Paulo Rebêlo - Backstage
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Em tese, é uma tentativa de criar uma<br />
nova e única gravadora “virtual” para<br />
agregar todos os selos independentes.<br />
Seria a quinta grande gravadora no<br />
mundo para fazer frente às atuais quatro<br />
gigantes. O novo selo, batizado de<br />
Merlin, teria um modelo de licenciamento<br />
diferente, mas ainda não há detalhes<br />
sobre quais seriam as medidas para<br />
flexibilizar o atual modelo de direitos<br />
autorais e distribuição.<br />
E ao que tudo indica, pragmatismo não<br />
deverá ser o forte da Merlin. Gravadoras<br />
de várias partes do mundo, inclusive do<br />
Brasil, já confirmaram a vontade de fazer<br />
parte. Logo, o que veremos será uma salada<br />
incrível de independentes com práticas<br />
diferentes e modelos distintos tentando<br />
criar um selo único para concorrer com<br />
as gigantes. A questão é: a Merlin fará o<br />
mesmo? É difícil de apostar.<br />
Há, porém, boas expectativas. Os<br />
idealizadores do projeto Merlin já conversam<br />
com a Snocap, aquela empresa<br />
criada por Shawn Fanning. Quem é<br />
esse arataca? Ninguém menos que o<br />
criador original do Napster. A Snocap<br />
foi a empresa desenvolvida por ele<br />
após várias tentativas de recuperar o<br />
Napster, na mão de grandes gravadoras.<br />
A priori, a Snocap deve gerenciar<br />
a parte “digital” da iniciativa, digamos<br />
assim.<br />
É uma aposta promissora. De acordo<br />
com dados da Impala, um consórcio europeu<br />
de selos independentes, 80% dos novos<br />
lançamentos atuais estão saindo pelas<br />
independentes e estas já tomam conta de<br />
quase 30% do repertório mundial. Como<br />
existem quatro gigantes gravadoras para o<br />
resto, significa que o Projeto Merlin pode<br />
chegar a ter mais poder de fogo – na fusão<br />
de todas as independentes interessadas –<br />
do que as quatro outras.<br />
Os ideais do Projeto Merlin, ao menos<br />
aqueles liberados ao público até agora,<br />
não são para transformar o selo em uma<br />
INTERNET<br />
gravadora tradicional, mas sim em um<br />
agregador de independentes e formador<br />
de novas licenças para negociar direitos<br />
autorais dos artistas.<br />
Barato Demais<br />
Enquanto isso, a RIAA (associação<br />
de gravadoras norte-americanas) confirma<br />
a tese de que não faz a menor<br />
idéia do que fala e do que faz no mercado.<br />
Em um relatório divulgado recentemente,<br />
os executivos da associação foram<br />
à imprensa alegar que o preço pago<br />
pelos consumidores nos CDs está, na<br />
verdade, muito baixo. Segundo os figurões,<br />
a pirataria musical na internet aumenta<br />
os custos das gravadoras e, com<br />
isso, elas deveriam – com o respaldo da<br />
RIAA – aumentar o preço dos álbuns.<br />
Quanto mais? De acordo com o relatório,<br />
o preço deveria ser três vezes mais<br />
alto do que é hoje.<br />
O relatório não é secreto. Inclusive,<br />
chegou a ser divulgado no site oficial da<br />
RIAA, para “explicar e ensinar” aos consumidores<br />
que o preço do CD de hoje é<br />
uma pechincha. De acordo com dados<br />
da associação, entre 1983 e 1996 os valores<br />
pagos por um CD pelo consumidor<br />
caíram em até 60%. Ninguém sabe onde,<br />
mas tudo bem. De qualquer modo, a redução<br />
de preços não contém explicação,<br />
por parte da indústria, sobre a também<br />
drástica redução de preços nos meios de<br />
produção, gravação e distribuição – a<br />
começar, que ironia, pelo próprio processo<br />
de digitalização das músicas.<br />
Com tudo isso, fica provado o que<br />
todo mundo já sabe. A indústria fonográfica<br />
vive em uma Matrix, em uma realidade<br />
completamente virtual, que não é<br />
a nossa, do consumidor médio que tenta<br />
juntar uma graninha para comprar um<br />
ou dois CDs no final do mês.<br />
e-mail para esta coluna:<br />
imprensa@rebelo.org