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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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por acaso de pedra ou de ferro? Sois de carne humana, que com facilidade<br />

é arrebatada pela paixão da concupiscência!<br />

A reincidência na prática pecaminosa da freqüência aos espetáculos era motivo para a<br />

excomunhão, ou suspensão da participação na mesa eucarística:<br />

[...] Por isso advirto-vos e digo em alta e clara voz que se alguém, depois<br />

desta minha exortação ao ensinamento, voltar à perniciosidade dos<br />

teatros, não o receberei dentro destas paredes, não lhe administrarei os<br />

sacramentos, não lhe permitirei que se aproxime da sagrada mesa. Assim<br />

como os pastores afastam das sãs as ovelhas infestadas de sarna,<br />

para não as contagiarem, da mesma forma o farei.<br />

A interação entre as “escolas” cristãs e a filosofia torna-se evidente na virada do sécu-<br />

lo I para o II, e se mostra muito forte, principalmente, na pregação da patrística grega. 77 No<br />

cristianismo latino, merece destaque a adequação doutrinária aos modelos do direito roma-<br />

no, o que influenciará o sermão cristão. Isso se nota, particularmente, na formação do dis-<br />

curso de Tertuliano de Cartago, Ambrósio de Milão e Agostinho em Hipona.<br />

As primeiras reflexões sobre a teoria da prédica teriam sido desenvolvidas pelo pró-<br />

prio João Crisóstomo no final do séc. IV e início do V, no Oriente; e por Agostinho, bispo<br />

de Hipona, no Ocidente. Santo Agostinho (354-430) foi um dos maiores gênios teológicos<br />

de todos os tempos, e sua “influência plasmou a Idade Média” 78 . A partir da obra Da dou-<br />

trina cristã, pode-se caracterizar as idéias homiléticas desse período 79 : a forma do sermão<br />

não é muito estruturada; é mais uma exposição discursiva sobre uma parte da Bíblia, com<br />

amplas digressões; a exegese, no sentido que se tem hoje, não era o forte da época 80 ; frescor<br />

e amplitude de pensamento, vigor e brevidade de expressão, bem como uma alta concepção<br />

da verdade cristã aplicada à vida, da qual o pregador sempre pode receber inspiração. 81<br />

Agostinho fora influenciado pela leitura de Cícero e atuara como mestre de gramática<br />

em Tagaste, e, em Cartago, lecionara como professor de eloqüência. E, por recomendação<br />

77 Cf. SACHOT, 1998, p. 107.<br />

78 GOMES, 1979, p. 332.<br />

79 Cf. ROSE, 1998, p. 146.<br />

80 Embora já existissem escolas exegéticas como a “literalista” de Antioquia e a “alegórica” de Alexandria.<br />

Sobre isso, ver TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: Aste, 2000. p. 74. Ver também<br />

MORESCHINI, Cláudio & MORELLI, Enrico. História da literatura cristã antiga grega e latina: II – do<br />

concílio de Nicéia ao início da Idade Média. São Paulo: Loyola, 2000. p. 177.<br />

81 Cf. KERR, 1938, p. 51-52.<br />

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