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Que América Latina se sincere - Acervo Paulo Freire

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e a si mesmo. A branquitude é um locus de elaboração de uma gama de práticas e<br />

identidades culturais, muitas vezes “não-marcadas” ou não nomeadas, ou denominadas<br />

como nacionais ou “normativas”, em vez de especificamente raciais; e em muitos casos<br />

deslocadas dentro das denominações étnicas e de clas<strong>se</strong> (FRANKENBERG, 2004).<br />

É precisamente o dispositivo de negação dos negros nas ações institucionais,<br />

<strong>se</strong>gundo Leite (idem), ou, pensando nos termos do outro corpus de literatura, que a<br />

normatividade da branquitude é o parâmetro para <strong>se</strong> organizar o mundo, aspecto que <strong>se</strong><br />

apre<strong>se</strong>nta como o cerne do debate sobre políticas públicas com perspectiva étnico-racial.<br />

Uma questão também destacada por James Clifford em <strong>se</strong>u aporte crítico ao<br />

conceito de diáspora é a importância de levar em consideração uma perspectiva de gênero<br />

perpassando as experiências diaspóricas. Em linhas gerais, as descrições da diáspora<br />

tendem a ocultar es<strong>se</strong> fato, tomando como norma as experiências masculinas. Nes<strong>se</strong><br />

<strong>se</strong>ntido, <strong>se</strong>rá considerada uma perspectiva de gênero, particularmente para entender as<br />

demandas que focalizam o corpo das mulheres negras nas disputas políticas, assim como a<br />

potencialização das ações afirmativas na confluência dos movimentos negro e feminista 13 .<br />

Em decorrência desta problemática, retomarei um dos eixos do debate sobre pós-<br />

colonialismo a partir de uma crítica à dominação colonial e à posição de subordinação de<br />

sujeitos coloniais, discutindo como práticas e repre<strong>se</strong>ntações coloniais sobre corpo e<br />

poder <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>ntam em sintonia com reavivados dilemas da modernidade, tais como o da<br />

primazia do corpo nas estéticas e políticas modernas e os processos de repre<strong>se</strong>ntação de<br />

supostas diferenças e capacidades biológicas e culturais do corpo (CUNHA, 2002). Este<br />

debate apre<strong>se</strong>nta-<strong>se</strong> como uma tentativa de combinar um olhar crítico da relação entre<br />

construções em torno da noção de "raça", processos de subjetivação e outras estratégias de<br />

poder colonial pre<strong>se</strong>nte na obra de Frantz Fanon 14 , e as interpretações de Michel Foucault<br />

sobre biopoder e governamentalidade, para entender a relação entre poder, conhecimento e<br />

repre<strong>se</strong>ntação dos sujeitos coloniais.<br />

Visão coerente com uma antropologia política que vem desconstruindo as<br />

percepções do Estado como entidade vertical na qual o poder é inerente, deslocando o<br />

13 Como exploraremos nos capítulos 5 e 6.<br />

14 No livro Pele Negra, Máscaras Brancas (2008 [1952]) o autor afro-caribenho Frantz Fanon foca a<br />

implosão de um sujeito negro libertado do olhar e da fala de um outro, branco. No livro Os Condenados da<br />

Terra (1968 [1961]) problematiza o fato de que é o "colonizado" quem, ao focalizar as estratégias e os modos<br />

através dos quais o "colonizador" opera, desvenda a teia na qual a sua própria subordinação é produzida<br />

(CUNHA, 2002).<br />

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