Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Uepb

Boletim Informativo da Sociedade Paraibana de Arqueologia - Nº 44
ArtigO___________________________________
Um editor com alma de arqueólogo
Carlos Alberto Azevedo*
Conheci o professor e editor Pontes
da Silva (1938-2010) no antigo Ponto de Cem
Réis, na década de 1960. Foi o artista
plástico José Altino que possibilitou a nossa
amizade
Depois, durante a ditadura militar, parti
para a Europa (Alemanha), permanecendo
mais de vinte anos fora do país. Em 1999, a
convite da escritora Zélia Almeida e do
historiador Luiz Hugo Guimarães fiz o
lançamento do meu romance Os herdeiros do
medo (romance histórico) no Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano. Lá estava
o meu amigo Pontes. Foi uma imensa alegria revê-lo.
A reaproximação foi rica para nós dois. Conversávamos sobre tudo, de literatura
a filosofia. Pontes era um grande leitor. Aliás, brincava, às vezes, de livreiro; brincava de
vender livros usados. Foi proprietário de vários sebos que, com certeza, os mantinha
apenas para atrair os amigos. Entre seus “clientes” estavam Vanildo Brito, Guilherme
d‟Ávila Lins, Vitória Lima, Humberto Fonseca, Gilberto Stuckert Filho, Calf, Adauto
Ramos, José Di Lorenzo Serpa, William Costa, Zélia Almeida, Heitor Cabral, Lourdinha
Luna e muitos outros. Era um sonhador, esse Pontes!
Nossa amizade se firmou mesmo, quando ele fundou uma importante revista
cultural: Fabulação. Editou vinte e oito números, coisa rara na nossa terrinha...
Em Fabulação abrimos um espaço para arqueologia – diversos números foram
dedicados à arqueologia paraibana. Vários capítulos do meu livro Arqueologia – Estudos
& Pesquisas foram publicados antes em Fabulação.
Naturalmente, o namoro de Pontes com a arqueologia datava de muito tempo.
Mestre Pontes editou uma obra-prima: Arte rupestre nos Cariris Velhos (1979), de Ruth
Trindade de Almeida. Um dos textos mais importantes de arqueologia da Paraíba. Nele
a pesquisadora registra 61 sítios rupestres e são identificadas mais de 60 pinturas e
gravuras.
O ano passado, pedi-lhe um exemplar do livro de Ruth Almeida – há muito
esgotado. “Não tenho nenhum mais – nem para fazer um chá”, disse rindo.
Assim, era o nosso Pontes, não se apegava a nada, nem mesmo aos livros que
editava. Seu compromisso era manter a chama viva das boas amizades. Fez grandes
amigos, amigos verdadeiros.
*Antropólogo, sócio da SPA
Fevereiro de 2010
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