variação lingüística entre os municípios de são luis - IV CONNEPI ...

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Pessoas com baixo nível de escolaridade na faixa etária de 30 e 40 anos apresentam processos fonológicos semelhantes nos municípios de São Carlos e São Luís, como o rotacismo, a nasalização do pronome /mi/, a metátese /merƆi’a/ e o apagamento do/d/ do gerúndio /fa’zẽnU/. O apagamento do /r/ final marca a baixa escolaridade em São Carlos, mas não em São Luís. 4.2 Nível Mórfico Constituem variedades no nível mórfico aquelas verificadas na formação das palavras. Foram comuns aos dois campos variedades identificadas em pessoas de faixas etárias diferenciadas, mas de baixo nível de escolaridade, como o apagamento do morfema de plural “s” e concordâncias inadequadas. Foi, ainda, em caráter diferencial, identificado o uso do pronome “você” para o tratamento íntimo, enquanto que, em São Luís, é preferencialmente utilizado o “tu”. Esse tratamento é mantido não só no uso dos pronomes na função sujeito, mas também na de objeto. Por exemplo: “Tô falando pra você...”, em São Carlos, e “... tô ti falando por que tenho mais experiências...”, em São Luís. 4.3 Nível Sintático Variações no nível sintático são aquelas verificadas no que se refere à construção das frases. A negativa, em São Luís, é feita de forma redundante na maioria das vezes, o que não acontece nunca em São Carlos: “Ele não é daqui”, em São Carlos, e “ele não é daqui, não”, em São Luís. 4.3 Nível Semântico A variação no nível semântico é a mesma palavra com significado diferente. Por exemplo: “peão”, em São Luís, é um trabalhador na área de construção civil; em São Carlos, “peão” é uma pessoa que trabalha com animais da agropecuária. Na Tabela 3 apresentam-se diversas ocorrências de palavras e expressões que possuem diferentes significados nas cidades consideradas. Tabela 3 - Significados de acordo com a cidade. São Carlos São Luis São Carlos São Luis Tirar um sarro Zoar Dar um beijo Beiçar Gozar Brincar, fazer palhaçada Boiola/boy Qualira, Baitola Xavecar Paquerar Folgado Saliente Frenética Patricinha Saidinho Saliente Pão francês/de leite Pão massa grossa/massa fina Nossa! Éguas! Um beijo! Um cheiro! Pingado Café com leite Jacu, zé ruela, tonto Lerdo, lesado Rir Sorrir Colocar Botar Mandioca Macaxeira/aipim Barulho Zuada Eu sei ê ein Velho Ê doido Canjica Mingau de milho Ta bom hum hum Curau Canjica Tenha dó Má rapa Coxão Mole/Duro Chã de dentro/fora Muquirana/mão de sambambaia Mão de vaca Lagartixa Osga Xereta Maroca Pernilongo Praga/muriçoca Zangado Injuriado Cabide Cruzeta
5. CONCLUSÕES Este trabalho apresentou as variações no nível fônico, no nível mórfico, no nível sintático e no nível semântico na estrutura da língua falada. A comparação foi feita entre os falares das cidades de São Luís-MA e São Carlos-SP, sendo que para efeito de estudo foram efetuadas 16 entrevistas em São Luis e 16 entrevistas em São Carlos perfazendo aproximadamente 32 horas de entrevistas. Historicamente pode-se observar que o povoamento migratório no Brasil causou considerável influência na miscigenação da população, em especial em São Luís do Maranhão e em São Carlos, interior de São Paulo. Sendo assim, é notório que em cada uma dessas regiões os povos que nela estiveram influenciaram de forma determinante o seu falar. Geograficamente, a influência nos falares ocorre devido à grande extensão do território brasileiro. Aliada à extensão, influencia também nos falares a cultura de cada região, que é diretamente afetada pelo clima, pela vegetação e pela economia. Nesse contexto, verificou-se que a língua não é homogênea e sim heterogênea, pois existem diferentes formas de variação: histórica, de classe social, geográfica, estilística, gênero/sexo e faixa etária. Considerando aspectos relacionados à língua considerada, verificou-se que existem variações nos níveis fônico, mórfico, sintático e semântico da língua, sendo que neste trabalho identificou-se uma maior variação nos níveis fônico e mórfico. No nível fônico ocorre diferença na pronúncia nos fonemas consonantais e nas vogais. Nos dois municípios, pessoas com baixa escolaridade de faixa etária de 30 e 40 anos apresentam o rotacismo, a nasalização do pronome /mi/, a metátese e o apagamento do /d/ no gerúndio. Já em São Carlos, a marca da baixa escolaridade está na diferença encontrada no /r/ no final das palavras, o que não ocorre São Luis. Em São Carlos foi, ainda, detectado que as pessoas falam mais rápido e também está presente a síncope intervocabular, ou seja, a perda de fonemas na junção de palavras em qualquer nível de escolaridade, sendo que em São Luís esse comportamento não foi identificado. Já no nível mórfico, as maiores diferenças estão no uso do pronome “você” em São Carlos e o “tu” em São Luís. Muito embora haja muitas diferenças nos falares das regiões consideradas, existem também semelhanças. Em ambos os municípios verificou-se que existe tanto o apagamento do morfema de plural ”s” quanto concordâncias inadequadas. No nível sintático, detectou-se que os entrevistados em São Luís usam a forma negativa de maneira redundante na maioria das vezes, já em São Carlos isso não acontece. (“Não é”, em São Carlos, “Não é, não”, em São Luís). E por último, no nível semântico, observou-se que muitas palavras e expressões são usadas com sentidos diferenciados em São Luís e em São Carlos, podendo até causar, para quem as usa sem se dar conta das diferenças, algum constrangimento, como nos usos das palavras “gozar” e “tirar um sarro”. Devido às variedades encontroadas, destaca-se que a contribuição deste trabalho não está somente na documentação das variações identificadas, mas também no campo acadêmico e social, isto é, deseja-se que não só os profissionais da área de Letras tenham consciência sobre a variação lingüística, mas também que toda a sociedade se conscientize dessas variações. A conscientização tem um papel importante dentro da sociedade já que ela existe não somente dentro da sala de aula, mas também fora dela. Em outras palavras, a conscientização leva à valorização não de uma única variação, aquela considerada correta e de prestígio, pois esse comportamento leva ao preconceito de que em um determinado lugar fala-se melhor do que no outro. Nesse contexto, é inegável que essa conscientização pode levar a uma maior aceitação daquelas pessoas que “falam diferente”, pois essa diferença vem de suas raízes e da sua formação como cidadão e pessoa, tendo, conseqüentemente, a sua identidade preservada e diminuindo a discriminação seja nos bancos das escolas ou nos bancos de uma praça. Muito embora trabalhos no contexto de variações lingüísticas sejam importantes, no Brasil ainda não se conseguiu fazer um levantamento de todas as variações existentes, uma vez que seu tamanho territorial é extenso e a falta de investimento é nítida, especialmente em estados mais pobres. Essa conjuntura só pode ser lamentada, pois é um patrimônio para o povo brasileiro, já que à medida que a língua evolui com a sociedade muitas expressões podem ser perdidas nessa evolução..
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