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001 - A CANETA E A ENXADA<br />
“Certa vez uma caneta foi passear<br />
lá no sertão<br />
Encontrou-se com uma enxada,<br />
fazendo a plantação.<br />
A enxada muito humil<strong>de</strong>, foi lhe<br />
fazer saudação,<br />
Mas a caneta soberba não quis<br />
pegar sua mão.<br />
E ainda por <strong>de</strong>saforo lhe passou<br />
uma repreensão.”<br />
Disse a caneta pra enxada não vem<br />
perto <strong>de</strong> mim, não<br />
Você está suja <strong>de</strong> terra, <strong>de</strong> terra<br />
suja do chão<br />
Sabe com quem está falando, veja<br />
sua posição<br />
E não se esqueça à distância da<br />
nossa separação.<br />
Eu sou a caneta soberba que<br />
escreve nos tabelião<br />
Eu escrevo pros governos as leis<br />
da constituição<br />
Escrevi em papel <strong>de</strong> linho, pros<br />
ricaços e barão<br />
Só ando na mão dos mestres, dos<br />
homens <strong>de</strong> posição.<br />
A enxada respon<strong>de</strong>u: que bateu<br />
vivo no chão,<br />
Pra po<strong>de</strong>r dar o que comer e vestir<br />
o seu patrão<br />
Eu vim no mundo primeiro quase no<br />
tempo <strong>de</strong> adão<br />
Se não fosse o meu sustento não<br />
tinha instrução.<br />
Vai-te caneta orgulhosa, vergonha<br />
da geração<br />
A tua alta nobreza não passa <strong>de</strong><br />
pretensão<br />
Você diz que escreve tudo, tem<br />
uma coisa que não<br />
É a palavra bonita que se chama....<br />
educação!<br />
002 - ADMIRÁVEL GADO NOVO<br />
Composição: Zé Ramalho<br />
Vocês que fazem parte <strong>de</strong>ssa<br />
massa que passa nos projetos do<br />
futuro<br />
É duro tanto ter que caminhar e<br />
dar muito mais do que receber<br />
E ter que <strong>de</strong>monstrar sua coragem<br />
à margem do que possa parecer<br />
E ver que toda essa engrenagem já<br />
sente a ferrugem lhe comer<br />
Ê, ô ô, vida <strong>de</strong> gado, povo marcado,<br />
ê, povo feliz<br />
Lá fora faz um tempo confortável,<br />
a vigilância cuida do normal<br />
Os automóveis ouvem a notícia, os<br />
homens a publicam no jornal<br />
E correm através da madrugada a<br />
única velhice que chegou<br />
Demoram-se na beira da estrada e<br />
passam a contar o que sobrou<br />
Ê, ô ô, vida <strong>de</strong> gado, povo marcado,<br />
ê, povo feliz<br />
O povo foge da ignorância apesar<br />
<strong>de</strong> viver tão perto <strong>de</strong>la<br />
E sonham com melhores tempos<br />
idos, contemplam essa vida numa<br />
cela<br />
Esperam nova possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
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