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Que América Latina se sincere - Acervo Paulo Freire

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Du Bois, entre outros) que formularam questões sobre a diáspora muito antes do que<br />

acadêmicos que <strong>se</strong> enquadraram no cânone das Ciências Sociais, e que foram sub-<br />

repre<strong>se</strong>ntados no debate protagonizado por Herskovits (antropólogo) e Franklin Frazier<br />

(sociólogo afro-norte-americano da Escola de Chicago). Enquanto Hertskovits analisava as<br />

profundas raízes da tradição africana no fenômeno de adaptação das culturas africanas nas<br />

<strong>América</strong>s; Frazier argumentava de um ponto de vista estrutural que os africanos<br />

escravizados nos Estados Unidos eram despossuídos de suas culturas no processo de<br />

escravidão e eram vistos como americanos em situação de desvantagem.<br />

Este projeto da Antropologia Cultural, com contribuições de antropólogos dos<br />

paí<strong>se</strong>s latino-americanos (a exemplo de Arthur Ramos; no Brasil, Fernando Ortiz, em<br />

Cuba; Gonzalo Aguirre Beltrán, no México) tinha como correlato a elaboração de projetos<br />

nacionalistas que <strong>se</strong> propunham mostrar as contribuições dos descendentes de africanos na<br />

cultura nacional e pensar políticas públicas relativas à negritude, como veremos no<br />

próximo tópico.<br />

Se olharmos os estudos sobre relações raciais nas <strong>América</strong>s, eles foram definidos a<br />

partir de dois modelos: a <strong>se</strong>gregação ou dicotomia racial – cujo tipo ideal era identificado<br />

com os Estados Unidos; e a mistura racial ou mestiçagem nos paí<strong>se</strong>s da <strong>América</strong> <strong>Latina</strong>.<br />

Nessa polaridade de sistemas raciais, o Brasil foi colocado como paradigmático do<br />

<strong>se</strong>gundo tipo, existindo vários estudos comparativos com os Estados Unidos (NOGUEIRA,<br />

1954; HARRIS, 1967; DEGLER, 1976; SKIDMORE, 1993).<br />

As percepções do “paraíso racial” latino-americano começaram a mudar apenas<br />

quando a <strong>se</strong>gregação racial foi desmantelada nos Estados Unidos, em con<strong>se</strong>qüência do<br />

Movimento dos Direitos Civis. Foi nes<strong>se</strong> cenário que as desigualdades raciais passaram a<br />

<strong>se</strong>r atribuídas à operação de mecanismos sociais mais sutis, como a educação escolar, a<br />

<strong>se</strong>letividade no mercado de trabalho, a pobreza, entre outros. A mudança de percepção da<br />

discriminação racial nos Estados Unidos alterou tanto a percepção do Brasil por parte dos<br />

anglo-americanos quanto pelo programa político do anti-racismo. O nacionalismo negro e<br />

o movimento feminista, nos anos 70, imprimiram outra dinâmica às percepções anti-<br />

racistas; aliando a discussão de raça e gênero (GUIMARÃES, 2005).<br />

Podemos destacar uma virada para a economia política de muitos cientistas sociais<br />

que <strong>se</strong> tornaram críticos quanto às dicotomias entre sistemas de relações raciais, aos mitos<br />

raciais nacionais na <strong>América</strong> <strong>Latina</strong> e à tendência a excluir raça como variável na<br />

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