong>da</strong> como o ambiente privilegiado de relação deforças e domi<strong>na</strong>ção de rara feroci<strong>da</strong>de-onde se vê, por exemplo, a tirania parentalcastradora, ou o investimento hipócrita <strong>da</strong> alma <strong>infantil</strong> como a afeição garanti<strong>da</strong>,disputar odiosamente com as miseráveis estratégias infantis de defesa e deretorção, de dissimulação e de sedução...” 35Por outro lado, a criança isola<strong>da</strong> <strong>da</strong>s regras <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, <strong>na</strong> ausência decontato familiar regressa a um estado de violência primitiva, o que significa que aeducação não tem conseguido alterar o potencial de violência inerente ao sujeito.Segundo o autor, dentro <strong>da</strong> perspectiva de que a violência está em to<strong>da</strong> parte,tal função antropológica <strong>da</strong> educação ocorre a partir de duas funções utilitárias −afunção técnica e a função cultural. A primeira corresponde à transmissão dosconhecimentos e aos esforços do sujeito para a aquisição dos mesmos, queclassifica como uma violência intelectual, e a segun<strong>da</strong> visa equipar o sujeito commodelos de comportamento.35 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio acerca do “homo violens. R.J., Difel, 1998, p. 50-51.70


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA“Tratar a violência, tratar com a violência é função fun<strong>da</strong>mental, antropológica, <strong>da</strong>educação, fun<strong>da</strong>dora <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de (...) A função antropológica <strong>da</strong> educaçãoserve de apoio às duas precedentes; o que ela procura, tateando por obscuroscaminhos, é alcançar a integração do homem <strong>na</strong> humani<strong>da</strong>de com os materiaishumanos de que ela dispõe, trata-se mais precisamente, de trabalhar e tratar aestrutura huma<strong>na</strong> do homo violens de maneira a manter, por meio de desvios,desvarios, fracassos, o rumo do homo sapiens”. 36Ao fazer referência à violência <strong>na</strong> adolescência, descreve o corpo como palcode uma série de transformações <strong>na</strong>turais que violentam o menino e a meni<strong>na</strong>através <strong>da</strong>s novas características físicas e funções orgânicas. A adolescênciatambém é palco de pressões sociais que buscam reprimir e regular as açõesdecorrentes dessas transformações, agindo sobre a sexuali<strong>da</strong>de, além de atingiraspectos profissio<strong>na</strong>is e políticos. Segundo Dadoun, a energia reconheci<strong>da</strong> noadolescente é captura<strong>da</strong> e usa<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de, que se diz preocupa<strong>da</strong> com aestruturação de sua perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de. Por outro lado, o adolescente apresenta padrõesde comportamentos violentos voltados para si mesmo ou para a socie<strong>da</strong>de,representados por atos delinquentes, que são vistos como <strong>na</strong>turais, característicosdessa fase do desenvolvimento.Em torno dessa violência que acompanha o homem do <strong>na</strong>scimento àadolescência, portanto em torno do homo violens gravitam a sexuali<strong>da</strong>de, o trabalhoe racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, representados pelo homo sexualis, o homo faber ou laborans, ohomo sapiens, tendo como elo de ligação o homo politicus. Ca<strong>da</strong> um deles seconstitui em um campo de forças determi<strong>na</strong>ntes do homo violens.A sexuali<strong>da</strong>de é vista como o campo domi<strong>na</strong>nte, como violência elementar. Aviolência presente no trabalho embora menos incisiva <strong>na</strong> composição desse homoviolens tem maior amplitude, uma vez que o homem se curva diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>dede estabelecer relações vitais com o mundo, com a <strong>na</strong>tureza. Com relação à razão,não sendo essência i<strong>na</strong>ta no homem, não sendo elemento fun<strong>da</strong>nte, sua inscriçãonesse homem representa um ato violento. A esses determinismos violentos ésoma<strong>da</strong> a violência do grupo social ao definir regras, obrigações e proibições que se36 DADOUN, Roger. A violência: ensaio acerca do homo violens. R.J., Difel, 1998, p.53.71


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAestendem à sexuali<strong>da</strong>de, ao trabalho e à própria razão, que a socie<strong>da</strong>de transformaem arma e cuja fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de é ‘transformar-nos em mestres e possuidores <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza’. 37Dadoun também reconhece violência no fato de a razão ter sido coloca<strong>da</strong>como elemento primordial do psiquismo humano pelos filósofos, de modo que a elaficam submetidos os demais aspectos, subjetivos e objetivos do mundo, ficandoresponsável por conduzir e determi<strong>na</strong>r as diferentes visões <strong>da</strong> história e <strong>da</strong> ideologiaque buscam racio<strong>na</strong>lizar a violência.Compreender a singulari<strong>da</strong>de do homem significa entender como estasviolências determi<strong>na</strong>ntes se chocam e se entrelaçam, e assim se multiplicam,ganham intensi<strong>da</strong>de e, ao mesmo tempo, passam a se constituir em resistências aoutras violências, alcançando a plenitude. Neste ponto a violência se irradia ou ésuspensa, e esse último ato se constitui em rara virtude do homo violens, segundoDadoun.Buscando mostrar que a violência está em to<strong>da</strong> parte, insere nesse universo otempo e a morte, afirmando que o passar do tempo é violência, representa per<strong>da</strong>s.Per<strong>da</strong>s decorrentes do envelhecimento, assenta<strong>da</strong>s no corpo, <strong>na</strong> memória, <strong>na</strong>srelações. Dentre essas per<strong>da</strong>s, está a per<strong>da</strong> do tempo para viver, o fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, aaproximação <strong>da</strong> morte. A expectativa <strong>da</strong> morte é uma violência que se imprime àhumani<strong>da</strong>de, que o homem traz consigo, violência gera<strong>da</strong> também pelaincompreensão de um mistério, o mistério <strong>da</strong> morte. Faz referência à violência apósa morte, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que paira sobre os vivos, o medo de serem atormentadospelos mortos, fantasmas.”O’retor<strong>na</strong>r’ dos fantasmas, significa o irredutível enraizamento <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>reali<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong> diante <strong>da</strong> qual a própria morte se tor<strong>na</strong> impotente. Já existeviolência no simples fato de poder falar de um ‘retor<strong>na</strong>r’ −uma vez que este último<strong>na</strong><strong>da</strong> mais é do que uma infração primordial, imaginária ou não −pouco importa− <strong>da</strong>lei universal (...)que pretende que a morte seja o fim supremo.” 3837 DESCARTES. Discours de la méthode (Discurso do Método). Garnier-Flammarion,1966 (1639),p.84, apud DADOUN, Roger. A Violência: ensaio acerca do “homo violens”, R.J., Difel, 1998, p. 61.38 DADOUN, Roger. A violência: ensaio acerca do “homo violens”. R.J., Difel, 1998, p.76.39 Id. 64.72


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACaminhando por diferentes vias que compreendem o ser humano, Dadoun,ao mesmo tempo em que caracteriza o homo violens, mostra como este ser humanonão quer reconhecer a violência que se desprende de si, e assim a projeta no outro,de modo que qualquer ato violento é considerado resposta à outra violência. Ooutro, ao mesmo tempo em que constitui o sujeito, é capaz de o violentar pela suasimples presença, ao depositar nele uma imagem que desconhece e com a qual oreveste. Por outro lado, o fato de não aceitar, ir contra a idéia de uma violênciaconti<strong>da</strong> em si, por si só se constitui em violência. ”Inocente humani<strong>da</strong>de só existiriam−contraviolências− jamais uma ver<strong>da</strong>deira violência”. 39Poder e violência também foram confrontados por Dadoun, que assim comoFoucault descreve a violência como um instrumento do poder, contrapondo-se àArendt, para quem a violência se instaura quando há per<strong>da</strong> do poder.“Sempre de alguma forma o poder afronta e utiliza a violência, e esta em troca,sempre exprime uma certa forma de poder (...) chega-se a pensar que o únicoproblema real do poder é a violência e que a única ver<strong>da</strong>deira fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>violência é o poder −não importa sob que forma”. 40Dadoun propõe pensar a relação entre violência e poderes, poder político,econômico, religioso, social, cultural e outros, em termos de violência como fim, meioe desafio. O primeiro caso ocorre quando o poder é aspirado a qualquer custo, tem aver com necessi<strong>da</strong>de de domínio de uma situação, de liderar, de fazer valer aprópria vontade a despeito de qualquer negociação, de modo que diferentes meios(violentos) são mobilizados para o domínio (poder). É preciso ain<strong>da</strong> entender aviolência como meio de conter algum tipo de poder, como aprendizado, visando obem comum e, fi<strong>na</strong>lmente, a violência como possibili<strong>da</strong>de de desafiar os poderes.Outra contribuição importante para esse estudo é a de Michaud 41 , que apontapara a dificul<strong>da</strong>de de definir violência e, ao mesmo tempo, para a quanti<strong>da</strong>de dedefinições existentes. Cita definições objetivas como a do sociólogo H.L.Nieburg que40 DADOUN, Roger. A violência: ensaio acerca do “homo violens”. R. J., Difel, 1998, p.81-82.41 Professor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Paris I73


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAa define como ‘uma ação direta ou indireta, desti<strong>na</strong><strong>da</strong> a limitar, ferir ou destruir as pessoas e osbens’ 42e a H. D. Graham para quem,‘... a violência se define, no sentido estrito, como um comportamento que visacausar ferimentos às pessoas ou prejuízos aos bens. Coletiva ou individualmente,podemos considerar tais atos de violência como bons ou maus, ou nem um nemoutro, segundo quem começa contra quem.’ 43Para o estudioso essas definições embora se preten<strong>da</strong>m objetivas, não estãoisentas de normas que se referem à integri<strong>da</strong>de física <strong>da</strong>s pessoas e aos seus bens.Considera ain<strong>da</strong>, que as mesmas coincidem com as distinções jurídicas, cujoscritérios colocam todos os atores sociais em igual<strong>da</strong>de, o que é um equívoco.Aponta ain<strong>da</strong> outros aspectos que não as tor<strong>na</strong>m abrangentes ou objetivas osuficiente para <strong>da</strong>r conta do fenômeno e propõe aspectos a serem considerados. Éimportante salientar que a busca pela objetivação <strong>da</strong> violência tem orientado amaioria dos estudos existentes, uma vez que os mesmos são dirigidos para amedi<strong>da</strong> de atos de agressão.Os que se preocuparam em defini-la concor<strong>da</strong>m que as questões sobre aviolência variam de acordo com a época, lugar ou sistema de referência, e estespodem ser institucio<strong>na</strong>is, jurídicos, sociais e até pessoais, <strong>da</strong>í a dificul<strong>da</strong>de deconceituação, mas reconhecem que não se trata de não ser possível definirviolência, mas encontrar uma visão sistemática do fenômeno capaz de isolar, não sósuas formas mais empíricas ou contingentes.Segundo Michaud, a definição de violência deve <strong>da</strong>r conta do carátercomplexo do fenômeno que tem a ver com as características <strong>da</strong>s situações deinteração, com as diversas formas de instrumentos, com a distribuição temporal <strong>da</strong>violência e também com a <strong>na</strong>tureza dos <strong>da</strong>nos provocados por atos violentos.42 NIEBURG. H.L. Uses of Violence, Jour<strong>na</strong>l of Conflict Resolution, marc.1963, p.43 apud MICHAUD,Yves. A Violência. S.P, Ática, 1989, p.10.43 GRAHAM, H.D., GURR, T.R. The history of Violence in America, 1969 apud MICHAUD, Yves.A Violência. S.P., Ática,1989, p.10.74


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACom relação ao primeiro aspecto, Michaud chama atenção para o fato de quenem sempre a violência corresponde ao enfrentamento direto de dois adversários;ela pode corresponder a situações em que estão envolvidos múltiplos atores como amáqui<strong>na</strong> judiciária, os campos de regimes totalitários, de modo que asresponsabili<strong>da</strong>des pela violência ficam diluí<strong>da</strong>s, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que se multiplicam osparticipantes e os responsáveis ficam encobertos.Considera importante também, que a violência pode ocorrer não só pelasmãos dos envolvidos, mas indiretamente através de instrumentos, meios tidos comomais limpos. Foucault, referindo-se à violência presente nos suplícios reconhece afigura do carrasco como instrumento do príncipe, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que os atosviolentos são exercidos pelas mãos de outro, deixando-o limpo. Assim, instrumentosnão são necessariamente armas, é possível pensarmos em casos em que outrosindivíduos assumem a posição de instrumentos.A violência por outro lado não ocorre de uma única vez, nem sempre éaplica<strong>da</strong> de foram maciça, podendo decorrer exatamente de sua distribuiçãogra<strong>da</strong>tiva, como em casos em que as pessoas pouco a pouco vão sendo priva<strong>da</strong>sde comi<strong>da</strong>, dos amigos, enfim de sua vi<strong>da</strong> social e política. Michaud reconhecenesse formato, exemplo típico de estados de violência. Essa distribuição constituiexemplo típico de uma violência que não diz respeito à agressão física, mas queocorre em nível do simbólico, causando <strong>da</strong>nos psíquicos e morais, que bem ilustramas diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de prejuízos que uma definição de violência deve <strong>da</strong>rconta.violência.Assim, propõe uma definição que considera <strong>da</strong>r conta dos estados e atos de“Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem demaneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando <strong>da</strong>nos a uma ou váriaspessoas em graus variáveis, seja em sua integri<strong>da</strong>de física, seja em suaintegri<strong>da</strong>de moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas eculturais”. 4444 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989.75


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAJurandir Freire Costa em entrevista para a Revista Percurso 45 , dentro de umaperspectiva psica<strong>na</strong>lítica aponta para transformações <strong>na</strong> sua forma de conceber aviolência, considerando dois motivos de estudos e atuação profissio<strong>na</strong>l. Fala de umaconcepção descrita em Violência e Psicanálise, em que a violência advém de umareclusão <strong>na</strong>rcísica, que por outro lado é feito de uma violência exerci<strong>da</strong> pelo exterior,que faz o sujeito estranho a si mesmo.Reconhece que em Violência e Psicanálise 46 estava em busca de essência <strong>da</strong>violência, de um perfil inconfundível dela com outras práticas de poder e que muitoembora ain<strong>da</strong> considere a tortura, a corrupção e, por exemplo, as relações decoerção e poder presentes <strong>na</strong>s relações entre pais e filhos e professor e aluno, comonão pertencentes ao mesmo universo, hoje não mais busca a forte dicotomia entrepoder e violência.Costa, citando sua obra Narcicismo em Tempos Sombrios, assim se expressasobre o conceito ”,,, eu uso o conceito de violência para dizer que do ponto de vista social há umacultura <strong>da</strong> violência que tem com correlato, do ponto de vista do sujeito, o que eu chamaria de cultura<strong>na</strong>rcísica.” 47 Considera não ser possível, a partir <strong>da</strong> psicanálise, explicar o social, umavez que a grande contribuição de Freud foi imagi<strong>na</strong>r o que seria o homem fora dosocial, uma vez que todo o seu esforço em compreender o social tem a ver combuscar o sujeito associal. Jurandir toma a violência em um sentido mais amplo, nosentido de alterar aquilo que seria o movimento <strong>na</strong>tural <strong>da</strong>s coisas, impor umaruptura no contínuo do vivido, do existente.O caminho percorrido possibilitou mostrar aproximações e distanciamentosquanto à <strong>na</strong>tureza e definição <strong>da</strong> violência. Quando o tema é violência, definiçõesobjetivas, de maneira geral, não abarcam o conjunto de fenômenos, tratam deafastar os juízos de valor e procuram por critérios passíveis de quantificação, razãopela qual a maioria dos estudos relativos à violência televisiva abor<strong>da</strong> o número de45 COSTA, Jurandir Freire. As faces <strong>da</strong> violência. Revista Percurso, nº 01, entrevistas/debates.www2.uol.com.br/percurso/main/pcs01/Entrevista 01.htm.11/09/2005.46 Jurandir assi<strong>na</strong>la que essa posição é resultado <strong>da</strong> influência do pensamento de Han<strong>na</strong>h Arendt, emque o poder está assentado no consenso, <strong>na</strong> persuasão e no diálogo e a violência corresponde aouso de artefatos, a imposição <strong>da</strong> vontade de uma maioria sobre outros. Acredita que essa concepçãoé váli<strong>da</strong> uma vez que Arendt faz referência à violência política, à violência do Estado e que nãocaberia uma transposição para a violência do ponto de vista <strong>da</strong> psicanálise.47 COSTA, Jurandir Freire. As faces <strong>da</strong> violência. Revista Percurso, nº 01, entrevistas /debates.www2.uol.com. br/percurso/main/pcs 01/Entrevista 01.htm.11/09/2005. p.5.76


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAtiros, ce<strong>na</strong>s de agressões ou morte, como indicadores de atos violentos por elaapresentados. Sem dúvi<strong>da</strong>, esses aspectos nem sempre correspondem aos maissignificativos quando se trata de pensar o impacto <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>decontemporânea, em especial em crianças e jovens.Na tentativa de maior compreensão <strong>da</strong> violência, aqui foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s visõesque consideram o fenômeno como parte <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza huma<strong>na</strong>, perpassando to<strong>da</strong> anossa existência, do <strong>na</strong>scimento à morte e engendra<strong>da</strong> <strong>na</strong> sexuali<strong>da</strong>de, no trabalho,às que trazem consigo a idéia de <strong>da</strong>nos às pessoas e transgressão às normas, e,portanto, decorrente <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de manutenção e confronto com a ordemestabeleci<strong>da</strong>, com base em valores, que resulta em ações e atitudes povoando tantoas relações inter-pessoais como as institucio<strong>na</strong>is, em âmbito social e político, eintimamente atrela<strong>da</strong> ao poder.Segundo Diógenes 48 , quando os indivíduos não se reconhecem comopossuidores do poder <strong>da</strong> palavra, não reconhecem seu espaço <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de (umavez que a linguagem constitui elemento de representação, instrumento designificação). Isso os leva a não vali<strong>da</strong>r o poder <strong>da</strong>s instâncias que perdem alegitimi<strong>da</strong>de, fazendo <strong>da</strong> violência, alter<strong>na</strong>tiva frente à inexistência do diálogo,possibili<strong>da</strong>de do diálogo, linguagem de um grupo.Decorrente de uma concepção que conduz a pensar inversamente, aviolência relacio<strong>na</strong>-se com a per<strong>da</strong> do poder legítimo e utiliza-se de instrumentos, demodo que essa condição condiz com uma análise que priorize a compreensão <strong>da</strong>violência contemporânea a partir <strong>da</strong> tecnologia e <strong>da</strong> mídia que caracterizam asocie<strong>da</strong>de atual.Este cenário nos convi<strong>da</strong> a pensar o lugar <strong>da</strong> criança e a o capítulo 3 a seguir,ao discorrer sobre a dinâmica <strong>da</strong> violência e o lugar <strong>da</strong> criança- abre espaço a estareflexão.77


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 3A DINÂMICA DA VIOLÊNCIA NA SOCIEDADEE O LUGAR DA CRIANÇA“(...) não ape<strong>na</strong>s to<strong>da</strong> violência é violência do outro, mas é ooutro, como tal, que é violência (...) Desde o momento em queo outro se coloca à minha frente- mas o outro está sempre àminha frente! - ele está contra mim, ele existe contra mim; eleocupa um certo espaço, que me retira; ele ocupa um certotempo - que me rouba, ele faz certos gestos- eu sou o alvo; elemantém um certo discurso - eu morro de silêncio, etc.”Dadoun,1998, p.66-6778


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA3.1 Violência e Socie<strong>da</strong>deA violência presente <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea adquiriu umacomplexi<strong>da</strong>de nunca imagi<strong>na</strong><strong>da</strong>. Segundo Adorno, no passado era possívelidentificar três classes de conflitos: as guerras, as revoluções e os crimes comuns,que ocorriam num cenário mais ou menos conhecido.Hoje os problemas se ampliaram, aumentou a crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de urba<strong>na</strong>, asrelações inter-pessoais estão ca<strong>da</strong> vez mais desgasta<strong>da</strong>s e a violência doméstica,marca<strong>da</strong> por abuso sexual ou espancamento de mulheres e crianças, se acentua. Aviolência passa a atingir universos até então preservados, como a instituição escolae a figura do professor.Os atos de violência, dirigidos àqueles que conferem ao ato maior importânciaou visibili<strong>da</strong>de têm sido inúmeros, embora ninguém esteja imune a eles: crianças,jovens ou idosos <strong>da</strong>s mais diversas cama<strong>da</strong>s sociais. O mesmo acontece em0relação a quem pratica o ato; não há i<strong>da</strong>de para praticar o crime, e, por incrível quepareça, todos se sentem tremen<strong>da</strong>mente ameaçados, quando interpelados atémesmo por uma criança. “É do nosso tempo, entretanto, o grave problema <strong>da</strong> violênciaindiscrimi<strong>na</strong><strong>da</strong>, difundi<strong>da</strong> e confundi<strong>da</strong> em seus meios e fins. Nosso tempo tornou-se o tempo <strong>da</strong>permissivi<strong>da</strong>de. Da impuni<strong>da</strong>de. Da ba<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de.“ 66Essas constatações conduzem a Michaud, para quem a violência traz consigoa idéia de caos e transgressão e, portanto, de distância em relação às normas e emrelação às regras que norteiam as situações <strong>na</strong>turais ou legais, resultando em umcaráter de incerteza e imprevisibili<strong>da</strong>de.“O sentimento de insegurança, que se encontra no coração <strong>da</strong>s discussões sobreo aumento <strong>da</strong> violência, raramente repousa sobre a experiência direta <strong>da</strong>violência. Ele corresponde à crença, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> ou não, de que tudo pode acontecer,de que devemos esperar tudo, ou ain<strong>da</strong> de que não podemos ter certeza de <strong>na</strong><strong>da</strong>.nos comportamentos cotidianos”. 6766 MIRANDA, Nilson A ba<strong>na</strong>lização atual <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> mídia. In. KUNZLER, F. CONTE, B.Pensando a Violência, 2005, p.127.67 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p.14.79


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA caracterização de determi<strong>na</strong>dos fenômenos como violentos implica atribuirlhesum valor e agir em relação a eles, e de acordo com Michaud, o fato de estaremligados à idéia de transgressão, faz que valores positivos e negativos sejamassociados a essa idéia. Assim, os acontecimentos presentes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e tidoscomo violentos não são neutros, recebem valoração <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e dependem doscritérios, dos valores em vigor, fazendo referência ao sagrado dos grupos sociais.O caráter de incerteza e imprevisibili<strong>da</strong>de que cerca a violência tem a ver nãosó com as estruturas presentes <strong>na</strong>s diferentes socie<strong>da</strong>des, como com as mu<strong>da</strong>nçasque caracterizam os diferentes momentos.Em função <strong>da</strong>s novas tecnologias e <strong>da</strong>s diferentes mídias, a violência <strong>na</strong>socie<strong>da</strong>de contemporânea mudou de fisionomia. A brutali<strong>da</strong>de e a selvageriacaracterísticas <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des pouco desenvolvi<strong>da</strong>s foi substituí<strong>da</strong> <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>destecnológicas por instrumentos e mecanismos que tor<strong>na</strong>ram seus <strong>da</strong>nos não só maisabrangentes como mais significativos e mais complexos.O mundo é visto hoje como mais violento quando comparado ao passado, noentanto, ao considerar que o volume de violência <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de contemporâneadifere, de forma significativa, <strong>da</strong> violência que marcou outros momentos <strong>da</strong> história,deve-se levar em conta que no início do século XIX, começa a existir uma maiorprecisão dos registros e conservação de <strong>da</strong>dos, fator que por si só sugere aumento.Além disso, é preciso levar em conta que os <strong>da</strong>dos também não são neutros.”... os que domi<strong>na</strong>m os ca<strong>na</strong>is de comunicação ou os procedimentos dearquivamento têm, dependendo do caso, interesse em exagerar ou diminuir aviolência de seus adversários ou a deles próprios. Portanto é preciso contar comas omissões dos documentos”. 68Por outro lado, é impossível negar que a tecnologia contemporânea tenhamais poder de destruição, e que possui meios de proteção e de abastecimento bemmais desenvolvidos, se comparados aos do passado. Michaud a<strong>na</strong>lisando asconseqüências <strong>da</strong>s guerras em termos dos combates e <strong>da</strong>s vítimas indiretas em68 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p.18.80


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdiferentes tempos mostra que no passado, à ineficiência dos meios bélicos,somavam-se os efeitos indiretos <strong>da</strong>s mesmas decorrentes de falta de socorro,higiene, epidemias e, portanto, o volume <strong>da</strong> violência em diferentes momentos develevar em consideração estes dois aspectos.É preciso reconhecer ain<strong>da</strong> que não existe uma linha divisória tão níti<strong>da</strong> entrea era que presenciamos e outras que a antecederam, que o mundo contemporâneonão constitui uma reali<strong>da</strong>de homogênea, é feito de países diferentes, vivendoreali<strong>da</strong>des diferentes e assim também são os fenômenos violentos que delaemergem, e, nesse sentido, a violência presente <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de atual não segue umúnico padrão em to<strong>da</strong> parte.“Subsistem casos de violência análogos aos <strong>da</strong>s revoltas camponesas do SéculoXVII e XVIII (por exemplo, <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>), movimentos mile<strong>na</strong>ristas (no Perucom os guerrilheiros do Sendero Luminoso); alguns aspectos do terrorismo são aomesmo tempo arcaicos em suas reivindicações e contemporâneos com suacolaboração com o terrorismo inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l (o terrorismo armênio contra osdiplomatas turcos)”. 69Um panorama <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de contemporânea inclui as guerrasem menor proporção, e outras manifestações de violência, como a violência políticae a crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, forma que tem merecido consideração maior atualmente.De acordo com Michaud a violência política compreende: a violência sóciopolíticadifusa −como as rixas, os motins espontâneos e as rivali<strong>da</strong>des entre grupos,seitas e comuni<strong>da</strong>des de aldeias− local e pouco organiza<strong>da</strong>; a violência contra opoder ou violência de baixo− marca<strong>da</strong> pelos levantes, revoluções, golpes de estado;a violência do poder ou violência de cima− aquela acio<strong>na</strong><strong>da</strong> para estabelecer e fazerfuncio<strong>na</strong>r o poder político (formas despóticas e tirânicas 70 , repressivas 71 e de terror 7269 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p. 43.70 Aristóteles denomi<strong>na</strong> de tirania a mo<strong>na</strong>rquia absoluta, mesmo que fun<strong>da</strong><strong>da</strong> sobre o consentimentodos súditos, que tem o apoio do povo a partir de medi<strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas.71 O conceito de repressão corresponde à defesa <strong>da</strong> ordem, dirigindo-se no sentido de alcançar apaz, partindo <strong>da</strong> negação do outro e de seus interesses e gerando reações de luta pelo seu espaço.72 Instrumento de defesa inter<strong>na</strong> usado para intimi<strong>da</strong>r e castigar os opositores, tendo no Comitê Geralde Segurança o instrumento político desse terror, voltado para qualquer ci<strong>da</strong>dão, instalando umsistema geral de ameaça.81


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAde poder), além do terrorismo 73 e <strong>da</strong>s guerras civis. Por último, Michaud cita acrimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, forma de violência que tem merecido consideração maior atualmente.O destaque para a crimi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, no entanto, não se deve ao real aumento dovolume dessa forma de violência, mas às normas a partir <strong>da</strong>s quais sãoconsiderados os fenômenos criminosos. Afirma ser o compromisso ético e o padrãocivilizatório responsáveis por definirem as violações que caracterizam a violência.Michaud chama a atenção ain<strong>da</strong>, para o fato de que as socie<strong>da</strong>descontemporâneas têm maneiras diversas de minimizar a insegurança em relação aosfatos que representam riscos, o que pode ser facilmente percebido se for leva<strong>da</strong> emconsideração, to<strong>da</strong> a espécie de seguros em que a população se engaja, desde aprevidência priva<strong>da</strong> às múltiplas regulações propostas pelo Estado.Para Santos 74 , o excesso de regulação não tem não tem garantido o exercíciodo direito, o princípio <strong>da</strong> credibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> lei é violado, produzindo uma alta taxa deincerteza, de modo que as pessoas não sabem como se encontrarão no diaseguinte. Em uma socie<strong>da</strong>de que vivencia uma grande confusão e dispersão dosvalores sociais, as normas perdem o significado e dão lugar à corrupção, à fraude. Aviolência e a impuni<strong>da</strong>de estão atrela<strong>da</strong>s pela incompetência policial e mesmo doministério público e do judiciário.Quando uma socie<strong>da</strong>de que não retribui, o indivíduo não vê razão para seajustar às normas, <strong>da</strong>í uma tendência ao isolamento e o retorno ao estado de<strong>na</strong>tureza e anomia. Dessa tendência também decorrem o individualismo, o egoísmo,o carreirismo não só <strong>da</strong> população, mas também do policial, do juiz, do político.Neste contexto, desenvolvem-se os códigos privados e a sub-cultura do crime, asmini-socie<strong>da</strong>des droga<strong>da</strong>s e os anéis de corrupção 75 .73 Tentativa de aniquilamento do Estado através do desaparecimento <strong>da</strong>queles que o dirigem.Segundo Michaud o terrorismo nem sempre escapou dessa maneira de pensar, tor<strong>na</strong>ndo-se o elo deligação de uma vanguar<strong>da</strong> consciente e organiza<strong>da</strong> junto às massas que deve sensibilizar.74 SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Razões <strong>da</strong> Desordem apud FALEIROS, Vicente de Paula. AQuestão <strong>da</strong> Violência. In: SOUSA Jr., José Geraldo et al.(Org.). Educando para os Direitos Humanos.1 ed. Porto Alegre: Síntese, 2004, v. 1, p. 83-98.75 No Brasil, a questão <strong>da</strong> violência deve ser pensa<strong>da</strong> levando-se em consideração o aumentosignificativo <strong>da</strong> população que deixou o campo, veio para a ci<strong>da</strong>de, forçando a elite a incorporá-la <strong>na</strong>construção <strong>da</strong> democracia, mas que se constituem em um desafio para os gover<strong>na</strong>ntes, no que refereaos serviços básicos como educação, serviços médicos, transportes e empregos, gerando82


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs assaltos, sequestros, ações arma<strong>da</strong>s de bandos criminosos em nossasmaiores capitais são fatos cotidianos vividos pela população. Invasões dedelegacias, cerco às escolas e facul<strong>da</strong>des, assim como roubo e furto de veículos,carros particulares, caminhões, ônibus, atingindo seus condutores e passageiros. Osci<strong>da</strong>dãos além de presos em suas casas são assaltados ali mesmo, enquanto osmargi<strong>na</strong>is tomam conta <strong>da</strong>s ruas, uma ver<strong>da</strong>deira guerra.Nesse cenário, em que se prima pela insegurança, não só a agressão física,os roubos são temidos e recursos são desenvolvidos para minimizar os riscosresultantes do medo, outra face <strong>da</strong> violência a ser considera<strong>da</strong>; esta envolve asubjetivi<strong>da</strong>de, o imaginário e resulta <strong>na</strong> precaução, no retraimento e <strong>na</strong> defesa.A arquitetura contemporânea traz a marca <strong>da</strong> insegurança e medo geradospela violência: os pequenos muros deram lugar a portões eletrônicos e com alarmesou a muralhas que transformaram as casas em ver<strong>da</strong>deiros fortes. Essas formasencontra<strong>da</strong>s para o controle <strong>da</strong> violência trouxeram consigo mu<strong>da</strong>nças significativas<strong>na</strong>s relações entre as pessoas, ao impedirem o acesso direto às ruas e favoreceremo isolamento. Os espaços públicos desti<strong>na</strong>dos ao lazer passaram a se constituir emespaços ameaçadores, provocando medo e impedindo o convívio.Assim, os meios de comunicação atendem às necessi<strong>da</strong>des dos indivíduos deinteragirem de forma segura ao possibilitarem o diálogo e a aproximação com osfatos do cotidiano, e, nesse sentido, ao reproduzirem o real ou apresentarem aviolência através <strong>da</strong> ficção, não ficam imunes às discussões relativas ao tema.É importante considerar que a distância entre a violência do passado e dopresente fica marca<strong>da</strong> não só pelos meios de destruição e controle, como tambémpela participação dos meios de comunicação de massa e <strong>da</strong>s técnicas de gestão einstrumentação social.O primeiro aspecto considerado, a tecnologia <strong>da</strong> destruição inclui adiversi<strong>da</strong>de de instrumentos, a gra<strong>da</strong>ção dos meios e o acesso a eles, a sofisticaçãoe precisão dos instrumentos, a profissio<strong>na</strong>lização dos serventes, que atinge áreasver<strong>da</strong>deiros bolsões de miséria, terreno fértil para o desenvolvimento do <strong>na</strong>rcotráfico, o jogo, o álcool,a prostituição, o contrabando, o roubo, o assalto, vão construindo o crime organizado e um poderparalelo. A per<strong>da</strong> do poder pelos gover<strong>na</strong>ntes, induz à necessi<strong>da</strong>de de medi<strong>da</strong>s com base <strong>na</strong>violência, segundo Arendt.83


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAca<strong>da</strong> vez mais específicas, o custo e a contami<strong>na</strong>ção de outras áreas que a princípio<strong>na</strong><strong>da</strong> têm a ver com a violência. As técnicas de propagan<strong>da</strong>, de condicio<strong>na</strong>mentodos espíritos ou lavagem cerebral entram nesse universo. 76Outro aspecto diz respeito aos meios de comunicação, marcos essenciais <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de contemporânea. Uma vez que a mídia vive do sensacio<strong>na</strong>l, o caos e adesestabili<strong>da</strong>de que caracterizam a violência atendem às necessi<strong>da</strong>des dessesmeios de maneira significativa “... com vantagens para as violências espetaculares, sangrentasou atrozes sobre as violências comuns, ba<strong>na</strong>is e instala<strong>da</strong>s”. 77Por outro lado, cabe considerar que a relação homem-mundo sempreaconteceu de maneira direta e indireta, sendo que a indireta era obti<strong>da</strong> através detestemunho escrito ou oral. Hoje, acontecendo através <strong>da</strong>s imagens, multiplicam-seas evidências indiretas, de modo que a idéia do real se amplia. As imagenspretendem-se verídicas, aparentam diminuir o universo <strong>da</strong>s incertezas, funcio<strong>na</strong>mcomo mero duplo dos acontecimentos.No entanto, é preciso reconhecer que através <strong>da</strong> mídia, violências são cria<strong>da</strong>se é com as violências cria<strong>da</strong>s que nos relacio<strong>na</strong>mos e elas são enganosas. Outroaspecto a ser considerado diz respeito à aproximação com os acontecimentos que amídia possibilita, aproximando os indivíduos de violências, que de outra forma nãofariam parte de seu contexto. Hoje é possível viver um sequestro e um assalto, aovivo.Ao mesmo tempo, por suas características, a informação pela imagem podese reverter em desinformação, em função <strong>da</strong> manipulação, do excesso e <strong>da</strong>retenção <strong>da</strong>s informações. Ain<strong>da</strong> há que se considerar que as imagensapresenta<strong>da</strong>s pela mídia muitas vezes mascaram a reali<strong>da</strong>de e suavizam aviolência, todos estes aspectos contribuem para sua ba<strong>na</strong>lização.A mídia também tem sido responsabiliza<strong>da</strong> pela manutenção do consumo,com base <strong>na</strong> imagem de uma marca, que confere às pessoas distinção e as permitecompetir, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que ganham reconhecimento e poder, o poder <strong>da</strong> marca. Sobesse aspecto o indivíduo se coloca no universo <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong>de, vendi<strong>da</strong> e76 Situações em que a violência aberta é substituí<strong>da</strong> por formas mais refi<strong>na</strong><strong>da</strong>s.77 MICHAUD, Yves. A Violência. São Paulo, Ática, 1989, p.49.84


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAveicula<strong>da</strong> nos ca<strong>na</strong>is de comunicação e proclama<strong>da</strong> como valor universal no mundoglobalizado. O incentivo ao consumo traduz uma <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> tecnologiade destruição, a contami<strong>na</strong>ção de outras áreas, no caso, a propagan<strong>da</strong> que passa aexercer uma forma de violência encoberta, simbólica, quando o sujeito vê-seimpossibilitado de consumir aquilo que lhe irá conferir poder, passa a sentir-se àmargem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.Ain<strong>da</strong> pensando a relação socie<strong>da</strong>de-violência, segundo Michaud, associe<strong>da</strong>des contemporâneas são ao mesmo tempo vulneráveis e resistentes àviolência.“Elas são vulneráveis porque de uma extrema complexi<strong>da</strong>de. Sua complexi<strong>da</strong>de éa <strong>da</strong> divisão do trabalho dentro dos países e entre eles, a <strong>da</strong>s interações sociais e<strong>da</strong>s trocas econômicas <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, a <strong>da</strong>s redes de comunicação etransporte. Comércio, intercâmbio e lazer multiplicam os deslocamentos e acirculação, misturam as populações. A segurança sob to<strong>da</strong>s as formas tornou-seum direito; a tolerância com a violência e a brutali<strong>da</strong>de reduziu-se porque oscostumes se suavizavam e se policiaram −pelo menos em princípio“. 78A violência nos dias de hoje, não pode ser compara<strong>da</strong> à do passado, não sópor não ser reflexo de uma socie<strong>da</strong>de homogênea, mas principalmente, por serproduzi<strong>da</strong> e gera<strong>da</strong> por mecanismos cujos efeitos não são totalmente reconhecidos,o que a tor<strong>na</strong> mais vulnerável aos mesmos. Os novos formatos ou mesmomecanismos usados devem levar consideração às questões relativas à integri<strong>da</strong>demoral e participações simbólicas e culturais.A própria socie<strong>da</strong>de não tem se conscientizado <strong>da</strong> importância de outrasformas de violências serem reconheci<strong>da</strong>s, ou mesmo pouco se interessam emidentificar as possíveis inter-relações entre as diferentes manifestações. Nessesentido, a construção de uma socie<strong>da</strong>de menos violenta fica restrita à especificaçãode ações que possibilitem controlar ou minimizar os efeitos a partir de fatosespecíficos como tiros, mortes, tidos como as principais manifestações de risco,inclusive quando se a<strong>na</strong>lisa a violência presente <strong>na</strong> mídia e <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.78 MICHAUD, Yves. A Violência, São Paulo, Ática, 1989,p.52.85


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAnálise <strong>da</strong> cultura contemporânea atribui à vulnerabili<strong>da</strong>de a que as pessoastêm ficado submeti<strong>da</strong>s nos espaços públicos, a tendência ca<strong>da</strong> vez maior de sefecharem ou manterem fechados os seus próprios lares e a substituição doscontatos pessoais e dos diálogos com o outro, por contatos com os meios decomunicação. O espaço restrito ao lazer e demais formas de convivência, marcadospor situações de risco, vêm fazendo com que as pessoas mais e mais se restrinjamà TV, ao vídeo ou a um bate-papo pela Internet.3.2. Violência e InfânciaPartindo <strong>da</strong> definição de Michaud para quem é possível falar em violênciasempre que em uma interação, uma <strong>da</strong>s partes causa <strong>da</strong>nos à outra, seja em suaintegri<strong>da</strong>de física, como em sua integri<strong>da</strong>de moral, em suas posses, ou em suasparticipações simbólicas, a violência contra crianças e adolescentes acompanha atrajetória huma<strong>na</strong>, expressando-se em diferentes mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>na</strong>s diferentesculturas, e fazendo com que esse histórico de violência faça dessas crianças,adultos violentos. Segundo Mi<strong>na</strong>yo “...as vítimas freqüentemente se tor<strong>na</strong>m agressoras,evidenciando a complexa trama de relações presentes nesse fenômeno secular”. 79A violência contra a criança tem raízes mile<strong>na</strong>res. Um olhar pelas socie<strong>da</strong>desantigas, mostra que os pais tinham o direito de aceitar ou renegar o recém-<strong>na</strong>scido,de modo que o infanticídio era prática comum. A própria Bíblia apresenta passagensem que o povo hebreu comia as crianças mais novas em momentos de escassez dealimentação. Esses atos nos colocam diante de fatos que deixam transparecer ovalor <strong>da</strong>s crianças em tempos mais remotos.Na era medieval a criança era ti<strong>da</strong> como mercadoria e participava dosmesmos trabalhos e jogos que o adulto, sendo representa<strong>da</strong> como um adulto emminiatura. Não era vista como pessoa, acreditava-se que fosse incapaz de pensar esentir e, uma vez que não guia<strong>da</strong> pela razão, não poderia ser considera<strong>da</strong> um serhumano.79 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de. O significado social e para a saúde <strong>da</strong> violência contra criançase adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria. (0rg). Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002, p.95.86


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEsta forma de pensar a criança define as formas de tratamento a eladesti<strong>na</strong><strong>da</strong>. Não só o infanticídio, mas os espancamentos e o incesto tambémvitimavam as crianças. Philippe Arriès 80 relata que no século XVII os costumescomeçam a se diferenciar, as mulheres são vistas como seres frágeis e sob ainfluência de religiosos e moralistas, de médicos e psicólogos, um novo sentimentoem relação à criança vai penetrando em to<strong>da</strong>s as classes sociais e em to<strong>da</strong>s asfamílias.Em decorrência <strong>da</strong> Revolução Francesa, momento em que a consciênciamoral <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de defende a ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, um novo pensamento em relação àscrianças é construído e têm início ativas reivindicações. Uma nova posição <strong>da</strong>mulher <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de também se faz sentir.A construção <strong>da</strong> infância se fez historicamente sempre próxima <strong>da</strong> construçãode outros sujeitos, e nesse sentido a mulher em nossa cultura sempre foi uma figurapróxima <strong>da</strong> infância e de sua reprodução, não só pela possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> materni<strong>da</strong>de,mas pelo seu papel junto à saúde, socialização, cui<strong>da</strong>dos, enfim, responsabili<strong>da</strong>despara com a criança, de modo que a concepção de infância fica atrela<strong>da</strong> àdiferenciação do papel <strong>da</strong> mulher <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.É <strong>na</strong> segun<strong>da</strong> metade do século XVIII, com Jean Jacques Rousseau,precursor <strong>da</strong> psicologia <strong>infantil</strong>, que a criança vem a ser reconheci<strong>da</strong> como pessoaadquirindo valor próprio e sendo dig<strong>na</strong> de ser considera<strong>da</strong> como um ser pleno, emque.A infância, concebi<strong>da</strong> como uma fase de transição para a vi<strong>da</strong> adulta, faz comque a educação assuma a tarefa de formar essas crianças e afastá-las dos males domundo, assumindo assim, um papel fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças,principalmente <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong>s classes altas. A educação, por meio <strong>da</strong>experiência organiza<strong>da</strong>, deve ter início desde o <strong>na</strong>scimento e proporcio<strong>na</strong>r o primeirocontato com o mundo, com os homens e com as coisas, uma vez que se bemeduca<strong>da</strong>, poderá contribuir com a socie<strong>da</strong>de.80 ARIÈS, Philippe. História social <strong>da</strong> criança e <strong>da</strong> família. R.J., LTC, 1981.87


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA criança nesse período ain<strong>da</strong> se encontra vulnerável em relação àexploração e aos maus tratos, porém, a violência contra a criança estásignificativamente atrela<strong>da</strong> ao processo educativo e revesti<strong>da</strong> em instrumento desocialização, uma vez que centra<strong>da</strong> <strong>na</strong> decisão dos pais e faculta<strong>da</strong> mediantedesobediências e rebeldias.Na história brasileira o pensar sobre a infância e a criança, caminhando doBrasil colônia até a primeira metade do século XX, transitou por concepções de totaldesvalorização à proteção excessiva “(...) as crianças e adolescentes eram vistos comoobjetos de proteção social, controle, discipli<strong>na</strong>mento e repressão social”. 81A necessi<strong>da</strong>de ou desejo <strong>da</strong> mulher de engajamento no trabalho fora de casatraz como conseqüência a necessi<strong>da</strong>de de que a socie<strong>da</strong>de, representa<strong>da</strong> peloEstado, passe a assumir essa criança, tor<strong>na</strong>ndo coletiva sua educação. Assim, ainfância deixa de ser responsabili<strong>da</strong>de só <strong>da</strong> família e surge como categoria social.Importante citar que a vi<strong>da</strong> sempre foi pensa<strong>da</strong> em dois momentos: i<strong>da</strong>de adulta,tempo de realizações pessoais, profissio<strong>na</strong>is, políticas e infância, momento <strong>da</strong>educação, <strong>da</strong> preparação, de cui<strong>da</strong>do.No Brasil, até a déca<strong>da</strong> de 70, essas representações <strong>da</strong> criança deramorigem a diferentes práticas pelo Estado e socie<strong>da</strong>de civil. Como objetos deProteção Social as crianças estavam sujeitas às práticas de assistência que visavamà preservação de suas vi<strong>da</strong>s, sendo inseri<strong>da</strong>s em programas de saúde, alimentaçãoe nutrição. Como objetos de Controle e Discipli<strong>na</strong>, as práticas tinham como objetivoprevenir a delinqüência e promover a integração social, de modo que as criançaspudessem contribuir para o desenvolvimento do país, mantendo sua posiçãosubordi<strong>na</strong><strong>da</strong> e não se tor<strong>na</strong>ndo ameaça à socie<strong>da</strong>de, estando inseri<strong>da</strong>s emprogramas que ocorriam através <strong>da</strong> escolarização básica e <strong>da</strong> iniciação profissio<strong>na</strong>l.Como objetos de Repressão Social a prática era de inter<strong>na</strong>mento, visando isolar doconvívio social os menores que cometiam infrações e que, portanto, representavamameaça à socie<strong>da</strong>de.81 PINHEIRO, Ângela de Alencar Araripe. A criança e o adolescente como sujeitos de direitos:emergência e consoli<strong>da</strong>ção de uma representação social no Brasil. In: CASTRO, Lucia Rabello de.(Org) Crianças e jovens <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> cultura, R.J., NAU/ FAPERJ, 2001, p.52.88


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACastro 82 descreve o contexto que trouxe consigo uma nova representaçãosocial <strong>da</strong> criança e do adolescente. Salienta que, no vigor <strong>da</strong> Ditadura Militarproposta em 1964, o fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70 e o início dos anos 80 foram palco demovimentos diversos em prol <strong>da</strong> redemocratização do país e <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> social, que resultaram em uma maior participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de<strong>na</strong>s decisões políticas e <strong>na</strong> luta pela garantia de direitos e culminou com acampanha Diretas já! Acrescenta ain<strong>da</strong>, que esse momento de efervescência políticafoi também fortemente marcado por movimentos de cunho social, com vistas aodireito a uma vi<strong>da</strong> melhor.Ao mesmo tempo em que uma imagem de progresso caracterizou a déca<strong>da</strong>do milagre brasileiro, o agravamento significativo de indicadores sociais colocou ascrianças e os adolescentes, dentre as populações mais vulneráveis, deixando maisevidentes as deficiências dos sistemas de atendimento.Esse cenário fez com que diferentes atores sociais passassem a criticar osistema oficial quanto ao padrão de atendimento, à política e práticas institucio<strong>na</strong>isvigentes, no que se refere à defasagem e segmentação do atendimento ecaracterísticas coercitivas, punitivas, dentro do regime de inter<strong>na</strong>to.No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80, <strong>da</strong>dos levantados pelo IBGE - Instituto Brasileirode Geografia e Estatística, o Ministério <strong>da</strong> Saúde e a FUNABEM- Fun<strong>da</strong>ção Nacio<strong>na</strong>ldo Bem Estar do Menor, revelaram que 55% dos menores de 18 anos encontravamseem situação de carência.Segundo Pinheiro 83 , os <strong>da</strong>dos sobre as condições de penúria em que vivia amaioria <strong>da</strong> população de crianças e adolescentes no país teve repercussão noexterior, desencadeando ações de grande relevância <strong>na</strong> história <strong>da</strong> defesa dosdireitos <strong>da</strong> criança e do adolescente no Brasil.A divulgação destes <strong>da</strong>dos fez com que fosse <strong>da</strong><strong>da</strong> importância à defesa dosdireitos <strong>da</strong> criança e do adolescente no Brasil, surgindo em 1985, o PAAMR -Projeto82 CASTRO, Lucia Rabello de. (Org.) Crianças e jovens <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> cultura. R.J., NAU/FAPERJ,2001.83 PINHEIRO, Ângela de Alencar Araripe. A criança e o adolescente como sujeitos de direitos:emergência e consoli<strong>da</strong>ção de uma representação social no Brasil. In: CASTRO, Lucia Rabello de.(Org.)Crianças e jovens <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> cultura. R.J. NAU/ FAPERJ, 2001, p. 55.89


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAlter<strong>na</strong>tivas de Atendimentos a Menores de Rua, que buscava melhorar a quali<strong>da</strong>dedo atendimento, oferecido às crianças e adolescentes.No âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil surge o Movimento Nacio<strong>na</strong>l de Meninos eMeni<strong>na</strong>s de Rua (MNMMR), que conta com a aju<strong>da</strong> de diversos órgãosgover<strong>na</strong>mentais como o PAAMR 84 , a UNICEF 85 , a FUNABEM 86 e a SAS/MPAS 87 .A diferença entre o MNMMR e as demais enti<strong>da</strong>des que se comprometiamcom o atendimento às crianças e adolescentes, reside nos princípios em que sebaseava ”... considerar a criança e o adolescente como sujeitos <strong>da</strong> história e desenvolver trabalhoeducativo no contexto social em que estes sujeitos estão inseridos”. 88Segundo Pinheiro 89 estes princípios entram em confronto com as antigasrepresentações sociais <strong>da</strong> criança, situando-os como sujeitos <strong>da</strong> história, comosujeitos de direitos e colocam as práticas deriva<strong>da</strong>s de uma concepção de criançaobjeto,em confronto com as que a concebem como sujeitos de direito.• Institucio<strong>na</strong>lização e confi<strong>na</strong>mento vs. Atendimento em meio aberto e no localde origem <strong>da</strong> criança e do adolescente;• Medi<strong>da</strong>s repressivas e coercitivas vs. Diálogo e participação <strong>da</strong> criança e doadolescente <strong>na</strong>s decisões que envolvem o atendimento e a busca desoluções para seus próprios problemas;• Decisões centraliza<strong>da</strong>s em órgãos normativos vs. Participação <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de <strong>na</strong> gestão dos projetos de atendimento.To<strong>da</strong>s essas articulações, no sentido de buscar alter<strong>na</strong>tivas para o trato juntoa esse público, derivaram ao mesmo tempo em que estão no centro <strong>da</strong>srepresentações <strong>da</strong> criança e dos adolescentes, como sujeitos de direitos84 O Projeto Alter<strong>na</strong>tivas de Atendimentos a Meninos de Rua promove articulação entre enti<strong>da</strong>despara troca de informações fora do âmbito gover<strong>na</strong>mental, sobre ações volta<strong>da</strong>s para as crianças noespaço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil.85 Fundo <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Infância.86 Fun<strong>da</strong>ção Nacio<strong>na</strong>l para o Bem Estar do Menor.87 SAS/MPAS –Secretaria de Assistência à Saúde/ Ministério <strong>da</strong> Previdência e Assistência Social88 PINHEIRO, Ângela de Alencar Araripe. A criança e o adolescente como sujeitos de direitos:emergência e consoli<strong>da</strong>ção de uma representação social no Brasil. In. CASTRO, Lucia Rabello de.Crianças e jovens <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> cultura. R.J.,NAU/FAPERJ, 2001, p.57.89 Idem, p.58.90


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAconsoli<strong>da</strong>dos pela Constituição de 1988 e <strong>da</strong> lei complementar conheci<strong>da</strong> comoEstatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente.Passados 15 anos <strong>da</strong> promulgação do Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente -<strong>ECA</strong>, o que se pode identificar com clareza é que a evolução em termos <strong>da</strong>spráticas, não acompanhou a evolução ideológica ”... há estudiosos que divergem <strong>da</strong> idéiade que sejamos mais respeitosos hoje com as crianças do que nos séculos passados.” 90Westphal faz referência a Lloyd de Mause, 1975, que considera haver <strong>na</strong>I<strong>da</strong>de Moder<strong>na</strong> uma inversão <strong>na</strong> relação pais-filhos em que os primeiros passam demau-tratantes, a pais que se sacrificam pelos filhos; porém para Ariès 91 , apesardisso, a criança <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de tradicio<strong>na</strong>l era mais feliz, pois ao viver junto aosadultos, fica diluí<strong>da</strong> a pressão e opressão <strong>da</strong> família contra ela. Há ain<strong>da</strong> quemreconheça, que <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong>, as crianças têm a função de manter asfamílias uni<strong>da</strong>s, sendo usa<strong>da</strong>s como meio de solução de problemas emocio<strong>na</strong>is.Assim, a História <strong>da</strong> Infância no Brasil percorreu um caminho que vislumbrouuma concepção <strong>da</strong> criança como ser fraco e incapaz de reconhecer e compreendero mundo em que vive, substituí<strong>da</strong> por uma concepção que reconhece a criança,como ser que possui formas específicas de relação com o mundo, uma criançacomo a que nos propõe Piaget, ativa, sujeito de seu processo de crescimento, compossibili<strong>da</strong>des orgânicas e mentais específicas, portadora de meios próprios de vivere conhecer a reali<strong>da</strong>de e, sendo reconheci<strong>da</strong> pela socie<strong>da</strong>de como um sujeito dedireitos.Apesar <strong>da</strong>s transformações porque passaram o conceito de infância e, oconsequente tratamento <strong>da</strong>do às crianças, estas historicamente se encontramsubmeti<strong>da</strong>s a diferentes formas de violência, em nível estrutural ou doméstico.Violência estrutural é aquela que incide sobre as condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> criançae que originou fenômenos tais como; meninos de rua, meninos e meni<strong>na</strong>strabalhadoras e crianças e adolescentes institucio<strong>na</strong>lizados em função de abandono90 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de. O significado social para a saúde <strong>da</strong> violência contra criançase adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria. Violência e Criança. S.P., Edusp, 2002, p.102.91 ARIÈS, Philippe. História Social <strong>da</strong> Criança e <strong>da</strong> Família. R.J., LTC, 1981.91


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAou ressocialização. Nos dois primeiros casos a criança experimenta situações derisco envolvendo ameaça à própria vi<strong>da</strong>, maus tratos, exploração, fome, despreparopor ausência de escolarização e, quando institucio<strong>na</strong>liza<strong>da</strong>s, ficam submeti<strong>da</strong>s aregime discipli<strong>na</strong>r rigoroso e, punitivo, marcado pela castração de sua liber<strong>da</strong>de deexpressão e autonomia. Dentre as razões <strong>da</strong> i<strong>na</strong>dequação desses sistemas estão,Altoé,1990 apud Souza Mi<strong>na</strong>yo coloca:“...transferência múltipla de ambiente de vi<strong>da</strong>; rodízio de funcionários; atendimentoimpessoal e desperso<strong>na</strong>lizante; impossibili<strong>da</strong>de de construir laços objetivossignificativos; hipoestimulação do desenvolvimento motor; fechamento para omundo exterior, monotonia do cotidiano e pobreza <strong>da</strong>s relações sociais”. 92Ao fazer referência à violência doméstica, Guerra inclui as violências física,sexual e psicológica. A violência física a que a criança pode estar submeti<strong>da</strong> podeser associa<strong>da</strong> com opção pela delinqüência, em função de sentimentos ambíguos,confusos ou negativos que gera, como raiva, ansie<strong>da</strong>de, medo, terror, ódio ehostili<strong>da</strong>de. Parricídio, matricídio ou fraticídio aparecem como revanche, decorrentesdos sentimentos reprimidos gerados pelas condições a que foram submeti<strong>da</strong>s emsuas vi<strong>da</strong>s.A violência sexual pratica<strong>da</strong> pelos pais, parentes ou pessoas dorelacio<strong>na</strong>mento <strong>da</strong> vítima costuma ser encoberta por tabus culturais, relações depoder nos lares e que fazem <strong>da</strong>s vítimas, culpa<strong>da</strong>s. Em conseqüência as criançassubmeti<strong>da</strong>s à violência sexual, saem para as ruas e lá, passam a sofrer to<strong>da</strong><strong>na</strong>tureza de abusos, inclusive agressões por parte de policiais.São inúmeros os fatores capazes de se constituírem em violência psicológica,podendo decorrer de depreciação sofri<strong>da</strong>, bloqueio de esforços de auto-estima erealização, ou ameaça de abandono e cruel<strong>da</strong>de. A violência gera<strong>da</strong> por situaçõesdessa <strong>na</strong>tureza tem sido pouco estu<strong>da</strong><strong>da</strong>; decorre de uma visão de criança comoinferior ao adulto, devendo ser mol<strong>da</strong><strong>da</strong> por ele -tido como poderoso e moralmentecerto - a partir do uso <strong>da</strong> punição, forma escolhi<strong>da</strong> contra a teimosia e inculcação deculpa e vergonha.92 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de. O significado social e para a saúde <strong>da</strong> violência contra criançase adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002 p.106.92


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA negligência também caracteriza uma forma de violência contra a criança, àmedi<strong>da</strong> que corresponde às omissões <strong>da</strong> família em relação às suas obrigações deproverem as necessi<strong>da</strong>des físicas e emocio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> criança. Difícil de identificar, poisreside nos limites <strong>da</strong> miséria e do mau trato “... a reconheci<strong>da</strong> ausência de condiçõeseconômicas dessas famílias muitas vezes dificulta o julgamento mais preciso entre prática abusiva eimpossibili<strong>da</strong>de de prover atenção”. 93 Escassez de <strong>da</strong>dos sobre as famílias, de classemédia e alta, não as colocam fora desse universo.“... Essa hipótese está associa<strong>da</strong> ao próprio modo de vi<strong>da</strong> desses extratos, onde aconcorrência e outros estímulos tendem, de um lado à ausência real e moral dospais, de seus lares e de outro à pressão sobre crianças e adolescentes para sedestacarem social, econômica e intelectualmente em função do mercado (...) ” Oslares não são tão sagrados quanto parecem...” 94To<strong>da</strong>s as formas de violência a que as crianças estão sujeitas nos apontampara a relação <strong>da</strong> violência com o poder. Entendendo como exercício do poder aação de um ou mais sobre os outros, que não são reconhecidos como sujeitos dedesejos, mas, ao contrário, reduzidos a objetos de descarga. Existem atos violentos,discursos violentos, onde o outro é submetido a uma situação de impotência eindiferença. Segundo Arendt, “Poder e violência, embora sejam fenômenos distintosusualmente aparecem juntos. Onde quer que estejam combi<strong>na</strong>dos, o poder é como descobrimos ofator primário e predomi<strong>na</strong>nte.” 95A compreensão <strong>da</strong> agressão e <strong>da</strong> violência passa pelo poder. Sempre opoder afronta e utiliza a violência, e esta em troca, exprime uma certa forma depoder. A criança exposta às condições de violência necessita de todo o potencialagressivo que possa reunir, para proteger e fazer valer seu desenvolvimento, paracaminhar de um estado de dependência para um estado de autonomia. Esseprocesso, segundo a psicologia, se dá a partir <strong>da</strong> relação do sujeito com o outro,com o mundo e inclui processos de identificação com os pais, em especial com o dopróprio sexo e que tem o poder como aspecto básico, assim é possível falar emvários níveis de poderes.93 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de. O significado social e para a saúde <strong>da</strong> violência contra criançase adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002, p.106.94 Id., p.10.95 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1994, p.41.93


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASantos 96 , fala de um poder necessário ao desenvolvimento do indivíduo e oclassifica em níveis. O primeiro deles corresponde ao poder de ser, nem bom nemmal, mas que precisa ser vivenciado, do contrário resulta em neurose, psicose,violência. Uma vez que todos têm necessi<strong>da</strong>de de ser e isso passa peloreconhecimento, o segundo nível considerado <strong>na</strong> criança é o poder de autoafirmação,construído <strong>na</strong> família. O terceiro nível do poder é o <strong>da</strong> auto-inserção,forma de comportamento mais forte que corresponde à exigência peloreconhecimento e por fim cita a agressão,como o nível que corresponde aomovimento no sentido de penetrar em posições de prestígio, ou no território do outroou em suas posses. Santos, com relação ao último aspecto, parece não considerar opoder construtivo <strong>da</strong> agressão, tão necessário para a ação do sujeito <strong>na</strong> conquistapor sua auto-inserção, pelo seu estar no mundo, pelo seu espaço, sem reivindicar odo outro.A autora considera ain<strong>da</strong>, que <strong>na</strong>s crianças esses níveis de poder seorganizam de formas diferencia<strong>da</strong>s, dependendo <strong>da</strong> maneira como elasestabelecem e constroem relações com seu meio social. To<strong>da</strong>s as formas de relaçãocom o mundo que as crianças utilizam têm fantasias lúdicas forma<strong>da</strong>s por elementosagressivos, tais como matar, morrer, ferir-se, destruir, atirar, quebrar e explodir. Fazparte <strong>da</strong> luta para constituir-se como sujeito, não se submeter passivamente aosprocessos impostos pela educação.Segundo Souza Mi<strong>na</strong>yo 97 quanto mais a criança estiver segura em relaçãoaos pais mais será capaz de tolerar e, aliás, gozar a fantasia agressiva. O fato de ascrianças muito cedo estarem sob influências sociais resultam em experiênciasprecoces com a violência, e isto poderá afetar seus valores morais, atitudes sociais eestabili<strong>da</strong>de emocio<strong>na</strong>l afetados. Por outro lado, o que se percebe é que osprofessores em geral não reconhecem que o ato de educar exige agressivi<strong>da</strong>de.Essa é uma quali<strong>da</strong>de essencial <strong>na</strong> hora de agir como mediador de conflitos e deexercer o papel de guia, privilegiando saí<strong>da</strong>s criativas e negocia<strong>da</strong>s, em vez deviolentas.96 SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite dos. Raízes <strong>da</strong> Violência <strong>na</strong> Criança e Danos Psíquicos. In:WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002, p.189-190.97 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de. O significado social e para a saúde <strong>da</strong> violência contra criançase adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria.(Org) Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002.94


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIANa criança peque<strong>na</strong> é difícil imagi<strong>na</strong>r a existência de uma agressivi<strong>da</strong>de doponto de vista <strong>da</strong> psicologia individual. Esse componente, no entanto, só édestacado quando as crianças e os adolescentes são agitados e irrompem de umaforma mais violenta sobre os objetos ou sobre os outros. E, nesse momento, com acrise <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de familiar, a culpa recai sobre a escola e sobre os professores,como um currículo oculto e com frequência sobre a mídia.Outro aspecto a ser considerado diz respeito a grande lacu<strong>na</strong> existente entrea experiência real de violência, as ações em fantasia e agressão <strong>na</strong> infância.“A divergência entre fantasia e reali<strong>da</strong>de pode ser vista com bastante clareza seexami<strong>na</strong>rmos os mitos e os contos e fa<strong>da</strong>, com os quais a maioria foi cria<strong>da</strong>.Muitos desses contos contem atos de violência que, se tomados literalmente,assustariam os mais robustos. Quanto mais segura a criança estiver em relaçãoaos pais (reais), tanto mais capaz ela é de tolerar...” 98E esse aspecto difere do mundo de fantasias calca<strong>da</strong>s em um conjunto deimagens e palavras presentes nos jor<strong>na</strong>is e <strong>na</strong> TV, a que as crianças estão expostashoje em dia e que representam um universo que querem vender à força, capaz degarantir a entra<strong>da</strong> e participação no mundo. A angústia decorrente <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>dedo não pertencimento, e o desejo de querer entrar nesse mundo são postos <strong>na</strong>exigência de possuir uma série de produtos. Os videojogos, desportos radicais, jipes,roupas de marca, guloseimas, tabaco, álcool e drogas são, entre muitos outros, bonsexemplos.Neste processo, as pessoas, pela sofreguidão do querer ter e do querer ser,tor<strong>na</strong>m-se pouco afetuosas e demasiado egoístas, acabando por serem conduzi<strong>da</strong>sa estados inquietantes de agressivi<strong>da</strong>de que se manifestam desde tenra i<strong>da</strong>de e quemais tarde derivam para práticas de violência, barbari<strong>da</strong>de e destruição.Uma <strong>da</strong>s grandes questões que a socie<strong>da</strong>de tem buscado compreender dizrespeito à violência a que a criança está submeti<strong>da</strong> nos dias de hoje. Nos últimos 20anos o fenômeno tem alcançado maior visibili<strong>da</strong>de, muitos estudos têm sidorealizados e corroboram com essa afirmação. Tal questão ganha maior relevância98 SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite dos. Raízes <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> criança e <strong>da</strong>nos psíquicos. In:WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., ED<strong>USP</strong>, 2002, p.189.95


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAquando pensa<strong>da</strong> em termos <strong>da</strong>s influências desse fenômeno sobre odesenvolvimento <strong>infantil</strong>, uma vez que se reconhece o aumento dos índices de atosviolentos praticados por crianças.Da violência doméstica à institucio<strong>na</strong>l, e como conseqüência <strong>da</strong> prostituição<strong>infantil</strong> ao a<strong>na</strong>lfabetismo, são inúmeras as formas de violência que atingem ascrianças e, que estão presentes, em maior ou menor proporção, se foremconsiderados os diferentes estados e regiões brasileiras.Dentre as instituições, a mídia, de forma direta ou indireta, tem sido aponta<strong>da</strong>de forma significativa, uma vez que nela o universo <strong>da</strong> violência, seja ela real oufictícia, tem espaço significativo.Buscar conhecer a influência <strong>da</strong>s situações de adversi<strong>da</strong>des a que a criançaestá submeti<strong>da</strong> parece conduzir ao caminho para a compreensão <strong>da</strong> expansãocrescente <strong>da</strong> violência no mundo.“... a violência social, de um modo geral ‘sem contornos’ muito delimitados, a faltade afeto e muitas vezes <strong>da</strong>s condições mínimas necessárias para a sobrevivênciatrazem problemas físicos, mentais e de relacio<strong>na</strong>mento às crianças e jovens,sendo responsáveis, grande parte <strong>da</strong>s vezes pela sua própria violência contra osoutros” 993.3.Crescendo em meio à violência: a criança e a violência <strong>na</strong> mídiaA análise do binômio, violência/criança merece um olhar envolvendo múltiplasdimensões. Uma vez que um ato ou fato não se traduz como violentoexclusivamente por suas proprie<strong>da</strong>des, mas em função do contexto em que estáinserido, é necessário pensar a violência atrela<strong>da</strong> às diferentes concepções deinfância que marcaram a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, desde o tempo em que a criança évista como objeto até surgir como sujeito de direitos.Por outro lado, a partir do momento em que os direitos <strong>da</strong> criança brasileiraforam explicitados no Estatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente, desenvolveu-se aexpectativa de que esse universo <strong>da</strong> população devesse ficar a salvo de to<strong>da</strong> forma99 SANTOS, Maria Celeste Cordeiro Leite dos. Raízes <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> criança e <strong>da</strong>nos psíquicos. In:WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., ED<strong>USP</strong>, 2002, p.190.96


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAde discrimi<strong>na</strong>ção, exploração, cruel<strong>da</strong>de, negligência e repressão, condições quesão incluí<strong>da</strong>s entre as formas de violência contra a criança, mas não é exatamenteesse o quadro encontrado.Embora to<strong>da</strong>s as convenções e leis, que surgiram nesse último século visemgarantir segurança e proteção necessários para o crescimento e desenvolvimento<strong>infantil</strong> saudável, ações violentas contra as crianças persistem e outras sãoreconheci<strong>da</strong>s como responsáveis por comprometimentos de sua integri<strong>da</strong>debiopsicossocial. O avanço tecnológico e as transformações culturais que deledecorrem, introduzem as mídias como novo espaço social passando a constituircomo origem e palco de novas possibili<strong>da</strong>des de violência.Buscando romper com o desconhecimento <strong>na</strong>tural <strong>da</strong>s formas epossibili<strong>da</strong>des de violentar as crianças, que as mídias, em especial a TV, e maisrecentemente a Internet, possam produzir, estudos <strong>na</strong> área de comunicação eeducação procuram desven<strong>da</strong>r a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong>s diferentes formas de violência queentram em jogo, quando as crianças se relacio<strong>na</strong>m com os diferentes produtos douniverso midiático e à medi<strong>da</strong> que se reconhece que ações violentas contra acriança comprometem sua integri<strong>da</strong>de biopsicossocial, estu<strong>da</strong>r as diferentesmo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des dos atos violentos constitui um tema a ser pensado do âmbito <strong>da</strong>saúde, que deve (...) ”tratar esse ’tipo de enfermi<strong>da</strong>de’ de maneira diferente de suas práticashabituais, uma vez que esta é pluricausal com tentáculos macrossociais e estruturais e enraizamento<strong>na</strong>s consciências”. 1003.3.1. A criança e a violência televisivaAos meios de comunicação e em especial à TV, tem sido atribuí<strong>da</strong> grandeparte <strong>da</strong> violência que assola a socie<strong>da</strong>de contemporânea, de modo que a buscapela compreensão de suas causas passa necessariamente por uma análise <strong>da</strong>smanifestações <strong>da</strong> violência nos meios de comunicação, em especial a TV.100 WESTPHAL, Marcia Faria. Apresentação – O seminário “Violência e Criança”. In: WESTPHAL,Marcia Faria (Org.). Violência e Criança.. S.P., Edusp, 2002, p.16-17.97


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEstudos de <strong>na</strong>turezas diversas têm buscado eluci<strong>da</strong>r a relação entrecaracterísticas <strong>da</strong> programação televisiva e a violência que marcou o século XX evem se estendendo amplamente no novo milênio.Análise <strong>da</strong> programação televisiva tem levado especialistas <strong>da</strong> área aafirmarem que a televisão marketiza a violência, como se fora um produto vendável,e, <strong>da</strong> mesma forma, sem consciência de culpa; outro aspecto considerado, refere-seà visibili<strong>da</strong>de que a TV confere à violência, ba<strong>na</strong>lizando-a; a freqüência com que sãoapresentados atos violentos também tem merecido crítica.Mais recentemente a socie<strong>da</strong>de tem diversificado sua preocupação trazendopara discussão, além <strong>da</strong>s preocupações mais comuns concebi<strong>da</strong>s como violênciaconti<strong>da</strong> <strong>na</strong>s ce<strong>na</strong>s de morte e tiros, outras, como as com a erotização precoce <strong>da</strong>infância, até mesmo através dos modelos que as apresentadoras infantisrepresentam, ou ain<strong>da</strong>, avalia<strong>da</strong> a própria presença <strong>da</strong> criança em diferentesprogramas. Porém, esses temas não têm sido reconhecidos e abor<strong>da</strong>dos comomanifestação de violência contra a criança.Considerar violência, a participação <strong>da</strong> criança e do jovem <strong>na</strong>s produçõestelevisivas constitui importante ângulo de reflexão sobre o tema. Eles não estariamsubjugados ao poder dos pais que lhes impõem determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s atuações parasatisfazer à própria vontade, desrespeitando a criança ou jovem? A atuação <strong>da</strong>criança dentro <strong>da</strong> programação ou <strong>da</strong> publici<strong>da</strong>de, não corresponde a um trabalhocuja remuneração irá aju<strong>da</strong>r no orçamento familiar como qualquer outro trabalho econde<strong>na</strong>do pela socie<strong>da</strong>de? A criança, para realizá-lo, não estará abdicando deseus momentos de lazer e estudos? Não estará trocando a companhia de pessoas eambientes próprios de sua i<strong>da</strong>de para vivenciar o universo dos adultos, que <strong>na</strong>maioria <strong>da</strong>s vezes foge à sua compreensão?Pensar a violência, as mídias, e suas implicações no universo infanto-juvenilsignifica pensar em to<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des de violência que Michaud nos aponta,<strong>da</strong>s que implicam em agressão à violência simbólica, deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> real ou domundo <strong>da</strong> fantasia.Retomando a programação televisiva, não podemos atribuir ao fato de as98


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcrianças não assistirem aos programas dirigidos exclusivamente a elas, a nãoaproximação delas com diferentes manifestações de violência. A violência permeia ouniverso infanto-juvenil mesmo nos programas específicos <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, fazendo-sepresente de forma sublimi<strong>na</strong>r nos modelos que constrói, no consumo que suscita.Desde que as propostas não vierem a corresponder às possibili<strong>da</strong>des de realização<strong>da</strong>quela criança ou jovem específico, que está assistindo à programação televisiva,poderá contribuir para a construção de uma representação de si mesmodesvaloriza<strong>da</strong>, e isso também deve ser encarado como uma forma de violência.Refletir sobre a presença <strong>da</strong> violência e sua relação com a mídia <strong>na</strong> culturainfanto-juvenil tem a ver, não só com atos de violência capazes de seremobjetivamente definidos, mesmo porque a violência do cotidiano retrata<strong>da</strong> pelatelevisão eles já conhecem e, muitas vezes, experimentaram <strong>na</strong> própria pele. Acriança e o jovem são constantemente chamados a se protegerem dela...tranque aporta....feche o vidro.... não diga a ninguém que está só....não use o tênis para an<strong>da</strong>ra pé....tire o relógio.... No entanto, essa mesma violência é escancara<strong>da</strong> ereconstruí<strong>da</strong> <strong>na</strong> mídia, fica <strong>na</strong> divisa entre e reali<strong>da</strong>de e a ficção, transforma-se emproduto e é por esse lado que merece ser considera<strong>da</strong>.Dadoun cita a relação dos meios de comunicação de massa, em especial <strong>da</strong>televisão, com o terrorismo...“estabelece-se entre o terrorismo e a televisão, um estranhoconluio. Em tal teleterrorismo, o terrorismo age em predileção para a televisão, e em troca, a televisãomonta um terrorismo como um espetáculo, às vezes com ritmo de novela.” 1APressupõe-se que o espaço que a televisão conquistou nos lares tenha seampliado a partir <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de que trouxe de afastar a criança e o jovem <strong>da</strong>violência urba<strong>na</strong> e, ca<strong>da</strong> vez mais, ela passa a ser vista como instrumento capaz degerar manifestações de violência.Ao mesmo tempo não é possível contar com a fidedigni<strong>da</strong>de de estudoslongitudi<strong>na</strong>is que confirmem a relação entre a violência televisiva presencia<strong>da</strong> <strong>na</strong>infância e <strong>na</strong> juventude e a violência expressa <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de adulta, mesmo porque aolongo desse período, novas manifestações surgirão e outras perderão o caráter1A DADOUN, Roger. A violência: ensaio acerca do “homo violens”. R. J., Difel, 1998, p.41.99


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAviolento, segundo os <strong>da</strong>dos que resultaram <strong>da</strong> busca por uma definição dessefenômeno.Assim, a influência <strong>da</strong> TV com relação à prática de atos violentos por criançase jovens não encontra uma forma consistente de confirmação, ao mesmo tempo emque a socie<strong>da</strong>de insiste em pensar mecanismos de controle para afastar as criançase jovens <strong>da</strong> tele-violência, como o v-chip, por exemplo. Avaliação desse mecanismomostra que a seleção dos programas violentos corresponderia às representaçõesdos pais ou responsáveis e nem sempre coincidiriam com os que as crianças/jovenspercebessem como tal. Além disso, corresponde a mais uma tentativa de abafar aviolência através de um ato de violência, defini<strong>da</strong> como do exercício do poder, nosentido de fazer com que os outros ajam no sentido que eu escolho.Cabe considerar ain<strong>da</strong>, que hoje já não se reconhece mais os efeitos diretos<strong>da</strong> televisão ... “ela se exerce no âmbito de um conjunto de influências e fatores mediatos ou por seuintermédio” 2A . Isto significa dizer que ela não opera no vácuo e que a violênciaapresenta<strong>da</strong> pela televisão aparece <strong>na</strong> cultura infanto-juvenil contemporâneaacompanha<strong>da</strong> de outros produtos como videogames, jogos de computadoradquiridos ou baixados <strong>da</strong> Internet, além de inúmeras outras mediaçõesrepresenta<strong>da</strong>s pela família, escola e outros grupos a que crianças e jovens possamestar inseridos.Outros aspectos relativos a como a televisão estrutura sua programaçãotambém apontam para a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> busca pelos efeitos de determi<strong>na</strong>doprograma, que muitas vezes é desconectado do universo mais amplo de inserção nopróprio meio e, em muitos casos, corresponde a um intertexto específico para ca<strong>da</strong>sujeito, a partir do que a TV apresenta e de como a criança ou o jovem se relacio<strong>na</strong>com ela.Essas considerações não pretendem apontar para a ineficiência de qualqueração sobre a programação ou isentá-la de responsabili<strong>da</strong>de; ao contrário, aoaprofun<strong>da</strong>r a reflexão sobre o fenômeno e suas diferentes conceituações, foipossível colocar sob o rótulo violência, outras dimensões que merecem serem2A NOGUEIRA, Adria<strong>na</strong> Cardoso. Violência nos Telejor<strong>na</strong>is: a reali<strong>da</strong>de espetaculariza<strong>da</strong>. Dissertação(Mestrado em Multimeios), Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campi<strong>na</strong>s, Instituto de Artes, 2000.100


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcompreendi<strong>da</strong>s, para que possam ser trabalha<strong>da</strong>s, de modo a prevenir a “explosão”<strong>da</strong>s mais diversas manifestações de violência, como as decorrentes de prejuízos deauto-imagem, por exemplo.E mais, ao considerar as diferentes mediações, chamar a atenção para outroselementos que contribuem para a construção do imaginário infanto-juvenil, que nãoficam tão evidentes como a TV, mas que, igualmente, merecem ser mais bema<strong>na</strong>lisados e, principalmente, enfatizar as questões <strong>da</strong> violência, abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s do pontode vista dos valores presentes em ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, de modo a conduzir pais eeducadores a refletirem sobre quais seriam os principais propósitos <strong>da</strong> educação <strong>na</strong>socie<strong>da</strong>de contemporânea.3.3.3. Violência e desenvolvimento saudávelNa segun<strong>da</strong> metade do século, a partir de uma definição, que se opõe aconcepção de saúde como ausência de doença, o debate político acompanhando odebate teórico-científico introduz a saúde como um direito que deve ser garantidopelo exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e, nesse contexto, a concepção de saúde é amplia<strong>da</strong> ediversifica<strong>da</strong>.A Organização Mundial de Saúde em 1946 define saúde como estado decompleto bem-estar físico, mental e social e não só a ausência de enfermi<strong>da</strong>des edoenças e, em 1976, o X Congresso de Médicos e Psicólogos <strong>da</strong> língua catalãapresentou a seguinte definição: “A saúde do ser humano é aquela maneira de viver autônoma,solidária e prazerosa”. 3ADentro desse âmbito, são inúmeras as adversi<strong>da</strong>des presentes no mundocontemporâneo e no cotidiano <strong>da</strong> população a serem identifica<strong>da</strong>s, conheci<strong>da</strong>s,reconheci<strong>da</strong>s e sob as quais é preciso que as pessoas exerçam ações específicasde enfrentamento. As adversi<strong>da</strong>des são ain<strong>da</strong> de <strong>na</strong>turezas diversas, como aviolência assenta<strong>da</strong> em suas diferentes interfaces, <strong>da</strong> agressão física à simbólica, asderiva<strong>da</strong>s de questões ambientais que vão do excesso/escassez à quali<strong>da</strong>de dos3A BUSQUETS, Maria Dolors et al. (Org.) A Educação para a Saúde. In: BUSQUETS, Maria Dolors etal. Temas Transversais em Educação. São Paulo, Ática, 1997, p. 63.101


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAagentes <strong>na</strong>turais. Têm a ver também com aspectos sócio-ambientais e familiaresrelativos à vivência íntima, dos diferentes sujeitos decorrentes <strong>da</strong>s relações afetivasou de trabalho, ou ain<strong>da</strong> em função <strong>da</strong> combi<strong>na</strong>ção dos diferentes fatores aquidescritos. Assim, o enfrentamento dessas causas envolve uma formação, não sóvolta<strong>da</strong> para aspectos tecnológicos, mas também humanos e espirituais.Nesse sentido, todos os fenômenos que de uma maneira ou outra interferem<strong>na</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas repercutindo no decurso de suas vi<strong>da</strong>s refletemem sua saúde. Pensar saúde e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> no mundo contemporâneosignifica pensá-las também de forma entrelaça<strong>da</strong>, reforçando a idéia deinterdependência. Essa interdependência pressupõe as relações homem-homem,homem-<strong>na</strong>tureza e homem-socie<strong>da</strong>de, de modo que sujeito passa a ser concebidocomo produto <strong>da</strong>s relações que estabelece com o universo em que está inserido.É necessário reconhecer que a violência real presente no entorno <strong>da</strong> criança,<strong>na</strong> família ou <strong>na</strong> sua comuni<strong>da</strong>de, assim como a filtra<strong>da</strong> e dissemi<strong>na</strong><strong>da</strong> pelos meiosde comunicação, penetra no inconsciente <strong>infantil</strong> e transtor<strong>na</strong> o curso do seudesenvolvimento, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que reforça a visão do perigo existente fora de casa.Além dela, a violência social também atinge a infância, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que impactaem várias instituições como a família, a escola e traz dificul<strong>da</strong>des para o cotidianofavorecendo ações violentas sobre as crianças. O que se detém dessa condição éque os membros dessas instituições são criados em patamares de violência maisaltos e vão retro-alimentando a violência.“A violência vivencia<strong>da</strong> por uma criança dá uma solução de continui<strong>da</strong>de ao meioprotetor que a cerca provocando modificações significativas no seu potencialrelacio<strong>na</strong>l e ontológico, além <strong>da</strong>s lesões físicas dela decorrentes. O binômioproteção e segurança, é substituído pelo <strong>da</strong> instabili<strong>da</strong>de e vulnerabili<strong>da</strong>de“. 101Para compreender como a violência afeta o ser humano é necessárioadentrar para os aspectos relativos à subjetivi<strong>da</strong>de e reconhecer que <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> emque os universos de percepção e conscientização em relação aos fenômenos são101 ASSIS, Simone Gonçalves de. Crescendo em meio à violência. In: WESTPHAL, Marcia Faria.(Org.) Violência e Criança. São Paulo. Edusp, 2002, p.115.102


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAampliados, estes se tor<strong>na</strong>m mais objetivos. Isso conduz a idéia de que um fato serconsiderado como violento ou não, ou ain<strong>da</strong>, como mais ou menos violento, tem aver com a representação que a criança dele constrói.“A noção de violência construí<strong>da</strong> por um jovem é em parte retira<strong>da</strong> do queacontece, de sua consciência de classe, de sua posição <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de; <strong>da</strong>s suasinterações sociais <strong>na</strong> escola, e <strong>na</strong> família e com as mensagens <strong>da</strong> mídia; <strong>da</strong> suaexperiência com esse fenômeno; do imaginário coletivo; e de como suasubjetivi<strong>da</strong>de processa e reage a esse conjunto de relações e estímulos.” 102Assim a vivência de um fenômeno deve ser considera<strong>da</strong> em termos de suasdimensões subjetivas e objetivas. A subjetivi<strong>da</strong>de e a objetivi<strong>da</strong>de podem estarfracamente correlacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s, principalmente em crianças peque<strong>na</strong>s por acreditaremem fantasias, ficando expostas a ambas as representações de perigo, sem muitacapaci<strong>da</strong>de de distingui-las.Estudos citados por Assis 103 relatam que jovens infratores e seus irmãos nãoinfratores vivendo em situação com múltiplos fatores de risco, ao relatarem episódiosde violência em que estavam envolvidos, <strong>na</strong>rraram distintas representações relativasaos eventos que vivenciaram. O jovem infrator reduzia as situações de risco, aimportância <strong>da</strong> agressão, enquanto o não-infrator, tendia a evidenciar e questio<strong>na</strong>resses aspectos. Cita também, pesquisas realiza<strong>da</strong>s em região de guerra querevelaram serem maiores os problemas emocio<strong>na</strong>is dos filhos quando os paisdemonstram desesperança, do que a situação de guerra em si.Descreve outros estudos mostrando como o vínculo entre pais e filhos temimportância significativa <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança e <strong>na</strong>s relações quea criança estabelece com o mundo e apontam a importância dos pais em proversegurança e laços afetivos e estáveis, uma vez que ausência desses laços faz comque as crianças cresçam com ausência de sentimento de culpa, desconfiança,incapaci<strong>da</strong>de de se tor<strong>na</strong>r íntimo de alguém, postergando o estabelecimento derelações para o futuro.102 SOUZA MINAYO, Maria Cecília de .O significado social e para a saúde <strong>da</strong> violência contracrianças e adolescentes. In: WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança, S.P., Edusp, 2002,p.148.103 ASSIS, Simone Gonçalves de. Crescendo em meio à violência. In: WESTPHAL, Marcia Faria.(Org) Violência e Criança. São Paulo, Edusp, 2002.103


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATal explicação tem suporte <strong>na</strong> concepção de que a agressivi<strong>da</strong>de é umelemento legítimo de estrutura e <strong>da</strong> vivência huma<strong>na</strong> e que se articula <strong>na</strong>afetivi<strong>da</strong>de, sendo <strong>na</strong>tural e necessária para a nossa sobrevivência. Estaagressivi<strong>da</strong>de genuí<strong>na</strong>, de acordo com a psicologia do desenvolvimento, orienta-seno sentido do equilíbrio do organismo com o seu meio, do homem com o mundo, eeste equilíbrio acaba por construir uma aprendizagem constante rumo à socializaçãoe humanização do indivíduo.A agressivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> criança como sujeito <strong>da</strong> ação, pode se estruturar deformas diferentes, dependendo <strong>da</strong> dinâmica familiar, que pode se articular em tornode muitas proibições e castigos, embora num ambiente afetivamente rico ou emtorno de muitas proibições ou em torno de punição e desafeto. No primeiro caso aagressivi<strong>da</strong>de é reprimi<strong>da</strong> e a criança tor<strong>na</strong>-se obediente, dependente e poucocriativa, com incalculáveis prejuízos futuros; no outro, cujo ambiente familiar temcomo base a punição e um ambiente hostil os mecanismos rígidos de controle ecastigo, de humilhações e ataques constantes à sua auto-estima fazem surgirindivíduos inseguros, tímidos, introspectivos e com tendência para o auto-suplício−crianças que se distraem ao arrancar o seu próprio cabelo, roer as unhas e aspeles.O terceiro aspecto buscado nesses estudos diz respeito à necessi<strong>da</strong>de de seconsiderar a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> criança ao a<strong>na</strong>lisar os riscos que as situações de violênciapossam representar. Pesquisas revelam que crianças com i<strong>da</strong>de inferior a 11 anostêm maior probabili<strong>da</strong>de de sofrerem conseqüências psiquiátricas. Outras, ain<strong>da</strong>mostram que as crianças pré-escolares tendem a ficar passivas e apresentarsintomas regressivos (enurese e diminuição <strong>da</strong> verbalização) em resposta àviolência. Os estudos levantados por Assis apontam ain<strong>da</strong> que crianças escolares,ao contrário de inibição, apresentam mais agressão, alia<strong>da</strong>s a queixas somáticas,distorções cognitivas e dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem como resultado de violência.Já os adolescentes respondem com entra<strong>da</strong> prematura <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> adulta ecomportamentos auto-destrutivos, como uso de drogas, delinqüência,promiscui<strong>da</strong>de, e agressivi<strong>da</strong>de.Concluem ain<strong>da</strong>, que violência gera distúrbios de comportamento, comogritos, auto-agressão e auto-destruição; desenvolvimento moral truncado pois não104


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAhá inter<strong>na</strong>lização de valores éticos básicos, como pouco reconhecimento dos direitosdo outro ou valorização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e desordens psicológicas, as mais difíceis de seremreconheci<strong>da</strong>s. Segundo Gabardino, 1992, apud Westphal, 2002 104 , estudos deOsofsky et al, as crianças submeti<strong>da</strong>s a condições de violência crônicas apresentam: Dificul<strong>da</strong>de de concentração e <strong>da</strong>nos à memória decorrentes de problemas desono e tentativas de evitar lembranças dolorosas; Ansie<strong>da</strong>de excessiva, especialmente com as mães, estando temerosas de deixálasou dormirem sós; Jogos agressivos, incluindo imitação de comportamentos que presenciaram, oumostrando um esforço enorme em se proteger; Ações violentas para esconder os medos; Restrição <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des, exploração e pensamento, por medo de reviveremeventos traumáticos.Grande parte dos estudos realizados tem se desenvolvido no sentido deesclarecer a relação entre problemas apresentados e violência a que os indivíduosforam submetidos <strong>na</strong> infância, o que contribui para poucas evidências causais maisconsistentes. Como as conseqüências variam de acordo com o tipo de violênciasofri<strong>da</strong>, o tempo e o acúmulo de situações de risco a que está submeti<strong>da</strong>, o suportesocial que encontra e suas características pessoais, fica muito difícil oestabelecimento de relações diretas de causa e efeito que contribuam para eluci<strong>da</strong>ra questão.Buscar compreender como as situações de violência que permeiam ouniverso <strong>da</strong> criança e repercutem sobre o curso normal de seu desenvolvimentofísico ou psíquico, representando <strong>da</strong>nos à saúde, significa abor<strong>da</strong>r o fenômeno sobtrês dimensões: a forma como ela compreende e elabora as situações de violência,o anteparo que encontra em seus responsáveis e a i<strong>da</strong>de em que tem início aconvivência com situações de violência. To<strong>da</strong>s essas esferas preenchem o âmbitodos estudos sobre representações sociais e nos sugerem um caminhar sobre os104 WESTPHAL, Marcia Faria. (Org.) Violência e Criança. São Paulo. ED<strong>USP</strong>, 2002105


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfatores que mediatizam a percepção <strong>da</strong> violência. “As violências têm profundoenraizamentos <strong>na</strong>s estruturas sociais, econômicas e políticas, e também <strong>na</strong>s consciências individuais,numa relação dinâmica entre condições <strong>da</strong><strong>da</strong>s e subjetivi<strong>da</strong>de” i106


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA107


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 4O ESPAÇO DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS“Conhecer assim como instituir, equivale a classificar,arrumar, orde<strong>na</strong>r, construir configurações estáveis eperidioci<strong>da</strong>des. Com ape<strong>na</strong>s, uma diferença de escala,há portanto uma forma de equivalência entre asativi<strong>da</strong>de instituinte de uma coletivi<strong>da</strong>de e asoperações cognitivas de um organismo. Por isso, asduas funções podem alimentar-se uma <strong>da</strong> outra”LEVY, 1993, p.142.108


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA4.1.Contribuições <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> linguagem para o estudo <strong>da</strong>sRepresentações SociaisUma vez que as representações sociais compreendem um conjunto deafirmações e explicações sobre os fatos ou objetos sociais orienta<strong>da</strong>s por valorescompartilhados que produzem conhecimento relativo às questões do cotidiano, fazsenecessário entender como a linguagem, a antropologia e a psicologia estãoimbrica<strong>da</strong>s <strong>na</strong> compreensão <strong>da</strong>s representações.4.1.1. Linguagem e representaçãoA introdução ao tema representações sociais passa necessariamente pelabusca de sua conceituação, a partir <strong>da</strong> questão: Mas afi<strong>na</strong>l, o que é a linguagem?“(...)toma<strong>da</strong> no seu todo a linguagem é multiforme e heteróclita; abrangendo váriosdomínios, simultaneamente física, fisiológica e psíquica, pertence ain<strong>da</strong> aodomínio do individual e ao social, não se deixa classificar em nenhuma categoria defatos humanos porque não sabemos como destacar sua uni<strong>da</strong>de”. 105Para melhor caracterizar a linguagem é preciso distinguir língua, discurso efala, uma vez que segundo Seaussure a linguagem compreende a língua e a fala econsiste em uma ação interindividual orienta<strong>da</strong> para uma fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de específica, cujaconcretização se dá através de discursos.A língua é ti<strong>da</strong> como um sistema social <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que inclui os signos(elementos lexicais) e os códigos (elementos gramaticais) comuns a todos osfalantes de uma mesma comuni<strong>da</strong>de linguística. Discurso corresponde àscombi<strong>na</strong>ções dos elementos linguísticos (frases ou conjuntos de muitasfrases/textos) orais ou escritos, possibilitando ao homem significar o mundo atravésde uma estrutura específica. A fala corresponde à exteriorização psico-físico-105 SEAUSSURE apud KRISTEVA, Julia. História <strong>da</strong> Linguagem. Lisboa-Potugal, Edições 70, 1969, p.20.109


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfisiológica do discurso. Segundo Backtin 106 , com relação à língua não se pode falarem conteúdo e forma, é a forma que dá sentido ao conteúdo.A língua é posta em marcha pelo ato <strong>da</strong> fala no discurso e abrange alguémque está em algum lugar e é desse lugar que os enunciados são pronunciados. Olugar <strong>da</strong> enunciação (que não é só físico) junto com o que é emitido constitui oenunciado. Enquanto estou falando tem o eu <strong>da</strong> enunciação que é do domínio <strong>da</strong>língua e o eu que penso ser.A língua é comum a todos. Instituição social fun<strong>da</strong>nte, não pertence aninguém; enquanto a fala, é de domínio do indivíduo, compreendendo a área <strong>da</strong>psicologia, <strong>da</strong> sociologia e <strong>da</strong> história. Consiste em um sistema que combi<strong>na</strong>uni<strong>da</strong>des significantes, a partir de regras para a produção do discurso e <strong>da</strong> mesmaforma que a frase não é um amontoado de palavras, mas uma cadeia com base emcertas regras, o discurso não é um amontoado de frases.O discurso é estruturado e no seu interior diferenciam-se dois campos, ocampo <strong>da</strong> sintaxe e o <strong>da</strong> semântica. A sintaxe discursiva compreende os processosde estruturação do discurso de modo que a partir dos códigos e sua organização,sentidos específicos vão sendo construídos, e o conteúdo <strong>na</strong>rrado adquire valor.Considerando o que a perso<strong>na</strong>gem diz, o conteúdo de sua fala, entramos no campo<strong>da</strong> semântica, que depende diretamente de fatores sociais, corresponde àconsciência de ca<strong>da</strong> um, deriva <strong>da</strong> maneira como ca<strong>da</strong> ser assimila o mundo e temcomo referenciais elementos de discursos anteriores, que contribuem para aconstrução de estereótipos.Roman Jackobson, em Linguística e Comunicação, subdivide a linguagem emdois eixos: paradigmático e sintagmático. O eixo paradigmático representa to<strong>da</strong>s aspossibili<strong>da</strong>des de escolha que o falante teria a partir de seu repertório desubstantivos próprios, verbos, artigos e substantivos comuns, é o eixo <strong>da</strong>substituição. O eixo sintagmático representa as possibili<strong>da</strong>des de associação, abusca de sentido entre os termos. Assim o paradigma compreenderia os modelos, asimilari<strong>da</strong>de, a semântica, a metáfora e o sintagma, a atualização, a reunião, acontigui<strong>da</strong>de, a sintaxe e a metonímia.106 BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia <strong>da</strong> Linguagem. S.P., Hucitec, 1981.110


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA linguagem constitui o eixo central <strong>da</strong> construção do real, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em quecotidiano, história, memória, ficção e reali<strong>da</strong>de apresentam-se como diferentesdiscursos e determi<strong>na</strong>m ações e significações compartilha<strong>da</strong>s que integram a culturahuma<strong>na</strong>. É elemento fun<strong>da</strong>mental que possibilita ao homem compartilhar com ooutro, impressões obti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> experiência vivi<strong>da</strong> (cotidiano, reali<strong>da</strong>de) eprocessa<strong>da</strong> (pensamento, memória).Os filósofos idealistas sempre acreditaram que a linguagem forma umaimagem do mundo, o que significa que a mesma contém uma visão de mundo quedetermi<strong>na</strong> nossa maneira de perceber e conceber a reali<strong>da</strong>de, e impõe-nos essavisão. O fun<strong>da</strong>mental é considerar que para os idealistas, a linguagem tem um papelativo <strong>na</strong> aquisição do conhecimento. Segundo Fiorin 107 , para A<strong>da</strong>m Schaff, essa teseconstitui um elemento racio<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s teorias idealistas.No entanto, essa tese está associa<strong>da</strong> à outra, que diz que ser a linguagemproduto de uma convenção arbitrária ou <strong>da</strong> função simbólica peculiar à psiquehuma<strong>na</strong>. Para Schaff, considerar a linguagem como função simbólica traz anecessi<strong>da</strong>de de identificar o que determi<strong>na</strong> a visão de mundo conti<strong>da</strong> <strong>na</strong> linguagem.“A linguagem formou-se no decorrer <strong>da</strong> evolução filogenética, constituindo umproduto e um elemento <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de prática do homem. À medi<strong>da</strong> em que ossistemas linguísticos vão se constituindo, vão ganhando certa autonomia emrelação às formações ideológicas. Entretanto, o componente semântico do discursocontinua sendo determi<strong>na</strong>do por fatores sociais”. 108Segundo Schaff, a linguagem é um produto social no duplo sentido <strong>da</strong>palavra, enquanto meio de comunicação intersubjetiva se situa não só em nível doindivíduo, mas também <strong>na</strong> prática social, tor<strong>na</strong>ndo-se o meio de transmissão doconhecimento socialmente acumulado.“A ver<strong>da</strong>deira substância <strong>da</strong> língua não é constituí<strong>da</strong> por um sistema abstrato deformas linguísticas, nem pela enunciação monológica isola<strong>da</strong>, nem pelo ato107 FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. Série Princípios, S. P., Ática, 1995.108 Id., p.53.111


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIApsicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno de sua interação verbal,realiza<strong>da</strong> através <strong>da</strong> enunciação ou <strong>da</strong>s enunciações. A enunciação constitui o atofun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> língua”. 109A interação verbal corresponde a diferentes formas de diálogo, entendendo odiálogo não só no sentido restrito de comunicação de pessoas em voz alta. O livro,um ato de fala impresso, também é um elemento <strong>da</strong> comunicação verbal, temorigem <strong>na</strong> interação do autor com outras obras e possibilita diferentes níveis deinteração, dos críticos aos leitores.“Há no discurso, então, o campo <strong>da</strong> manipulação consciente e o <strong>da</strong> determi<strong>na</strong>çãoinconsciente. A sintaxe discursiva é o campo <strong>da</strong> manipulação consciente. Neste, ofalante lança mão de estratégias argumentativas e de outros procedimentos <strong>da</strong>sintaxe discursiva para criar efeitos de sentido de reali<strong>da</strong>de ou de ver<strong>da</strong>de... (...) ocampo <strong>da</strong>s determi<strong>na</strong>ções inconscientes é a semântica discursiva, pois o conjuntode elementos semânticos habitualmente nos discursos de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> épocaconstitui a maneira de ver o mundo em uma <strong>da</strong><strong>da</strong> formação social. Esseselementos surgem a partir de outros discursos já construídos, cristalizados e cujasconstruções já foram apaga<strong>da</strong>s”. 110 .Lacan ao se referir ao discurso diz:“Os seus meios são os <strong>da</strong> fala enquanto confere um sentido às funções doindivíduo; o seu domínio é o discurso concreto enquanto reali<strong>da</strong>de transindividualdo sujeito; as suas operações são as <strong>da</strong> história enquanto constitui a emergência<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de no real”. 111Ao contrário de Marx, para quem o que caracteriza o humano é o trabalho,Seaussurre, Mauss, Freud e Lacan consideram a linguagem elemento constituintedo humano. Sem ela não existe o humano ou a humani<strong>da</strong>de. Às ciências <strong>da</strong>linguagem cabe compreender como a significação é produzi<strong>da</strong>, não a significaçãopropriamente dita, mas a função significante.109 BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia <strong>da</strong> Linguagem. S. P., Hucitec, 1981, p.123.110 FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. Série Princípios, S. P., Ática, 1995, p.190.111 KRISTEVA, Julia. História <strong>da</strong> Linguagem. Lisboa- Portugal, Edições 70, 1969, p. 23.112


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA busca pela função significante tem origem em Seaussure que trazimportantes contribuições quando propõe o signo como uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> linguagemcompreendendo duas ordens que se sobrepõem e se cruzam. O signo assimconstituído é representado por Seaussure como uma folha com duas faces, sendodefinido pela relação significante / significado. O significante, imagem acústica quecorresponde ao som produzido pela fala e aos códigos utilizados <strong>na</strong> escrita e osignificado, que corresponde ao conceito. O signo assim constituído é umaassociação entre imagem acústica e conceito, considerando a existência de umabarra separatriz, que indica divisão, mostrando que o significante não representa osignificado. Essa barra representa estruturas inconscientes presentes <strong>na</strong> relaçãoentre os dois componentes do signo.A linguística não se ocupa do referente, interessando-se só pela relação entreessas duas ordens e considera que não há nenhuma necessi<strong>da</strong>de <strong>na</strong>tural ou realque as ligue, sendo a relação significante/significado arbitrária, Seausure institui aprimazia do significante.Um dos aspectos mais marcantes <strong>da</strong> linguagem diz respeito a sua condiçãode veículo de ideologias. A ideologia presente nos discursos fica garanti<strong>da</strong> pelocampo semântico do discurso. Há numa formação social tantas formaçõesdiscursivas quantas forem as formações ideológicas, porém essas manifestaçõesideológicas, correspondem a conteúdos que podem ser expressos por diferentessuportes, gerando diferentes textos/<strong>na</strong>rrativas verbais ou não verbais, como afotografia, a gestuali<strong>da</strong>de, a pintura, o cinema, a televisão.Barthes 112 considera ain<strong>da</strong> que a língua obriga a escolhas e suaspossibili<strong>da</strong>des são limita<strong>da</strong>s, uma vez que por sua própria estrutura a língua implicauma relação fatal de alie<strong>na</strong>ção, pois o que faço não é mais do que consequência econsecução do que sou.A<strong>na</strong>lisar o discurso implica <strong>na</strong> busca pelo sujeito <strong>da</strong> enunciação(acontecimento) e pela visão de mundo ou visões de mundo presentes no112 BARTHES, Roland. O discurso <strong>da</strong> história. In: O Rumor <strong>da</strong> língua. SP: Brasiliense, 1988.113


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAenunciado. Ao produzir discursos o autor considera os conhecimentos dointerlocutor, suas opiniões, antipatias e simpatias, grau de familiari<strong>da</strong>de e afini<strong>da</strong>de,posição social ou hierárquica, escolhas essas nem sempre conscientes. Assim, aanálise do discurso não trata <strong>da</strong> língua ou <strong>da</strong> gramática, mas do homem falando, <strong>da</strong>relação emissor/ desti<strong>na</strong>tário.O discurso do cotidiano, por exemplo, caracteriza-se por uma relação espaço/tempo marca<strong>da</strong> pelo aqui e agora, pela repetição, pelos estereótipos e preconceitos,por valores e normas determi<strong>na</strong>dos pelas diferentes instituições. O discurso <strong>da</strong>história procura prender-se a situações ou fatos que permearam uma época ouacontecimento. O discurso ficcio<strong>na</strong>l envolve uma história imaginária que não incluinecessariamente mentiras, cria estereótipos e atribui significado aos signos de umacultura.O conhecimento é a busca objetiva <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de/ reali<strong>da</strong>de e depende <strong>da</strong>formação <strong>da</strong> consciência crítica, fenômeno <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong> que se constituiquando conseguimos identificar os elementos presentes nos diferentes discursos eque lhes dão sentido. Tudo que acontece no cotidiano chega à mídia, mas nãoaparece <strong>da</strong> forma como aconteceu. Estamos ca<strong>da</strong> vez mais expostos a situaçõesque têm efeito de real e nos distanciamos ou aproximamos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,dependendo <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong> relação existente entre sujeito e objeto deconhecimento.A primazia do significante é elemento fun<strong>da</strong>mental para a compreensão <strong>da</strong>smediações decorrentes <strong>da</strong> relação dos sujeitos com os meios de comunicação eestá calca<strong>da</strong> <strong>na</strong> idéia de que elementos inconscientes interferem <strong>na</strong> produção <strong>da</strong>significação. Concebe a significação, como o sentido decorrente <strong>da</strong> relação entre osdois elementos constituintes do signo, construí<strong>da</strong> pelo sujeito. Sujeito esse, cujopsiquismo individual está fun<strong>da</strong>do <strong>na</strong> estrutura social de onde provém oentrelaçamento entre a Linguística e os estudos <strong>da</strong> Antropologia Moder<strong>na</strong>, maisespecificamente a Etnologia, para a compreensão do fenômeno em questão.114


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA• As contribuições <strong>da</strong> Antropologia Moder<strong>na</strong>Dentro de uma concepção antropológica, o imaginário humano se estrutura apartir <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas míticas, de onde provêem as estruturas inconscientesencar<strong>na</strong><strong>da</strong>s <strong>na</strong> língua e cujos significados são determi<strong>na</strong>dos pelos diferentescontextos de interpretação, de modo a considerar que os traços fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong>linguagem huma<strong>na</strong> estão ligados ao social e exercem função simbólica básica.“To<strong>da</strong> a cultura pode ser considera<strong>da</strong> como um conjunto de sistemas simbólicos<strong>na</strong> primeira linha dos quais se colocam, a linguagem, as relações econômicas,matrimoniais, a arte, a ciência e a religião. Todos esses sistemas visam exprimircertos aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de física e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de social, e mais ain<strong>da</strong>, as relaçõesque esses dois tipos de reali<strong>da</strong>de mantém entre si e as que os próprios sistemassimbólicos mantém uns com os outros...uma socie<strong>da</strong>de jamais é integralmentesimbólica ou mais exatamente ela jamais oferece a todos os membros e no mesmograu, o meio de serem utilizados ple<strong>na</strong>mente <strong>na</strong> construção de uma estruturasimbólica, só realizável no plano <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social”. 113Como a linguagem, o social é uma reali<strong>da</strong>de autônoma; os símbolos sãomais do que aquilo que simbolizam, e o significante precede e determi<strong>na</strong> osignificado. Mauss nos fala ain<strong>da</strong>, que a troca é o denomi<strong>na</strong>dor comum de umasérie de ativi<strong>da</strong>des sociais e tem base em ape<strong>na</strong>s três obrigações: <strong>da</strong>r, receber,restituir. Esse <strong>da</strong>r, receber, restituir faz parte dos rituais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Esse trinômiosustenta a socie<strong>da</strong>de e tem como exemplo o casamento, situação em que a filha é<strong>da</strong><strong>da</strong> ao genro que a recebe e retribui com um neto. Porém estas ações não ficamexplicita<strong>da</strong>s, residem num terreno onde objetivo e subjetivo se encontram, o terrenodo inconsciente.Lévi Strauss coloca ain<strong>da</strong>, que as ciências sociais não admitem a níti<strong>da</strong>distinção teórica entre objetivo e subjetivo/ objeto e sujeito, reconhecendo que háestruturas inconscientes que regem essa relação em ca<strong>da</strong> esfera <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e113 STRAUSS, Lévi. Introdução à obra de Marcel Mauss: Sociologia e Antropologia. V.I. S.P. Edusp,p.158.115


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAinterferem <strong>na</strong> apreensão do fato social total, afirmação sustenta<strong>da</strong> pelos estudos <strong>da</strong>Antropologia.Daí decorre, que para compreender um fato social é necessário apreendê-lototalmente, de fora e de dentro, não só do ponto de vista de quem está exterior aele, colocando-o de maneira sistemática e orde<strong>na</strong><strong>da</strong>. É preciso também, que eleencerre uma experiência individual sob dois pontos de vistas diferentes: o <strong>da</strong>observação de seres totais e não divididos, a partir de um sistema de interpretaçãoque dê conta de aspectos físicos, fisiológicos, psíquicos e sociológicos de to<strong>da</strong>s ascondutas.Esse foco de análise transposto para a compreensão dos fenômenosmidiáticos possibilita entendê-los como um fato social, cujo conhecimento, busca desua ver<strong>da</strong>de corresponde à representação social que dele se faz. Encerra aspectosobjetivos e subjetivos, alicerçados em processos conscientes e inconscientes,individuais e sociais, determi<strong>na</strong>dos por diferentes sistemas em diferentesmomentos, o que implica <strong>na</strong> totali<strong>da</strong>de do fenômeno, garantia de sua significação.Cabe ain<strong>da</strong> considerar que a noção de inconsciente, Lévi-Strauss vai buscar<strong>na</strong> Psicanálise e, que por outro lado, Freud reconhece a função simbólica dos mitos,<strong>na</strong>rrativa estrutura<strong>da</strong> <strong>na</strong> linguagem. Assim, caminhamos no sentido de ressaltar oselementos <strong>da</strong> teoria psica<strong>na</strong>lítica imbricados <strong>na</strong> compreensão <strong>da</strong> mediação nosprocessos comunicacio<strong>na</strong>is.• As contribuições <strong>da</strong> Psicanálise e <strong>da</strong> Psicologia Sócio-HistóricaA principal colaboração <strong>da</strong> Psicanálise consiste <strong>na</strong> descoberta doinconsciente, que introduz a primazia do significante <strong>na</strong> linguagem, especialmentecom Lacan, que a toma como referência para a leitura <strong>da</strong> obra de Freud edesenvolve uma possibili<strong>da</strong>de de pensar a complexa relação do inconsciente com aestrutura <strong>da</strong> comunicação.116


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIALacan institui o signo como algoritmo <strong>da</strong> linguística e o significante como algoritmo<strong>da</strong> psicanálise. O significante é episteme no sentido pleno do postuladobachelardiano. Isto é de importância fun<strong>da</strong>nte para a psicanálise como ciência,embora ciência <strong>da</strong> significância e do particular. É nisto que se institui a psicanálisecomo ciência específica do inconsciente do homem. 114Lacan desig<strong>na</strong> o inconsciente como função simbólica estrutura<strong>da</strong> <strong>na</strong>, e pelalinguagem... “repensando-o ao mesmo tempo, como o lugar de uma mediação em tudo comparávelàquela do significante no registro <strong>da</strong> linguagem”. 115O sujeito, segundo Lacan, é alguém comprometido com um sistema simbólicoque preexiste a ele e que o condicio<strong>na</strong> desde o <strong>na</strong>scimento. Lacan nos fala de umsujeito faltante, conde<strong>na</strong>do a ficar em busca de objetos. Pelo fato de o homem serprematuro biologicamente ele precisa de outro que o cuide (deixa <strong>na</strong> memória arelação imaginária de que só tem um eu e um tu). Sozinho ele não é.A humani<strong>da</strong>de construiu inúmeras len<strong>da</strong>s para explicar que o humanonecessita absolutamente do outro, sendo caracterizado como aquele a quem falta, ea antropologia aponta para um pacto que fala <strong>da</strong> Lei que estabelece a falta.O Mito <strong>da</strong> Or<strong>da</strong> Selvagem (mito construído por Freud e o único que asocie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong> pode construir) diz que O Pai era domi<strong>na</strong>dor de to<strong>da</strong>s asmulheres. Os homens adolescentes iam para a floresta e um dia voltavam paramatar O Pai e aí tudo se repetia. Há então a necessi<strong>da</strong>de de se estabelecer umacordo, que se dá pela proibição: para que os filhos chegassem a um acordo comrelação ao objeto de desejo do Pai, poderiam ficar com to<strong>da</strong>s as mulheres menoscom a Mãe, objeto maior de desejo de todos. Aceitar o pacto significou aceitar abusca de pequenos objetos.No mito, o que caracterizava o Pai todo poderoso, símbolo do falo onipotente,é o fato de só ele ter o direito a possuir e fertilizar as mulheres. Para que o acordopudesse se fazer (e a história se instalasse) foi necessário um outro pacto, não o <strong>da</strong>114LIMA, S.F. O Imaginário Infantil: Da Literatura à Internet? In.VASCONCELOS, P.A.C.Comunicação e imaginário <strong>na</strong> cultura infanto-juvenil, S.P., Zouk 2001, p.91.115 FREITAS, Jeanne Marie M.de. Ciências <strong>da</strong> Linguagem: contribuição para o estudo dos media.Revista Comunicações e Artes, n.29, set.-dez, 1996, p-15.117


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAforça, mas o <strong>da</strong> justiça e do direito. Era preciso que Ele morresse, porém com suamorte, sua voz soou mais forte. ...Ninguém mais vai ter o poder do falo. Porém o quetodos desejam é esse poder e essa força. Ca<strong>da</strong> vez que alguma coisa nos atraiparece que carrega parte desse falo. Somos uns para os outros, representantes dofalo faltante.A - (FALO)- mãea - (algo parecido com o falo)- metonímia <strong>da</strong> mãeO falo vai instaurar o processo de significância (promete a significância, sócumpri<strong>da</strong> com a morte). A significância é a possibili<strong>da</strong>de pelo falo. Assim, aPsicanálise introduz o corpo no universo do saber.O corpo não é <strong>na</strong><strong>da</strong>. Ca<strong>da</strong> corpo é como o outro e sem reconhecer o outro,ele nem se reproduz. O corpo humano é mais do que produzir óvulos. Há diferençaentre os corpos. O que marca a diferença de um corpo para outro?Até segun<strong>da</strong> ordem, o que caracteriza o homem e a mulher são os caracteressecundários e mesmo supondo que haja caracteres primários, esses não sãosuficientes para distinguí-los. Assim, basicamente a diferença do feminino para omasculino é <strong>da</strong><strong>da</strong> à sociologia, quando pensa em gêneros/ papéis.(representação).Porém, não se pode negar que no corpo masculino há o pênis que marcauma diferença. Essa diferença em termos do lugar significante, uns têm (+) e outrosnão (-). Aqui parece que esse (+) ou (-), não significa carência, ambos os corpos sãodotados de seus destinos, são marcadores de diferença. O marcador de diferençano corpo, passa a ser no simbólico como a marca do desejo (significância). Ohomem atribui à mulher que ama a posse do falo, o falo só é marcador de diferençano simbólico e não no corpo, porque a língua institui e mostra essa diferença. O quedefine a sexuali<strong>da</strong>de no simbólico é a busca do sujeito pela sua significação.Considerando que o mundo <strong>da</strong>s coisas é o mundo <strong>da</strong>s coisas <strong>da</strong> linguagem, ocorpo passa a ser uma delas. O corpo é suporte do significante: é vivo e pulsa, ésexuado e precisa do outro para existir, e por ser sexuado se descobre mortal, areprodução <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do humano repousa no outro.118


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACorpos existem em função de uma língua que os fala e todo o movimento quesai do corpo tem que passar pela linguagem; a pulsão que mobiliza o corpo para aação decorre de uma necessi<strong>da</strong>de, necessi<strong>da</strong>de que gera uma deman<strong>da</strong> desatisfação, vindo a se constituir no desejo que nunca será satisfeito, permanecendosempre como faltante.“O ser humano passa a vi<strong>da</strong> to<strong>da</strong> em busca de algo que nunca foi e que nuncateve; além disso, morre tentando encontrar, embora todos os contos ensinem àscrianças que acharão o que procuram, contando que tenham paciência, queadmitam que lhes falta algo que têm que procurar, que se vejam enquanto sujeitosao desejo do Outro e que suportem o discurso a que se sujeitam. E é para suportaresse discurso que o Imaginário se constrói”. 116O corpo barrado habita três dimensões: o imaginário, o simbólico e o real(impossível). O imaginário corresponde aos significados, ao eu, aos objetos; osimbólico, à Lei, à função simbólica, ao significante e o real, ao resto. Esses sãoespaços que se entrelaçam e, se um é cortado todos se desfazem. O imaginário e oreal não existem sem o simbólico que os amarra.O sujeito barrado é definitivo e aquele objeto encontrado nunca vaicorresponder ao que ele deseja, pois o desejo habita a dimensão propriamentesimbólica, está inscrito <strong>na</strong> enunciação, lugar em que o enunciado <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> éproduzido. O sujeito <strong>da</strong> enunciação é o sujeito do inconsciente de modo que odesejo,é o desejo do inconsciente para Lacan, segundo Freitas, 1996.Tudo o que é buscado não se recebe, assim a reali<strong>da</strong>de é que vivemos umasocie<strong>da</strong>de fantasmagórica, o homem vive em busca de um pe<strong>da</strong>ço perdido, <strong>da</strong>smetonímias do ser que Lacan chama de objeto @.“É ele que diz do estatuto subjetivo, <strong>da</strong> relação do sujeito aos outros, ao mundo. Éa mediação do sujeito com o Outro desconhecido...o fato de que ele faz laço entre116 SILVA, Ferreira Lima. O Imaginário Infantil: Da Literatura à Internet? VASCONCELOS, PauloA.C.(Org). Comunicação e imaginário <strong>na</strong> cultura infanto-juvenil, S.P., Zouk, 2001, p.98. (Registros doImaginário, do Simbólico e do Real, para Lacan).119


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAuns e outros, laços sociais que se evidenciam <strong>na</strong>s estruturas discursivas, é quepode constituir a sua função <strong>na</strong> comunicação’. 117Segundo Lacan todo discurso é uma articulação entre o Sujeito e o Outro eestá estruturado em lugares: o lugar do Agente e o lugar do Outro ao qual se fala, olugar <strong>da</strong> Produção e o <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de, que produzem uma relação representa<strong>da</strong> pordois binômios interligados por uma seta, caracterizando dois lugares distintos, olugar do Sujeito e o lugar do Outro.SUJEITO | OUTRO-------------- | --------------Agente OutroVer<strong>da</strong>de | ProduçãoLacan define ain<strong>da</strong> como elementos <strong>da</strong> estrutura significante: S1 (o poder, onome do Pai, o que sustenta a ordem significante), S2 (o significante do saber), $ (osujeito barrado) e @ (o objeto que o discurso produz), os quais se distribuem sobreos lugares Agente, Outro, Produção e Ver<strong>da</strong>de.“Guy Lérés pondera que esses quatro lugares são o mínimo necessário e suficientepara estabelecer o liame social, e isso do seguinte modo: O lugar do agentedetermi<strong>na</strong> o seu dito, a ação, o lugar do outro, que, movido por esse dito énecessário à execução; o lugar do produto, resultado simultaneamente do dito doprimeiro e do trabalho do segundo. E quanto ao quarto lugar, o <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, dizLérés: ‘Para que esse dito primeiro seja levado em conta por quem vai operá-lo, épreciso que ele possa considerá-lo como não enga<strong>na</strong>dor”. 118Dependendo do lugar que ocupam passam a constituir diferentes formaçõesdiscursivas denomi<strong>na</strong><strong>da</strong>s: Discurso do Mestre, Discurso Universitário, Discurso <strong>da</strong>Histérica e Discurso do Psica<strong>na</strong>lista. O Discurso do Mestre é considerado o ponto departi<strong>da</strong> do qual fazendo um quarto de giro obtém-se os demais discursos e é ele queintroduz o sujeito <strong>na</strong> linguagem. A linguagem é efeito do Discurso do Mestre e sua117 FREITAS, Jeanne Marie M.de. Ciências <strong>da</strong> Linguagem: contribuição para o estudo dos media.Revista Comunicações e Artes, n.29, set.-dez, 1996, p-17.118 RINALDI & COUTINHO JORGE. (Orgs.) Saber, Ver<strong>da</strong>de e Gozo: leituras de O seminário 17, deJacques Lacan. R.J., Rios Ambiciosos, 2002, p. 26.120


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAestrutura é a mesma desse discurso, pois as letras têm o mesmo valor que oslugares. Nenhum deles consiste em uma formação estável; eles deslizam, ocorremas substituições e a história de ca<strong>da</strong> um assim como a história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, deacordo com Lacan, é marca<strong>da</strong> por laços sociais que evoluem <strong>da</strong> alie<strong>na</strong>ção,representa<strong>da</strong> pelo Discurso do Mestre, para outras possibili<strong>da</strong>des. O lugar de Agenteé o domi<strong>na</strong>nte de ca<strong>da</strong> discurso.4.2. Condições de produção e circulação <strong>da</strong>s representações sociais:socie<strong>da</strong>de, cultura e linguagemO termo Representações Sociais, segundo Spink, desig<strong>na</strong> um conjunto defenômenos, o conceito que os engloba e a teoria construí<strong>da</strong> para explicitar umcampo de estudos psicossociológicos e foi desenvolvido por Serge Moscovici, em1961. A partir de suas contribuições teóricas a Psicologia Social sofreu umarenovação temática, teórica e metodológica.Por Representações Sociais, Moscovici entende o conjunto de conceitos,afirmações e explicações sobre os assuntos e objetos sociais do cotidiano,considerados como ver<strong>da</strong>deiras teorias de senso comum....”A fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s representações é tor<strong>na</strong>r a comunicação dentro de um grupo nãoproblemático e reduzir o ‘vago’ através do consenso com seus membros.”.(...)”sãoforma<strong>da</strong>s através de negociações implícitas no curso <strong>da</strong>s conversações, onde aspessoas se orientam para modelos simbólicos, imagens e valores compartilhadosespecíficos. 119Uma vez que o cotidiano detém os objetos de representação é importante nosatermos <strong>na</strong> sua compreensão. Diferentes estudiosos de origem marxistacontribuíram para a compreensão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> como Adorno e Hockeimer,Arendt, Heller, Morin, Bordieux, Freud. Porém, segundo Tedesco, 1999, foi Lefebvre119 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis(R.J.),Vozes, 2004, p.208.121


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAquem apresentou uma análise mais rica e complexa <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>, dentro deuma perspectiva interacionista.“Lefebvre define o cotidiano como um lugar de uma possível apropriação do devirsocial; dialeticamente como geral e singular; como um atributo social e individual;como permanente repetição e mu<strong>da</strong>nça. Seu approche tor<strong>na</strong> indissociável osistema e o ator, o institucio<strong>na</strong>l e o vivido”. 120Lefebvre ao a<strong>na</strong>lisar a vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>, abor<strong>da</strong> as continui<strong>da</strong>des edescontinui<strong>da</strong>des, o que é cíclico e linear, a reprodução <strong>da</strong>s relações de produção,seu poder de normalização, jamais vendo a economia como objeto de estudoindependente. Refuta a oposição entre infra-estrutura e superestrutura e aponta parao potencial crítico e produtivo, dos grupos e dos indivíduos presentes <strong>na</strong>s relaçõessociais, políticas e institucio<strong>na</strong>is, que denomi<strong>na</strong> de fun<strong>da</strong>mentos horizontais efacilitam a melhor compreensão <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong>de.Seus estudos enfatizam o papel <strong>da</strong>s representações e <strong>da</strong>s mediações. Suasanálises procuram...(...) mostrar como a produtivi<strong>da</strong>de aniquilou a criativi<strong>da</strong>de, como o produtosobrepôs-se à obra, como o crescimento substituiu o desenvolvimento, como adiferença se reduz à identi<strong>da</strong>de e a a<strong>na</strong>logia; como o consumo é burocratizado edirigido(...) 121A vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>, segundo Heller, ocupa o centro <strong>da</strong> história, pois se constitui<strong>na</strong> essência <strong>da</strong> substância social. No cotidiano, pensamento e ação constituem umauni<strong>da</strong>de, porém as idéias necessárias à cotidiani<strong>da</strong>de não atingem o plano teórico.(...) “a uni<strong>da</strong>de entre pensamento e ação implica <strong>na</strong> inexistência entre correto e”ver<strong>da</strong>deiro” <strong>na</strong> cotidiani<strong>da</strong>de; o correto é também ”ver<strong>da</strong>deiro.” 122120 TEDESCO, J.C. Paradigmas do Cotidiano: introdução à constituição de um campo de análisesocial. Santa Cruz do Sul(R.S.), UNISC,1999, p.159.121 SEABRA, 1996: in TEDESCO, J.C. Paradigmas do Cotidiano: introdução à constituição de umcampo de análise social. Santa Cruz do Sul (R.S.), UNISC, 1999, p.158.122 HELLER, A. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985, p.32.122


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAssim, o pensamento cotidiano correto é “ver<strong>da</strong>deiro” <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em quepermite ao homem realizar o seu percurso pelo cotidiano, quando estiver ligado aosinteresses de classes e mais preso à fé e a confiança. Uma característica importantedo pensamento cotidiano é a ultrageneralização, que leva aos juízos provisórios, aospré–juizos ou preconceitos, maneiras através dos quais os indivíduos respondem asituações singulares. A cotidiani<strong>da</strong>de faz parte <strong>da</strong> história, não só porque dela retiraseu conteúdo, mas também porque a história <strong>na</strong>rra<strong>da</strong> encerra a cotidiani<strong>da</strong>de de umindivíduo, de um grupo, de uma época.Segundo Denise Jodelet in Spink, 1993, uma vez que as representaçõestratam de uma forma de conhecimento determi<strong>na</strong>do, é possível que se corra o riscode que sejam reduzi<strong>da</strong>s a um evento intra-individual, onde o social intervenhaape<strong>na</strong>s secun<strong>da</strong>riamente, ao mesmo tempo em que pelo fato de se tratar de umaforma de pensamento social pode acarretar o risco de que seja diluí<strong>da</strong> nosfenômenos culturais ou ideológicos.No entanto, falar em Representações Sociais significa atentar para umespaço psicossociológico próprio, em que tanto os comportamentos individuaisquanto os fatos sociais (instituições e práticas) em sua concretude e singulari<strong>da</strong>deestão imbricados dialeticamente, ou seja, é necessário considerar a influênciarecíproca entre os comportamentos, estados e processos individuais e os contextossociais.Obter as Representações Sociais <strong>da</strong>s pessoas sobre determi<strong>na</strong>dosfenômenos significa entender o significado, as explicações que os indivíduosatribuem aos fenômenos que circulam pelo universo do cotidiano, deman<strong>da</strong>ndoatenção e forçando pronunciamentos, construindo ver<strong>da</strong>deiras reali<strong>da</strong>des sociais.“Representações Sociais são uma forma de conhecimento, socialmente elabora<strong>da</strong>e partilha<strong>da</strong>, tendo uma visão prática e concorrendo para a construção de umareali<strong>da</strong>de comum a um conjunto social” 123123 SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o conceito e o estado atual <strong>da</strong> teoria. In: SPINK,Mary Jane. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais <strong>na</strong> perspectiva <strong>da</strong> psicologiasocial. S.P., Brasiliense, 1993, p.36.123


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA teoria <strong>da</strong>s Representações Sociais representa a oposição de Moscovici aoindividualismo que caracterizava a Psicologia Social, e teve em Durkheim e noconceito de representações coletivas, uma possibili<strong>da</strong>de de ligar o individual aosocial, embora por um caminho distinto.As Representações Coletivas para Durkheim incluíam os fenômenos comoreligião, mitos, ciência, em termos de conhecimentos inerentes à socie<strong>da</strong>de ecapazes de integrar e conservar o todo social, tendo um caráter sagrado.Considerando-se a socie<strong>da</strong>de ocidental <strong>da</strong> época e a relativa integri<strong>da</strong>de dosreferidos sistemas, o conceito parecia suficiente para o que pretendia abarcar.Uma vez que a socie<strong>da</strong>de contemporânea inclui novos e diversificadosfenômenos representacio<strong>na</strong>is e é neles que Moscovici se mostra interessado, a suaidéia de representação distancia-se <strong>da</strong> idéia de Durkheim. Uma nova ordem defenômenos implicava um outro conceito para englobá-los.Durkheim via as representações como formas estáveis de compreensãocoletiva e Moscovici interessava-se primordialmente pela variação e diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sidéias <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>des moder<strong>na</strong>s apresentando níti<strong>da</strong> insatisfação com modelos deinfluência social, que visualizam a conformi<strong>da</strong>de ou a submissão, com interesse <strong>na</strong>influência <strong>da</strong> minoria ou <strong>na</strong> inovação.“As representações em que estou interessado não são as <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>desprimitivas, nem as reminiscências, no subsolo de nossa cultura, de épocasremotas. São aquelas de nossa socie<strong>da</strong>de presente, do nosso solo político,científico e humano, que nem sempre tiveram tempo suficiente para permitir asedimentação que as tor<strong>na</strong>sse tradições imutáveis. E sua importância continua acrescer, em proporção direta à heterogenei<strong>da</strong>de e flutuação dos sistemasunificadores -ciências oficiais, religiões, ideologias-e as mu<strong>da</strong>nças pelas quais elesdevem passar a fim de penetrar <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> e se tor<strong>na</strong>r parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>decomum.” 124124 MOSCOVICI apud SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o conceito e o estado atual <strong>da</strong>teoria. In: SPINK, Mary Jane. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais <strong>na</strong> perspectiva<strong>da</strong> psicologia social. S.P., Brasiliense, 1993, p. 22.124


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO conceito de representação para Moscovici substitui, as formas deconhecimento amplas e heterogêneas, que têm em si deposita<strong>da</strong>s grande parte <strong>da</strong>história intelectual <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de, por uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de específica deconhecimentos que tem por função a elaboração de comportamentos e acomunicação entre indivíduos no quadro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>. Substitui uma forma deconhecimento estático, em função <strong>da</strong> estabili<strong>da</strong>de dos fenômenos <strong>na</strong> época em quefoi proposto, por uma mobili<strong>da</strong>de decorrente <strong>da</strong>s características do mundocontemporâneo. Um terceiro aspecto a ser considerado é que as representaçõescoletivas eram as próprias explicações dos fenômenos, ver<strong>da</strong>deiras enti<strong>da</strong>desenquanto para Moscovici, as representações não são homogêneas, merecem sereminterpreta<strong>da</strong>s, conheci<strong>da</strong>s, pois refletem uma distribuição desigual de poder, pontosobscuros no universo de uma cultura ou mesmo aspectos norteados por diferenças<strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.As pessoas constroem suas representações sobre os aspectos presentes <strong>na</strong>socie<strong>da</strong>de, em função <strong>da</strong> relevância imediata para suas vi<strong>da</strong>s ou em função <strong>da</strong>importância social dos fenômenos. Moscovici considera que num grupo deconversação há sempre uma pressão à inferência, e aponta três dimensões em queos grupos podem variar bastante: grau e consistência com relação à informaçãorelativa a determi<strong>na</strong>do assunto, uni<strong>da</strong>de e hierarquização desse conhecimento emum campo de representação e, atitude ou orientação global, podendo ser favorávelou desfavorável quanto ao objeto <strong>da</strong> representação.A partir de suas representações, as pessoas emitem comportamentos eproduzem ver<strong>da</strong>deiras teorias do senso-comum, que têm poder prescritivo sobre areali<strong>da</strong>de, sobre a vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong>. Esse conhecimento segundo Moscovici tem origem<strong>na</strong>s mesmas circunstâncias e ao mesmo tempo em que se manifestam, por meio <strong>da</strong>arte <strong>da</strong> conversação, que caracteriza a socie<strong>da</strong>de pensante e <strong>da</strong>ndo origem aconcepção psicossociológica.De acordo com a perspectiva sociológica, os grupos e os indivíduos estãosempre sobre controle de uma ideologia domi<strong>na</strong>nte, representa<strong>da</strong> por estruturasamplas como o Estado, a igreja, a escola, enquanto dentro de uma visãoexclusivamente psicológica o indivíduo é uma caixa preta que recebe informaçõesexter<strong>na</strong>s e as processa, transformando-as em julgamentos e opiniões.125


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAJá a perspectiva psicossociológica tem caráter interacionista uma vez quereconhece a socie<strong>da</strong>de não só como um sistema político ou econômico, mastambém como um sistema de pensamento; à medi<strong>da</strong>, em que considera osindivíduos não como exclusivamente processadores de informação ou merosreceptáculos de ideologias, mas como seres que “produzem e comunicam incessantementesuas próprias representações e soluções específicas para as questões que colocam a si mesmos.” 125Embora as representações sociais tenham origem e façam referência aospensamentos produzidos <strong>na</strong>s relações sociais, classificados como de senso comum,as socie<strong>da</strong>des produzem uma outra categoria de conhecimento em que circulam opensamento erudito e a ciência. Moscovici denomi<strong>na</strong> essas categorias distintas,respectivamente de universos consensuais e universos reificados de pensamento.No primeiro caso, a produção de conhecimentos obedece a uma lógica <strong>na</strong>tural,mecanismos específicos de verificação principalmente atrelados à verossimilhança eplausibili<strong>da</strong>de, do que à objetivi<strong>da</strong>de, rigor lógico e metodológico que caracterizamas formas de pensamento que compõem os universos reificados.Esses dois universos nos dizem do lugar ocupado pelas representaçõesnuma socie<strong>da</strong>de pensante. Antes dessa divisão proposta por Moscovici a socie<strong>da</strong>deera dividi<strong>da</strong> em duas esferas, a sagra<strong>da</strong> e a profa<strong>na</strong>. A esfera sagra<strong>da</strong> era dig<strong>na</strong> derespeito e veneração e a esfera profa<strong>na</strong> correspondia às ativi<strong>da</strong>des triviais eutilitaristas, <strong>da</strong>ndo origem a mundos separados, que em ca<strong>da</strong> cultura e em ca<strong>da</strong>indivíduo determi<strong>na</strong>m forças relativas ao que posso mu<strong>da</strong>r e o que causa mu<strong>da</strong>nçaem mim. Nesse sentido essas formas de pensar funcio<strong>na</strong>vam como um divisor deáguas, em que os interesses por uma esfera seriam incompatíveis com o interessepela outra esfera.No mundo moderno esta divisão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de ou dos pensamentos sobre areali<strong>da</strong>de corresponde aos universos consensuais e reificados. No primeiro caso asocie<strong>da</strong>de é vista como um grupo de pessoas que são iguais e livres, ca<strong>da</strong> uma compossibili<strong>da</strong>de de falar em nome do grupo e em seu próprio nome. Não hánecessi<strong>da</strong>de de uma competência específica, os indivíduos emitem suas opiniões125 TEDESCO, J.C. Paradigmas do cotidiano: introdução à constituição de um campo de análisesocial. Santa Cruz do Sul (R.S), UNISC, 1999, p.159.126


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcom base em competências construí<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s suas vivências, nos clubes,associações bares, espaços onde as relações sociais se estabelecem.“Em longo prazo a conversação (os discursos) cria nós de estabili<strong>da</strong>de erecorrência, uma base comum de significância entre seus praticantes. As regrasdessa arte mantêm todo um complexo de ambigüi<strong>da</strong>des e convenções sem a quala vi<strong>da</strong> social não poderia existir. Elas capacitam as pessoas a compartilharem umestoque implícito de imagens e idéias que são considera<strong>da</strong>s certas e mutuamenteaceitas”. 126Já os universos reificados são compostos por especialistas, ca<strong>da</strong> qualrespondendo por uma dimensão dos fatos, de forma impessoal, impondo o que éver<strong>da</strong>deiro e o que não o é, em ca<strong>da</strong> caso e particular. Os membros são vistoscomo desiguais, perfazendo um sistema de papéis e classes, cuja participaçãosocial é defini<strong>da</strong> em função de sua competência.A linguagem constitui o elemento que demarca significativamente esses doisuniversos próprios de nossa cultura. Os pronomes ”nós” ou “eles” são indicativos dolugar ocupado pelos indivíduos que pronunciam o discurso, se em universosconsensuais ou reificados, respectivamente. A distância entre a primeira e terceirapessoa diz de um lugar de pertencimento ou exclusão. Quando o discurso fazreferência ao que eles pensam, dizem ou fazem, indica oposição e indetermi<strong>na</strong>ção.Moscovici considera que as reali<strong>da</strong>des consensuais <strong>na</strong>scem <strong>da</strong>sRepresentações Sociais e que as mesmas provém indiretamente de universosreificados. Esses universos passam a povoar um outro tipo de senso comum própriode nossa época que inclui...”conhecimentos de segun<strong>da</strong> mão, cuja operação básica consiste <strong>na</strong>contínua apropriação <strong>da</strong>s imagens, <strong>da</strong>s noções e <strong>da</strong>s linguagens que a ciência não cessa deinventar.” 127126 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis,(R.J.), Vozes, 2004, p. 51.127 MOSCOVICI apud SÁ, Celso Pereira de. Representações Sociais: o conceito e o estado atual <strong>da</strong>teoria. In: SPINK, Mary Jane. O conhecimento no cotidiano: as representações sociais <strong>na</strong> perspectiva<strong>da</strong> psicologia social. São Paulo, Brasiliense, 1993, p.28.127


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATais apropriações são feitas por jor<strong>na</strong>listas, cientistas amadores, animadoresculturais, pessoal de marketing e, possibilita<strong>da</strong>s em função <strong>da</strong>s ampliações esofisticações dos meios de comunicação de massa.Essa forma de compreender a estruturação do conhecimento <strong>na</strong>s socie<strong>da</strong>despensantes nos remete a classificação de cultura proposta por Bosi (1990). Para ele acultura obedece a diferentes classificações, de acordo com os critérios selecio<strong>na</strong>dospara análise, e assim, se o critério for o controle, tem-se a cultura alie<strong>na</strong><strong>da</strong> ouautônoma; se o critério for valores e objetos, é possível falar em cultura de classes.Sendo o critério, o conjunto de bens compartilhados por um grupo, é possívelclassificar a cultura em erudita ou acadêmica, centra<strong>da</strong> no sistema educacio<strong>na</strong>l eoriun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des (universo de reificação) e cultura popular, representandobens materiais e simbólicos tradicio<strong>na</strong>is. Intermediando esses dois campos, apontaain<strong>da</strong> a cultura criadora, extra- universitária, delinea<strong>da</strong> por poetas e escritores,(forma específica de senso-comum para Moscovici) e a indústria cultural, geri<strong>da</strong>pelos princípios de produção econômica e difundi<strong>da</strong> em larga escala pelos meios decomunicação.Tanto Moscovici como Bosi apontam para um conhecimento de senso comumque se apropria do conhecimento científico, uma vez que a dinâmica proporcio<strong>na</strong><strong>da</strong>pelas novas formas de relacio<strong>na</strong>mento e pelo amplo desenvolvimento <strong>da</strong>stecnologias possibilita trazer para os diferentes espaços <strong>da</strong>s relações sociais, umconteúdo que anteriormente só circulava em nível de um grupo específico. Por outrolado, o acesso a esse conteúdo, o contato com informações dessa <strong>na</strong>tureza éfavorecido, pois a linguagem em que são postos em circulação é transforma<strong>da</strong>significativamente, de modo a aproximar universos que a princípio transitavam emterrenos opostos.Assim, cultura e linguagem constituem as condições de produção e circulação<strong>da</strong>s representações sociais; ao mesmo tempo em que novas formas culturais sãoconstituí<strong>da</strong>s e constituem novas linguagens, são as linguagens que integram osfenômenos culturais e individuais.128


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA“O uso <strong>da</strong> linguagem de imagens e de palavras que se tor<strong>na</strong>ram proprie<strong>da</strong>de ocomum através <strong>da</strong> difusão de idéias existentes, dá vi<strong>da</strong> e fecun<strong>da</strong> aquelesaspectos <strong>da</strong> <strong>na</strong>tureza com os quais nós estamos aqui interessados. ao mesmotempo nós vemos com mais clareza a <strong>na</strong>tureza ver<strong>da</strong>deira <strong>da</strong>s ideologias, que éde facilitar a transição de um mundo a outro, isto é de transformar categoriasconsensuais em categorias reifica<strong>da</strong>s e de subordi<strong>na</strong>r as primeiras àssegun<strong>da</strong>s”. 128As diferenças culturais ficam demarca<strong>da</strong>s pelas diferentes linguagens, umavez que a linguagem se constitui no principal instrumento para sua transmissão.Nossas experiências e idéias passa<strong>da</strong>s não morrem, mas continuam a mu<strong>da</strong>r einfiltrar nossas experiências atuais.4.2.1. Reali<strong>da</strong>de e Ver<strong>da</strong>deDesde os anos 700 a.C. aproxima<strong>da</strong>mente, os filósofos pré-socráticospreocupavam-se em definir a relação homem-mundo através <strong>da</strong> percepção ediscutiam se o mundo existia porque o homem o vê, ou se o homem vê um mundoque já existe, correspondendo às concepções idealista (a idéia forma o mundo) ematerialista (a matéria que forma o mundo já é <strong>da</strong><strong>da</strong> à percepção). Essasdiscussões sobre a reali<strong>da</strong>de já deixavam explícito que existe alguma coisa quepertence à reali<strong>da</strong>de e alguma coisa que se constitui num discurso sobre areali<strong>da</strong>de, o que nos leva a dizer de uma reali<strong>da</strong>de que é ver<strong>da</strong>deira, em oposição auma que é aparente, ilusória, concepção i<strong>na</strong>ugura<strong>da</strong> por Platão, para quem atingir aver<strong>da</strong>de era atingir a essência, ou como proposta por Marx, para quem é possívelfalar em ver<strong>da</strong>des objetiva e relativa.Costa 129 assi<strong>na</strong>la que as dificul<strong>da</strong>des no entendimento dos discursos<strong>na</strong>rrativos têm início com o uso <strong>da</strong> escrita e o deslocamento no tempo e no espaçoentre os interlocutores. O leitor precisa desvelar o discurso, sua autentici<strong>da</strong>de,através <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fonte e do próprio texto e a distância ca<strong>da</strong> vez maior que128 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis(R.J.),Vozes, 2004, p. 53.129 COSTA, Cristi<strong>na</strong>. Ficção, Comunicação e Mídias. S.P., SENAC, 2002.129


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfoi sendo estabeleci<strong>da</strong> entre autor e texto, a necessi<strong>da</strong>de de transcrições, traduçõese copiagens, acabaram por gerar a idéia de que os textos envolviam manipulações efalsas interpretações, o que não acontece quando a comunicação é presencial e aorali<strong>da</strong>de traz ao ato comunicativo grande expressivi<strong>da</strong>de e transparência, emfunção <strong>da</strong>s diferentes linguagens de que o orador faz uso com a gestuali<strong>da</strong>de e alinguagem corporal.A concepção de real deriva de três formas possíveis de relação que seestabelecem entre sujeito e objeto. O modelo denomi<strong>na</strong>do mecanicista tem base <strong>na</strong>teoria do reflexo e pressupõe um sujeito passivo que registra estímulos vindos doexterior, realiza o papel de espelho <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e o conhecimento resultante dessaé a cópia do objeto. As diferenças entre as imagens <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de percebi<strong>da</strong> pelosdiferentes sujeitos ficam reduzi<strong>da</strong>s às diferenças individuais ou genéticas. Este éconsiderado um modelo clássico pela frequência com que aparece <strong>na</strong> história e porestar associado com uma idéia clássica de ver<strong>da</strong>de, em que um julgamento éver<strong>da</strong>deiro, quando o que ele formula é conforme ao seu objeto (...) Popper chama aesta teoria do processo cognitivo a teoria <strong>da</strong> consciência-recipiente 130 . Esta visãoestá principalmente associa<strong>da</strong> com as correntes do pensamento materialista, pois oobjeto e sua interpretação empírica predomi<strong>na</strong>m.No segundo modelo, o idealista, ocorre o contrário, pois a dominância <strong>na</strong>relação sujeito-objeto é do sujeito ativo, que conhece e apreende o objeto doconhecimento fixando sua atenção sobre este ou aquele aspecto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de,recriando-a, reforçando o papel <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> construção do real. Dentro deuma concepção idealista não existe ver<strong>da</strong>de absoluta, a ver<strong>da</strong>de é resultado doângulo de visão do observador, havendo uma recusa do valor <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de objetiva(conhecimento produzido por sujeito ativo que apreende o objeto que existe foradele).O modelo interacionista assim como o idealista aponta para as questões <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de/ objetivi<strong>da</strong>de no conhecimento. Porém, no modelo interacionista osubjetivo não resulta só de processos cognitivos, mas é o resultado de influênciassociais, como os interesses do grupo, a língua.’‘(...) Se não se compreende a dialética de130 SCHAFF, A . História e Ver<strong>da</strong>de. Cap.I. São Paulo, Martins Fontes, 1978, p.74.130


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAsuas relações mútuas é impossível compreender o processo de conhecimento” 131 . Nesse caso osujeito é ativo e responde a fontes do grupo ao qual pertence, o que não significanegar a existência objetiva do objeto por um idealismo subjetivista, mas entenderque a linha de demarcação entre o subjetivo e o objeto desaparece, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> emque o sujeito é tido como um produto social e a subjetivi<strong>da</strong>de é resultado de umprocesso de construção, que se dá a partir <strong>da</strong> interação do indivíduo com o meio, demodo que a imagem construí<strong>da</strong> do mundo pode ser mutável, o que não nos permitefalar em ver<strong>da</strong>de absoluta, mas sim em ver<strong>da</strong>de relativa.“O processo cognitivo que engendra o conhecimento ver<strong>da</strong>deiro é ao mesmotempo objetivo e subjetivo, mas a títulos diferentes. Objetivo à medi<strong>da</strong> em que oobjeto, um dos termos <strong>da</strong> relação cognitiva, que é parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de do mundo,existe fora e independente de todo espírito cognoscente e constitui o fator externodo conhecimento. Subjetivo, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que o sujeito, segundo termo <strong>da</strong>relação cognitiva, possui uma função ativa e longe de ser o receptor passivo dosexcitantes, sempre introduz no conhecimento suas proprie<strong>da</strong>des individuais quesão subjetivas precisamente nesse sentido, embora sejam sociais por sua gênese(isto concerne mesmo à estrutura psicofísica hereditária)”. 132Nos termos <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de, o conhecimento a que se chega emdecorrência do processo cognitivo tem valor de ver<strong>da</strong>de relativa, por ser subjetivo,ligado a um ponto de vista parcial e incompleto. A questão que se coloca então é:Como então, considerar a objetivi<strong>da</strong>de do conhecimento, se ele está condicio<strong>na</strong>do àreali<strong>da</strong>de social que determi<strong>na</strong> não só relações econômicas e sociais objetivas, mastambém manifestações ideológicas? Onde situar a reali<strong>da</strong>de, a ver<strong>da</strong>de?Encontramos opiniões divergentes com relação a esse aspecto. Marx, nãoalimenta dúvi<strong>da</strong>s sobre a possibili<strong>da</strong>de do conhecimento objetivo, e justifica suaposição através dos conceitos de ver<strong>da</strong>de relativa e objetiva que define com base <strong>na</strong>tese, <strong>da</strong> diferenciação dos interesses <strong>da</strong>s diversas classes sociais. Para ele, aver<strong>da</strong>de relativa diz respeito a um conhecimento deformado, proveniente <strong>da</strong>sclasses que visam à manutenção do estado <strong>da</strong>s coisas; quando o conhecimento é131 SCHAFF, A. Linguagem e conhecimento, Coimbra: Almedi<strong>na</strong>, 1974, p.48.132 SCHAFF, A. A objetivi<strong>da</strong>de do conhecimento à luz <strong>da</strong> sociologia do conhecimento e <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>linguagem. In: KRISTEVA, J.et al (Orgs) Ensaios de Semiologia. Rio de Janeiro, Eldorado, [s.d.].131


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcondicio<strong>na</strong>do pelas classes ascendentes, não ocorre deformação constituindo aver<strong>da</strong>de objetiva.No entanto, para Manheim, nenhum conhecimento constitui ver<strong>da</strong>deabsoluta, é sempre resultado de um ângulo de visão definido pelo observador oupesquisador, portanto, todo o conhecimento é parcial, de modo que aoconhecimento dos fenômenos sociais não é possível atribuir valor, de ver<strong>da</strong>deobjetiva.É possível pensar o conhecimento e a ver<strong>da</strong>de / reali<strong>da</strong>de, do ponto de vista<strong>da</strong> sociologia do conhecimento ou <strong>da</strong> análise <strong>da</strong> linguagem, o que implica restringiras análises a fenômenos sociais, assuntos nos quais interferem interesses de grupo,opiniões defini<strong>da</strong>s ou reconhecer o relativismo linguístico, determi<strong>na</strong>do por si<strong>na</strong>is enormas presentes <strong>na</strong>s linguagens desenvolvi<strong>da</strong>s pelas diferentes comuni<strong>da</strong>des.Nesse sentido, as formas de pensamento desenvolvi<strong>da</strong>s dependem dos referentespresentes em uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> língua, podendo impor a nosso pensamento limites<strong>na</strong>turais.As duas propostas têm em comum a tese do condicio<strong>na</strong>mento social doconhecimento e incidem sobre o valor de ver<strong>da</strong>de por ângulos diversos. A sociologiado conhecimento identifica a ver<strong>da</strong>de objetiva com a ver<strong>da</strong>de absoluta. Por outrolado, considerar o relativismo linguístico não significa aceitar a impossibili<strong>da</strong>de deobter no conhecimento humano ver<strong>da</strong>des objetivas, mas admitir que o conhecimentonão é nem pleno, nem definitivo, sofre deformações, o que não significa considerarcomo pura construção do espírito cognoscente. Não é por não captar o mundosensorial em profundi<strong>da</strong>de que se deixa de ser objetivo; a objetivi<strong>da</strong>de consiste <strong>na</strong>recusa de se falar em ver<strong>da</strong>de absoluta. O relativismo linguístico fala <strong>da</strong>possibili<strong>da</strong>de de inúmeras ver<strong>da</strong>des, que têm atributos de objetivi<strong>da</strong>de e atributos desua <strong>na</strong>tureza absoluta ou relativa.Segundo Schaff 133 falar em ver<strong>da</strong>de objetiva não significa dizer queconsideramos a possibili<strong>da</strong>de de uma ver<strong>da</strong>de não objetiva ou subjetiva, aoquadrado, mas frisar que a relação de ver<strong>da</strong>de contém em si a relação de133 SCHAFF, A. A objetivi<strong>da</strong>de do conhecimento à luz <strong>da</strong> sociologia do conhecimento e <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>linguagem. In: KRISTEVA, J.et al. (Orgs) Ensaios de Semiologia. Rio de Janeiro, Eldorado. [s.d.].132


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAobjetivi<strong>da</strong>de e que falando <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de objetiva, estamos falando de reali<strong>da</strong>de. Isso éimportante para uma divisão <strong>da</strong>s ver<strong>da</strong>des em ver<strong>da</strong>des absolutas e ver<strong>da</strong>desrelativas, mas estaremos tratando qualquer uma delas como ver<strong>da</strong>deiras. A ver<strong>da</strong>deobjetiva pode absoluta, ou seja, ple<strong>na</strong>, completa e imutável ou, pode ser igualmenteincompleta, parcial.Uma outra forma de apreensão do problema <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de/ subjetivi<strong>da</strong>de doconhecimento, segundo Schaff, passa pela ciência e pela ideologia, constituindouma abor<strong>da</strong>gem nova de uma questão de outra forma tradicio<strong>na</strong>l. As diversasdiscussões relativas aos temas rigorosamente opunham os dois domínios. A ciênciaera concebi<strong>da</strong> como um conjunto de proposições ver<strong>da</strong>deiras e a ideologia como acoleção <strong>da</strong>s opiniões e <strong>da</strong>s atitudes correspondentes dos homens, um domínio aoqual é impossível trazer o valor de ver<strong>da</strong>de, por ser marcado pela subjetivi<strong>da</strong>de.Ciência e ideologia não só são vistas em oposição e não é retirado totalmente <strong>da</strong>ciência o elemento ideológico.O que a sociologia do conhecimento e a análise <strong>da</strong> linguagem tem a nosdizer, é que a total objetivi<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> à ciência é um mito. O conhecimentocientífico é sempre um conhecimento objetivo/ subjetivo <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que, <strong>da</strong>do oprocesso ativo do sujeito no conhecimento, a objetivi<strong>da</strong>de é sempre relativa. Assim ofator subjetivo sempre emerge e diz respeito aos fatores que determi<strong>na</strong>m opsiquismo e as atitudes do sujeito, como a língua, o grupo a que pertence, que lheconfere uma percepção específica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Essa subjetivi<strong>da</strong>de tem carátersocial e objetivo, de modo que a linha de demarcação entre ciência e ideologia seconfunde e se complica. Por outro lado o conhecimento científico não é produzido,senão à luz <strong>da</strong> ideologia, especificados nos temas e problemas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deescolhidos para estudo ou mesmo <strong>na</strong> bibliografia selecio<strong>na</strong><strong>da</strong>.De acordo com Schaff 134 , a própria palavra ver<strong>da</strong>de possui conotaçõesdiferentes; podemos falar em ver<strong>da</strong>de enquanto juízo ver<strong>da</strong>deiro, proposiçãover<strong>da</strong>deira ou conhecimento ver<strong>da</strong>deiro e esses significados não se sobrepõem, oque nos leva a dizer que o conhecimento não equivale a um juízo único e,134SCHAFF, A. A objetivi<strong>da</strong>de do conhecimento à luz <strong>da</strong> sociologia do conhecimento e <strong>da</strong> análise<strong>da</strong> linguagem. In: KRISTEVA, J.et al. (Orgs) Ensaios de Semiologia. Rio de Janeiro, Eldorado. s/d.133


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAconsiderando as diferentes dimensões de um processo, o conhecimentocorresponde a um processo infinito que acumula ver<strong>da</strong>des parciais que possibilitama construção de uma nova ver<strong>da</strong>de/ reali<strong>da</strong>de.Os discursos midiáticos, em função de suas características de construção,resultantes do avanço tecnológico têm ca<strong>da</strong> vez mais aproximado, ficção ereali<strong>da</strong>de. Reconhecer a <strong>na</strong>tureza do discurso significa alcançar o conhecimento, aver<strong>da</strong>de e para isso é preciso fazer referência aos conceitos de objetivi<strong>da</strong>de esubjetivi<strong>da</strong>de,O desenvolvimento dos meios de comunicação e <strong>da</strong>s mediaçõestecnológicas, com vimos anteriormente, ao introduzirem a possibili<strong>da</strong>de de inúmerosdiscursos serem mobilizados para a construção dos sentidos aproximando ca<strong>da</strong> vezmais ficção e reali<strong>da</strong>de, foram responsáveis pela intensificação <strong>da</strong>s questõesrelativas à autentici<strong>da</strong>de dos textos, fazendo inclusive surgir conceitos como utopia eideologia para fazer referência a enunciados que oferecessem compreensõesdistorci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.4.2.2. Representação e Reali<strong>da</strong>de SocialTo<strong>da</strong>s as interações huma<strong>na</strong>s entre pessoas ou grupos pressupõemrepresentações. O contato com pessoas e a familiari<strong>da</strong>de com elas faz com que sedesenvolvam representações. As informações recebi<strong>da</strong>s e sobre as quais sãoatribuídos significados, estão sob controle de quem elabora a informação e <strong>na</strong>construção de uma representação sobre um objeto ou fato social, o que é coletivopenetra o individual e começa a influenciar o indivíduo participante <strong>da</strong>quelacomuni<strong>da</strong>de. Assim as representações são cria<strong>da</strong>s pelos indivíduos isola<strong>da</strong>mente euma vez cria<strong>da</strong>s passam a ter vi<strong>da</strong> própria, circulam se atraem e se repelem. Asdiferentes áreas do conhecimento constituem um exemplo, pois, ao apresentaremuma visão diferencia<strong>da</strong> dos objetos, fatos,situações, ca<strong>da</strong> uma delas traz umconjunto de informações específicas, que levam a apropriações específicas .134


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPara Moscovici 135 , uma reali<strong>da</strong>de social, segundo a teoria <strong>da</strong>sRepresentações Sociais, surge quando o novo ou não familiar vem a ser incorporadoaos universos consensuais. O novo em geral é introduzido por universos reificadoscomo a tecnologia, a ciência, ou o <strong>da</strong>s profissões especializa<strong>da</strong>s e é o contato comesse novo que gera a não familiari<strong>da</strong>de <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de mais ampla.Os fatos não familiares fazem com que se desenvolvam processos que otransformem em familiares. Se não fosse a freqüência com que o estranho seapresenta, o pensamento social tenderia à estabili<strong>da</strong>de resultando em habituaçãomental. As representações sociais que vão permitir a configuração <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>desocial incluem os seguintes processos: ancoragem, classificação, denomi<strong>na</strong>ção,objetivação.A ancoragem corresponde à integração do objeto representado por umsistema de pensamento social pré-existente, em que as representaçõesanteriormente disponíveis acolhem as novas representações. O processo deancoragem pressupõe classificação e denomi<strong>na</strong>ção• A classificação diz respeito à escolha de um paradigma e busca <strong>da</strong> relaçãoentre aspectos do objeto representado que permitam que o mesmo seja colocadodentro do universo do respectivo paradigma.• A denomi<strong>na</strong>ção consiste no tirar alguma coisa do anonimato e incluí-la numcomplexo de palavras específicas, <strong>na</strong> matriz de identi<strong>da</strong>de de uma cultura.• A objetivação corresponde à forma, à configuração que é <strong>da</strong><strong>da</strong> aoconhecimento acerca do objeto sob a forma de imagem,corresponde àmaterialização de um objeto abstrato.Assim como Moscovici, o cotidiano, segundo Lebfreve 136 , oferece situaçõesde conflito, situações não totalmente conheci<strong>da</strong>s e a incorporação dessas requer umprocesso de objetivação e de apropriação, o que significa que o indivíduo além deaprender os elementos de sua cotidiani<strong>da</strong>de nos grupos mais próximos, como a135 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis (R.J.),Vozes, 2004.136 LEFEBVRE, Henry. A Vi<strong>da</strong> Cotidia<strong>na</strong> no Mundo Moderno. S. P., Ática, ano 1991135


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfamília e a escola, deve saber transpô-los para dimensões que extrapolem seu grupoprimordial, adquira um sentido próprio.Sobre esse aspecto Moscovici, apesar de partir de informações <strong>da</strong> psicologiaclássica para quem as representações correspondem a instâncias intermediáriasentre a percepção e o conceito, ao tentar compreender como uma representação sefaz em uma organização particular, considera a “representação como um processo quetor<strong>na</strong> o conceito e a percepção de algum modo, intercambiáveis, visto que engendramreciprocamente.” 137Atentar para as questões que dizem respeito à reali<strong>da</strong>de e representaçãosignifica levar em consideração que muitas vezes não estamos conscientes decoisas bastante óbvias, de modo que aspectos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de se tor<strong>na</strong>m invisíveisperante nós e isso decorre de uma fragmentação que fazemos <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, emfunção de uma classificação <strong>da</strong>s pessoas e coisas, que faz algumas delas visíveis eoutras invisíveis. Outras vezes, aspectos que durante algum tempo fazem parte denosso universo, que aceitamos sem discussão transformam-se em meras ilusões, e,isso só é possível porque podemos passar <strong>da</strong> aparência para a reali<strong>da</strong>de através dealguma noção ou imagem. Outras ain<strong>da</strong>, nossas reações aos acontecimentosresultam de alguma definição comum a todos os membros <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de à qualpertencemos.Essas intervenções estruturam uma reali<strong>da</strong>de e o contorno que dão a essamesma reali<strong>da</strong>de, são subsidia<strong>da</strong>s por elementos distintos, que constroemrepresentações e isso é tudo o que temos sobre a reali<strong>da</strong>de.Segundo Moscovici é possível reconhecer <strong>na</strong>s representações uma <strong>na</strong>turezaconvencio<strong>na</strong>l e prescritiva, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que elas dão forma aos objetos, pessoasou situações com que se deparam, colocando-os em uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> categoriacompartilha<strong>da</strong> por um grupo de pessoas, enquadrando-os dentro de um mesmomodelo. Para isso é necessário que suas particulari<strong>da</strong>des sejam descarta<strong>da</strong>s,mesmo que inconscientemente. Este modelo por sua vez poderá estar atrelado aoutras convenções, formando uma rede.137 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis,Vozes, 2004, p.33.136


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASão as convenções que permitem decifrar a reali<strong>da</strong>de, atribuir-lhessignificação, uma vez que nenhuma mente está livre de condicio<strong>na</strong>mentos. Mas umasignificação com base em convenções nem sempre diz <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Levar emconsideração o aspecto convencio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de capacita o indivíduo a livrar-se<strong>da</strong>s exigências impostas por pensamentos e percepções, descartar-se dospreconceitos e reconhecer que as representações constituem um tipo de reali<strong>da</strong>de.Segundo Tedesco 138 , o preconceito oferece uma visão simplista e impede aaproximação com o real e a formação de uma consciência crítica. Deriva deestereótipos, que consistem em explicações ingênuas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, com base emmodelos que são introduzidos à força nessa mesma reali<strong>da</strong>de e que se mostramfacilitadores <strong>da</strong> compreensão ao oferecem explicações já confeccio<strong>na</strong><strong>da</strong>s pelacultura. O uso de estereótipos faz parte do discurso cotidiano, intercepta o caminhorumo à consciência e, portanto, distancia o homem do conhecimento objetivo, <strong>da</strong>ver<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A toma<strong>da</strong> de consciência, ao contrário corresponde àinsubmissão e nos aproxima do conhecimento, <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de. Oreconhecimento do papel <strong>da</strong>s convenções <strong>na</strong> representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de vem aconstituir o caminho para essa conscientização.O caráter prescritivo <strong>da</strong>s representações advém <strong>da</strong> força que as mesmasexercem sobre as formas de pensamento “Essa força é combi<strong>na</strong>ção de uma estrutura queestá presente mesmo antes que comecemos a pensar e de uma tradição que decreta o que deve serpensado”. 139Uma pessoa tem ou não uma determi<strong>na</strong><strong>da</strong> maneira de pensar em função desua representação e não o inverso, o que significa que elas são impostas, sãoproduto de uma sequência de elaborações e mu<strong>da</strong>nças que ocorrem no decurso <strong>da</strong>história, que fazem parte <strong>da</strong> memória coletiva e são registra<strong>da</strong>s em nossa memória.“O poder e a clari<strong>da</strong>de peculiares <strong>da</strong>s representações, deriva do sucesso com que elas controlam areali<strong>da</strong>de de hoje, através do ontem e <strong>da</strong> continui<strong>da</strong>de que isso pressupõe.” 140138 TEDESCO, J.C. Paradigmas do Cotidiano: introdução à constituição de um campo de análisesocial. Santa Cruz do Sul (R.S.), UNISC, 1999.139 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis,Vozes, 2004, p. 36.140 Id., p. 38.137


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA4.3. Representação Social, Mídia e Construção do Sujeito4.3.1. A constituição do sujeito, o enfoque interacionista e os diferentesdiscursos“Romper com o estado de <strong>na</strong>tureza e com a bagagem genética , que lhe <strong>da</strong>vasentido <strong>da</strong>s coisas e de sua relação com elas, significou enfrentar o mundo pormeio de um complexo processo cognoscente, o qual exigiu o desenvolvimento doimaginário e <strong>da</strong> abstração, responsáveis pela consciência huma<strong>na</strong> e seusprocessos simbólicos”. 141O enfoque interacionista do desenvolvimento humano, do ponto de vista <strong>da</strong>Psicologia, tem em Vygotsky, um dos teóricos responsáveis por uma concepçãoinovadora relativa às origens <strong>da</strong>s formas superiores do comportamento conscientecomo pensamento, memória, atenção voluntária, formas essas que diferenciam ohomem de outros animais. Com suporte no materialismo dialético, Vygotsky entendeo homem como ser ativo que age sobre o mundo sempre através de relaçõessociais, transforma as experiências vivi<strong>da</strong>s e as integra ao seu mundo interno, à suasubjetivi<strong>da</strong>de.Vygotsky tem como pressuposto básico, que o sujeito está imerso no contextocultural e histórico e esse universo é determi<strong>na</strong>nte do seu plano interno, que não préexiste, mas é fun<strong>da</strong>do <strong>na</strong>s ações, <strong>na</strong>s interações sociais e <strong>na</strong> linguagem. Opõe-se àconcepção de indivíduo autônomo, cujo conhecimento é resultante <strong>da</strong> puraindividuali<strong>da</strong>de.A visão interacionista aplica<strong>da</strong> a diferentes áreas do conhecimento, nãoacredita no rigor <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de dos fatos sociais, <strong>da</strong>ndo priori<strong>da</strong>de a idéia dereali<strong>da</strong>de construí<strong>da</strong> <strong>na</strong> dinâmica <strong>da</strong> ação social, privilegiando aspectos comoprobabili<strong>da</strong>de, estratégias, representações. A superação do abstrato, numa visão141 COSTA, Cristi<strong>na</strong>. Ficção, comunicação e mídias. São Paulo. SENAC, 2002, p.10.138


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAinteracionista não envolve só razão, mas adentra por um universo que incluiaspectos afetivos, emocio<strong>na</strong>is e outros relativos aos papéisA socialização como um processo de aprendizagem de papéis onde a criançaconstrói o mundo social e, ao mesmo tempo, constitui sua própria identi<strong>da</strong>de, a partirde um mínimo de normas interioriza<strong>da</strong>s, valoriza<strong>da</strong>s e reestrutura<strong>da</strong>s nos diferentesencontros sociais. De acordo com Golfmann, 142 apud Tedesco, 1999, os papéisembora definidos socialmente, são reconstruídos a partir dos desejos do eu, <strong>da</strong>ocasião social (evento definido no tempo e espaço) e do encontro social (ocasião deinteração face a face). O cotidiano e a história são os espaços de socialização, umavez que eles proporcio<strong>na</strong>m a ocasião e o encontro social.Segundo Heller apud Tedesco, o indivíduo amadurece quando adquire to<strong>da</strong>sas habili<strong>da</strong>des imprescindíveis para a vi<strong>da</strong> em socie<strong>da</strong>de, pois o adulto deve sercapaz de manipular objetos e situações presentes em seu mundo. (...)”é adulto quem écapaz de viver a sua cotidiani<strong>da</strong>de.’’(...) a assimilação <strong>da</strong> manipulação <strong>da</strong>s coisas é sinônimo deassimilação <strong>da</strong>s relações sociais.” 143Com o avanço tecnológico o espaço de diálogo social no cotidiano passou aincorporar as diferentes mídias e, portanto, as diferentes linguagens (visual, escrita eáudio).Partindo <strong>da</strong> concepção de que a subjetivi<strong>da</strong>de se constrói <strong>na</strong> interação com ooutro e com todo o universo de relações determi<strong>na</strong>do pelo contexto histórico ecultural em que estamos inseridos, é importante considerar os inúmeros ediversificados discursos com os quais o sujeito dialoga no mundo contemporâneo,uma vez que eles passaram a constituir os modelos que orientam a percepção demundo e a integrar a individuali<strong>da</strong>de e o conhecimento de ca<strong>da</strong> um.“(...) a forma concreta de vivência do real do homem ema<strong>na</strong> de uma correlaçãoentre as categorias representativas do eu e do outro; as formas de eu através <strong>da</strong>s142 TEDESCO, J.C. Paradigmas do Cotidiano: introdução à constituição de um campo de análisesocial. Santa Cruz do Sul (R.S.), UNISC,1999.143 Id., p.19.139


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAquais sou o único a vivenciar-me se distinguem fun<strong>da</strong>mentalmente <strong>da</strong>s formas dooutro <strong>da</strong>s quais vivencio a todos os outros sem exceção”. 144Isso conduz a dois aspectos com relação às representações: um deles dizrespeito à elimi<strong>na</strong>ção dos limites entre o icônico e o conceitual, que vem obscureceras representações .O outro lado mostra como o desaparecimento desses limites fazcom que nossa interpretação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de consista em representações <strong>da</strong>srepresentações, tor<strong>na</strong>ndo-as ain<strong>da</strong> mais simbólicas e, portanto, não mais umaquestão filosófica, mas psicológica.Assim, os diferentes discursos presentes no mundo atual devem ser vistoscomo o outro <strong>da</strong>s relações que vivenciamos. Conhecê-los significa identificar alinguagem que os permeia, significa reconhecer os signos, as técnicas e astecnologias comunicativas e a importância desses elementos para a formação dediferentes subjetivi<strong>da</strong>des, e, portanto para a formação do pensamento, <strong>da</strong> memória edo conhecimento humanos.Segundo Schaff 145 é possível compreender o papel ativo <strong>da</strong> linguagem nopensamento sob três diferentes formas: Primeiramente é preciso considerar que opensamento conceitual seria impossível sem um sistema de si<strong>na</strong>is e, portanto,também, sem um sistema de regras semânticas e gramaticais, de modo que se podedizer que a existência <strong>da</strong> linguagem é a condição necessária para o pensamentoconceitual. Outro aspecto essencial diz respeito ao fato de que <strong>na</strong>scemos com afacul<strong>da</strong>de de aprender a falar, mas a palavra enquanto tal, não se desenvolve a nãoser no contato social, de modo que é possível dizer que a palavra é o fun<strong>da</strong>mentosocial do pensamento individual e, portanto, um elemento de mediação entre oexterior/ social e o interior/ individual.“(...) a sua mediação exerce-se nos dois sentidos: não só transmite aos indivíduosa experiência e o saber <strong>da</strong>s gerações passa<strong>da</strong>s, mas também se apropria dosnovos resultados do pensamento individual, a fim de os transmitir- sob a forma deum produto social- às gerações futuras”. 146144 BAKHTIN apud COSTA, Cristi<strong>na</strong>. Ficção, Comunicação e mídias. São Paulo. SENAC, 2002, p. 57.145 SCHAFF, A. Linguagem, conhecimento e cultura. Cap. III. São Paulo, Martins Fontes,1974.146 Id., p.251.140


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEssa acepção contém em si a idéia de que ca<strong>da</strong> língua nos fornece umaforma defini<strong>da</strong> de ver o mundo, um esquema ou um estereótipo, de onde decorre aterceira instância <strong>da</strong> relação entre linguagem e pensamento e refere-se a suainfluência sobre o nível específico de abstração e de generalização do pensamento,uma vez que as possibili<strong>da</strong>des defini<strong>da</strong>s pelas especifici<strong>da</strong>des representa<strong>da</strong>s pelovocabulário ou mesmo pela sintaxe de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> língua, determi<strong>na</strong>m formasdiferencia<strong>da</strong>s de apreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.Os meios de comunicação utilizam-se de diferentes linguagens e ao mesmotempo em que se prestam ao encontro social, podem servir para a evasão <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> obrigação, <strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de; em especial, os audiovisuais podemseduzir e anestesiar, oferecer uma imagem interessa<strong>da</strong> e distorci<strong>da</strong> <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de quecoloca obstáculos para o conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, adormecendo a consciência,como nos diz Ma<strong>da</strong>le<strong>na</strong> Segura Contrera.“(...) seu caduceu e sua flauta são a imagem, a apresentação <strong>da</strong> informação, oentretenimento. A televisão ...(...) cria a idéia de que se vê a distância, quando oque mais acontece é o contrário. No entanto é frequente ouvir expressões comoesta: É ver<strong>da</strong>de eu vi <strong>na</strong> TV. Mais ain<strong>da</strong>, a ilusão cria<strong>da</strong> pelo audiovisual obnubila edificulta o conhecimento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de quando se pretende que se a<strong>da</strong>pte àsrepresentações que dela fazem os meios”. 147As representações sociais devem ser vistas como uma maneira específica decompreender e comunicar o que se sabe, tendo uma face icônica e uma simbólica,uma vez que a representação está atrela<strong>da</strong> à imagem e significação. Assim arepresentação <strong>da</strong> imagem é uma idéia e to<strong>da</strong> idéia é uma imagem.A linguagem muitas vezes pode expressar um fato, e outras, pode estaratrela<strong>da</strong> de maneira simbólica ao fato, no primeiro caso temos a linguagem <strong>da</strong>observação e no segundo a linguagem ao expressar elementos abstratos, está ameio caminho <strong>da</strong> observação e <strong>da</strong> lógica.147 CONTRERA, Ma<strong>da</strong>le<strong>na</strong> Segura. Mídia e Pânico: saturação <strong>da</strong> Informação, violência e crisecultural <strong>na</strong> mídia. São Paulo, An<strong>na</strong> Blume/ FAPESP, 2002, p.12.141


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATudo o que não é famíliar contém características imaginárias e, quando algoque nós pensamos como imagi<strong>na</strong>ção, se tor<strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de diante de nossos olhos,passamos a ver e tocar algo que antes tínhamos como proibido.“A presença real de algo ausente, a exatidão relativa de um objeto é o quecaracteriza a não familiari<strong>da</strong>de.(...) ao mesmo tempo atrai e intriga as pessoas ecomuni<strong>da</strong>des(...)(...)incomo<strong>da</strong> e ameaça (...) (...)fasci<strong>na</strong> e aterroriza(...)(...)o medodo que é estranho é profun<strong>da</strong>mente arraigado.” 1484.3.2. Mídia e Subjetivi<strong>da</strong>de: O Confronto Reali<strong>da</strong>de e FicçãoAo buscar compreender como se dá a construção <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de,constatamos que enquanto sujeitos sociais estamos inseridos <strong>na</strong> cotidiani<strong>da</strong>de e <strong>na</strong>história. Ambos dão origem ao discurso <strong>da</strong> memória, que faz parte dos processoscognitivos e passam a permear nossos perceptivos. Por outro lado, uma análise doque constitui o cotidiano, mostra ser ele resultado <strong>da</strong> dialética entre ficção ereali<strong>da</strong>de, separados por universos discursivos que trapaceiam dentro de seuslimites, como nos diz Motter, em O Fim de Mundo: Ordem e Ruptura.Os noticiários, as telenovelas, os produtos <strong>da</strong> mídia em geral recriam os fatos<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de e marcam o diálogo implícito entre o ficcio<strong>na</strong>l e o factual que permeiama reali<strong>da</strong>de e a história. Uma vez que o conhecimento é a busca <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de/ver<strong>da</strong>de, ele irá depender <strong>da</strong> maior objetivi<strong>da</strong>de ou subjetivi<strong>da</strong>de atribuí<strong>da</strong> a um fatoou fenômeno decorrente <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong> um apreender esse fenômeno,garanti<strong>da</strong>s pelo grau de consciência crítica ou de alie<strong>na</strong>ção, que envolverem aanálise dos elementos presentes nos discursos ao lhes conferir sentido.Atingir a consciência crítica significa dissecar o discurso elaborando aspróprias sínteses, sínteses essas que devem se distanciar de opiniões, estereótipose preconceitos, que caracterizam um leitor ingênuo.148 MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia social. Petrópolis,Vozes, 2004, p.56.142


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEco, em Seis Passeios pelos Bosques <strong>da</strong> Ficção, mostra que uma obra deficção evoca dois tipos de leitores, o leitor modelo e o leitor empírico. Para ele, oleitor é um ingrediente fun<strong>da</strong>mental, não só do processo de contar a história, como<strong>da</strong> própria história. Porém essas duas posturas podem ser assumi<strong>da</strong>s pelo leitorindependente do discurso, seja ele ficcio<strong>na</strong>l ou não, uma vez que os discursos seconstroem <strong>na</strong> intersecção e estão articulados entre o subjetivo e o social. O leitorempírico faz do texto um receptáculo de suas paixões, enquanto o leitor modelochega ao fi<strong>na</strong>l do jogo, como Eco define a relação do leitor com a obra de ficção,confirmando ou surpreendendo suas expectativas ou ain<strong>da</strong>, pode se perder pelobosque para descobrir as artimanhas usa<strong>da</strong>s pelo autor e identificar o autor modelo.Podemos entender a noção de leitor modelo em oposição à noção de leitoringênuo, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que o primeiro busca decifrar a linguagem referente ao meioem que a obra está sendo apresenta<strong>da</strong>, como recursos <strong>da</strong> escrita, aparatos cênicosou movimentos de câmera, montagem e outras técnicas, ou o mundo.Em qualquer tipo de ficção estabelece-se um acordo entre leitor e autor,entendendo o leitor como o espectador, telespectador ou receptor. “O leitor tem desaber que o que está sendo <strong>na</strong>rrado é uma história imaginária, mas nem por isso deve pensar que oescritor está contando mentiras”. 149 A forma como embarca nesse acordo varia muito nosgêneros <strong>da</strong> ficção; o estilo de ca<strong>da</strong> um nos faz identificar o autor, ou o próprioconhecimento sobre o autor já deixa explícito como irá trabalhar.To<strong>da</strong>s essas considerações não ficam distantes dos processos utilizados paraler o mundo, que corresponde à reali<strong>da</strong>de vivi<strong>da</strong>. Também podemos querer ir afundo <strong>na</strong> busca <strong>da</strong>s ideologias presentes <strong>na</strong>s ações ou propostas que fazem parte<strong>da</strong>s nossas vivências sociais cotidia<strong>na</strong>s ou, antecipamos as ações e opiniões sobreaqueles com que nos relacio<strong>na</strong>mos.Teoricamente sabemos separar a ficção <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, seja por protocolos quenos avisam tratar-se de uma ficção, ou por si<strong>na</strong>is presentes nos enunciados que nosindicam esta diferenciação, como os paratextos ou mensagens exter<strong>na</strong>s. O leitorbaseia-se nestes acordos, nestes protocolos, mas nem sempre eles são eficientes.149 ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques <strong>da</strong> ficção. São Paulo. Companhia <strong>da</strong>s Letras,1994,p.81.143


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPor outro lado, também as fontes ti<strong>da</strong>s como mediadoras <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de como o jor<strong>na</strong>l eos noticiários pela TV distorcem a reali<strong>da</strong>de e a história de um povo.A mídia enquanto espaço de diálogo característico do mundo contemporâneofaz com que a ficção e reali<strong>da</strong>de se aproximem ca<strong>da</strong> vez mais. Recursos disponíveiscomo a facili<strong>da</strong>de de gravar uma ce<strong>na</strong> no espaço efetivo ao qual ela faz referência,possibili<strong>da</strong>des de transposição entre montagem e imagem e o próprio conteúdoapresentado possibilitam essa aproximação. Isso fica marcado pela presença detemas como política, saúde, violência, drogas, relações familiares, trabalho e tantosoutros, que fazem parte não só do noticiário como <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas ficcio<strong>na</strong>is dediferentes gêneros, filmes, telenovelas ou mesmo desenhos animados.O cotidiano fica representado <strong>na</strong> ficção e traz aos indivíduos a possibili<strong>da</strong>dede opi<strong>na</strong>r sobre assuntos diversos; a reali<strong>da</strong>de reelabora<strong>da</strong> no texto ficcio<strong>na</strong>l retor<strong>na</strong>ao cotidiano contextualiza<strong>da</strong>, ganha sentido e encaminhamento. Segundo Motter eMalcher 150 , nosso cotidiano se alimenta do ambiente cultural para onde convergemos interesses <strong>da</strong> mídia, evidenciado pela escolha dos temas, entendendo que ca<strong>da</strong>escolha corresponde a uma exclusão e o que é excluído <strong>da</strong> mídia não ganhavisibili<strong>da</strong>de, adquire status de ficção ou passa por um trabalho manipulatório quaseinverossímil.Cabe considerar ain<strong>da</strong> que ficção e reali<strong>da</strong>de se interpenetram quando essestemas se irradiam pelos diferentes meios de comunicação ou entre diferentesgêneros de uma mesma mídia.Não há como negar que os meios de comunicação, em especial a TV, pelasua abrangência, têm proporcio<strong>na</strong>do informação, entretenimento e educação. Noentanto, é preciso considerar que as <strong>na</strong>rrativas que apresentam, constituem umrecorte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, determi<strong>na</strong>do por fatores diversos, individuais e sociais, quepodem ser tidos mais como obstáculos do que como abertura ao conhecimento,caso nos posicionemos como leitores empíricos ou leitores modelos.150 MOTTER, M.L. , MALCHER, M.A. & COUCEIRO LIMA, S.M. A telenovela e o Brasil: relatos deuma experiência acadêmica. Revista Brasileira de Ciências <strong>da</strong> Comunicação, vol. XXIII, nº 1, jan/jun,2000.144


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATodos os recursos e construções de que o universo midiático dispõe,fragmentam a reali<strong>da</strong>de e geram incertezas e inseguranças, dificultando o seudomínio. Segundo Contrera, quando isso acontece o ser humano recorre aopensamento mágico que lhe dá uni<strong>da</strong>de e domínio imaginários. ”Ao projetar e objetivar aforça do pensamento em rituais, símbolos e signos estereotipados, o ser humano reproduz ofenômeno mágico, a forma primitiva e irracio<strong>na</strong>l de apropriação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de.” 151Os aspectos aqui tratados, desde os que apontam para o enfoqueinteracionista <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, passando pela compreensão dos discursos queconstituem o universo de mediações envolvi<strong>da</strong>s nesse processo, têm deixadoevidente que, tanto os discursos que pretendem ser um relato de reali<strong>da</strong>de como osficcio<strong>na</strong>is, fazem parte <strong>da</strong>s representações individuais e se encontram altamenteimbricados <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de do ser humano. Ain<strong>da</strong>, é importanteconsiderar que a dificul<strong>da</strong>de em identificar os limites de demarcação entre umuniverso e outro, tem sido um empecilho ao conhecimento, tipo qualificado dopensamento humano.Já foi mostrado como a mídia é um terreno marcado por uma ambigui<strong>da</strong>deca<strong>da</strong> vez mais crescente entre reali<strong>da</strong>de e ficção, não só porque os recursosfacilitam essa aproximação, mas também porque o real transformado em espetáculoassume um caráter ficcio<strong>na</strong>l. Somente esse aspecto já tor<strong>na</strong> quase impossívelavaliar se os comportamentos resultantes são origi<strong>na</strong>dos <strong>da</strong> relação com osprodutos ficcio<strong>na</strong>is ou decorrem <strong>da</strong> violência que permeia o cotidiano.Superar a tendência ao pensamento mágico, primitivo e irracio<strong>na</strong>l, significacaminhar no sentido <strong>da</strong> construção de uma consciência crítica. Para tanto, é precisoque os indivíduos se aproximem de universos distintos de relações sociais edesenvolvam visões de mundo diferencia<strong>da</strong>s que lhes permitam julgar o que éapresentado <strong>na</strong> mídia e isso não prescinde <strong>da</strong> obtenção <strong>da</strong>s representações que seconstroem a partir dos discursos midiáticos.151 CONTRERA, Ma<strong>da</strong>le<strong>na</strong> Segura. Mídia e Pânico: saturação <strong>da</strong> Informação, violência e crise cultural<strong>na</strong> mídia. São Paulo, An<strong>na</strong>Blume/ FAPESP, 2002, p.13.145


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 5DAS CRIANÇAS PESQUISADAS: COTIDIANO E RELAÇÃO COM ATV“No cotidiano está o senso comum, a alie<strong>na</strong>ção, mas,nele também criam-se utopias, encantamentos,invenções, que se entrelaçam numa tessitura suigeneris, que é a vi<strong>da</strong>, que se cria e recria, incerta eimprecisa. Aí se revela a tensão constante, como forçaque acomo<strong>da</strong> e desacomo<strong>da</strong>, ou seja, organiza,padroniza, mediocriza e repete, ao mesmo tempo emque desorganiza, diferencia e cria resistências erupturas. Esta é a dimensão sócio-cultural mediadorapor excelência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. Nessa dimensãochegamos aos sujeitos. No cotidiano, o além exige amediação de um alguém e é isto que forma os pontosno<strong>da</strong>is de interação dos homens em socie<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de nos homens.” 152152 CASTRO, Gustavo de. Da fragili<strong>da</strong>de do homem-rede. In: CASTRO, G. de, Carvalho, E.A.,Almei<strong>da</strong>, M. C. de. Ensaios de Complexi<strong>da</strong>de, UFRN, 1997. p.178.146


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEntendendo representações sociais como um conjunto de afirmações eexplicações sobre os fatos ou objetos sociais, orienta<strong>da</strong>s por valores compartilhadose que produzem conhecimento relativo a questões do cotidiano, a busca pelacompreensão dos elementos que participam <strong>da</strong> elaboração do conceito de violênciapelas crianças a partir de elementos presentes no discurso midiático, implicoupercorrer uma ampla rede de relações, que caracterizam as vivências <strong>da</strong>s criançasno mundo contemporâneo.Conhecer as formas que assumem as experiências cotidia<strong>na</strong>s tor<strong>na</strong>-seespecialmente importante quando se tem como proposta desmistificar a idéia de quea programação televisiva exerce efeitos diretos sobre o comportamento <strong>infantil</strong>, emespecial, quando a questão recai sobre a violência televisiva e construção <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de <strong>na</strong> infância.Aqui o cotidiano está sendo tratado como espaço de interações huma<strong>na</strong>sconcretas, a partir de estratégias individuais de adoção e negociação de papéissociais, predetermi<strong>na</strong>dos por uma instância estrutural que assume, <strong>na</strong> maior parte<strong>da</strong>s vezes, o caráter de uma organização. Diferentes estudiosos consideram acotidiani<strong>da</strong>de por ângulos diferentes, em que muitas vezes predomi<strong>na</strong>m mais as“estruturas”, marca<strong>da</strong>s pela reprodução, imitação, outras, os tipos de açãoobservados em seu interior. Em termos bem gerais, os estudos sobre cotidianotendem a valorizar, como foco de atenção, as ações individuais frente àscircunstâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, sobretudo no plano <strong>da</strong> intersubjetivi<strong>da</strong>de.Nessa perspectiva, este estudo adotando a concepção de Heller 153 consideraestruturas do cotidiano, “o mundo <strong>da</strong>s objetivações”, dentro do qual se dão as açõescotidia<strong>na</strong>s: a linguagem, o sistema de hábitos e o uso dos objetos, que constituem oespaço de socialização dos homens, sobre o qual se acumula a cultura huma<strong>na</strong>.O cotidiano, por deter os objetos de representação de um <strong>da</strong>do grupo e asações de seus membros constitui-se em espaço de construção de conhecimentosdestes membros sobre estes objetos, ver<strong>da</strong>deiras teorias, deriva<strong>da</strong>s do consensoentre seus membros e construí<strong>da</strong>s a partir de negociações, que decorrem de umaação coletiva consciente ou não, de caráter conservador ou não, que produz e153 HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. S.P., Paz e Terra, 1985.147


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAreproduz, o que significa que apesar <strong>da</strong> reprodução, <strong>da</strong> imitação, do pragmatismo docotidiano, ações criativas e não cotidia<strong>na</strong>s podem surgir quebrando a roti<strong>na</strong> .O propósito deste capítulo é oferecer um perfil do público envolvido com apesquisa, que ultrapasse aspectos formais de suas características pessoais edescortine elementos de sua cotidiani<strong>da</strong>de, a partir <strong>da</strong>s relações que estabelecemcom as diferentes instituições que fazem parte de seu contexto, com ênfase para afamília e os meios de comunicação.Subdivide-se em apresentar a estrutura e dinâmica familiar, as relações coma TV enquanto tempo a ela dedicado, características do espaço e ambiente derecepção televisiva, com foco <strong>na</strong> influência <strong>da</strong> representação dos pais sobre adinâmica de interação de seus filhos estabeleci<strong>da</strong> com os meios de comunicação.5.1. As Crianças: Estrutura e Dinâmica FamiliarParticiparam do estudo trinta (30) crianças, sendo escolhi<strong>da</strong>s aleatoriamentedez (10) de ca<strong>da</strong> um dos segmentos considerados : S1, residentes em condomíniofechado, S2, alunos de escola particular e S3, alunos de escola pública.Do total de participantes, vinte (20) dos são do sexo masculino e dez (10) dofeminino. A distribuição por sexo e faixa etária foi a seguinte: dez (10) entre 6-7anos, catorze (14) entre 8-9 anos e, seis (6) entre 10-11 anos de i<strong>da</strong>de. O nível deescolari<strong>da</strong>de abrangeu do pré à 4ª série do ensino fun<strong>da</strong>mental.O quadro a seguir mostra a distribuição por sexo e i<strong>da</strong>de.Quadro 1 - Distribuição <strong>da</strong>s crianças pesquisa<strong>da</strong>s por faixa etária e sexoSexoI<strong>da</strong>de6 a 7 8 a 9 10 a 11 TotalMasculino 8 9 3 20Feminino 2 5 3 10Total 10 14 6 30148


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAFigura 1 - Percentual <strong>da</strong>s crianças pesquisa<strong>da</strong>s por sexo33%67%MasculinoFemininoFigura 2 - Percentual <strong>da</strong>s crianças pesquisa<strong>da</strong>s por Faixa Etária50%45%47%40%35%30%33%25%20%20%15%10%5%0%6 a 7 8 a 9 10 a 11Os <strong>da</strong>dos obtidos a partir dos diferentes segmentos considerados não têm opropósito de serem representativos do todo e permitirem generalizações, mas de149


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfavorecerem a apreensão de eventos singulares e, contribuírem para a compreensãodo fenômeno considerado.A maioria <strong>da</strong>s crianças, independente do segmento que representam (S1, S2ou S3) moram com os pais e irmãos e assim se pronunciam sobre a família.(J.V. 6anos, S2)... Eu moro com o meu pai e minha mãe. Eu não tenho irmãos...( E.,7 anos, S2)... Eu moro com três irmãs, um pai e uma mãe...(M.,9 anos, S2)...Moro com minha mãe, meu pai e minha irmã mais nova, M. de 7anos. Tem uma diarista.(P., 9 anos, S2)...Eu moro com meu pai, mãe e dois irmãos, sendo um irmão de 5anos e um de treze, tenho dois cachorros e uma emprega<strong>da</strong>...(V., 9 anos, S2)...Moro com meu pai, mãe e um irmão de 12 anos. Tenho um gato denome Mimi...Dos trinta entrevistados, três crianças não residem com pai e mãe, sendo uma do S2e duas do S3. Ao serem in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong>s sobre com quem viviam, assim se referiram àssuas famílias...(L., 6anos, S2)...Quando eu tinha 3 anos o meu pai se separou <strong>da</strong> minha mãe.Agora ca<strong>da</strong> um está com <strong>na</strong>morado. Meu pai casou ... minha madrasta é supergente boa e minha mãe tem um <strong>na</strong>morado que é super gente boa. Eu fico mais <strong>na</strong>casa <strong>da</strong> minha mãe.Diz ain<strong>da</strong> ter somente irmãos homens e bem mais velhos; um com 30 anos,outro com 27, por parte de pai e o mais novo com 21 anos de i<strong>da</strong>de, irmão por partede mãe. O de 30 já noivou ... <strong>da</strong>qui a pouco eu vou ser tio, ele mora sozinho, a noivadele mora lá ........ sei lá, <strong>na</strong> praia. O de 27 mora com a mãe e o de 21, mora com aminha mãe. Minha mãe tem 11 irmãos...A mãe confirma a fala de L. 6anos, e diz que o tempo com o pai e a mãe édividido...É meio-a-meio, ele inclusive conta, são três dias com um e três dias comoutro. Quando o C. viaja, ele fica mais comigo esse período. Aí ele calcula quantosdias e repõe. (E in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong> sobre os responsáveis por este acerto)... A princípio agente combinou que ele ficasse aonde quisesse e quanto quisesse. Se tiversau<strong>da</strong>de de mim ele liga e vem, ao contrário também. Mas ele conta os dias queestá com ca<strong>da</strong> um, porque ele acha que se ficar mais <strong>na</strong> casa de um ele prejudica.150


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAÀs vezes eu dou uma de Migué para ele ficar e ele fala que não, porque já ficou doisdias aqui... ‘eu tenho que ficar com o meu pai’. Ele faz mata-mata. Ele ama opadrasto, a madrasta, convive muito bem. Outro dia perguntei de quem ele gostamais, de mim ou <strong>da</strong> madrasta. Ele disse que é <strong>da</strong>s duas. Ele é muito seguro. (Mãede L., 6 anos)(L.,11anos, S3)... Moro eu e minha mãe, tenho irmãos que moram com meu pai... Opai vive com outra mulher e com outros dois filhos... Dois moram para o lado doCampo Limpo, é dele também com outra mulher; tenho duas irmãs <strong>na</strong> Bahia, quesão <strong>da</strong> minha mãe e uns aí por fora. Eu sou o do meu pai, só eu.Conta que não costuma ver o pai com freqüência(L., 11anos)...Meu pai não tem meu endereço, antes o encontrava mais, dormia <strong>na</strong>casa dele, mas agora não querem mais que eu vá a casa dele (...) Eu não entro <strong>na</strong>casa dele...eu não vejo TV lá. Eu fico conversando com ele: ele lá e eu aqui.Como ele, outra criança do mesmo segmento declarou não morar com os pais(Ig., 9 anos)...Moro com minha avó, minha mãe e minha irmã de 4 anos. O pai nãotem outra família segundo a criança, mas mora longe e é difícil vir visitá-lo.No cotidiano estas situações podem ser vistas de maneiras distinta e aoserem a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s, podem ser vistas como uma família desestrutura<strong>da</strong> ou estendi<strong>da</strong>,e dependendo <strong>da</strong> perspectiva adota<strong>da</strong>, estereótipos e preconceitos irão acompanhara questão.Na história <strong>da</strong>s civilizações as diferentes culturas fizeram surgir diferentesconceitos de família. Essa instituição tem passado por reorganizações constantes noque se refere ao número e responsabili<strong>da</strong>de de seus membros, ou mesmo laços deparentescos entre seus integrantes. Porém, em nenhum momento deixou-se deconcebê-las como fun<strong>da</strong>mental no processo de socialização e individuação dohomem.A moderni<strong>da</strong>de viu surgir a família nuclear, em consonância com os ideais deuma socie<strong>da</strong>de industrial e a pós-moderni<strong>da</strong>de tem assistido a uma ruptura <strong>da</strong>151


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfamília, mais especificamente a uma ruptura com o modelo de família nuclearpresente <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong>. Ao mesmo tempo em que os novos modelosinstituídos carecem de reconhecimento e credibili<strong>da</strong>de, a ruptura não tem sidoconcebi<strong>da</strong> sem traumas e, sem interferência <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> pessoal de seus membros ereflexos <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de.Das dificul<strong>da</strong>des de aprendizagem à delinqüência juvenil, um conjunto demazelas sociais têm sido justifica<strong>da</strong>s pela desestruturação <strong>da</strong> família nuclear.As falas <strong>da</strong>s crianças reforçam considera<strong>da</strong> proposição de que a pósmoderni<strong>da</strong>denão atinge o mundo de forma homogênea, uma vez que no universopesquisado, no que se refere à estrutura, a família nuclear persiste de formasignificativa. Com relação aos problemas pessoais resultantes dos novos modelos,foi possível constatar que nem sempre as novas formas resultam em situações desta<strong>na</strong>tureza... . Outro dia perguntei de quem ele gosta mais, de mim ou <strong>da</strong> madrasta.Ele disse que é <strong>da</strong>s duas. Ele é muito seguro. ( Mãe de L., 6 anos)É preciso considerar o papel dos pré-conceitos <strong>na</strong> construção doconhecimento e que a estrutura e dinâmica familiar estão relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s a outrosfatores que precisam ser levados em conta. Das entrevistas pudemos perceberformas diferentes de as crianças viverem a desestruturação <strong>da</strong> família nuclear...“Meu pai não tem meu endereço, antes o encontrava mais, dormia <strong>na</strong> casa dele,mas agora não querem mais que eu vá a casa dele.”A escolari<strong>da</strong>de dos pais pode ser vista como uma possível variável a serrelacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com as diferentes vivências familiares experimenta<strong>da</strong>s pelos doismeninos citados, ou mesmo, junto às famílias tradicio<strong>na</strong>is, uma vez que possibilitama construção de visões de mundo diferentes. Porém, não se buscou um olhar sobeste aspecto como uma variável estanque, mas no conjunto dos elementosenvolvidos.Quanto à escolari<strong>da</strong>de, é possível dizer que a maioria dos pais, <strong>da</strong>s criançasdo S1-condomínio fechado e do S2-escola particular têm nível universitário eexercem ativi<strong>da</strong>des inerentes às suas profissões: administrador, dentista,economista, engenheiro, médico, professor. Somente um pai e uma mãe não têm152


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAformação universitária, sendo que ele atua em empresa própria <strong>na</strong> área dealimentação e ela se incumbe <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de casa. Outra mãe, emborauniversitária, não exerce a profissão e trabalha com caligrafia artística em casa.As crianças pesquisa<strong>da</strong>s nem sempre souberam definir a profissão dos pais,mas fizeram alguma referência às suas ativi<strong>da</strong>des.(M., 9 anos) ... Meu pai trabalha, acho que <strong>na</strong> Truteck, mexe com DVD...(P., 9 anos)...Meu pai trabalha num restaurante no Paraíso, ele trabalha no Caixa,põe comi<strong>da</strong> e tira comi<strong>da</strong>...(L., 6 anos)... Minha mãe ...acho que é Psicóloga...trabalha com obesi<strong>da</strong>de. Meu pai,sei lá o nome..Sabe o minhocão? Ele construiu...Porém há exceções..(J., 6 anos)...Meu pai é engenheiro, minha mãe dá aula de Português...As falas <strong>da</strong>s crianças do segmento, S2, foram confirma<strong>da</strong>s pelas entrevistasrealiza<strong>da</strong>s com os pais. Não foi possível obter os <strong>da</strong>dos relativos à escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>maioria dos pais do segmento, S3, uma vez que não responderam ao questionárioou a entrevista. No entanto, as crianças do S3 fizeram referência à profissão deseus pais, de onde é possível inferir que <strong>na</strong> grande maioria dos casos, com certezao nível de escolari<strong>da</strong>de não é superior e, muito provavelmente, não chega a atingir ofun<strong>da</strong>mental completo.(A., 9 anos)... Só meu pai trabalha, minha mãe está desemprega<strong>da</strong>, era assistentede cozinha. A minha irmã trabalha...(P., 9 anos)...Minha mãe trabalha em uma loja de roupas e meu pai numa deremédios, numa farmácia...(G., 7 anos)...Meu pai é mecânico e minha mãe trabalha em casa...(A., 6 anos)...Trabalha <strong>na</strong>..uma empresa, meu pai no Banco do Brasil...(B.,10 anos)...A minha mãe é babá e o meu pai trabalha numa firma. Separa livros(M.,9 anos)...Só meu pai trabalha...Trabalha em genérico e faz controle dequali<strong>da</strong>de....minha mãe não fez Facul<strong>da</strong>de, está par fazer. Segundo ele, o pai fez oprimeiro e o segundo ano <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de.(M.,11anos)...Meu pai, ele conserta ar condicio<strong>na</strong>do e é de segurança...153


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOutras crianças embora tenham declarado que seus familiares trabalham<strong>na</strong><strong>da</strong> disseram a respeito de suas ativi<strong>da</strong>des.(L., 6 anos)... Meu pai e minha mãe trabalham...(Ig., 6 anos)... Minha avó e minha mãe trabalham...Não só a inserção <strong>da</strong>s mulheres no mercado de trabalho, como as ativi<strong>da</strong>desdos pais trazem a possibili<strong>da</strong>de de relações <strong>da</strong>s crianças com universos distintosuma vez que trabalhar ou não, ou mesmo as características <strong>da</strong> profissão exerci<strong>da</strong>definem uma dinâmica específica <strong>na</strong>s relações familiares e <strong>na</strong>s relações com omundo. As falas <strong>da</strong>s crianças pesquisa<strong>da</strong>s reforçam essa colocação.(J., 8 anos)...Ela é médica e às vezes fica fora...(G.,7 anos)... (No caso de o pai ser mecânico)...eu fico (em casa) com minha mãe,meu pai e meus irmãos (parece que a ofici<strong>na</strong> do pai é <strong>na</strong> própria casa)...Eu venho(para a escola) de carro. Meu pai vem an<strong>da</strong>ndo devagarzinho e já chega...(P., 9 anos)...Minha mãe trabalha em uma loja (a loja é <strong>da</strong> mãe)..eu fico muito comela <strong>na</strong> loja...Mesmo dentro de estruturas familiares convencio<strong>na</strong>is, a família nuclear comque nos deparamos não privilegia o pai como responsável pela subsistência <strong>da</strong>família, ocupando a mãe papel significativo no mundo do trabalho e <strong>da</strong> composiçãofi<strong>na</strong>nceira <strong>da</strong> família.As falas <strong>da</strong>s crianças sobre as profissões dos pais nos remetem a Tofler,quando descreve como as relações de trabalho dentro de diferentes socie<strong>da</strong>desdetermi<strong>na</strong>m relacio<strong>na</strong>mentos específicos dentro <strong>da</strong> família, não só dos pais com ascrianças, como <strong>da</strong>s próprias crianças com o trabalho dos pais. ...”Enquanto muitasforças influenciam a estrutura familiar, padrões de comunicação, valores, mu<strong>da</strong>nçasdemográficas, movimentos religiosos, mesmo mu<strong>da</strong>nças ecológica - a conexão entreforma de família e arranjos de trabalho é particularmente forte.” 154Ao discorrer sob as diferentes formas de organização do trabalho e de vi<strong>da</strong>social diz...ao observar uma massa de camponeses ceifando um campo há 300 anos, só um loucoteria sonhado que viria um dia em que os campos ficariam despovoados, quando todos se apinhariam154 TOFLER, A. A Terceira On<strong>da</strong>. Rio de Janeiro, Editora Record, 1992, p.200.154


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAem fábricas para ganhar o pão de ca<strong>da</strong> dia (...) 155 e com o avanço tecnológico, e asmu<strong>da</strong>nças nos processos de produção, distribuição e comunicação assistimos a ummovimento que busca o retorno à condição que antecedeu à industrializaçãoTofler prossegue sua análise falando <strong>da</strong>s implicações sobre a relação <strong>da</strong>scrianças com os pais e com suas ativi<strong>da</strong>des de trabalho e, mostra o quanto asocie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong>, produto <strong>da</strong> industrialização, foi responsável por afastar ascrianças do convívio com os familiares e, impossibilitou-as de se envolverem emaprendizagens significativas relacio<strong>na</strong><strong>da</strong>s ao trabalho, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que os paisforam levados a permanecerem fora de casa por muitas horas, fora o tempo dodeslocamento.Neste sentido, olha com otimismo a possibili<strong>da</strong>de de os lares voltarem aabrigar o trabalho transformando-se no que denominou de “caba<strong>na</strong>s eletrônicas”. 156O novo modelo acabaria com a solidão <strong>da</strong>s crianças, que não têm a quem recorrerem momentos de incertezas e inseguranças, ou quem respon<strong>da</strong> a seusquestio<strong>na</strong>mentos.“As crianças de hoje se encontram num barco à deriva – lanter<strong>na</strong> dos afogados.Espera por socorro e nós, que desaprendemos com o passar dos anos a olhar eescutar seus apelos, não estamos lá para socorrê-las, lhes demos as costas econtinuamos marchando em linha reta, anônimos e autônomos. Crianças e adultos<strong>na</strong> contemporanei<strong>da</strong>de- destinos sem rumo.” 157Cerca de um terço <strong>da</strong>s crianças disseram ficar em casa com as mães, osdemais têm este contato restrito a um pequeno período <strong>da</strong> noite e aos fi<strong>na</strong>is desema<strong>na</strong>. O contato com os pais, para alguns, ocorre principalmente <strong>na</strong>s i<strong>da</strong>s evin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> escola.155 TOFLER, A. A Terceira On<strong>da</strong>. Rio de Janeiro, Editora Record, 1992, p.220.156 Tofler considera que os jovens poderiam aprender e aju<strong>da</strong>r seus pais, integrando-se no mercadode trabalho, tor<strong>na</strong>ndo-se solução para o alto desemprego dos jovens e as conseqüências como adelinqüência, a violência e a degra<strong>da</strong>ção psicológica decorrente de uma estrutura econômica que nãocria oportuni<strong>da</strong>des para os jovens.157 JOBIN e SOUZA, S. Infância, violência e consumo. In. JOBIN e SOUZA, S. ( Org.). Subjetivi<strong>da</strong>deem Questão: a infância como crítica de cultura. R.J., 7 Letras, 2000, p.92.155


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(E., 7anos)...O meu pai leva de carro a minha mãe com os quatro filhos, e depoisminha mãe vem me buscar...(J.V., 6 anos)...Quando chego <strong>da</strong> escola, almoço, tomo banho e faço a lição sozinho... Eu fico com a emprega<strong>da</strong> até a minha mãe chegar do Pio XII...Outras vezes, nem isso é possível e, familiares, amigos ou transportecontratado ficam encarregados dessa função.(J.V., 6anos)...Quando a minha mãe dá aula no Pio XII, a perua me leva pra escola...Para grande parte <strong>da</strong>s crianças, estar em casa significa muitas vezes estarsozinha, só com os irmãos, ou, com a emprega<strong>da</strong>, o que implica em uma série derestrições no que se refere à sua segurança, as impede de se envolverem emativi<strong>da</strong>des fora dos espaços de seus próprios lares ou de interagirem com osfamiliares, conhecerem o que pensam ou como reagiriam frente a determi<strong>na</strong><strong>da</strong>ssituações.Há ain<strong>da</strong> aqueles que não vão para suas casas após a aula ficando sob oscui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s avós todos os dias.L., 6 anos, S2, diz que vai diariamente para a casa <strong>da</strong> avó por parte de pai, e lá, faza lição de casa, sozinho.(V., 9 anos, S2)...Saindo <strong>da</strong>qui, eu já vou para a casa <strong>da</strong> minha avó. Ela vem mebuscar, fico lá até umas quatro...Outro menino (L., 11anos, S3) efetivamente não tem com quem ficar quandosai <strong>da</strong> escola...Todos os dias, vou <strong>da</strong> escola direto para o CJ e de lá para oshopping..Diz que lá permanece por aproxima<strong>da</strong>mente uma hora e trinta minutos,jogando videogame, a espera de sua mãe chegar do trabalho e ir para casa.Geralmente em famílias cujas condições sociais e econômicas não permitemque alguém se disponibilize a acompanhar as crianças, elas têm que enfrentar odesafio de se locomoverem sozinhas, como no caso acima e mais do que os perigosadvindos <strong>da</strong> TV, essas crianças passam por situações de perigo <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> real,inclusive sendo submeti<strong>da</strong>s a situações de estranhamento e até de constrangimento.156


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAApesar de buscar proteção em um shopping e os shoppings no mundocontemporâneo funcio<strong>na</strong>rem como ver<strong>da</strong>deiros redutos, onde crianças e adultosbuscam se esconder <strong>da</strong> violência <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, estes espaços são desti<strong>na</strong>dos aos quetêm poder de compra e, aqueles que carregam o símbolo <strong>da</strong> escola pública, muitasvezes são vistos com estranheza e estigmatizados como inferiores ouirresponsáveis, podendo se tor<strong>na</strong>r vítimas de violências.Castro descreve o relato <strong>da</strong> discussão de um grupo de adolescentesenvolvidos em uma pesquisa... “uma meni<strong>na</strong> colocou que foi ao shopping com a blusa <strong>da</strong>escola e foi mal atendi<strong>da</strong> por uma vendedora que chegou a lhe dizer que ela não teria dinheiro paracomprar aquela mercadoria” 158 .As crianças quando acompanha<strong>da</strong>s não ficam à mercê destes riscos.(L. 6 anos)...Eu fico em casa (com a babá) assistindo TV, fico brincando, saio <strong>na</strong> ruacom a minha bicicleta......A lição eu faço sozinha.Ao contrário <strong>da</strong>s crianças descritas, M., 7 anos, S2, diz que a mãe ficaarrumando a casa e com relação às suas tarefas trazi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> escola para casa ...quando é difícil , eu pergunto para minha mãe...e depois, para minha irmã. Apresença do Outro garante o diálogo necessário para a construção doconhecimento.(J.V., 6 anos)...Quando chego <strong>da</strong> escola, almoço, tomo banho e faço a lição,sozinho. Eu fico com a emprega<strong>da</strong> até a minha mãe chegar do Pio XII...Para minimizar a ausência dos pais e ao mesmo tempo, sujeito de cui<strong>da</strong>dos,expectativas e preocupação dos adultos, o cotidiano <strong>da</strong>s crianças inclui uma amplavarie<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des extracurriculares. As falas a seguir são dos sujeitospertencentes ao S2.(E. 7anos)...Quando eu saio <strong>da</strong>qui, eu descanso uns 15 minutinhos e vou fazerKumon; quando chego do Kumon, vou para a Natação ...158 CASTRO, Lucia Rabello de. A Aventura Urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro. R.J.,FAPERJ / 7 Letras, 2004, p.114.157


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(V., 8 anos)... Faço futebol <strong>na</strong> escola, às 4ª e 6ª feiras...(I., 9 anos)...Faço Judô fora, 3ª e 5ª, no meio <strong>da</strong> tarde. Futebol <strong>na</strong> Montessori eNatação no clube, sábado e domingo...(S., 8 anos)...Eu só faço Natação...(M. ,7 anos)...Eu faço teclado, teatro, basquete e inglês. Teatro é 2ª à tarde, inglês é3ª e 5ª...(M.,10 anos)...Faço teatro, basquete, inglês do C.A.A. Faço todos aqui. Faço tecladocom a minha professora em casa. O basquete é 3ª e 5ª, à tarde, antes do inglês.Faço teclado com a minha professora em casa. Só 4ª e 6ª que eu fico livre(P., 9 anos)... Faço futebol no Círculo, de 3ª e 5ª e também tem jogo três vezes. Eujogo futebol de campo também...(V., 9 anos)... Faço futebol no Clube Ipiranga. Eu jogo de 4ª, 6ª e Domingo. FaçoJudô de 3ª e 5ª.(M., 8 anos)...Eu só faço Natação, <strong>na</strong> UNIC, 3ª e 5ª, às 16:30 hs.(I., 9 anos).... Faço Judô, fora, 3ª e 5ª, no meio <strong>da</strong> tarde. Futebol <strong>na</strong> Montessori eNatação no clube, sábado e domingo.Uma vez que to<strong>da</strong>s essas ativi<strong>da</strong>des extracurriculares representam um custodetermi<strong>na</strong>do, os Centros <strong>da</strong> Juventude parecem constituir uma opção procura<strong>da</strong> porpais de menor poder aquisitivo, para manterem seus filhos, no período em quetrabalham. Três <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong> escola pública entrevista<strong>da</strong>s freqüentam o Centros<strong>da</strong> Juventude.(I.,6 anos)... Eu vou para outra escola, CJ. Depois a minha mãe me busca. Eu ficono CJ e chego umas 3 ou 4 horas <strong>da</strong> tarde...Embora as crianças do condomínio, S1, tenham a rua como espaço debrincadeiras, as famílias parecem não mais confiar <strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de de que estesespaços por si só, possam se constituir em espaços de experiências efetivas, demodo que também estas crianças vêem-se às voltas com uma série de ativi<strong>da</strong>des apreencherem momentos que poderiam ser de brincadeira ou ócio.Esta constatação leva a pensar, que do ponto de vista dos pais estasativi<strong>da</strong>des representem mais a certeza de que há alguém olhando por seus filhos,supervisio<strong>na</strong>ndo suas ações, suprindo sua ausência.158


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACabe considerar que o espaço <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des extra-curricularesnão representam momentos de muitas escolhas, e nesses espaços, o convívio édetermi<strong>na</strong>do pelo objetivo <strong>da</strong> tarefa e pelo olhar quase sempre discipli<strong>na</strong>dor dosadultos, de modo que nem sempre é possível imagi<strong>na</strong>r, transgredir, desejar ouescolher, como é próprio <strong>da</strong>s situações de brincadeira. No entanto, funcio<strong>na</strong>m comouma forma de garantirem que seus relacio<strong>na</strong>mentos não se pren<strong>da</strong>mexclusivamente aos contatos com a televisão, o computador ou o videogame.Como ocorre com as crianças dos demais segmentos, o convívio restringe-seaos familiares próximos, perdendo a oportuni<strong>da</strong>de de dialogarem com pontos devistas diferentes.É possível constatar que somente por poucas horas à noite e, durante osfi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>, as crianças podem compartilhar experiências com os pais.(Mãe de L., 6 anos)... durante o dia ninguém fica em casa a TV é assisti<strong>da</strong> em casadurante <strong>da</strong>s 19:00 ás 22:00 hs .... No fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong>, <strong>na</strong>s vezes que ele ficacomigo, a gente viaja para Santos, vai ao cinema, vai para o clube, a gente nãopára...(Mãe de P., 9 anos) (no fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong>)... Geralmente eu não fico muito em casa. Agente sai muito com eles....Nos diferentes segmentos, a falta de tempo faz com que as crianças e seuspais não só não compartilhem experiências do dia-a-dia, como não invistam emrelações sociais, de modo que ir à casa de amigos ou receber amigos tem setor<strong>na</strong>do algo esporádico. Provenientes <strong>na</strong> maioria dos casos de famílias nucleares,tendo poucos irmãos, nossas crianças quase não convivem com a diversi<strong>da</strong>de eexperimentam ain<strong>da</strong> menos, além do espaço <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong>s inúmeras ativi<strong>da</strong>des, arelação com outras crianças. Ca<strong>da</strong> vez mais se organizam em guetos e osestranhamentos vão sendo configurados.As falas de algumas mães e pais põem em evidência este importante aspectodo cotidiano <strong>infantil</strong>.(Mãe de L., 6 anos)... Brinca com outras crianças principalmente quando está com opai, com coleguinhas do prédio e o neto <strong>da</strong> madrasta. Dificilmente leva amiguinhos159


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIApara casa. Fica com o pai três dias <strong>na</strong> sema<strong>na</strong>. Dois dias por sema<strong>na</strong> fica com aavó e mais dentro de casa.(Mãe de M., 7 anos e M.,9 anos) ... As meni<strong>na</strong>s dificilmente vão à casa de alguém eoutras crianças raramente vão à nossa casa. O máximo corresponde a duas vezespor mês, têm meses que não aparece ninguém. Têm muitas ativi<strong>da</strong>des e nãoquerem abrir mão de <strong>na</strong><strong>da</strong>...fazem basquete, teatro, música e, ain<strong>da</strong>, lição, que elasreclamam ter muita.(Pai do E., 7 anos e <strong>da</strong> S., anos)... Eles não vão muito à casa de amigos, e quandovão é para brincadeira de criança, correr, brincar de outras coisas... Como eles sãoem quatro, eles se divertem com eles mesmos. Dá impressão que ficam mais autosuficientesdo que se estivessem em um só ou dois e brincassem. Sempre têm umaopção e eles dão um jeito. Às vezes, a gente leva em eventos e vem gente também(Mãe do P., 9 anos)... geralmente ficam os três (irmãos)...(Mãe do I. 9 anos)... às vezes vão à casa de amigos...As crianças habituam-se à companhia exclusiva dos irmãos, que às vezesnão representam companhia efetiva <strong>da</strong>s brincadeiras e assim, crescem aspossibili<strong>da</strong>des de que as interações com o outro e com o mundo se concretizem apartir dos meios de comunicação, que ca<strong>da</strong> vez mais passam a se conformar comoinstrumentos de diálogo.Os relatos <strong>da</strong>s crianças entrevista<strong>da</strong>s trazem a marca <strong>da</strong> culturacontemporânea, considerando-se os instrumentos, as relações inter-pessoais queredefinem as formas de lazer, de estu<strong>da</strong>r e, portanto de viver.(A., 6 anos)...não assisto tanta TV! Fico no Playstation I, às vezes eu vou nocomputador jogar...5.2. A TV como Espaço de Construção <strong>da</strong>s Representações SociaisHoje, é amplamente reconhecido que o grau de participação <strong>da</strong> TV <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>criança depende de um conjunto de variáveis, inter<strong>na</strong>s e exter<strong>na</strong>s ao sujeito, direta160


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAou indiretamente liga<strong>da</strong>s à recepção televisiva. De acordo com Thompson 159 asativi<strong>da</strong>des de recepção sofrem interferência de condições temporais, espaciais esociais, envolvem graus variados de habili<strong>da</strong>des e atenção, prazer e interesse, e, seentrecruzam de maneira complexa com outras ativi<strong>da</strong>des.Este tópico reúne informações sobre diferentes aspectos que integram ascondições de recepção televisiva vivencia<strong>da</strong>s pelas crianças pesquisa<strong>da</strong>s.5.2.1. Sobre o tempo frente à TVAs respostas <strong>da</strong>s crianças que participaram deste estudo vieram mais umavez reiterar a idéia de que a TV integra o cotidiano <strong>infantil</strong> e que estar diante dela étão “<strong>na</strong>tural” quanto ir à escola ou estar em casa junto à família. A relação que seestabelece entre a criança e a TV preenche espaços de descanso, lazer ebrincadeira, podendo permanecer liga<strong>da</strong> exclusivamente para “afastar a solidão” ou“esperar o sono”.Foi possível constatar que as crianças assistem TV todos os dias, exceto noshorários em que estão <strong>na</strong> escola. A maioria apontou para intervalos frente à TV quevariaram de duas a quatro horas, e um número bem menor disse ficar de 6 a 8 horasdiante <strong>da</strong> televisão. Algumas crianças entrevista<strong>da</strong>s não conseguiram precisar onúmero de horas e disseram “não assistir muito”, outros consideram “assistir pouco”e houve também os mais imprecisos, que não disseram sequer se permaneciammuito ou pouco frente à TV.Há que se considerar que as crianças menores têm mais dificul<strong>da</strong>de emespecificar o tempo desti<strong>na</strong>do à TV...mais ou menos fico 15 minutos por dia (J. 8anos). Aprofun<strong>da</strong>ndo um pouco mais a conversa, ela disse que ca<strong>da</strong> desenho tinha15 minutos de duração e que assistia 10 desenhos por dia, o que significapermanecer mais de duas horas assistindo desenhos.159 THOMPSON, J.B. Ideologia e Cultura Moder<strong>na</strong>. Teoria social crítica <strong>na</strong> era dos meios decomunicação de massa. Petrópolis/ R.J., Vozes, 1995.161


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEstes comentários ressaltam a importância de conhecer os aspectos quemarcam o pensamento <strong>da</strong>s crianças dessa faixa etária que compreende o fi<strong>na</strong>l doestágio pré-operatório e período operatório concreto, segundo Piaget 160 , para quemas noções temporais assim como as que implicam orde<strong>na</strong>ção, ain<strong>da</strong> não estãototalmente presentes <strong>na</strong>s crianças dessa i<strong>da</strong>de.É possível constatar esta colocação <strong>na</strong> fala de um dos meninos entrevistados,que ao ser in<strong>da</strong>gado sobre os dias em que não assiste TV respondeu.(R., 6 anos)...Eu não conto os dias, eu não sei contar.A maioria <strong>da</strong>s crianças entrevista<strong>da</strong>s disse freqüentar a escola no período <strong>da</strong>manhã e os relatos mostraram que assistem à TV no fi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> tarde e início <strong>da</strong> noite,o que se justifica se considerarmos o conjunto de ativi<strong>da</strong>des extra-curriculares emque estão envolvi<strong>da</strong>s. Algumas vezes privilegiam a realização <strong>da</strong>s tarefas escolares,para só depois assistirem TV, porém, em menor proporção, há ain<strong>da</strong> os queassistem TV de madruga<strong>da</strong>, muito tarde <strong>da</strong> noite ou, no início <strong>da</strong> manhã e mesmo osque disseram assistir em qualquer horário.(V. , 6 anos , S1)...manhã assisto, tarde assisto, noite assisto...(A.P., anos, S3)...acordo às 3 horas <strong>da</strong> manhã para assistir...assisto filmes e jor<strong>na</strong>l<strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>...Gasparzinho, Chaves...às 5 horas <strong>da</strong> manhã, tem filme de VelhoOeste...(L., 11 anos, S3)...nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong> à noite não fico com sono e assisto TV atémeia-noite, uma hora <strong>da</strong> manhã. (Este menino relata que durante a sema<strong>na</strong> acor<strong>da</strong>às 2 horas <strong>da</strong> manhã para jogar vídeo game)(L., 8 anos, S1)...um (desenho) passa à meia-noite e o outro à uma hora <strong>da</strong> manhã.Expõe o horário que assiste ao referir-se aos desenhos.Uma <strong>da</strong>s crianças disse que a mãe permite que fique uma hora frente à TV.Outra declarou (R., 9 anos)...do meio dia e meia até as 5 horas...Eu faço a lição àsseis e meia.160 PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. R.J. Forense, 1969.162


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAÉ possível perceber pela fala de algumas crianças, que estas nem sempreficam horas segui<strong>da</strong>s frente à TV, mas intercalam o tempo dedicado à televisão comoutras ativi<strong>da</strong>des.(A.P., 9 anos, S3)... saio com o cachorro, tomo banho e volto a assistir TV.As falas <strong>da</strong>s mães entrevista<strong>da</strong>s relativas ao tempo que os filhos dedicam àTV <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes confirma o tempo que as crianças estimaram assistirtelevisão, ou mesmo os hábitos que envolvem essa ativi<strong>da</strong>de deixando transparecerque estão de acordo com o tempo dedicado por suas crianças e com o tipo derelação que mantém com a televisão.A mãe de duas meni<strong>na</strong>s que participaram <strong>da</strong> pesquisa, disse...assistem TV nomáximo por duas horas, porque elas não têm muito tempo (em função <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des de que participam durante a sema<strong>na</strong>).Uma de suas filhas ao ser in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong> sobre o tempo que dedica à TV diz...Nãosei...dois, três, quatro desenhos por dia. (M., 7 anos)O pai de outras duas crianças entrevista<strong>da</strong>s disse que os filhos chegam <strong>da</strong>escola à uma hora, almoçam e têm de fazer a lição e que, portanto, ele acha que sóconseguem assistir TV lá pelas cinco ou seis <strong>da</strong> tarde, até umas sete ou oito <strong>da</strong>noite. Esse intervalo significa assistirem de duas a três horas por dia. O relato dofilho é uma confirmação dessa fala.E., 7 anos diz que só vê TV um pouco à noite, porque tem muito dever.Assiste <strong>na</strong> sala, pois só os pais têm TV no quarto. Quando termi<strong>na</strong> o desenho <strong>da</strong>soito, minha mãe deixa eu assistir mais um pouco, eu escovo os dentes e vou para acama. Antes de dormir assiste Kim Possible... É uma garota que aju<strong>da</strong> as pessoas,ela é bonita.De acordo com outra mãe de V., 8 anos, a TV fica liga<strong>da</strong> durante a tardeinteira, o tempo todo nos ca<strong>na</strong>is que eles querem e, apesar de terem três aparelhos<strong>na</strong> casa, as crianças se reúnem <strong>na</strong> sala até a hora de o pai chegar. ...eles ligamquando chegam <strong>da</strong> escola às 13:00 horas. e, só desligam à noite... tem que ficar osom.163


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPorém, há casos em que a percepção <strong>da</strong>s mães não coincide com aexperiência televisiva relata<strong>da</strong> pelos filhos. A mãe de P., 9 anos, considera que elesnão ficam muito tempo frente à TV. Diz que à tarde eles vão para o clube, fazemlição ou vão para o Kumon, que deixa ver um pouquinho, e à noite para dormir ostrês ficam com a TV liga<strong>da</strong>. Já o relato de P. é outro...Eu assisto desde a hora quechego <strong>da</strong> escola até ir dormir. Só quando tenho treino não assisto. Ver TV é maislegal que brincar.Já a mãe de I., 9 anos, relata que as crianças assistem muito à mesmaprogramação que ela, porque vêem TV mais à noite, durante umas 4 horas eprincipalmente no quarto junto com a ela. A mãe diz ain<strong>da</strong> gostar de TV e deixarliga<strong>da</strong> sempre, em qualquer coisa, chegando a ficar cerca de 6 horas.I., 9 anos, diz não assistir muito tempo televisão...por umas duas horassegui<strong>da</strong>s... durante o dia, embora sua fala deixe antever que permanece envolvidocom vários desenhos quando está no computador ou videogame. Não faz menção aassistir com a mãe.Somente a mãe de L., 6 anos, ao declarar que o filho fica diante <strong>da</strong> TV umastrês horas, disse preferir que ficasse menos, mas não relatou nenhuma ação nosentido de evitar isso.A fala dos pais confirma o contato assíduo que as crianças mantém com a TVdurante os dias <strong>da</strong> sema<strong>na</strong> e mostra também que as crianças abdicam <strong>da</strong> TV diantede outras possibili<strong>da</strong>des, como ocorre nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong> quando têm aoportuni<strong>da</strong>de de se envolverem com outras ativi<strong>da</strong>des de lazer.(Mãe do P., 8 anos)...No fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong> a gente sai muito com eles, TV é só mais ànoite.(Mãe do L., 6 anos)...No fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong> quando estou com ele viajamos paraSantos, vamos ao cinema, para o clube, não paramos...(Mãe do V. 8 anos) ...No fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong> por incrível que pareça a gente não vêtelevisão. De domingo, ele assiste geralmente os jogos de futebol com o pai dele. Anossa família é de Santos, e geralmente a gente viaja para lá, ou quanto a gente ficaaqui não ficamos em casa.164


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPercebe-se que as condições de uso <strong>da</strong> TV estão atrela<strong>da</strong>s às possibili<strong>da</strong>desde se envolverem com outros espaços e dispositivos voltados para o lazer eentretenimento. Isso é substancialmente importante, pois significam outros universosa mediarem as relações homem-mundo, que resultam <strong>na</strong> construção de diferentesvisões de mundo.5.2.2. Características <strong>da</strong> Recepção: Audiência Compartilha<strong>da</strong>Estudiosos <strong>da</strong> comunicação defendem que os diferentes ambientes derecepção afetam a <strong>na</strong>tureza do pensamento gerado, constituindo-se em elementoimportante <strong>da</strong> representação construí<strong>da</strong> pelos telespectadores. Pesquisas ain<strong>da</strong>revelam que as diferenças individuais dos expectadores interferem menos noimpacto causado pelas mensagens conti<strong>da</strong>s nos diferentes produtos <strong>da</strong> mídia, doque as situações de audiência que vivenciam.O fato de as crianças assistirem televisão, sozinhas ou acompanha<strong>da</strong>s deirmãos, amigos, pais ou outro adulto, pode alterar de forma significativa osprocessos envolvidos em decodificar as mensagens e gerar pensamentos sobreelas. As interferências ocorrem com relação às tentativas <strong>da</strong>s pessoas deanteciparem parte <strong>da</strong> informação conti<strong>da</strong> <strong>na</strong>s mensagens, ao processarem arelevância de um determi<strong>na</strong>do fato em si, ou definirem a relevância de um segmentopara uma próxima asserção.O tempo e as condições de permanência frente aos estímulos provenientes<strong>da</strong>s mensagens propostas pela mídia, assim como o espaço e as características <strong>da</strong>audiência entram em negociação <strong>na</strong> produção de sentidos e, dizem não só <strong>da</strong>smensagens, como <strong>da</strong> intencio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de dos espectadores quanto aos usos quefazem <strong>da</strong>s mídias.A maior parte de nossos entrevistados ao serem in<strong>da</strong>gados sobre ascondições em que assistiam à programação televisiva disseram assistir TV <strong>na</strong>própria casa, sozinhos, a maioria <strong>da</strong>s vezes sem a companhia de pais ou irmãos.165


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(G. 11anos),..eu assisto 10% <strong>da</strong>s vezes com outras pessoas...10% <strong>na</strong> casa deamigos, o que significa 90% sozinho.(L., 8, anos) assisto mais <strong>na</strong> sala porque tem DVD... os pais não assistem com ele,porque ficam trabalhando, portanto assiste sozinho, assim como (V., 8 anos) quetambém diz ver TV, em geral sozinho.(L. 7 anos- G1)... Sozinho porque meus irmãos ficam mais <strong>na</strong> rua...Quando acompanhados, o são dos irmãos e em menor frequência dos pais.(S., 8 anos)...Eu assisto às vezes com a minha irmã Nicole e com meu irmãotambém. Assisto mais <strong>na</strong> sala.(B.,10 anos)...Durante a sema<strong>na</strong> assisto (TV) mais com meu irmão...(R.,9anos)...com a minha irmã...(L.,11 anos)...à tarde sozinho... e se in<strong>da</strong>gado sobre se assiste TV, às vezes com ospais, responde... só à noite.(M.,7 anos)...Assisto mais no quarto...às vezes com a minha mãe, com minha irmã eàs vezes sozinha....(E.,7 anos) diz que assiste <strong>na</strong> sala, pois só os pais têm TV no quarto e, que... assistemais sozinho. Só algumas vezes, com as irmãs, outras com a mãe ou pai.(R.,6 anos)...Sempre sozinho, às vezes com amigos quando vêem <strong>na</strong> minhacasa...mas, diz que quando acompanhado é mais com meu pai ou minha mãe.Também os pais foram in<strong>da</strong>gados em relação a este aspecto e o pai de E.,7anos e de S.,8 anos declarou ... Acompanho um pouco as crianças assistindo TV. Àsvezes sento junto com eles para assistir, desenhos, às vezes filmes. Isso aí é umaroti<strong>na</strong>.Mas isso não é o que comumente acontece. Os pais deixam evidente quequando assistem TV com seus filhos, <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes são eles que assistemaos programas de interesse dos pais.A mãe do I., 9 anos declara gostar de TV, deter o controle remoto, mantê-lasempre liga<strong>da</strong> quando está em casa, de modo que as crianças assistem muito àmesma programação que ela, novelas e outros programas, porque vêem TV mais à166


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAnoite, durante umas 4 horas e, principalmente no quarto, lugar onde a mãe dizassistir mais.A mãe de V., 8 anos confirma que as crianças assistem com os pais novelas,noticiários e os enlatados que o pai gosta e a de P., 9 anos diz que com ela assistema novelas, telejor<strong>na</strong>is, não se prendem muito em novelas, mas gostam de Malhação(referindo-se a seus dois filhos) e a de J.V, 6 anos, também cita dentre os programasque vêm juntos o Jor<strong>na</strong>I Nacio<strong>na</strong>l, as novelas e os documentários.Qualquer comentário, ação de quaisquer dos membros, que compartilhamesta audiência, constituem espaços em que suas percepções são confronta<strong>da</strong>s,renega<strong>da</strong>s, aceitas ou revistas e, integrando de diferentes formas as representaçõesconstruí<strong>da</strong>s.Fica evidente que a configuração dos lares <strong>na</strong> cultura contemporânea e asfacili<strong>da</strong>des para aquisição de eletroeletrônicos, também passaram a redefinir asrelações presenciais. A televisão quando de seu surgimento fez com que as pessoasse reunissem ao seu redor, de modo que um único aparelho promovia o encontro deamigos e familiares, que se deslocavam em sua direção. Porém, à medi<strong>da</strong> que atelevisão se popularizou, e, dentro de uma mesma casa é possível encontrarpraticamente uma televisão em ca<strong>da</strong> cômodo, o fenômeno inverso pode serobservado - a TV acabou por separar a família.Foi possível perceber isso nos relatos <strong>da</strong>s crianças que declararam ter opróprio quarto equipado com aparelhos de TV, DVD, e, muitas vezes sem ao menosdividir com os irmãos.(J.V., 6 anos)... Eu ganhei um quarto agora e meu pai colocou TV lá. ...Assisto TVmais no quarto do que <strong>na</strong> sala...(A., 11 anos)...O meu irmão fica em um quarto assistindo e eu no outro. (tem umatelevisão no quarto <strong>da</strong> meni<strong>na</strong> e outra no do menino)...Relata que poucas vezesassiste <strong>na</strong> casa de amigos...(J., 8 anos)...eu assisto sozinha no meu quarto e meu irmão no quarto dele.Análise <strong>da</strong> audiência compartilha<strong>da</strong> não pode desconsiderar este fato e asentrevistas revelaram que quando as crianças não têm televisão no quarto, a167


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcondição de recepção é outra, como relata o pai de E., 7 anos....assistem <strong>na</strong> maioria<strong>da</strong>s vezes juntos, <strong>na</strong> sala, e negociam o ca<strong>na</strong>l que acham melhor, vencendo amaioria. Além de negociarem a programação, acabam por negociarem sentidoconstruído pelo discurso televisivo. Na casa de M. só tem uma televisão e esta ficano quarto do menino...Todo mundo vai para lá e fica <strong>na</strong> minha cama.Os depoimentos <strong>da</strong>s crianças e dos pais evidenciaram outro importanteaspecto. Foi possível constatar que apesar <strong>da</strong> primazia <strong>da</strong> TV no papel de Outro,<strong>na</strong>s relações que a criança estabelece, diante de uma ativi<strong>da</strong>de alter<strong>na</strong>tiva, a TVparece ser facilmente substituí<strong>da</strong>.(M., 11 anos, S3) Assisto TV desde o meio dia quando minha mãe sai para otrabalho e fico sozinha até as 5 horas quando meu pai chega...Com a chega<strong>da</strong> dopai a TV é abando<strong>na</strong><strong>da</strong>.Relatos de outras crianças dão suporte a esta consideração.(I., 8 anos). Entre a TV e o computador, gosto mais de jogar bola. Declara serdiferente quando assiste TV sozinho ou com um amigo, porque quando estáassistindo sozinho não tem <strong>na</strong><strong>da</strong> para fazer e quando está com um amigo dá parajogar futebol...quando estou assistindo desenho e chega um amigo, a gente vê umpouquinho junto e depois vai fazer outra coisa.(P., 9 anos) ...Prefiro brincar a ver TV...(L., 7 anos) ...Assisto TV quando não tem <strong>na</strong><strong>da</strong> para fazer...(A.P., 9 anos)...Nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong> vejo menos TV porque fico an<strong>da</strong>ndo debicicleta..tem vezes que estou brincando <strong>na</strong> casa <strong>da</strong> minha amiga, a gente estavabrincando de teatro , aí a gente assiste..(A., 6 anos) Disse que pouco vai à casa de amigos e quando isso acontece...maisbrinco do que assisto TV.(I., 6 anos)...Assisto mais TV do que brinco , mas prefiro brincar a ver TV.(L., 6 anos)...Às vezes, no fi<strong>na</strong>l de sema<strong>na</strong> assisto com meu amigo Anthony, eubrinco de alguma coisa, ele vai <strong>na</strong> minha casa e eu <strong>na</strong> dele ...a gente gosta dosmesmos desenhos.168


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO relato <strong>da</strong> mãe de L., 6 anos, é outro exemplo...quando L. está <strong>na</strong> casa dopai, à tarde desce para brincar, joga bola, faz outras coisas e dois dias fica <strong>na</strong> casa<strong>da</strong> avó, mas dentro de casa e, portanto mais tempo frente à TV.Segundo a mãe de V., 9 anos, seus filhos (V., e o irmão) não são muitoligados em TV, pois moram em condomínio, descem para jogar e trocam a TV porqualquer coisa a última coisa é a TV. ...Os meus sempre gostaram muito de esporte.(a mãe é professora de Educação Física).No entanto, um menino afirmou preferir televisão(P., 9 anos)...Ver TV é mais legal (do que brincar)...Uma vez que as representações são orienta<strong>da</strong>s por valores, fatos, objetoscompartilhados, o estudo procurou conhecer os hábitos televisivos dos pais everificar se os hábitos dos filhos mostram alguma relação com o dos pais.Ao confrontarmos os depoimentos dos pais com as falas <strong>da</strong>s criançasentrevista<strong>da</strong>s foi possível constatar que seus hábitos e/ou opinião sobre aprogramação têm relação com a postura <strong>da</strong>s crianças frente à mesma.A mãe de M., 9 anos e M.,7 anos do<strong>na</strong> de casa diz ...ultimamente não estoutendo muita paciência para assistir TV... fico irrita<strong>da</strong> com as coisas desnecessáriasque eles passam(...) A gente vê mais filmes e documentários <strong>na</strong> TV fecha<strong>da</strong>. Afirmaain<strong>da</strong> que o marido nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>, assiste aos documentários <strong>da</strong> Discovery odia inteiro.Os relatos de suas filhas também não revelam um grande comprometimentocom a TV. A mais velha, M. 9 anos, declarou não saber quantas horas de TV assistepor dia, disse que vê dois, três ou quatro desenhos por dia. Assiste TV quandotermi<strong>na</strong> a lição de casa, mas diz também que sempre brinca com a irmã. A menorM., 7 anos fala que prefere brincar a ver TV e que só vê quando a mãe deixa.A mãe de V. 8 anos, economista, que não exerce a profissão, mas tem outraativi<strong>da</strong>de em casa, diz adorar ver telejor<strong>na</strong>l,... meus programinhas, mas eu nãoconsigo, principalmente à tarde. ...Eu gosto de assistir telejor<strong>na</strong>l, porque detesto ler169


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAjor<strong>na</strong>l (papel), eu preciso saber <strong>da</strong>s notícias escutando. Pela manhã eu gosto <strong>da</strong>Record, que é muito boa, porque tem um telejor<strong>na</strong>lismo bem legal, gosto de ver A<strong>na</strong>Maria, aqueles programas femininos. À tarde diz que a TV fica liga<strong>da</strong> e ela dá umasolha<strong>da</strong>s, escuta mais do que vê. À noite assiste à novela e depois, contra a vontade,os ‘enlatadinhos’ americanos que o marido gosta e ela diz odiar.Apesar de seu filho ter declarado que só assiste TV depois <strong>da</strong> lição, afirmaficar diante <strong>da</strong> televisão, cerca de 4horas e meia.O estudo <strong>da</strong> recepção inscreve-se no que Barbero 161 define como a lógicados usos, uma vez que não se trata de conceber a comunicação, em termos <strong>da</strong>smensagens que circulam, de seus efeitos e reações, para situar sua problemática nocampo <strong>da</strong> cultura: dos desafios tecnológicos à democratização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de.A lógica dos usos para Barbero, não se esgota <strong>na</strong> diferença social <strong>da</strong>sclasses, mas atravessa o uso <strong>da</strong> televisão, os modos de ver, e inclui o tempo e osespaços cotidianos. Pressupõe conhecer em que espaços as pessoas vêemtelevisão, se privados ou públicos e, que lugar a TV ocupa <strong>na</strong> casa, se <strong>na</strong> sala, ondeocorre a vi<strong>da</strong> social, ou no refúgio do quarto.O tempo de uso, caso a TV fique liga<strong>da</strong> o dia inteiro ou se só é liga<strong>da</strong> para vero noticiário ou o seriado, revelam usos que não dizem respeito exclusivamente aotempo, mas ao tipo de tempo e denotam uma deman<strong>da</strong> específica que as diferentesclasses fazem à televisão, sendo transposta para o nível do simbólico. Para alguns atelevisão presta-se exclusivamente a fornecer informação, para outros ela seconstitui em espaço de entretenimento e cultura. Nesse sentido, a a<strong>na</strong>lise <strong>da</strong>scondições de uso, fornecem pistas que permitem visualizar os espaços deconstrução <strong>da</strong>s representações.161 MARTIN BARBERO, Jesús. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. R.J.,UFRJ, 1997.170


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA5.2.3. O controle dos pais sobre a TVCompartillhar a audiência não significa somente estar ao lado do espectadorno momento em que a programação está sendo exibi<strong>da</strong>. O controle exercido sobre aprogramação constitui uma forma indireta de intervir sobre a recepção e pode serinterpreta<strong>da</strong> como uma forma específica de compartilhar.Ao questio<strong>na</strong>r as crianças sobre a percepção que tinham com relação a esteaspecto, foram pensa<strong>da</strong>s as possibili<strong>da</strong>des de controle sobre o tempo e horário depermanência frente à TV, e sobre a programação. Contudo, o contato com as falas<strong>da</strong>s crianças mostrou que reconhecem outras possibili<strong>da</strong>des de controle, descritasneste tópico de acordo com os segmentos pesquisados.Ficou constatado que as crianças do S1 em sua maioria reconhecem ocontrole e especificam com clareza. R., 6 anos, descreve que os pais determi<strong>na</strong>m otempo frente à TV e fazem restrição a determi<strong>na</strong>dos programas...Eles fazemhorário...Duas horas no computador, meia hora <strong>na</strong> TV.... Quanto aos programasrelata que os pais não gostam que assista quando tem arma e batalha. Os paisconfirmam esta fala e incluem também a humilhação, falta de convívio, o nãorespeito às diferenças, xingamentos, além de tráfico, prostituição, traições emrelacio<strong>na</strong>mentos...tudo que transgride à ética, além <strong>da</strong> ganância e do incentivo aoconsumo exarcerbado, valorização excessiva do dinheiro e poder. Somente estespais levantaram aspectos dessa <strong>na</strong>tureza.G., 11 anos, percebe o controle dos pais sobre a programação...não queremque eu assista novela porque tem muita paixão...quando tem muita magia elestambém não gostam. Os pais consideram um desenho / programa violento quandotem armas, guerras, destruição, sexo, palavrões, insinuações sensuais e espiritismo.Percebe-se que este menino tem claro o controle dos pais sobre questões liga<strong>da</strong>s àsexuali<strong>da</strong>de, mas nem se apropria de termos como sexo ou sensuali<strong>da</strong>de, talvezporque os pais, também não façam uso dele <strong>na</strong> relação com as crianças 162 .162 Talvez isso se deva à religião que pertencem, pois sua irmã ao utilizarmos a palavra violência,disse nunca ter ouvido essa palavra antes. Daí, terem feito referência à magia, que talvezcorrespon<strong>da</strong> a “espiritismo” para a mãe.171


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASegundo G., 9 anos, a mãe controla o horário e, como trabalha, a emprega<strong>da</strong>fica incumbi<strong>da</strong> dessa tarefa.J., 9 anos declara...o máximo que a minha mãe deixa é uma hora nocomputador e <strong>na</strong> TV também.G., 9 anos reconhece e cita todos os programas que os pais não gostam queassista ...Malhação, Chaves, Novelas, Linha Direta, Zorra Total e programas “estiloMárcia”, SBT e RedeTV.As crianças do segmento 2, em sua maioria, não consideram que os paisexerçam controle sobre a programação, mesmo quando estes deixam explícito oprograma proibido. As falas <strong>da</strong>s crianças deixam nítido que muitas vezes não vêemconsiderações dos pais desta <strong>na</strong>tureza como formas de controle, porém especificamoutras situações que relatam interpretam como tal.Segundo JV, 6 anos, os pais não controlam a programação que assiste...Elecorrige o meu dever e, depois man<strong>da</strong> eu ver TV. Minha mãe não deixa assistir Jasonx Fred Kruger. Afirma que a mãe não sabe tudo que ele vê <strong>na</strong> TV, mas acredita queela concor<strong>da</strong>ria com a programação que ele assiste se soubesse...porque é filmebom. Para ele os aterrorizantes são os bons. Sua fala deixa níti<strong>da</strong> a introjeção devalores compartilhados <strong>na</strong> família e, levanta a suspeita de que alguns programas porele assistidos, embora possam fugir a esses valores, são assistidos por ele.Sua mãe confirma a existência de um controle que foge a idéia de proibição epassa a ser visto como um acordo, nem sempre compactuado pelo pai. Relata queprocura evitar desenhos de adultos que têm palavrão e gestos que considerahorríveis, filme de terror...pois detesta e acha i<strong>na</strong>dequado para a i<strong>da</strong>de dele ...e,noticiário sangrento.(Segundo ela o pai gosta e muitas vezes permite).Afirma que ao invés de proibir, pergunta o que ele acha do que estápassando, se não está achando chato...isso funcio<strong>na</strong> como um código entre eles e,então mu<strong>da</strong> de ca<strong>na</strong>l ou desliga.De forma semelhante se manifesta E.,7anos, pois em um primeiro momentodisse que os pais não determi<strong>na</strong>m horário e nem controlam a programação e depois172


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdeclara que sua mãe não deixa assistir Adult Rings, por ser desenho de palavrão,além de passar à noite, de madruga<strong>da</strong>.O relato de seu pai aponta para uma situação um pouco diferente...uma coisaque a gente proíbe em casa e eu acho que é o pior exemplo é a novela...às vezeseu tenho umas reações inespera<strong>da</strong>s, eu vejo que vai acontecer uma coisa assim, eumudo de ca<strong>na</strong>l, ponho no jor<strong>na</strong>l, falo que vou ver a temperatura...se vai choveramanhã...a gente dá uma disfarça<strong>da</strong>.Embora o discurso desse pai, representativo do discurso de outros tantospais e mães exalte aspectos negativos <strong>da</strong> novela, o que os pais parecem pretender,é que as crianças se tornem invisíveis nesses momentos, pois continuam mantendono ca<strong>na</strong>l e, fazendo o grande esforço de preverem quando irá acontecer uma ce<strong>na</strong>,não considera<strong>da</strong> adequa<strong>da</strong> para seus filhos.Outro menino, L.,7anos diz que a mãe não controla o tempo ou aprogramação, só controla o momento de assistir... só não deixa assistir enquantofaço a lição e <strong>na</strong> hora de comer. O discurso <strong>da</strong> mãe deixa claro que não restringe aprogramação, mas controla o tempo e o momento..eu tento fazer primeiro que elefaça as tarefas <strong>da</strong> escola...eu nunca uso o termo proibir, lá em casa a gente não temessa coisa....ele mesmo faz a seleção ...sugiro coisas alter<strong>na</strong>tivas. Embora nãoproíba, deixa transparecer que selecio<strong>na</strong> a novela...se não for boa, fica vendo outroprograma... (Eu acho que ele fica umas três horas)...Gostaria que ficasse menos.É possível considerar que a percepção destas crianças <strong>da</strong> inexistência decontrole <strong>da</strong> programação televisiva pelos pais, deve-se à forma ambígua como osmesmos demonstraram li<strong>da</strong>r com as situações. Apesar de não proibirem diretamenteos pais não deixam claras as suas reais intenções, ao mu<strong>da</strong>rem de ca<strong>na</strong>l ousugerirem que as crianças compactuem com a idéia de que aquilo não deve servisto, sem especificar a razão.Outras crianças afirmam que podem ver TV sempre, deixando transparecerque podem assistir TV durante o tempo ou os momentos que desejarem. No entanto,P., 9 anos ao falar que quando está com a emprega<strong>da</strong> pode assistir até <strong>na</strong> hora do173


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAalmoço, deixa transparecer um certo controle em relação aos horários. Deixaexplícito ain<strong>da</strong>, que a mãe não deixa ver desenho de tiro.A fala <strong>da</strong> mãe confirma o relato <strong>da</strong> criança ao dizer que não vê problema nosdesenhos que o filho assiste... sugere que ... assistem os mesmos desenhos que agente assistia...desenhos até um pouco primitivos..., mas não gosta de algunsfilmes...aqueles que só tem tiros...acho isso uma violência, mas para eles isso énormal e, demonstra não interferir.Já M., 7 anos diz que a mãe não proíbe desenho...mas proíbe novela e umaem especial...Rebelde, que ensi<strong>na</strong> coisas que não se deve fazer. Ela quis ver um diacomo era a novela, ela e o meu pai viram a meni<strong>na</strong> brigando com a outra. Depoisdisso disseram que eu não podia ver mais.Neste caso, percebe-se que os pais consideram outros aspectos além desexo e violência como inoportunos para a formação <strong>da</strong> criança.A irmã mais velha, M., 10 anos, confirma e aponta para mais uma razão parao pai não querer que assista a novela Rebelde ...Eu assistia, mas meu pai proibiuporque ele falou que era muita intriga. Ele só deixa as músicas. Eu só tenho um DVDe eu só posso ouvir aquele DVD.A fala <strong>da</strong> mãe deixa evidente o controle direto sobre a programação, além dedemonstrar indig<strong>na</strong>ção .. Elas não assistiam Rebelde; no colégio tem muitas colegasque assistem e elas sabiam a história todinha de Rebelde. Um dia elas me pedirampara ver. Fiquei curiosa e deixei, mas eu achei muito fraquinha a história em si...aquelas garotas não têm cara de adolescentes, são mulheres que se vestem demaneira muito sensual, cheio de artimanhas para conseguir as coisas, enga<strong>na</strong>ndo.Segundo a mãe, o pai assistiu, achou a novela horrível e ele proibiu. Disseque elas não iam ver mais essa porcaria... Como música até ... mas é coisa demomento, não vai fazer sucesso para sempre, aquele sucesso que vem e vai, igualao Tchan essas porcarias que vêem e vão.S., 8 anos, relata que o pai também proíbe as Meni<strong>na</strong>s Superpoderosas...meupai man<strong>da</strong> a minha irmãzinha não ficar assistindo. Conta que segundo o pai, a irmã174


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcomporta-se como uma perso<strong>na</strong>gem do desenho, a Docinho, que é muitoviolenta...A minha irmã fica igual a ela, violenta. Meu pai man<strong>da</strong> ela não ficarassistindo. Fala ain<strong>da</strong> que a retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> TV também é utiliza<strong>da</strong> como castigo.Determi<strong>na</strong>m também o tempo...vou fazer lição ou ler um livro...Comenta que além <strong>da</strong> novela, controla filmes e novelas, seja a censuralibera<strong>da</strong> ou não. Ela, assim como o marido, impede que assistam a ce<strong>na</strong>s deviolência e sexo e afirma que apesar <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de, elas obedecem...Aí eu explicoo por quê...porque aí tem uma ce<strong>na</strong> de sexo, ou tem uma ce<strong>na</strong> muito violenta que amamãe não quer que vocês vejam porque não precisa, mas eu falo o que é.O que se percebe neste caso é a existência de uma relação aparentementeaberta, em que os pais não exercem um controle disfarçado, mas deixam claro, asquestões que não agra<strong>da</strong> a eles <strong>na</strong> programação, mas <strong>na</strong><strong>da</strong> explicam, não seaprofun<strong>da</strong>m <strong>na</strong> razão <strong>da</strong> proibição.Os pais de V., 9 anos não deixam que assista Link Park...por causa dospalavrões, apesar de não especificar a razão. Reconhece o controle também emoutras situações quando diz...às vezes, man<strong>da</strong> eu fazer outra coisa quando estouvendo televisão. Este é mais um exemplo, de que dependendo <strong>da</strong> forma como ocontrole é proposto, nem sempre é percebidoAs demais crianças deste segmento apontam outras razões(E., 7 anos)... às vezes, meus pais proíbem quando estou muito perto <strong>da</strong> TV.(S., 8 anos) Às vezes quando tem muita gente meu pai faz um tempo para ca<strong>da</strong> um..e, o meu irmão não pode ficar muito tempo, porque fica como o olho todo vermelho.(Ig., 9 anos) Eu fico com dor de cabeça quando fico muito no computador ou TV.Eles falam para ficar no mínimo meia hora, uma hora.Uma análise <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s crianças do segmento 3 mostra que semanifestam de forma semelhante às do segmento 2. Em um primeiro momentonegam a existência de controle, do horário ou <strong>da</strong> programação, mas fazemdeclarações que corroboram a existência de um controle dos pais relativo ao tempo,aos momentos ou aos programas que assistem.175


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPorém, a partir de suas falas foi possível verificar uma percepção maior <strong>da</strong>scrianças com relação aos aspectos que preocupam os pais, questões estas relativasa sexo e violência.Os depoimentos a seguir põem em evidência as questões explicita<strong>da</strong>s acima.Segundo A.P., uma meni<strong>na</strong> de 9 anos, a mãe não controla a programação, mas ohorário...quando está tarde, ela man<strong>da</strong> desligar...Explica que a irmã assiste atéaproxima<strong>da</strong>mente às 22:00 horas, depois dorme e deixa a TV liga<strong>da</strong>...meu paidesliga e começa a falar um monte. Não nomeia qualquer programa que a mãeproíba, mas identifica uma razão de proibição ...Quando tem safadeza a minha mãeproíbe...Como exemplo cita Chica <strong>da</strong> Silva e, comenta que enquanto o pai proibia, amãe deixava que assistisse, porém mu<strong>da</strong>ndo de ca<strong>na</strong>l a ca<strong>da</strong> ce<strong>na</strong> forte.A própria expressão “safadeza“ é bastante forte, indicando que a questão <strong>da</strong>sexuali<strong>da</strong>de vem carrega<strong>da</strong> de significações.Outra meni<strong>na</strong>, L. 11 anos, também parece não reconhecer o controle, dizassistir o que quer, que os pais só controlam o tempo porque usa óculos, mastermi<strong>na</strong> revelando que os programas que não pode assistir estão bloqueados e sóos pais têm a senha e, conclui... Meu pai não gosta que eu veja ce<strong>na</strong>s de beijo. Aíele mu<strong>da</strong> de ca<strong>na</strong>l ou desliga a TV...Eu sou filha única e ele se preocupa muito.L., 11 anos, reconhece a existência do controle e diz que a mãe não gostaque assista a filme pornográfico...aí quando está passando no 42, Multishow, asmulheres nuas, minha mãe fala para eu não assistir e prossegue, espero uns 30minutos até acabar a safadeza e, volto a assistir televisão.M., 9 anos afirma que o pai não deixa assistir um ca<strong>na</strong>l de ação e não gostade...Dragon Buster, essas coisas... Especifica a razão <strong>da</strong> proibição apontando paraa condição de vulnerabili<strong>da</strong>de com que se defronta durante a apresentação dodesenho, dizendo que o desenho é de ação, que já teve pesadelo e embora achemuito legal fica com medo. Diz ain<strong>da</strong>, que o pai proíbe o ca<strong>na</strong>l 52 porque tem ce<strong>na</strong>sfortes. Não gosta que assista Rebeldes, e, fala que não é para ser como eles.O pai de P., 9 anos também proíbe o que a meni<strong>na</strong> chama de desenho deação, Dragon Buster...Tem muita corri<strong>da</strong> de dragões e eu tenho pesadelo depois...176


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACita outros programas proibidos, tais como Pânico... zoam com as pessoas, fazempalhaça<strong>da</strong>s e ficam de calcinha e soutien...e, principalmente a mãe proíbe Rebeldes.Além do controle <strong>da</strong> programação e do horário...se for muito tarde que passa,aí eu não posso assistir... ficaram evidentes controles por razões outras, comogarantir a possibili<strong>da</strong>de de que todos pudessem ver seus programas preferidos... omeu irmãozinho não deixa assistir <strong>na</strong><strong>da</strong>, ela (a mãe) pede para ele, ele ficachorando, aí ela assiste.Embora os pais <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong> escola pública pesquisa<strong>da</strong> diferissem quantoao nível de escolari<strong>da</strong>de dos demais pais, os relatos dos filhos deixam transparecerque reconhecem a necessi<strong>da</strong>de de controle e, revelam preocupação e cui<strong>da</strong>dofrente às condições de seus filhos como telespectadores, contrariando a idéiapresente no imaginário social, de que os pais <strong>da</strong>s classes sociais mais baixas nãoestariam voltados para a questão. Porém, mesmo <strong>na</strong> ausência de uma leitura crítica<strong>da</strong> mídia, identificam aspectos presentes nela, capazes de interferir de forma <strong>na</strong>formação de seus filhos.Talvez, seja possível considerar, que embora reconheçam <strong>na</strong>s ce<strong>na</strong>s de sexoe agressivi<strong>da</strong>de, possíveis fatores de risco, não se dispõem a dialogar a respeito e,intervir como mediadores e a proibição, passa a ser o caminho escolhido paraexercer o controle sobre estes conteúdos.Porém, ao contrário do que foi possível apreender dos discursos <strong>da</strong>s criançasdos demais segmentos, estes pais deixaram mais explícito para os filhos as razões<strong>da</strong> proibição e as crianças reconheceram e apontaram para algumas característicascomo a presença de palavrões, intrigas, violência simbólica, ou aquela representa<strong>da</strong>por atos agressivos como tiros, ação, ou ain<strong>da</strong> a proibição por ser pornográfico ouapresentar ce<strong>na</strong>s de sexo e beijo.Nos segmentos 2, com base nos depoimentos dos pais e no S3, a partir <strong>da</strong>sfalas <strong>da</strong>s crianças, fica evidenciado que dentre o casal nem sempre existecompromisso com uma coerência de opiniões e, contrariando pesquisas <strong>na</strong> área queapontam para a mãe como maior responsável pela educação de um modo geral,177


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAparece ser o pai, quem assume uma posição de autori<strong>da</strong>de maior e define o que osfilhos podem ou não assistir.A inconsistência <strong>na</strong>s decisões dos casais interfere <strong>na</strong> condição de autori<strong>da</strong>dede ambos, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que acabam por se desautorizarem. Ao buscarem umaeducação mais permissiva, exercitam o não proibir, porém, não deixam claras suasintenções.Isto pode dificultar as crianças de fazerem suas próprias escolhas, ou mesmo,de se sentirem seguras diante de escolhas feitas - faltam a elas modelos,referenciais, uma vez que nem sempre conseguem reconhecer serem algumasconsiderações dos pais como controle, de acordo com o observado nos discursos<strong>da</strong>s crianças entrevista<strong>da</strong>s. O contrário também acontece e ao invés <strong>da</strong>permissivi<strong>da</strong>de, os pais muitas vezes assumem uma postura de amplo autoritarismo.Este capítulo trouxe um olhar sobre a cotidiani<strong>da</strong>de vivencia<strong>da</strong> pelas crianças,apontando para as estruturas desse cotidiano, fortemente referen<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>na</strong>smediações exerci<strong>da</strong>s pela família. Sua importância reside, do ponto de vista <strong>da</strong>televisão, no fato de a família ser a uni<strong>da</strong>de básica de audiência 163 e do ponto devista dos estudos de representação, por se conformar como um dos espaçosfun<strong>da</strong>mentais de leitura e interpretação <strong>da</strong>s mensagens televisivas, um dos poucosespaços onde os indivíduos se encontram com pessoas e manifestam suasangústias e frustrações.Ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong>de constitui um lugar derepresentação e de diversas possibili<strong>da</strong>des de mediação. Na medi<strong>da</strong> em que os paisdelimitam os universos de circulação e deixam claras as razões, autorizam, apóiam,compartilham experiências, oferecem caminhos alter<strong>na</strong>tivos, as crianças deixam deestar sozinhas, têm com quem e como compartilhar seus questio<strong>na</strong>mentos e163 Barbero mostra a importância de levar em consideração o modo que a televisão usa parainterpelar a família, pois seu modo de comunicação decorre do conhecimento construído sobre osmodos que a família vive a cotidiani<strong>da</strong>de. Por isso, a família se reconhece <strong>na</strong>s diferentes discursostelevisivos. 163 MARTIN BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia.R.J., UFRJ, 1997.178


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdesenvolver possibili<strong>da</strong>des não só reprodução, mas de produção, como propôsHeller 164 .164 HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. R.J., Paz e Terra, 1985.179


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACAPÍTULO 6A PROGRAMAÇÃO TELEVISIVA COMO ESPAÇO DECONSTRUÇÃO DE REPRESENTAÇÕES: A REPRESENTAÇÃOINFANTIL DA VIOLÊNCIA“O homem estava caminhando <strong>na</strong> praia e passou por um garoto que fazia uma construção de areia. Parou para olhar.Lembrou-se do seu tempo de garoto, quando também gostava de fazer aquilo...- Bonito, o seu castelo de areia – disse o homem para o garoto.O garoto olhou para o homem. Depois falou:- Não é castelo.- O que é então?- Um condomínio fechado...- A reali<strong>da</strong>de do garoto é essa. No outro dia a minha neta quis saber por que a Cinderela não deu o número do celular dela propríncipe.” 165Mas os castelos feu<strong>da</strong>is não deixam de ser condomínios não deixam de ser condomínios fechados. E os condomíniosfechados não deixam de ser fortalezas medievais. O garoto <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de é um gênio <strong>da</strong> síntese.No dia seguinte o homem avistou o garoto no mesmo lugar <strong>na</strong> praia. Viu com satisfação que ele <strong>da</strong>va os retoques fi<strong>na</strong>is <strong>na</strong> suaobra..Talvez ele tivesse decidido fazer um castelo, afi<strong>na</strong>l. O homem perguntou se o garoto estava fazendo or<strong>na</strong>mentos para ostorrões do castelo.- Não - disse o garoto.O que é então?- Ante<strong>na</strong>s Parabólicas.O homem seguiu seu caminho suspirando.”165 VERÍSSIMO. De areia. O Estado de São Paulo. CULTURA, 05 fev.2006. p. D16.180


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEste capítulo apresenta a representação <strong>infantil</strong> de violência tendo comoreferência a programação televisiva, marca<strong>da</strong>mente o desenho animado, enquantoespaço de relações e construção de visão de mundo pelas crianças.Conhecer a programação com a qual a criança tem se envolvido e as razõesdesse envolvimento foi o caminho escolhido para abor<strong>da</strong>r a questão <strong>da</strong> violênciajunto às crianças. Durante as entrevistas elas foram leva<strong>da</strong>s a falar sobre osprogramas que assistem, gostam e não gostam e o que as leva a escolheremdetermi<strong>na</strong><strong>da</strong> programação, visando uma aproximação com os elementos que seconstituem em razões de suas escolhas e uma aproximação com suasrepresentações relativas às experiências televisivas.Considerando ain<strong>da</strong>, que as representações infantis ocorrem em universosconsensuais com a representação dos adultos, tendo os pais como referência maisimediata, a proposta incluiu descrever o uso e as percepções dos pais sobre aprópria relação, e também a relação <strong>da</strong>s crianças com os meios, assim como apossibili<strong>da</strong>de de identificar a participação dos mesmos <strong>na</strong> construção de identi<strong>da</strong>des<strong>na</strong> infância e adolescência.A partir de um exercício de descrição, comparação e análise dos discursos decrianças e de seus pais, atrelado a outros estudos <strong>na</strong> área foi possível responder àsquestões propostas. Embora a pesquisa tenha envolvido crianças de três segmentosdistintos quanto ao nível sócio-econômico e cultural, suas percepções nãoapresentaram diferenças que exigissem que seus relatos fossem descritos dentrodestes segmentos.A apresentação dos <strong>da</strong>dos encontrados tem início com as representações dosadultos, pais <strong>da</strong>s crianças, sobre o universo televisivo e suas implicações nouniverso <strong>infantil</strong>, segue traçando um panorama <strong>da</strong> programação que a criança gostaou não de assistir, e de suas considerações a respeito e, por fim, apresentarespostas às questões envolvi<strong>da</strong>s com a representação <strong>infantil</strong> de violência e asbases em que se estruturam.181


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA6.1. Os Pais: Representações dos Adultos a mediarem as representaçõesinfantisAs entrevistas com os pais ofereceram a possibili<strong>da</strong>de de contato com o teor<strong>da</strong>s reflexões adultocêntricas e ao mesmo tempo com as mediações por elesexerci<strong>da</strong>s, uma vez que compõem os universos consensuais de construção <strong>da</strong>srepresentações pelas crianças.Os depoimentos aqui considerados se referem às respostas dos pais <strong>da</strong>scrianças do S1 (residentes em condomínio fechado) ao questionário a eles aplicadoe, às respostas dos pais do S2 (pais <strong>da</strong>s crianças de uma escola particular) àsentrevistas. Aos pais <strong>da</strong>s crianças <strong>da</strong> escola pública também foram enviadosquestionários, uma vez que a diretora do estabelecimento de ensino consideroudifícil eles se mobilizarem para a entrevista, porém não houve retorno dos mesmos.166Nos dois segmentos, pai e mãe, <strong>na</strong> maioria dos casos têm formaçãouniversitária, os pais trabalham fora, assim como a maioria <strong>da</strong>s mães.Independente <strong>da</strong> técnica de coleta de <strong>da</strong>dos utiliza<strong>da</strong>, questionário eentrevista abor<strong>da</strong>ram os mesmos aspectos e buscaram conhecer os hábitostelevisivos dos pais, <strong>da</strong>s crianças (sob a ótica dos pais), assim como a relação <strong>da</strong>família com a televisão e demais produtos <strong>da</strong> mídia com os quais a criança interage,visando obter a representação deles sobre o conteúdo <strong>da</strong> programação e suaspossíveis influências, enquanto pais e sujeitos sociais. Com exceção a um único pai,as respostas correspondem aos relatos <strong>da</strong>s mães <strong>da</strong>s crianças, representando ocasal.As falas obti<strong>da</strong>s foram agrupa<strong>da</strong>s de acordo com as dimensões/temascapazes de intervirem <strong>na</strong>s situações de recepção, buscando compreender ascondições de mediação televisiva que representam. As dimensões propostas estãode acordo com revisão de estudos existentes <strong>na</strong> área e de recomen<strong>da</strong>ções queapontam para a necessi<strong>da</strong>de de pesquisas sobre a violência <strong>na</strong> mídia incorporarem166 Não consideramos o fato de não terem respondido, um descaso para com seus filhos ou para comos pesquisadores e a pesquisa, mas principalmente resultado <strong>da</strong>s circunstâncias proporcio<strong>na</strong><strong>da</strong>spelos responsáveis <strong>na</strong> instituição-escola.182


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfatores sociais mais amplos, como o cotidiano <strong>infantil</strong> e a participação dos pais <strong>na</strong>sativi<strong>da</strong>des com que as crianças se envolvem. Dentro dessa concepção asdimensões considera<strong>da</strong>s com base nos relatos obtidos compreenderam:• Relação dos pais com a TV: tempo a ela dedicado, programação assisti<strong>da</strong>• Relação <strong>da</strong> criança com a TV sob a ótica dos pais: tempo, programação• Relação <strong>da</strong> família com a criança espectadora: identificação dosprogramas/desenhos assistidos pelos filhos e <strong>da</strong>s condições de recepçãotelevisiva• Percepções sobre a violência televisiva e possíveis influências• Controle dos pais sobre a TV e outras mídias• Outros mediadores <strong>da</strong> programaçãoO que foi possível concluir a partir deste procedimento está descrito a seguir.Os pais relataram não terem muito tempo para a televisão ....saio cedo echego tarde...Disseram também que quando assistem, o fazem principalmente ànoite, e, alguns no período <strong>da</strong> tarde ou noite dos sábados e domingos. O fato de nãoterem tempo para a televisão, pois saem cedo e chegam tarde denuncia ain<strong>da</strong>, otempo que disponibilizam para a família.Considerando a TV aberta, e em função do tempo livre de que dispõem, asnovelas e os noticiários são os programas mais vistos... às vezes, só dá para ver oJor<strong>na</strong>l <strong>da</strong>s 23:00 horas. As mães vêem principalmente as novelas e, segundoalgumas delas, os maridos não vêem à novela... de jeito nenhum.No entanto, há mães que não hesitam em relatar que vêem televisão durantevários períodos do dia, e assim mesmo uma declara...Não assisto o tanto quegostaria...Dentre os programas que esta mãe cita, além dos telejor<strong>na</strong>is, dizadorar...A<strong>na</strong> Maria (Braga) e os programas femininos que passam pelamanhã...Queixa-se de que à tarde, a televisão passa a ser <strong>da</strong>s crianças e à noite,183


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAassiste dentre outras coisas os enlatados americanos que o marido gosta...a TV ficaliga<strong>da</strong> o dia todo. 167Algumas mães se declararam bastante desinteressa<strong>da</strong>s com a programaçãotelevisiva , e o depoimento de uma delas confirma...Não estou com paciência paraassistir novelas degra<strong>da</strong>ntes...vomitam em cima <strong>da</strong> gente aquilo ali...O discurso maisamplo deixa nítido que apesar disso, ela acompanha a novela.Para uma população fi<strong>na</strong>nceiramente capaz de assumir despesas, 168 osca<strong>na</strong>is pagos se revelam como opção frente ao descontentamento com aprogramação televisiva ofereci<strong>da</strong> pela TV aberta. Dentre os ca<strong>na</strong>is citados estãoDiscovery Channel, Globo News, History. Muitas vezes, os pacotes assi<strong>na</strong>dostambém não correspondem às expectativas dos usuários, até mesmo a TV fecha<strong>da</strong>não tem atraído...Parei de me interessar desde que trocamos por um programa maisbásico e com poucas opções...(sobre a TV fecha<strong>da</strong>).Apesar do tempo exíguo para a TV e <strong>da</strong> insatisfação com a programação, amaioria declarou assistir de duas a três horas por dia...chego em casa tarde <strong>da</strong> noitee não escolho..., denunciando ain<strong>da</strong> que a televisão é vista quase por inércia. Muitosdos relatos parecem discursos prontos, uma vez que embora as críticas e as falasbusquem negar a condição de espectador em função <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> programação,é possível depreender do discurso mais amplo, não ser isso exatamente o queocorre.Outra mãe diz que permanece frente à TV em torno de 6 horas,...principalmente <strong>na</strong> Globo, e no quarto...Disse que assiste qualquer coisa, denovelas a programas de entretenimento, de revistas eletrônicas a filmes <strong>na</strong> TV a167 Há tendência, inclusive preconceituosa a imagi<strong>na</strong>r uma relação direta entre tempo frente à TV e ofato de a mãe trabalhar fora ou não. Porém, no caso específico dessa mãe, é uma profissio<strong>na</strong>l liberale exerce a profissão. Essas informações são importantes <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que reforçam a necessi<strong>da</strong>de deestudos que desconstruam alguns mitos em relação à audiência televisiva.168 Aqui cabe a constatação de que a TV paga é opção de quase a totali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s famílias,considera<strong>da</strong> um bem de consumo e introduzindo a todos no mundo, democratizou a globalização,independente <strong>da</strong> condição econômica <strong>da</strong> população, oferecendo inclusive pacotes de acessodiferentes, de modo só dois lares não possuem TV a cabo.184


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcabo...não me fixo em programa ou ca<strong>na</strong>l. Essa mãe diz deter o controle remoto eafirma ain<strong>da</strong>, que o marido ao chegar às 11:00 horas <strong>da</strong> noite...se quiser assistir, vêTV <strong>na</strong> sala. A sua relação com a TV se sobrepõe à relação do casal.Os discursos põem em evidência, o quanto a televisão faz parte do cotidianode ca<strong>da</strong> um, preenchendo os espaços de relações e ao mesmo tempo alimentandooutras relações possíveis. As conversas hoje versam sobre aspectos superficiais,não mais envolvem questões pessoais, privilegiam o Outro, e, estando os contatosinter-pessoais ca<strong>da</strong> vez mais escassos, o Outro que habita o mundo televisivo passaa ser quem sustenta o diálogo. Assim as <strong>na</strong>rrativas televisivas <strong>da</strong> ordem do real oumesmo <strong>da</strong> ficção, passaram a prover o homem moderno de conteúdos para suasconversas, ca<strong>da</strong> vez mais impessoais.Nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>, a maioria dos pais declarou não assistir, ou assistirmuito pouco à televisão, pois buscam por outras ativi<strong>da</strong>des de lazer e, quando issonão ocorre, as mães deixaram antever que os pais domi<strong>na</strong>m a TV, sendo o futebol,os programas sobre esportes e algumas ce<strong>na</strong>s do Fantástico, o que mais interessa aeles. 169 No que se refere ao tempo que os filhos desti<strong>na</strong>m à TV, poucos precisaram ototal de horas e, quando o fizeram, relataram que por duas ou três horas, emconcordância com a estimativa <strong>da</strong>s próprias crianças e o que se justifica em função<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des que têm e do possível tempo ocioso em função <strong>da</strong>s diferentesativi<strong>da</strong>des que preenchem a roti<strong>na</strong> cotidia<strong>na</strong>. A maioria dos pais, não arriscou aquanti<strong>da</strong>de de horas, mas indicou o período em que assistem....à tarde... à noite...<strong>na</strong>hora de deitar...mais à noite.Reforçando a idéia de que a valoração do tempo disponibilizado pode estaratrela<strong>da</strong> à idéia do discurso ideal ou mesmo de critérios próprios, uma <strong>da</strong>s mãesdisse que os filhos não permanecem por muito tempo frente à TV, mas, à medi<strong>da</strong>,em que foi detalhando a roti<strong>na</strong> televisiva dos meninos, não foi possível chegar àmesma conclusão.169 As classes sociais e possibili<strong>da</strong>des de uso <strong>da</strong> TV.185


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOutra comentou que apesar de a TV ficar liga<strong>da</strong> durante o dia todo...nãoficam atentas (à TV), precisam do som. Ou ain<strong>da</strong>, ...é hábito ligar para dormir. Frentea comentários desta <strong>na</strong>tureza é impossível não retomar a discussão sobre o papelque a TV vem assumindo <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas. Ao precisarem do som, as criançasestão indicando que precisam de vozes, <strong>da</strong> presença de Outros, para aplacar asolidão e a falta de diálogo. Da mesma forma, a necessi<strong>da</strong>de que as crianças têm deligar a TV para dormir, mostra o quanto ela vem ocupando o papel dos pais quecantavam ou contavam histórias para seus filhos dormirem.É importante aqui o retorno a Barbero, que ao discorrer sobre as mediações esituando-a no âmbito <strong>da</strong> cultura, considera que esta lógica não se esgota <strong>na</strong>sdiferenças de classe e introduz um outro eixo de análise de denomi<strong>na</strong> de lógica dosespaços e dos tempos...que não tem a ver unicamente com a quanti<strong>da</strong>de de tempo dedicado,mas com o tipo de tempo, com o significado social desse tempo e com a deman<strong>da</strong> que as diferentesclasses sociais fazem à televisão. 170Os estudos de Merlo Flores 171 apontam para a questão de uma outra lógica arege a relação <strong>da</strong> criança com a TV, uma vez que as crianças não procuram nela,informação ou entretenimento, mas como compensação para as carências sociais.Considera que as razões que regem o comportamento de ver TV no público <strong>infantil</strong>têm origem em necessi<strong>da</strong>des de ordem emocio<strong>na</strong>l. Assim, crianças com problemasde solidão, abandono e frustrações procuram <strong>na</strong> TV um modelo de como devem serpara conseguir uma resposta favorável dos outros e não ficarem sozinhas.Se em relação ao tempo, os relatos não foram tão precisos, é possível dizerque as mães foram mais convictas ao dizer que as crianças assistem TV com maisfreqüência, sozinhas, ou, <strong>na</strong> companhia dos irmãos, raramente entre amigos, solidãoque as leva a procurar a mídia e as tor<strong>na</strong>m mais suscetíveis a ela, de acordo comMerlo Flores 172 .170 MARTIN BARBERO, J. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. R.J., UFRJ,1997, p.301.171 MERLO FLORES, T. Por que assistimos à violência <strong>na</strong> televisão. In. CARLSON, U., FEILIYZEN,C.V. (Org.). A Criança e a Violência <strong>na</strong> Mídia. São Paulo, Cortez, Brasília, UNESCO, 1999. p.187-215172 Há cerca de 30 anos desenvolve pesquisas de campo <strong>na</strong> Argenti<strong>na</strong>, envolvendo metodologiasquantitativas e qualitativas, ao mesmo tempo em que trabalha com técnicas psicológicas, abor<strong>da</strong>ndoo tema também em nível inconsciente. Concluiu que há necessi<strong>da</strong>de de focalizar mos a TV em doisníveis que se sobrepõem e são simultâneos: um mais inclusivo, relativo ao conteúdo do discurso e186


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAs entrevistas revelaram que os pais pouco compartilham com seus filhosa programação desti<strong>na</strong><strong>da</strong> a eles, uma vez que descrevem de forma genérica oshábitos <strong>da</strong>s crianças como telespectadoras....Eu acompanhei com ele um tempo, mas não estamos conseguindo assistir......O desenho que o Vitor assiste passa à noite, bem <strong>na</strong> hora que a gente está vendoalguma coisa legal...Parece existir um discurso politicamente correto, quando a mãeverbaliza...Assisto alguns desenhos, porque se não assisto é complicado.Ao serem in<strong>da</strong>gados sobre quais programas/ desenhos os filhos assistem, ospais citaram os diferentes ca<strong>na</strong>is segmentados de desenho animado <strong>da</strong> TV porassi<strong>na</strong>tura e a TV Cultura, com desenhos e os programas Mundo <strong>da</strong> Lua e Rá -Tim -Bum, outros programas de emissoras abertas como Malhação, Rebelde, além deDVDs de desenhos ou filmes que compram ou alugam.Os relatos mostram poucas vezes pais e filhos assistem à TV juntos, e,quando isso ocorre vêem os noticiários, as novelas e outros programas específicos<strong>da</strong> preferência dos adultos (documentários, enlatados americanos) ou ain<strong>da</strong>, umfilme em DVD, mesmo reconhecendo que as crianças se mostram vulneráveis. Asmães citam alguns comentários <strong>da</strong>s crianças sobre os noticiários que merecemserem considerados.... Pede para mu<strong>da</strong>r de ca<strong>na</strong>l...este mês pediu três vezes para tirar do Jor<strong>na</strong>l...... Comenta que só tem notícia ruim......Tem falado que tem medo de sair...O medo é uma <strong>da</strong>s reações possíveis quando as crianças são expostas ace<strong>na</strong>s violentas. Signorelli & Morgan, 1986 in Wartella 173 apontam para outrasaos assuntos do debate público,que não deixam ninguém fora e um outro nível, em que os conteúdosdos programas devem ser vistos como mecanismos compensatórios que se manifestam quando háalgum tipo de deficiência-individual ou social.173 WARTELLA, E., OLVAREZ, A., JENNINGS, N. A criança e a violência <strong>na</strong> televisão nos EUA. In:CARLSON, U., FEILIYZEN, C.V. (Org.). A Criança e a Violência <strong>na</strong> Mídia. São Paulo, Cortez, Brasília,UNESCO, 1999.187


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAreações como comportamentos agressivos e dessensibilização frente a situaçõesconsidera<strong>da</strong>s como de provável impacto. Estas falas mostram ain<strong>da</strong> que os próprioshábitos televisivos dos pais são determi<strong>na</strong>ntes primários <strong>da</strong> exposição <strong>da</strong>s criançasao conteúdo televisivo.Ao serem solicitados a caracterizarem violência, manifestaram-se de formasdiferentes, indicando alguns aspectos no âmbito dos valores, sentimentos ecomportamentos que consideram conter marcas de violência, apontando para osgêneros televisivos e, outras vezes, referindo-se a programas. Um menor número depais especificou os aspectos violentos reconhecidos nos gêneros ou programas.Os pais relataram os aspectos violentos <strong>da</strong> programação televisiva com baseem manifestações de seus filhos sobre os conteúdos dos programas que assistem e,em percepções pessoais decorrentes de suas próprias vivências. O conjunto deseus relatos inclui diferentes dimensões de violência presentes <strong>na</strong> programaçãotelevisiva e revelam estarem impreg<strong>na</strong>dos de elementos que emergem <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>deem geral, de especialistas e que circulam nos próprios meios de comunicação.Dentre os aspectos descritos como violentos e que dizem respeito avalores reconhecem...mentiras, aborto, roubo, consumo, esperteza (no sentido delevar vantagem)...só faz arte e se dá bem..., sentimentos como...ódio,comportamentos agressivos como..lutas e panca<strong>da</strong>ria ou sensuais e de erotização ...a parte sexo seria uma parte que feriria eles de uma forma complica<strong>da</strong>. A maisvelha, ela já consegue... a gente já conversou com ela, mas é uma coisa que ela nãose sente à vontade.Os pais também consideram violentas, situações em que determi<strong>na</strong>dosobjetos estão presentes...quando têm armas...,ou, quando a imagem é manipula<strong>da</strong>para gerar sentido e, até mesmo quando prevalece...um caráter irreal, mágico...,entendido como a tentativa de transformar o impossível em reali<strong>da</strong>de, que noâmbito dos valores pode ser interpretado como um desrespeito à capaci<strong>da</strong>de decompreensão do outro.Apontaram ain<strong>da</strong> como violento tudo aquilo que percebem ou que ascrianças declaram que as impressio<strong>na</strong>, e, ao procurarem exemplificar o fato,188


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdeixam demarca<strong>da</strong> a diferença entre violência real e ficcio<strong>na</strong>l...as meni<strong>na</strong>s ficammuito impressio<strong>na</strong><strong>da</strong>s com documentários sobre insetos...ela tem medo de umbichinho, venenoso que é capaz de matar um ser humano.Ao se referirem à violência, outros optaram por fazê-lo a partir dos gêneros ecitaram os telejor<strong>na</strong>is, as novelas, os desenhos animados e a publici<strong>da</strong>de,apontando para marcas de violência nos gêneros nele contidos.Segundo os pais os telejor<strong>na</strong>is impressio<strong>na</strong>m não só por terem referência noreal, mas também em função <strong>da</strong> forma que a reali<strong>da</strong>de assume, evidenciando oreconhecimento <strong>da</strong> manipulação que o veículo permite e <strong>da</strong> intencio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>na</strong>construção do sentido...M. assistiu um cara levantando a cabeça de outro, semaqueles quadradrinhos ...uma cabeça decapita<strong>da</strong>.Nas novelas, dentre os aspectos violentos incluíram...ce<strong>na</strong>s deagressivi<strong>da</strong>de e eróticas, que geram a precoci<strong>da</strong>de <strong>na</strong> criança, bastanteindutiva...acho bastante complicado.Quanto à violência presente nos desenhos animados, os comentários foram...Os desenhos que apresentam sangue espirrando, olhos esbugalhados, cara demedo, perso<strong>na</strong>gens com problemas... aqui fica nítido que o adulto está mais presoà imagem, sem levar em conta outros elementos <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa. Afirmamtambém...principalmente os japoneses..., porém sem especificar os elementosresponsáveis por esta percepção.Com relação à publici<strong>da</strong>de somente uma mãe fez referência àviolência...Outro dia vi <strong>na</strong> TV uma propagan<strong>da</strong>, que dizia que a criança era malucapor pedir à mãe para comprar brócolis. Para nós que trabalhamos com nutrição eexercício de controle de doença é agressiva, porque a propagan<strong>da</strong> estádeseducando, uma coisa que leva anos para educar, onde a gente mostra aimportância de legumes e verduras, etc...Cabe considerar, que a forma como a TV insere a criança em suaprogramação tem sido amplamente discuti<strong>da</strong> e entendi<strong>da</strong> como violenta, uma vezque nela a criança nem sempre é retrata<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as suas possibili<strong>da</strong>des, aocontrário, <strong>na</strong> maioria <strong>da</strong>s vezes aparece para <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de a um adulto e, outras,189


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAcomo vitrine <strong>da</strong> violência, por ser objeto de abusos sexuais, pornografia e estupros.Dentre os gêneros televisivos a propagan<strong>da</strong> aparece como o principal espaço devalorização <strong>da</strong> imagem <strong>infantil</strong>, porém, nesse caso específico, a desconstrução devalores propostos foi considera<strong>da</strong> uma violência à criança.As falas dos pais deixam explícito que reconhecem em seus filhos reaçõesdiferentes frente à violência real ou ficcio<strong>na</strong>l...Quando ele vê a reali<strong>da</strong>de, se senteque aquilo é real, então ele fica meio assustado. Ele não gosta de ver muito isso.Quando o bandido mata alguém sem motivo, isso assusta a ele. Ele vê que éreali<strong>da</strong>de.E, com relação à violência ficcio<strong>na</strong>l, comenta...O desenho não. Quando eleestá jogando, está atirando, está matando...mas é brincadeira. Quando ele vê areali<strong>da</strong>de, ele fica bem...no filme Carandiru ele assustou, ele viu a reali<strong>da</strong>de ficouimpressio<strong>na</strong>do. Ele perguntava o porquê <strong>da</strong>quelas coisas, porque acontecia, como éo crime...Somente Rebeldes, Malhação e Power Rangers foram os programascitados pelos pais ao falarem sobre o consideravam violência. A violênciareconheci<strong>da</strong> em Malhação foi assim defini<strong>da</strong>...abor<strong>da</strong> mentiras, aborto, roubo,envolve conflitos interpessoais ...Eu acho que isso não chega a violento, masdesrespeitoso... embora possa ser uma tentativa de educar não sei se estácumprindo esse papel e também ...algumas ce<strong>na</strong>s de casais que eu acho muitoforte para o horário. Já a violência em Power Rangers... eu sei que é um monte deboneco lutando, se batendo. Eu sei que isso não é legal...Neste caso, a mãe seapropria de conhecimento que circula em nível de senso comum, se apropria desseconhecimento como ver<strong>da</strong>de absoluta, sem apontar apresentar um posicio<strong>na</strong>mentopessoal a respeito.Outra mãe abordou uma violência inerente à lógica que rege a dinâmicatelevisiva decorrente <strong>da</strong> disputa pela audiência, que não avalia a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>programação ofereci<strong>da</strong> ou as necessi<strong>da</strong>des dos espectadores em termos sociais epessoais e, mantém os telespectadores, subjugados a esquemas pré-determi<strong>na</strong>dos,a construções sensacio<strong>na</strong>listas, à violência gratuita, portanto, em condições devulnerabili<strong>da</strong>de.190


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAprofun<strong>da</strong>ndo a temática, a pesquisa procurou conhecer a opinião dos paissobre a possível relação entre violência televisiva e comportamentos infantis<strong>da</strong> mesma <strong>na</strong>tureza.As respostas mostraram que os pais não elimi<strong>na</strong>m a possibili<strong>da</strong>de de que ascrianças, em especial as menores, possam reproduzir o que vêem...há filmes queeles assistem que levam eles a se comportarem de determi<strong>na</strong><strong>da</strong> forma, e, você vaiver que tem a ver com determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s coisas que eles assistem (...) <strong>na</strong> i<strong>da</strong>de de trêsanos eu percebia que as meni<strong>na</strong>s queriam fazer igual <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem tal...<strong>da</strong>sMeni<strong>na</strong>s Superpoderosas, Super Homem. Depois, acho que não. Quando erammenores sim, hoje não.Uma mãe, professora <strong>na</strong> pré-escola, apesar de reconhecer que as criançasfalam muito dos desenhos e imitam as lutas neles presentes, trazem máscaras,gostam de se fantasiar como os perso<strong>na</strong>gens...eles reproduzem, queremimitar...mas isso de luta vai ser sempre, é <strong>na</strong>tural...A graça é a luta...Outra mãe comenta...Eles ficavam lutando um com o outro, atéirritava...com certeza é o desenho, mas eu não acho que isso atrapalhe, eles nãovão se tor<strong>na</strong>r crianças violentas por causa do desenho.Para compreender a razão <strong>da</strong>s crianças reproduzirem o que assistem épreciso trazer <strong>da</strong> Psicologia os conceitos de desenvolvimento e aprendizagem,imitação e identificação. A aprendizagem decorre em dois estágios, imitação 174 eidentificação 175 . A imitação desempenha um papel crucial no desenvolvimento e <strong>na</strong>174 A compreensão desse processo e de seu papel específico depende <strong>da</strong> teoria de desenvolvimentoconsidera<strong>da</strong>. Segundo Piaget a imitação tem papel fun<strong>da</strong>mental <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> representação,estando inicialmente presente <strong>na</strong>s reações circulares e portanto, centra<strong>da</strong>s no corpo do bebê e deacordo com Vygotsky, considera uma intensa relação entre imitação e desenvolvimento, sendo queatravés <strong>da</strong> imitação são inter<strong>na</strong>lizados mediadores socioculturais <strong>da</strong>s funções superiores.175 O Mecanismo de Identificação pressupõe um interjogo de projeções- introjeções e incorporaçõesque têm no vínculo mãe-bebê e no grupo familiar, um espaço psíquico intersubjetivo onde seprocessa a transmissão psíquica geracio<strong>na</strong>l, que precisa ser metaboliza<strong>da</strong> e sofrer transformações ese constitui no berço psíquico do sujeito. Quando estas identificações lhe são nega<strong>da</strong>s o indivíduopode diminuir, ou evitar a angústia identificando-se com outras pessoas ou grupos, de forma a seproteger. Muitas identificações ocorrem no mundo <strong>da</strong> fantasia e temos como exemplo a criança queidentifica-se com seu herói favorito, a moça que identifica-se com a “mocinha” <strong>da</strong> novela...191


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAaprendizagem sobre o mundo pela criança, vista como importante para asocialização, linguagem e cognição.A imitação corresponde ao estágio inicial e as identificações só ocorremquando determi<strong>na</strong>do conteúdo se depara com necessi<strong>da</strong>des mais profun<strong>da</strong>s.Considerando as aprendizagens <strong>da</strong>s crianças a partir <strong>da</strong> mídia televisiva MerloFlores, reconhece a partir de suas pesquisas, que de acordo com as necessi<strong>da</strong>des<strong>da</strong>s crianças, decorrentes de um equilíbrio interno alcançado <strong>na</strong>s relações familiares,os modelos imitados serão ou não, introjetados pelas crianças.Os relatos obtidos deixam nítido o reconhecimento <strong>da</strong> imitação como umprocesso inicial <strong>da</strong> aprendizagem, que ocorre principalmente em crianças menores,como declaram os pais considerando a i<strong>da</strong>de de seus filhos. Reconhecem ain<strong>da</strong> aimitação como uma ação provisória, substituí<strong>da</strong> ou modifica<strong>da</strong> durante odesenvolvimento.De acordo com outro relato, a filha mais velha, é a que mais gosta de TV, e, amãe não vê seu comportamento mu<strong>da</strong>r por isso. Assim se pronuncia arespeito...Acredito que a TV não influencia...a parte mais agressiva que eles ouvem,por exemplo, matou o pai, a mãe...eles comentam bastante. Isso éerrado.(remetendo-se à fala <strong>da</strong> filha)...A gente leva sempre para o outro lado. Achoque isso é <strong>da</strong> pessoa, não é a TV que vai influenciar....Eu acho que uma criançapode ver uma coisa... é lógico que uma coisa muito violenta, um jogo muito violento,eu acho que não deve ser bom, mas eu acho que quando...um jogo tipo GTA queele atira, mata...que <strong>na</strong> cabeça dele seja só um jogo, que não traga uma coisa deviolência, que desperte algo, eu acho normal.Ao falar de ce<strong>na</strong>s de sexo presentes em Malhação e, de a criança reproduziro que vê, a mãe comenta...Eu acho que ele não entende muito. Às vezes ele faz unscomentários que ele escuta <strong>na</strong> Malhação, ele vem perguntar, mas ele não entende oque eles querem dizer. Às vezes ele fala alguma coisa que ouviu <strong>na</strong> TV, que a gentesabe que não entendeu, mas ele comenta...casais!...ficou!...estava <strong>na</strong>morando um edepois ficou com outro, a gente vê que ele não entendeu. Essa parte <strong>na</strong> Malhaçãoeu não concordo, por causa do horário.192


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEste depoimento acrescenta a necessi<strong>da</strong>de, de a análise considerar asestratégias cognitivas dos telespectadores, como determi<strong>na</strong>ntes <strong>da</strong>s percepções ereações dos mesmos, frente às <strong>na</strong>rrativas dos discursos televisivos.Somente uma mãe demonstrou acreditar <strong>na</strong> relação direta, entre violência nosdesenhos animados televisivos e, manifestação de violência <strong>na</strong> criança....Eu acho que sim, porque nessa época o J.V. acabava brigando com o vizinho quetem que a mesma i<strong>da</strong>de dele. Ele falava: vou te matar! Eles pegavam um taco degolfe...um tacou o taco <strong>na</strong> cabeça do outro e <strong>na</strong>s costas. Ele nunca tinha feito issoantes, só de vez em quando uma discussão. Depois que a gente começou a tirar umpouco o desenho, começamos a comprar para ele DVD bem light... ficava contandohistória para ele. Depois disso ele melhorou, ele desenha...ele é muito carinhoso. Osdesenhos dele sempre têm coração, mamãe, papai, vovó. (relata que os desenhosanteriores continham sangue)A maioria dos entrevistados não acredita <strong>na</strong> influência direta <strong>da</strong> TV sobre ocomportamento <strong>da</strong> criança. Os pais reconhecem que a TV participa do processoeducativo, mas responsabilizam outros espaços como a família e a escola... Afamília tem papel...se não a pessoa não falaria para manter seus filhos o maiortempo possível com a família, porque a socie<strong>da</strong>de é perversa. Afirmam ain<strong>da</strong> que aviolência está em to<strong>da</strong> a parte, inclusive <strong>na</strong> própria casa, não só <strong>na</strong> televisão, advém<strong>da</strong>s diferentes mídias...A violência está <strong>na</strong> TV, <strong>na</strong>s revistas, <strong>na</strong> VEJA...é complicado,no computador, no videogame. Nos joguinhos...tem ca<strong>da</strong> jogo que você fala: o que éisto? O cara perde a cabeça, sai sem a per<strong>na</strong>, é uma coisa meio assustadora.Os depoimentos dos pais mostram que acreditam ser a interferência <strong>da</strong>televisão maior ou menor, em função do contexto mais amplo de experiências emque se insere...Você vai para uma favela e a pessoa fica com agressivi<strong>da</strong>de tododia.Uma <strong>da</strong>s mães, a telespectadora mais assídua dentre as entrevista<strong>da</strong>s, assimse posicio<strong>na</strong>...eles podem assistir ao que quiserem ...só mudo de ca<strong>na</strong>l se perceberque eles ficam impressio<strong>na</strong>dos, que esteja fazendo mal para eles...Antes eu assistia193


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIALinha Direta, mas deixei de ver pois percebi que era ruim para o P.(refere-se aofilho).Declara estar sempre acompanha<strong>da</strong> dos filhos e que a oportuni<strong>da</strong>de de estarjunto com os pais, faz com que as crianças acabem discernindo, sem que hajanecessi<strong>da</strong>de de proibir.Poucas vezes os pais que disseram assistir TV com seus filhos, nãoconhecem a programação <strong>infantil</strong>, a <strong>na</strong>rrativa ou os perso<strong>na</strong>gens dos desenhos, e,assim as decisões sobre o que permitir ou não, dependem principalmente <strong>da</strong>srepresentações construí<strong>da</strong>s no âmbito social mais amplo.Os aspectos apontados como merecedores de restrição são de âmbitosdiversos e decorrem de muitas questões que afetam de forma particular os paisconsultados. Uma <strong>da</strong>s mães disse que controla principalmente o tempo e o horário ejustifica dizendo que reconhece ser a TV, responsável pelo aumento crescente decrianças obesas, não só por que permanecem sem ativi<strong>da</strong>des físicas, mas tambémem função do consumo que instigam, determi<strong>na</strong>ndo certos hábitos alimentares.Os pais foram in<strong>da</strong>gados especificamente sobre o consumo, e este pareceuser um aspecto com o qual estes pais têm conseguido li<strong>da</strong>r adequa<strong>da</strong>mente.Segundo declararam, embora seus filhos manifestem desejo em relação a algunsprodutos, reconhecem as condições fi<strong>na</strong>nceiras ou momentos de compra.Quando a questão é a influência do desenho animado no comportamento<strong>infantil</strong>, a discussão sobre o consumo incide de forma mais específica sobre oconsumo dos produtos atrelados aos conteúdos dos desenhos. Representam apossibili<strong>da</strong>de de os mesmos se perpetuarem <strong>na</strong>s brincadeiras, proporcio<strong>na</strong>ndo àscrianças meios práticos para representar eventos e comportamentos.Durkin & Low citam estudo que demonstra surgirem níveis altos decomportamento agressivo, após crianças terem assistido a desenho violento ebrincado com brinquedos agressivos associados. “Sanson& Di Muccio argumentaram que aexposição a desenhos animados, violentos e a subseqüente brincadeira com brinquedos baseados194


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA<strong>na</strong> série assisti<strong>da</strong> fornecem à criança uma oportuni<strong>da</strong>de para ensaiar “scripts” agressivos derivadosou reforçados pelos programas”. 176A presente pesquisa mostrou terem as questões relativas a sexo esexuali<strong>da</strong>de, superado a preocupação com a violência entendi<strong>da</strong> como agressãofísica, sendo vistas como ameaçadoras para as crianças, não só pelo sexo em si,mas pelo fato de o corpo ser tratado como “objeto” 177 ...aquelas adolescentes(referindo-se a Rebeldes)... são mulheres que se vestem de maneira sensual e, ...cheias de artimanhas para conseguir as coisas, enga<strong>na</strong>ndo...Os filmes de terror,assim como mortes e batalhas, palavrões e xingamentos, correspondem a outrosaspectos que os pais gostariam de evitar.O controle velado ou explícito parece ser a forma mais habitual de agirem emrelação às situações que consideram ameaçadoras para a integri<strong>da</strong>de subjetiva deseus filhos e este tipo de controle substitui a discussão com os filhos sobre osreferidos temas. De forma oposta, este controle emerge como um exercício deautori<strong>da</strong>de.Agnes Heller 178 atribui importante papel à discussão, que considera“...uma forma indispensável de contato cotidiano, entendi<strong>da</strong> como forma coletiva depensamento que preserva o indivíduo <strong>da</strong>s decisões historicamente negativas, deidéias equivoca<strong>da</strong>s e de reações unilaterais, que podem servir de antídoto contra aparticulari<strong>da</strong>de, uma vez que, concepções orienta<strong>da</strong>s neste sentido podem serconfronta<strong>da</strong>s com as opiniões dos outros, certamente matiza<strong>da</strong>s, mais ou menos,imersas <strong>na</strong> cotidiani<strong>da</strong>de.”176 DURKIN, K. & LOW, J. Criança, Mídia e Agressão. In: CARLSSON, Ulla & FEILITZEN, CeciliaVon. (Org.) A criança e a violência <strong>na</strong> mídia. S.P., Cortez, Brasília:UNESCO, 1999.p.129177 Neste sentido objeto de troca, usado como moe<strong>da</strong> de compra e ven<strong>da</strong> e, portanto,atrelado avalores morais e éticos de uma outra ordem, que extrapola o sexo ou a sensuali<strong>da</strong>de em si.178 HELLER, A. O cotidiano e a história. Petrópolis(R.J.), Paz e Terra, 1985.195


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs depoimentos <strong>da</strong>s mães são reveladores de que o casal não conversa comos filhos especificamente sobre as temáticas <strong>da</strong> programação que as preocupam,nem mesmo quando compartilham com as crianças a programação televisiva. Odiálogo com os filhos segundo as mães, pouco acontece e se restringe a si<strong>na</strong>lizaruma ce<strong>na</strong> que não gostariam que os filhos vissem ou a esclarecer as dúvi<strong>da</strong>s quesurgem em relação à <strong>na</strong>rrativa ou aos perso<strong>na</strong>gens...O que vai acontecer? Por queessa pessoa vai morrer?Questio<strong>na</strong>mentos como estes e outros de <strong>na</strong>tureza diversa, devemacompanhar a criança nos diferentes momentos, em que se encontram diante <strong>da</strong>TV. Quase sempre ficam sem respostas, uma vez que os pais, ou estão fora decasa, ou, quando em casa, acabam por se envolver com outra ativi<strong>da</strong>de, ou comuma programação específica de seu interesse.A audiência não compartilha<strong>da</strong> com amigos, ou com os pais, deixa espaçopara que a mídia, instituição reconheci<strong>da</strong> e revesti<strong>da</strong> de relativa autori<strong>da</strong>de,impessoal e estrutura<strong>da</strong> de forma a neutralizar o conflito, ofereça as explicações deque necessitam. Com isso não se pretende dizer que esta relação tenha o poder deassujeitamento incondicio<strong>na</strong>l, de um total submetimento, mas este éreconheci<strong>da</strong>mente maior, caso as estratégias de aprendizagem pelos sujeitos, nãoincluíam autonomia de pensamento, considerando que <strong>na</strong> infância, as estratégiasiniciais de aprendizagem se inserem no plano <strong>da</strong> imitação.É importante ressaltar, terem os pais deixado nítido que pensar a influência<strong>da</strong> televisão hoje implica pensar sobre outras mídias e seus dispositivos. Ofato de ca<strong>da</strong> vez mais cedo as crianças fazerem uso do computador, não só parapesquisa escolar, mas para jogar, baixar desenhos que passam em ca<strong>na</strong>is porassi<strong>na</strong>tura, ou fazer uso <strong>da</strong> Internet, MSN ou orkut, tem gerado em alguns delesgrande preocupação, em função <strong>da</strong> grande possibili<strong>da</strong>de de diálogo com estranhosque essa mídia possibilitaNo mundo contemporâneo, a Internet surge como alter<strong>na</strong>tiva de ação, emuma ci<strong>da</strong>de que ca<strong>da</strong> vez mais exige cui<strong>da</strong>dos para um circular seguro, traz apossibili<strong>da</strong>de de deslocamentos de forma simples e rápi<strong>da</strong>, sem que a criança fiquesubmeti<strong>da</strong> a restrições de diferentes ordens, que o an<strong>da</strong>r pela ci<strong>da</strong>de exige.196


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACastro descreve de forma significativa, as bases de circulação <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de.A circulação pela ci<strong>da</strong>de impõe-se como condição do viver urbano. Para visitaramigos, fazer compras, divertir-se, entre outras tantas ativi<strong>da</strong>des que crianças ejovens realizam, tem-se que embrenhar no labirinto de ruas e aveni<strong>da</strong>s, passagense becos para chegar (...) entretanto, os modos de circulação, os lugares escolhidos,onde se quer chegar, com quem e quando, são produções desde já determi<strong>na</strong><strong>da</strong>spor condições dos sujeitos como i<strong>da</strong>de, pertencimento real e imaginário a gruposeconômicos, estilos de vi<strong>da</strong> e experiência cultural (...) Crianças mais do que osjovens transitam nestes espaços com restrição (...) As crianças aprendem comsuas mães que não devem <strong>da</strong>r atenção a estranhos, que não devem ir para outroscantos, que não devem se demorar...as crianças falam de seus medos e de suasmães em relação ao que pode lhes acontecer <strong>na</strong>s ruas...tenho medo..de alguémme pegar 179Os relatos a seguir demonstram a preocupação de alguns dos pais...Outro diaele estava jogando on-line e o cara xingando ele, porque estava ganhando. É umacoisa preocupante, porque você não sabe até que ponto alguém está mexendo comseu filho ali...Agora mesmo ele tá num jogo, o Guardião, para se tor<strong>na</strong>r o Guardião,ele precisa pagar 19 dólares, eu não sei para onde vai isso...Outra mãe relatou que uma amiga <strong>da</strong> filha pediu para entrar <strong>na</strong> Internet paraver alguma coisa, mentiu e entrou em um site de paquera...ela (a meni<strong>na</strong>) disse quefalou um monte de mentira ..Olha que perigo! Eu falei que não pode de jeito nenhumfazer isso, pode ser uma pessoa...vê o que é a Internet...Com o computador e a Internet to<strong>da</strong>s essas possibili<strong>da</strong>des, visitar outrosespaços, jogar, fazer compras, se realizam sem que haja restrição de qualquerordem para que a criança entre em qualquer lugar, aja em qualquer espaço,inclusive forjando sua condição e identi<strong>da</strong>de, podendo até mesmo ser interpela<strong>da</strong>por estranhos a qualquer momento, podendo ser captura<strong>da</strong> por uma armadilha, oque justifica o fato de os pais reconhecerem as ativi<strong>da</strong>des junto à Internet como umaameaça, e, terem medo.179 CASTRO, L.R. de. A Aventura Urba<strong>na</strong>: crianças e jovens no Rio de Janeiro. R.J., FAPERJ/ 7Letras, 2004. p.74-75.197


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAJustificando a concepção de que não se pode responsabilizar a mídiaincondicio<strong>na</strong>lmente, o depoimento de uma mãe retoma um caso bastantedivulgado...Sobre aquele caso do Shopping Morumbi, do rapaz que atirou em todomundo. Dizem que é parecido com um jogo. Meu filho perguntou: mãe, por que elefez isso? Eu acho que ele além de estar aficcio<strong>na</strong>do <strong>na</strong>quele jogo, ele devia teralguma coisa, um distúrbio, alguma coisa para agir <strong>da</strong>quele jeito...Eu acho que umafamília estrutura<strong>da</strong> com certeza contribui com uma criança que não tem uma atitudeviolenta.Um único pai entrevistado declarou que a violência nos desenhos tem umoutro aspecto, pois se manifesta contrário ao que mais comumente se ouve e,reconhece a preocupação dos diferentes agentes. Segundo ele, embora nosdesenhos haja arma de fogo, elas são usa<strong>da</strong>s para proteger do mal 180 e, consideraque há mais possibili<strong>da</strong>des de que as crianças assistam menos desenhos violentos,do que acontecia antigamente...por incrível que pareça os desenhos que elesassistem não apresentam mortes, acho que a própria TV foi ...não digo que existacensura, mas alguma coisa de violência gratuita...arma de fogo tem, mas só usacontra o super-homem mas não adianta. Não vejo uma violência gratuita. Eu vejonos desenhos como combater aquilo, mas eu acho, que têm muito menos violência,do que um tempo atrás. Quando eu era criança acho que os desenhos eram maisviolentos, é minha impressão. Hoje eles tentam explicar mais. Os ca<strong>na</strong>is estãofiltrando isso. Isso não é conteúdo adequado para um ca<strong>na</strong>l Cartoon, Disney,Discovery ...Neste último não vejo <strong>na</strong><strong>da</strong> de violência.Sem dúvi<strong>da</strong>, a fala deste pai exter<strong>na</strong> o resultado de mu<strong>da</strong>nças decorrentes depressão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, de especialistas e de enti<strong>da</strong>des inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is, que têmreivindicado um novo olhar sobre a criança e sobre a mediação televisiva, além deoutras mu<strong>da</strong>nças atrela<strong>da</strong>s à lógica de consumo, que fizeram surgir os ca<strong>na</strong>issegmentados, voltados para nichos específicos, e, oferecendo opções diferencia<strong>da</strong>s.180 Especialistas contrariam a concepção desse pai <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que acreditam que mensagensdessa <strong>na</strong>tureza...’violência usa<strong>da</strong> para proteger do mal/’, instigam a aceitação de atos violentos,oferecendo risco para aprendizagem de comportamentos agressivos.198


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA partir dos relatos obtidos foi possível concluir que:• Os pais disseram ficar pouco tempo em casa e assistir TV, principalmente ànoite ou, quando não saem aos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>; somente duas mãesdisseram gostar de vários programas e assistirem uma varie<strong>da</strong>de deles,inclusive durante o dia;• Alguns têm um discurso bastante crítico em relação à programação, porém, otempo que afirmam dedicar à TV, parece contradizer essa fala;• A maioria não conhece a programação que seus filhos vêem, e permitem queassistam, e às vezes intervêm para desviar a atenção frente a determi<strong>na</strong>dosconteúdos.• A maior parte se diz envolvi<strong>da</strong> com o uso <strong>da</strong>s mídias pelos filhos e declaracontrolar o que os filhos assistem e, em menor extensão, o que jogam nocomputador ou videogame ou suas interações <strong>na</strong> Internet;• As estratégias de controle <strong>da</strong> televisão incluem: tempo de uso, programas,horários (proibindo os que concorrem com dormir, comer, fazer lição de casa);• Quanto à programação, preocupam-se principalmente com determi<strong>na</strong>dosconteúdos: sexo e violência, sendo a violência simbólica, menos reconheci<strong>da</strong>;• Os pais mostram-se ambivalentes quanto ao reconhecimento dos efeitos <strong>da</strong>programação televisiva, embora a maioria demonstre acreditar que a mídianão opera num vácuo e que, especialmente a família contribua <strong>na</strong> construção<strong>da</strong>s representações, há os que acreditam no efeito direto <strong>da</strong>s mídias;• Apontam a violência presente em diferentes gêneros televisivos, em especialos desenhos japoneses e afirmam que a violência atrela<strong>da</strong> ao real ou à ficção,afeta de forma diferente as crianças.Todos os aspectos elencados integram as vivências e as percepções dos paisentrevistados e, coincidem com as representações construí<strong>da</strong>s no cotidiano,circulam em nossa socie<strong>da</strong>de, correspondem ao conhecimento de senso-comumsobre a violência televisiva e seus efeitos sobre as crianças e passam a seconstituírem em ver<strong>da</strong>deiras teorias, confirmando a importância de se reconhecer199


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAque o senso-comum está impreg<strong>na</strong>do de ciência e que cabe à ciência apropriar-sedo conhecimento do senso comum 181 .6.2. A programação televisiva e as representações infantis: o que as criançasassistem e por que assistemO grande aumento de violência no mundo, principalmente pratica<strong>da</strong> porcrianças e jovens, tem sido atribuído ao contato <strong>da</strong>s crianças com uma mídiaaponta<strong>da</strong> por pais, educadores e socie<strong>da</strong>de em geral, como “ca<strong>da</strong> vez maisviolenta”.Considerando que os desenhos correspondem a maior parte <strong>da</strong> programaçãoque as crianças vêem <strong>na</strong> TV, a socie<strong>da</strong>de tem proposto a existência de umacorrelação entre desenho animado violento e construção, <strong>na</strong> infância, desubjetivi<strong>da</strong>des agressivas, ou mesmo atribuído a ele, a formação de valores sobre aprópria agressivi<strong>da</strong>de, a estetização <strong>da</strong> violência ou a legitimação ética de meiosviolentos, <strong>na</strong> linha de... “os fins justificam os meios.”O desenho animado tem sido responsabilizado ain<strong>da</strong>, por tor<strong>na</strong>r as criançasvulneráveis a situações agressivas ou violentas, levando-as a reagir com respostasde medo, a situações reais e ficcio<strong>na</strong>is.Na tentativa de mapear os hábitos televisivos e reunir o maior número deinformações que pudessem se constituir em espaços de construção derepresentação de violência, este estudo considerou importante conhecer aprogramação com a qual as crianças têm se envolvido e as razões que as fazemeleger, como preferido ou não, determi<strong>na</strong>dos programas ou desenhos.Ao serem in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong>s sobre o que assistem, as crianças reafirmaram assistir auma ampla gama de programas, independente dos que lhe são direcio<strong>na</strong>dos, como181 Sobre ciência e cotidiani<strong>da</strong>de, Heller coloca que não se trata de afirmar que as categorias <strong>da</strong>cotidiani<strong>da</strong>de sejam alheias às esferas não-cotidia<strong>na</strong>s. Basta aludir à função desempenha<strong>da</strong> pelosprecedentes <strong>na</strong> ativi<strong>da</strong>de política, pela a<strong>na</strong>logia <strong>na</strong> comparação científica e artística, pela mimese epela ento<strong>na</strong>ção <strong>na</strong> arte. Mas esta limita<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de de categorias, jamais significou umaidenti<strong>da</strong>de cultural com, ou uma assimilação pelas formas de ativi<strong>da</strong>de e conteúdos <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong>de.200


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAfilmes, novelas, noticiários, e, indicaram ser o desenho animado, o gênero preferidopor elas. 182Muitas delas, ao invés de fazerem referência aos desenhos, nomearam osca<strong>na</strong>is responsáveis pela transmissão dos mesmos, uma vez que o desenhoanimado tem ocupado espaço maior <strong>na</strong> TV e, principalmente com a TV a cabo, quea partir de 1997, optou por introduzir uma série de ca<strong>na</strong>is especializados. 183Demonstrando estarem bastante familiariza<strong>da</strong>s com a programação <strong>da</strong> TV porassi<strong>na</strong>tura, citaram Boomerang, Cartoonnetwork, Discovery Channel, DiscoveryKids, Fox Kids, Jetix, Multishow e, <strong>da</strong> TV aberta, SBT, Cultura e TV Globinho.Quanto aos programas que assistem indicaram TV XUXA, Malhação, Clubedo Terror e, novelas <strong>da</strong> Globo, além de Cristal, Rebelde, Chaves, O Menino Pererê,Vila Maluca, Eu, a Patroa e as Crianças, Jor<strong>na</strong><strong>da</strong> <strong>na</strong>s Estrelas, e filmes comoTarzan, Rei Arthur, Tróia e de Velho Oeste, programas de humor e os noticiários.Rebelde e o Jor<strong>na</strong>l foram os programas mais citados.Ao fazerem referência aos desenhos elencaram cerca de cinquenta (50)desenhos como preferidos, dentre eles, americanos e japoneses (anexo E). Emboraos desenhos atuais tenham predomi<strong>na</strong>do sendo escolhido por maior número decrianças, os desenhos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 40, mostraram ain<strong>da</strong> atender ao gosto dotelespectador dos anos 2000.De acordo com pesquisa 184 que traçou um quadro comparativo dos desenhosexibidos durante os 50 anos de existência <strong>da</strong> televisão no Brasil, foi constatado, queos temas que compõem o conteúdo <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas dos desenhos não sofrevariações significativas, independente <strong>da</strong> época em que foram produzidos.Permanecem abor<strong>da</strong>ndo temas ambivalentes como amor e ódio, <strong>na</strong>scimento e182 PACHECO, Elza Dias (Org.) Televisão , Criança e Imaginário e Educação: contribuições para aintegração escola/ universi<strong>da</strong>de/ socie<strong>da</strong>de. Campi<strong>na</strong>s(S.P), 2002.183 Os ca<strong>na</strong>is infantis segmentados decorrem de movimentos sociais que levaram as emissoras areconhecerem sua responsabili<strong>da</strong>de sobre os produtos que veicula, atrelado aos avançostecnológicos que possibilitaram as transmissões a<strong>na</strong>lógicas e a TV por assi<strong>na</strong>tura. A segmentaçãoestá atrela<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, a uma lógica capitalista que investiu de forma maciça <strong>na</strong>s crianças,reconhecendo-as como importante fatia do mercado.É importante citar que muitas emissorassegmentam-se de acordo com a origem do desenho e passam a se caracterizar por isto. Ao indicar aemissora, a criança está <strong>da</strong>ndo pistas do tipo de desenho que assiste.184 MAREUSE, M.A.G. 50 anos de desenho animado <strong>na</strong> televisão brasileira. S.P, <strong>ECA</strong>/<strong>USP</strong>, 2002.(Dissertação de Mestrado)201


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAmorte, forças do bem e do mal, representados por bruxas, dragões, heróis e vilões e,expressos por mitos, símbolos e metáforas, sendo suas principais mu<strong>da</strong>nçasdecorrentes de características de produção, tais como novos recursos de imagem,sons e movimentos e <strong>da</strong>ndo-lhes nova configuração.Sobre isso a pesquisa integra<strong>da</strong>, Desenho Animado <strong>na</strong> TV: mitos, símbolos emetáforas 185 , a partir de representações de crianças sobre desenhos preferidos,constatou serem o enredo e as características dos perso<strong>na</strong>gens, mais significativosde suas representações, se comparados à estrutura ou aos recursos utilizados <strong>na</strong>construção dos desenhos, o que explica a permanência dos desenhos antigos entreos preferidos e desconstrói a idéia de que os desenhos hoje sejam mais violentos.É importante considerar ain<strong>da</strong>, que o desenvolvimento tecnológico aopossibilitar a produção em série de desenhos, passou a alimentar a indústria culturale a lógica de consumo.Os indicados por maior número de crianças foram: Padrinhos Mágicos (6),Bob Esponja (6), Megaman (5), seguidos por Cyberchaise, Yu-Gi-Oh (4), Dexter (3),Jackie Chan (3) e Jimmy Nêutron (3). Os desenhos citados compõem o anexo D.(descrição resumi<strong>da</strong> – ficha técnica)Ao citarem os desenhos as crianças foram leva<strong>da</strong>s a falar sobre eles e suasdescrições envolveram diferentes aspectos. Análise <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s crianças sobre osdesenhos citados confirmou o quanto elas embarcam <strong>na</strong> <strong>na</strong>rrativa do desenho, emsuas histórias, imagens, falas, movimentos e interagem com os perso<strong>na</strong>gens, comos símbolos e com as metáforas neles presentes.A reprodução <strong>da</strong> estrutura familiar, a presença de animais, o poder, a ação ea transformação, a luta do bem contra o mal, a comici<strong>da</strong>de, a incompetência e ageniali<strong>da</strong>de foram elementos que ressaltaram a percepção <strong>da</strong>s crianças. Aogarantirem a verossimilhança 186 , estes aspectos presentes <strong>na</strong> <strong>na</strong>rrativa dos185PACHECO, Elza Dias. Desenho Animado <strong>na</strong> TV: mitos, símbolos e metáforas. S.P.,LAPIC/<strong>ECA</strong>/<strong>USP</strong>, 1998. (Pesquisa Integra<strong>da</strong>)186 O conceito de verossimilhança é essencial para qualquer <strong>na</strong>rrativa, pois é ela que permite aoespectador (no caso <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa televisiva), se envolver com a mesma. Apesar do nome,verossimilhança não implica uma relação tão estreita com a ver<strong>da</strong>de quanto possa parecer. Ela nãoestá relacio<strong>na</strong><strong>da</strong> com o que ocorre de fato <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de, mas com as convenções que a própria<strong>na</strong>rrativa impõem. Estas convenções podem ser retira<strong>da</strong>s de noções pré –estabeleci<strong>da</strong>s ou podem202


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAdesenhos permitem a negociação entre as vivências no plano <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa e asexperiências pessoais <strong>da</strong>s crianças, possibilitando que a comunicação se efetive.As crianças, ao discorrerem sobre os desenhos, deixam nítido asconsiderações acima. Com relação a Padrinhos Mágicos, assim se pronunciaram...(R., 6 anos)...é o desenho meu favorito geralmente...Tem os padrinhos que sãomágicos...um se chama Cosme e o outro Wan<strong>da</strong>...eles fazem ficar rico, ficar jovem...Eu sempre quis ter padrinhos mágicos, mas eu sei que não existe.(V., 8 anos)...Os desejos são muito legais e os padrinhos realizam.(I., 9 anos)...É legal, realizam os desejos do menino.(A.P., 11 anos)...Diz gostar mais do perso<strong>na</strong>gem...pois é inteligente e faz pedidosradicais (...) Os padrinhos atendem para se divertir.Estes comentários dizem bem de perso<strong>na</strong>gens e situações presentes <strong>na</strong> vi<strong>da</strong>real, como os padrinhos, e, <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des de realização de desejos que osmesmos representam. Os desejos propostos coincidem ain<strong>da</strong>, com aspirações deconsumo presentes <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de atual...eles fazem ficar rico.Percebe-se ain<strong>da</strong> <strong>na</strong>s falas <strong>da</strong>s crianças, o quanto a fantasia envolvi<strong>da</strong> nospoderes atribuídos aos padrinhos, alimenta o imaginário, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que consiste<strong>na</strong> possibili<strong>da</strong>de de atender à deman<strong>da</strong> de satisfação destes desejos.“Este é o papel dos discursos ficcio<strong>na</strong>is- realizar o encontro do mundo <strong>da</strong>objetivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> pura interiori<strong>da</strong>de...desenvolvemos a ficção como forma depeculiar de experimentar a vi<strong>da</strong>, a qual está presente já <strong>na</strong>s primeirasmanifestações expressivas <strong>da</strong> criança – nos jogos, nos contos e <strong>na</strong>s invençõesinfantis(...)À medi<strong>da</strong> que atingimos a i<strong>da</strong>de adulta, adotamos uma atitude maisracio<strong>na</strong>l e lógica como base de nossas relações diante <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e dos outros,relegando a experiência ficcio<strong>na</strong>l para espaços mais recônditos e íntimos ou paraáreas considera<strong>da</strong>s de menor importância- o lazer, o entretenimento e oespetáculo 187ser cria<strong>da</strong>s origi<strong>na</strong>lmente <strong>na</strong> <strong>na</strong>rrativa, está diretamente ligado com o universo cultural e histórico doespectador e é <strong>da</strong>do a partir <strong>da</strong> aproximação, ou não, dos eventos com estas convenções.187 COSTA, Cristi<strong>na</strong>. Ficção, comunicação e mídias. S.P., SENAC, 2002, p.30.203


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASobre outro desenho citado, Megaman, os comentários foram...(I., 9 anos)...É legal , eu gosto <strong>da</strong>s lutas...(R., 6 anos)...Ele tem um chip, que coloca ...a mão dele vira uma espa<strong>da</strong>, umescudo, essas coisas...uma mão gigante.Com esse chip ele se transforma...eledestrói os inimigos....Eu acho que não é violento..o Megaman tem <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> real, elesconstruíram para as crianças brincarem...(in<strong>da</strong>gado se é um boneco responde)...éaquilo que eu te falei é um chip e um pet... Tem <strong>na</strong> loja (para comprar).Outro exemplo <strong>na</strong> mesma linha é o desenho Yu-Gi-Oh, e assim sepronunciam as crianças.(V., 9 anos)...Negócio Virtual e muitas vi<strong>da</strong>s...Gosto mais dos monstros e dos jogos,<strong>da</strong>s cartas ... e <strong>da</strong>s lutas, do poder de transformação para lutar melhor. É a históriade um egípcio, que tem um talismã (enigma). Relata que tem jogo no computador,cartas e videogame...Teve até campeo<strong>na</strong>to <strong>na</strong> escola..., afirma o menino.A transformação do perso<strong>na</strong>gem é o elemento mágico que atrai estascrianças, ao mesmo tempo em que os dois desenhos incluem elementos do mundodigital, característica que os insere no contexto real. No caso do Megaman, o chip, eo pet disponível para comprar e, com Yu-Gi-Oh a aproximação com o mundo <strong>da</strong>informática e do virtual, inclui jogos no videogame e no computador, além <strong>da</strong>s cartas.Assim, ca<strong>da</strong> qual integra à sua maneira, elementos que remetem ao contextosócio-cultural dos espectadores e, circulam entre o real, o imaginário e o simbólicodos telespectadores infantis.Outros desenhos com discursos diferentes são capazes de atrair as criançaspela presença de elementos semelhantes, a transformação e os poderes. Oscomentários a seguir confirmam esta proposição.( R., 6 anos)...O Múmia espera as pessoas virem para ele chupar o sangue...Eugosto do menino que tem bracelete, e pode fazer tudo e guia ele para onde quer ir. .Esses buracos é porque ele é uma múmia e é mau, e tem um escravo que é humanoe faz tudo o que ele quer. O menino é uma criança e o bracelete faz o que ele quer.204


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEm diferentes mídias como o DVD ou o computador, proliferam os desenhosanimados que as crianças vêem e incluem em seus comentários. Exemplo é odesenho citado a seguir, Os Incríveis, que R., 6 anos diz não passar <strong>na</strong> televisão...sótem em DVD.( R., 6 anos)...Tem um pai que é forte, a mãe que é elástica, o filho que é rápido e afilha que é invisível e pode fazer um escudo. Eles têm que destruir um cara que éviolento. No fim, o inimigo vira um cara mais forte ain<strong>da</strong> e rouba o bebê. O bebê setransforma em dragão e eu me esqueci.A rapidez e a instantanei<strong>da</strong>de que beira a invisibili<strong>da</strong>de são ver<strong>da</strong>deirasmarcas do mundo contemporâneo, ver<strong>da</strong>deiros escudos que viabilizam a atuação <strong>na</strong>socie<strong>da</strong>de. Esse parece ser um espaço significativo de negociação entre o real, oimaginário e o simbólico encontrado nesse desenho. O dragão e o monstro seencarregam do poder e <strong>da</strong> força, <strong>da</strong> realização <strong>da</strong>quilo que se coloca comoimpossibili<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>, ao mesmo tempo em que possibilitam exorcizar o medo doanormal.Os comentários sobre Clube <strong>da</strong>s Winxs retomam a magia, ao mesmo tempoem que esbarram <strong>na</strong> comici<strong>da</strong>de. As fa<strong>da</strong>s fazem referência ao universo feminino eàs possibili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s mulheres vencerem os monstros, sobressaírem-se. O desenhofoi citado por uma meni<strong>na</strong>, indicativo de que nele se sente representa<strong>da</strong>.(J., 8 anos)...São 5 fadinhas, elas voam, elas aju<strong>da</strong>m pessoas. É muitolegal...ensi<strong>na</strong>m muitas magias...Elas entraram em um clube, muitas...Quando vemum monstro, elas atacam... É bem engraçado. Elas aju<strong>da</strong>m as pessoas também. Porisso que elas man<strong>da</strong>m o monstro que é amigo delas para estragar alguma coisa queelas fazem de legal.Na mesma linha, mas trazendo à to<strong>na</strong> as vivências <strong>da</strong>s crianças <strong>na</strong> família, asinterações com os amigos e com o animal de estimação, a capaci<strong>da</strong>de e esperteza<strong>da</strong>s crianças, foram citados Turma do Bairro, Dexter e Du, Dudu & Edu.(E.,7anos)...Três meninos muito atrapalhados, que querem roubar dinheiro dosoutros, gostam de bala de caramelo...(Du, Dudu & Edu )205


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(M.,9 anos)...São 5 pessoas, meninos e meni<strong>na</strong>s, como se fosse o Dexter, elesinventam coisas...(Turma do Bairro)(L.,11 anos)...É um desenho de um menino esperto...A irmã dele fica atrapalhandoele, quando ele tenta fazer alguma coisa...Pega as máqui<strong>na</strong>s dele e tenta destruirela ... tem uma coisa importante, é uma família...têm amigos e têm um cachorro.Raramente aparecem (os familiares) ... O cachorro aparece bastante... (Dexter)Com relação a Jimmy Neutron as referências parecem ser as mesmas.(S., 8 anos)... Menino gênio, amigos engraçados...E prosseguem falando de outros desenhos como Cyberchase.(M., 10 anos)... Ele ensi<strong>na</strong> Matemática, fazer contas...(L., 6 anos)...Tem um monte de países estranhos, quadrado, redondo, às vezes tembriga...Tem que achar os coelhinhos e saltar. A placa mãe ganha sempre...Inu-Y-asha(L.,8 anos)...Tem uma espa<strong>da</strong> que combate os inimigos...gosto, é minhapaixão!...Tem uma espa<strong>da</strong> que usa para o bem, ele nunca mata. Antes ele matavatudo o que vinha pela frentePókemon(M., 9 anos)...Dos bichos, <strong>da</strong>s lutas, é muito legal!Cavaleiros do Zodíaco(A., 6 anos)...Gosto <strong>da</strong>s lutas e <strong>da</strong>s armaduras, não <strong>da</strong> história...(G., 7 anos)... Tem cavalos, guerreiros e estábulo..eu tenho três jogos <strong>da</strong> ÉpocaMedievalPower Rangers(M., 9 anos)... Garotos que foram chamados para protegerem a terra de uns vilões206


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMega XRL(V., 6 anos) É de luta...o robô mega é o criador origi<strong>na</strong>l...tem a Diva e um portal detempo e espaço...é de luta é engraçado...é animação japonesa.A partir destas falas percebe-se o espaço de negociação que ocorre entre aação comunicativa exerci<strong>da</strong> pelo desenho e a ação ativa <strong>da</strong> criança em lê-lo, combase em suas referências, seu imaginário e no acervo cultural grupal, atribuindo-lhesignificados, num exercício de construção de sentidos para os fatos reais presentesem seu cotidiano que resultam em diferentes representações.Moscovici ao propor o conceito de Representação Social definiu-a como umamo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de conhecimento particular que tem por função a elaboração decomportamentos e a comunicação entre os indivíduos, mediatiza<strong>da</strong> pela linguagem,pelo simbólico, tor<strong>na</strong>ndo intelegíveis a reali<strong>da</strong>de física/social, inserindo o indivíduoem um grupo e estabelecendo trocas.Desta forma, a representação social determi<strong>na</strong> o campo <strong>da</strong>s comunicaçõesdos possíveis valores e <strong>da</strong>s regras compartilha<strong>da</strong>s pelo grupo e que regem ascondutas, apresentando-se como o sentido pessoal que é atribuído aos significadoselaborados socialmente.Apesar <strong>da</strong> crescente preocupação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de com a violência televisiva,incluindo a violência presente nos desenhos animados, os discursos infantisapontam em outra direção, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que ao se expressarem sobre osdesenhos/ programas que assistem, gostam ou não gostam, foi possível identificarserem a maioria dos eleitos como preferidos, desenhos inocentes, em quepredomi<strong>na</strong> a magia e, que a razão de gostarem <strong>da</strong>s lutas está a atrela<strong>da</strong> ao fim aque se desti<strong>na</strong>m 188 .188 Pesquisas mostram que certos desenhos oferecem maior risco por envolvem violência tolera<strong>da</strong>,como por exemplo salvar alguém, opor-se ao mal.207


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA6.3. O desenho animado e a representação <strong>infantil</strong> de violênciaDesven<strong>da</strong>r a representação de violência construí<strong>da</strong> pela criança, contribuipara ampliar as possibili<strong>da</strong>des de compreensão dos efeitos do contato próximo eintenso com a TV, num mundo em que a mídia, ca<strong>da</strong> vez mais reconheci<strong>da</strong> comoviolenta, se constitui em espaço significativo de socialização e construção deidenti<strong>da</strong>des, especialmente <strong>na</strong> infância.As discussões e os estudos sobre violência <strong>na</strong> mídia decorrem de umadetermi<strong>na</strong><strong>da</strong> concepção de violência e o percurso teórico <strong>na</strong> busca de umaconceituação, mostrou que violência não se caracteriza por uma ato ou fato, mas seconstitui como um fenômeno que possui diferentes interfaces. É necessárioreconhecer que em diferentes momentos e contextos, para diferentes povos, deacordo com as diferentes áreas do conhecimento, um fenômeno pode assumir ounão, a condição de violência.Principalmente atrela<strong>da</strong> à idéia de agressão, envolvendo força física einstrumentos, no mundo contemporâneo, o conceito de violência incorpora, ca<strong>da</strong> vezmais, elementos menos visíveis. Yves Michaud oferece uma definição que pretendeabor<strong>da</strong>r tamanha complexi<strong>da</strong>de.“Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem demaneira direta, maciça ou esparsa, causando <strong>da</strong>nos a uma ou várias pessoas, emgraus variáveis, seja em sua integri<strong>da</strong>de física, seja em sua integri<strong>da</strong>de moral, emsuas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais.“ 189Avaliar a influência <strong>da</strong> mídia violenta <strong>na</strong> “perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de” <strong>infantil</strong>, pressupõeprimeiramente identificar quais dos aspectos presentes <strong>na</strong> definição de Michaud,compõem a definição de violência presente no mundo <strong>da</strong> criança.Com este intuito, a partir <strong>da</strong> aproximação <strong>da</strong> criança com a programaçãotelevisiva e, de forma mais específica com os desenhos animados, as entrevistasforam orienta<strong>da</strong>s para responder:189 MICHAUD,Y. A Violência. São Paulo, Ática, 1986, p.10-11.208


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA• O que é violência para a criança?• Quando um desenho animado é considerado violento?• A criança reconhece os desenhos japoneses como mais violentos do que osnorte-americanos?• A representação de violência pela criança difere <strong>da</strong> representação do adulto?• Que elementos compõem a representação de violência para a criança ?Do discurso que resultou <strong>da</strong>s entrevistas foram isola<strong>da</strong>s categorias possíveisde favorecerem a obtenção de respostas para as questões elenca<strong>da</strong>s.Ao serem in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong>s sobre “o que é violência” e “quando um desenhoanimado é considerado violento”, as respostas <strong>da</strong>s crianças apontaram para algunsaspectos considerados marcas desses discursos e passaram a integrar ascategorias, que orientaram a tabulação e análise do conteúdo dos mesmos. Estascategorias visaram isolar e agrupar os seguintes aspectos:• O que as crianças identificam como violento• O que as crianças identificam como não violento• O que dizem gostar ou não gostar, mas não identificam como violento• Respostas que repetem o que os outros dizempara:As falas <strong>da</strong>s crianças com relação ao que identificam como violento apontam(L.,8 anos)... quando tem espa<strong>da</strong> ou arma...(R.,6 anos)... quando tem ladrão, armas e batalha ...quando a múmia chupa o teusangue...(I., 8 anos)... o cara dá soco <strong>na</strong> cara do outro, que o cara começa a vomitar sangue(têm coisas que não se pode fazer)...(L., 7 anos)... luta, soco, sangue, morte...(P., 9 anos)... muita morte...(R., 9 anos)...quando tem arma , começam a <strong>da</strong>r tiro e o outro morre...(M., 9 anos)...luta livre, soco, sangramento, os caras acabam morrendo...209


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(L., 8 anos)...desenho mais violento é Músculo Total e a Liga dos Músculos porquetem muita luta ...A Liga é de luta livre, tem soco, sangramento... os caras acabammorrendo... (Isso assusta muito).No universo <strong>infantil</strong>, as armas foram aponta<strong>da</strong>s como marcas de violência,mas não a caracterizam. As crianças citaram as espa<strong>da</strong>s, armas indiferencia<strong>da</strong>s ouque dão tiros, como instrumentos que agridem, porém simultaneamente se referiramao soco, que depende somente do vigor <strong>na</strong>tural, sem fazer distinção, entre uma ououtra ação.Dentre as mediações possíveis está, a idéia do uso <strong>da</strong> força <strong>na</strong>tural ou deinstrumentos que possam ampliar essa força <strong>na</strong> ação contra o outro, sem quenecessariamente assuma o sentido de violência. O uso <strong>da</strong> espa<strong>da</strong> não tem porfi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong>r fim ao outro, mas lhe atribui força e poder. Dadoun, também retoma aproximi<strong>da</strong>de entre violência e poder , uma vez que o poder afronta e utiliza aviolência, que por outro lado sempre exprime uma certa forma de poder “... chega-sea pensar que o único problema real do poder é a violência., e que a única ver<strong>da</strong>deirafi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> violência é o poder. “ 190É possível comparar as marcas de violência indica<strong>da</strong>s pelas crianças comosoco, luta com as práticas punitivas <strong>na</strong> I<strong>da</strong>de Média, pois envolvem o corpo, deonde, segundo Foucault 191 surge a forte associação entre violência e agressão físicaque persiste até hoje, mesmo reconhecendo-se outras formas de violência.Segundo Arendt 192 , a violência se aproxima do vigor e dele se diferencia, porseu caráter instrumental, em que meios, instrumentos, ferramentas, são utilizadoscom o objetivo de aumentar o vigor <strong>na</strong>tural, e as crianças percebem isso, ao sereferirem às armas ou ain<strong>da</strong> ...arma não, um machado...machado não é arma.Nas descrições aponta<strong>da</strong>s, também aparece a concepção de violênciaretrata<strong>da</strong> como um momento de domi<strong>na</strong>ção do homem pelo próprio homem (<strong>na</strong> luta,<strong>na</strong>s batalhas, um vence e o outro perde), introduzindo a idéia de violência associa<strong>da</strong>190 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio sobre o “homo violens”.R.J., Difel, 1998, p. 82.191 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões. 9ª ed. Petrópolis, Vozes,1991.192 ARENDT, A. Sobre a Violência. R.J., Relumé-Dumará, 1994 (1969).210


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAa poder e força. De forma contrária à definição de violência proposta por Arent, quedistingue vigor, força, poder e autori<strong>da</strong>de, de violência, ao mesmo tempo em quepropõe a relação entre os conceitos.Os relatos <strong>da</strong>s crianças nos conduzem a pensar que as conseqüências dedetermi<strong>na</strong>do ato, implicam <strong>na</strong> sua identificação e valoração, levando-o a serencarado como violento ou não, ou sirvam ain<strong>da</strong> como medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>violência.As crianças fazem referência a determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s ações e conseqüências queDadoun 193 define como a forma mais óbvia de violência, a agressão física, o tirar avi<strong>da</strong> de outrem. No caso <strong>da</strong>s citações elenca<strong>da</strong>s a agressão física com ou semarma, que resulta em <strong>da</strong>nos para o outro, em especial a morte 194 , faz do referido ato,um ato de violência.O desenho permite experienciar a morte, <strong>da</strong>no maior, resultado do poder, <strong>da</strong>força maior de um sobre o outro. Segundo alguns...morte no desenho não causamedo...Porém, embora em menor número, houve os que declararam......os caras acabam morrendo...Isso assusta muito....quando mata é aterrorizante e complementa...morte no desenho é legal porquenão é de ver<strong>da</strong>de.A morte corresponde à violência extrema (pode vir antecedi<strong>da</strong> desangramento) e o relato <strong>da</strong>s crianças ao se referirem a ela foi...isso assusta e...éaterrorizante. Assustar muito e ser aterrorizante são expressões sinônimas eindicativas de pavor, muito medo ou apreensão, no caso, diante <strong>da</strong> morte. Porém,este grande medo descrito, o estado de apreensão que gera, não está associadocom um não gostar, ao contrário...é legal, porque no desenho.193 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio sobre o “homo violens”.R.J., Difel, 1998.194 A morte é ti<strong>da</strong> como um acontecimento medonho, pavoroso, um medo universal, mesmo sabendoseque o homem é capaz de dominá-la em vários níveis (KUBLER-ROSS, 1985). Este sentimento éparte <strong>na</strong>tural do comportamento humano, e <strong>na</strong>s culturas que a percebem como acontecimento<strong>na</strong>tural, o medo de morrer não está presente. WOLFF, L.D.G. A compreensão <strong>da</strong> experiência de sercui<strong>da</strong>dora de enfermagem em uma uni<strong>da</strong>de de terapia intensiva pediátrica. Florianópolis, 1996,Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Setor de Ciências <strong>da</strong> Saúde,Universi<strong>da</strong>de Federal deSanta Catari<strong>na</strong>211


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADadoun 195 ao mostrar que a violência acompanha o homem do <strong>na</strong>scimento àmorte e está em to<strong>da</strong> parte, insere neste universo o tempo e a morte, esta últimacomo resultado <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s decorrentes <strong>da</strong> passagem do tempo.A<strong>na</strong>lisa a expectativa <strong>da</strong> morte por si só, como uma violência que se imprimeà humani<strong>da</strong>de, que o homem traz consigo pela incompreensão de um mistério, omistério <strong>da</strong> morte.A perspectiva de um retorno dos mortos e a possibili<strong>da</strong>de de se imagi<strong>na</strong>rematormentados por eles é também uma violência que paira sobre os vivos. Os mortosno imaginário social podem retor<strong>na</strong>r e, muitas vezes como fantasmas, para castigaros vivos.Li<strong>da</strong>r com a finitude <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, sempre despertou grande temor no ser humano,estando presente <strong>na</strong>s crenças, valores e visão de mundo que ca<strong>da</strong> um traz. Demodo geral a morte é assunto evitado, senão proibido, mesmo entre os adultos e,pouco as crianças participam dos rituais <strong>da</strong> morte, embora saibam que acontece,têm curiosi<strong>da</strong>de em participar e assim, se aproximar dela.A ficção cumpre este papel ao possibilitar à criança o encontro com a morte,ao permitir que satisfaça a necessi<strong>da</strong>de e o desejo de compreendê-la, porém deuma forma mais ame<strong>na</strong>, uma vez que a morte <strong>na</strong> ficção, não determi<strong>na</strong> o fim dotempo e inclui o retorno.Somente uma meni<strong>na</strong> ao responder o que é violência, não faz alusão àviolência extrema, porém a si<strong>na</strong>liza citando <strong>da</strong>nos ao corpo e inclui a integri<strong>da</strong>demoral.(S., 8 anos)...gritar com outro, bater, quebrar per<strong>na</strong> e braço trazem para o universo<strong>da</strong> violência, formas de tratamento mais comuns e, nem sempre considera<strong>da</strong>s comotal. É importante considerar que entrevista com a mãe revelou preocupação maiordos pais com estes aspectos.Em outra categoria encontram-se algumas crianças que não conseguiramexpressar o que viria a ser violento e verbalizaram:195 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio sobre o “homo violens”.R.J., Difel, 1998.212


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(G., 11 anos)... violento é o que tem só tem violência... ou,(J., 8 anos)... ninguém tinha falado disso para mim antes... e, mais tarde, ...violento éuma coisa muito agita<strong>da</strong>...Tem um desenho meio agitado que eu não gosto deassistir muito...eles lutam com monstro (o desenho referido é Jackie Chan) e,in<strong>da</strong>ga<strong>da</strong> se agitado é quando tem luta, responde afirmativamente. Percebeu-se apartir <strong>da</strong>s repostas do irmão e <strong>da</strong> mãe ao questionário, que usam o termo paixão emvez de sexo, que a magia nos desenhos é controla<strong>da</strong> (a mãe usa o termo espiritismono lugar de magia e, que são bastante comprometidos com a religião)Outras crianças não conseguem traduzir em palavras o conceito de violência,e se expressam indicando desenhos, como referência.(G., 11anos)...violento é pouco mais que Jackie Chan...(L., 8 anos )... Alien vs Pre<strong>da</strong>dor é violento...Jackie Chan e Alien vs Pre<strong>da</strong>dor são metáforas de que se utilizam parafazerem referência à violência. As imagens evoca<strong>da</strong>s pelo desenho funcio<strong>na</strong>m comoelementos mais concretos <strong>na</strong> construção do pensamento destas crianças, recursoslinguísticos utilizados diante <strong>da</strong> ausência de signos verbais.Por outro lado, há crianças que afirmam não reconhecerem violência nosdesenhos. Estes são alguns dos depoimentos.(J.V., 6 anos)...Não conheço desenho violento ...(B., 10anos)... Não, porque sei que é desenho...(L., I0 anos)...Não, que eu conheça não (desenho violento)...(V.,6 anos)... Desenhos não são violentos...De <strong>na</strong>turezas diversas foram as razões apresenta<strong>da</strong>s pelas crianças, ao seposicio<strong>na</strong>rem sobre a violência <strong>na</strong> mídia. Suas considerações vão de encontro aosfatores contextuais descritos por Wartella et.al. 196 .196 WARTELLA, E., OLVAREZ, A.& JENNINGS, N. A criança e a violência <strong>na</strong> televisão nos EUA.CARLSSON, U. & FEILITZEN, C.V. A criança e a violência <strong>na</strong> mídia. São Paulo, Cortez,Brasília:UNESCO, 1999, p. 61-70.213


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAWartella descreve um conjunto de fatores contextuais presentes em umaexibição e identificados no Estudo Nacio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> Violência <strong>na</strong> Mídia (NTVS),considerados capazes de influenciar as reações do público à violência. Com basenestes fatores, diz Wartella, é possível afirmar que nem to<strong>da</strong> violência se apresentacom o mesmo grau de risco, e que determi<strong>na</strong><strong>da</strong>s características presentes em umasituação representa<strong>da</strong>, favorecem a incorporação dos modelos propostos. Apesar deencontrarmos estes fatores contextuais presentes <strong>na</strong>s falas <strong>da</strong>s criançasentrevista<strong>da</strong>s, e, de reconhecermos que a presença deles pode minimizar a força doato/ fato violento, o presente estudo discor<strong>da</strong> de que estes fatores estariamdirecio<strong>na</strong>ndo diretamente os comportamentos infantis.Os fatores contextuais citados 197 têm a ver com a <strong>na</strong>tureza do perpetrador, <strong>da</strong>vítima, razão para violência, uso de armas, extensão/ caráter explícito <strong>da</strong> ce<strong>na</strong>,recompensas e punições, conseqüências <strong>da</strong> violência, humor.Nas falas <strong>da</strong>s crianças que participaram deste estudo alguns destes fatoresficam evidentes. As citações abaixo se referem ao realismo, uma vez que deixamevidente a não identificação de violência no desenho, mas justificam com base noreconhecimento de que não é ver<strong>da</strong>de...não pertence ao universo do real.(I.,6 anos)...a morte no desenho é legal, porque não é de ver<strong>da</strong>de, é de mentira(G, 8 anos)...Desenhos com briga não assusta, porque sei que é desenho, é de197Fatores Contextuais• Natureza do perpetrador: Quando o perpetrador é atraente é mais provável de ser copiado emsuas atitudes;• Natureza <strong>da</strong> vítima: Quanto maior o envolvimento do espectador com a vítima maior a ansie<strong>da</strong>dee o medo ;• Razão para a violência: Motivos do perso<strong>na</strong>gem para se envolverem em violência legitimam aação e aumentam a tendência à imitação;• Uso de Armas: O uso de armas e não só de sua força física pelo perso<strong>na</strong>gem, faz com que apresença de revólveres e facas aumente agressivi<strong>da</strong>de do expectador;• Extensão/ Caráter Explícito <strong>da</strong> Violência: O tempo de duração e o fato de uma ce<strong>na</strong> ser exibi<strong>da</strong>,de perto ou de longe, pode aumentar a dessensibilização, a aprendizagem e o medo;• Recompensas e Punições: Violência recompensa<strong>da</strong> ou não puni<strong>da</strong> favorece a aprendizagem decomportamentos agressivos;• Conseqüências <strong>da</strong> Violência: o <strong>da</strong>no e a dor resultante <strong>da</strong> violência pode desencorajar aviolência;• Realismo: Ce<strong>na</strong>s mais próximas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de causam mais medo,e, ao mesmo tempo são maiscapazes de encorajar agressão nos espectadores do que as ce<strong>na</strong>s não realísticas;• Humor: Quando a violência é apresenta<strong>da</strong> de forma humorística, passa a ser interpreta<strong>da</strong> comomenos devastadora e mais tolera<strong>da</strong>.214


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAmentira...(M., 7 anos)...algumas coisas do jor<strong>na</strong>l é de ver<strong>da</strong>de...o que é de desenho é dementira...Apontam ain<strong>da</strong> para outros elementos, pautados <strong>na</strong> razão /fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de <strong>da</strong> açãoque amenizam a percepção de um ato como violento.(M., 9 anos)...Power Rangers é mais ou menos violento porque dá tudo certo nofi<strong>na</strong>l...(L., 8 anos)...É mais ou menos violento quando a espa<strong>da</strong> é usa<strong>da</strong> para combaterinimigos...(B.,10 anos)...Os Padrinhos Mágicos tem alguns que é violento...eles ficambrigando...As crianças fazem referência ain<strong>da</strong> ao humor, elemento percebido comocapaz de minimizar o caráter violento(R., 9 anos)...No desenho, quando as máqui<strong>na</strong>s que o Dexter inventa agem contraas pessoas não é violento, é até engraçado... e, ain<strong>da</strong> faz referência(R.,9 anos)...Billy e Mandy...são meninos que querem defender o mundo. Tem umaarma, atira e eles morrem...(é um machado, não é arma...gosto de luta, achoengraçado. Aqui o fato de a violência ter como instrumento um machado, parecetor<strong>na</strong>r o ato menos violento, o que vai de encontro a outro fator de contextoidentificado , o uso de armas.É importante salientar que os aspectos citados como característicos deviolência são apontados como razão de gostarem de determi<strong>na</strong>dos programas oudesenhos. Dessa forma é possível concluir que a violência presente nos desenhosos aproxima deles.(R., 6 anos).... Megaman é legal ... gosto <strong>da</strong>s lutas e dos perso<strong>na</strong>gens...tem espa<strong>da</strong>larga longa que faz ele mu<strong>da</strong>r de forma..e um aerochip, é um chip de computadorque tem barreira para aju<strong>da</strong>r os amigos215


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(L.,8 anos)...Gosto de desenho assim como o Ynu-Y-Asha em que o perso<strong>na</strong>gemtem uma espa<strong>da</strong> para combater os inimigos... ou Samurai X que tem espa<strong>da</strong> para sedefender(P., 9 anos)...Gosto de Yu-Gi-Oh um jogo de cartas...gosto dos monstros e <strong>da</strong>s lutase de tiros ...(L., 6anos)... Gosto de Jackie Chan (desenho citado como exemplo de violência poralgumas crianças).(V., 6 anos)...Todos os desenhos violentos são os mais legais(R.,9 anos)... Gosto de Billy e Mandy... são meninos que querem defender o mundo.Tem uma arma, atira e eles morrem....(é um machado, não é arma)...gosto <strong>da</strong> luta,acho engraçado.(R., 6 anos)...Gosto de filme de arma (meu pai não deixa assistir)(J., 8 anos)...Gosto do Clube <strong>da</strong>s Winxs...desenho que tem muita magia e que asfa<strong>da</strong>s atacam o monstro e aju<strong>da</strong>m as pessoas...(R., 9 anos)...Gosto do Bey-Blend, que tem luta entre os peões...(L., 11anos)...Gosto do Dexter...<strong>da</strong>s máqui<strong>na</strong>s que constrói para tentar destruir airmã...(G.,7anos)... Gosto de Cavaleiros do Zodíaco...o desenho é de luta, mas eugosto......Gosto <strong>da</strong>s armaduras ...<strong>da</strong>s lutas contra o mal...Outro menino A., 6 anos diz gostar de Cavaleiros do Zodíaco e segundo eletem muito sangue e não assusta...(reconhece um elemento característico deviolência mas não percebe como tal).(M., 9 anos). Gosto de Powers Rangers ...garotos chamados para protegerem a terrados vilões...tem luta , soco e sangramento ...isso assusta muito.O que se desprende <strong>da</strong>s falas crianças ao apontarem o que gostam nosdesenhos é que as lutas representam ação, movimento, força, poder etransformação e isso agra<strong>da</strong>. Ao mesmo tempo essas falas apresentam umajustificativa positiva como conseqüência do ato agressivo.216


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAo citarem as razões que os levam a não gostarem dos desenhos, a violêncianão aparece entre os determi<strong>na</strong>ntes.(M.,7anos)...Boo (perso<strong>na</strong>gem do desenho Zoboomafoo) é bobo, ele fica <strong>da</strong>nçandono fi<strong>na</strong>l...(J.V., 6 anos)... Buckyardigans... parece desenho de bebê...(I., 9 anos)...Músculo Total não tem aventura, ação e humor...é um cara que ficaforte e luta...(L., 7anos, M., 7anos, V.,8 anos)...Barney é muito <strong>infantil</strong>...é um boneco e do <strong>na</strong><strong>da</strong>vira um gigante...(P., 7anos) Power Rangers é uma bobeira... todo mundo sabe...encosta e os carasmorrem,(morrem sem violência) sai faísca, não tem graça...(R., 6 anos)...De um cara roxo e com buracos (é uma múmia) e é mal...(G., 11anos)...Do Pókemon... porque tem muita magia...o cara que entra dentro <strong>da</strong>bola, que mata os Pokemons de outro mundo......Não gosto de desenho de meni<strong>na</strong>...Barbie, Hellô Kitty...As verbalizações <strong>da</strong>s crianças revelam, que ao contrário do que se imagi<strong>na</strong>,elas preferem desenhos que apresentem as mais diversas formas de agressão e,que raramente atos tidos como violentos estão entre as razões do não-gostar. Sóuma meni<strong>na</strong> disse:(M., 9 anos)...Eu odeio desenho de luta, me irrita...os de bebezinho também meirritam...eu não gosto de desenho de palavrão...minha mãe não gosta e eu tambémnão gosto e não vejo.Porém, nem sempre os desenhos deixam de causar medo e levá-los a sonharou ter pesadelo, diante de ameaças, mesmo vindo de perso<strong>na</strong>gem ficcio<strong>na</strong>l.(I., 7 anos)...todo dia eu rezo para não ter pesadelo com o desenho do “Yasha”,porque uma vez eu tive e ele me partiu com a espa<strong>da</strong> ao meio...(Ig., 6 anos)...só um dia eu sonhei que o Chuck tirou todos os cobertores e eles erambonecos. Foi assustador...217


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(A., 9 anos)...Quando assisto desenho de dragão, tenho pesadelo de vez emquando...uma vez sonhei com o Chuck e me assustei...desenho violento com morte,causa medo..Por outro lado, (I., 6 anos) afirma que não sonha com aquilo queassiste...Eu rezo, eu sonho que eu fico rico.Os conteúdos de ansie<strong>da</strong>de e medo relatados frente a determi<strong>na</strong><strong>da</strong>ssituações, muitas vezes revividos durante o sono, <strong>na</strong> forma de sonho ou pesadelo,oferece um caminho para a compreensão dos efeitos <strong>da</strong> programação sobre asubjetivi<strong>da</strong>de <strong>infantil</strong>, dependendo de como o sonho venha a ser representado pordiferentes estudiosos.Os sonhos <strong>na</strong> Antigui<strong>da</strong>de sempre tiveram grande importância, por seremvistos como possibili<strong>da</strong>de do psiquismo desdobrar-se em outras identi<strong>da</strong>des ou viverde forma diferencia<strong>da</strong> outras situações, indo de encontro a outras práticas quepermitiam esse desdobramento psíquico, como os rituais de possessão ou asativi<strong>da</strong>des de mediação religiosa. Mais tarde, em função do cientificismo que marcoua moderni<strong>da</strong>de, foram relegados. Os sonhos trazem flagrantes <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cotidia<strong>na</strong> e nocaso <strong>da</strong>s crianças, o desenho animado faz parte <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong>de. Costa, assim semanifesta sobre os sonhos...”espaços que marcam a plurali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mente huma<strong>na</strong>, uma vez que nospermitem reviver, sobe a forma de semi-reali<strong>da</strong>des- as mentiras, as ilusões, aspossessões, as hipocrisias e as ficções (...)semi-reali<strong>da</strong>des <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que nosfazem viver situações com maior ou menor consciência de nossa parciali<strong>da</strong>de emrelação a elas. 198Freud reconhece a importância e a necessi<strong>da</strong>de de buscarmos não só nosfenômenos conscientes a compreensão do sujeito e traz o sonho para o universodestas reflexões, reconhecendo <strong>na</strong> sua linguagem um discurso que se organiza demaneira cifra<strong>da</strong>, que remete ao passado e não pode oferecer modelos para o futuro.198 COSTA, Cristi<strong>na</strong>. Ficção, Comunicação e Mídias. S.P. SENAC, 2002, p.28.218


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAo contrário, para Benjamin, o sonho traz a possibili<strong>da</strong>de de estabelecer ocaos por meio <strong>da</strong> descontextualização do espaço e do tempo, em que o revivernoturno compreende a construção antecipatória do novo. ‘’Os sonhos individuais ecoletivos se completam, citam-se como se uma corrente única circulasse entre ambos, criando umsistema de interações”. 199As duas concepções mostram o sonho como um deslocamento <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>deobjetiva, forma indireta de viver a reali<strong>da</strong>de, marcado pela ambigüi<strong>da</strong>de do texto,porém diferem com relação a serem considerados como uma experiência intrasubjetivaou intersubjetiva de experimentar a reali<strong>da</strong>de.De acordo com Benjamin, a única diferença entre sonho e ficção estaria porconta do tempo, espaço e perso<strong>na</strong>gens, que <strong>na</strong> ficção são contextualizados <strong>na</strong>reali<strong>da</strong>de. No entanto, as duas concepções, mesmo que por caminhos distintosapontam para a necessi<strong>da</strong>de de os diferentes elementos dos discursos infantisserem considerados quando se tem como proposta a compreensão <strong>da</strong> relação entremídia e subjetivi<strong>da</strong>de.E como conceber o duplo que compreende o sonhar com a ficção que ascrianças nos relatam? A ficção incorpora<strong>da</strong> ao sonho, corresponde a uma reali<strong>da</strong>dea ser desven<strong>da</strong><strong>da</strong>? A resposta a estas e outras questões dessa <strong>na</strong>tureza permitemresgatar a compreensão <strong>da</strong> experiência vivi<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a sua complexi<strong>da</strong>de.Os relatos sobre outros programas fazem com mais frequência e intensi<strong>da</strong>de,alusão às ce<strong>na</strong>s que os impressio<strong>na</strong>m, causam medo, assustam, que setransformam em pesadelo, demonstrando serem menos vulneráveis à violênciaidentifica<strong>da</strong> nos desenhos e experimentarem mais reações de ansie<strong>da</strong>de e medo,frente a outras situações presentes em gêneros específicos <strong>da</strong> programaçãotelevisiva.As falas <strong>da</strong>s crianças referentes a situações que as atemorizam e causamestresse foram agrupa<strong>da</strong>s em três categorias: filmes de terror, situações que seremetem a possibili<strong>da</strong>des reais, que poderiam atingi-las e, por fim, e, a violência realretrata<strong>da</strong> pelos telejor<strong>na</strong>is, em especial o terrorismo.199 JOBIM e SOUZA, Solange. Infância e Linguagem: Bakhtin, Vygotsky e Benjamin. S.P., Papirus7ed, 2003, p. 80.219


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADiante dos filmes de terror as crianças manifestam diferentes sensações ereações. Relatam sentir medo, arrepio, ou reagir de forma agressiva, xingando operso<strong>na</strong>gem. Outras vezes, sonham. Estas reações decorrem de situaçõessemelhantes às presentes nos desenhos.Com relação aos filmes de terror assim se pronunciaram:(L. 6 anos)...Assusta só coisas de terror, porque isso não existe (frente a comentáriodo colega que disse ter tido um sonho assustador com Chuck)(Ig.,6 anos)...Fico assustado com filmes de fantasma, eles ficam lutando depoisficam arranhados......Alien vs. Pre<strong>da</strong>dor , esse filme dá medo...(A., 6 anos)...Tenho medo de lobisomem, mula sem cabeça...(G, 7 anos)...Tenho medo de filme de terror como Freddy Krugel...(L.,11anos)...Filme de Freddy Krugel, um cara que mata todo mundo. Passa no SBT,às 22:30 hs. ou às 20:30 hs., só nos domingos. Mas não passa mais. BonecoAssassino, eu não tenho medo, eu sinto um arrepio.(A., 9 anos)...Esse também eu fico com medo (Boneco Assassino)...A minha amigatem bochecha e parece a noiva dele. Ela me diz que quando olha para a bonecadela, ela começa a chorar. Eu tenho medo de filme de terror, fico com pouco demedo, fico xingando o perso<strong>na</strong>gem...(L., 6 anos)... Foi hoje. Assusta só coisa de terror, porque isso não existe. Diante docomentário do colega ao pensar haver algo embaixo <strong>da</strong> cama, depois que assiste aum filme de terror comenta...só brinquedo que tem embaixo <strong>da</strong> cama, que eu tenhoespalhado. Minha Babá mandou eu recolher. Comenta que a babá diz para não seassustar, recolher os brinquedos, ligar a luz pegar os brinquedos e dormirsossega<strong>da</strong>.Descrevem também alguns comportamentos que resultam destes temores.(I., 6 anos)... Quando eu durmo e assisti filme de terror dá medo, porque é de noite,sozinho. Eu já fiz isso... dá medo que tenha alguma coisa embaixo <strong>da</strong> nossa cama,220


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAque a gente tem medo quando a gente assiste filme de terror, ficaassustado...(quando assiste à noite fica mais assustado)...(L., 6 anos)... Uma vez eu sonhei com o Chuck e me assustei(M., 9 anos)...O meu irmão quando assiste (as coisas de assustar), quando vaidormir ele vai para a cama <strong>da</strong> minha mãe. Ele fica lá com ela.A seguir temos exemplos relativos à segun<strong>da</strong> categoria descrita, situaçõesque remetem a ameaças reais.(P., 9 anos)...Denis, o Pestinha , o amigo tinha alergia à abelha, tomou uma pica<strong>da</strong> emorreu...(V., 6 anos)...Tem medo de filme de terror, monstros, pessoas costura<strong>da</strong>s(L., 10 anos)....É assustador quando tem ladrão...(L.,10anos e Ig., 6 anos) ...Assusta ver machucados...(nos filmes ou desenhos)(M., 9 anos)...Programa em que a abelha entrou <strong>na</strong> garganta de um homem e elemorreu à noite, fiquei preocupa<strong>da</strong> com a abelha...Eu vi no Guinessbook um caraestava an<strong>da</strong>ndo <strong>na</strong> floresta tinha um cacho de abelhas.....(A.P., 9 anos)...No Guinessbook teve um homem que colocaram em uma banheiracom um monte de cobras dentro... e, conclui....Eu fico com medo quando sei queaquilo existe...uma abelha...um animal venenoso, um escorpião... eu vejo, meimpressiono e tenho pesadelo...(A., 6 anos)...Tenho medo de avião caindo, até porque vou viajar de avião.Suas declarações apontam para elementos que se constituem em ameaçasefetivas, como ladrão, machucados, animais venenosos, elementos que reconhecemcomo capazes de atingirem a sua integri<strong>da</strong>de... “a violência se define no sentido estrito,como um comportamento que visa causar ferimentos às pessoas ou prejuízos aos bens”. 200A terceira categoria identifica<strong>da</strong>, o telejor<strong>na</strong>l, tem recebido atenção deestudiosos preocupados com a <strong>na</strong>tureza <strong>da</strong>s <strong>na</strong>rrativas que apresenta, assim comocom o uso que fazem dela os telespectadores. As representações <strong>da</strong>s criançassobre este gênero estão conti<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s falas que se seguem.200 GRAHAM, H.D., GURR,T.R. The history of violence in América apud MICHAUD, Y. A Violência.S.P., Ática, 1988, p.10.221


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(P., 9 anos)...Me assusta as coisas que ele fala (sobre o programa do Ratinho)...filhaúnica que vai casar logo, ter um monte de filho, vai matar a mãe.(M., 9 anos)...No jor<strong>na</strong>l me assusta as bombas, bomba nuclear, essas coisasterroristas...(L., 11 anos)...Violência no campo de futebol, queima<strong>da</strong>..van<strong>da</strong>lismo, PCC...(B., 10 anos)...Fiquei assusta<strong>da</strong> com aquelas coisas do PCC 201 . Senti medo, nãoqueria sair para a rua, nem ir para a escola.(L., 11anos)...Violência no campo de futebol, queima<strong>da</strong>..van<strong>da</strong>lismo, PCC...Um relato de outra mãe ....evito noticiário sangrento, percebo que fica bemchocado pela expressão do rosto...faz muitas perguntas...fica falando no assunto (ecom relação às notícias relativas ao ataque do PCC, diz que o filhocomentou)...ain<strong>da</strong> bem que não precisamos ir para a escola.As crianças identificam a ação do PCC como uma ação terrorista, uma <strong>da</strong>sfiguras de violência a que se refere Dadoun. O autor define o terrorismo como umaforma de violência dupla:uma volta<strong>da</strong> para dentro do próprio grupo, que encontrasua razão no ato realizado, e, outra volta<strong>da</strong> para o exterior, que se estende parato<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de” ...irradiando <strong>na</strong> ‘população’, no ‘público’, uma violência nebulosa, cega,difusa(...) percebe-se e desig<strong>na</strong>-se como produto de uma violência antecedente.” 202Dadoun considera ain<strong>da</strong>, que a televisão alimenta esta condição e as criançasreagem indicando serem atingidos por ela.Comentando sobre os telejor<strong>na</strong>is uma mãe declarou...M. assistiu um caralevantando a cabeça de outro, sem aqueles quadradrinhos...uma cabeça decapita<strong>da</strong>e disse ....Meu Deus! Isso é de ver<strong>da</strong>de!Uma <strong>da</strong>s críticas que a televisão recebe, tem a ver com a forma como li<strong>da</strong>com a violência “real” nos telejor<strong>na</strong>is. O formato sensacio<strong>na</strong>lista com que criminosos,ladrões, contraventores ou mesmo a polícia são expostos pela mídia, acaba porinverter a percepção <strong>da</strong> situação retrata<strong>da</strong>, transformando os infratores emver<strong>da</strong>deiros heróis. No entanto, um retorno à história como nos propõe Foucault,201 Primeiro Comando <strong>da</strong> Capital -202 DADOUN, Roger. A Violência: ensaio sobre o “homo violens”. R.J., Difel, 1998.222


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAmostra ser esta prática comum ao ritual dos suplícios, que ao tor<strong>na</strong>r público omomento <strong>da</strong> execução, o massacre dos conde<strong>na</strong>dos pelo carrasco, levava o povo ase revoltar contra ele, gerava manifestações contrárias e enfraquecia o poder,passando ain<strong>da</strong> a integrar os folhetins, visando garantir o exemplo e a exortação.Os folhetins <strong>na</strong> época, assim como a televisão hoje, discorre sobre casos“reais” e ficcio<strong>na</strong>is, perpetuando a ambigüi<strong>da</strong>de, o que vem confirmar mais uma vez,que transformar violência em espetáculo, não é específico do mundocontemporâneo. A diferença reside no fato, de que o espaço público deixou de ser apraça e passou a ser tela <strong>da</strong> TV.O jor<strong>na</strong>l também está entre os programas que as crianças não gostam, noentanto, não gostar não está atrelado a qualquer situação que possa ser identifica<strong>da</strong>como violência.Sobre programas que não gostam, as crianças assim se manifestaram:(L., 10 anos)...Jor<strong>na</strong>l, porque não acha legal. As novi<strong>da</strong>des que passam não meagra<strong>da</strong>m...mas afirma, que <strong>na</strong><strong>da</strong> a assusta ou causa medo.(B., 10 anos)...No jor<strong>na</strong>l porque é chato, passa coisa que não interessa...Além destas, outras duas crianças disseram não gostar do jor<strong>na</strong>l, sem relataras razões. (M., 9 anos) e (P., 9 anos), respectivamente um menino e uma meni<strong>na</strong>.De acordo com Wartela 203 a super representação <strong>da</strong> violência no mundomidiático faz com que as crianças vejam o mundo real tal qual o fictício, terrível edirigido pelo crime e passem a adotar padrões de comportamento auto-protetores,demonstrando desconfiança em relação aos outros e, medo do mundo. Em nossasocie<strong>da</strong>de, a violência tem estado tão próxima de todos, que não é possível assumirque este medo resulte exclusivamente <strong>da</strong> mídia violenta.203 WARTELLA, E., OLVAREZ, A.& JENNINGS, N. A criança e a violência <strong>na</strong> televisão nos EUA.CARLSSON, U. & FEILITZEN, C.V. A criança e a violência <strong>na</strong> mídia. São Paulo, Cortez,Brasília:UNESCO, 1999.223


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASomente duas crianças, ambas do S3 (escola pública), foram buscar nocotidiano de suas vi<strong>da</strong>s referências sobre o significado de violência.(L., 6 anos)...Violenta é uma pessoa que mata a outra, mata todos <strong>na</strong> ci<strong>da</strong>de...o meupai nunca bate em mim ou nos meus irmãos.(I., 6 anos)...violência é que minha mãe quer brigar com o meu pai, meu irmão , afamília to<strong>da</strong>.Por fim, buscamos por verbalizações dos pais presentes nos discursos <strong>da</strong>scrianças e que se refletiram em suas considerações ou, que as criançaspraticamente reproduziram, demonstrando a importância dos discursos dos pais/adultos <strong>na</strong> construção <strong>da</strong> visão de mundo pela criança.(G., 7 anos)...Minha mãe tem medo de ver pessoa de ver<strong>da</strong>de morrendo...(M., 9 anos)...Meu pai fala para minha irmãzinha que as Meni<strong>na</strong>s Superpoderosasnão é para ficar assistindo porque a Docinho é muito violenta...(M.,9 anos)...Novela ensi<strong>na</strong> coisas que não se deve fazer. Amigos que faz mal paraoutras amigas...(Falando <strong>da</strong> Rebelde)(M., 7 anos)....Meus pais proibiram ver uma meni<strong>na</strong> brigando com outra...(P., 9 anos)...Minha mãe não deixa ver muito tiro e luta de Box... acha violento...(G.,11anos)...Meus pais falam para não assistir novela, porque tem muita paixão...Filmes muito violentos também proíbem...proíbem (não gostam) que assistadesenho porque tem muita magia...(L., 8 anos)...Meus pais proíbem o que passa à meia noite, porque sãopornográficos...(V.,6 anos) Mãe não gosta de desenho de luta...Não pode assistir a desenhos que amãe diz ser violento, desenho de luta.(B.,10 anos). Meu pai não gosta que eu veja ce<strong>na</strong>s de beijo. Aí ele mu<strong>da</strong> de ca<strong>na</strong>l oudesliga a TV. Eu sou filha única e ele se preocupa muito..(A., 6 anos)...Minha mãe não deixa assistir Yu-Gi-Oh, o filme.(Porque ela não gosta,ela acha violento, tem os monstros. O desenho pode.(G., 8 anos)...Minha mãe não deixa eu assistir filme de terror.(P., 9 anos)...Meu pai não deixa que eu assista desenho de ação como DragonBuster...(não diz o porquê)224


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(A.P., 9 anos)...Minha mãe proíbe filme de safadeza...(L., 11anos)...filme pornográfico, Multishow...Este estudo procurou responder ain<strong>da</strong>, a seguinte questão: A criançareconhece os desenhos japoneses como mais violentos do que os norteamericanos?Os depoimentos <strong>da</strong>s crianças não trouxeram evidências diretas quepossibilitassem responder à questão. Assim, como em relação aos desenhos norteamericanos,as falas <strong>da</strong>s crianças sobre os desenhos japoneses tambémressaltaram a importância <strong>da</strong> magia e de aspectos pontuais do universo <strong>da</strong> vivência<strong>infantil</strong>.(V., 6 anos) É de luta...o robô mega é o criador origi<strong>na</strong>l....tem a Diva e um portal detempo e espaço..é de luta é engraçado....é animação japonesa...(Sobre Mega XRL)Por outro lado, as crianças deixaram evidente, que não consideram violentoqualquer desenho, independente <strong>da</strong> origem. Sobre desenhos japoneses temos umúnico depoimento favorável, outro, que contraria esta proposição e alguns que dizemnão assistir.(R., 6 anos)...Eu acho que não é violento... (Sobre Megaman)(M., 9 anos)...Desenho mais violento é Músculo Total (japonês) e a Liga dosMúsculos porque têm muita luta...A Liga tem soco, sangramento...os caras acabammorrendo...isso assusta muito..O desenho, Músculo Total, mereceu comentário inverso, sendo consideradosem atrativos, por outra criança.(I., 9 anos)...Músculo Total não tem aventura, ação e humor...é um cara que ficaforte e luta....Não assisto desenho japonês (sem especificar a razão)Outras vezes, um desenho norte-americano ou, o dragão, elemento comuma desenhos qualquer que seja sua origem foi citado como referência <strong>da</strong> violência.(G., 8 anos)...Violento é pouco mais que Jackie Chan (desenho norte-americano)225


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA(A.,9 anos)...Quando assisto desenho de dragão tenho pesadelo, de vez emquando... (dragões que aparecem em desenhos de diferentes origens)Por outro lado, é preciso considerar que hoje, muitos desenhos norteamericanosobedecem à mesma estrutura dos japoneses, em função decaracterísticas do mercado, e, <strong>da</strong>s condições produção. 204Outros depoimentos revelaram que algumas crianças têm medo e ansie<strong>da</strong>defrente a desenhos japoneses, reações que poderiam ser indicativas de que são maisvulneráveis a eles.(I.,6 anos)...Todo dia eu rezo para não ter pesadelo com o desenho do Y- asha(japonês), porque uma vez eu tive e ele me partiu com a espa<strong>da</strong> ao meio...(M.,9 anos)...Dragon Buster tem muita corri<strong>da</strong> de dragões e eu tenho pesadeloA ambigüi<strong>da</strong>de e diversi<strong>da</strong>de que resultou do confronto dos discursos infantis,não permite afirmação de qualquer <strong>na</strong>tureza a respeito. Ao mesmo tempo reforça aconcepção de que <strong>na</strong> representação de violência, outros elementos que extrapolamos elementos do discurso do desenho estão envolvidos com a construção desentidos, e os relatos dos pais deixam antever o quanto são determi<strong>na</strong>ntes <strong>da</strong>scondições de recepção destes desenhos. Ao mesmo tempo em que desconhecemseu conteúdo, não hesitam em fazer comentários ou mesmo proibir.De acordo com estudo anterior, Mareuse contraria representações douniverso consensual dos pais, de que os desenhos japoneses 205 sejam efetivamentemais ameaçadores que os norte-americanos, uma vez que suas <strong>na</strong>rrativas remetemaos mesmos mitos e se utilizam de símbolos e metáforas.204 Os anos 60 e 70 foram marcados por uma entra<strong>da</strong> significativa dos desenhos japoneses noOcidente. A invasão diminuiu quando os estúdios norte-americanos começaram a co-produzir seusseriados com estúdios do Japão. As co-produções surgem em função do alto mercado que o desenhoencontra <strong>na</strong> televisão america<strong>na</strong> e <strong>na</strong> grande capaci<strong>da</strong>de de produção que o Japão representa, demodo que os americanos criam os roteiros, que passam a serem animados pelos estúdios japoneses.205 No Brasil a partir dos anos 90 as produções japonesas detiveram a preferência <strong>da</strong>s crianças. Osucesso foi marcado por Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z, Pokémon, Sakura Cards Capture, oúltimo citado “com sau<strong>da</strong>des” pelos participantes <strong>da</strong> atual pesquisa. Uma análise <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa e <strong>da</strong>scaracterísticas dos perso<strong>na</strong>gens permitiu traçar um quadro comparativo dos desenhos que compõemo universo televisivo e constatar que embora contenham elementos básicos <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> época emque foram produzidos e <strong>da</strong>s condições de produção, o conteúdo não foge a temas como amor e ódio,preservação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e do mundo, forças do mal e a busca pela origem desconheci<strong>da</strong>. MAREUSE,M.A.G. 50 anos de desenho animado <strong>na</strong> TV brasileira. S.P., 2002. Dissertação (Mestrado). <strong>ECA</strong>/<strong>USP</strong>.226


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAEste capítulo percorreu o trajeto que viria viabilizar a nossa questão maiordentro <strong>da</strong> pesquisa: Todos os relatos <strong>da</strong>s crianças foram bastante pontuais eesclarecedores, mas principalmente repletos de considerações relevantes quemostraram a capaci<strong>da</strong>de que têm de abarcar o mundo e, de que o fizeram de formabastante significativa em relação ao fenômeno <strong>da</strong> violência.Suas falas, com base nos desenhos e outros programas expressaram arepresentação que possuem sobre a violência <strong>na</strong> mídia e fora dela, respondendo àquestão maior que deu origem a esta pesquisa: Que elementos compõem arepresentação <strong>infantil</strong> de violência?As crianças descreveram seus vários contornos, apropriaram-se <strong>da</strong>sdiferentes dimensões do fenômeno, aproximando-se de forma significativa dosaspectos demarcados pelos teóricos.No que diz respeito à violência é possível dizer que as crianças:• Reconhecem as armas como marcas, mas não como uma característica <strong>da</strong>ação violenta, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> em que além de agressões com uso deinstrumentos, consideraram as agressões físicas sem uso de instrumentos,com base <strong>na</strong> força física, como soco ou tapa, um ato violento;• Consideram violência ações de pessoas ou do ambiente que possam causar<strong>da</strong>nos ao outro, em sua integri<strong>da</strong>de física, ou prejuízos em relação aos seusbens. Suas declarações apontam para elementos que se constituem emameaças efetivas, como ladrão, machucados, animais venenosos. Prejuízos àintegri<strong>da</strong>de moral não ficam tão visíveis;• Percebem que força e poder estão atrelados à violência;• Identificam a extensão <strong>da</strong> violência ao reconhecerem que a mesma podeocorrer dentro <strong>da</strong> própria família ...a violência do pai que bate no filho... <strong>da</strong>mãe que se propõe a brigar com outros membros <strong>da</strong> família assim, comosuas formas...terrorismo no telejor<strong>na</strong>l227


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA• Os relatos <strong>da</strong>s crianças nos conduzem a pensar que as conseqüências dedetermi<strong>na</strong>do ato, implicam <strong>na</strong> sua identificação e valoração, levando-o a serencarado como violento ou não, ou servem ain<strong>da</strong>, como medi<strong>da</strong> <strong>da</strong>intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> violência;• Apontam para outros fatores que minimizam a intensi<strong>da</strong>de ou, impedem oreconhecimento <strong>da</strong> violência, tais como quando associa<strong>da</strong> ao humor;• Não apontam para questões relativas a sexo ou sexuali<strong>da</strong>de ao se referiremà violência;• Discrimi<strong>na</strong>m entre a violência real e ficcio<strong>na</strong>l. Com base nisso, nãoreconhecem os desenhos como violento, reconhecem muitas vezesreproduzirem os perso<strong>na</strong>gens e seus comportamentos <strong>na</strong>s brincadeiras,porém afirmam que não matariam <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> real... morte no desenho é legal,mas se vissem gente <strong>na</strong> rua morrendo iriam achar triste.Ain<strong>da</strong> com relação ao desenho:• Os aspectos citados como característicos de violência são apontados comorazão de gostarem de determi<strong>na</strong>dos programas ou desenhos;• Gostam <strong>da</strong>s lutas por representarem ação, movimento, força, poder etransformação;• A violência não aparece entre os determi<strong>na</strong>ntes do não- gostar;• A violência nos desenhos japoneses não fica defini<strong>da</strong> e, parece ser umareprodução do discurso dos pais.De suas falas foi possível apreender, que as crianças são capazes deespecificar com clareza os gêneros televisivos ou situações, às quais se sentemvulneráveis e de descreverem suas reações frente a eles, agrupa<strong>da</strong>s em trêscategorias: Filmes de terror, situações que se remetem a possibili<strong>da</strong>des reais, quepoderiam atingi-las e, a violência real retrata<strong>da</strong> pelos telejor<strong>na</strong>is. Contrariando, apreocupação dos pais com as novelas, eles não fazem referências significativas àstelenovelas.228


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA• As crianças também manifestam diferentes sensações e reações frente aoque assistem, incluindo medo, arrepio, e se envolvem com os perso<strong>na</strong>gens deforma agressiva. Outras vezes, sonham, têm pesadelos.• É possível perceber que muitas vezes a partir <strong>da</strong> violência no mundo midiáticoas crianças passam a desconfiar e a ter medo do mundo “real”.O que se pode constatar é que as crianças aprendem muito com osprodutos <strong>da</strong> mídia, e uma vez que reconhecem de maneira tão precisa a violência, éporque têm se defrontado de forma significativa com ela. Mas, a violência não podeser referência única, a criança precisa aprender que existem outras respostas paraas mesmas situações. É de responsabili<strong>da</strong>de dos pais, professores, educadores emgeral, adentrarem com as crianças pelos vários caminhos que compõem os bosques<strong>da</strong> ficção, espaço tão significativo de apreensão de reali<strong>da</strong>des, mostrando aspossibili<strong>da</strong>des, para que não se sintam sozinhas, com medo, assim como acontecequando estão à noite, no quarto escuro, ou, <strong>na</strong> rua diante de estranhos.229


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACONSIDERAÇÕES FINAIS230


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA busca pela representação <strong>infantil</strong> de violência a partir do desenho animadotelevisivo, <strong>da</strong><strong>da</strong> a complexi<strong>da</strong>de do tema, atrela<strong>da</strong> à nossa formação, fez que nosenvolvêssemos com inúmeras decisões e ações de ordens teórica e metodológica.Realizar esta pesquisa implicou construir uma trama que abarcasse osantagonismos e direcio<strong>na</strong>sse o percurso, sem perder de vista a problemática e asrespostas com que o estudo se comprometeu, uma vez que ca<strong>da</strong> dimensãoconsidera<strong>da</strong> sugeria desdobramentos, que incitavam o conhecimento e a discussão.Muitas vezes os desdobramentos tiveram que ser abando<strong>na</strong>dos, para quenão perdêssemos o rumo, outros foram absolutamente necessários para compor asdiscussões sobre o tema.Consideramos pertinente reunir neste espaço os aspectos mais significativosdeste trabalho, entendendo que desta forma estaremos revivendo o percurso, e, aomesmo tempo alinhavando as descobertas.Criança, ficção/televisão, reali<strong>da</strong>de e violência foi o “mote” deste estudo.Realizá-lo envolveu assumir posturas em relação a estes universos e às possíveisformas de conhecê-los e relacioná-los e sobre elas versam nossas consideraçõesfi<strong>na</strong>is.Escolher as crianças, suas percepções e seu mundo, como fonte deinformações em um estudo científico, cujo objetivo foi desven<strong>da</strong>r um fenômeno tãocomplexo como a violência, implicou inicialmente, uma postura específica sobrecriança e infância.O senso comum vê a infância como tempo de aprender, mas a ciência, e osnovos rumos de suas investigações têm demonstrado, quanto elas sabem e podemnos aju<strong>da</strong>r a saber sobre o mundo.Neste sentido, reconhecer a “vali<strong>da</strong>de” de suas falas significa compartilharcom proposições que desmistificam a idéia de que a criança é imatura ou poucodesenvolvi<strong>da</strong> em relação ao seu contraponto: a i<strong>da</strong>de adulta.231


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASignifica não pensar a criança como um ”vir a ser”, mas como um serhistórico, ativo, capaz de artimanhas para ampliar o espaço que lhe éconcedido...quando quero assistir algo que minha mãe proíbe, vou <strong>na</strong> vizinha, faloque vou jogar videogame...Assisto <strong>na</strong> casa <strong>da</strong> minha avó, <strong>da</strong> minha tia, elas nãosabem que é de palavrão...ao relatar que a mãe não deixa assistir AdultRings.Éimpossível fazer com que as crianças fechem os olhos, em um mundo povoado deimagens que as convi<strong>da</strong>m a conhecer e a participar.Neste estudo, mais uma vez fomos surpreendidos pelas crianças. Elassempre nos surpreendem! Com suas perguntas...respostas...comparações...deduções...às vezes, absolutamente coerentes com o mundo “real”,“racio<strong>na</strong>l”, dos adultos. Outras, absolutamente mágicas em suas ações einterpretações.Seriam as crianças a própria ficção, ao incorporarem o mágico e o real, <strong>da</strong>íse identificarem tanto com ela? Ou, podemos conceber a ficção como fruto <strong>da</strong>imagi<strong>na</strong>ção criativa <strong>da</strong>queles que nunca deixaram de ser criança?Como é próprio <strong>da</strong> ficção, as respostas <strong>da</strong>s crianças, mesmo as mágicas,fazem referência ao contexto que as originou. Assim nos deparamos com anecessi<strong>da</strong>de de entender a cultura infanto-juvenil <strong>na</strong> pós-moderni<strong>da</strong>de, que nosapontou para um novo espaço de relações, que as prendem ca<strong>da</strong> vez mais dentrode suas próprias casas, em que a tecnologia é quem lhes permite o trânsito, define oespaço e o tempo- uma nova forma de comunicação.O estudo deixou níti<strong>da</strong> a necessi<strong>da</strong>de de entendermos as mediaçõesofereci<strong>da</strong>s por este novo espaço de relações e, as estratégias que as criançasutilizam para se apropriarem delas. Identificar as vozes que as inserem no mundo,mesmo quando trancamos a porta <strong>na</strong> intenção de protegê-las, é primordial, sebuscamos compreender o que as afeta e como nos comportar diante disso.Negar o contato, proibir, fechar a porta ou mesmo desligar a televisão não égarantia de que as coisas do mundo não penetrem em seus universos, em nívelconsciente e inconsciente, que deixem de se constituírem em experiências e, ou departiciparem <strong>da</strong> construção de suas subjetivi<strong>da</strong>des.232


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAo contrário, a história mostra como os modos de conceber a infância,determi<strong>na</strong>dos por contextos culturais específicos, constroem diferentes sujeitos,deixam marcas. E não podemos ignorar que hoje é o virtual que nos coloca emcontato com o real.Buscar a compreensão do humano que resulta de uma nova cultura, significareconhecer a importância de identificar e enfrentar as problemáticas presentes nomundo contemporâneo sob o domínio <strong>da</strong> ciência, <strong>da</strong> tecnologia e <strong>da</strong>s diversasformas de comunicação, considerando ca<strong>da</strong> vez mais a rede em que se constituem.A socie<strong>da</strong>de moder<strong>na</strong> definiu como espaço de circulação <strong>da</strong>s crianças, aescola e a casa. Percorrer o espaço público, mesmo os arredores <strong>da</strong> própria casa,sempre mereceu cui<strong>da</strong>do por parte dos pais, que preferiram manter a criançaafasta<strong>da</strong> do mundo adulto, <strong>na</strong> tentativa de protegê-los e evitar estranhamentos.A princípio, nos primeiros momentos após seu surgimento a televisão pareceuser a alter<strong>na</strong>tiva para garantir a permanência <strong>da</strong>s crianças em lugar seguro, longe detudo que a rua pudesse proporcio<strong>na</strong>r. A problemática deste presente estudo surgeexatamente, quando os adultos não mais reconhecem <strong>na</strong> televisão um “portoseguro”, à medi<strong>da</strong> que percebem que a televisão, ao contrário do confi<strong>na</strong>mento,passou a expor o mundo à criança, e, que ao oferecer entretenimento, permitiatambém, aprendizagens.A televisão compreendi<strong>da</strong> como o Outro <strong>da</strong>s relações a mol<strong>da</strong>r as formas deagir e pensar <strong>da</strong>s crianças, passou a merecer estudos diversos. Revisão teórica dosestudos voltados para compreender a relação TV/ criança mostrou quanto e comoforam se diversificando, sendo que grande parte deles foram direcio<strong>na</strong>dos para asquestões <strong>da</strong> violência <strong>na</strong> TV e comportamentos agressivos por parte dosexpectadores.Estes estudos não possibilitaram comparações e apresentaram resultadoscontraditórios, uma vez que abor<strong>da</strong>ram a questão por diferentes ângulos, com baseem paradigmas distintos, e tiveram origem em diferentes contextos sócio-culturais.O aumento significativo de pesquisas nesta área não ocorreu no vazio. Hápoucas déca<strong>da</strong>s atrás as crianças não tinham acesso às mais diversas formas de233


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAviolência ou sexo. Hoje um amplo conjunto de imagens desfila <strong>na</strong> tela <strong>da</strong> televisão,dos videogames e computadores, de modo que a socie<strong>da</strong>de é notifica<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong>instante sobre a on<strong>da</strong> de crimes, mortes, terrorismo, ca<strong>da</strong> vez mais presentes emnosso cotidiano e expostos pelas diferentes mídias. A capa <strong>da</strong> VEJA São Paulo dejulho deste ano, sustenta bem esta colocação... A ROTINA DO MEDO ....como aon<strong>da</strong> de violência mudou o dia-a-dia do paulistano.A violência não aparece só pratica<strong>da</strong> por bandidos ou contra instituições querepresentam o poder político. Tem sido pratica<strong>da</strong> por crianças e jovens, atingido aescola e a própria família.Na escola, assume diferentes formas: aparece como resultado <strong>da</strong>s interrelaçõesentre os próprios colegas, recebendo o nome de Bullying 206 , ou, dos alunoscontra os professores ou ain<strong>da</strong>, contra o patrimônio <strong>da</strong> escola, que é arromba<strong>da</strong>,saquea<strong>da</strong>.Por outro lado, jovens têm investido contra a família, roubando, matandoparentes ou os próprios pais. Uma violência gratuita aparece <strong>na</strong> rivali<strong>da</strong>de entre asgangues e uma crescente ba<strong>na</strong>lização <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Sem falar do crime organizado,observa-se um aumento crescente de violência por “motivos fúteis”.A este cenário que compreende a reali<strong>da</strong>de social e é retratado pela mídia ,acrescenta-se o fato de que pais, professores e a socie<strong>da</strong>de queixam-se <strong>da</strong>violência presente inclusive nos produtos ficcio<strong>na</strong>is, sendo o desenho apontadocomo responsável por instigar atos violentos.Prosseguindo <strong>na</strong> revisão teórica, vimos que as pesquisas foram incorporandomodificações, passando a relativizar os efeitos diretos <strong>da</strong> programação televisiva, areconhecer as características de produção e a nova lógica televisiva e acomunicação entre as mídias, como elementos que interagem <strong>na</strong> produção desentidos.206 Este termo não tem tradução para o português. O fenômeno não é novo, mas a socie<strong>da</strong>de tem semanifestado de outra forma frente a ele. Corresponde a humilhações psicológicas e agressões queocorrem <strong>na</strong> escola e correspondem a maus- tratos infligidos contra os colegas. São vários os tipos deBullying, que vão dos maus tratos físicos, aos insultos, passando pelo isolamento social e relacio<strong>na</strong>l epelo "ciberbullying". Esta é a mais recente forma do fenômeno e consiste no recurso às novastecnologias, Internet e telemóveis, para maltratar os outros.234


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIANo entanto, embora a socie<strong>da</strong>de aponte para outros aspectos e especialistasreconheçam a necessi<strong>da</strong>de de incorporar a violência simbólica ou a decorrente douso i<strong>na</strong>dequado do poder, o conceito de violência predomi<strong>na</strong>nte, é o <strong>da</strong> agressãofísica.Órgãos e ações inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is são criados e discussões interdiscipli<strong>na</strong>resapontam para a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> questão, que necessita incorporar fatores sociais eculturais mais amplos. O Estatuto <strong>da</strong> Criança reconhece o seu direito àComunicação, mas ace<strong>na</strong> para que este direito inclua a proteção contra abusos.Estas constatações foram norteando a nossa problemática, configurando-aem to<strong>da</strong> a sua complexi<strong>da</strong>de, determi<strong>na</strong>ndo os contornos <strong>da</strong> pesquisa.Dentro desta proposta, a violência presente <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de atual e retrata<strong>da</strong>pela mídia enquanto elemento de mediação <strong>na</strong> construção do sujeito, objeto desteestudo, apoiou-se em uma visão de ciência, que concebe o objeto/fato ou fenômeno,não como enti<strong>da</strong>de isola<strong>da</strong>, mas como resultado de interações com outros objetos ecom o meio.Segundo Morin 207 , esta proposta implica objetivar o fenômeno levando emconta to<strong>da</strong> a sua complexi<strong>da</strong>de 208 , além de considerar que a complexi<strong>da</strong>de trazconsigo a idéia de interação e interdependência entre múltiplas variáveis, inclusiveentre variáveis antagônicas. Interação e interdependência nos conduzem a idéia dodiálogo que se mostrou ponto crucial de nossas considerações.Trazendo à compreensão o contexto específico do fenômeno, amuldimensio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de e a interdependência constituem características do objeto deestudo e dos pressupostos teóricos que o sustentaram:1. Em relação ao objeto, o estudo deteve-se em compreender :207 MORIN, E. Para sair do século XX. S.Paulo, Nova Fronteira, 1986.208 Para Morin, a complexi<strong>da</strong>de surge de algo que é complementar a outro. Vem de um certo grau decomplementari<strong>da</strong>de entre as partes envolvi<strong>da</strong>s no processo. Trata-se de uma complementari<strong>da</strong>de queinclui o antagonismo, no sentido que considera complementar e inseparável, o que é distinto eoposto: a ordem e a desordem, o determinismo e a liber<strong>da</strong>de, a repetição e a inovação, o mito e areali<strong>da</strong>de social, a uni<strong>da</strong>de e o conflito, a harmonia e a discórdia,a autonomia e a dependência, oobjeto e o sujeito, a comuni<strong>da</strong>de e a socie<strong>da</strong>de, a socie<strong>da</strong>de e o indivíduo235


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA• O cotidiano <strong>da</strong>s crianças envolvendo:estrutura e relação familiares, ativi<strong>da</strong>desem que se envolvem, condições de recepção televisiva e percepção <strong>da</strong>mediação dos pais;• O envolvimento <strong>da</strong>s crianças em outras ativi<strong>da</strong>des fora de escola e do lar,além do contato com outras mídias;• Hábitos televisivos dos pais, conhecimento e controle sobre a relação <strong>da</strong>criança com a TV.2. Os pressupostos que o orientaram incluem:• A compreensão de que a subjetivi<strong>da</strong>de e o imaginário <strong>infantil</strong> constroem-se <strong>na</strong>relação como o Outro, num determi<strong>na</strong>do contexto sócio-histórico e cultural,incluindo as construções media<strong>da</strong>s pela cultura midiática e planetariza<strong>da</strong>;• O processo de inter<strong>na</strong>lização <strong>da</strong> cultura pressupõe um espaço de produção enão compreende assimilação incondicio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> cultura, mas transformaçãocom base em referenciais específicos;• O lar se constitui em um espaço de integração <strong>da</strong>s telecomunicações: TVaberta ou por assi<strong>na</strong>tura, vídeo e DVD, videogame, computador, Internet eoutras mídias interativas• As reações <strong>da</strong>s crianças aos conteúdos <strong>da</strong>s mídias decorrem <strong>da</strong> rede derelações que se estabelece em função <strong>da</strong>s diferentes mediações presentesno cotidiano de ca<strong>da</strong> um.A grande dificul<strong>da</strong>de diante de uma proposta como esta foi, ao evitar uma aredução simplista, e voltar-se para a multiplici<strong>da</strong>de de variáveis determi<strong>na</strong>ntes dofenômeno, alia<strong>da</strong>s ao conjunto de outras relativas ao sujeito e à construção de suasrepresentações sobre o fenômeno, media<strong>da</strong>s pelos pressupostos do pesquisador,gerar confusão e não chegar a lugar nenhum.Decidir pelas variáveis a serem considera<strong>da</strong>s significou elimi<strong>na</strong>r oantagonismo presente em universos aparentemente dissociados: cotidiano e ciência,arte (estética) e ciência (psicologia), ficção e reali<strong>da</strong>de, ca<strong>da</strong> um a seu tempo, e ,mais tarde, relacioná-los entre si, e com o problema de pesquisa.236


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAo transitar pelo cotidiano de pais e filhos foram sendo delineados o espaço,o tempo, a quali<strong>da</strong>de e a trama <strong>da</strong>s inter-relações entre eles, a relação deles com amídia e, as mediações em que se constituem, <strong>na</strong> representação de violência pelascrianças.Todo este caminho foi entremeado <strong>da</strong>s referências teóricas e, resultaram <strong>na</strong>aproximação entre os conhecimentos, de senso-comum que habitam as vivênciascotidia<strong>na</strong>s e, o conhecimento científico presente <strong>na</strong>s teorias propostas porespecialistas de diversas áreas do conhecimento, multidetermi<strong>na</strong>ndo o universo deanálise, no que diz respeito à violência, cultura infanto-juvenil no mundocontemporâneo e representação social, o tripé do fenômeno considerado.O antagonismo ciência e arte, especificados no terreno <strong>da</strong> estética e <strong>da</strong>psicologia, tem a ver com substituir a compreensão do homem, com base em umparadigma positivista que privilegia o conhecimento empírico- com base <strong>na</strong> razãoporum conhecimento derivado <strong>da</strong> experiência estética, de esquemas afetivoemocio<strong>na</strong>is,associando à mu<strong>da</strong>nça de paradigmas, novos critérios de exatidão e dever<strong>da</strong>de.Esta proposta orientou a escolha <strong>da</strong> programação televisiva, em especial dosdesenhos animados e, dos demais produtos midiáticos a ele atrelados, <strong>na</strong> buscapela compreensão de como se dá a participação dos mesmos <strong>na</strong> produção desubjetivi<strong>da</strong>des, incluindo a formação de valores sobre a violência. Significa assumirque a arte não compreende só o momento <strong>da</strong> fruição, mas inclui a produção deconhecimento sobre si mesmo, sobre o Outro e sobre o mundo, e, de forma maisabrangente responder à questão: Quais implicações os discursos <strong>da</strong> arte têm para avi<strong>da</strong>?Essas considerações levam a um outro questio<strong>na</strong>mento: As aprendizagensatravés do cinema, <strong>da</strong> televisão, do vídeo, do computador diferem <strong>da</strong>saprendizagens por outras vias? Mobilizam outras conexões cerebrais? Como a artepossibilita o transito do âmbito afetivo para o cognitivo? Respostas a estas questõesimplicam desdobramentos em outros estudos.237


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAFicção e reali<strong>da</strong>de constituíram o terceiro conjunto de variáveis antagônicasatrela<strong>da</strong>s ao nosso problema de pesquisa. Pensar as conseqüências do contato <strong>da</strong>criança com a violência televisiva implicou considerar além dos produtos ficcio<strong>na</strong>is, aprogramação volta<strong>da</strong> para a reali<strong>da</strong>de, como os telejor<strong>na</strong>is, uma vez que fizeramparte dos discursos <strong>da</strong>s crianças e dos pais. Levou em conta ain<strong>da</strong>, que a linguagem<strong>da</strong> mídia traça um tênue liame entre os dois aspectos, ao fazer com que a reali<strong>da</strong>dedos noticiários se aproxime <strong>da</strong> ficção e a ficção <strong>da</strong>s telenovelas seja ofereci<strong>da</strong> comoreali<strong>da</strong>de.A busca <strong>da</strong> representação <strong>infantil</strong> de violência e o trânsito por essas variáveisaparentemente antagônicas, considera<strong>da</strong>s a complexi<strong>da</strong>de do problema e a rede derelações envolvi<strong>da</strong>s, possibilitaram ampliar as discussões sobre o tema. Situá-lasrequereu considerar o contexto que deu origem à problemática, assim como asexperiências cotidia<strong>na</strong>s, em busca <strong>da</strong> “ver<strong>da</strong>de”, reconhecendo-as como relativas,pois impreg<strong>na</strong><strong>da</strong>s de preconceitos e estereótipos.Durante todo o percurso metodológico, de campo e teórico foi possívelverificar que a busca pela ver<strong>da</strong>de, incluiu o diálogo entre universos consensuais ereificados de violência. A partir do diálogo <strong>da</strong>s crianças e de seus pais com opesquisador, de ambos com o desenho, ou com a palavra sobre o desenho,alcançamos a polifonia, o encontro de múltiplas vozes que participam do diálogo <strong>da</strong>vi<strong>da</strong>, e para Bakhtin 209 , o caminho <strong>da</strong> “ver<strong>da</strong>de”. Porém, as vozes dos pais nãoapareceram como possibili<strong>da</strong>des de diálogo para os filhos, e, nem mesmo sãoreconheci<strong>da</strong>s como “autori<strong>da</strong>de”, no sentido proposto por Arendt. 210Do ponto de vista dos universos reificados, os debates demonstraram nãohaver consenso entre os pesquisadores quanto às causas que produzem a violêncianem mesmo quanto ao fenômeno em si, que apesar dos inúmeros estudos ain<strong>da</strong>permanece obscuro.São várias as definições encontra<strong>da</strong>s e diferentes as interpretações para aorigem <strong>da</strong> violência, que tem atingido diferentes formas, ca<strong>da</strong> vez mais sofistica<strong>da</strong>s209 BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia <strong>da</strong> linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981.210 Para ARENDT a autori<strong>da</strong>de, apesar de comumente confundi<strong>da</strong> com alguma forma de poder ouviolência é incompatível com meios de coerção. Quando isso acontece é si<strong>na</strong>l de que a autori<strong>da</strong>deem si fracassou. ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.238


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAe alcançado inclusive espaços e relações <strong>da</strong> ordem do “sagrado”, como a escola efamília.Michaud 211 nos fala <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de considerar as diferentes formas deque a violência se reveste, podendo atingir a integri<strong>da</strong>de física e moral, posses ouparticipações simbólicas. Para Michaud, a origem <strong>da</strong> violência está atrela<strong>da</strong> à força enormas. Essa força não corresponde só à força física, mas à pressão exerci<strong>da</strong> paraque a pessoa aja contra sua vontade. Propõe as normas como qualificação deviolência, de modo que a força só se tor<strong>na</strong> violência quando ultrapassa a norma,fazendo existir tantas violências quantas forem as normas. Ao citar as normas nosleva a aproximação com autori<strong>da</strong>de.Transpondo para o universo midiático, a TV ao propor padrões responde porinstigar “formas de ser” a serem aceitas, que implicam não só <strong>na</strong> posse dedetermi<strong>na</strong>dos objetos, mas em características físicas e participações sociais,deixando à margem os que não atingem os padrões estabelecidos, quenão abarcamas contradições. O consumo suscitado e a impossibili<strong>da</strong>de de realização, tambémgeram fontes de frustrações, origem <strong>da</strong> agressivi<strong>da</strong>de destrutiva e de reaçõesviolentas. 212Foucault 213 também busca explicar a violência com base <strong>na</strong>s normas de umadetermi<strong>na</strong><strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, no político. Em Vigiar e Punir a<strong>na</strong>lisa o poder do CódigoPe<strong>na</strong>l e as diferentes formas de punições propostas: do suplício à prisão, o quesignifica <strong>da</strong> agressão física que atinge diretamente os corpos, à suspensão dosdireitos ao incluir reclusão, trabalhos forçados, interdição de domicílio e sexual, queatingem como bem colocou Foucault, diretamente a alma.211 MICHAUD, Y. A Violência. São Paulo, Ática,1989.212 BYINGTON, C.A.B. A Violência e a Construção Social <strong>da</strong> Democracia.Michaud fala de estudos existentes que descrevem a agressivi<strong>da</strong>de em bases neurológicas, o quesignifica concebê-la como resposta <strong>na</strong>tural do organismo a situações de estresse origi<strong>na</strong>do pordesequilíbrios decorrentes de alterações gerais (endócri<strong>na</strong>s, metabólicas, perturbaçõescardiovasculares), ou locais (reações inflamatórias, úlceras, abscessos) ou ain<strong>da</strong>, em basesfarmacológicas. Porém, enfatiza que eles não levam em consideração aspectos importantes como assignificações aprendi<strong>da</strong>s, nem mesmo o simbolismo envolvido no controle e desencadeamento <strong>da</strong>smesmas.213 FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: história <strong>da</strong> violência <strong>na</strong>s prisões. 9ª ed. Petrópolis, Vozes, 1991.239


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIANo entanto, Arendt 214 , nos possibilitou uma análise pontual, dentro docontexto de análise em que nossa problemática se inscreve, ampliar osconhecimentos relativos ao fenômeno visando contribuir com pais, professores esocie<strong>da</strong>de, enfim, com todos que se vêem mobilizados com a formação <strong>da</strong>s criançase, portanto com a educação.Ao nos remeter à diferença entre vigor, força, poder, autori<strong>da</strong>de e violência,faz referência aos usos e abusos conceituais e mencio<strong>na</strong> que o mais freqüenteocorre com o termo autori<strong>da</strong>de, que “é comumente confundi<strong>da</strong> como alguma forma de poderou violência”. 215Propõe como “essência <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de” o reconhecimento inquestionável e odesprezo pelo seu maior inimigo, e a risa<strong>da</strong>, o meio eficiente para destruí-la. Aautori<strong>da</strong>de assim concebi<strong>da</strong> é incompatível com a utilização de meios externos decoerção e, o uso <strong>da</strong> força significa que a autori<strong>da</strong>de fracassou.Esta concepção veio reiterar nossa hipótese de que para a compreensão <strong>da</strong>participação <strong>da</strong> mídia violenta <strong>na</strong> construção de subjetivi<strong>da</strong>des <strong>na</strong> infância, serianecessário, primeiramente conhecer a representação <strong>infantil</strong> de violência e paratanto, cercar seus principais universos de socialização, a casa e a família,circunscritos pela mídia, o que nos conduz diretamente à Educação.Ao adentrarmos para o universo <strong>da</strong> pesquisa perpassamos a família e amídia, em especial a televisão e os desenhos animados, e, ao focarmos questõesrelativas à mídia, à infância e construção de representações, nos confrontamos deum lado com conceitos de autori<strong>da</strong>de, poder, diálogo e de outro, com estereótipos epreconceitos envolvidos em suas apropriações.Sobre as crianças, suas famílias, a cotidiani<strong>da</strong>de e a televisãoA pesquisa, ao buscar conhecer o modo como a criança vive acotidiani<strong>da</strong>de, evidenciou a forte aproximação entre família e mídia, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> emque a família constitui uni<strong>da</strong>de básica de audiência e um dos espaços fun<strong>da</strong>mentaisde leitura e interpretação <strong>da</strong>s mensagens televisivas. As crianças, assim como os214 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Sobre a Violência. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1994.215 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. Entre o passado e o futuro. São Paulo, Perspectiva, 1972, p. 129.240


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIApais assistem TV todos os dias, exceto nos horários em que estão <strong>na</strong> escola ou notrabalho.Por outro lado, a ampla ligação <strong>da</strong> criança com a televisão também tem sidovisto como conseqüência dos novos modos de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> e <strong>na</strong> família. Há uma crençade que as famílias que não atendem ao tradicio<strong>na</strong>l modelo nuclear, sejamresponsáveis por crianças mais inseguras e, portanto, mais suscetíveis às possíveisinfluências <strong>da</strong> mídia. Porém, o estudo mostrou a importância de privilegiarmos adinâmica familiar, em substituição às características estruturais do grupo familiar,quando a proposta foi avaliar a influência <strong>da</strong> família sobre as subjetivi<strong>da</strong>desconstruí<strong>da</strong>s. As falas a seguir ilustram formas diferentes de as crianças viverem adesestruturação <strong>da</strong> família nuclear...Meu pai casou ... minha madrasta é super genteboa e minha mãe tem um <strong>na</strong>morado que é super gente boa... ou, ...Meu pai não temmeu endereço, antes o encontrava mais, dormia <strong>na</strong> casa dele, mas agora nãoquerem mais que eu vá a casa dele (...) Eu não entro <strong>na</strong> casa dele, eu não vejo TVlá (...) Eu fico conversando com ele, ele lá e eu aqui.O fato de os pais declararem não terem muito tempo para a televisão ....saiocedo e chego tarde... e assistirem, TV principalmente à noite, algumas vezes aossábados e domingos, denuncia ain<strong>da</strong>, o tempo que disponibilizam para a família.A distância entre a casa e o trabalho, assim como as exigências dessetrabalho contribuem para o distanciamento entre pais e filhos. As poucasoportuni<strong>da</strong>des de diálogo, que a forma e as relações de trabalho hoje determi<strong>na</strong>m,refletem inclusive no pouco conhecimento que as crianças têm em relação àprofissão dos pais, sendo o que dificulta as identificações com universos “reais”., nãosei bem o que ele faz ou, laconicamente trabalha, foram os depoimentos de muitascriançasÉ importante considerar que as vivências dentro <strong>da</strong> família contemporâneaao incorporarem as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> estrutura econômica e social, tor<strong>na</strong>ram inclusiveas interações entre seus membros mais rápi<strong>da</strong>s, quase instantâneas. Ao mesmotempo estas tênues relações se restringem ao núcleo familiar, pois são poucas asoportuni<strong>da</strong>des de estarem com parentes, amigos, em suas casas ou fora delas Oaprendizado sobre o mundo, a comunicação com os amigos, a lição de casa e a241


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAbrincadeira estão atrelados ao contato com a TV, o vídeo, o DVD, o videogame e ocomputador é o que se depreende <strong>da</strong>s falas <strong>da</strong>s crianças e de seus pais. Raramentevão à casa de amigos ou recebem os amigosPorém, mesmo não estando presente, a maior parte dos pais se dizenvolvi<strong>da</strong> com o uso <strong>da</strong>s mídias pelos filhos e controlarem o que os filhos assistem,jogam no computador ou videogame ou suas interações <strong>na</strong> Internet e se mostramambivalentes quanto ao reconhecimento dos efeitos <strong>da</strong> programação televisiva, aomesmo tempo, que deixaram nítido que pensar a influência <strong>da</strong> televisão hoje implicaem pensar sobre outras mídias e seus dispositivos. Mas, mesmo considerando que amídia não opera no vácuo e que, especialmente a família contribua <strong>na</strong> construção<strong>da</strong>s representações, há os que acreditam <strong>na</strong> influência direta <strong>da</strong> TV sobre ocomportamento <strong>infantil</strong>, e muitos não elimi<strong>na</strong>m a possibili<strong>da</strong>de de as crianças, emespecial as menores, reproduzirem o que vêem.Como forma de evitar o contato intenso com a televisão, o computador ou ovideogame o cotidiano <strong>da</strong>s crianças, principalmente <strong>da</strong>s economicamente maisfavoreci<strong>da</strong>s, inclui uma ampla varie<strong>da</strong>de de ativi<strong>da</strong>des extracurriculares, mas istonão se constitui em razão absoluta.Esta forma de viver a cotidiani<strong>da</strong>de é típica do mundo contemporâneo eestá atrela<strong>da</strong> a uma concepção de mundo que privilegia a ação, a competência <strong>na</strong>smais diversas áreas, colocando o ócio ou a brincadeira em segundo plano, uma vezque o espaço <strong>da</strong> escola e <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des extracurriculares, não significa momentosde muitas escolhas. Nestes espaços, o convívio é determi<strong>na</strong>do pelo objetivo <strong>da</strong>tarefa, pelo olhar quase sempre discipli<strong>na</strong>dor dos adultos, de modo que nem sempreé possível imagi<strong>na</strong>r, transgredir, desejar ou escolher, próprio <strong>da</strong>s situações debrincadeira.A pesar de os pais não conhecem de forma efetiva a programação que seusassistem, se dizem preocupados com a questão e estabelecem formas de controle,que muitas vezes cabe à emprega<strong>da</strong> exercer. Estas estratégias incluem tempo ehorário frente à TV, porém, estes pais não dispensam os seus programas paraestarem com seus filhos, mesmo reconhecendo que possam ser suscetíveis a eles,uma vez que têm claro, que a violência atrela<strong>da</strong> ao real ou à ficção, afeta de formadiferente às crianças242


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPor outro lado, o controle do horário nem sempre significa um olhar sobre aprogramação, mas está relacio<strong>na</strong>do com o cumprimento adequado de outrasnormas, como horário <strong>da</strong> lição, <strong>da</strong>s refeições, de dormir ou, em função de outrasquestões segundo relato <strong>da</strong>s crianças....porque eu uso óculos...porque o meu irmãofica com os olhos vermelhos quando fica muito tempo frente ao computador...porque o computador estourou de tanto ficar ligado. No entanto, este aspecto semostra significativo, quando os depoimentos <strong>da</strong>s crianças revelam que assistem TVà meia-noite, uma hora <strong>da</strong> manhã.As questões relativas a sexo e sexuali<strong>da</strong>de, para alguns pais supera apreocupação com a violência entendi<strong>da</strong> como agressão física, sendo vista comoameaçadoras para as crianças, não só pelo sexo em si, mas pelo fato de o corpo sertratado como “objeto”, remetendo a idéia <strong>da</strong> violência simbólica.As declarações <strong>da</strong>s crianças apontam para aspecto bastante importante.O tempo frente à TV depende também, <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des alter<strong>na</strong>tivas de quedispõem...quando está com amigos abando<strong>na</strong> a televisão. Mas, não hesitam emsubstituí-la.Sobre a representação <strong>infantil</strong> de violênciaContrariando as percepções de senso comum, as crianças mostraramquanto sabem a respeito de violência. Suas representações incluem aspectos doamplo espectro conceitual, que os teóricos mais renomados nos legaram e quefomos descobrindo ao transitarmos sobre o tema.As crianças referiram-se ao uso <strong>da</strong> força ou de instrumentos capazes depotencializar esta força, apontam para o fato de que um determi<strong>na</strong>do fato pode virou não a se caracterizar como violência, dependendo de um conjunto de fatores quetêm a ver com as conseqüências do ato ou com a intenção de quem pratica a ação.Apontam também para a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> violência, reconhecendo-a como extrema oumais bran<strong>da</strong>, atrela<strong>da</strong> a normas.243


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAReconhecem de perto, o que Dadoun classifica como figura <strong>da</strong> violência – oterrorismo e <strong>na</strong> própria pele, sua extensão. As crianças percebem a violênciapróxima e <strong>na</strong>s pessoas comuns, não só entre estranhos e a relação que seestabelece entre poder, força, violência.Para Arendt, a condição extrema de poder reside em todos contra um, e deforma inversa, a forma extrema de violência, corresponde a um contra todos. Arelação violência e poder fica níti<strong>da</strong> <strong>na</strong> fala de uma <strong>da</strong>s crianças e merece serreproduzi<strong>da</strong>.(Ao falar sobre o desenho Múmia e diante do computador com o jogocorrespondente).Entrevistador: Então no desenho tem alguém que vai caçar as múmias. E aquino computador você é o perso<strong>na</strong>gem que vai caçar as múmias?Não, eu fico olhando, e eles que criam um desenho, prá matar as múmias.Entrevistador: Esses verdinhos que estão matando, o quê que são?Eu estou atirando, eu tenho que matar esses bichinhos antes que eles cheguemperto de mim e me matem. Eles são muitos e eu sou só um.Entrevistador: É você que mata?Não. É um deles.Entrevistador: Então quando tem muita gente contra um, pode matar?Pode ... aqui no jogo.Entrevistador: O que você quer dizer com isso?Que aqui no jogo essa é a regra. Antes que eles cheguem perto de você ..... se elesme matarem três vezes eu morro e perco o jogo, entendeu?Entrevistador: Então você ganhar é você saber se defender?.Eu tenho que me defender.Entrevistador: Quem são eles? Têm nome?Tem. O Múmia ....Entrevistador: Mas o Múmia vai caçar múmia?Não. O Múmia espera as pessoas virem para ele chupar o sangue.Aqui outras questões ain<strong>da</strong> estão embuti<strong>da</strong>s, extrapolam a idéia de agressãoe armas, se dirigem ao simbólico e nos remetem a construção dos valores. Dasformas simbólicas, as crianças não se dão conta, a não ser como regras, comoregras do jogo.244


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAo fazerem distinção absoluta entre a violência real e ficcio<strong>na</strong>l afirmando...nenhum desenho é violento...nos mostram a condição maior de suaspossibili<strong>da</strong>des e aprendizagens, e nos aju<strong>da</strong>m a caminhar no sentido de buscar acompreensão <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> mídia televisiva <strong>na</strong> subjetivi<strong>da</strong>de <strong>infantil</strong>.Neste momento de nossas considerações, ao visitarmos os pontos maissignificativos de nossas constatações, deparamo-nos com elementos que circun<strong>da</strong>mas questões <strong>da</strong> violência: força, poder, autori<strong>da</strong>de, diálogo, educação que seafunilam <strong>na</strong> construção dos sujeitos. Todos estes elementos envolvem as relaçõeshomem- mundo, relações estas que o colocam <strong>na</strong> condição de humano.O processo de humanização ao incluir, construir-se a si mesmo e ao mundo,modificar-se e modificar o mundo, num processo dialético e sem volta, pressupõe odiscurso e a ação, como nos propõe, Arendt 216 .No mundo contemporâneo o discurso e a ação sofreram transformaçõesradicais, alterando os processos comunicacio<strong>na</strong>is, os lugares e os tempos, fazendocom que um diálogo de outra <strong>na</strong>tureza se estabelecesse.Outro espaço, outros tempos, outras vozes! Outro, Outro...No mundo contemporâneo, a nossa cotidiani<strong>da</strong>de, a cotidiani<strong>da</strong>de de nossascrianças pressupõe um Outro de <strong>na</strong>tureza diferente <strong>da</strong> nossa, com o qualinteragimos, mas que nos responde de forma padrão, estereotipa<strong>da</strong>, defini<strong>da</strong> poralguém que não conhece as necessi<strong>da</strong>des específicas de ca<strong>da</strong> um, e faz com quetodos passem a sentir necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mesmas coisas.Este Outro se faz imagem. Imagem com a qual nem sempre conseguimosidentificação; e, quando não encontra modelos de identificação, quando aidentificação não ocorre, o sujeito fica à margem dessa imagem, faz-se um abismo,por não ser possível “se ver” dentre os modelos que o mundo oferece.Este estudo ao olhar para as crianças, mostrou que em casa,sozinhas...deixam a TV... permanentemente liga<strong>da</strong>. E, um Outro e vários Outros,presentes <strong>na</strong> TV e no computador lhes fazem companhia.216 ARENDT, Han<strong>na</strong>h. A condição huma<strong>na</strong>. 10ª ed. R.J., Forense-Universitária, 2001.245


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASeus relacio<strong>na</strong>mentos sociais são frágeis...suas formas de viver não incluemcontato assíduo com Outros que não sejam <strong>da</strong> própria família...raramente vão àcasa de alguém...nem filhos, nem pais. Suas formas de relacio<strong>na</strong>mento obedecem apadrões únicos, e, portanto, autoritários por não oferecerem outras visões, nãoserem postos em cheque.Os valores que circulam pelas famílias são autoritários, não no sentido deuma autori<strong>da</strong>de autoritária, não por serem impingidos pela força, mas pelo fato denão serem levados a público, mas por serem vividos <strong>na</strong> interiori<strong>da</strong>de de seusespaços e raramente negociados.As diferenças vão se constituindo a duras pe<strong>na</strong>s, assim como aceitá-lastor<strong>na</strong>-se ca<strong>da</strong> vez mais difícil.Os hábitos dos pais refletidos <strong>na</strong>s crianças surgem como automação eobediência, não como interiorização e escolha, mesmo porque decorrem de contatosquase instantâneos, <strong>da</strong> i<strong>da</strong> de carro para a escola...ou alguns minutos logo após ojantar, para não perder a hora de dormir, de acor<strong>da</strong>r, de ir para a escola e de tantasoutras ativi<strong>da</strong>des que afastam as crianças dos adultos, dos pais.E aí surge a carência, que independe <strong>da</strong> classe social, está igualmentepresente em todos os locais. Não depende <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong> família, mas de suadinâmica, pois não tem a ver com um conjunto de pessoas, mas com pessoas queagem em concerto e a forma como as famílias vivem ou não vivem, suas relações,seu dia-a-dia, beirando ao instantâneo, chega a ser quase uma violência.Essa instantanei<strong>da</strong>de não permite a incorporação dos fatos. Alia<strong>da</strong> à“espetacularização” do real e à privatici<strong>da</strong>de constituem marcas de novo mundo.Neste contexto as subjetivi<strong>da</strong>des de nossas crianças estão se construindo, nestecontexto ocorrem suas representações...“Uma educação que não efetiva o discurso e a ação,onde os sujeitos não são protagonistas, isto é, detentores <strong>da</strong> palavra e autônomos em seu agir, éuma educação que perpetua e reitera a violência dentro e fora dela.” 217217 GUIMARÃES, M.R., OLIVEIRA, W.F. de. O conceito de violência em Han<strong>na</strong>h Arendt e suarepercussão <strong>na</strong> educação. In: ONG Educadores para a Paz.< http:// educapaz.org.br. > Acesso em11/09/2005.246


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA maneira como as crianças se propõem a falar e falam sobre violência éreveladora do quanto elas estão familiariza<strong>da</strong>s com ela, e de quantos valores estãosendo construídos à margem dela. Trazer estas discussões para a pauta do diálogodeve ser o papel de todos aqueles que estão envolvidos com a educação.De violência, a criança sabe muito. A televisão e a vi<strong>da</strong> estão sendo capazesde colocá-las a par. Necessário, se faz experimentar outras ações, oferecendo aelas outros modelos e outros espaços de ação e diálogo. Elas desejam egostam...quando tem alguém não fico vendo desenho..Dentro de uma perspectiva biológica há uma tentativa de <strong>na</strong>turalizar aviolência. Mas ela é não é inerente à condição huma<strong>na</strong>, a ação do homem podefazê-lo em outro sentido e para isso, como nos coloca Eco 218 , precisamos abando<strong>na</strong>ra posição de leitores ingênuos <strong>da</strong> mídia, do mundo, transformando-nos em leitoresempíricos, de modo a não nos contentarmos com preconceitos e estereótipos comoexplicações do mundo, mas para que façamos <strong>da</strong>s questões cotidia<strong>na</strong>s, um universode investigações, e, apropriando-nos mais e mais <strong>da</strong>s diferentes dimensões <strong>da</strong>scoisas, do mundo, possamos nos aproximar <strong>da</strong> “ver<strong>da</strong>de” e de uma ação maisefetiva.A questão <strong>da</strong> violência não cabe em explicações simplistas, <strong>na</strong>turais ouuniversais, pertence ao terreno <strong>da</strong>s ações do homem e precisa ser encara<strong>da</strong> comotal.218 ECO, Umberto. Seis passeios pelos bosques <strong>da</strong> ficção. São Paulo, Companhia <strong>da</strong>s Letras,1994.247


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A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAANEXO AROTEIRO DE ENTREVISTAS/ PAIS E CRIANÇAS265


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAANEXO BQUESTIONÁRIO/ PAIS266


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAANEXO CTERMO DE CONSENTIMENTO E LIVRE ESCLARECIDO267


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAANEXO DFICHA TÉCNICA DOS DESENHOS268


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAANEXO EDESENHOS CITADOS: PAÍS DE ORIGEM, ANO DE PRODUÇÃO EANO DE EXIBIÇÃO269


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA270


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA: uma perspectivapara repensar a educaçãoRoteiro de Entrevista com Crianças:I. Identificação1.Nome2.I<strong>da</strong>de3.Escola4 Série: / Horário5.Outras ativi<strong>da</strong>des6.Estrutura Familiar:7.Trabalho dos pais8. Período que fica com a mãe/ pai durante a sema<strong>na</strong>9. Com quem fica e quem os acompanha <strong>na</strong>s ativi<strong>da</strong>des extra-curricularesII. Relação TV/ Criança1. Você assiste TV? Quando? Conte como é o seu dia e fale dos momentosem que vê TV?Quando assiste mais tempo ou menos tempo? Por que? Quantas horasvocê permanece frente à TV?2. Quando assiste mais TV? Durante a sema<strong>na</strong> ou nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>? Nasférias ou quando vai à escola??3. Assiste mais <strong>na</strong> sua casa ou <strong>na</strong> casa de amigos?4. Em que local <strong>da</strong> casa fica a TV que assiste? Faz outra ativi<strong>da</strong>de enquantoassiste TV? Assiste mais freqüentemente sozinho ou acompanhado? Dequem?5. Quais seus programas preferidos? O que mais gosta neles? Assiste emsua casa, ou <strong>na</strong> de amigos, parentes? Sozinho ou acompanhado? Dequem? Tem programas que gostaria de assistir, mas é impedido, pois está<strong>na</strong> escola nesse horário?6. Assiste desenho? Qual seu desenho preferido? Por que ele é o seupreferido?Como é a história desse desenho? (perso<strong>na</strong>gens, cor, música)7. Em que programa, ca<strong>na</strong>l e horário você assiste a esse desenho? Assistesozinho ou acompanhado? De quem?8. Seus pais sabem o que você assiste <strong>na</strong> TV? Controlam o seu tempo depermanência frente à TV? Determi<strong>na</strong>m os programas que você pode ou


não assistir? Quem, seu pai ou sua mãe controla mais o tempo frente à TVe a programação televisa? Você obedece ao horário e aos programasdetermi<strong>na</strong>dos por seus pais?9. Dos programas que gosta de assistir, quais deles seus pais não gostamque assista?Quais eles recomen<strong>da</strong>m? Vocês gostam de programas/desenhos que seus pais recomen<strong>da</strong>m?10. Cite um desenho que seus pais não gostam que vejam. Por que eles nãogostam que assista? Vocês assistem aos desenhos que seus paisproíbem? Quais? Onde? Com quem?11. Vocês têm conhecimento desses programas? Como fica sabendo, quemconta para você? Seus colegas assistem?Você tem notícia se os pais deseus colegas agem como os seus pais?12. Algum dos desenhos que assiste acha violento? Por quê?O que ele tem deviolento nele? Você gosta de assistir desenhos violentos?13. Você pode citar um desenho norte-americano e um japonês que considereviolento? O que nesse desenho considera violento?14. E os seus pais, acham esse desenho violento? Por quê? Do que elesgostam ou não gostam?15. Tente lembrar de um desenho que seus pais acham violento? Eles dizempor que o acham violento? E o que acha desse mesmo desenho? Por quê?16. Quando você assiste a um desenho violento o que sente? Gosta? Temmedo? Do que você gosta e do que não gosta? Em algum lugar, que nãoem sua casa assiste aos programas que seus pais não deixam? Alguémconta para você? Seus colegas assistem?17. É diferente quando assiste sozinho ou acompanhado? De adulto oucriança?18. Tem outros programas que você acha violento? Por quê? Você gosta ounão de assistir? Do que gosta e do que não gosta nesses programas? Porquê?19. E no computador vocês podem ver os mesmos desenhos? Há outros quevocês só vêm no computador?


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA:uma perspectiva para repensar a EducaçãoPrezados pais!O seu filho(a) participou <strong>da</strong> pesquisa que realizamos <strong>na</strong> escola em que estu<strong>da</strong> e quetem como objetivo, conhecer a representação <strong>infantil</strong> <strong>da</strong> violência no desenho animado. Paracompletarmos esse estudo, seria muito importante que um de vocês respondesse às questõesconti<strong>da</strong>s nesse formulário. Elas se referem ao que você pensa sobre a programação televisiva e àsua relação e a de seu (sua) filho(a) com a TV.A partir <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s junto aos pais e às crianças entrevista<strong>da</strong>s, estapesquisa pretende ampliar os conhecimentos sobre esta relação e, assim, contribuir com asdiscussões relativas à influência <strong>da</strong> TV sobre as crianças, aju<strong>da</strong>ndo pais e professores a li<strong>da</strong>remmelhor com a televisão.Contamos com sua participação. Ela é muito importante para nós!I.DADOS DA CRIANÇA1.Nome:___________________________________________________________-2.I<strong>da</strong>de:___________________________________________________________3.Escola:__________________________________________________________4.Série:___________________________________________________________II. DADOS DOS PAIS1. Pai:a) I<strong>da</strong>de:b) Escolari<strong>da</strong>de:c) Profissão:2. Mãe:a) I<strong>da</strong>de:b) Escolari<strong>da</strong>de:c) Profissão:III. ESTRUTURA FAMILIAR1. Família tradicio<strong>na</strong>l (pai, mãe, irmãos dos mesmos pais)a) Sim ( )b) Não ( )Se não: Especificar a estrutura: _____________________________________________________2. A criança vive com:a) Pai ( )b) Mãe ( )c) Avós ( )c) Outros ( )3. A criança tem irmãos?Sim ( ) Não ( )


Se sim:a) Por parte de pai e mãe ( )Especificar: (i<strong>da</strong>de e sexo, <strong>na</strong> seqüência)_______________________________________________________________________________b) Por parte de um dos cônjuges ( )Especificar: (i<strong>da</strong>de e sexo, <strong>na</strong> seqüência)______________________________________________4. Freqüência <strong>da</strong>s visitas do pai ou <strong>da</strong> mãe à criança:Nunca ( ) Raramente ( ) Freqüentemente ( ) Sempre( ) Outras( )IV. RELAÇÃO DOS PAIS COM A TV1. Você assiste TV?Sim( ) Não( )Se Sim: Especifique o tempo que dedica a TV :a)Durante a sema<strong>na</strong>___________________________________________________________b)Nos fi<strong>na</strong>is de sema<strong>na</strong>_________________________________________________________2.Especifique seus hábitos frente à TV: (assi<strong>na</strong>le mais de uma alter<strong>na</strong>tiva)a) Assiste todos os dias ( )b) Diferentes Horários ( )c) Sempre no mesmo horário( )d) Somente no período noturno ( )e) Na sala ( )f) No quarto ( )g) Acompanhado <strong>da</strong> esposa/ marido ( )h) Acompanha<strong>da</strong> dos filhos ( )i) Em silêncio ( )j) Comenta a programação ( )3.Indique seus programas preferidos?_______________________________________________________________________________V. RELAÇÃO TV/CRIANÇA1. Quantas horas a criança assiste TV?____________________________________2. Seu filho(a)assiste TV:a) Sozinha( )b) Acompanha<strong>da</strong>( )________________De quem?______________________c) Na própria casa ( )d) Na casa de amigos ( )3. Considere os aspectos abaixo para avaliar se você controla a relação de seu filho(a) coma TV: (você poderá assi<strong>na</strong>lar mais de uma alter<strong>na</strong>tiva)a) Tempo frente à TV? Sim ( ) Não( )b) Horário: Sim ( ) Não( )c) Programação: Sim ( ) Não( )Se sim: Como se dá esse controle?Especificar___________________________________________________________________


4. Você conhece os programas/desenhos que a criança assiste?Sim( ) Não( )Se sim: Indique os programas que seu filho mais gosta: ._______________________________________________________________________________5. Você assiste a esses programas/ desenhos com a criança.Quais?Especificar:______________________________________________________________________6. Seu filho assiste a seus programas. Quais?Especificar:______________________________________________________________________7. Você discute a programação com seu filho? Quando? Por quê?_______________________________________________________________________________8. Indique os programas/desenhos que você proíbe ou não gosta que seu (sua) filho(a)assistaProgramas/DesenhosRazões_______________________________________________________________________________9. Indique os programas/desenhos que você gosta que seu (sua) filho (a) assista e asrazões:Programas/DesenhosRazões_______________________________________________________________________________10. Que características fazem com que considere um programa violento?_______________________________________________________________________________11. O que pensa sobre a relação <strong>da</strong> criança com a violência televisiva?_______________________________________________________________________________12. Comentários:(Fale o que desejar sobre o tema)_______________________________________________________________________________CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO SÓCIO-ECONÔMICO-CRITÉRIO BRASIL(ITENS DECONFORTO(Indique a quanti<strong>da</strong>de que possui)a) Televisão ( )b) Rádio ( )c) Automóvel ( )d) Aspirador de pó ( )e) Máqui<strong>na</strong> de lavar roupas ( )f) Videocassete ( )g) DVD ( )h) Geladeira ( )i) Freezer (aparelho independenteou parte <strong>da</strong> geladeira duplex ( )j) Emprega<strong>da</strong> fixa mensalista ( )k) Banheiro ( )


ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES/ <strong>USP</strong>TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDOVocê e seu filho(a) estão sendo convi<strong>da</strong>dos (as) a participarem como voluntários em umapesquisa. Após ser esclarecido sobre as informações a seguir, no caso de permitir que seu filhoparticipe <strong>da</strong> pesquisa e de aceitar fazer parte do estudo, assine ao fi<strong>na</strong>l deste documento <strong>na</strong> linhacorrespondente a confirmação de sua participação e de seu filho(a). Caso não puder, porémconsentir que seu filho colabore, assine seu nome ao lado do nome dele.Em caso de recusa você não será pe<strong>na</strong>lizado(a) de forma alguma. Em caso de dúvi<strong>da</strong> você podeprocurar a responsável pelo Projeto pelos telefones: 3864-3213/ 7335-8680.INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:Título do Projeto: A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIA: uma perspectivapara repensar a educaçãoPesquisador Responsável: Márcia Apareci<strong>da</strong> Giuzi Mareuse 1Telefone para Contato: 3864-3213/ 7335-8680• A pesquisa tem por objetivo obter uma definição de violência que caracterize o universo<strong>infantil</strong> pauta<strong>da</strong> <strong>na</strong>s representações de violência que as crianças constroem <strong>na</strong>s relaçõessociais e se estendem para o desenho animado, visando explicitar a possível relação entreviolência <strong>na</strong> mídia e violência individual e social.• A sua participação e de seu filho nessa pesquisa trarão contribuições significativas para acompreensão <strong>da</strong> relação entre violência real e violência <strong>na</strong> TV. Este tema tem sido alvo dedebate exaustivo <strong>na</strong> socie<strong>da</strong>de e merece estudo que relacione a visão dos atoresenvolvidos crianças, pais e membros <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em geral.• A pesquisa envolverá:1.Entrevista com as crianças em dois momentos e deverão acontecer durante o seu período <strong>na</strong>escola. No primeiro momento visando obter <strong>da</strong>dos relativos a seus desenhos preferidos epadrões de comportamento que permitam descrever características dessa audiência. Em umsegundo momento as crianças assistirão a dois desenhos e serão interroga<strong>da</strong>s sobre as<strong>na</strong>rrativas desses desenhos.2. Entrevista e/ ou questionário com pais buscando conhecer o comportamento <strong>da</strong> criançacomo telespectador e a opinião dos mesmos com relação aos desenhos assistidos por seufilho(a).3. Grupo Focal com adultos representando a socie<strong>da</strong>de em geral, buscando obter a opiniãodos mesmos sobre os desenhos que as crianças assistem, após exibição dos mesmos.As entrevistas com as crianças serão grava<strong>da</strong>s e filma<strong>da</strong>s e a participação dos adultos,somente grava<strong>da</strong>s em cassete.--------------------------------------------Márcia Apareci<strong>da</strong> Giuzi Mareuse1 Psicóloga pela PUC / SP. Pesquisadora do LAPIC - Laboratório de Pesquisa sobre Infância, Imaginário e Comunicação <strong>da</strong>Escola de Comunicações e Artes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São PauloDoutoran<strong>da</strong> em Comunicação e Educação pela Escola de Comunicações e Artes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo eProfessora de Psicologia e Metodologia Científica <strong>da</strong> FAMEC desde 1999.


CONSENTIMENTO DE SUA PARTICIPAÇÃO E DE SEU FILHO(A) COMO SUJEITOSFui devi<strong>da</strong>mente informado(a) e esclarecido(a) pelo pesquisador sobre a pesquisa, osprocedimentos nela envolvidos e os benefícios e riscos de minha participação. Foi-me garantidoque posso me retirar a qualquer momento.Local e <strong>da</strong>ta:Nome do responsável (participante <strong>da</strong> pesquisa)_______________________________________Nome <strong>da</strong> criança (participante <strong>da</strong> pesquisa)___________________________________________


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADESENHOS CITADOS EM ENTREVISTAS COM AS CRIANÇASNº Nome do Desenho País de OrigemAno de Ano deExibição Produção1 Gasparzinho Estados Unidos 1960 19502 Zé Colméia Estados Unidos 1969 19603 Tom & Jerry Estados Unidos 1970 19584 Power Rangers Estados Unidos 1993 19935 O Máskara Estados Unidos 1995 19956 Timão & Pumba Estados Unidos 1995 19957 Super-Homem Estados Unidos 1996 19968 Mulan Estados Unidos 1998 19989 Bob Esponja Estados Unidos 1999 -10 O Laboratório de Dexter Estados Unidos 1999 199611 Pica-Pau Estados Unidos 1999 194012 As Aventuras de Jackie Chan Estados Unidos 2000 200013 Megas XLR Estados Unidos 2000 200014 Super Choque Estados Unidos 2000 199215 A Múmia Estados Unidos 2001 200116 As Meni<strong>na</strong>s Superpoderosas Estados Unidos 2001 199817 Billy & Mandy Estados Unidos 2001 -18 Jimmy Neutron Estados Unidos 2001 199519 Liga <strong>da</strong> Justiça Estados Unidos 2001 200120 Os Padrinhos Mágicos Estados Unidos 2001 200121 A Turma do Bairro Estados Unidos 2002 199922 Barbie Estados Unidos 2002 195823 Kim Possible Estados Unidos 2002 200224 Homem Aranha Estados Unidos 2003 200325 Os Jovens Titãs Estados Unidos 2003 -26 Dave, o bárbaro Estados Unidos 2004 -27 Backyardigans Estados Unidos 2005 -28 Mansão Foster Estados Unidos 2005 200529 Avatar Estados Unidos - -30 Cyberchase Estados Unidos - 199531 Cavaleiros do Zodíaco Japão 1994 198632 Megaman Japão 1995 198733 Samuray X Japão 1996 199434 Inu Yasha Japão 2000 199635 Yu-Gi-Oh Japão 2000 199636 Mirmo Zibang Japão 2002 200237 Hello Kitty Japão 2004 197438 Músculo Total Japão 2005 200239 Super Campeão Japão - 198340 Du – Dudu – Edu Ca<strong>na</strong>dá 1999 199841 As Aventuras de Henry Ca<strong>na</strong>dá 2003 200342 Futebol de Rua França 2006 200543 Clube <strong>da</strong>s Winxs Itália 2005 -44 Art Attack Inglaterra - 198945 Lazytown Islândia 2004 200446 Pucca Coréia do Sul 2004 200447 Chaves México 1971 197148 Os Camundongos Aventureiros49 Os Sete Monstrinhos50 Agendinha51 Emília Alexander52 Judô Brasil


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAGasparzinho 1País de Origem: Estados UnidosProdução: Harvey Comics (Famous Studios)Ano de Produção: 1945/1950Ano de Exibição: 1960 (Séries Anima<strong>da</strong>s)Narrativa: Gasparzinho o Fantasminha Amigo é um perso<strong>na</strong>gem norte americanode desenho animado e também de ban<strong>da</strong> desenha<strong>da</strong> voltado para o público<strong>infantil</strong>. Em inglês é chamado de Casper the Friendly Ghost. Nas suas históriassurgiriam vários coadjuvantes de sucesso, como o Trio Assombrado (os tiosmalvados do fantasminha), o diabinho Brazinha e a bruxinha Wendy.Gasparzinho encar<strong>na</strong> um herói valente e bem comportado ao mesmo tempo querepresenta a contravenção, por ferir o código de ética <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de dosfantasmas, ao fazer o bem.Perso<strong>na</strong>gens:GasparzinhoTrio Assombrado (os tios malvados do fantasminha)O diabinho BrazinhaA bruxinha Wendy.Spin-Off: Revistas em Quadrinhos, Bonecos animados e Filme.Episódios: 561 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Gasparzinho . Acesso em: Jan.2007.Fonte: WIKIPEDIA EUA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Casper_the_Friendly_Ghost .Acesso em: Jan. 2007.1


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAZé Colméia 2País de Origem: Estados UnidosProdução: Han<strong>na</strong> Barbera ProductionsAno de Produção: 1960Ano de Exibição: Brasil – 1969, TV Globo, com representações até o ano 2000.Narrativa: História de dois ursos que tentam roubar cestas dos visitantes doParque Jellystone, transgredindo as ordens do guar<strong>da</strong> florestal.Perso<strong>na</strong>gens:Zé Colméia – UrsoCatatau – Urso amigo de Zé ColméiaGuar<strong>da</strong> Chico – Guar<strong>da</strong> FlorestalSpin-Off: Jogos de Vídeo Game e bonecos animados.Episódios:2 Fonte: HANNA BARBERA. Disponível em:http://www.han<strong>na</strong>barbera.com.br/zecolme/zecolme.htm . Acesso em: Jan. 2007.2


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATom & Jerry 3País de Origem: Estados UnidosProdução: Han<strong>na</strong> & Barbera, <strong>na</strong> MGMAno de Produção: 1940 a 1958Ano de Exibição: Brasil – 1970 <strong>na</strong> TV TupiNarrativa: São desenhos sobre a tradicio<strong>na</strong>l perseguição dos cachorros sobre osgatos e dos gatos sobre os ratos, onde Tom vive aprontando armadilhas para oJerry.Perso<strong>na</strong>gens:Tom – Gato que vive perseguindo o rato Jerry.Jerry – Rato esperto, que vive fugindo <strong>da</strong>s armadilhas.Spin-Off:Episódios:3 Fonte: HANNA BARBERA. Disponível em: http://www.han<strong>na</strong>barbera.com.br/tom/tom.htm .Acesso em: Jan. 2007.3


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPower Rangers 4País de Origem: Estados UnidosProdução: Produtora Saban EntertainmentAno de Produção: 1993Ano de Exibição: 1993Narrativa: Em to<strong>da</strong>s as Tempora<strong>da</strong>s são recrutados alguns adolescentes para quepossam receber tipos de poderes e se tor<strong>na</strong>rem os Power Rangers – os únicoscapazes de deter os Vilões. Ao se tor<strong>na</strong>rem rangers para resolver os mais variadosproblemas, eles contam com a aju<strong>da</strong> de seus ZORDS (Robos) estes se unemformando um poderoso Megazord, que é um robo gigante que é usado quando oinimigo se tor<strong>na</strong> gigante também.Veja abaixo a lista de tempora<strong>da</strong>s:Tempora<strong>da</strong> Nome origi<strong>na</strong>l Ano*Power Rangers Mighty Morphin Power Rangers 1993 – 1995Alien Rangers Mighty Morphin Alien Rangers 1995Power Rangers: Zeo Power Rangers: Zeo 1996Power Rangers: Turbo Power Rangers: Turbo 1997Power Rangers: No Espaço Power Rangers: In Space 1998Power Rangers: Na Galáxia Perdi<strong>da</strong> Power Rangers: Lost Galaxy 1999Power Rangers: O Resgate Power Rangers: Lightspeed Rescue 2000Power Rangers: Força do Tempo Power Rangers: Time Force 2001Power Rangers: Força Animal Power Rangers: Wild Force 2002Power Rangers: Tempestade Ninja Power Rangers: Ninja Storm 2003Power Rangers: Dino Trovão Power Rangers: Dino Thunder 2004Power Rangers: S.P.D.Power Rangers: S.P.D.2005(Super Patrulha Delta)(Space Patrol Delta)Power Rangers: Força Mística Power Rangers: Mystic Force 2006Power Rangers: Operação Overdrive Power Rangers: Operation Overdrive 2007(*) Os anos se referem à exibição origi<strong>na</strong>l nos EUA.Perso<strong>na</strong>gens: Basicamente um ranger de ca<strong>da</strong> cor e um Zord para ca<strong>da</strong> umdeles, além de diversos vilões.Spin-Off: Bonecos, Jogos de Vídeo Game e Filmes.Episódios: 145 episódios de 1993 a 1995; 10 episódios em 1995; 45 episódiosem 1997; 43 episódios em 1998; 45 episódios em 1999; 40 episódios em 2000; 40episódios em 2001; 40 episódios em 2002; 38 episódios em 2003; 38 episódiosem 2004; 38 episódios em 2005; 32 episódios em 2006.4 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Power_Rangers . Acesso em: Jan.2007.4


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO Máskara 5País de Origem: Estados UnidosProdução:Ano de Produção: 1995Ano de Exibição: 1995Narrativa: A série começa quando umamáscara é encontra<strong>da</strong> em um antiquário porStanley Ipkiss, um fracassado neurótico sobre quem todos levam vantagem.Colocando a máscara, ele se transforma numa criatura de face verde e compoderes mágicos. Ele utiliza esses novos poderes ilimitados para se vingar detodos os que o humilharam. Retirando a máscara, ele volta a ser o normal Stanley.Em outras histórias, a máscara é utiliza<strong>da</strong> por outras pessoas, sempre com omesmo resultado: a pessoa adquire poderes ilimitados e passa a sentir vontade defazer tudo o que sempre quis. Normalmente, com métodos bizarros e violentos.Perso<strong>na</strong>gens:Stanley Ipkiss (O Máscara)MiloBebê ForthwrightCharlie SchumakerPeggy BrandtTenente Mitch KellawayDoyle, KablamisPrefeito Mitchell TiltonPretoriusPeteEddie (garoto peixe)Doc (o coisa)Senhora Francis ForthwrightLonnie o tubarãoDr. Arthur NeumanSpin-Off: DVDs com episódios, revistas em quadrinhos.Episódios: 53 divididos em 3 tempora<strong>da</strong>s5 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A1skara . Acesso em: Jan.2007.5


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIATimão & Pumba 6País de Origem: Estados UnidosProdução: Estúdios DisneyAno de Produção: 1995Ano de Exibição: de Setembro de 1995 até 1999Narrativa: Timão e Pumba são perso<strong>na</strong>gens do filme O Rei Leão de WaltDisney.Os dois perso<strong>na</strong>gens ficaram conhecidos por cantarem a musica Haku<strong>na</strong>Matata do filme.Tempo depois os dois perso<strong>na</strong>gens ganharam seu própriodesenho animado <strong>na</strong> TV.Perso<strong>na</strong>gens:TimãoPumbaQuintFredShenzy, Banzai e Ed (Hie<strong>na</strong>s do Rei Leão)Speedy, o caracolRafikiIrwin (O Pingüim)ZazuPrincesa Tatia<strong>na</strong>SimbaSpin-Off: Jogos de PC, DVDs com episódios e bonecos.Episódios: 866 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Timon_and_Pumbaa_(TV_series) .Acesso em: Jan. 2007.6


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASuper-Homem 7País de Origem: Estados UnidosProdução: DC Comics (Desenhista Mike Manley)Ano de Produção: 1996Ano de Exibição: 1996 até 2001Narrativa: Superman <strong>na</strong>sceu Kal-El (que significa Filho <strong>da</strong>s Estrelas emkryptonês), no planeta Krypton, e foi man<strong>da</strong>do a Terra por Jor-El, seu pai,cientista, momentos antes do planeta explodir. O foguete aterrisou <strong>na</strong> Terra <strong>na</strong>ci<strong>da</strong>de de Smallville (Pequenópolis), onde o jovem Kal-El foi descoberto porJo<strong>na</strong>than e Martha Kent. Conforme foi crescendo, ele descobriu que tinha poderesdiferentes dos humanos normais. Quando não está lutando contra o mal, ele vivecomo Clark Kent, repórter do Planeta Diário. Clark trabalha com Lois Lane, comquem teve um romance e hoje estão casados.Perso<strong>na</strong>gens:Kal-El (Nome Kryptoniano)Clark Kent (Nome Terrestre)Lois Lane (esposa);Jor- El (pai biológico);Lara (mãe biológica);Jo<strong>na</strong>than Kent (pai adotivo)Martha Kent (mãe adotiva)Kara Zor-El (prima biológica)Lex Luthor (Inimigo)Spin-Off: DVDs com episódiosEpisódios: 547 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Superman . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA EUA. Disponível em:http://en.wikipedia.org/wiki/Superman:_The_Animated_Series . Acesso em: Jan. 2007.7


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMulan 8País de Origem: Estados UnidosProdução: Estúdios DisneyAno de Produção: 1998Ano de Exibição: 1998Narrativa: Quando o terrível Shan-Yu, líder dos Hunos, invade a Chi<strong>na</strong> Imperial,revoltado com a construção <strong>da</strong> Grande Muralha, o Imperador orde<strong>na</strong> que umhomem de ca<strong>da</strong> família seja convocado para servir o Exército Imperial e lutar peloreino. A jovem Fa Mulan, sabendo que seu pai, o velho sol<strong>da</strong>do Fa Zu, estádoente e não tem condições de lutar, decide assumir o lugar dele, se disfarça dehomem e se apresenta no exército com a armadura e a espa<strong>da</strong> dele. Osancestrais <strong>da</strong> família Fa decidem enviar um dragão para trazê-la de volta. Mas odragãozinho Mushu, que trabalha como acor<strong>da</strong>dor dos outros ancestrais, decide irás escondi<strong>da</strong>s convencer a jovem a voltar. Mas ao perceber que ela não vaidesistir, ele resolve ajudá-la em sua farsa e fazê-la voltar vitoriosa <strong>da</strong> batalhacontra os Hunos.Perso<strong>na</strong>gens:han-Yu;Mulan;Yao;Fa Li;Avó Fa;Chi Fu;Imperador <strong>da</strong> Chi<strong>na</strong>;Mushu;Fa Zu;General Li;Capitão Li Shang;Casamenteira;Ling;Chien Po;Grande Ancestral.Spin-Off: DVDs com episódios, bonecos.Episódios:8 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mulan . Acesso em: Jan. 2007.8


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIABob Esponja 9País de Origem: Estados UnidosProdução: Stephen HillenburgAno de Produção:Ano de Exibição: 1999Narrativa: O desenho relata a história de Bob Esponja, uma esponja amarela quevive no fundo do oceano Pacífico, num lugar conhecido como Fen<strong>da</strong> do Biquíni.Ele é empregado de uma lanchonete (O Siri Cascudo) especializa<strong>da</strong> emhambúrgueres de siri cujo proprietário é o Seu Siriguejo. Junto com Bob, trabalha<strong>na</strong> lanchonete com uma lula macho chama<strong>da</strong> Lula Molusco. O melhor amigo deBob é Patrick, uma estrela-do-mar rosa. Os roteiros dos episódios giram em torno<strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong>de de Bob Esponja e Patrick, que nunca encontram malícia <strong>na</strong>satitudes de Seu Siriguejo, Lula Molusco, Plankton e outras perso<strong>na</strong>gens ardilosas<strong>da</strong> trama.Perso<strong>na</strong>gens:Bob EsponjaPatrick Estrela"Seu" SiriguejoLula Molusco TentáculosSandy BochechasSheldon J. PlanktonSenhora PuffPérolaSquilliam ImaginosoLarry a LagostaHomem-SereiaMexilhãozinhoSpin-Off: Bonecos, Camisetas, Canecas, Jogos de Vídeo Game e PC e um Filme.Episódios:9 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bob_Esponja . Acesso em: Jan.2007.9


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAO Laboratório de Dexter 10País de Origem: Estados UnidosProdução: Genndy Tartakovsky (Han<strong>na</strong>-Barbera)Ano de Produção: 1996Ano de Exibição: 1999 – Última Tempora<strong>da</strong> 2003Narrativa: Trata-se de um desenho cujo foco é um menino gênio chamado Dexter,que possui um imenso laboratório secreto conectado a seu quarto. O garoto estáconstantemente em conflito com sua endiabra<strong>da</strong> irmã mais velha, Dee Dee.Dexter possui um arqui-inimigo que se intitula Man<strong>da</strong>rk, outra criança superdota<strong>da</strong>,e que tem uma gargalha<strong>da</strong> muito peculiar ("A-ha-ha! A-ha-ha-ha-ha!").Quase sempre, Man<strong>da</strong>rk, através de métodos fraudulentos ou por puracoincidência, assume o mérito <strong>da</strong>s conquistas de Dexter.Outros perso<strong>na</strong>gens que aparecem regularmente <strong>na</strong> série são os pais de Dexter.Muitas vezes, os episódios parecem não ter uma seqüencia lógica entre si.Além <strong>da</strong> série, há um especial de uma hora chamado Ego Trip (no Brasil,rebatizado como A Viagem de Dexter), em que Dexter viaja através do tempo eencontra seus futuros egos.Perso<strong>na</strong>gens:DexterDee DeeA mãe de Dexter e Dee DeeO pai de Dexter e Dee DeeMan<strong>da</strong>rkSr. LevinskyDouglas MordechaiSpin-Off: Revistas em quadrinhos, Jogos de Vídeo Game e PC, Bonecos e umFilme.Episódios: 6510 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dexter's_Laboratory . Acesso em:Jan. 2007.10


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPica-Pau 11País de Origem: Estados UnidosProdução: Walter Lantz (Universal Studio)Ano de Produção: O primeiro desenho foi criado em 1940, o mais atual em 1999Ano de Exibição: 1999Narrativa: O Pica-Pau é sem dúvi<strong>da</strong> é aquele que mais cativou as crianças. Nãosó pelo seu espírito aventureiro, brincalhão e bagunceiro, mas sobretudo pelo seucarisma, fazendo com que as crianças se identificassem com ele, despertandopaixões e, acima de tudo, gerando boas gargalha<strong>da</strong>s.Perso<strong>na</strong>gens:Pica-Pau (Woody Woodpecker)Pauli<strong>na</strong> Pica-Pau (Winnie Woodpecker)Toquinho e Lasquita (Knothead e Splinter)Pé-de-Pano (Sugarfoot)Picolino (Chilly Willy)SmedleyZeca Urubu (Buzz Buzzard)Zé Jacaré (Gabby Gator)Leôncio (Wally Walrus)Meany Ranheta (Miss Meany)Dapper Denver DooleyInspetor Willoughby (Inspector Willoughby)Professor GrossenfibberProfessor Dingle DongJubileuAndy Pan<strong>da</strong>Miran<strong>da</strong> Pan<strong>da</strong>Mag e Sam.Mãe e Pai (Maw and Paw)A Família Urso (The Beary Family)Spin-Off: não temEpisódios: 19511 Fonte: UOL. Disponível em: http://retrotv.uol.com.br/picapau/index2.html . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pica-Pau . Acesso em: Jan. 2007.11


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAs Aventuras de Jackie Chan 12País de Origem: Estados UnidosProdução:Ano de Produção: 2000Ano de Exibição: 9 de Setembro de 2000Narrativa: O show se inicia com o experiente arqueólogo Jackie sendo recrutadopor uma agência paralela do governo para descobrir uma antiga conspiração.Tendo sua sobrinha de 11 anos como companheira nesta ousa<strong>da</strong> aventura, amissão de Jackie envolve a localização de 12 talismãs espalhados ao redor domundo, ca<strong>da</strong> um possuindo poderes assombrosos. Esta missão perigosa remeteJackie em uma corri<strong>da</strong> contra o relógio uma vez que figuras experientes em artesmarciais aliados com o crime tentarão impedi-lo a todo momento.Perso<strong>na</strong>gens:Jackie Chan;Tohru;Valmont;Capitão Black;Tio;Jade;Ratso;Chow;Finn;Bando <strong>da</strong>s Sombras.Spin-Off: Dvds com episódios.Episódios: 95 divididos em 5 tempora<strong>da</strong>s12 Fonte: REDE GLOBO. Disponível em: http://tvglobinho.globo.com/TVGlobinho/0,6993,1854-p-8305,00.html . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Aventuras_de_Jackie_Chan .Acesso em: Jan. 2007.12


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMegas XLR 13País de Origem: Estados UnidosProdução: Cartoon Network StudiosAno de Produção: Agosto de 2000Ano de Exibição: 2000Narrativa: É a história de um jovem de 20 epoucos anos e aficio<strong>na</strong>do por videogames, queencontra Megas num ferro velho (a um preçomódico de dois dólares), leva-o para casa e otransforma num super-robô com uma pinturacapricha<strong>da</strong>. o robô <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de é um protótipo de combate criado pela raçaalieníge<strong>na</strong> Glorft, que veio do futuro com o objetivo destruir a terra.Este robô foi roubado no futuro pela piloto Kiva, que desespera<strong>da</strong>mente tentalevar a máqui<strong>na</strong> para o passado, numa batalha decisiva contra os glorft, que seriaganha caso a máqui<strong>na</strong> de batalha fosse usa<strong>da</strong> pelos humanos.Por um acaso do destino, a tentativa de roubo fracassa, então o robô e a pilotosão envia<strong>da</strong>s (junto com uma <strong>na</strong>ve de guerra glorft) acidentalmente para osarredores do ano 2000, e ficando presos lá, pois o aparelho de viagem no tempoque o robô possuía fora <strong>da</strong>nificado.Coop encontra o robô no ferro-velho, totalmente <strong>da</strong>nificado, e curiosamente,modifica a máqui<strong>na</strong> do futuro e a transforma no que parece ser um video-gamegigante.Impossibilita<strong>da</strong> de voltar para seu tempo e de pilotar o robô, kiva decide trei<strong>na</strong>r ogordo e desajeitado piloto.Perso<strong>na</strong>gens:CaraJaiminhoKivaGoatGorrathMag<strong>na</strong>nimousMegasSpin-Off: Jogos de Vídeo-Game e PC e DVDs com os episódiosEpisódios:13 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Megas_XLR . Acesso em: Jan.2007.13


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASuper Choque 14País de Origem: Estados UnidosProdução: Warner Bros em parceria como Cartoon NetworkAno de Produção: 1992/2000Ano de Exibição: 2000Narrativa: Super Choque (Static Shock) é um desenho animado <strong>da</strong> DC Comics,seu perso<strong>na</strong>gem principal é um adolescente negro chamado Virgil, que vive emuma ci<strong>da</strong>de tranqüila americano chama<strong>da</strong> Dakota. Até que depois de umaexplosão de gases experimentais provoca<strong>da</strong> no cais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de - que foi chama<strong>da</strong>de Big Bang - Dakota se vê cheia de pessoas que respiraram o gás mutagênico eassim ganharam super-poderes. Virgil ganhou poderes elétricos e decidiu tor<strong>na</strong>rseum Super-Herói, e assim criou o disfarce de Super Choque. O desenho retrataa vi<strong>da</strong> de um garoto negro li<strong>da</strong>ndo com a vi<strong>da</strong>, a escola, os preconceitos, asdesigual<strong>da</strong>des sociais e ain<strong>da</strong> enfrentando vários inimigos com seus superpoderese uma incrível dose de bom humor para manter a ci<strong>da</strong>de de Dakota empaz. Com a exceção do seu melhor amigo, Ritchie, ninguém sabe que Virgil é oSuper Choque, e assim ele tenta manter sua identi<strong>da</strong>de secreta. Mais tarde,Ritchie, descobre que ganhou o poder de uma super inteligência, que semanifestou um tempo depois, inventou equipamentos de alta tecnologia e tornouseum super-herói, com o nome Gear, para aju<strong>da</strong>r o Super Choque.Perso<strong>na</strong>gens:Virgil Ovid Hawkins (Super Choque/Static Shock)Robert HawkinsSharon HawkinsJean HawkinsTri<strong>na</strong> JessupLee RalphSpin-Off: não temEpisódios:14 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Super_Choque . Acesso em: Jan.2007.14


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA Múmia 15País de Origem: Estados UnidosProdução: Universal StudioAno de Produção: 2001Ano de Exibição: 2001Narrativa: Desenho animado baseado no grandesucesso dos cinemas "O Retorno <strong>da</strong> Múmia", que<strong>na</strong>rra a série de aventuras vivi<strong>da</strong>s por AlexO'Connell e seus pais arqueólogos, Rick e EvelynO'Connell.A produção, lança<strong>da</strong> nos Estados Unidos emsetembro de 2001, é apresenta<strong>da</strong> <strong>na</strong> AméricaLati<strong>na</strong> através <strong>da</strong> FOX Kids.Perso<strong>na</strong>gens:Alex O'ConnellRick O'ConnellEvelyn O'ConnellJo<strong>na</strong>than Car<strong>na</strong>hamImhotepSpin-Off: não temEpisódios:15 Fonte: TV MAGAZINE. Disponível em: http://www.tvmagazine.com.br/conteudo/arquivo/<strong>da</strong>rquivo.asp. Acesso em: Jan. 2007.15


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAs Meni<strong>na</strong>s Superpoderosas 16País de Origem: Estados UnidosProdução: Cria<strong>da</strong> por Craig McCrackenproduzi<strong>da</strong> Han<strong>na</strong>-Barbera e Cartoon Network.Ano de Produção: 1998Ano de Exibição: 2001Narrativa: O desenho relata a história de três meni<strong>na</strong>s chama<strong>da</strong>s Blossom (noBrasil, Florzinha), Bubbles (Lindinha) e Buttercup (Docinho) cujo objetivo é salvaro mundo e a ci<strong>da</strong>de de Townsville de terríveis criminosos e criaturas perigosas,entre os quais se encontra Mojo Jojo (o Macaco Louco).Elas vêm à vi<strong>da</strong> durante uma experiência realiza<strong>da</strong> pelo Professor Utonium(Professor Utônio), que acidentalmente mistura <strong>na</strong> sua fórmula o componente X ecria três meni<strong>na</strong>s com superpoderes, de quem ele passa a cui<strong>da</strong>r como filhas.Perso<strong>na</strong>gens:Florzinha;Lindinha;Docinho;Professor Utônio;Macaco Loco;O Prefeito;Sara Belo;Professora Keane.Spin-Off: Jogos de Computador, Livros, Filme e Brinquedos.Episódios: 78 divididos em 6 tempora<strong>da</strong>s16 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/As_Meni<strong>na</strong>s_Superpoderosas .Acesso em: Jan. 2007.16


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIABilly & Mandy 17País de Origem: Estados UnidosProdução: Maxwell AtomsAno de Produção:Ano de Exibição: 24 de Agosto, 2001 – presenteNarrativa: Billy e Mandy são duas típicas crianças <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Endsville. No diado aniversário do velho hamster de Billy, o Ceifador Sinistro, ou Puro Osso,aparece para levar o hamster para o além. Mas, para sua surpresa, as duascrianças não sentem medo dele, e apostam com Puro Osso: se ele ganhar, podelevar o hamster, mas, se perder, será escravo e melhor amigo dos dois até aeterni<strong>da</strong>de. Puro Osso aceita e os leva para jogar limbo, seu jogo favorito. Antesque Puro Osso pudesse vencer o jogo, Mandy diz "beijinho" para o hamster,fazendo com que ele ataque Puro Osso e derrube o limbo, assim fazendo-o perdera aposta. Puro Osso fica bastante deprimido e triste, além de passar porhumilhação e desdenho <strong>da</strong>s outras enti<strong>da</strong>des paranormais, mas, gradualmente,ele passa a se acostumar com sua nova vi<strong>da</strong>, e passa a ter uma relação de amoródiopara com as crianças, esperando que um dia seja libertado de suaescravidão.Perso<strong>na</strong>gens:BillyMandyPuro OssoIrwinNergalHoss DelgadoHarold (Pai do Billy)MindyJeffSpergJack Cabeça-de-AbóboraNervo-exposto de MandyCicatrizSpin-Off: Bonecos, Camisetas e Jogos de Vídeo Game.Episódios: 6917 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/As_terr%C3%ADveis_aventuras_de_Billy_e_Mandy . Acesso em: Jan.2007.17


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAJimmy Neutron 18País de Origem: Estados UnidosProdução: John A. Davis (Nickelodeon Studios)Ano de Produção: 2001Ano de Exibição: Primeira aparição foi em um curta-metragem de animação de1995 e <strong>na</strong> época chama-se Johnny Quasar.Narrativa: Seu nome de batizado é Jimmys Isaac Neutron, mas só sua mãe o chamaassim. Tem como melhores amigos o atrapalhado Carl Ulises Wheazer (maischamado de Caio) e o lunático Sheen Juarera Esteves (mais chamado de Sheen).Caio é gordo, alérgico a inúmeras coisas, asmático e apaixo<strong>na</strong>do por lhamas. Sheené super fã de um super-herói chamado Ultralord. Tem como outros amigos (menosíntimos) as meni<strong>na</strong>s Cindy(Cindy e Jimmy se amam <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de, mas não conseguemconfessar) e Libby(Sheen já teve uma que<strong>da</strong> por ela, talvez até ame ela de ver<strong>da</strong>de).Uma característica notável de Jimmy é o tamanho de sua cabeça e o seu grandetopete. O garoto ain<strong>da</strong> possui um laboratório secreto que fica no subsolo do quintal desua casa. É lá onde Jimmy realiza suas experiências e cria seus inventos.Perso<strong>na</strong>gens:Jimmy Neutron;Caio Wheazer;Sheen Steves;Hugh Neutron;Judy Neutron;Cindy Vortex;Libby Folfax;Do<strong>na</strong> Flora;Sam;Bebê Édie;Eustácio Strich;God<strong>da</strong>rd.Spin-Off: 2 Filmes, Bonecos e Jogos de Vídeo Game.Episódios: 56 divididos em 3 Tempora<strong>da</strong>s.18 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jimmy_Neutron . Acesso em: Jan.2007.Fonte: NICKELODEON. Disponível em: http://www.nick.com/all_nick/movies/jimmy_neutron/ .Acesso em: Jan. 2007.18


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIALiga <strong>da</strong> Justiça 19País de Origem: Estados UnidosProdução: Criação DC Comics (Gardner Fox) eprodução Warner BrosAno de Produção: 2001Ano de Exibição: Novembro de 2001Narrativa: A Liga <strong>da</strong> Justiça <strong>da</strong> América é uma equipede super heróis criados pela editora norte-america<strong>na</strong>DC Comics, inspira<strong>da</strong> <strong>na</strong> Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Justiça dosanos 40 que fez muito sucesso pela própria DC, entre eles Super-Homem,Batman, Aquaman, Mulher Maravilha, Lanter<strong>na</strong> Verde, Flash, Ajax, o Caçador deMarte, os mais famosos. Apesar dessa formação ser a mais conheci<strong>da</strong> (chama<strong>da</strong>de os Sete Magníficos) , a equipe já passou por diversas mu<strong>da</strong>nças. O atualquartel-general <strong>da</strong> Liga fica <strong>na</strong> Lua, mas eles já usaram como QG uma estaçãoespacial que orbita nosso planeta, caver<strong>na</strong>s, entre outros. A Liga <strong>da</strong> Justiça, porvezes também é chama<strong>da</strong> de Liga <strong>da</strong> Justiça <strong>da</strong> América, uma vez que emdetermi<strong>na</strong>dos momentos possuiu uma "filial" <strong>na</strong> Europa, sedia<strong>da</strong> em Paris, cujonome era Liga <strong>da</strong> Justiça Europa e já foi chama<strong>da</strong> de Liga <strong>da</strong> JustiçaInter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l.A Liga <strong>da</strong> Justiça já rendeu inúmeros títulos de história em quadrinhos edesenhos, como o recente sucesso Liga <strong>da</strong> Justiça Sem Limites,Perso<strong>na</strong>gens:Fun<strong>da</strong>dores:SupermanBatmanMulher MaravilhaLanter<strong>na</strong> Verde (Kyle Rayner)Flash (Wally West)Caçador de MarteSpin-Off: Jogos de Vídeo Game, DVDs, Revistas em Quadrinhos, Bonecos.Episódios: 52 Divididos em 2 Tempora<strong>da</strong>s19 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Liga_<strong>da</strong>_Justi%C3%A7a_%28desenho_animado%29 . Acesso em: Jan.2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Liga_<strong>da</strong>_Justi%C3%A7a#Liga_<strong>da</strong>_Justi.C3.A7a_Am.C3.A9rica_.28LJA.29 .Acesso em: Jan. 2007.19


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs Padrinhos Mágicos 20País de Origem: Estados UnidosProdução: (Nickelodeon em parceria com a Disney)Ano de Produção: 2001Ano de Exibição: 30 de Março, 2001 – PresenteNarrativa: Timmy Turner tem dez anos, é travesso e divertido. Mas, claro, osadultos estão sempre tentando domi<strong>na</strong>r sua vi<strong>da</strong>. E o pior, Vicky, um pesadelo demeni<strong>na</strong> de 16 anos.Evidentemente, Timmy necessitava de aju<strong>da</strong> e algo grandioso aconteceu:apareceram em sua vi<strong>da</strong> Cosmo e Wan<strong>da</strong>, seus padrinhos mágicos!Agora, tudo oque ele tem que fazer é pedir desejos e estes serão concedidos. Parece genial,mas o problema é que Cosmo e Wan<strong>da</strong> não são as criaturas mais brilhantes esuas varinhas mágicas, geralmente, termi<strong>na</strong>m criando confusão e desordem.Perso<strong>na</strong>gens:Timmy Turner;Pai do Timmy Turner;Mãe do Timmy Turner;Cosmo;Wan<strong>da</strong>;Jorgen Von Strangle (Jorgen Von Estranho, no Brasil);Anti-Fa<strong>da</strong>s;Vicky;A.J.;Spin-Off: Jogo de Vídeo-Game e Filme.Episódios: 8320 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Padrinhos_M%C3%A1gicos .Acesso em: Jan. 2007.20


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA Turma do Bairro 21País de Origem: Estados UnidosProdução:Ano de Produção: 1999Ano de Exibição: 2002Narrativa: Code<strong>na</strong>me: Kids Next Door (K.N.D. - A Turma do Bairro, no Brasil) éum desenho animado que <strong>na</strong>rra a história de cinco crianças trei<strong>na</strong><strong>da</strong>s paracombater a autori<strong>da</strong>de que os adultos têm sobre as crianças. No início, só haviamos números de 1 a 5, que viviam no quartel-general (uma árvore que sai de dentro<strong>da</strong> casa do Número 1). Ao longo <strong>da</strong> história, tor<strong>na</strong>m-se cente<strong>na</strong>s de agentes, masa hitória continua centraliza<strong>da</strong> no Setor V, liderado por número 1.Perso<strong>na</strong>gens:Número UmNúmero DoisNúmero TrêsNúmero QuatroNúmero CincoSpin-Off: Filmes, Jogos de PC,Episódios: 7821 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Kids_Next_Door . Acesso em: Jan.2007.Fonte: CARTOON NETWORK. Disponível em:http://www.cartoonnetwork.com.br/watch/tv_shows/knd/index.html . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/K.n.d._-_a_turma_do_bairro . Acessoem: Jan. 2007.21


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIABarbie 22País de Origem: Estados UnidosProdução: Mattel (Boneca)Ano de Produção: 1958Ano de Exibição: 2002Narrativa: São mais de 40 anos de história, Cria<strong>da</strong> por Ruth Handler e seu maridoEliot em 1936 a Barbie foi uma idéia de Ruth que sempre via sua filha Bárbarabrincando com bonecas de papel que trocavam de roupa, foi então que surgiu aidéia de criar uma boneca que trocasse de roupa, usando uma modinha e tambémcom uma feição adulta diferente <strong>da</strong>s bonecas <strong>da</strong> época. O nome Barbie foi <strong>da</strong>doem home<strong>na</strong>gem a filha do casal que se chama Bárbara e seu apelido era Barbie.A idéia de uma boneca com feição adulta, segundo Ruth, era inspirado no fato deque quando criança, você sempre quer crescer e se tor<strong>na</strong>r uma mulher adulta, ecom a Barbie isso ficou mais real e visível. Encomen<strong>da</strong><strong>da</strong> ao designer Jack Ryan,em 1958, ela foi lança<strong>da</strong> oficialmente <strong>na</strong> Feira Anual de Brinquedos de Nova York,em 9 de março de 1959. Desde então inicia-se uma trajetória de muito sucesso. Aimagem <strong>da</strong> Barbie sempre foi a de uma top model, símbolo de sucesso, beleza ejuventude.Ruth e Eliot Handler eram donos <strong>da</strong> empresa de brinquedos Mattel, fabricando aBarbie que foi vendi<strong>da</strong> a 3 dólares os primeiros exemplares e logo se tornou umasensação mundial vendendo mais de 340.000 bonecas do primeiro exemplarPerso<strong>na</strong>gens:BarbieKen (Namorado de Barbie)Christie (Amiga de Barbie)Stacy (Amiga de Barbie)Spin-Off: Boneca, Jogos de PC e Filmes.Episódios:22 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbie . Acesso em: Jan. 2007.22


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAKim Possible 23País de Origem: Estados UnidosProdução: DisneyAno de Produção: 2002Ano de Exibição: Junho de 2002Narrativa: Kim Possible é um desenho animado <strong>da</strong>Disney, no qual a perso<strong>na</strong>gem principal, KimberlyAnn Possible, é uma adolescente que mora <strong>na</strong>ci<strong>da</strong>de de Middletown e luta diariamente contra ocrime, além de ter suas obrigações escolares efamiliares. An<strong>da</strong> sempre com seu amigo Ron que temseu rato careca Rufus. E o seu maior inimigo é a aju<strong>da</strong>nte do Dr. Draken, a Shego.Ron além de amigo de Kim é tambem o seu companheiro <strong>na</strong> luta contra o crime, éum pouco trapalhão mas por mais que pareça impossivel, acaba por aju<strong>da</strong>r Kim.Possible, quer dizer possível em inglês, o autor acha que esse nome combi<strong>na</strong> comela, pois <strong>na</strong><strong>da</strong> para ela é impossível!.Perso<strong>na</strong>gens:Kim PossibleRon StoppableRufusJosh MankeyMoniqueBonnie RockwallerSaraDr. PossibleDra. PossibleJimTimSpin-Off: Não TemEpisódios: 8723 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Kim_Possible . Acesso em: Jan.2007.23


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAHomem Aranha 24País de Origem: Estados UnidosProdução: Sony Pictures Television, Marvel EnterprisesAno de Produção: 2003Ano de Exibição: 2003Narrativa: Órfão desde pequeno, Peter Parker viveu com ostios Ben e May durante a infância. Era inteligente e sedestacava <strong>na</strong> escola, embora, por isso mesmo, fosse renegado por muitos deseus colegas. Desde que picado por uma aranha radioativa, numa excursãoescolar, Peter passou a ter estranhos poderes: saltos de aracnídeos, força sobrehuma<strong>na</strong>e um "sentido aranha" que o alerta para os perigos. Peter Parker setornou o Homem Aranha.Perso<strong>na</strong>gens:Amigos:Peter Benjamin Parker (Homem-Aranha)May Parker (tia),Mary Jane (esposa),Ben Parker (tio, falecido).Inimigos:Duende Verde,Doutor Octopus,Rei do Crime,Venom,Abutre,Homem-Areia.Spin-Off: DVDs e Jogos de Vídeo-Game.Episódios:24 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Homem-Aranha . Acesso em: Jan.2007.Fonte: UOL. Disponível em: http://epipoca.uol.com.br/filmes_zoom.cfm?id=9890 . Acesso em: Jan.2007.24


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs Jovens Titãs 25País de Origem: Estados UnidosProdução: Sam Register e Glen Murakami, (Warner Bros)Ano de Produção:Ano de Exibição: 19 de Julho de 2003.Narrativa: Embora muitas vezes os episódios não se conectem diretamente àtrama central, ca<strong>da</strong> tempora<strong>da</strong> <strong>da</strong> série se destacou pelo foco numa única grandetrama, permitindo assim, um maior desenvolvimento dos perso<strong>na</strong>gens.A primeira tempora<strong>da</strong> introduz Slade, vilão que se tor<strong>na</strong>ria o grande arqui-rival deRobin e dos Titãs. A segun<strong>da</strong> a<strong>da</strong>pta a história O Contrato de Ju<strong>da</strong>s, introduzindoa perso<strong>na</strong>gem Terra, que entra para a equipe ape<strong>na</strong>s para, ao fim de tudo, trairseus companheiros à favor de Slade, exatamente como nos quadrinhos. A terceiratempora<strong>da</strong> trata, entre outros temas, do Irmão Sangue e termi<strong>na</strong> com a criaçãodos Titãs <strong>da</strong> Costa Leste. A quarta, por sua vez, se foca em Trigon, deusdemônio,e pai <strong>da</strong> perso<strong>na</strong>gem Rave<strong>na</strong>.A quinta e última tempora<strong>da</strong> se foca <strong>na</strong> Irman<strong>da</strong>de Negra, inimigos mortais <strong>da</strong>Patrulha do Destino, antiga equipe do perso<strong>na</strong>gem Mutano.Perso<strong>na</strong>gens:RobinPatrulha do DestinoCiborgueRave<strong>na</strong>EstelarMutanoRicarditoAqualadKid FlashSpin-Off: revista em quadrinhos Jovens Titãs lançado pela Panini Comics.Episódios: 65 Dividido em 5 Tempora<strong>da</strong>s25 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Teen_Titans_(s%C3%A9rie_anima<strong>da</strong>) . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: CARTOON NETWORK. Disponível em:http://www.cartoonnetwork.com.br/teentitans/index.html . Acesso em: Jan. 2007.25


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADave, o bárbaro 26País de Origem: Estados UnidosProdução: Doug Lang<strong>da</strong>leAno de Produção:Ano de Exibição: 23 de Janeiro de 2004 a 30 de Janeiro de 2004Narrativa: A história se passa no reino de Udrogoth. O pai de Dave, Rei Throktar,precisa viajar para terras distantes e pede ao filho que tome conta do reino. Eleprecisa defender seu povo de seres fantásticos e bizarros.Mas, apesar de ser grande e forte, Dave não é um guerreiro: ele prefere fazerdobraduras de papel (origami) do que usar sua espa<strong>da</strong>. Mesmo assim, tentabravamente defender suas terras dos inimigos fantásticos que as atacam, todossaídos de len<strong>da</strong>s e <strong>da</strong> mitologia dos antigos povos do norte europeu.Para isso, Dave conta com a aju<strong>da</strong> de seus parentes e de sua espa<strong>da</strong>, Lula.Perso<strong>na</strong>gens:DaveFang (irmã do Dave)Candy (irmã do Dave)Oswidge (tio, irmão de Glimia)Faffy (dragão de estimação de Dave)Lulu, a Espa<strong>da</strong> Encanta<strong>da</strong> (espa<strong>da</strong> de Dave)Twinkle, o Cavalo Maravilha (cavalo de Candy)Throktar (pai)Glimia (mãe)Menestreisis do Bairro (ban<strong>da</strong>)Chuckles, o porco bobo (vilão)Mal Squando (vilão)Quosmir (vilão)Princesa Irmoplotz (vilã)Nedd Frishman (vilão de 1994)Spin-Off: DVDs com episódios.Episódios: 2126 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Dave,_o_B%C3%A1rbaro . Acessoem: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA ESPANHA. Disponível em: http://es.wikipedia.org/wiki/Dave_el_B%C3%A1rbaro. Acesso em: Jan. 2007.26


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIABackyardigans 27País de Origem: Estados UnidosProdução: Janice BurgessAno de Produção:Ano de Exibição: 2004 nos EUA e 2005 no BrasilNarrativa: A série é estrela<strong>da</strong> por perso<strong>na</strong>gens, todos eles crianças em i<strong>da</strong>de préescolar.Eles moram <strong>na</strong> mesma rua e compartilham o mesmo quintal, que eles"transformam" em um lugar completamente diferente com suas imagi<strong>na</strong>ções. Emca<strong>da</strong> episódio, eles iniciam uma aventura diferente, incorporando diversos tipos deperso<strong>na</strong>gens como piratas, agentes secretos ou Vikings. A série é musical, e ca<strong>da</strong>episódio apresenta trilha sonora e quatro músicas em um gênero específico,desde o Tango, passando pelo Reggae até o Funk e a Bossa Nova.Perso<strong>na</strong>gens:Pablo (o pinguim azul);Uniqua (a "uniqua" cor-de-rosa);Tyrone (o alce cor-de-laranja);Tasha (a hipopótamo amarela);Austin (o canguru púrpura).Spin-Off: Bonecos, Livros e Jogos de PC.Episódios:27 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Backyardigans . Acesso em:Jan. 2007.27


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAA Mansão Foster 28País de Origem: Estados UnidosProdução: Craig McCracken/ Genndy TartakovskyAno de Produção: 2005Ano de Exibição: Janeiro de 2005Narrativa: conta a história de um garoto de oito anos chamado Mac, que vaidiariamente a Mansão visitar seu amigo imaginário Bloo e outros amigos quetambém ficam <strong>na</strong> Mansão como Coco, Eduardo e Minguado. A Mansão Foster éum lugar que os amigos imaginários esquecidos ou abando<strong>na</strong>dos pelos donosmoram. No primerio episódio Mac tem que se "livrar" de Bloo por ordem de suamãe, mas ele não quer fazer isso, então ele encontra esta casa e a Ma<strong>da</strong>meFoster (do<strong>na</strong> <strong>da</strong> mansão) deixa que Bloo more lá sem correr o risco de seradotado, mas para isso, Mac tem que visitá-lo todos os dias.Perso<strong>na</strong>gens:Perso<strong>na</strong>gens Principais:EduardoMinguadoMa<strong>da</strong>me FosterBluSr. CoelhoFrankieMac.Spin-Off: No Brasil não temos muitos produtos deste desenho. Podemosencontrar pelucias (que são raras em lojas).Episódios:28 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Mans%C3%A3o_Foster_Para_Amigos_Imagin%C3%A1rios . Acessoem: Jan. 2007.28


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAvatar 29País de Origem: Estados UnidosProdução:Ano de Produção:Ano de Exibição:Narrativa: Em uma era perdi<strong>da</strong>, a humani<strong>da</strong>de se dividiu em quatro <strong>na</strong>ções: aTribo <strong>da</strong>s Águas, o Reino <strong>da</strong> Terra, a Nação do Fogo e os Nômades do Ar. Dentrode ca<strong>da</strong> <strong>na</strong>ção, há uma ordem de homens e mulheres notáveis, chamados de"Dobradores", que são capazes de manipular seus elementos <strong>na</strong>tivos num tipo deluta, o Dobrador, que combi<strong>na</strong> artes marciais e mágicas. Para manter o equilíbrioentre estas <strong>na</strong>ções, a ca<strong>da</strong> geração <strong>na</strong>sce um único Dobrador, que é capaz decontrolar todos os quarto elementos. Esse Dobrador é o Avatar, um escolhido quemanifesta o espírito do mundo em uma forma huma<strong>na</strong>. Quando o Avatar morre,ele reencar<strong>na</strong> em uma outra <strong>na</strong>ção, seguindo um ciclo mile<strong>na</strong>r. Começando com odomínio de seu elemento <strong>na</strong>tivo, o Avatar vai aprender como coman<strong>da</strong>r todos osquatro elementos. Ao longo <strong>da</strong>s eras, as incontáveis encar<strong>na</strong>ções do Avatarserviram para manter as quatro <strong>na</strong>ções em harmonia. A Nação do Fogo inicia umaguerra cujo objetivo é domi<strong>na</strong>r as outras três <strong>na</strong>ções, somente o avatar podeimpedi-los mas quando o mundo mais precisa dele, ele desaparece.A <strong>na</strong>ção do fogo atacou os nômades do ar e eles foram massacrados, a partir<strong>da</strong>quele dia ninguém mais viu um dobrador de ar e acredita-se que todos elesmorreram.Entretanto, cem anos passaram e dois irmãos <strong>da</strong> Tribo <strong>da</strong>s Águas, chamadosKatara e Sokka, salvam um garoto que estava encurralado dentro de um iceberg elogo descobrem que o garoto, que atende pelo nome de Aang, é também umdobrador de ar, além de ser o Avatar que sumiu há cem anos atrás. Agora é ahora de Katara e Sokka aju<strong>da</strong>rem o jovem Aang a encarar seu destino e salvar omundo.Perso<strong>na</strong>gens:Principais: Aang; Katara; Sokka; Zuko; Toph.Spin-Off: DVDs com episódios, Bonecos, Cartões, Jogos de Vídeo Game.Episódios: 40 (nos Estados Unidos) e 33 (no Brasil e <strong>na</strong> América Lati<strong>na</strong>)29 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Avatar . Acesso em: Jan. 2007.29


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACyberchase 30País de Origem: Estados UnidosProdução: Thirteen/WNETAno de Produção: 1995Ano de Exibição:Narrativa: programa de aventura contagiante pelo ciberespaço, estimula acriança<strong>da</strong> a utilizar os recursos <strong>da</strong> matemática de uma forma simples e diverti<strong>da</strong>.O desenho animado mostra com uma leve dose de humor vários cibermistérioscom perso<strong>na</strong>gens bastante atraentes.É no universo do ciberespaço que rola a clássica batalha entre o bem e o mal.Quando o diabólico vilão Hacker inventa uma missão doi<strong>da</strong> para conquistar ouniverso virtual, a Placa Mãe chama três crianças <strong>da</strong> Terra para aju<strong>da</strong>r.Elas são Jackie, Mateus e Inês - os heróis de culturas diferentes de Cyberchase -que, juntamente com o espertinho ciberpássaro Dígito, saem do seu mundinhoreal e mergulham no ambiente supercolorido do ciberespaço onde arrasam osseres do mal num emocio<strong>na</strong>nte duelo de esperteza.Perso<strong>na</strong>gens:O vilão hacker;Mateus;Inês;Jackie;Placa Mãe;Dotor Good.Spin-Off: DVDs com episódios, Jogos para PC.Episódios: 7230 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cyberchase . Acesso em: Jan.2007.Fonte: TV CULTURA. Disponível em: http://www.tvcultura.com.br/detalhe.aspx?id=61 . Acesso em:Jan. 2007.30


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIACavaleiros do Zodíaco 31País de Origem: JapãoProdução: Toei AnimationAno de Produção: 1986Ano de Exibição: 1986 no Japão e 1994 no BrasilNarrativa: No Japão Mitsumasa Kido um ricoempresário reúne 100 garotos orfãos e os envia para trei<strong>na</strong>mento em diversaspartes do mundo, onde poderiam obter suas armaduras. Esta seria a força tarefaresponsável pela segurança <strong>da</strong> jovem Ate<strong>na</strong>. Treze anos depois, sobre o pretextode realizar um torneio, os 10 garotos que sobreviveram aos trei<strong>na</strong>mentos sereúnem novamente no Japão. Mitsumasa Kido já falecido, é representado notorneio por sua neta, Saori Kido, que <strong>na</strong> reali<strong>da</strong>de é a reencar<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> deusaAte<strong>na</strong>. O Torneio Galáctico <strong>da</strong>ria ao vencedor a cobiça<strong>da</strong> Armadura de Ouro deSagitário.É dentro deste contexto que se inicia a história do anime Cavaleiros do Zodiaco.Entre os 10 jovens que retor<strong>na</strong>ram ao japão com suas armaduras estão Seiya,Hyoga, Shun, Shiryu e mais tarde Ikki; os 5 protagonistas <strong>da</strong> série.Perso<strong>na</strong>gens:Principais protagonistas:Deusa Ate<strong>na</strong>Seiya de PégasoShiryu de DragãoHyoga de CisneShun de Andrôme<strong>da</strong>Ikki de FênixPrincipais Vilões:SagaHil<strong>da</strong>:Julian Solo (Poseidon)KanonHadesPandoraSpin-Off: Revistas em quadrinhos, 5 filmes, Jogos de Vídeo-Game.Episódios: 11431 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cavaleiros_do_Zod%C3%ADaco .Acesso em: Jan. 2007.31


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMegaman 32País de Origem: JapãoProdução: (Produtora de Games CAPCOM)Ano de Produção: 1987Ano de Exibição: dezembro de 1987 (nos Jogos de Vídeo-Game), 1995 <strong>na</strong> TV.Narrativa: Dois gênios <strong>da</strong> robótica, Dr. Albert Wily e Dr. Thomas Light, criam umanova geração de robôs superior a quaisquer outros já criados. Então, Wily, ex-sóciode Dr. Light (criador do Mega Man), vendo o incrível potencial dos robôs, começa aimagi<strong>na</strong>r que, com eles a seu comando, poderia ter um enorme poder <strong>na</strong>s mãos. Aocompartilhar seus planos de domínio com Light e ter retorno negativo, rouba seuprojeto inicial, Protoman, para servi-lo.Dr. Light, então, cria Rock e Roll, para formar uma família. Quando Wily resolve usaros Robôs para cometer terrorismo, Light resolve transformar Rock num robô debatalha, <strong>na</strong> tentativa de deter Wily. Surge então Mega Man, o robô azul que sempreestraga os planos malígnos de Wily.Dr. Light cria um novo robô, chamado X essa criação só é desperta<strong>da</strong> um séculodepois pelo explorador Dr. Cain. A tecnologia de X era avança<strong>da</strong> mesmo para aquelaépoca e deu origem a um novo tipo de robôs, chamados reploids. Alguns reploids,porém, revoltaram-se contra a humani<strong>da</strong>de, eles foram chamados de Maverics. Cabea X e aos Maveric Hunters (caçadores de Maverics) parar essa ameaça.Perso<strong>na</strong>gens:Dr. Light;MegaMan;Dr. Wily;Proto Man;Ring Man;Bright Man;Needle Man;Guts Man;S<strong>na</strong>ke Man;Mega Man X;Spin-Off: Jogos de Vídeo-Game e PC, Revistas em Quadrinhos e Bonecos.Episódios: 2832 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mega_Man . Acesso em: Jan.2007.Fonte: TV.COM (NBC). Disponível em: http://www.tv.com/megaman/show/4659/summary.html .Acesso em: Jan. 2007.32


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASamurai X 33País de Origem: JapãoProdução: Studio GallopAno de Produção: 1994Ano de Exibição: 1996Narrativa: A série, ambienta<strong>da</strong> nos primeiros anos<strong>da</strong> Era Meiji no Japão, conta a história de Kenshin Himura, um pacíficoespa<strong>da</strong>chim que prometeu a si mesmo nunca mais matar. Durante 10 anosKenshin vagou pelo Japão até encontrar abrigo no Dojo Kamiya, onde a jovemKaoru Kamiya lecio<strong>na</strong>va kendo no estilo Kamiya Kashin (Espa<strong>da</strong> para a Vi<strong>da</strong>). Aerrante caminha<strong>da</strong> do jovem ronin tinha um propósito: A expiação pelas inúmerasmortes que causara durante o Bakumatsu (fim do bakufu/shogu<strong>na</strong>to) quando eraum hitokiri (assassino retalhador) a serviço <strong>da</strong> Ishin shishi (mo<strong>na</strong>rquistas quedesejavam a restauração do governo para as mãos do imperador) do feudo deChoushuu. Nessa época, Kenshin ficou conhecido como "Hitokiri Battousai"(Battosai, o retalhador) por sua grande habili<strong>da</strong>de com o Battoujutsu, técnica quenum movimento contínuo, saca a espa<strong>da</strong> e realizar o corte. Mesmo com a vitóriados mo<strong>na</strong>rquistas que culminou <strong>na</strong> derruba<strong>da</strong> do Xogu<strong>na</strong>to Tokugawa <strong>da</strong>ndoorigem a Era Meiji, Kenshin arrependido pelas inúmeras vi<strong>da</strong>s que tirou decidenunca mais matar. Mesmo termi<strong>na</strong>ndo sua longa jor<strong>na</strong><strong>da</strong>, o ex-hitokiri terá debrandir novamente sua sakabatou (espa<strong>da</strong> em que a lâmi<strong>na</strong> encontra-se no dorso)para enfrentar novos e velhos inimigos.Perso<strong>na</strong>gens:Kenshin HimuraSanosuke SagaraMegumi TakaniTsubame SanjouHajime SaitouJin-E UdouAoshi ShinomroiHannyaMakoto ShishioHouji SadojimaYumi KomagataSoujirou SetaHennya KariwaKamatari HonjouChou SawagejouHiko SeijuurouMisaoSpin-Off: Filme, Cartões ilustrados.Episódios: 9533 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Samurai_X . Acesso em: Jan.2007.33


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAInuYasha 34País de Origem: JapãoProdução: SunriseAno de Produção: 1996Ano de Exibição: 2000Narrativa: InuYasha (Cão Demônio) em japonês é um mangá e anime japonêscriado por Rumiko Takahashi. Seus perso<strong>na</strong>gens principais são Inuyasha eKagome Higurashi (a qual teve seu nome mu<strong>da</strong>do <strong>na</strong> dublagem brasileira paraAgome, enquanto que <strong>na</strong> edição brasileira do mangá o nome origi<strong>na</strong>l foiconservado).Na história, InuYasha é um meio-youkai, por ser filho de um youkai e de umahuma<strong>na</strong>. Desta forma, os youkais possuem poderes diferenciados. KagomeHigurashi é uma garota japonesa dos tempos atuais e ain<strong>da</strong> estu<strong>da</strong>nte colegial.Certa vez ela descobre uma passagem secreta em um poço de sua casa, que éum templo muito antigo, e volta no tempo, para o Japão feu<strong>da</strong>l, onde encontrouInuYasha.Perso<strong>na</strong>gens: InuYashaKagomeShippouMirokuSangoKiraraKohakuKikyouSesshoumaruKougaNarakuSpin-Off: Revista em quadrinhos, DVDs com episódios.Episódios: 16734 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/InuYasha . Acesso em: Jan. 2007.34


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAYu-Gi-Oh 35País de Origem: JapãoProdução: Kazuki Takahashi (Revista Shonen Jump)Ano de Produção: 1996Ano de Exibição: 2000Narrativa: Há 5.000 anos atrás os faraós do Egito jogavam uma espécie de jogo<strong>da</strong>s trevas que era feito em outra dimensão, mas um dia os Faraós perderam ocontrole sobre este jogo e sobre os monstros que haviam neste jogo, porém umjovem faraó conseguiu trancar o jogo <strong>da</strong>s trevas em 7 Relíquias Mile<strong>na</strong>res <strong>na</strong> qualo jogo foi trancado para sempre.Hoje a 5.000 anos depois o jogo voltou, e Yugi Mutou detentor do Enigma doMilênio conseguiu monta-lo e este jovem está predesti<strong>na</strong>do a missão denovamente trancar o jogo, como o faraó fez a 5.000 anos atrás.A história começa quando Yugi ganha de seu avô um enigmático artefato do Egitoantigo que se parece com um quebra cabeça. Em uma <strong>da</strong>s tentativas de montar oobjeto o pequeno Yugi o consegue e descobre que nele, o Enigma do Milênio,estava presa a alma de um antigo faraó. Agora este divide seu corpo e lhe aju<strong>da</strong><strong>na</strong>s batalhas de Monstros de Duelo, principalmente durante os chamados "Jogos<strong>da</strong>s Trevas".Nesta história Yugi irá descobrir que não é o único que possui um ítem mile<strong>na</strong>r, etambém descobrirá que o jogo Monstros de Duelo, tão popular no mundo, teveinício no Antigo Egito onde as apostas eram altas inclusive o destino do mundo.Perso<strong>na</strong>gens:Grupo Principal : Yugi Muto , Joey Wheeler , Tristan Taylor , Téa Gardner , RyoBakura , Seto Kaiba.Vilões : Maximillion Pegasus , Marik Ishtar , Ishizu Ishtar , Dartz , Zigfried vonSchroeder , Shadow Riders , Socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Luz , Sartorius.Spin-Off: Filme, Revista em Quadrinhos (Mangá), Cartas de baralho (Jogo).Episódios: Yu-Gi-Oh tem 224 episódios e Yu-Gi-Oh GX tem 11435 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Yu-Gi-Oh . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: SITE MUNDO PERDIDO. Disponível em: http://www.yugiohextremo.mundoperdido.com.br/ .Acesso em: Jan. 2007.35


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMirmo Zibang 36País de Origem: JapãoProdução: Estúdio ShogakukaAno de Produção: 2002Ano de Exibição: 2002Narrativa: Kaede Mi<strong>na</strong>mi é uma garota do gi<strong>na</strong>sial, muitotími<strong>da</strong> com seus colegas (do sexo masculino), o que dificultaseus relacio<strong>na</strong>mentos com garotos.Um dia, voltando <strong>da</strong> escola, ela entra numa lojamisteriosa e compra uma caneca azul que quandochega em casa lê embaixo dela uma nota que diz "Sevocê leu esta mensagem em voz alta e colocou chocolate quente <strong>na</strong> caneca, umafa<strong>da</strong> do amor (muglox) aparecerá e realizará todos os seus desejos". Kaede segueas instruções e pede pra <strong>na</strong>morar com Setsu Yuki, o garoto mais popular <strong>da</strong>classe. Uma fa<strong>da</strong> do amor chama<strong>da</strong> Mirmo (Mirumo no origi<strong>na</strong>l) aparece.No início Kaede ficou apreensiva, porém percebeu que ele era muglox. LogoKaede descobre que Mirmo ao comer chocolate cria confusão, invés de ajudá-la.Mirmo é o príncipe do Mundo Muglox. Espantado com o fato de ter que se casarcom Rirumu, Mirmo escapou do Mundo Muglox. Há muitos outros mugloxes queacabam influênciando <strong>na</strong> vi<strong>da</strong> de Kaede, sendo bons ou maus.Sua inimiga amorosa, que também gosta de Setsu, Azumi, consegue Iachity, ummuglox que quer acabar com Mirmo. Rirumo é a muglox de Setsu. Também temkaoro um menino muito rico que gosta de kaede,e que tem um muglox que é oirmão de mirmo e que adora comer marshmallow.Perso<strong>na</strong>gens:Kaede Mi<strong>na</strong>miMirmoSetsu YukiRirumuAzumiIachitykaoroSpin-Off: Não temEpisódios: 17236 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Mirmo_Zibang! . Acesso em: Jan.2007.36


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAHello Kitty 37País de Origem: JapãoProdução: SanrioAno de Produção: 1974/1976Ano de Exibição: 2004Narrativa: O universo ficcio<strong>na</strong>l <strong>da</strong> Hello Kitty's inclui uma gama de amigos efamiliares, como sua irmã gêmea Mimmy (usa o lacinho <strong>na</strong> outra orelha). Desde2004, ela possui até sua própria gata de estimação chama<strong>da</strong> Charmmy Kitty, e umhamster chamado Sugar. Charmmy assemelha-se à Hello Kitty, mas tem atributosque a tor<strong>na</strong>m mais pareci<strong>da</strong> com um gato. Charmmy Kitty foi <strong>da</strong><strong>da</strong> à Hello Kitty porseu pai, George White, e Sugar lhe foi <strong>da</strong>do por seu <strong>na</strong>morado, Dear Daniel.Perso<strong>na</strong>gens:Hello KittyDaniel (<strong>na</strong>morado)Mimmy (irmã gêmea)Charmmy Kitty (gata de estimação)Sugar (hamster de estimação)George White (pai)Spin-Off: Bonecos, roupas e jogos.Episódios:37 Fonte: SITE HELLO KITTY. Disponível em: http://www.hellokitty.com.pt/ . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hello_Kitty . Acesso em: Jan. 2007.37


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAMúsculo Total 38País de Origem: JapãoProdução:Ano de Produção: 2002Ano de Exibição: 2005Narrativa: Ele é filho do rei Músculo e possui um poder oculto que aparecesomente quando enfrenta uma situação-limite. Sua manobra característica noringue é um espetacular golpe que sempre o leva à vitória.Convocado pela lendária liga de campeões, Kid Músculo, deve enfrentar os DMP,um grupo de vilões lutadores que, no último campeo<strong>na</strong>to, obteve o primeiro lugar etem planos de destruir o planeta.Kid Músculo não perderá as esperanças, já que seus amigos Terry Kenyon, DikDik Van Dik, Walley Tusketno o acompanha, além de Meat, um talentoso trei<strong>na</strong>dorque o protege, orienta e informa o tempo certo em que deve aplicar seu golpe.Perso<strong>na</strong>gens:Rei MúsculoKid MúsculoOs DMP (Grupo de Vilões)Terry KenyonDik DikWalley TusketnoMeat (Trei<strong>na</strong>dor)Spin-Off: Jogos de Vídeo-Game.Episódios:38 Fonte: JETIX. Disponível em: http://www.jetix.com.br/series/musculo_total/index.html . Acessoem: Dez. 2006.38


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIASuper Campeão 39País de Origem: JapãoProdução: Yoichi TakahashiAno de Produção: 1983 relança<strong>da</strong> em 1994Ano de Exibição:Narrativa: história deste anime tem a ver com a preparação do Japão para aCopa do Mundo de Juniores <strong>na</strong> França e conta o trei<strong>na</strong>mento e a carreira dequatro jogadores:Oliver Tsubasa (Tsubasa Ozora), Carlos Mizaki (Tarô Mizaki), Benje Wakabayashi(Genzo Wakabayashi) e Kojiro Hyuga.Mostra também a trajetória de um grande jogador brasileiro (Roberto Maravilha),que teve sua reti<strong>na</strong> descola<strong>da</strong> (sem nenhuma alusão a Tostão) e por esse motivonão poderia continuar jogando , tor<strong>na</strong>ndo-se técnico.O tema se desenvolve pela adolescência destes jogadores mostrando até otrei<strong>na</strong>mento de Oliver no Brasil. O conteúdo do desenho é muito interessante, selevarmos em conta a paixão que nós brasileiros temos pelo futebol. Para osjaponeses que começaram a gostar de futebol recentemente, o Brasil éconsiderado a "terra dos sonhos" neste esporte.Perso<strong>na</strong>gens:Tsubasa Ozora / (Oliver Tsubasa)Mizaki Taro / (Carlos Mizaki)Roberto Hongo / (Roberto Maravilha)Wakabaiashi Genzo / (Benje Wakabaiashi)IchizakiSa<strong>na</strong>e Nakazawa / (Néia Sa<strong>na</strong>e)Kojiro HyugaKen WakashimazuTakeshi Sawa<strong>da</strong>Jun MisugiMatsuyamaNakagawaCapitão TsubasaProf. MilaniSpin-Off: Jogos de Vídeo-Game e Bonecos.Episódios: 128 no Japão e 46 no Brasil39 Fonte: SITE KIT.NET. Disponível em: http://www.supercampeoes.kit.net/index.html . Acesso em:Jan. 2007.39


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIADu, Dudu e Edu 40País de Origem: Ca<strong>na</strong>dáProdução: Danny Antonucci (a.k.a CARTOON)Ano de Produção: 1998Ano de Exibição: janeiro de 1999Narrativa: Conhecidos em inglês como Ed, Edd and Eddy, este trio vive numbairro tranquilo chamado cul-de-sac. Tranqüilo, se não fosse pelos esquemas deEdu (Eddy), o mais baixo dos três e louco por gra<strong>na</strong>.Os três são muito diferentes, exceto numa coisa: todos adoram balas de caramelo(no Brasil) ou quebra-queixos (em Portugal), umas balas grandes e redon<strong>da</strong>svendi<strong>da</strong>s <strong>na</strong> loja de doces.São atormentados continuamente pela gang dos idiotas.Perso<strong>na</strong>gens:Du (Ed);Dudu (Edd ou "Double-D");Edu (Eddy);Sarah, irmã de Du gosta do DuduJimmy, garoto que só segue SarahKevin, que sempre soca EduRolf, filho de um pastorJohnny & Plank, amigos, mas Plank é um pe<strong>da</strong>ço de madeiraNazz, que é admira<strong>da</strong> por todos os garotos, menos RolfSpin-Off: Criados a partir de revistas em quadrinhos.Episódios: 5040 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Du,_Dudu_e_Edu . Acesso em:Jan. 2007.Fonte: CENTRAL DE QUADRINHOS. Disponível em:http://www.centraldequadrinhos.com/v4/Por%20dentro/Perso<strong>na</strong>gens/du.htm . Acesso em: Jan.2007.40


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAAs Aventuras de Henry - (Henry´s Would ) 41País de Origem: Ca<strong>na</strong>dáProdução: DaveThomas e Todd PetersonAno de Produção: 2003Ano de Exibição: 2003Narrativa: A série anima<strong>da</strong> "As Aventuras de Henry" (Henry´s Would) um dos dezprogramas mais assistidos do ca<strong>na</strong>l Discovery Kids, encontramos Henry, ummenino de uma família de cinco irmãos, super ativo e que adora viver grandesaventuras. Quando tinha ape<strong>na</strong>s cinco anos, Henry descobriu que as cenourascozi<strong>da</strong>s de sua mãe lhe proporcio<strong>na</strong>vam habili<strong>da</strong>des de transformar seus desejosem reali<strong>da</strong>de. Ele passou então, a ser capaz de fazer coisas com as quais amaioria de nós só consegue sonhar. Agora, com oito anos, Henry percebe que ascenouras ain<strong>da</strong> fazem efeito sobre ele. Seus desejos incomuns sãofreqüentemente realizados trazendo conseqüências inespera<strong>da</strong>s, e suacuriosi<strong>da</strong>de insaciável invariavelmente se traduz em desastre.Perso<strong>na</strong>gens:Henry WigginsFraidy Begônia (melhor amigo de Henry);Tio Netuno;A professora Srta. Pierre;Margaret (a cadelinha);Doris (um dragão fêmea que ape<strong>na</strong>s Henry e Margaret têm conhecimento)Darwin (o rival de Henry).Spin-Off: DVDs com todos episódios (Produzidos pela PlayArte), Livros, Cds commúsicas.Episódios: 3241 Fonte: PLAYARTE. Disponível em: http://www.playarte.com.br/Filme/Default.asp?id=121 .Acesso em: Jan. 2007.41


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAFutebol de Rua 42País de Origem: FrançaProdução: Téléimages KidsAno de Produção: 2005/2006Ano de Exibição: 2006Narrativa: Na trama acompanhamos o percurso de crianças de 12 anos que vãoparticipar <strong>da</strong> primeira Copa do Mundo de Futebol de Rua, organiza<strong>da</strong> por ummisterioso “olheiro”. O único detalhe é que a competição é secreta e devecontinuar assim. Os protagonistas estu<strong>da</strong>m em uma escola integral, o RifflerInstitute, porque os seus pais não têm os meios para tomar conta deles. Só Eloisevem de uma família rica e aristocrática.Perso<strong>na</strong>gens:TagEloiseCabeçaCartoonTubarãoCabeça<strong>da</strong>AdelaideGrandmaGêmeos Tek e NoxMarteloTrei<strong>na</strong>dorSalimVerratAlbertRoger MaroniOficial SnydSpin-Off: NãoEpisódios: 2642 Fonte: UOL. Disponível em:http://www2.uol.com.br/ohayo/v2.0/anime/materias/abr24_futebol.shtml . Acesso em: Jan. 2007.42


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAClube <strong>da</strong>s Winxs 43País de Origem: ItáliaProdução: Rainbow S.r.lAno de Produção:Ano de Exibição: 2005 no BrasilNarrativa: Em um lugar mágico do Universo existe Magix <strong>na</strong> dimensão mágica elá existem três escolas: Alfea uma escola para fa<strong>da</strong>s, Torre Nebulosa uma escolapara bruxas e Fonte Rubra, escola para especialistas (meninos). Em Alfeaestu<strong>da</strong>m seis garotas: Bloom, Stella, Musa, Tec<strong>na</strong> , Flora e Layla, asprotagonistas.Bloom não sabia que era uma fa<strong>da</strong>. Até que um dia ela encontra Stella sendoataca<strong>da</strong> por um monstro que acaba atacando ela também. É quando ela descobreque é uma fa<strong>da</strong> e conhece os Especialistas. Ela vai para Alfea que fica em Magix.Ela conhece as Trix (depois desse acontecimento elas ficam inimigas). Descobremque o Brandon <strong>na</strong> ver<strong>da</strong>de é o príncipe Sky e o Sky é o Brandon. Stella e Bloomficam arrasa<strong>da</strong>s. Na trama, Bloom tenta descobrir sobre seu passado enquantoelas e as outras Winx entram e guerra com três bruxas que usam seus poderespara o mal.Já <strong>na</strong> segun<strong>da</strong> tempora<strong>da</strong>, as aulas começam em Alfea a escola de fa<strong>da</strong>s. Até ahora que uma estranha garota aparece por lá desmaia<strong>da</strong>. Quando acor<strong>da</strong> elaconta sobre a Fênix negra que rapta as Pixies e quer capturar as quatro partes doCodex e domi<strong>na</strong>r a dimensão mágica. As Winx vão até a caver<strong>na</strong> de Darkar eresgatam as Pixies. Aos poucos descobrem que as Trix, suas rivais, trabalhampara ele, e travando muitas batalhas terão de proteger as partes do Codex queestão escondi<strong>da</strong>s <strong>na</strong>s três escolas e <strong>na</strong> Aldeia <strong>da</strong>s Pixies.Perso<strong>na</strong>gens:BloomStellaMusaTec<strong>na</strong>FloraLaylaSpin-Off: Revista, Bonecas e material escolar.Episódios: 52 Divididos em 2 tempora<strong>da</strong>s43 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/O_clube_<strong>da</strong>s_winx . Acesso em:Jan. 2007.43


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAArt Attack 44País de Origem: O 1º programa do Gênero foi <strong>na</strong>InglaterraProdução: Disney ChannelAno de Produção:Ano de Exibição: (1989)Narrativa: Art Attack é o espaço dedicado à sua criativi<strong>da</strong>de! Descubra comofazer objetos incríveis a partir de coisas realmente simples. Em pouco tempo vocêvai fazer suas próprias invenções e se divertir sem parar. Aqui todo mundo podeser artista! No Art Attack <strong>da</strong> Disney você faz arte, mesmo sem ser artista! Você vaidescobrir que não precisa de muito para criar as coisas mais malucas, commateriais que estão meio encostados <strong>na</strong> sua casa! Precisa de um estojo paraguar<strong>da</strong>r a sua coleção de lápis? O Art Attack ensi<strong>na</strong> como fazer um que vai <strong>da</strong>rinveja nos colegas. Quer uma minicasa <strong>na</strong> árvore para guar<strong>da</strong>r as cartas de amor?Veja como fazer uma com o que você já tem em casa. Agora, se o que você queré segurança, aqui você aprende códigos secretos que aju<strong>da</strong>m a proteger o seuquarto. Tudo isso e muito mais está em Art Attack <strong>da</strong> Disney: um programadivertivo que mostra como é simples inventar e ser criativo sem sair de casa!Perso<strong>na</strong>gens: O apresentador Até 2006 era Daniel Warren e o apresentadorAtual é Pedro PenimSpin-Off: Livros e DVDsEpisódios:44 Fonte: DISNEY CHANNEL. Disponível em:http://www.disney.com.br/DisneyChannel/Programas/show_45.html . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Art_Attack . Acesso em: Jan. 2007.44


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIALazytown 45País de Origem: IslândiaProdução: Magnús Scheving (LazyTown Entertainment)Ano de Produção: 2004Ano de Exibição: De 18 de Setembro de 2004 a 9 de Setembro de 2006.Narrativa: O perso<strong>na</strong>gem principal é Stephanie, que chega a ci<strong>da</strong>de estimulaseus novos amigos Ziggy, Trixie, Stingy, e Pixel a saírem de casa e serem maisativos ao invés de permanecerem dentro de casa jogando videogame o dia todo.Seu tio, o desajeitado Prefeito Milford Meanswell, pede a aju<strong>da</strong> de Sportacus 10,um auto-proclamado "herói um pouco melhor que os outros heróis". E o dever deSportacus inspirar as crianças a brincarem fora de casa, ao ar livre, e ajudá-los aresolver peque<strong>na</strong>s emergências que ocorrem eventualmente. Entretanto, essasituação não está de acordo com os interesses de Robbie Rotten, um homempreguiçoso que vive em um lar subterrâneo escondido logo abaixo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.muitos dos episódios envolvem Robbie Rotten vestindo um disfarce e tentandoarrui<strong>na</strong>r a diversão <strong>da</strong>s crianças e/ou fazer com que Sportacus deixe a ci<strong>da</strong>depara sempre.Perso<strong>na</strong>gens:Sportacus;Robbie Rotten;Trixie;Stingy;Pixel;Prefeito Milford Meanswell;Bessie Busybody.Spin-Off: Dvds, Jogos de PC, Bonecos, Revistas e Camisetas.Episódios: 40 divididos em 2 tempora<strong>da</strong>s45 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Lazy_town . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: LAZYTOWN. Disponível em: http://www.lazytown.com/ . Acesso em: Jan. 2007.45


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAPucca 46País de Origem: Coréia do SulProdução: Companhia Vooz (Sul Corea<strong>na</strong>) e JetixAno de Produção: 2004Ano de Exibição: 2004Narrativa: Pucca tem 10 anos de i<strong>da</strong>de e é apaixo<strong>na</strong><strong>da</strong> por Garu, um menino quefaz parte de uma lendária família ninja. Para conquistar o coração de Garu, Puccao persegue o tempo todo e vive aventuras muito estranhas tentando chamar suaatenção. Mas Garu está mais preocupado com os ataques de um grupo ninja, quequerem desviá-lo de sua meta.Perso<strong>na</strong>gens:Pucca;Garu;Mio;Abyo;Ching;Papai Noel;Tobe;Os Vagabundos;Muji;Ring Ring;Mestre Soo;Ssoso.Spin-Off: Livros, bonecos, Jogos de PC.Episódios: 7846 Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Pucca . Acesso em: Jan. 2007.46


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAChaves 47País de Origem: MéxicoProdução: Televisa (Ca<strong>na</strong>l 8)Ano de Produção: 1971Ano de Exibição: 1971Narrativa: história gira em torno de um garoto órfão, que é tratado pelo nome deChavo, que significa “garoto, moleque” em espanhol. No seriado, nunca foi revelado oseu ver<strong>da</strong>deiro nome. Ele mora numa vila e é nela que se desenrolam as ações <strong>da</strong>série. Seus melhores amigos são: Frederico (Quico), filho de Do<strong>na</strong> Florin<strong>da</strong>, umaviúva ranzinza, vin<strong>da</strong> de uma família de elite hoje em decadência, mas que ain<strong>da</strong>tenta manter a pose e o status que lhe resta; e Francisquinha (Chiquinha), órfã demãe, que faleceu logo após o parto. Ao longo de mais de uma déca<strong>da</strong>, o seriadosofreu modificações, tanto físicas (cenário, figurino) quanto psicológicas. Osperso<strong>na</strong>gens foram tomando perso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des distintas, diferenciando-se uns dosoutros, e novos perso<strong>na</strong>gens foram surgindo.Perso<strong>na</strong>gens:•Chaves•Seu Madruga•Quico•Do<strong>na</strong> Florin<strong>da</strong>•Chiquinha•Professor Girafales•Chespirito•Do<strong>na</strong> Clotilde•Seu Barriga•Nhonho•Godínez•Seu Furtado•Do<strong>na</strong> Neves•Jaiminho, o carteiro•PatySpin-Off: DVDs com episódios, Histórias em quadrinhos.Episódios: 13447 Fonte: SITE VILA DO CHAVES. Disponível em:http://www.viladochaves.com/historia_chaves.htm . Acesso em: Jan. 2007.Fonte: WIKIPEDIA. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Chaves_%28el_chavo%29 . Acessoem: Jan. 2007.47


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs Camundongos Aventureiros 48País de Origem:Produção:Ano de Produção:Ano de Exibição:Narrativa: Os Camundongos Aventureiros faz uma viagem pelo mundo <strong>da</strong> ratinhaEmily e do primo Alexander. Emily, a prática ratinha do campo, e seu sofisticadoprimo Alexander, o rato <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, vivem as mais incríveis aventuras.Enquanto percorrem o mundo visitando parentes e fazendo amigos, elesencontram inventores famosos, compositores, artistas e até realeza.Perso<strong>na</strong>gens:Spin-Off:Episódios:48 Fonte: TV CULTURA. Disponível em: http://www.tvcultura.com.br/detalhe.aspx?id=69 . Acessoem: Jan. 2007.48


A REPRESENTAÇÃO INFANTIL DA VIOLÊNCIA NA MÍDIAOs Sete Monstrinhos 49País de Origem:Produção:Ano de Produção:Ano de Exibição:Narrativa: Os Sete Monstrinhos mostra comouma família uni<strong>da</strong>, engraça<strong>da</strong>, diverti<strong>da</strong> einteligente resolve seus inúmeros problemas. Osmonstros estranhos que moram <strong>na</strong> rua dos Castanheiros, nº 1234567, ficam otempo todo sob os cui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> mãe.Ca<strong>da</strong> um dos sete irmãos têm diferentes feições monstruosas e diverti<strong>da</strong>sperso<strong>na</strong>li<strong>da</strong>des. Com muitas gargalha<strong>da</strong>s e vários contratempos, os monstrinhosenfrentam os desafios <strong>da</strong> infância aju<strong>da</strong>ndo-se uns aos outros.Perso<strong>na</strong>gens:Spin-Off:Episódios:49 Fonte: TV CULTURA. Disponível em: http://www.tvcultura.com.br/detalhe.aspx?id=63 . Acessoem: Jan. 2007.49

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