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Que América Latina se sincere - Acervo Paulo Freire

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Nos próximos capítulos nos debruçaremos sobre estes pontos para entender as<br />

mobilizações negras contemporâneas na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e os modos minoritários de pensar<br />

a nação e o multiculturalismo. Antes percorreremos a literatura que analisa como <strong>se</strong><br />

constituíram as políticas raciais em termos de projetos nacionais na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e das<br />

resistências negras em diferentes períodos.<br />

2.2 Geopolíticas dos Estados nacionais latino-americanos<br />

Neste tópico, pretendo apontar algumas considerações sobre as geopolíticas que<br />

modelaram determinados “usos de raça” (HANCHARD, 1995) nos diferentes Estados<br />

nacionais da região a partir de tecnologias de poder que criaram/vincularam o que é lido<br />

como “população”, “território” e “problema social”.<br />

Um dos eixos fundamentais do padrão de poder mundial que começou com a<br />

invenção geopolítica da <strong>América</strong> e o capitalismo colonial/moderno é a classificação social<br />

da população mundial de acordo com a idéia de raça: uma construção mental que expressa<br />

a experiência básica da dominação colonial e que desde então permeia as dimensões mais<br />

importantes do poder mundial, incluindo sua racionalidade específica, o eurocentrismo<br />

(QUIJANO, 2005).<br />

A constituição do Novo Mundo como objeto de saber está estreitamente associado à<br />

reprodução de determinadas relações de poder entre Europa e o que <strong>se</strong> denomina como<br />

<strong>América</strong>. Assim o Novo Mundo <strong>se</strong> apre<strong>se</strong>nta como construção epistêmica, mas também<br />

como encarnação de relações de dominação, de hierarquia e autoridade, especificamente<br />

coloniais.<br />

Nas <strong>América</strong>s, a idéia de raça foi uma maneira de outorgar legitimidade às relações<br />

de dominação impostas pela colonização. A expansão do colonialismo europeu ao resto do<br />

mundo conduziu a elaboração da perspectiva eurocêntrica do conhecimento e, com ela, a<br />

elaboração teórica da idéia de raça como naturalização dessas relações coloniais de<br />

dominação entre europeus e não-europeus. A formação de relações sociais fundadas na<br />

idéia de raça produziu identidades sociais historicamente novas: índios, negros e mestiços<br />

e, mais tarde, europeus (que até então indicava apenas procedência geográfica ou país de<br />

origem, mas passou a adquirir também uma conotação racial). Identidades que foram<br />

associadas à natureza dos papéis e lugares na nova estrutura global de controle do trabalho.<br />

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