Ciclo comemorativo - Academia Brasileira de Letras
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Revisitando Eucli<strong>de</strong>s da Cunha<br />
Eucli<strong>de</strong>s da Cunha foi um colaborador entusiasta do Barão, particularmente<br />
no trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitação do futuro território do Acre.<br />
O centralismo do po<strong>de</strong>r imperial tivera como conseqüência o confinamento<br />
da ativida<strong>de</strong> política, que era relegada quase sempre a confrontações<br />
do mandonismo local. A tomada <strong>de</strong> consciência <strong>de</strong> pertencer<br />
a uma nação penetrava lentamente, dado que o exercício da cidadania<br />
fora limitado pela escravidão e por suas seqüelas, que perduravam,<br />
como o analfabetismo. O <strong>de</strong>cantado progresso, apanágio do século<br />
XIX, era totalmente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da importação <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> consumo<br />
e <strong>de</strong> modismos que se incorporavam aos hábitos <strong>de</strong> uma elite.<br />
Liberando-se <strong>de</strong> uma bagagem <strong>de</strong> conhecimentos supostamente<br />
científicos, Eucli<strong>de</strong>s intuiu a existência <strong>de</strong> um povo em formação autenticamente<br />
brasileiro, o qual ele imaginou ser fruto do cruzamento<br />
trissecular <strong>de</strong> raças diversas. Esse cal<strong>de</strong>amento ter-se-ia processado<br />
na região interiorana, conseqüência do isolamento a que foram relegadas<br />
suas populações.<br />
Assim, graças a suas intuições geniais, Eucli<strong>de</strong>s liberou-se da ciência<br />
inquinada <strong>de</strong> falsas doutrinas, predominante em sua época, para<br />
alcançar uma percepção global do processo <strong>de</strong> gestação <strong>de</strong> nossa cultura.<br />
O apelo <strong>de</strong>sabrido à imaginação corrigia nele o suposto rigorismo<br />
científico <strong>de</strong> que se orgulhava. Referindo-se ao sertanejo, cujo vigor<br />
comprovara na epopéia <strong>de</strong> Canudos, afirma peremptório: “a sua<br />
evolução psíquica, por mais <strong>de</strong>morada que esteja <strong>de</strong>stinada a ser,<br />
tem, agora, a garantia <strong>de</strong> um tipo fisicamente constituído e forte.<br />
Aquela raça cruzada surge autônoma e, <strong>de</strong> alguma forma, original”.<br />
É claro que não se trata <strong>de</strong> evolução psíquica, e sim <strong>de</strong> simples conformação<br />
cultural.<br />
Estava dado o passo <strong>de</strong>finitivo para captar a originalida<strong>de</strong> do<br />
processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> nossa cultura. Eucli<strong>de</strong>s chega a encarar<br />
como algo positivo o abandono a que o mundo litorâneo, que para<br />
ele seria inautêntico, con<strong>de</strong>na o mundo sertanejo, matriz <strong>de</strong> nossa<br />
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