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MANFREDO XIMENES PONTE REDE INTRA-URBANA DE ... - UFRJ

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<strong>MANFREDO</strong> <strong>XIMENES</strong> <strong>PONTE</strong><br />

<strong>RE<strong>DE</strong></strong> <strong>INTRA</strong>-<strong>URBANA</strong> <strong>DE</strong> ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA<br />

CIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> BELÉM:<br />

Aspectos históricos, políticos e econômicos da estruturação sanitária.<br />

Rio de Janeiro<br />

2003


<strong>RE<strong>DE</strong></strong> <strong>INTRA</strong>-<strong>URBANA</strong> <strong>DE</strong> ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA<br />

CIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> BELÉM:<br />

Aspectos históricos, políticos e econômicos da estruturação sanitária.<br />

Manfredo Ximenes Ponte<br />

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do<br />

Programa de Pós-Graduação do Instituto de Pesquisa em<br />

Planejamento Urbano e Regional - IPPUR, da<br />

Universidade Federal do Rio de Janeiro - <strong>UFRJ</strong>, como<br />

parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de<br />

Mestre em Planejamento Urbano e Regional.<br />

Orientador: Prof. Dr. Mauro Kleiman<br />

Doutor em Planejamento Urbano - USP<br />

Rio de Janeiro<br />

2003


<strong>PONTE</strong>, M. X. Rede intra-urbana de água e<br />

esgotamento sanitário na cidade de Belém: aspectos<br />

históricos, políticos e econômicos da estruturação<br />

sanitária. Rio de Janeiro, 2003. Tese (Mestrado em<br />

Planejamento Urbano e Regional) <strong>UFRJ</strong> / IPPUR,<br />

2003.<br />

1. Água . 2. Planejamento. 3. Urbano. 4. Belém do Pará. I. Mauro<br />

Kleiman, orient. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto<br />

de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional. III. Título.


<strong>RE<strong>DE</strong></strong> <strong>INTRA</strong>-<strong>URBANA</strong> <strong>DE</strong> ÁGUA E ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA<br />

CIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> BELÉM:<br />

Aspectos históricos, políticos e econômicos da estruturação sanitária.<br />

Manfredo Ximenes Ponte<br />

Dissertação submetida ao corpo docente do Instituto de Pesquisa e Planejamento<br />

Urbano e Regional - IPPUR, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - <strong>UFRJ</strong>, como parte<br />

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre.<br />

Aprovada por:<br />

_______________________________<br />

Prof. Dr. Mauro Kleiman<br />

Doutor em Planejamento Urbano<br />

(Universidade de São Paulo)<br />

__________________________________<br />

Profª. Drª. Tamara Tânia Egler<br />

Doutora em Sociologia<br />

(Universidade de São Paulo)<br />

__________________________________<br />

Prof. Dr. José Almir Rodrigues Pereira<br />

Doutor em Hidráulica e Saneamento<br />

(Universidade de São Paulo/Escola de Engenharia de São Carlos)<br />

Rio de Janeiro<br />

2003


Dedico este trabalho ao Engenheiro Sanitarista Messod Levy<br />

Barcessat, meu colega e amigo da antiga FSESP, atual<br />

FUNASA, pelo trabalho desenvolvido por mais de 40 anos no<br />

desenvolvimento de tecnologia aplicada ao Saneamento<br />

ambiental da Amazônia, após ter percorrido vários partes do<br />

mundo e do Brasil, disseminando com obras de infra-estrutura<br />

sanitária, inúmeras localidades. Reconhecido como um dos<br />

melhores pesquisadores de mananciais, para abastecimento<br />

coletivo e público, em todo o vale amazônico, dando soluções<br />

adequadas e de custo baixo, observando as disponibilidades<br />

tecnológicas de cada período.


AGRA<strong>DE</strong>CIMENTOS<br />

Aos meus familiares, minha companheira Laura, que me estimulou a prosseguir<br />

mesmos nos momentos difíceis. Aos meus filhos Laila, Mario, Gabriel e Victor, dos quais<br />

roubei o tempo de convivência para me dedicar às tarefas de estudos.<br />

Com reconhecimento e apreço ao arquiteto e professor Edmilson Brito Rodrigues,<br />

que quando prefeito de Belém incentivou seus assessores e secretários a estudarem temas<br />

relacionados a Belém inclusive, dando apoio financeiro, no custeio parcial do curso de<br />

Mestrado através da Prefeitura Municipal de Belém-PMB.<br />

A prezada amiga Jurandi Novais, Secretária de Planejamento da PMB que apoio a<br />

solicitação de custeio parcial do Curso de Mestrado.<br />

Ao professor e amigo, Rodrigo Peixoto, pelo incentivo dado antes e durante o<br />

desenvolvimento do curso de Mestrado, que sempre procurou nos orientar, assessorar,<br />

incentivar e nos mostrar a importância futura desse curso no âmbito da Amazônia brasileira.<br />

Na qualidade de Coordenador do Curso de Mestrado, foi decisivo na minha decisão de<br />

participar do processo seletivo, bem como, foi o articulador entre o Instituto de Pesquisa e<br />

Planejamento Urbano e Regional -IPPUR/<strong>UFRJ</strong>/CESUPA e a Prefeitura Municipal de Belém,<br />

no sentido de custear parcialmente o curso de mestrado.<br />

Ao professor e orientador, Mauro Kleiman, que com a sua simplicidade,<br />

humildade, sabedoria e conhecimento, pode me conquistar para a dissertação desse tema de<br />

forma pioneira, no âmbito do município de Belém, elevando o valor do conteúdo trabalhado.<br />

Ao cientista político José de Ribamar Miranda Marinho, que contribuiu de forma decisiva<br />

desde a pesquisa de títulos e documentos históricos originais em arquivos públicos e<br />

bibliotecas, participou e contribuiu nas discussões teóricas. Queremos agradecer a esse<br />

cientista, que terá um futuro brilhante, e está apenas se iniciando.


Não há economia sem água, mas há pobreza<br />

com água na Amazônia.<br />

Autor


RESUMO<br />

Este trabalho analisa a questão da criação da rede de abastecimento de água e esgoto da<br />

cidade de Belém, desde sua construção até a configuração atual dessa rede. Mostra-se um<br />

apanhado dos principais fatos político-econômicos e sociais relacionados ao saneamento da<br />

capital paraense, destacando também, os avanços tecnológicos nesta área. A questão principal<br />

desta investigação discute a formação da rede intra-urbana de água e esgotamento sanitário<br />

em Belém do Pará-Brasil. Onde se destacaram os processos históricos que impulsionaram o<br />

desenvolvimento urbano, especificamente o sanitário ocorrido na cidade de Belém, como por<br />

exemplo, as ações de higiene feitas na época do Intendente Antonio Lemos. Este momento foi<br />

influenciado pelo ciclo da borracha no Estado do Pará que favoreceu o acúmulo de capital<br />

pelas elites locais e conseqüentemente investimento em infra-estrutura urbana para a cidade.<br />

Constatou-se com a pesquisa que a solução para o abastecimento da cidade de Belém passaria<br />

pela ação conjunta dos órgãos responsáveis pelo fornecimento de água em Belém,<br />

desenvolvendo e criando redes de esgotos em duas frentes de captação: a de captação de água<br />

por mananciais e a captação por águas subterrâneas.<br />

Palavras-chaves: Saneamento - Água - Esgoto - Belém


ABSTRACT<br />

This work analyzes the question of the water supply and sanitary sewer in the city of Belém in<br />

the State of Pará in Brazil. The process of evolution of the intra-urban net of water and sewer<br />

of the city of Belém is linked with its urban development, in virtue of this relation in inquires<br />

them on some complementary questions: How he was thought the sanitation about the start of<br />

the settling? How the inhabitants of century XVII in the Belém of Grain-Pará if unfolded to<br />

supply its necessities of the colonial and imperial politics? We evidence with the developed<br />

work that the solution for the supplying of the city of Belém would be that the responsible<br />

agencies for the supply of water and creation of nets of sewers acted in the two fronts of<br />

capitation: of water captation for sources and the captation for underground waters.<br />

Word-Keys: Sanitation - Water - Sewer - Belém


LISTA <strong>DE</strong> FIGURAS<br />

Figura 01 Rua de um bairro pobre de Londres, gravura: de Gustave Doré de 1872. 26<br />

Figura 02 Bairro elegante de Londres - mostra de dois trechos da Regent Street<br />

construída entre 1820 a 1830 - Trecho perto de Picadilly Circus<br />

27<br />

Figura 03 Bairro elegante de Londres - mostra de dois trechos da Regent Street<br />

construída entre 1820 a 1830 -Trecho do Retilíneo de Portland Place<br />

28<br />

Figura 04 Crianças trabalhando nas minas de carvão 28<br />

Figura 05 Espaço urbano de Belém em 1791 41<br />

Figura 06 Belém no início do século XVII (adaptação) 42<br />

Figura 07 Representação Esquemática da Rede Coletora Assentada entre 1906 - 1915 77<br />

Figura 08 Características das Bacias de Esgotamento Sanitário conforme concepção<br />

da empresa Byington & Cia<br />

78<br />

Figura 09 Dados Populacionais por Distritos Administrativos 106<br />

Figura 10 Área Totalmente Atendida Pelo SAAEB e pela COSANPA 107<br />

Figura 11 Área Atendida Pela COSANPA 108<br />

Figura 12 Distribuição dos sistemas de Abastecimento da Cidade de Belém do Pará 109<br />

Figura 13 Áreas com tratamento de esgoto – SAAEB 110


LISTAS <strong>DE</strong> QUADROS<br />

Quadro 01 Cidade, vilas e povoados com água encanada - 1920. 65<br />

Quadro 02 Abastecimento d’água em Belém - 1920. 66<br />

Quadro 03 Localidades (cidades, vilas e povoados) servidas por esgotos sanitários. 67<br />

Quadro 04 Cidades e Vilas Servidas por Esgotos. 67<br />

Quadro 05 Exportação de produtos da Amazônia. 75<br />

Quadro 06 Características das Bacias de Esgotamento Sanitário Resultante da<br />

Concepção de Projeto Apresentado pela Empresa Byington & Cia em<br />

1955.<br />

79<br />

Quadro 07 Fatos políticos e econômicos que influenciaram as ações na área de<br />

saneamento no Brasil após 1910<br />

99<br />

Quadro 08 Distritos Administrativos da Prefeitura Municipal de Belém 100


LISTA <strong>DE</strong> GRÁFICOS<br />

Gráfico 01<br />

Gráfico 02<br />

Canalização e Torneiras em Belém (1884-1886)<br />

Crescimento Populacional da Amazônia (1870-1910)<br />

55<br />

61<br />

Gráfico 03 Estatística Predial e Domiciliar do Estado do Pará em 1872 61<br />

Gráfico 04 Gastos de Investimentos do Governo do Pará em Intendência Municipal<br />

de Belém, segundo o Destino - 1860-1920 (Construções em Água,<br />

Esgoto e Saneamento de Pauis).<br />

65<br />

Gráfico 05 População e Renda Interna na Amazônia (1800 -1960) 74<br />

Gráfico 06 População paraense entre 1820 a 1838 83<br />

Gráfico 07 Produção da Borracha (em toneladas) 87<br />

Gráfico 08 Imigração Estrangeira no Quadriênio 1908-11 90<br />

Gráfico 09 Evolução das Receitas Públicas segundo as unidades da Amazônia:<br />

1890-1915 (contos de réis)<br />

93


LISTA <strong>DE</strong> DIAGRAMAS<br />

Diagrama 01 Evolução Institucional de Água e Esgoto da Cidade de Belém 70<br />

Diagrama 02 Sistema de Abastecimento do SAAEB 103


SUMÁRIO<br />

RESUMO 6<br />

ABSTRACT 7<br />

LISTA <strong>DE</strong> FIGURAS 8<br />

LISTA <strong>DE</strong> QUADROS 9<br />

LISTA <strong>DE</strong> GRÁFICOS 10<br />

LISTA <strong>DE</strong> DIAGRAMAS 11<br />

INTRODUÇÃO 13<br />

CAPÍTULO I<br />

MO<strong>DE</strong>RNIDA<strong>DE</strong>, TECNOLOGIA E SANEAMENTO.<br />

1.1. Introdução 18<br />

1.2 A Modernidade 21<br />

1.2.1 A cidade moderna 25<br />

1.3. Tecnologia, quando e porquê? 29<br />

1.3.1 Sobre a tecnologia no Brasil 31<br />

1.4 O Saneamento 32<br />

CAPÍTULO 2<br />

PRECE<strong>DE</strong>NTES HISTÓRICOS DA QUESTÃO <strong>DE</strong> ÁGUA E ESGOTO EM BELÉM<br />

2.1 Introdução 36<br />

2.2 O Período Colonial (1616- 1821) 36<br />

2.3 Expansão Urbana 39<br />

2.3.1 A necessidade de abastecimento de água 42<br />

2.4 O Período Imperial (1821-1889) 44<br />

2.5 O Período Republicano 56<br />

2.6 A Cidade de Belém no Cenário Político-Econômico Nacional e Internacional 71<br />

2.7 A Rede de Esgoto em Belém. 76<br />

2.8 Abastecimento de água sob a égide político-econômico 81<br />

2.9 Belém durante o período áureo da produção gomífera 85<br />

2.10 Os Anos Bélicos 93<br />

2.11 Os fatores econômicos pós-década de 50 96<br />

CAPÍTULO 3<br />

BELÉM: UMA CIDA<strong>DE</strong> DUAL<br />

3. 1 Introdução 100<br />

3.2 O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém - SAAEB e a Companhia de Saneamento<br />

do Pará - COSANPA<br />

103<br />

3.3 A Participação Popular na área do Saneamento 104<br />

3.4 O Mapa do Saneamento em Belém 105<br />

CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS 111<br />

REFERÊNCIAS 114<br />

18<br />

36<br />

100


INTRODUÇÃO<br />

A Amazônia é uma região rica em recursos naturais, principalmente os hídricos, e<br />

a maioria das cidades nesse espaço apresentam uma abundante disponibilidade de água. Mas<br />

se existe muita água, então, quais seriam os fatores que tornam deficitário o abastecimento de<br />

água e serviço de esgoto sanitário das cidades amazônicas, inclusive Belém?<br />

A cidade de Belém, como se observa em Meira Filho (1976, p. 19), no início da<br />

colonização portuguesa foi ocupada de forma:<br />

[...] a conciliar os interesse de Portugal aos dos homens que se instalaram nas novas<br />

terras do além mar. O ato de sua fundação, em 1616, foi uma ação clara dos<br />

interesses de Portugal na nova região. O objetivo do governo luso era estratégico,<br />

estava relacionado a questões defensivas, ou seja, este almejava impedir a incursão<br />

de holandeses, franceses e espanhóis na costa brasileira.<br />

Nessa configuração, a questão do abastecimento de água e esgotamento sanitário<br />

em Belém desde o período colonial aos dias atuais, apresenta-se como um assunto que<br />

envolve elementos políticos, econômicos e tecnológicos. Esse argumento nos parece<br />

pertinente, visto que, processos políticos e econômicos ao longo da história da humanidade<br />

exerceram e ainda exercem influência no planejamento e na construção de infra-estrutura das<br />

cidades, incluindo assim, execução de rede intra-urbana 1 de água e esgotamento sanitário no<br />

meio urbano.<br />

Nossa análise relaciona elementos históricos, políticos, econômicos, sociais e<br />

tecnológicos, porque, assim como Rezende & Heller (2002), acreditamos que estas dimensões<br />

1 Este termo refere-se ao arranjo interno dos espaços urbanos. A expressão “espaço urbano”, bem como<br />

“estrutura urbana”, “estruturação urbana”, “reestruturação urbana” e outras congêneres, só podem se referir ao<br />

intra-urbano. Tal expressão deveria ser, pois, desnecessária, em face de sua redundância. Porém, espaço urbano –<br />

e todas aquelas afins –está hoje de tal forma comprometida com o componente urbano do espaço regional que<br />

houve necessidade de criar outra expressão para designar o espaço urbano; daí o surgimento e uso de intraurbano.<br />

(VILLAÇA, 2001, p. 18). (Grifo nosso).<br />

13


são relevantes para compreensão de nosso objeto de análise, ou seja, a questão de como vem<br />

se delineando, ao longo da história, a rede intra-urbana de abastecimento de água e esgoto<br />

sanitário da cidade de Belém no Estado do Pará-Brasil. Onde fazemos um diálogo com o<br />

passado, para pensarmos nos caminhos mais significativos para a solução do problema de<br />

abastecimento de água e esgoto sanitário em Belém.<br />

No início da colonização portuguesa, Belém, o discurso predominante no cenário<br />

belenense era de que não havia tecnologia para suprir o problema de abastecimento de água.<br />

Contudo, já havia esforços nesta área, e foram representados pelos equipamentos voltados<br />

para a capitação e armazenamento de água, inventados em épocas remotas, como escreve<br />

Cherkassky (1977, p. 15):<br />

In the 17h century B.C., in Cairo pumpus with an endlees chain were operated to<br />

raise water from a depth of 91, 5 m. In that time, In Alexandria they built a<br />

reciprocating fire pump; it was cast of bronze and had all the parts characteristic of<br />

its present-day counterparts.<br />

Evidentemente que o desenvolvimento urbano da cidade de Belém influenciou a<br />

formação da rede intra-urbana de abastecimento de água e esgoto sanitário, em virtude dessa<br />

relação, este estudo no permiti compreender como os habitantes da Belém do Grão-Pará<br />

supriam suas necessidades higiênicas, nos primórdios da colonização brasileira e de que<br />

forma conjunturas econômicas e políticas contribuíram para a concretização das idéias<br />

voltadas para o saneamento da capital paraense.<br />

Nosso recorte corresponde ao período de fundação da cidade de Belém (1616) até<br />

as ações governamentais mais recentes na área de saneamento público. Pesquisamos e<br />

estudamos a literatura relacionada ao tema proposto, com finalidade de compreender como<br />

eram realizadas as ações na área do saneamento na cidade de Belém durante os períodos<br />

Colonial, Imperial e Republicano brasileiro. Além disso, complementamos esse procedimento<br />

14


com a etapa de análise dos modelos e concepções dos projetos adotados para abastecer com<br />

rede de água e esgoto sanitário a população belenense.<br />

O quadro conceitual pesquisado nos permite falar de saneamento de acordo com<br />

Rezende & Heller (2002, p. 276) que dizem que “a história do saneamento é parte de um<br />

contexto mais amplo que envolve a história das civilizações, em que cada povo apresenta uma<br />

forma própria de se organizar visando à sobrevivência e o desenvolvimento”, ou seja, o<br />

saneamento precisa ser pensado, sobretudo, como uma interação entre pessoas.<br />

Um dos conceitos buscado na literatura estudada foi o de planejamento, que<br />

conforme Ab’Saber; Antônio Ceron e Lúcia Gerardi apud Hissa (2002, p. 230), o<br />

planejamento faz referência à racionalização e à modernização, somando-se a isso, este<br />

estabelece diretrizes para organizar os erros nos espaços e encontrar soluções harmônicas para<br />

o desenvolvimento regional, é caracterizado por “práticas destinadas a orientar e permitir a<br />

tomada de decisões sociais de forma racional e ótima, para melhor organizar e mobilizar<br />

recursos visando ao bem-estar econômico e social em escala local, regional ou nacional”.<br />

Esse conceito foi importante para entendermos as mudanças ocorridas em Belém<br />

no período de 1889-1913, conhecido como Período Lemos 2 , onde se notou significativo<br />

desenvolvimento urbano, posto que, a política pública realizada para área do saneamento foi<br />

iniciada para a estruturação da cidade.<br />

Delineado dessa forma nosso estudo os objetivos que nortearam nossa pesquisa<br />

foram: a) levantar dados sobre as primeiras ações sanitárias em Belém; b) constatar em qual<br />

momento histórico houve um planejamento sistemático da rede intra-urbana de água e esgoto<br />

sanitário; c) compreender a relação entre as ações político-econômicas e saneamento<br />

verificado na cidade de Belém; d) refletir sobre o saneamento no contexto da modernidade; e)<br />

2 Esse período confere aos anos de 1887 a 1911 correspondentes a gestão do Intendente Antonio Lemos no<br />

Estado do Pará. (RODRIGUES, J. L, 1998, p. 102-102).<br />

15


mostrar as plantas de rede intra-urbana de água e esgoto sanitário existentes na capital<br />

paraense.<br />

No Capítulo 1 analisamos três conceitos: modernidade, tecnologia e saneamento,<br />

onde fazemos uma reflexão sobre a modernidade e suas dimensões e problemas na sociedade<br />

capitalista, além disso, fazemos um paralelo com a tecnologia voltada para a área do<br />

saneamento surgida dentro do contexto da modernidade. Para tanto, buscamos compreender<br />

os aspectos macros que caracterizam a modernidade enquanto fenômeno global que atinge as<br />

regiões do mundo com conseqüências diferentes.<br />

No Capítulo 2 fazemos uma descrição histórica da evolução do abastecimento de<br />

água e esgoto sanitário da cidade de Belém, tendo em vista seu desenvolvimento urbano que,<br />

também, contribuiu para a criação de sua infra-estrutura básica.<br />

Destacamos os principais acontecimentos que marcaram o povoado da localidade<br />

que deu origem à cidade de Belém, analisando as ações que foram realizadas para o problema<br />

do abastecimento de água e higiene sanitária no período colonial.<br />

No período colonial, segundo o referencial pesquisado (FEITOSA, 1994; CRUZ,<br />

1944), o que prevalecia era o discurso político em relação ao saneamento básico, observado<br />

em portarias, leis e concessões de direito comercial sobre sistemas de água; o discurso supria<br />

ações concretas. Essa dinâmica acabava refletindo diretamente para a população que<br />

continuava, ou a captar água de nascentes e transportadas por animais de cargas e homens<br />

negros, ou comprava água de sujeitos que tiveram bons lucros com a venda de água.<br />

Na época do império brasileiro, os fatos ocorridos para a questão do<br />

abastecimento diferem política e economicamente, porque Belém já concentrava uma gama<br />

de interesses internos, expressados pelos anseios e desejos das elites dominantes no cenário<br />

paraense.<br />

16


Durante a história da evolução urbana de Belém os modelos e concepções<br />

adotados na feitura dos projetos de saneamento em Belém tiveram influencias francesa e<br />

inglesa nos dois primeiros ciclos (Colonial e Imperial), e predominância inglesa no ciclo<br />

Republicano. Todos indicando captações de água de mananciais superficiais existentes até os<br />

dias de hoje, nos mananciais pertencentes à Companhia de Saneamento do Pará - COSANPA.<br />

Damos uma relevância ao período Republicano, visto que foi justamente a partir<br />

desse momento histórico que houve ações concretas, para o problema de abastecimento de<br />

água e criação de redes de esgoto para a cidade de Belém.<br />

No Capítulo 3 apresentamos a configuração atual da rede de água e esgoto<br />

existentes na cidade de Belém, onde destacamos o aspecto dual do sistema de abastecimento.<br />

Este se caracteriza pela existência de um sistema estadual e outro municipal, representado<br />

pela Companhia de Saneamento do Estado do Pará - COSANPA e Serviço Autônomo de<br />

Água e Esgoto de Belém - SAAEB, respectivamente. Mostramos, também, ilustrações que<br />

nos permitem visualizar os projetos e modelos existentes de rede de água e esgoto da cidade<br />

de Belém.<br />

Nas Considerações finais fazemos a análise das plantas, das áreas beneficiadas<br />

com redes de abastecimento de água e esgoto, refletindo sobre as áreas não atingidas por<br />

estas, além de retomarmos alguns pontos discutidos ao longo do texto - modernidade,<br />

tecnologia, exclusão social, forças políticas e econômicas, etc -, que fazem parte de nossa<br />

reflexão final sobre o tema aqui discutido, ou seja, a construção de rede intra-urbana de água e<br />

esgoto sanitário da cidade de Belém.<br />

17


1.1 Introdução<br />

Capítulo 1<br />

MO<strong>DE</strong>RNIDA<strong>DE</strong>, TECNOLOGIA E SANEAMENTO.<br />

Com o declínio do sistema feudal e o advento do capitalismo, somado a formação<br />

do Estado Moderno, a Europa passou por profundas mudanças, nos campos econômicos,<br />

políticos e sociais. Conseqüentemente, o retrocesso na área do saneamento - verificado na<br />

Idade Média (séc. V ao XIII) - seria superado pelos movimentos racionalistas, como o<br />

Renascimento e o Iluminismo, dos séculos XIV e XV, respectivamente.<br />

Concernente ao período da Europa medieval, Rezende & Heller (2002, p. 42-44),<br />

falam que “a situação do suprimento de água também era problemática. As fontes e poços na<br />

Idade Média tornaram-se insuficientes, em função do aumento da população e do crescimento<br />

das cidades”. E com o início da Modernidade e a conseqüente mudança do eixo político - que<br />

saía do domínio religioso e passava para o Estado-nação, as recém formadas cidades<br />

européias, conheceram um rápido crescimento populacional e se constituiram em<br />

aglomerados urbanos influenciados pelas ações estatais, logo, o novo aparato institucional<br />

emergia com suas extensões, impulsionando a formação de uma nova sociedade.<br />

Esta sociedade seria marcada pela classe social burguesa, que criava uma nova<br />

concepção de riqueza, “baseada nos bens móveis, não mais nas terras, mas no dinheiro e em<br />

artigos comerciais” (I<strong>DE</strong>M, p. 42). Os governos modernos desejavam riquezas e tecnologias<br />

que fortalecessem seu poder. Essa tendência demandou a formação de “uma classe intelectual,<br />

impulsionando a criação de escolas e o desenvolvimento das ciências naturais”. (I<strong>DE</strong>M, p.<br />

42).<br />

18


O Renascimento criava as condições para que a ciência moderna ganhasse força e<br />

influenciasse nas mais diversas dimensões da vida humana, inclusive a da saúde pública, na<br />

qual, o problema das epidemias que assolava as cidades européias durante a Idade Média,<br />

ainda assustava por suas drásticas conseqüências, como foi registrado no ano de 1348, com a<br />

Peste Negra que causou a morte de um terço da população da Europa (ROSEN, 1994 apud<br />

REZEN<strong>DE</strong> e HELLER 2002, p. 42). Além disso, estes autores comentam que nas cidades<br />

renascentista:<br />

Os habitantes eram os responsáveis pela limpeza das ruas, sendo previstas punições<br />

para quem causasse a poluição de cursos de água usados para o abastecimento ou<br />

poluísse ruas com excretas humanas e animais. Durante esse período, os problemas<br />

relacionados ao esgotamento sanitário não tiveram soluções consistentes, e estas só<br />

surgiram em meados do século XIX. (REZEN<strong>DE</strong> e HELLER 2002, p. 42)<br />

Para Farrell (2003, p. 98) a calamitosa situação que as pessoas das cidades<br />

européias estavam passando era uma ocasião que causava temor em muitos, mais também, era<br />

um chamariz para saqueadores de mortos:<br />

A morte repentina, em toda parte, transtornava os vivos. Tanta gente estava<br />

morrendo que havia poucos para cuidar da colheita, conduzir os tribunais ou policiar<br />

as ruas. Os saudáveis abandonavam suas responsabilidades, alguns para fugir ou<br />

esconder-se, outros para viver na farra, bebendo e se divertindo naquilo que<br />

achavam ser seus últimos dias. Alguns tiravam vantagem do caos para pilhar as<br />

casas dos doentes ou dos mortos e apanhar o quanto pudessem de valores.<br />

Se nos reportarmos para o Oriente nota-se a presença, já no século XVI, de<br />

cidades com planejamento do solo e estrutura urbana que garantia certo grau de organização<br />

social, como foi o caso da grande cidade perdida de Chang. (Discovery Channel. 2003).<br />

Fazemos esse parêntese, para que não caiamos em marasmo ao falarmos das cidades e sua<br />

relação com o saneamento, como sendo fruto apenas das cidades modernas européias, pois<br />

19


esse fenômeno também foi verificado em outras civilizações do globo que tiveram esta<br />

preocupação.<br />

O Estado Moderno de certo modo foi responsável pelos avanços sanitários das<br />

cidades renascentistas, porque sua institucionalização e centralização do poder,<br />

fundamentaram os parâmetros jurídicos, ideológicos e práticos, para a sociedade emergente -<br />

a burguesa - que despontaria e influenciaria o modo de vida das futuras gerações. Esta<br />

organização política:<br />

Passou a influenciar as políticas públicas, fazendo-as caminhar em direção a um<br />

governo nacional centralizado, segundo um conjunto de doutrinas políticas e<br />

econômicas. O poder e a riqueza nacionais, de acordo com as idéias da época,<br />

seriam aumentados com o crescimento da população, sendo necessários cuidar do<br />

seu bem-estar para que esta pudesse ser utilizada segundo os interesses do capital.<br />

(REZEN<strong>DE</strong> e HELLER, 2002, p. 43)<br />

Nas sociedades onde impera a divisão social em classes, Giddens (2001, p. 212-<br />

213), registra que as cidades foram pioneiras na geração tanto dos recursos materiais quanto<br />

dos políticos. Nessa trajetória a expansão do urbanismo moderno é “sem dúvida induzida pela<br />

emergência do capitalismo industrial como forma dominante do sistema de produção”. Além<br />

disso, este tipo de urbanismo forma um “ambiente criado, no qual a transformação da<br />

natureza é expressa como tempo-espaço mercantilizado; tal como é o Mileto de toda ação<br />

social, não mais uma entidade física e setor social distintos dentro de uma ampla totalidade<br />

social”. As pessoas são regidas por uma lógica de “mercantilização do tempo e do espaço”,<br />

cuja esta é a “condição” dos “processos seqüenciais de tempo-espaço descritos anteriormente<br />

como características de organizações modernas, incluindo o Estado-nação como o mais novo<br />

power-container proeminente”.<br />

20


O quadro analítico apresentado neste capítulo envolve três conceitos distintos,<br />

mas interligados entre si, porque modernidade, tecnologia e saneamento estão sendo postos<br />

sob um foco abrangente, que mantém nossa contribuição regional.<br />

Dessa feita, nossa linha metodológica faz uma abordagem ampla e<br />

interelacionada, pois conforme Rezende e Heller (2002, p. 55):<br />

A consciência da relação saneamento-saúde, na grande maioria dos casos, não pode<br />

ser vista como o único objeto responsável pela promoção das ações de saneamento.<br />

Tais ações dependem de uma série de conjunturas econômico-político-sociais para<br />

serem processadas, e por isso é tão importante à realização de uma análise mais<br />

abrangente, visto ser o saneamento uma questão de políticas públicas, cujo alvo<br />

principal é a preservação da saúde.<br />

Para tanto, nos concentraremos em três termos relevantes para nossa análise:<br />

Modernidade; Tecnologia e Saneamento, com objetivo de fazermos a relação entre ambas,<br />

possibilitando a reflexão crítica sobre o problema do saneamento na cidade de Belém.<br />

1.2 A Modernidade<br />

A temática da modernidade nos interessa pelo fato de refletirmos sobre as<br />

mudanças urbanas ocorridas com a aplicação de novas técnicas para estruturar as cidades e<br />

melhorar seus espaços. Destarte a isso, sabemos que este é um tema bastante em voga e<br />

debatido no meio acadêmico, portanto, não faremos um estudo exaustivo sobre o mesmo.<br />

Nosso olhar volta-se para os aspectos urbanos que a modernidade reflete, onde<br />

compreendemos o urbano como um espaço de contradições, tanto, naturais, quanto social. De<br />

um lado, natural pelo fato de existirem áreas com melhores estruturas de solo, fauna, água e<br />

outros aspectos físicos adequados para que o bem viver humano; por outro lado, há locais<br />

21


degradados, poluídos e sem as mínimas condições estruturais para a vida humana, mas mesmo<br />

assim, convivem ”ratos” e “homens”.<br />

As contradições sociais são aquelas representadas pela exclusão social<br />

evidenciada na distribuição de renda, na distribuição de serviços públicos, moradia,<br />

desemprego e miséria, formando uma sociedade com característica dual, onde convivem o<br />

rico e o pobre, o bom e o ruim, o serviço de boa qualidade e o de péssima qualidade.<br />

Com a formação das cidades modernas os problemas de insalubridade foram<br />

ficando mais graves, onde esses aspectos são interpretados da seguinte forma:<br />

Na maior parte das cidades, os trabalhadores, com intuito de protegerem seus<br />

empregos, eram obrigados a se amontoar em distritos urbanos superpovoados. As<br />

mudanças sociais ocorridas com o crescimento das cidades beneficiaram<br />

preferencialmente as classes sociais mais altas, o que tendeu a acentuar a<br />

aglomeração e a negligência com os distritos pobres, situados nos subúrbios ou em<br />

áreas que estivessem fora dos interesses de classe dominante. Havia pouco interesse<br />

na realização de medidas sanitárias em favor dos pobres e pouco foi feito em termos<br />

de urbanização, esgotamento sanitário, drenagem urbana, remoção do lixo e<br />

acomodações mais dignas. (REZEN<strong>DE</strong> e HELLER, 2002, p. 47).<br />

Para a discussão da modernidade nos basearemos nos aportes teóricos de Berman<br />

(1986) e Giddens (2002) no qual fazemos o paralelo com o saneamento. Para o primeiro autor<br />

os movimentos racionalistas - como o Renascimento e o Iluminismo - contribuíram para o<br />

desenvolvimento das ciências físicas e ocasionaram a mudança da nossa imagem do universo<br />

e do lugar que ocupamos nele; e a industrialização da produção transformou o conhecimento<br />

científico em tecnologia, criou novos ambientes humanos e destrói os antigos, acelera o<br />

próprio ritmo de vida, gera novas formas de poder corporativo e de luta de classes, além de<br />

uma grande explosão demográfica, que penaliza milhões de pessoas arrancadas de seus<br />

habitat ancestral, empurrando-as pelos caminhos do mundo em direção a novos meios de<br />

sobrevivência.<br />

22


O Estado-nação recém criado para agregar os interesses coletivos e condicioná-los<br />

a instituições, como por exemplo, leis, valores morais, etc, em conjunto com o crescimento<br />

urbano acabava com antigos problemas e criava novos:<br />

[...] o rápido e muitas vezes catastrófico crescimento urbano; sistemas de<br />

comunicação de massa, dinâmicos em seu desenvolvimento, que embrulham e<br />

amarram, no mesmo pacote, os mais variados indivíduos e sociedades; Estados<br />

nacionais cada vez mais poderosos, burocraticamente estruturados e geridos, que<br />

lutam com obstinação para expandir seu poder; movimentos sociais de massa e de<br />

nações, desafiando seus governantes políticos ou econômicos, lutando por obter<br />

algum controle sobre suas vidas; enfim, dirigindo e manipulando todas as pessoas e<br />

instituições, um mercado capitalista mundial, drasticamente flutuante, em<br />

permanente expansão. (BERMAN , 1986, p. 16).<br />

Para uma breve compreensão do fenômeno da Modernidade, Berma (1986), a<br />

periodiza em três momentos históricos:<br />

• A primeira fase inicia-se com o século XVI e vai até o fim do século XVIII;<br />

• A segunda fase tem início com a grande onda revolucionária de 1790 na França;<br />

• Século XX representa a terceira fase.<br />

A primeira fase significa o momento onde as pessoas estão começando a<br />

experimentar a vida moderna; mal fazem idéia do que as atingiu. Elas tateiam,<br />

desesperadamente, mas em estado de semicegueira, no encalço de um vocabulário adequado;<br />

têm pouco ou nenhum senso de um público ou comunidade moderna, dentro dos quais seus<br />

julgamentos e esperanças pudessem ser compartilhados.<br />

1790 foi:<br />

Sobre a segunda fase argumenta que a grande revolução ocorrida na França em<br />

23


Uma era revolucionária, uma era que desencadeia explosivas convulsões em todos<br />

os níveis de vidas pessoais, sociais e política. Ao mesmo tempo, o público moderno<br />

de século XIX ainda se lembra do que é viver, material e espiritualmente, em um<br />

mundo que não chega a ser moderno por inteiro. É dessa profunda dicotomia, dessa<br />

sensação de viver em dois mundos simultaneamente, que emerge e se desdobra a<br />

idéia de modernismo e modernização. (IBI<strong>DE</strong>M, p. 16)<br />

A terceira fase é caracterizada pelos acontecimentos do século XX, onde o:<br />

[...] processo de modernização se expande a ponto de abarcar virtualmente o mundo<br />

todo, e a cultura mundial do modernismo em desenvolvimento atinge espetaculares<br />

triunfos na arte e no pensamento. Por outro lado, à medida que se expande, o público<br />

moderno se multiplica em uma multidão de fragmentos, que falam linguagens<br />

incomensuráveis confidenciais; a idéia de modernidade, concebida em inúmeros e<br />

fragmentários caminhos, perde muito de sua nitidez, ressonância e profundidade e<br />

perde sua capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas. Em<br />

conseqüência disso, encontramo-nos hoje em meio a uma era moderna que perdeu<br />

contato com as raízes de sua própria modernidade. (IBI<strong>DE</strong>M, p. 16-17)<br />

Complementando este raciocínio podemos dizer que a modernidade veio para<br />

modificar os ritmos da vida cotidiana, alterando formas de convivências e criando novos<br />

entrelaçamentos entre as pessoas:<br />

As instituições modernas diferem de todas as formas anteriores de ordem social<br />

quanto a seu dinamismo, ao grau em que interferem com hábitos e costumes<br />

tradicionais, e a seu impacto global. No entanto, essas não são apenas<br />

transformações em extensão: a modernidade altera radicalmente a natureza da vida<br />

social cotidiana e afeta os aspectos mais pessoais de nossa existência. A<br />

modernidade deve ser entendida num nível institucional; mas as transformações<br />

introduzidas pelas instituições modernas se entrelaçam de maneira direta com a vida<br />

individual, e, portanto com o eu. (GID<strong>DE</strong>NS , 2002, p. 9).<br />

Uma característica da modernidade descrita por Giddens (2002, p. 221) é a<br />

confiança que conceitualmente significa “a crença em pessoas ou sistemas abstratos,<br />

24


conferida com base em um ‘ato de fé’ que põe entre parênteses a ignorância ou a falta de<br />

informação”. Para nossa análise nos concentraremos naquilo que este autor chama de sistemas<br />

abstratos, estes “criam grandes áreas de segurança relativa para a continuidade da vida<br />

cotidiana”, disso temos o sistema de fornecimento de água como um sistema abstrato.<br />

O serviço de saneamento de água e esgoto sanitário depende de algo para sua<br />

existência e “atua para estabilizar muita das situações da vida cotidiana”<br />

Nos países desenvolvidos, para a maior parte da população, a água só depende de<br />

abrir a torneira, o aquecimento e a iluminação também estão à mão, e o esgoto<br />

pessoal é rapidamente eliminado por descarga de água. O encanamento organizado<br />

da água reduziu substancialmente uma das maiores incertezas que afligiam a vida<br />

em muitas sociedades pré-modernas, o caráter inconstante do suprimento de água.<br />

(GID<strong>DE</strong>NS, 2002, p. 127).<br />

A importância da água na sua forma corrente, também, é reconhecida por este<br />

autor que comenta que esta é um bem necessário para os sistemas modernos de esgotos,<br />

portanto, foi importante a contribuição que o saneamento trouxe para a melhora da saúde,<br />

assim como a água encanada.<br />

1.2.1 A Cidade Moderna<br />

As cidades sempre foram receptoras de fluxos populacionais contínuos, cresceram<br />

aceleradas e desordenadamente. Cenário de feiras periódicas, elas recebiam pequenos<br />

produtores locais e mercadores estrangeiros e, sob o manto de sua intensa atividade,<br />

albergavam uma população de mendigos, desocupados, ladrões, saltimbancos, que estavam<br />

em busca da mais diversas oportunidades. A cidade acenava a todos com a possibilidade de<br />

maior liberdade, proteção, ocupação e melhores ganhos, embora para muitos tais promessas<br />

não chegassem a cumprir-se.<br />

25


No carregado ambiente urbano, a pobreza, o alcoolismo, os nascimentos<br />

ilegítimos, a violência e a promiscuidade tornavam-se notáveis, no qual conforme Scliar apud<br />

Quintaneiro (2002, p. 10) “atingiam os membros mais frágeis do novo sistema,<br />

particularmente os que ficavam fora da cobertura das leis e instituições sociais”.<br />

A aglomeração urbana, conjugada a outros fatores como as condições sanitárias,<br />

tinha outras conseqüências deletérias sobre a população urbana, especialmente sobre os mais<br />

miseráveis. A fome, a falta de esgoto e de água corrente nas casas, o lixo acumulado e as<br />

precárias regras de higiene contribuíram para a proliferação de doenças e a intensificação de<br />

epidemias que elevaram as taxas de mortalidade da população em geral, e dos pobres, das<br />

crianças e parturientes em particular. Como podemos observar na figura abaixo:<br />

.<br />

Fig. 01: Uma rua de um bairro<br />

pobre de Londres, Gravura: de<br />

Gustave Doré de 1872<br />

Fonte: Benevolo, 2001, p. 560.<br />

Observamos na figura anterior as condições insalubres na qual viveram as pessoas<br />

no início do século XIX, especificamente, nas cidades industriais. Alguns autores (REZEN<strong>DE</strong><br />

e HELLER, 2002, p. 47; BENEVOLO, 2001, p. 551), apontam Manchester, na Inglaterra,<br />

26


como a primeira cidade de caráter industrial, em virtude disso, esta foi pioneira, também, em<br />

investimentos em políticas de prevenção e controle de doenças e de proteção à saúde:<br />

[...] as casas são demasiado diminutas e compactas para hospedar sem<br />

inconvenientes uma população mais densa. Assim, as classes abastadas abandonam<br />

gradualmente o centro e se estabelecem na periferia: as velhas casas se tornam<br />

casebres onde se amontoam os pobres e os recém - imigrados. (BENEVOLO, 2001,<br />

p. 565).<br />

Da forma que se formaram as aglomerações humanas, em torno das cidades<br />

industriais, os problemas de saúde foram surgindo como as epidemias:<br />

As classes pobres sofrem mais diretamente os inconvenientes da cidade industrial,<br />

mas as classes ricas não podem pensar em fugir deles por completo. Por volta de<br />

1830 o cólera se espalha pela Europa, vindo da Ásia, e nas grandes cidades se<br />

desenvolvem as epidemias, que obrigam os governos a corrigir pelo menos os<br />

defeitos higiênicos, isto é, a se chocar com o princípio da liberdade de iniciativa,<br />

proclamado na teoria e defendido obstinadamente na prática na primeira metade do<br />

século. (I<strong>DE</strong>M, 2001, p. 567).<br />

As cidades industriais, como espaço de contradições sociais, urbanos e<br />

econômicos, também, agregava bairros luxuosos, onde as classes mais favorecidas<br />

economicamente viviam, como mostram as figuras 02 e 03:<br />

Fig. 02: Bairro elegante de Londres - mostra de dois trechos da Regent Street<br />

construída entre 1820 a 1830 - Trecho perto de Picadilly Circus<br />

Fonte: Benevolo, 2001, p. 557.<br />

27


Fig. 03: Bairro elegante de Londres - mostra de dois<br />

trechos da Regent Street construída entre 1820 a 1830 -<br />

Trecho do Retilíneo de Portland Place<br />

Fonte: Benevolo, 2001, p. 557<br />

A exclusão social, também se intensificava e atingia crianças, adultos e idosos.<br />

Colocando um percentual considerável da população em condições degradantes e insalubres,<br />

como foi o caso das crianças que trabalhavam nas minas de carvão, sujeitas aos males dessa<br />

atividade (ver Fig. 04):<br />

Fig. 04: Crianças trabalhando nas minas de Carvão<br />

Fonte: Benevolo, 2001, p. 557.<br />

28


A arquitetura das cidades modernas diferenciava-se das construções tradicionais e<br />

envolvia um emaranhado de conhecimentos científicos e um toque de criatividade de cada<br />

pessoa responsável pelo planejamento e execução das obras urbanas.<br />

A arquitetura moderna é a busca de um novo modelo de cidade, alternativo ao<br />

tradicional, e começa quando os “artistas” e os “técnicos” - chamados a colaborar<br />

com a gestão da cidade pós-liberal - se tornam capazes de propor um novo método<br />

de trabalho, libertado das anteriores divisões institucionais. (BENEVOLO, 2001, p.<br />

615).<br />

1.3 A Tecnologia, quando e porque?<br />

Definimos tecnologia a partir do referencial de Harvey Brooks e Daniel Bell apud<br />

Castells (1999, p. 48), onde esta significa “o uso de conhecimentos científicos para especificar<br />

as vias de se fazerem as coisas de uma maneira reproduzível”.<br />

A tecnologia surge a partir de muitos vieses, podendo ser criada de processos<br />

individuais ou coletivos. No nível pessoal, temos um leque de indivíduos que ao deparar-se<br />

com problemas do seu dia-a-dia fazem a relação com conhecimentos afins e criam tecnologias<br />

para solucionar os assuntos que os perturbam.<br />

No nível coletivo, os indivíduos constituídos em grupos, instituições, ou em<br />

Estados, buscam os mesmos objetivos dos que executam ações isoladas, isto é, ao pensarem<br />

em tecnologia, pensam em soluções de problemas. Mas a tecnologia tem outros fins na<br />

sociedade, servindo para entretenimento, guerras, dentre outros.<br />

Contudo, os resultados de ambas as esferas - individual e coletiva - repercutem de<br />

forma diferente, porque algumas invenções podem influenciar ou não a sociedade,<br />

modificando modos de vida tradicionais, e criando novos estilos de comportamento e<br />

pensamento.<br />

29


Não faremos aqui, neste trabalho um apanhado histórico do surgimento da<br />

tecnologia humana, pois não queremos nos deleitar neste desafio, no entanto, faremos<br />

somente, um recorte que se inicia com a Revolução Industrial na Inglaterra, sendo este,<br />

nosso marco para analise das tecnologias voltadas para área do saneamento.<br />

Para Rezende e Heller (2002, p. 43), o campo do saneamento, também, foi<br />

modificado com a Revolução Industrial, como se observa quando se referem à criação de<br />

sistemas de abastecimentos de água e esgoto sanitário:<br />

A evolução da tecnologia e a industrialização nos países capitalistas, principalmente<br />

na Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, possibilitaram a execução em<br />

larga escala de sistemas de abastecimentos de água e de esgotamento sanitário,<br />

graças à produção de tubos de ferro fundido e ao aperfeiçoamento das técnicas<br />

construtivas.<br />

O Estado aparece como fomentador da tecnologia a nível nacional, pois conforme<br />

Castells (1999, p. 29), este assume um papel importante no desenvolvimento da tecnologia de<br />

uma determinada sociedade:<br />

[...] o que importa a nossa pesquisa são dois ensinamentos dessa experiência<br />

fundamental da interrupção do desenvolvimento tecnológico: de um lado, o Estado<br />

pode ser, e sempre foi ao longo da história, na China e em outros países, a principal<br />

força de inovação tecnológica: de outro, exatamente por isso, quando o Estado afasta<br />

totalmente seus interesses do desenvolvimento tecnológico ou se torna incapaz de<br />

promovê-lo sob novas condições, um modelo estatista de inovação leva à estagnação<br />

por causa da esterilização da energia inovadora autômata da sociedade para criar e<br />

aplicar a tecnologia. (CASTELLS, 1999, p. 29)<br />

O que deve ser guardado para o entendimento da relação entre a tecnologia e a<br />

sociedade é que o papel do Estado seja, interrompendo, seja promovendo, seja liderando a<br />

inovação tecnológica, é um fator decisivo no processo geral, à medida que expressa e<br />

30


organiza as forças sociais dominantes em um espaço e uma época determinada. Em grande<br />

parte, a tecnologia expressa a habilidade de uma sociedade para impulsionar seu domínio<br />

tecnológico por intermédio das instituições sociais, inclusive o Estado.<br />

1.3.1 Sobre a tecnologia no Brasil<br />

No Brasil, conforme salienta Vargas (1994, p. 198), foi somente durante o período<br />

da República Velha que a “preocupação com o saneamento tornou-se prioritária na maioria<br />

das cidades brasileiras, pelo fato de haver capacitação técnica nacional para realizar as obras<br />

necessárias. Engenheiros das Politécnicas do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre” que<br />

começavam a receber instrução de alto nível em engenharia hidráulica.<br />

Ainda segundo Vargas (idem) havia companhias empreiteiras capazes de realizar<br />

os projetos abertos à concorrência. Diferentemente do que acontecia no Império, os projetos já<br />

eram viáveis técnica e economicamente e já havia, também, uma industria de canos de ferro<br />

fundido nacional que podia competir com a estrangeira.<br />

Entretanto, a retórica que reinava entre os nossos profissionais liberais, invadiu<br />

também a engenharia. Retórica esta muita sujeita a injunções políticas. Parece que naquela<br />

época era mais gratificante aos engenheiros a defesa de suas opiniões pessoais do que o<br />

cálculo do custo de uma obra interrompida, em virtude de pontos de vista discrepantes, muitas<br />

vezes subordinados a interesses políticos.<br />

Conforme Vargas (1994, p. 214), a tecnologia desenvolvida no Brasil teve um<br />

caráter tardio e concentrador, restringindo, inicialmente, a poucas instituições de pesquisa:<br />

Cientes dessas premissas sobre o significado histórico de tecnologia poder-se-ia<br />

admitir que a pesquisa tecnológica teve, efetivamente, no Brasil, com três<br />

instituições: no início do século, o Serviço Geológico e Mineralógico, no Rio de<br />

Janeiro; o Gabinete de Resistência de Materiais da escola Politécnica de São<br />

31


Paulo; e o Instituo Agronômico de Campinas. A participação do Estado na<br />

economia tinha sido, desde a Proclamação da República, de menos de 10%; porém,<br />

começou, desde então, a crescer, atingindo cerca de 40%, em 1970, e chegando<br />

agora a quase 70%. A política - que tinha sido a de uma oligarquia, cujos privilégios<br />

eram defendidos por leis liberais, em que a questão social era declarada, pelos<br />

políticos, como questão de polícia - passou a ser conduzida por uma contraposição<br />

autoritarismo - liberalismo, em que a necessidade da implantação de uma justiça<br />

social se tornava cada vez mais urgente. (Grifo nosso)<br />

Observa-se que a tecnologia importada ou criada em solo brasileiro esteve voltada<br />

para setores específicos, logicamente, ligados à economia capitalista.<br />

1.4 O Saneamento<br />

O saneamento é entendido, segundo Rezende & Heller (2002, p. 15), sobretudo<br />

“como ação de saúde pública, o têm na conta de dever do Estado e direito do cidadão,<br />

pugnado pela universalização do atendimento, pelo direito ao serviço de qualidade, com<br />

participação e controle social”.<br />

Em praticamente todos os Estados, como citam Rezende & Heller (2002, p. 19)<br />

“os serviços de água e esgotos da capital constituíram-se no núcleo gerencial, técnico e<br />

operacional das concessionárias estaduais em fase de montagem. Não por coincidência, é no<br />

Rio Grande Do Sul, onde a Companhia Estadual (CORSAN)” tinha sido criada anteriormente<br />

ao PLANASA, que resiste a única autarquia municipal de água e esgoto das capitais.<br />

Instalados precariamente, estes brasileiros reivindicam infra-estrutura urbana e<br />

acesso aos serviços. Mas, dezenas de intervenções malsucedidas já demonstraram que a<br />

provisão de infra-estrutura urbana nesta área, quando possível, é tarefa complexa, exigindo<br />

ação integrada do poder público, sem a qual o fracasso é certo. É aí que salta aos olhos a<br />

precariedade de um modelo de gestão do saneamento ambiental - água e esgoto - que se<br />

32


aparta do poder local responsável pela gestão do espaço urbano e praticamente inviabiliza as<br />

intervenções integradas de urbanização nas áreas onde mora a população pobre que fica<br />

condenada ao estigma da inviabilidade técnica e econômica de atendimento pelas<br />

concessionárias.<br />

Quando o saneamento é transformado em negócio a exclusão social, evidencia-se<br />

mais explicitamente, como apontam Rezende e Heller (2002, p. 21):<br />

Seja pela venda do controle das companhias estaduais ou pela concessão privada dos<br />

serviços pelos municípios, compromete, na prática, o resgate do conceito de<br />

saneamento ambiental, pela desintegração do planejamento integrado e pela<br />

desarticulação da execução das ações de abastecimento de água, esgotamento<br />

sanitário, gestão de resíduos sólidos, drenagem e controle de vetores, e torna ainda<br />

mais difícil a necessária integração entre o saneamento dito básico e as ações do<br />

município na provisão de infra-estrutura nos bairros pobres de nossas cidades. (Grifo<br />

nosso).<br />

Para o bom desempenho dos atores envolvidos na questão de abastecimento de<br />

água e criação de redes de esgoto sanitário, é necessário uma “maior interação entre o<br />

operador dos serviços, a Prefeitura e a população vai superar as dificuldades para<br />

universalizar o serviço nas nossas cidades. Aí sim, está um dos principais problemas a<br />

resolver”. Somando-se a esta necessidade, temos a inter-relação de outros elementos: a<br />

incorporação dos avanços tecnológicos; o aumento da produtividade; a qualidade dos serviços<br />

prestados e o desenvolvimento de mecanismos de regulação democrática. (REZEN<strong>DE</strong> e<br />

HELLER, 2002, p. 21)<br />

Neste ponto faremos uma observação sobre a argumentação anterior, isto é, as<br />

relações são de forma contratuais e não de caridade! A regulação democrática só ocorrerá<br />

se a relação se der entre o Estado ou Município e a Sociedade, porque a relação entre o Estado<br />

ou Município e a Iniciativa Privada é contratual e não por mera intenção ou boa fé. Não há<br />

relações democráticas entre o Estado e a Iniciativa privada, reforçamos, estas são contratuais,<br />

33


e, portanto relações de mercado com interesses dispares e não concorrentes, e sim<br />

divergentes. Contrato não é convênio, neste as partes concorrem para um mesmo objetivo,<br />

sem se ter em mente lucros ou ganho de qualquer uma das partes.<br />

A outra atividade no campo da engenharia civil - hidráulica que se desenvolveu<br />

após a Proclamação da República direcionava-se ao saneamento das cidades brasileiras,<br />

principalmente as litorâneas, incluindo, além da recuperação de terrenos pantanosos<br />

insalubres, a instalação e tratamento de esgotos e o escoamento de águas pluviais. (VARGAS,<br />

1994, p. 195).<br />

O saneamento das cidades litorâneas, principalmente Rio de Janeiro e Santos -<br />

naquele tempo cruelmente afetado pela febre amarela, tifo, peste bubônica e malária -,<br />

preocupava as autoridades republicanas, não tanto pela saúde de suas populações, mas,<br />

principalmente, pela imagem do Brasil em relação à política de imigração européia, que,<br />

naquele tempo se intensificava para toda América. (I<strong>DE</strong>M. p. 195)<br />

Além disso, o desenvolvimento urbano de nossas principais cidades já exigia<br />

abastecimentos de água razoáveis e instalações de esgotos compatíveis com as necessidades<br />

da emergente classe média urbana, que se formava com o crescimento do número de<br />

funcionários públicos e profissionais liberais, provenientes tanto de famílias de fazendeiros<br />

arruinadas pela Abolição da Escravatura, como pela chegada dos imigrantes, profissionais<br />

mais qualificados. (IBI<strong>DE</strong>M, p. 195).<br />

Assim, ao lado das campanhas médicas de erradicação das doenças tropicais<br />

epidêmicas, a atenção dos governos federal e estadual voltou-se para as obras de saneamento<br />

das nossas cidades portuárias. Nasceu, assim, a engenharia sanitária, uma das primeiras<br />

especializações da nossa engenharia civil. Durante o Império as poucas obras de<br />

abastecimento de água e de esgotos sanitários foram ineficientes. (VARGAS, 1994, p. 195)<br />

34


Os movimentos de reforma urbana não eram rápidos o suficiente para acompanhar o<br />

crescimento populacional e atender às necessidades dos cidadãos. As precárias<br />

condições de higiene em que viviam as maiores partes da população determinaram o<br />

aparecimento de novas epidemias. A industrialização também foi fator<br />

preponderante para esse aumento populacional, dado o grande êxodo rural ocorrido<br />

à época. (REZEN<strong>DE</strong> e HELLER, 2002, p. 51).<br />

Segundo Costa (1994) apud Rezende & Heller (2002, p. 52),<br />

[...] a implantação de sistemas de esgotamento sanitário nas grandes cidades em todo<br />

o mundo só aconteceu após o aparecimento de epidemias de cólera. Na cidade de<br />

Paris, o ano de 1832 foi o da epidemia e, em 1833, iniciou-se a construção da rede<br />

de esgotamento sanitário. [...] o mesmo aconteceu em Memphis, Hamburgo e São<br />

Paulo, cidades acometidas pela epidemia em 1873, 1892 e 1893, respectivamente, e<br />

que tiveram, na seqüência, a execução e ampliação de redes de esgotamento [...]<br />

Nesse período, a empresa controlava a qualidade da água distribuída e a rede de<br />

esgotos foi ampliada até atingir, em 1898, a extensão de 90 kilômetros. Porém, a população já<br />

atingia cerca de 300 mil habitantes, e somente cerca de 20 mil prédios eram abastecidos.<br />

35


Capítulo 2<br />

PRECE<strong>DE</strong>NTES HISTÓRICOS DA QUESTÃO <strong>DE</strong> ÁGUA E ESGOTO EM BELÉM<br />

2.1 Introdução<br />

Compreender a evolução histórica da questão de água e esgoto e sua relação com<br />

o crescimento urbano da cidade de Belém no Estado do Pará - Brasil torna-se o principal<br />

objetivo deste capítulo. Dentre as discussões levantadas temos a problemática do<br />

abastecimento de água na Belém Colonial, uma das principais dificuldades dos primeiros<br />

moradores europeus em solo colonizado.<br />

No final do período imperial brasileiro, em Belém, foi realizado o primeiro<br />

sistema de água encanada da cidade. Com o advento da República verificou-se uma mudança<br />

significativa na configuração sanitária em Belém, onde a distância entre o discurso e as<br />

realizações práticas de projetos de saneamento não pareciam mais tão distantes. E nos<br />

primeiros anos dessa nova conjuntura política alguns governantes paraenses são destacados<br />

por suas realizações na área discutida.<br />

Notou-se, nesse período, em relação à questão da água em Belém, um toque de<br />

exclusão social que se evidenciava nas ações dos governantes, especificamente nos planos de<br />

saneamento que tinham como foco as pessoas de altos provimentos, que se beneficiavam das<br />

obras executadas e da canalização de água potável.<br />

2.2 O Período Colonial (l6l6 - l821)<br />

A cidade de Belém nasce a partir do início do século XVII quando os portugueses<br />

exercem uma grande ofensiva no sentido da consolidação do domínio do território amazônico.<br />

36


E o grande expoente desse momento foi a construção, em 1616, do Forte do Presépio, hoje<br />

Forte do Castelo, símbolo histórico-arquitetônico de fundação de Belém, conforme Rocque<br />

(1993), Moreira (1966), Corrêa, (1989) apud Rodrigues (1996, p. 133).<br />

Esse forte tinha caráter defensivo, pois nos primeiros anos de colonização do norte<br />

do Brasil, muitos invasores como os holandeses, franceses e espanhóis que se aventuravam<br />

pelas terras do que viria a ser conhecida como Amazônia (Meira Filho, 1976, p. 19), tiveram<br />

que enfrentar grande ofensiva dos portugueses que se alojaram naquelas terras recém<br />

ocupadas pelo elemento europeu.<br />

Nas palavras de Theodoro Braga (1915) apud Prost (1997, p. 42) temos uma<br />

descrição da importância estratégica do Forte do Castelo:<br />

Castelo Branco encontrou um ponto de chão firme, que julgou mais apropriado para<br />

a povoação que ia fundar. Era uma península formada à margem direita do rio<br />

Guamá, ao desembocar no Guajará. Esse ponto escolhido ficava a seis léguas da<br />

barra do rio, cuja dificuldade de acesso era garantia de defesa para a nascente<br />

população. A situação escolhida era estratégica: alta e tendo duas faces para dois<br />

rios, colocada, como estava no ângulo formado pela barra de um rio e outro.<br />

(PROST, 1997, p. 42)<br />

Além dos invasores europeus os portugueses tiveram que enfrentar a fúria dos<br />

índios Tupinambás que em 1619 deixaram os portugueses e seus aliados (índios amigos e<br />

mansos) encurralados no Forte do Presépio, Meira Filho (1976, p. 121) retrata esse fato da<br />

seguinte forma:<br />

Aproveitando essa situação desagradável os portugueses que povoavam os arredores<br />

do forte, os Tupinambás, reunidos de várias tribos, em sete tribos, em sete de janeiro<br />

de 1619 atacaram ferozmente a povoação de Belém, forçando seus habitantes<br />

procurarem abrigo e proteção no interior do forte ali permanecendo ao lado dos<br />

soldados e de toda a tropa sediada que, heroicamente, se defendia daquele avanço<br />

brutal dos índios. Estes, lutando pela defesa de suas terras e em desforra a tantas<br />

perdas e crueldades dos conquistadores, promoviam um ataque de surpresa e com a<br />

37


violência natural das lutas indígenas e, muito especialmente, quando se tratava de<br />

uma reação nata, contra os colonizadores. (MEIRA FILHO, 1976, p. 121).<br />

Nesse sentido, percebe-se que o processo de conquista de novos territórios<br />

envolveu muitos fatores que numa análise mais apurada, precisam ser levados em<br />

consideração, pois na Belém colonial, além da presença portuguesa, havia os povos<br />

autóctones que estavam distribuídos por várias tribos, sendo que a ocupação lusitana deu-se<br />

em meio a conflitos com essa população originária.<br />

Localizada a 1° 28’ de latitude sul e 48° 29’ de longitude oeste sendo<br />

praticamente tangenciada pela linha do equador, ficava definido o ponto de partida da cidade<br />

de “Santa Maria de Belém do Grão Pará”. O limite oeste da cidade volta-se à baía do Guajará<br />

que é o fim do Rio Guamá (JICA, 1991 apud Rodrigues, 1996). Inicialmente, o espraiamento<br />

de Belém deu-se na direção norte - sul, com a abertura da Rua do Norte, atualmente<br />

denominada Siqueira Mendes indo até a Igreja do Carmo.<br />

Para reforçarmos essa descrição e termos uma imagem aproximada da cidade de<br />

Belém nos seus primórdios o seguinte comentário nos parece elucidativo:<br />

A cidade de Belém é localizada em terreno baixo e plano, elevando-se gradualmente<br />

desde as barracas do rio Guamá até as costas que se aproximam de 10.000 m acima<br />

da maré mínima. Dos 2.300 hectares dentro dos limites da cidade, 400 achavam-se<br />

abaixo da cota de 04 metros, ficando, conseqüentemente, sujeito às inundações<br />

periódicas durante as marés altas ou quando das fortes chuvas do que resultava a<br />

formação de áreas pantanosas, ideais para a criação e proliferação de mosquitos e de<br />

outras condições nocivas à saúde da população local e adjacente. À medida que a<br />

cidade se expandia com o surgimento de novas construções, o problema se agravava.<br />

(BASTOS, 1993, p. 253)<br />

Foi a partir do Forte do Castelo, segundo Cruz (1944, p. 8), que partiram os<br />

primeiros desbravadores da cidade, levantaram edificações de taipa na Rua do Norte e, esse<br />

procedimento obrigava os novos habitantes, a abertura de poços para o consumo de água.<br />

38


Para Sarges (2002, p. 44), a construção do Forte do Presépio foi um fato<br />

importante, no sentido de estabelecer o inicio da ocupação nas terras descobertas pelos<br />

portugueses:<br />

A construção desta fortaleza de madeira com cobertura de palha recebeu então a<br />

denominação de Forte do Presépio, atualmente Forte do Castelo, dando início à<br />

formação do primeiro aglomerado urbano, mais tarde conhecido por Feliz Lusitânia<br />

e, posteriormente, Santa Maria de Belém do Grão-Pará. (SARGES, 2002, p. 44)<br />

Nascendo de um contexto geopolítico definido o Forte do Castelo é apontado por<br />

muitos autores como marco primário da colonização portuguesa no norte do Brasil Colonial,<br />

sendo ocupada por representantes da Corte portuguesa, esta parte do país manteve-se<br />

dissociada das decisões que eram tomadas no restante da colônia, mantendo um vínculo direto<br />

com Portugal.<br />

2.3 A expansão urbana<br />

Passados onze anos do início da ocupação, com a construção do Convento de<br />

Santo Antônio, deram-se início ao que viria a ser o Bairro da Campina, transpondo-se, pois, o<br />

lago do Pirí, consolidando-se assim, um novo vetor de expraiamento na direção nordeste.<br />

Penteado (1968) apud Rodrigues (1996, p. 135), mostra que esse novo eixo de expansão<br />

assumiria relevante papel no desenvolvimento do centro comercial de Belém, onde<br />

importantes ruas comerciais se consolidariam como mercadoras, como por exemplo, a Rua<br />

dos Mercadores (recentemente Rua Conselheiro João Alfredo).<br />

Segundo Rocque (1993) apud Rodrigues (1996, p.135), foram ainda no século<br />

XVII que se abriram no bairro da Campina às ruas com direção oeste - leste, expressa pela<br />

construção das Avenidas Padre Eutíquio, Primeiro de Março e Presidente Vargas. O nordeste<br />

39


foi construído as Travessas 13 de Maio e Frutuoso Guimarães, que chegaria ao Largo da<br />

Pólvora, atual Praça da República.<br />

Nesse período, Corrêa, (1989) apud Rodrigues (1996, p. 135) argumenta que:<br />

[...] não havia nenhuma forma expressiva de segregação sócio - espacial intra -<br />

urbana, pois a renda da terra era, então, inexistente (Grifo nosso). A fácil<br />

acessibilidade a qualquer ponto da cidade e a ausência praticamente absoluta de<br />

serviços ou melhorias urbanas, desproveram tal renda de seus elementos formadores<br />

essenciais.<br />

Quando os Portugueses chegaram no local onde se formaria a cidade de Belém,<br />

havia um grande lago (Ver figura 05) que ocupava um grande espaço que foi aterrado e<br />

transformado na atual avenida 16 de Novembro, como registra Vinagre apud Feitosa (1994, p.<br />

12).<br />

[...] o terreno começa a descer em rampa para o grande pântano do Piry. Este<br />

pântano ocupava uma enorme área cortada pela Estrada de São José e outras que lhe<br />

são paralelas, e as suas águas que eram muitas iam até ao mar pelo igarapé do seu<br />

nome. Exsicar este grande pântano constituiu por muitos anos uma obra urgente para<br />

o bem público. Em 1803, o Governador e Capitão-General do Pará, D. Marcos de<br />

Noronha e Brito, Conde dos Arcos, incubiu o engenheiro João Nogueira dessa<br />

tarefa. Escolhendo para seu ajudante o capitão Domingos José Frazão, o comissário<br />

dividiu pântano em quarteirões, cortando-o por três longas e largas estradas, cingidas<br />

de profundas valas e orladas de mongubeiras, taperebazeiras e laranjeiras.<br />

40


Fig. 05: Espaço urbano de Belém em 1791<br />

Fonte: Corrêa apud Rodrigues, 1996, p-136-137.<br />

Em 1803 teriam sido iniciadas as obras de ensecamento do Pirí. Esse processo teria<br />

durado mais de vinte anos, tendo realizado a integração física definitiva entre os bairros da<br />

cidade e da Campina.<br />

Rocque (1993) apud Rodrigues (1996, p. 133) “sugere a possibilidade de que a<br />

primeira via de Belém tenha sido um caminho que ligava o forte à foz do igarapé Pirí”, ou<br />

como observa Corrêa (1989) apud Rodrigues (1996, p. 133), ao rio Pirí de Jussara, que<br />

significava alagado nas línguas tupis, onde hoje este é conhecido como Doca do Vero-o-peso.<br />

(ver figura 06)<br />

41


Fig. 06: Belém no início do século XVII (adaptação)<br />

A = Cidade D = Convento de São Boa Aventura<br />

B = Campina E = Convento de São José<br />

C = Piri 1 = Atual Travessa Arcipreste Manoel Teodoro<br />

Fonte: Brasil apud Rodrigues (1996, p. 134)<br />

2.3.1 A necessidade do abastecimento de água<br />

O abastecimento de água no início da Belém colonial estava restrito às chamadas<br />

Casas de Mãe d’água e a população era de aproximadamente de 500 moradores em 1685<br />

(Cruz, 1973, p. 143). As pessoas bebiam a água que ficava depositada num barril enterrado na<br />

areia, no sítio que era conhecido por Paul d’água ou pau de água, como o chamavam<br />

comumente.<br />

42


Cruz (1973, p. 145):<br />

Nesse período Belém passou por um tímido crescimento urbano, como comenta<br />

Com essas providências se processava, ainda que lentamente, no século XVII a<br />

evolução urbana. O Crescimento populacional era evidente, e embora não tenhamos<br />

uma estatística oficial, é bem possível que o número de habitantes [...] era em 1685<br />

de cerca de 500, tivesse alcançado a cifra de 1.000, em virtude do alargamento do<br />

comércio, do progresso da lavoura, da fantasia das minas de ouro e prata que<br />

procuravam os aventureiros e do surgimento das Fazendas e dos Engenhos, com que<br />

se ia delineando o surto da fabricação do tabaco e do açúcar no Estado.<br />

Além disso, segundo Cruz (1944, p. 10) no período colonial o abastecimento era<br />

precário e as informações sobre esta atividade são raras, e por esse motivo é possível apenas<br />

uma visão aproximada dessa questão neste ciclo histórico.<br />

Como o acesso á água potável ficava restrito aos capitães generais do Estado do<br />

Maranhão e Grão-Pará e os poços públicos não existiam, a população enfrentava grandes<br />

dificuldades para conseguir água para suprir suas necessidades básicas. É sobre este aspecto<br />

que percebemos no período colonial brasileiro a segregação na área de saneamento que tem<br />

origens nos tempos remotos da colônia, e que tem reflexos até os dias de hoje, pois a<br />

distribuição desse serviço permanece atrelada a diversos interesses políticos e econômicos.<br />

Diante dos problemas existentes para obtenção de água potável na Belém colonial,<br />

Cruz (1944) comenta que grande parte da população a captava em lugares específicos que<br />

recebiam preferência por parte dos belenenses. Esses lugares eram os mananciais dos Pépes e<br />

do Paúl d’água que detinham a atenção dos habitantes de Belém até o início da nona década<br />

do século XIX.<br />

Esse quadro sofreu algumas modificações em meados do século XVIII, com a<br />

chegada da era pombalina que levou a Amazônia a ser considerada como um ponto<br />

econômico a se destacar como nos mostra Rodrigues (1996, p. 135-136):<br />

43


Em meados do século XVIII, com o advento da “Era Pombalina” e pela importância<br />

que a Amazônia assumiu do ponto de vista econômico nessa época, a cidade iria<br />

vivenciar um importante incremento populacional e, concomitantemente,<br />

densificando o bairro da Campina. [...] Logo, a cidade extrapola a Campina e segue<br />

seu expraiamento sobre o filão de terras altas em direção ao que hoje é o Bairro de<br />

Nazaré.<br />

Paralelamente à estrada de Nazaré expandia-se a Av. Governador José Malcher,<br />

então conhecida por Pau d’água, denominação dada às nascentes de água, que durante longo<br />

período serviram aos aguadeiros.<br />

Assim processava-se o lento crescimento da cidade recém fundada pelos<br />

lusitanos que procuravam resolver seus problemas de abastecimentos através de medidas<br />

imediatas.<br />

2.4 O Período Imperial (1822-1889)<br />

Em 1808 a família real portuguesa instala-se no Brasil para sair da confusa<br />

situação que passava Portugal. A cidade do Rio de Janeiro passa, então a ser a capital do<br />

Império, onde a abertura dos portos brasileiros para os ingleses repercutiu na estrutura urbana<br />

do Brasil imperial.<br />

As cidades paraenses no início do século XIX, enfrentavam levantes políticos, o<br />

mais expressivos destes foi a Cabanagem 3 , que ganhou força em 1835, que segundo alguns<br />

autores Penteado (1968); Rocque (1994); Corrêa (1989) apud Rodrigues (1996, p. 136), esse<br />

movimento empactaria, como era de se esperar, drasticamente a estrutura urbana da cidade de<br />

Belém.<br />

3 Movimento de caráter popular que modificou o panorama político paraense no século XIX, possuía três<br />

objetivos principais: 1) a expulsão dos portugueses do poder político e do monopólio econômico; 2) a<br />

implantação do regime democrático, através do reconhecimento efetivo da cidadania aos filhos da terra; 3) a<br />

liberdade dos escravos, através da conquista revolucionária e das reformas sociais (DI PAOLO, 1985, p. 163).<br />

44


Dessa forma, é plausível concordar com o entendimento de que durante a<br />

revolução cabana o crescimento urbano arrefeceu, permanecendo a cidade praticamente<br />

restrita aos bairros da Cidade e da Campina, já existentes no século XVIII.<br />

Esse arrefecimento ocorreu, em grande parte, pelo fato de que a cidade passou<br />

por um isolamento político do restante do país, já que Portugal estava enfrentando grandes<br />

problemas para controlar sua colônia brasileira, cujo território se transformava em um palco<br />

repleto de levantes contestatórios da ordem política vigente. Di Paolo (1939, p. 148) retrata o<br />

processo da Cabanagem da seguinte maneira “o Movimento Cabano faz parte de um processo<br />

histórico, em que os acontecimentos se encadeiam de maneira tal que se tornam, ao mesmo<br />

tempo, resultados de uns e fatores de outros”. Além disso, este autor comenta que:<br />

A diferente experiência de colonização resultou em pontos de vistas autônomos com<br />

relação à Independência do Brasil: para o Nordeste significava reconquista da<br />

hegemonia política perdida, dentro, porém, de um contexto revolucionário, no Norte<br />

prevalecia a aspiração à independência nacional, mas no respeito a autonomia<br />

regional, o sudeste revelou claramente a ambição de substituir a hegemonia<br />

portuguesa no Brasil, tornando-se assim um novo centro colonizador. (DI PAOLO,<br />

1985, p. 149-150)<br />

Em 1838, após a instalação do Poder Legislativo Provincial, o Marechal-<br />

Presidente Soares d’Andréa tomou várias providências para a melhoria administrativa da<br />

Província, dentre as quais o estabelecimento da Repartição de Obras Públicas, cujo<br />

regulamento foi baixado a 20 de setembro. (FEITOSA, 1994, p.14).<br />

Em relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial, no dia 15 de agosto<br />

de 1840, informava o Presidente João Antônio de Miranda, que a Capital não possuía sequer<br />

chafariz e que a água potável em grande parte era de má qualidade, sugerindo a construção de<br />

um chafariz na Praça Pedro II (antigo Largo da Pólvora) (FEITOSA, 1994 p.14).<br />

45


A primeira tentativa para encanamento de água, nesta Capital, está expressa no<br />

artigo 15 da Lei n.º 83 de 22 de outubro de 1840, sancionada pelo Dr. João Antônio de<br />

Miranda, Presidente da Província do Grão-Pará:<br />

Art. 15º - A câmara da Cidade de Belém fica authorizada a conceder ao Proprietário<br />

Vicente Antônio de Miranda as trez braças de terreno com os seos fundos<br />

competentes, que tinha destinado para encanamento das águas do Piry 4 , obrigando-<br />

se o mesmo Proprietário por si, e seus successores a fazer à sua custa o Dito<br />

encanamento, e a tratar de sua conservação. (FEITOSA, 1994, p. 14).<br />

Em 1853, através de duas portarias baixadas pelo Dr. José Joaquim da Cunha,<br />

Presidente da Província, referentes à limpeza de valas e visando principalmente à proteção<br />

dos mananciais de água potável deram-se início as primeiras tentativas de resolução deste<br />

problema na cidade de Belém. Coube ainda a esse presidente, a iniciativa de construção da<br />

Doca do Reduto 5 , com o objetivo de melhor escoar as águas oriundas dos poços do Paul<br />

d’água e da drenagem pluvial, na estrada homônima sendo mais tarde denominada - de São<br />

Jerônimo, atualmente Avenida Governador José Malcher, esquina da Travessa da Piedade 6 .<br />

(FEITOSA, 1994).<br />

O pioneirismo 7 no encanamento de água potável é apontado por Feitosa (1994, p.<br />

34-36), através da Lei de n°. 264 de 14 de Outubro de 1854:<br />

[...] que determinou o sistema de encanamento de água potável, nesta Capital, lei<br />

orçamentária concernente ao exercício de 1855, sancionada pelo Presidente do Grão-<br />

Pará, Sebastião do Rego Barros. No seu Capitulo 2º, Art. 3º, Parágrafo 8º -<br />

“Encanamento da água potável para o abastecimento da Capital”.<br />

4<br />

Com vertentes principais às adjacências da atual Praça Amazonas, fluía em direção à Doca do Ver-o-Peso.<br />

5<br />

A Doca do Reduto foi a denominação dada ao igarapé que possuía influência da maré, onde a montante<br />

localizava-se o deságüe das nascentes do paul d’água, localidade entre as atuais avenidas Nazaré e Governador<br />

José Malcher. O paul d’água foi por um longo período o manancial utilizado pelos aguadeiros para a venda<br />

porta-a-porta de água.<br />

6<br />

Os poços do paul d’agua eram, nos meados do século XIX, as principais fontes de abastecimentos de água<br />

potável à Capital.<br />

7<br />

O pioneirismo se refere a tentativa frustrada do processo de encanação e não quanto a sua efetividade real.<br />

46


Segundo alguns autores, Feitosa (1994, p. 36); CRUZ (1944, p. 106), o processo<br />

expresso na lei citada anteriormente iniciara em meados de março quando o Presidente Rêgo<br />

Barros “havia autorizado a entrega das plantas de Belém ao Major d’engenheiros C. F.<br />

Belmonte de Brokenhaes, que ficou encarregado dos trabalhos preliminares para o<br />

encanamento de água potável do Paul d’água”.<br />

Contudo, apesar da promulgação dessa lei, a velha dicotomia entre a teoria e a<br />

prática prevalecia, ou seja, entre a realidade e as idéias há grandes distâncias, pois como ficou<br />

evidenciado no discurso do então presidente Rêgo Barros, ao passar a administração da<br />

Província, ao 1° vice-presidente, Dr. Ângelo Custódio Corrêa, no dia 14 de maio de 1855. Na<br />

exposição o presidente lamentava por ainda não ter sido possível dar-se princípio a algumas<br />

importantes obras, tais como: o encanamento de água potável da capital, o cais da cidade de<br />

Cametá e o Mercado público.<br />

A questão de encanamento de água para a cidade aparecia como a principal<br />

necessidade da Lei 264, como se observa na mesma exposição de posse delineada<br />

anteriormente:<br />

A primeira é incontestavelmente e de mais palpitante necessidade, e não está já em<br />

andamento por não ter aparecido Empresário ou Companhia que a quizesse<br />

empreender, e por que me parece o conveniente esperar pela chegada do engenheiro<br />

que mandei contratar em Pariz, para ouvir sua opinião a respeito antes de começa-la<br />

por administração. (REGO BARROS apud FEITOSA, 1994, p. 38).<br />

Em 1860, já havia uma mentalidade de saneamento e saúde pública, o que<br />

proporcionou ao Presidente sancionar a Lei n.º 363 de 12 de outubro deste mesmo ano,<br />

através da qual eram determinadas as primeiras providências para a desapropriação de<br />

terrenos que contivessem mananciais de água potável necessária ao abastecimento da Capital.<br />

Essa lei autorizava a desapropriação dos terrenos situados no lugar denominado pau d’água,<br />

47


ou de quaisquer outros que forem necessários para o abastecimento de água potável aos<br />

habitantes de Belém.<br />

Nos artigos 3º, 4° e 5° dessa lei encontramos idéias que reforçam nossas hipóteses<br />

sobre a exclusão social relacionada com o abastecimento de água em mais esse período<br />

histórico da cidade de Belém:<br />

Art. 3° Depois do estabelecimento das fontes públicas será prohibido o<br />

abastecimento d’água potável á população da capital em quaesquer outras fontes ou<br />

poços públicos.<br />

Art. 4°. O Fornecimento d’água será gratuito para todos, à exepção dos que a forem<br />

buscar para negócio, que pagarão a taxa de cem reis por pipa para a renda provincial.<br />

Art.5º. O governo é mais autorisado a expedir o regulamento necessário para o<br />

serviço das fontes e arrecadação da taxa, podendo criara um empregado para ter á<br />

seu cargo a guarda e aceio das mesmas fontes e arbitrar-lhe a gratificação que<br />

julgar conveniente. (FEITOSA, 1994, p. 42). Grifo nosso.<br />

Depois de 1860, a expansão da cidade se intensifica, mas é, sobretudo na estrutura<br />

interna do espaço que se vão fazer notar as maiores diferenciações, pois os fatores formadores<br />

da renda da terra, base dos processos sócio-espaciais de especialização e de segregação, se<br />

fazem cada vez mais presentes na área urbana (CORRÊA, 1989). (Grifo nosso).<br />

No ano de 1860, Belém apresentava aspectos urbanos diferenciados dos períodos<br />

anteriores, pois a presença de uma classe capitalizada na cidade fez com que fossem<br />

introduzidos 50 carros de origem americanos em substituição aos velhos de origem<br />

Portuguesa. O sistema de transporte passou por um significativo avanço em 1870 em ocasião<br />

da inauguração dos trens urbanos a vapor. Esses elementos contrastavam com os bondes à<br />

tração animal de 1883.<br />

48


O excedente econômico alcançado foi aplicado para ampliar a área de serviços e<br />

dar visibilidade as elites dominantes, bem como se verificou a tendência de especialização<br />

funcional, com a localização de algumas unidades produtivas, integrantes do incipiente parque<br />

fabril belenense, como comenta Corrêa (1989).<br />

A Lei n.º 396 de 30 de outubro de 1861, que orçava a receita e fixava a despesa<br />

para o exercício financeiro de 1862, estabelecia em seu Art. 36º, Parágrafo -10:<br />

A incorporar uma companhia, que efetue a obra de encanamento d’água potável<br />

para o abastecimento desta capital, garantindo juros de 8% ao anno até a quantia de<br />

600 contos de réis, e sujeitando-se á aprovação desta Assembléia o contracto<br />

respectivo. (FEITOSA, 1994, p. 43).<br />

Em 1862, o governo provincial celebrou com a firma Mediclott & Cia,<br />

incorporada pelo concessionário Eduardo Mediclott, o primeiro contrato para abastecimento<br />

de água encanada. As articulações políticas davam-se, nesse caso, da seguinte forma descrita<br />

por Feitosa (1994, p. 43)<br />

Para a realização da obra, o Presidente na época Araújo Brusque já havia conseguido<br />

a prospecção de diversas áreas ou mananciais dentre dos quais o do Una - que<br />

oferecem a melhor água, que se deverá aproveitar para o abastecimento da cidade.<br />

Segundo os exames feitos pelo engenheiro Humann, - prosseguia o Presidente da<br />

Província - as duas primeiras vertentes contém quantidade d’água de superior<br />

qualidade, bastante para suprir com quatro palmos cúbicos por dia (de 24 horas),<br />

uma população de 40.000 almas.<br />

Essa tentativa de resolução do problema do abastecimento em Belém foi marcada<br />

pelo insucesso, como se observa nas palavras de Cruz (1944, p. 23)<br />

Não conseguindo o governo provincial remover as dificuldades surgidas com a<br />

empresa Mediclott & Cia. para o abastecimento d’água potável à população de<br />

Belém, por meio de encanamento que se entenderia aos mananciais do UNA,<br />

49


continha o serviço a ser feito pêlos carros de venda, que iam abastecer no Paúl<br />

d’água. [...] Era o mesmo sistema antiquado que prosseguia, não obstante as<br />

tentativas feitas para modificá-los.<br />

Apesar dos esforços, nessa empreitada, a conclusão que se chegou foi a de que<br />

nada se realizou das primeiras pretensões políticas sobre a questão do abastecimento de água<br />

para a população de Belém.<br />

Outras ações foram realizadas no sentido de continuarem as idéias dos períodos<br />

antecessores como em 1864, quando a Repartição de Obras Públicas através de seu Diretor,<br />

o engenheiro José Coelho da Gama e Abreu, tentou sem possuir recursos financeiros, adequar<br />

a tomada de água do local denominado Paul d’água.<br />

Feitosa (1994) comenta que em 1865, o Sr. João Valente do Couto assinou<br />

contrato para administrar o Sistema de Captação de Água do Paul d’água, que terminou o<br />

outorgante contratante, não honrando os compromissos assumidos no ano de 1986.<br />

Em fevereiro de 1867 foi lançado um Edital para fornecimento de água potável,<br />

não tendo ocorrido qualquer proposta. No mesmo ano, o engenheiro Félix Soares, no<br />

exercício como diretor interino da Repartição de Obras Públicas, sugeriu que fosse elaborado<br />

termo de concessão para alguém, e este se encarregaria de construir quantos chafarizes e<br />

bacias, quantos fossem necessários em praças públicas, para serem utilizados pela população,<br />

sem cobrança pelo uso de nenhum ônus. Através da Lei n.º 521 de 23 setembro de 1867 o<br />

Presidente De Lamare abriu nova concorrência; todas as respostas não preencheram as<br />

condições estabelecidas no Edital.<br />

No ano de 1867 a questão da água preocupava ainda mais as autoridades da<br />

província como Feliz Soares apud Cruz (1973) descreve em tom de repulsa a situação da<br />

venda de água à população<br />

50


A água, a meu ver - dizia em um documento ao governo - deve ser dada ao povo<br />

gratuitamente. [...] O meio de execução que merece mais conveniente é o mesmo<br />

adotado para a iluminação a gaz: o governo concede a uma companhia o privilégio<br />

para encanar a distribuir a água necessária ao consumo da capital, e se obriga a dar à<br />

Companhia uma subvenção anual em compensação da qual a Companhia se obrigará<br />

a estabelecerá para o governo, nas ruas da capital duzentas a trezentas bicas<br />

d’água, e nas praças públicas o numero de bacias com jactos d’água que o governo<br />

julgar conveniente mandar colocar. (FELIZ SOARES apud CRUZ, 1973, p. 28-29).<br />

Em 1869 foi celebrado o contrato entre a Presidência da Província e o Sr. João<br />

Augusto Corrêa, aonde se previa a captação de água “do ribeiro Ananindeua ou Marituba” e a<br />

distribuição das águas que seria feita por meio de oito chafarizes e dose torneiras, e por mais<br />

que se julgassem necessários; além disso, dois dos referidos chafarizes seriam destinados à<br />

decoração e salubridade pública. O projeto previa uma obra monumental, com jactos elevados<br />

d’água, sendo situados, um no largo do Palácio, outro no de Pedro II. Ficou estabelecido que<br />

a partir do dia em que os chafarizes começassem a funcionar, ficaria vedada a extração d’água<br />

nos poços públicos, permitida somente nos casos de interrupção no serviço da distribuição<br />

d’água, esses poços ficariam entregues á companhia para os casos de necessidades. Por<br />

falecimento do Sr. João Augusto Corrêa em março de l870 o contrato foi rescindido no mês<br />

de abril do mesmo ano. (FEITOSA, 1994, p. 52-55; CRUZ, 1944, p. 118).<br />

Dessa forma o problema do abastecimento de água em Belém permanecia bastante<br />

agudo, e os aguadeiros 8 eram os sujeitos que se beneficiavam desta situação de calamidade<br />

pública, pois sua lucratividade vinha da venda de água para a população belenense.<br />

Contudo, surgiu outra tentativa fracassada para resolução do problema de<br />

abastecimento de água em Belém, esta foi expressa pelo contrato de Cordeiro Vila-Flor 9 .E<br />

8 Pessoas que vendiam água para a população de Belém no século XIX, essa atividade era muito lucrativa, pois<br />

sendo a água um bem indispensável para a sobrevivência humana, e tendo a dificuldade de acesso público a ela,<br />

esses atores encontraram um meio de sobrevivência em decorrência do grande problema público da cidade de<br />

Belém neste período.<br />

51


uma das soluções encontradas no governo José Malcher em 1875, foi a construção do<br />

Reservatório de São Brás, mas que em termos gerais, apenas amenizou o problema, mas não<br />

o resolveu completamente. E assim, como as demais tentativas anteriores o que prevaleceu foi<br />

o discurso sobre o problema e não aplicabilidade de soluções. Em 1878, no passar do<br />

Governo de José Joaquim do Carmo, escrevia o 1° vice-presidente:<br />

[...] que deverá ser adotado o igarapé Ananindeua, como manancial das águas a<br />

distribuir nesta capital. Derivadas as suas águas para um tanque, elas por canalização<br />

livre (aqueduto) até o reservatório de distribuição, construído na praça de S. Brás ou<br />

em suas imediações.[...] o reservatório deverá ser construído, ao menos em parte de<br />

altura, por escavação, e, no caso de elevação d’água, que poderá apoiar-se em parte<br />

do reservatório. Deste ou da caixa d’água deverão partir dois condutores, um pela<br />

Estrada de Nazareth, atravessando parte do 3° distrito da cidade e todo o 1°.<br />

(FEITOSA, 1994, p. 71-72)<br />

Em 1880 uma nova fonte chamava atenção das autoridades políticas de Belém, era<br />

a fonte do Utinga que segundo Dantas Filho apud Cruz (1944, p. 49) “Ficou reconhecido que<br />

esta fonte (Utinga) pode dar cerca de nove milhões de litros d’água no inverno e perto de<br />

quatro milhões no verão; pelo que foi aceito como principal manancial da empresa”.<br />

A área inicial desse manancial atingia a marca de 1. 486,202 b2, e a companhia<br />

responsável por esta empreitada foi a Companhia das Águas do Grão-Pará. Mas, enquanto as<br />

obras ocorriam, a população continuava a usufruir os poços do Paúl e dos que ficavam<br />

espalhados pela cidade, que em geral, eram para serventia do público.<br />

Um aspecto a destacar neste momento é a questão da universalização do serviço<br />

de água, que não era do interesse dos governantes da cidade, isso fica evidente quando Cruz<br />

(1944, p. 54) e Feitosa (1994, p. 74) comentam que:<br />

9 Acordo firmado em 16 de agosto de 1872, e previa que as águas seriam extraídas de “lugar ou lugares que<br />

forem aprovados pelo governo da província depois que, por meio dos convenientes estudos sejam reconhecidas<br />

de boa qualidade” (CRUZ, 1994, p. 129).<br />

52


Para forçar o consumo, a Companhia avisava a população - que não obrigava a<br />

canalisar a água para o prédio que consumisse menos de 50 litros por dia. [...] O<br />

mínimo a pagar pêlos consumidores seria de 2$500 (Cr$ 1.50) de água e 1$000 (Cr$<br />

1,00) de conservação e registro. (Grifo do autor)<br />

Em Feitosa (1994, p. 72-73), outras afirmações desta exclusão social na área do<br />

saneamento, quando o processo de canalização da cidade por distritos começava, o<br />

comentava:<br />

Não foi incluído já nesta distribuição o 4° distrito, porque nele a população é menos<br />

compacta, e dispõe de água suficiente para esperar a conclusão da canalização pelos<br />

outros três, podendo ser, pois servido pelos mesmos condutores, ou por condutores<br />

especiais do reservatório principal. [...] embora concluídos os estudos, nenhuma<br />

providência foi tomada para implementação do sistema de encanamento d’ água.<br />

No contrato de 1880 entre o Governo da Província do Grão-Pará com o<br />

engenheiro Edmund Compton, para o abastecimento de água em Belém que se sujeitou a<br />

várias condições, uma delas é descrita da seguinte forma, conforme Feitosa (1994, p.73), “O<br />

concessionário fornecerá água em torneiras públicas situadas em lugares, que ofereçam fácil<br />

acesso á população podendo ter nesses lugares os seus fiscais”. Lembrando que, a pessoas a<br />

quem se referia o governo, eram aquelas com melhores condições financeiras.<br />

O que nos chama atenção não são os valores, mas sim as categorias<br />

Universalização vs. Exclusão social, que aparecem de forma implícita nesse argumento. E<br />

como temos uma hipótese que discute esta relação, já temos uma pista para uma analise mais<br />

profunda, mas para isso veremos se esta relação permanece constante no período republicano.<br />

Na segunda metade do século XIX, o urbanismo se voltou para projetos de<br />

embelezamento urbano, de arruamentos e de redes de serviços públicos. Os projetos das redes<br />

foram definidos em função de técnicas importadas e baseava-se em amplos levantamentos<br />

topográficos da cidade, que proporcionaram, inclusive um melhor conhecimento das<br />

condições de sítios de Belém (CORRÊA, 1989).<br />

53


A cidade de Belém passou por melhorias, no fim do século XIX, onde a infra-<br />

estrutura urbana apresentava aspecto de cunho sofisticado foram construídos com material<br />

importados da Europa, tendo por objetivo maior a satisfação das demandas de conforto e<br />

beleza da parasitária burguesia comercial da borracha.<br />

O abastecimento de água preocupava cada vez mais a população da cidade e<br />

passou a ser realizado por meio de sistema canalizado a partir de 1883 10 , onde o Paul d’água<br />

era a principal fonte de água potável, que abastecia a cidade de Santa Maria de Belém do<br />

Grão-Pará, e neste mesmo ano foi inaugurado, em 1883, o serviço de abastecimento pela<br />

Companhia das Águas do Grão-Pará, com melhor captação do lago do Utinga. Feitosa (1994,<br />

p. 92).<br />

Durante o processo de encanamento e construção dos tanques de contenção de<br />

água vislumbra-se a presença de interesses por partes dos moradores circunvizinhos da área<br />

onde se operavam as obras, estes reclamavam das condições que se encontravam as vias que<br />

trafegavam, pois eram homens que contribuíam com onerosos impostos para a Câmara<br />

Municipal, Cruz (1944, p. 51-52)<br />

Cruz (1944, p. 53-54)<br />

Os interesses político-econômicos nesse momento se afloraram como observa<br />

Devido às irregularidades do fornecimento do Grão-Pará aos seus consumidores, os<br />

aguadeiros continuavam em atividade, fazendo franca concorrência à Companhia.<br />

[...] Apenas 100 casas de residência e comerciais, possuíam encanamentos. As<br />

torneiras onde o público podia adquirir por compra a água canalizada, ficavam<br />

situadas nos seguintes pontos da cidade: Rua da Industria (Gaspar Viana),no<br />

estabelecimento da firma RIBEIRO & FREITAS; travessa 1° de março em casa de<br />

AANTONIO FERREIRA DA GRAÇA; Praça D. Pedro II, na residência de<br />

ROMÃO PERES; largo de Nazaré (Praça Justo Chermont), no período onde morava<br />

JOÃO MANUAL DO NASCIMENTO; Estrada da Independência,no<br />

10 Antes era feito por canos de distribuição que totalizavam, em 1862, cerca de duzentos, segundo Kidder e<br />

Fletcher apud Corrêa (1989, p. 113).<br />

54


estabelecimento da firma BATISTA RODRIGUES & CIA; rua do Espírito Santo<br />

(Dr. Malcher), nas casas de REINALDO DA SILVA e MANUEL FRANCISCO<br />

ESTEVES. Poucos, porém, serviam-se das torneiras do Grão-Pará.<br />

Havia necessidade de se construir um reservatório para acompanhar o processo de<br />

encanamento na cidade de Belém. O Reservatório de São Brás foi construído no ano de 1885,<br />

com esta finalidade, e tinha, conforme Feitosa (1994, p. 95-96) a extensão de 37. 184 m,<br />

existindo mais 1. 368 m em diferentes ruas feitas a pedido de particulares, sua descrição era<br />

de forma cilíndrica com 20.0m de diâmetro e 5m de altura e tem capacidade de 1.570m³ ou<br />

1.570.000 litros. Era feito de ferro forjado e sustentado por colunas de ferro fundido, matéria<br />

boa condutora de calor pelo que se tornou necessário no interior do tanque, um revestimento<br />

de argamassa de cimento que já se acha concluído.<br />

Dessa forma, a canalização particular dos prédios urbanos e a instalação de<br />

torneiras cresciam gradativamente, como se visualiza no gráfico 01:<br />

14.000<br />

12.000<br />

10.000<br />

8.000<br />

6.000<br />

4.000<br />

2.000<br />

0<br />

7.000m<br />

Fonte: Feitosa, 1994, p. 97.<br />

Gráfico 01<br />

Canalização e Torneiras em Belém (1884 -<br />

1886)<br />

10.551m<br />

11.863m<br />

639 895 986<br />

1884 1885 1886<br />

Canalização Torneiras<br />

Com isso constatamos novamente que a questão de água e esgoto aparece atrelada<br />

a diversos interesses políticos e econômicos. E a exclusão social que teve seus primórdios no<br />

período colonial, ainda é uma máxima vigente na Belém Imperial.<br />

55


2.5 Período Republicano<br />

Com o advento da República em 1889 o Brasil passa por transformações de cunho<br />

político-institucional, contudo na parte norte do Brasil os acontecimentos que culminaram<br />

neste fato não surtiram grandes efeitos, devido Belém está mais atrelada ao governo português<br />

do que o restante do Império brasileiro.<br />

As pessoas que possuíam grandes quantidades de capital na cidade de Belém<br />

começaram a estreitar os laços com capitalistas de outros Estados e países. Desta dinâmica<br />

temos a aproximação econômica de Belém com a França que era uma das principais<br />

importadora do cacau paraense, pois suas empresas estavam obtendo bons lucros no mercado<br />

internacional com esse produto. Em contrapartida, da França vinham a moda e produtos<br />

“parisienses” que estavam sendo bem aceitos nos limites além Europa. (COELHO, 2003,<br />

disponível em www.france.org.br/abr/atualidades/belem3.htm)<br />

palavras de COELHO<br />

Belém vivia na segunda metade no século XIX um esplendor na área urbana, nas<br />

[...] o desenvolvimento da indústria da borracha, essas aproximações tornaram-se<br />

mais intensas, tanto do ponto de vista do consumo de produtos acabados de origem<br />

francesa, quanto da adoção dos códigos de cultura da Paris da Belle Époque. A<br />

modernização e o desenvolvimento muito rápido da cidade de Belém, sua<br />

organização urbana refletia um modo de vida inspirado em Paris e fazia de Belém,<br />

assim como de Manaus, cidades européias plantadas bem no meio dos Trópicos.<br />

Com seu teatro monumental, seu comércio de produtos finos, seus bulevares, cafés e<br />

livrarias, não são exagero dizer que Belém, no final do século XIX, vivia segundo a<br />

vida parisiense.<br />

(Coelho, 2003, disponível em www.france.org.br/abr/atualidades/belem3.htm). (Grifo<br />

nosso).<br />

56


No ano de 1890, iniciaram-se as obras de um sistema de transporte único com<br />

bondes elétricos, que passou a funcionar na primeira década do século XX. Estes tiveram<br />

importante papel na diferenciação sócio-espacial de Belém. Trafegavam apenas nas cotas<br />

topográficas elevadas da Avenida Nazaré e São Jerônimo.<br />

No ano de 1893 o Pará era governado por Lauro Sodré e coube a Companhia das<br />

Águas do Grão Pará a responsabilidade de canalizar a cidade de Belém. As obras que se<br />

figuravam na época eram, segundo Baena apud Cruz (1944, p. 65):<br />

• Canalização de tubos de 18”, do rio Utinga aos dois reservatórios pensis de João Balbi e São Braz;<br />

• Bombas, caldeiras, pertences e chaminés;<br />

• Via fixa <strong>DE</strong>CAUVILLE, em 2.000 m. c., com cobertura e assentamento;<br />

• Fundações para o reservatório da João Balbi;<br />

• Tanque de alvenaria de pedra subterrânea.<br />

Tudo levava a crer que Belém despontaria na área do saneamento, porque as<br />

atividades de canalização de água estavam sob a responsabilidade da Companhia das Águas<br />

do grão Pará, que no início do século XX realizou muitas tentativas para melhorar o<br />

abastecimento de água em Belém.<br />

Um desses esforços foi a construção do Reservatório Paes de Carvalho que<br />

envolveu muitos processos para sua consolidação. O contato com fabricantes franceses,<br />

ingleses e americanos foi constante, haja vista que as tecnologias para a realização dos<br />

empreendimentos estavam no exterior.<br />

Da Inglaterra veio um “gradil com um portão monumental” encomendado junto<br />

ao fabricante WALTER MACFARLANE & CIA, aos fabricantes franceses coube a<br />

encomenda da própria construção do reservatório que ficou a cargo da firma BOU<strong>DE</strong>T,<br />

DONON & CIA, de Paris. Os fabricantes americanos, especificamente da cidade de New<br />

57


York, ficaram responsáveis pela substituição dos antigos hidrômetros KENNEDY, pelos<br />

EMPIRE, fabricados pela firma nova-iorquina NATIONAL METER COMPANY. (CRUZ,<br />

1944, p. 74-80).<br />

Percebemos que Belém começa a ter uma configuração mais realista na área de<br />

água e esgoto, mas não podemos generalizar essa questão, porque como foi demostrado nos<br />

outros períodos de nossa história, o elemento da exclusão social, ou seja, as pessoas que não<br />

são beneficiadas com serviços de saneamento continuam sendo deixadas a um segundo plano.<br />

E as primeiras obras de infra-estrutura urbana estiveram voltadas para elementos de destaque<br />

na sociedade belenense.<br />

Quando nos referimos a elementos de destaque, nossa idéia precisa estar<br />

relacionada a conjunturas político-econômicas, isto é, empresas importantes para a economia,<br />

“figuras ilustres” da sociedade paraense e políticos poderosos são esses elementos que<br />

falamos. E nesse conjunto, são eles que se beneficiam dos melhores sistemas de<br />

abastecimentos de água encanada, em quanto a maioria da população, com pouco poder<br />

econômico e político, acaba sendo penalizada com péssimos serviços, ou a falta dos mesmos<br />

em suas residências.<br />

Durante a administração de Antonio Lemos 11 (1897 - 1911), vislumbrava-se a<br />

tendência da expansão urbana de Belém por via terrestre, como se pode notar pelo seu esforço<br />

em urbanizar o Marco da Légua Patrimonial:<br />

[...] estou convencido de que o sadio arrabalde será, no futuro, um dos bairros mais<br />

bonitos e elegantes de Belém. É evidente a tendência da expansão urbana para<br />

aquelle ponto. Apertada entre o litoral, de um lado e os terrenos alagados da parte<br />

oriental, entre os limites urbanos e o rio Guamá, esta cidade só tem como desafogo o<br />

Marco da Légua, sítio alto e secco, dotado de terreno arenoso e em declive, com um<br />

perfeito systema de drenagem natural. Todo rodeado de mattas, o referido subúrbio<br />

11 Maranhense que desejava assumir o cargo de Governador do Pará, mas um decreto da época exigida<br />

naturalidade paraense para o posto em questão, devido a este impasse pode assumir apenas a intendência de<br />

Belém.<br />

58


possue bellas avenidas, onde o ar circula com liberdade, formando-se d’este<br />

conjunto as mais apreciáveis condições de salubridade (Lemos, 1902, p. 294).Grifo<br />

nosso.<br />

.<br />

Ressalta-se que na Belém “de 200.000 almas” de Lemos (1902, p. 339), foi o<br />

temor às constantes epidemias, associado ao incipiente avanço da medicina e da engenharia<br />

sanitária, que o levaram a conferir os ”maiores cuidados [...] à salubridade pública e a<br />

hygiene geral da cidade” (LEMOS,1902, p. 16) que ao lado do embelezamento urbano,<br />

constituíram prioridades de sua administração. É nesse espírito que se pode entender como<br />

Lemos, de braços com suas obras de “embelezamento e saneamento” de Belém, nas quais<br />

empenhou vultosos recursos, inclusive com empréstimos externos, preferiu fazer avançar a<br />

cidade pelos sítios secos e planos, atalhando os terrenos baixos. Lemos apud Rodrigues, E. J.<br />

(1998, p.104).<br />

Nota-se esta preocupação nos discursos políticos do ano de 1898, como<br />

observamos no Projeto Lei de autoria do vereador Lyra Castro (FEITOSA, 1994, p. 138-139),<br />

que em seu Artigos 1° e 3° assinalou:<br />

Art. 1°. Fica o Intendente autorizado a entra em acordo com o Governo do Estado, a<br />

fim de ser nomeada uma comissão de profissionais habilitados para apresentarem<br />

um plano geral de embelezamento e saneamento para Belém, uma vez que a<br />

municipalidade, só com seus recursos, não pode realizar tão grande commettimento.<br />

§ 1° No plano apresentado à comissão terá em vista:<br />

1° - A construção de uma rede geral de exgottos para águas pluviais e servidas e<br />

para materiais fecaes;<br />

2° - O alargamento, nivelamento e alinhamento das ruas, travessas e praças da<br />

cidade;<br />

3° - Um plano completo, para as futuras edificações públicas e particulares, que<br />

obedeça à hygiene e embelezamento da cidade e das construções;<br />

4° - O estudo do melhor systema de calçamento para as nossas ruas e praças;<br />

5° - O estudo do saneamento das docas, do litoral e das obras do porto de Belém;<br />

6° - O Estado do da drenagem do solo, desseccamento dos pântanos etc.<br />

59


Art. 3° - Revogam-se as disposições em contrário, Senhores vogaes, pela leitura que<br />

acabo de fazer do projeto, já deveis Ter compreehendido o alcance das medidas<br />

n’elle contidas.<br />

É preciso, de uma vez por todas, que a municipalidade, de acordo como o Governo<br />

do Estado, tome medidas sérias, no intuito de estabelecer uma organização completa<br />

e eficaz em tudo quanto diz respeito á hygiene, desenvolvimento physico e bem<br />

estar dos cidadãos. É de máxima importância substituir com a brevidade possível o<br />

systema rudimentar geral mente entre nós adaptados,pela construcção de uma rêde<br />

geral de esgotos.<br />

A grande diferença do período republicano em relação à questão de água e esgoto<br />

em Belém é que o governo passou a ter disponibilidade de recursos financeiros e poder<br />

político para tomar empréstimos e conceber projetos de engenharia na área do saneamento.<br />

Além disso, havia uma burguesia regional, produzida pelo excedente da borracha e o<br />

mercantilismo que passou a exigir melhoramentos na área do saneamento e no aspecto visual<br />

da cidade que começou a viver um processo de embelezamento.<br />

No cenário mundial já era possível contar com tecnologia voltada para a área de<br />

saneamento, um exemplo disso são as máquinas e equipamentos de bombeamento de água<br />

com distância e volume consideráveis. E outro fator causava rancor entre os planejadores do<br />

período, ou seja, com o adensamento urbano da cidade até o final da Primeira Légua<br />

Patrimonial, os núcleos urbanos gerados a partir da busca dos movimentos sociais, em<br />

obterem a moradia produziram um crescimento desordenado que ia além das visões das<br />

pessoas que planejavam a configuração urbana de Belém. Em conseqüência, uma drástica<br />

exclusão social na cidade ocorria, devido ao não atendimento da infra-estrutura intra-urbana<br />

como água, esgotamento sanitário para uma parte considerável da população.<br />

Em muitos casos as áreas de expansão vinham sendo tratadas pelo poder público<br />

como algo não pertencente ao universo da cidade, uma vez que não recebera a anuência legal<br />

60


desta dimensão política, sendo tratada como área de invasão, áreas irregulares, áreas<br />

subnormais, sendo algo que não faz parte da cidade planificada.<br />

E na medida em que a cidade de Belém crescia a população da Amazônia atingia<br />

uma marca expressiva, como demonstra Santos (1980) apud Corrêa (1989 p. 104) ao afirmar<br />

que a população amazônica que era composta por 323 mil pessoas em 1870, atingiu, em 1910,<br />

um total de 1,2 milhões de indivíduos. (Ver Gráfico 02)<br />

1.400.000<br />

1.200.000<br />

1.000.000<br />

800.000<br />

600.000<br />

400.000<br />

200.000<br />

0<br />

Crescimento Populacional da Amazônia (1870-1910)<br />

323.000<br />

Fonte: Santos apud Corrêa (1989, p. 104)<br />

Gráfico 02<br />

1870 1910<br />

Crescimento Populacional da Amazônia<br />

1200000<br />

No Estado do Pará vamos encontrar uma concentração populacional no ano de<br />

1870, além de um crescimento em estruturas urbanas como podemos observar no Gráfico 03:<br />

Gráfico 3<br />

Fonte: IBGE. Recenseamento do Brasil - 1920, Ministério da<br />

Agricultura, Industria e Comércio - Diretoria Geral de Predial e<br />

Domiciliar por Estados, Vol. IV - Rio de Janeiro - 1930 (6° parte).<br />

61


No final do século XIX, mais precisamente em 1897, assumiu o cargo de<br />

intendente de Belém, Antônio José Lemos, que viria a ser considerado por muitos como o<br />

melhor gestor que a cidade já possuiu.<br />

A área do atual município de Belém foi composta através de onze concessões<br />

legais, de 1627 até 1905 (Cruz ,1973, p.391-2) apud Rodrigues, E. J.(1998. p. 101-2). Moreira<br />

(1966, p. 52) apud Rodrigues E.J. (1998. p. 102), por exemplo, apresenta uma classificação<br />

aceitável sobre a expansão urbana de Belém, ao admitir as fases periférica ou ribeirinha<br />

(1616 até meados do século XVIII), de penetração (meados do século XVIII e XIX) e de<br />

continentalização (meados do século XIX em diante).Grifo nosso.<br />

No início do Século XX, questão do abastecimento de água voltava novamente às<br />

pautas governamentais. Temos o exemplo do governo Augusto Montenegro, que no livro “O<br />

Dr. Augusto Montenegro”, p. 69-73 escrevia.<br />

O abastecimento de água à população da capital foi a primeira preocupação do novo<br />

Governo. [...] Ao desenvolvimento do abastecimento de água a esta cidade tenho<br />

dedicado aos meus mais perseverantes esforços, convencido como estou de que,<br />

resolvendo este problema, a administração pública tem attendido a mais palpitante e<br />

actual necessidade desta capital. [...] Em minha mensagem de 1° setembro disse-vos<br />

que dois dessiderata estava procurando attingir: 1° augmentar a produção de água<br />

em Utinga: 2° melhorar a canalização, enterrando a rede de canos que foi<br />

encomendada, serviço que mal tinha sido iniciado. (FEITOSA, 1994, p. 163)<br />

Em 1912 foi solenemente inaugurado o Reservatório Paes de Carvalho, que foi<br />

construído para melhorar o abastecimento de água à população de Belém. Segundo Bolonha<br />

apud Feitosa (1994, p. 169), que enaltecia esta obra dizendo que:<br />

[...] essa monumental obra, de certo a mais importante entre os trabalhos metálicos<br />

entre nós e talvez um das mais importantes de todo o país, não deve a mim a sua<br />

iniciativa e sim à Comissão de Saneamento, dirigida pelo provecto engenheiro civil<br />

62


paraense Henri Santa Rosa, o decano da classe no nosso meio, que aqui atuou<br />

durante o governo do Dr. Paes de Carvalho, 1899. (FEITOSA, 1994, p. 169).<br />

Com a construção do Reservatório Paes de Carvalho a cidade de Belém passou de um<br />

clima calamitoso na área de distribuição de água, para um quadro razoável que merece nossa<br />

crítica, pois o problema da falta de água à população persistia, graças a inúmeros fatores, por<br />

exemplo, tubos rompidos, crises financeiras internas e externas, a falta de manutenção<br />

adequada para as máquinas de bombeamento de água na cidade.<br />

A década de 30 trouxe grandes inovações para o Estado do Pará na área do<br />

saneamento, era a fase do Intendente Magalhães Barata, que implementou o processo de<br />

construção do canal do Una. Os jornais da época destacavam a atuação do interventor da<br />

seguinte forma:<br />

De acordo com as disposições technicas previstas no edital organizado pelo Dr.<br />

André Benedito, diretor do Serviço de Águas, e de conformidade com as medidas<br />

tomadas pelo Interventor Magalhães Barata para financiar esse grande<br />

emprehendimento, podendo contar para benefício dos belenenses, representando<br />

mais uma conquista para coroar um governo que não conhece obstáculos, quando se<br />

trata de conseguir o bem público. (DIÁRIO DO ESTADO, abril, 1934 apud<br />

FEITOSA, 1994, p. 189-190).<br />

A cidade de Belém uma obra de grande porte começava no governo de Interventor<br />

Magalhães Barata, o canal do Una. Isso ocorria no início da década de 30 e segundo Cruz<br />

(1944, p. 92-93)<br />

Muito embora a população da capital tivesse aumentado consideravelmente nestas<br />

últimas três décadas, a capacidade das nascentes permanecia cm no tempo da<br />

administração Montenegro [...] Nenhuma obra fôra realizada para atender às<br />

necessidades do consumo cada vez maior. Não se tratava penas da desapropriação de<br />

63


terrenos com nascentes e mananciais d’água [...] Havia falta de tudo: ferramentas,<br />

de máquinas, de pessoal, de confiança mesmo. André Benedetto só contava<br />

para as obras com a bôa vontade do major barata. Tudo o mais lhe era hostil.<br />

(Grifo do autor).<br />

Com a conclusão do Canal do Una, outro problema preocupava a população de<br />

Belém: o tratamento químico da água. No ano de 1933 a firma BYINGTON & CIA. ganha a<br />

concorrência dentre outras para cuidar do tratamento de água da cidade de Belém e uma área<br />

da praça Floriano Peixoto foi destinada à futura Estação de Tratamento de Água. (Cruz, 1944,<br />

p. 96; Feitosa, 1994, p. 191).<br />

Sobre essa obra, o Diretor do Serviço de Águas, o Dr. Augusto Meira Filho, fala<br />

em 1943 que “Graças a esse aperfeiçoamento técnico a água fornecida hoje à cidade é<br />

límpida, potável e de sabor agradável. Acha-se em igualdade de condições de pureza e<br />

potabilidade como a que é bebida em outras grandes capitais brasileiras”. (CRUZ, 1944, p.<br />

102.).<br />

Ernesto Cruz (1944, p. 103) comenta que a situação da água em Belém no início<br />

do século XX era bem diferente daquela do período colonial que era “suja e de má qualidade”,<br />

pois os habitantes da capital contavam com a possibilidade de beberem o tão precioso líquido<br />

passado por um “rigoroso tratamento químico, que a torna límpida e de agradável sabor”.<br />

O Gráfico 04 mostra a variação de gastos no setor de água, esgoto e Saneamento<br />

entre 1860 a 1920, e nossa atenção volta-se para o uma grande elevação destes entre 1900 e<br />

1910, coincidindo com a época do governo Lemos no Estado do Pará.<br />

64


Gráfic o 04<br />

Gas tos de Inves tim entos do Governo do P ará em Intendênc ia Munic ipal de Belém , s egundo o<br />

D es tino - 1860-1920 (C ons truç ões em Água, E s goto e Saneam ento de P auis )<br />

6 0 0 0 0 0<br />

5 0 0 0 0 0<br />

4 0 0 0 0 0<br />

3 0 0 0 0 0<br />

2 0 0 0 0 0<br />

1 0 0 0 0 0<br />

Fonte: Cruz apud SANTOS (1980, p. 346-347)<br />

Pensando sobre esse ponto, convergimos para uma análise macro que nos reporta<br />

para os fatores que contribuíram para a estruturação de Belém na dimensão urbana e sanitária.<br />

Em 1920 o inquérito realizado em todo território nacional, 303 cidades e Vilas<br />

(excluídos alguns povoados) possuíam encanamentos para suprimentos d’água aos seus<br />

habitantes. Em muitas localidades havia apenas uma simples captação de água nas fontes<br />

naturais, ou nascentes, sem as vantagens ou comodidades da distribuição domiciliária. Salvo<br />

naturais omissões, podem ser assim resumidas os resultados obtidos na apuração dos dados<br />

estatísticos. (Ver Quadro 01)<br />

Quadro 01 - Cidade, Vilas e povoados com água encanada - 1920.<br />

N°. Total de vilas,<br />

cidades e povoados<br />

0<br />

8 2 7 0 8 2 7 0<br />

3 0 0 0 0<br />

Localidades que tem água<br />

encanada<br />

Extensão das<br />

redes<br />

adutoras<br />

Números<br />

Pará<br />

- Com rede Sem rede De pennas De hidrômetros<br />

domiciliar<br />

d`agua<br />

03 03 12 - 6.500 m 3.961 6.760<br />

Total<br />

(Brasil)<br />

317 289 2.351.706 296.802 62.377<br />

Fonte: IBGE, Recenseamento de 1920, Volume - V - 1° parte - Abastecimento de água (p. XXXVII).<br />

Comparando a cidade de Belém, temos a seguinte configuração sobre o<br />

abastecimento de água no ano de 1920, nota-se que os dados do quadro anterior referentes ao<br />

1 0 0 0 0<br />

12 Aproximadamente 5,3% fazendo essa comparação no Brasil.<br />

5 4 2 0 0 0<br />

3 5 0 0 0<br />

1 8 5 0<br />

-1 0 0 0 0 0<br />

1 8 6 0 1 8 7 0 1 8 8 0 1 8 9 0 1 9 0 0 1 9 1 0 1 9 2 0 1 9 3 0<br />

E m m il-ré is<br />

65


Estado do Pará, são os mesmos para a cidade de Belém, isto significa que os dados paraenses<br />

sobre abastecimento de água resumem-se à cidade de Belém. (Ver Quadro 02)<br />

Quadro 02 - Abastecimento d’água em Belém - 1920<br />

Belém<br />

N°. de pennas d’água<br />

3.961<br />

Hidrômetros<br />

6.760<br />

Fonte: IBGE, Recenseamento de 1920, Volume - V - 1° parte - Abastecimento de água (p. XL)<br />

Em relação aos outros estados a cidade de Belém encontrava-se em uma posição<br />

de destaque como podemos observar no comentário contido na página XLIV (44)<br />

Recenseamento de 1920 - IBGE:<br />

Das capitais dos Estados, São Paulo, Belém, Recife, Porto Alegre, São Luiz, Niterói,<br />

Florianópolis são as que possuem maior quantidade de hidrômetros. As proporções<br />

destes aparelhos correspondem, em Belém a 63% da totalidade das instalações dos<br />

dois tipos (pennas d’água e hidrômetros); em São Luiz do Maranhão, a 48%; 38%<br />

em São Paulo; 34% em Recife; 13% em Porto Alegre e 8% em Niterói; 4% em<br />

Florianópolis.<br />

Os algarismos colligidos sobre o Serviço de Esgoto Sanitário no Brasil, em 1920,<br />

referem-se a 126 localidades urbanas, das quais 123 cidades, 1 vila e 02 povoados (IBGE,<br />

Recenseamento 1920, p. XLIV).<br />

No questionário organizado pela Diretoria Geral de Estatística abrange:<br />

1°. Esgotamento em conjunto com as águas pluviais (sistema misto)<br />

2°. Esgotamento em separado das águas pluviais (sistema separado absoluto) (ver Quadro 03<br />

e 04 nas páginas seguintes)<br />

66


Quadro 03 - Localidades (cidades, vilas e povoados) servidas por esgotos sanitários.<br />

n° de localidades servidos por<br />

Sistema<br />

Pará<br />

esgotos sanitários Separado Misto<br />

01 13 01 -<br />

Fonte: IBGE, Recenseamento de 1920, Volume - V - 1° parte Esgoto (p. XLV)<br />

Até meados dos anos 30, os principais serviços urbanos, como abastecimento de<br />

água, energia elétrica, iluminação pública e transportes coletivos, através de bondes elétricos,<br />

funcionaram regularmente, sem que sequer seus padrões de atendimento sofressem qualquer<br />

perda significativa de qualidade Corrêa (199 p. 123).<br />

Quadro 04 - Cidades e Vilas Servidas por Esgotos<br />

Fonte: IBGE, Recenseamento de 1920, Volume - V - 1° parte Esgoto (p. XLV)<br />

Nos primeiros anos da década de 40, ocorreram também dois fatos, que embora<br />

não apresentassem efeitos imediatos sobre a estrutura intra-urbana, viriam a ter grande<br />

importância no processo de expansão e na organização da mesma, a partir dos anos 50.<br />

O primeiro deles foi à apropriação de grandes extensões de terras, então situadas<br />

nas imediações da cidade de Belém, por parte de bases militares e de outras instituições<br />

públicas. Estas áreas institucionais viriam a constituir, nas décadas seguintes, uma espécie de<br />

“muralha” invisível a dificultar, sobremaneira, o crescimento da malha urbana, caracterizando<br />

13 1,8.<br />

Estados<br />

Cidades e Vilas Servidas por Esgotos<br />

n°. Percentual (%)<br />

São Paulo 63 30,9<br />

Rio de Janeiro 13 27,1<br />

Minas Gerais 31 17,4<br />

Paraná 03 6,1<br />

Bahia 06 4,4<br />

Espírito Santo 1 3,2<br />

Santa Catarina 1 2,9<br />

Pará 1 1,8<br />

67


o que ficou conhecido, através de estudos e planos, como o cinturão institucional, ou ainda<br />

como o bloqueio institucional de Belém Corrêa. (1989, p. 125).Grifo nosso.<br />

O segundo, foi a construção, em l944, pelo Serviço Especial de Saúde Pública<br />

(SESP) 14 , de um grande dique, que se estendeu da terra alta situada às proximidades do<br />

igarapé Pedreira do Guamá, até o igarapé do Arsenal. Corrêa (1989, p.127).<br />

Em 1946, o Serviço de Águas recebe nova denominação e passa a ser chamado de<br />

Departamento Estadual de Águas, que teve como Diretor o Dr. Augusto Meira Filho. Uma<br />

das atividades desenvolvidas durante sua administração foi a substituição das antigas bombas<br />

WOTHINGTON.<br />

Nesse tempo, a população da cidade de Belém sofria com a falta de água, e as<br />

autoridades políticas tentavam se justificar da melhor forma possível. Com podemos observar<br />

nos comentários do governador Moura Carvalho em nota pública:<br />

O governo do Estado do Pará, visando esclarecer a opinião pública no tocante à<br />

execução dos serviços de água e esgoto da cidade de Belém, afetos, por contrato<br />

assinado em data de 19 de abril de 1945, à firma Byington & Companhia, tem a<br />

declarar: 1°) Sempre constituiu decidido empenho do atual governo evitar sofresse<br />

solução de continuidade a prossecução de tão notável empreendimento e, assim,<br />

jamais pretendeu a iniciativa de rescisão do contrato em questão, máxime na<br />

presente conjuntura, quando essa medida extrema somente graves e irremediáveis<br />

prejuízos ao interesse público poderia acarretar. 2°) Dadas, porém, as tremendas<br />

dificuldades financeiras do Estado, que não dispõe no momento, dos recursos<br />

necessários para a realização total do grandioso tentame, resolveu o governo entrar<br />

em entendimento com a firma contratante, para uma concentração de esforços tendo<br />

por escopo ultimação e entrega à serventia pública dos serviços que se acham em<br />

vias de conclusão, adiando-se para melhor oportunidade o início de quaisquer<br />

realizações previstas no ataula plano geral, com o que ficará o erário estadual<br />

desonerado dos encargos que viriam a exercer as suas atuais possibilidades.<br />

(MOURA apud FEITOSA, 1994, p. 217-218).<br />

14 A Fundação SESP realizava, dentre outras atividades, exames semanais de amostras da água que abastecia a<br />

cidade de Belém, “[...] sempre em ponto diferentes da rede geral e cujo resultado é dado a conhecer à população<br />

através da impremsa”. Feitosa (1994, p. 226).<br />

68


Apesar desses esforços a população continuava insatisfeita com o abastecimento<br />

de água, desta indignação surgiam críticas ao Departamento Estadual de Águas. Esse estado<br />

repercutia na literatura regional, como podemos observar em alguns trechos do poema<br />

Devaneios de quem tem sede, publicado no jornal O Estado do Pará, do dia 04 de fevereiro de<br />

1949, de autoria de Zé do Povo :<br />

Em vez de andar pensando nas mangueiras<br />

Deste Belém, por noites tenebrosas,<br />

Ó Ebremar! Tem pena das torneiras.<br />

Deixa de mão os cântigos bizarros<br />

Pois sem água e com música melosas<br />

Parecem até o farol do João de Barros.<br />

(ZÉ DO POVO apud FEITOSA, 1994, p. 220-221)<br />

No ano de 1962, o Departamento Estadual de Águas passa a denominar-se de<br />

Departamento de Águas e Esgotos, logo depois é criado pela gestão municipal o Serviço<br />

Autônomo de Água e Esgoto de Belém (SAAEB), e no ano de 1970 é criado na esfera<br />

Estadual a Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA).<br />

Nesse período ocorreu a criação de uma Secretaria Municipal de Habitação e<br />

assunção da gestão do Sistema de Água e Esgoto do Município de Belém o SAAEB que já<br />

existia há 28 anos, e que por ela não era administrado. Criou-se uma gestão participativa em<br />

relação ao orçamento público e ampliou-se significativamente o sistema de água e<br />

esgotamento sanitário nas áreas de expansão urbana onde pouco ou quase nada existia.<br />

No final do século XX um novo padrão de gestão pública passou a administrar a<br />

cidade de Belém e propondo um modelo de inversão de prioridades referentes às áreas fiscal e<br />

tributária no sentido de taxar como valores elevados os locais melhores infra - estruturados da<br />

cidade com cobrança do IPTU, por exemplo, para aplicá-lo nas áreas de menor infra-estrutura<br />

urbana.<br />

69


No diagrama 01 visualizado na pagina mostramos um resumo das instituições que<br />

fizeram e fazem parte da história da evolução urbana da cidade de Belém, voltando-se para o<br />

setor de água e esgoto sanitário.<br />

70


A questão de água e esgoto enquanto foco de estudo está atrelado a outros<br />

processos inerentes à nossa sociedade, como os político-econômicos e sociais. Em virtude<br />

disso, a criação das redes de abastecimentos de água e esgoto para as cidades nos faz refletir<br />

em questões do tipo: água para atender a quem e aonde no contexto do espaço urbano? Com<br />

que finalidade? Que concepções de projetos foram adotadas para abastecer a cidade de<br />

Belém? O atendimento do sistema é universal, equânime e homogêneo em termos qualitativo<br />

e quantitativo? Essas são apenas algumas perguntas que podem ser problematizadas quando<br />

trabalhamos esta temática.<br />

Neste capítulo, veremos como os processos político-econômicos e sociais<br />

influenciaram na realização de obras de infra-estrutura intra-urbana de saneamento básico<br />

para a cidade de Belém. Nos reportaremos para os acontecimentos que marcaram o cenário<br />

nacional e regional nos séculos XVII, XVIII, XIX e XX com a finalidade de traçarmos um<br />

paralelo com as ações públicas na área de água e esgoto da região norte, no caso, na cidade de<br />

Belém no Estado do Pará.<br />

2.6 A Cidade de Belém no Cenário Político-Econômico Nacional e Internacional<br />

A primeira tentativa sistemática de transformar a Amazônia em um pólo<br />

econômico data de 1730, com esforços de missionários e colonos, que resultaram no aumento<br />

da exportação do cacau de 28. 216 arrobas, em 1730, para 58.910 em 1740. Posteriormente,<br />

com a autuação do Marques de Pombal, foi criada a Companhia Geral do Grão-Pará (1755-<br />

1778), que consolidou, segundo SANTOS (1980, p. 17):<br />

O contato entre a região e os mercadores da Europa pela rota marítima que ligava<br />

Belém a Lisboa, e introduzindo o escravo africano capaz de substituir o índio<br />

esquivo, logrou a Companhia montar uma organização produtiva importante em<br />

escala regional. (Grifo Nosso)<br />

71


Esta instituição era caracterizada por ações que organizavam o comércio entre<br />

colônias e metrópoles como fala Dias (1970, p. 14)<br />

As chamadas Companhias de Comércio foram instrumentos de alto rendimento de<br />

que se valeram os povos que se lançaram à empresa de europeização da terra.<br />

Ingleses e franceses, através delas, criaram e fortificaram os respectivos impérios no<br />

Oriente, na África e nas Américas.<br />

Segundo, Fausto (2002, p. 59-60) o objetivo desta Companhia era desenvolver a<br />

região Norte “oferecendo preços atraentes para mercadorias aí produzidas e consumidas na<br />

Europa, como o cacau, o cravo, a canela e já agora o algodão e o arroz, transportadas com<br />

exclusividade nos navios da companhia”.<br />

Contudo, a política pombalina resultou em fracasso, porque seu programa<br />

econômico marginalizava alguns setores comerciais do Brasil, juntando-se a isso, temos nas<br />

palavras de Fausto (2002, p. 60) as explicações para o fracasso desta política econômica, ao<br />

comentar que:<br />

O programa econômico de Pombal foi em grande medida frustado porque em<br />

meados dos séculos XVIII a Colônia entrou em um período de depressão econômica<br />

que se prolongou até o fim da década de 1770. As principais causas da depressão<br />

foram a crise do açúcar e, a partir de 1760, a queda da produção de ouro. Ao mesmo<br />

tempo em que as rendas da Metrópole caíam, cresciam as despesas extraordinárias<br />

destinadas a reconstruir Lisboa, destruída por um terremoto em 1755, e a sustentar<br />

as guerras contra a Espanha, pelo controle da extensa região que ia do sul de São<br />

Paulo ao rio da Prata.<br />

As ações desta companhia não chegaram aos trinta anos devido a fatores políticos<br />

e econômicos, mas durante sua existência a Amazônia começava a organizar-se<br />

economicamente. E durante muitos anos, o cacau formava o eixo principal da economia<br />

72


amazônica, assim como em outras épocas, onde o café, o açúcar e a borracha, foram os pilares<br />

econômicos das regiões, Centro-Sul, Nordeste e Norte, respectivamente.<br />

Em meados do século XVII o cacau foi um produto muito solicitado no mercado<br />

europeu, pois era a matéria-prima do chocolate que estava fazendo muito sucesso por suas<br />

propriedades.<br />

Mas para nossa análise este ponto relaciona-se da seguinte forma, ou seja, as<br />

primeiras tentativas de estabelecimento de atividades lucrativas na Amazônia, incluindo a<br />

cidade de Belém, tiveram caráter econômico que menosprezavam a necessidade de infra-<br />

estrutura urbana na cidade. Porém, partimos dos seguintes pressupostos para explicar esse<br />

argumento:<br />

1) As medidas criadas, por parte do governo português, para encontrar formas de<br />

lucratividades na colônia tinham objetivos óbvios, ou seja, apenas extração de<br />

produtos para aumentar a riqueza da Corte Portuguesa;<br />

2) A cidade de Belém servia apenas como mediadora para as exportações entre a Colônia<br />

e a Metrópole.<br />

A atividade extrativa, especificamente do cacau, despontava como principal fonte<br />

de renda no período que vai de 1790 a 1805, deixando a produção agrícola e de gêneros de<br />

subsistência, como algodão e arroz, respectivamente, em um patamar secundário, até porque a<br />

região amazônica não estava preparada para essas culturas agrícolas.<br />

Nesta conjuntura, Belém possuía uma população com uma renda per capita baixa, em média a<br />

49 dólares com valores do ano de 1972 (ver gráfico 05 abaixo), e devido esse fator a<br />

economia local vive em função de fatores externos.<br />

73


3.000.000<br />

2.500.000<br />

2.000.000<br />

1.500.000<br />

1.000.000<br />

500.000<br />

0<br />

1800<br />

1810<br />

1820<br />

População e Renda Interna na Amazônia (1800 -1960)<br />

1830<br />

Fonte: Santos, 1980, p. 13.<br />

1838<br />

1845<br />

1855<br />

1865<br />

1875<br />

1885<br />

Renda Interna (mil cruzeiros de 1972)<br />

População Total<br />

Gráfico 05<br />

Os acontecimentos internacionais que ocorreram durante a década de 1790<br />

favoreceram a economia da região amazônica, como escreve Santos (1980, p.21-22)<br />

1895<br />

O advento da década de 1790 vai contribuir num quadro de coincidências felizes<br />

fatores externos e internos que se completam: primeiro, a firme elevação de preços<br />

na economia mundial entre 1790 e 1815, que repercute sobre as cotações do cacau<br />

em Amsterdã e em Belém; segundo, a vantajosa retração venezuelana, que já se<br />

aludiu, agravada pelas lutas intestinais no sentido da independência; terceiro, as<br />

próprias facilidades que tais circunstâncias criaram para as administrações locais:<br />

Souza Coutinho, na governança do Pará,e Lobo D’Almada, no Rio Negro (1786-<br />

1799), realizam obras e fomentos que melhores historiadores da região registram<br />

com calor.<br />

Os fatos externos são elementos influenciadores na hora das decisões<br />

governamentais locais, como foi verificado com o crescimento econômico vivido pelos<br />

negociantes localizados na cidade de Belém. Os reflexos desse processo eram sentidos na<br />

estrutura urbana e social de Belém. Contudo nos anos seguintes, esse sutil avanço sofreu<br />

profundos abalos, assim como se agravaram as condições sanitárias de Belém - que já eram<br />

calamitosas desde sua fundação -, que ficaram em estado de total degradação como veremos<br />

no discorrer de nossa análise.<br />

1905<br />

1915<br />

1940<br />

1960<br />

74


Em Santos (1980, p. 23), vamos encontrar explicações para a calamitosa realidade<br />

que a Amazônia viveu no início do século XIX. Segundo este autor, o fato da economia<br />

amazônica não possuir uma solidez, no sentido de ter acesso aos mercados externos,<br />

especialmente o do cacau, e também, dela não possuir um aparato tecnológico capaz de<br />

competir com as inovações de outros países, exportadores de produtos encontrados no Brasil,<br />

e por fim, a baixa renda da população, não davam condições para desenvolver-se uma<br />

economia forte e eficiente que refletisse na estrutura urbana das cidades amazônicas.<br />

Tendo na extração vegetal a principal atividade econômica, a Amazônia<br />

despontava como exportadora de produtos florestais como mostra o Quadro 05:<br />

Quadro 05 - Exportação de produtos da Amazônia<br />

Produtos (kg) 1800 1890 1900 1910<br />

Algodão 238.950 4.610 - -<br />

Arroz 1.362.540 673.800 89.298 108.668<br />

Cacau 1.907.715 2.835.000 2.260.690 2.198.652<br />

café 73.545 - - -<br />

Feijão ... ... ... 10.697<br />

Fumo ... 391.004 368.367 1.032.714<br />

Mandioca ... 35.999.180 38.888.677 51.436.980<br />

Milho ... ... 396.996 2.067.825<br />

Fonte: Barata; Cordeiro et alli. apud SANTOS (1980, p. 182).<br />

No âmbito institucional, a cidade de Belém no período colonial, enquadrava-se<br />

dentro do limite territorial, criado por Portugal em 1621, chamado de Estado do Maranhão<br />

que era uma espécie de segunda colônia que estava diretamente ligada ao governo português<br />

e, ia desde o Ceará até o Amazonas (Furtado, 1977, p. 67). Durante a primeira metade do<br />

século XVII a região paraense prosperava com exportação de produtos florestais, como cacau,<br />

baunilha, canela, cravo e resinas aromáticas.<br />

Porém, segundo Furtado (1977, p. 67-68), essa parte colonial passava por sérios<br />

problemas, desde sua criação, porque ficava evidente que este espaço foi criado com<br />

interesses militares, onde a segurança da parte norte da colônia era uma garantia de futuros<br />

domínios territoriais e, por esse e outros motivos, a preocupação com a estrutura urbana e a<br />

75


economia nos primeiros anos de colonização, tiveram pouca relevância para o governo<br />

português.<br />

Com essa configuração a cidade de Belém era um espaço repleto de contradições,<br />

onde a desigualdade social refletia-se em todas as áreas, inclusive, na do saneamento básico,<br />

como veremos no tópico seguinte.<br />

2.7 A Rede de Esgoto em Belém<br />

A discussão acerca da criação da rede de esgoto para a cidade de Belém<br />

iniciara em 1906 quando os efeitos do “Ciclo da Borracha” ainda se faziam sentir na capital<br />

paraense. Para Silva e Pereira (2003):<br />

As primeiras iniciativas para a estruturação do SES de Belém coincidiram<br />

com o ciclo da borracha, sendo, em 1906, constituída a Municipality of Para<br />

Improvement Ltda, para gerenciamento desse sistema, que, por sua vez,<br />

contratou a empresa inglesa Douglas Fox & Partner para elaboração dos<br />

estudos iniciais, o que resultou no projeto de 79 Km de rede coletora.<br />

(SILVA e PEREIRA, 2003, p. 126).<br />

A cidade de Belém teve a primeira manifestação sobre a questão do esgoto em<br />

1915, no período final do ciclo da borracha no Pará. A firma que ficou responsável pela<br />

implantação da rede era de origem inglesa, e nessa época já havia instalado 40 km de rede de<br />

esgoto na cidade.<br />

Com o fim do período áureo da borracha esta rede inicial, ficou inativa até<br />

1967, segundo informações do Plano Diretor para a Grande Belém - PDGB, “quando as<br />

obras de implantação foram retomadas essa rede encontrava-se, em sua maior parte,<br />

perfeitamente utilizável”. (PDGB, 1975, p. 188).<br />

Em 1950, a firma Byngton & Co. elaborou o primeiro projeto de rede de<br />

esgoto com características modernas para a cidade de Belém, definindo a configuração que<br />

76


perdura até os dias atuais com atuação em 4 bacias. Esta iniciativa teve atuação conjunta do<br />

Governo do Estado e da Prefeitura Municipal de Belém “financiando a contratação da<br />

Byington & Cia para a realização dos estudos, projetos e obras necessárias para recuperação<br />

do sistema existente” (Byington & Cia, 1962). As figuras 07 e 08 mostram a rede coletora<br />

idealizada e parcialmente construída até 1915:<br />

Figura 07 - Representação esquemática da rede coletora assentada entre 1906-1915<br />

Fonte: Adaptado de Byington & Cia (1962) apud Silva e Pereira (2003, p. 128).<br />

77


Fig. 08 – Caracterísitcas das Bacias de Esgotamento Sanitário Conforme concepção da<br />

Empresa Byington & Cia.<br />

Fonte: Adaptado de Byington & Cia (1962) apud Silva e Pereira (2003, p. 128).<br />

78


O período de alcance do projeto foi de 30 anos (1955-1985) , tendo como<br />

objetivo atender 427.000 habitantes da Primeira Légua Patrimonial da cidade de Belém. A<br />

área foi dividida em quatro bacias de esgotamento, sendo todo esgoto coletado e encaminhado<br />

para lançamento subaquática na Bacia do Guajará.<br />

Quadro 06 – Características das Bacias de Esgotamento Sanitário Resultantes da<br />

Concepção de Projeto Apresentado pela Empresa Byington & Cia em 1955.<br />

Bacias Áreas (ha) Denominação Limites<br />

1 276 Igarapé das Almas Rua de Guajará,<br />

Rua Dom Pedro,<br />

Av. Generalíssimo<br />

Deodoro, Av.<br />

2 238 Av. Almirante<br />

Tamandaré<br />

3 1.791 Dique de Belém<br />

(atual Bernardo<br />

Sayão)<br />

Gentil Bittencourt<br />

Praça Batista<br />

Campos, Av.<br />

Conselheiro<br />

Furtado, Rua<br />

Cesário Alvim e<br />

Rio Guamá<br />

Bacia 2, Av. Tito<br />

Franco, Instituo<br />

Agronômico do<br />

Norte e Rio Guamá<br />

4 1.361 Igarapé do Una Baía de Guajará,<br />

Companhia Força e<br />

Luz S/A, dos<br />

SNAPP, dos<br />

Correios e<br />

Telégrafos, da base<br />

Aérea e Avenida<br />

Tito Franco<br />

Total 3.660 - -<br />

Fonte: Adaptado de Byington & Cia (1962) apud Silva & Pereira, 2003. p. 130<br />

No início da década de 70, as firmas PLANTA E GUANDU reformularam o<br />

projeto das bacias 1 e 2 e finalmente, em 1973, a PLANTA reformulou o projeto das bacias 3<br />

e parte da bacia 4.<br />

79


No final da primeira metade da década de 70, achava-se em execução o projeto<br />

definitivo do Lançamento Subaquático do Guajará, a cargo do Escritório Saturnino de Brito e<br />

da CENSA. A situação do sistema de esgotos no fim de 1974 era seguinte:<br />

1. Rever os seus parâmetros de projetos, adotando as reformulações cabíveis, pois a<br />

população limite prevista de 1 050 000 habitantes deverá ser atingida ainda na<br />

primeira metade da década de 80, conforme as projeções da Consultora elaboradas em<br />

fevereiro de 1975;<br />

2. Prover os núcleos urbanos de Icoaraci, Mosqueiro e Ananindeua de sistemas locais de<br />

esgotos sanitários tecnicamente adequados às suas necessidades. (PDGB, 1975, p.<br />

191).<br />

Foi somente a partir do ano de 1987 que houve em Belém ações - voltadas para<br />

a estruturação do sistema de esgotamento sanitário - caracterizadas pelo planejamento e<br />

elaboração de projetos, tendo segundo Mendes & Pereira (2003, p, 144), a “COSANPA<br />

elaborado o Plano Diretor de Esgotamento Sanitário - 1987 e solicitado financiamento para<br />

Programas isolados de esgotamento sanitário”.<br />

O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém - SAAEB, também na<br />

década de 80, iniciou a elaboração de projetos e a captação de recursos para aplicação no<br />

sistema de esgotamento sanitário da Região Metropolitana de Belém.<br />

Apesar dessas ações para melhorar as condições sanitárias da cidade de Belém,<br />

o caso do esgoto sanitário é problemático, nos levando a concordar com alguns autores<br />

(MEN<strong>DE</strong>S, PEREIRA, SILVA, 2003) ao dizerem que Belém apresenta um significativo<br />

déficit de atendimento no setor de esgoto.<br />

80


2.8 O abastecimento de água sob a égide político-econômica<br />

No início do ano de 1800 Belém era uma cidade provinciana caracterizada por<br />

seus problemas urbanos, como os de abastecimento de água para sua população. Somando-se<br />

a isso, a estrutura política local era repleta de jogos de interesses, onde muitos atores se<br />

enfrentavam para usufruir as melhores vantagens de ordem política e econômica.<br />

Contextualizando a cidade de Belém, neste momento histórico, podemos dizer que<br />

ela insere-se nos processos que marcavam o Brasil, no caso, os inúmeros levantes em prol da<br />

independência do Brasil em relação a Portugal. Isso, em termos nacionais, porque no mundo<br />

havia ocorrido a Independência dos Estados Unidos da América (1776-1783); a revolução<br />

industrial estava em andamento; a Europa enfrentava a investida do Bonapartismo, fato esse<br />

que impulsionou a criação da Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, passo inicial para a<br />

abertura dos portos da colônia portuguesa para as nações amigas.<br />

A corrente econômica que predominava no mundo era o liberalismo econômico.<br />

Este pregava o livre comércio, a concorrência e a não intervenção do Estado na economia.<br />

Dessa forma, as nações capitalistas precisavam assumir o seguinte aspecto: 1) precisavam ter<br />

regimes políticos democráticos, e priorizar o mercado como ente salvador da sociedade.<br />

No entanto, o Brasil não apresentava as características das nações, onde esta<br />

corrente nascera, aqui termos o seguinte quadro:<br />

1) A atividade econômica era predominantemente agrícola, e necessitava de<br />

mão-de-obra escrava para manter sua dinâmica, portanto, pensar em estrutura<br />

política “democrática” não era o caso para as elites nacionais e regionais;<br />

2) O vasto território brasileiro apresentava diversas características que<br />

dificultavam o controle das localidades nacionais pelo poder central.<br />

81


A solução encontrada para se implementar o liberalismo no Brasil foi fazer um<br />

misto dessas características com as idéias capitalistas, que acarretou em um liberalismo<br />

diferente em solo brasileiro, onde o sistema escravocrata convivia lado a lado com as idéias,<br />

de liberdade e igualdade, emanadas de acontecimentos políticos europeus, como por exemplo,<br />

a Revolução Francesa.<br />

As idéias do liberalismo chegaram a Belém por intermédio de intelectuais<br />

paraenses que estudaram na Europa. Felipe Patroni foi um exemplo, pois se sentiu incentivado<br />

para disseminar idéias liberais no Estado do Pará, como se ver em Santos (1980, p. 33)<br />

Em 1821, repercutem no Pará as idéias da revolução liberal do Porto contra o<br />

absolutismo monárquico. O paraense Felipe Patroni se incumbe de divulgá-las,<br />

desde o seu desembarque em Belém, quando retorna da Europa. A princípio, pois, os<br />

movimentos políticos na Província têm por objetivo a incorporação do Pará ao<br />

sistema constitucional português. Mas, os reflexos do processo da independência<br />

que se desenrolava no sul do país e a presença de nativistas locais lutando pela<br />

autonomia administrativa dos brasileiros foram gerando uma atmosfera mais radical.<br />

Tendo em vista esses fatos históricos, o Brasil passava por seu processo de<br />

independência que foi concretizado no ano de 1822, com o episódio de D. Pedro I, nas<br />

margens do Ipiranga. Apesar desse ocorrido, adesão do Pará só aconteceu em 15 de agosto de<br />

1823, quase um ano depois de ser proclamada a independência do Brasil.<br />

Isso pode ser explicado pelo fato de que a cidade de Belém desde sua fundação<br />

esteve atrelada diretamente a Corte portuguesa, como, por exemplo, a guerra de Portugal<br />

contra a França, que resultou na invasão da Guina no início do século XIX, como escreve<br />

Santos (1980, p. 32)<br />

Em guerra com a França e temendo planos expansionistas de Bonaparte na América<br />

do Sul, D. João VI, já no Brasil, ordenou a invasão da Guiana por tropas<br />

82


paraenses. Numa área em que era escassa a mão-de-obra, mobilizou-se uma força<br />

expedicionária inicial de 600 homens. Grifo nosso.<br />

A Guiana foi invadida e ocupada por tropas paraenses, e passado o perigo francês,<br />

os soldados retornaram para o Pará e tiveram que enfrentar outra situação, que seria até<br />

mesmo mais grave que a invasão da Guiana.<br />

Na segunda década do século XIX, evidenciava-se no Pará uma série de levantes<br />

políticos que teriam seu ápice em 1835 com a Cabanagem. Os reflexos desse movimento<br />

repercutiram na estrutura da cidade com se observa em Cruz apud Santos (1980, p. 35) que<br />

observa no Gráfico 06:<br />

Considerando que a maior parte dos mortos pertencia ao grupo dos adultos, tem-se<br />

idéia do dramático desfalque sofrido pela população economicamente ativa. Não<br />

admira, assim, que em 1838 o presidente provincial Soares de Andréia (Barão de<br />

Caçapava) traçasse para a Assembléia da Província um quadro sombrio da economia<br />

paraense, agravado pela destruição dos ativos, - a maioria dos engenhos e fazendas,<br />

dos campos de agricultura e pecuária, etc. - o desaparecimento de escravos e, deve-<br />

se acrescentar, os surtos epidêmicos e a piora das condições sanitárias. (Grifo<br />

nosso).<br />

A taxa de mortalidade neste período, também, é bastante acentuada, como se<br />

138.000<br />

136.000<br />

134.000<br />

132.000<br />

130.000<br />

128.000<br />

126.000<br />

124.000<br />

122.000<br />

120.000<br />

118.000<br />

Fonte: Santos, 1980, p. 35.<br />

Gráfico 06<br />

População paraense entre 1820 a 1838<br />

137.017<br />

127.000<br />

1820 1835 1838<br />

População<br />

125.000<br />

83


No quadro nacional, na década de 1840-50, as disputas políticas se concentravam<br />

em torno do tema da centralização ou descentralização do poder. De um lado, ficavam os<br />

conservadores que agregavam magistrados e burocratas do governo e uma parte dos<br />

proprietários rurais, especialmente do Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, e os grandes<br />

comerciantes, entre os quais existiam muitos portugueses. Os liberais agrupavam a pequena<br />

classe média urbana, alguns padres e proprietários rurais de áreas menos tradicionais,<br />

sobretudo de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. (Fausto, 2002, p. 94).<br />

A Constituição de 1891 permitia que os “Estados e Municípios negociassem<br />

diretamente seus empréstimos externos”. (VILLELA e SUGIGAN, 2001, p. 25). Em virtude<br />

disso os Estados exportadores, principalmente São Paulo, foram os principais beneficiados<br />

com essa medida, como argumenta Fausto (2002, p. 141):<br />

A primeira Constituição republicana, promulgada em fevereiro de 1891, inspirou-se<br />

no modelo norte-americano, consagrando a República federativa liberal. Os Estados<br />

- designação dada daí para frente às antigas províncias - foram implicitamente<br />

autorizados a exercer atribuições diversas, como as de contrair empréstimos no<br />

exterior e organizar forças militares próprias: as forças públicas estaduais. As<br />

atribuições eram do interesse dos grandes Estados e, sobretudo, de São Paulo. A<br />

possibilidade de contrair empréstimos no exterior seria vital para que o governo<br />

paulista pudesse pôr em prática os planos de valorização do café. (FAUSTO, 2002,<br />

p. 141)<br />

Um problema angustiante para as pessoas que estavam envolvidas com o<br />

comércio da borracha era a questão da renda gerada por este negócio. Como se ver no estudo<br />

feito por Corrêa (1989, p. 106):<br />

A exportação da borracha em quantidades cada vez maiores fez com que a renda<br />

gerada na Amazônia apresentasse um grande crescimento nos fins do século XIX e<br />

no início do século XX. Entretanto, só parte desta renda ficava retida na região.<br />

Grifo nosso.<br />

84


No ano de 1898 foi assinado o acordo moratório da dívida externa, que suspendia<br />

todos os pagamentos por um período de 13 anos, como mostram Villela e Sugigan (2001, p.<br />

27):<br />

Pelo acordo, os credores exigiam a eliminação do déficit orçamentário, e a retirada<br />

de circulação de quantia equivalente à soma total do empréstimo, ao câmbio de 18<br />

dinheiros por mil-réis. Essas quantias iriam sendo retiradas de circulação à medida<br />

que fossem emitidos os títulos de acordo, e incineradas até que o câmbio se tornasse<br />

favorável.<br />

Esse acordo nos permitiu compreender as mudanças que ocorreram na cidade de<br />

Belém no início do século XX, na área de água e esgoto sanitário, porque através dessa lógica<br />

nosso argumento ganha força, no sentido de que nada acontece por acaso. Dizendo de outra<br />

forma, a capital paraense passou por uma grande transformação durante a administração do<br />

intendente Antonio Lemos, pois os empréstimos para obras de infra-estrutura urbana foram<br />

feitos a partir da esfera estadual, que negociava diretamente com bancos e empresários<br />

estrangeiros.<br />

2.9 Belém durante o período áureo da produção gomífera<br />

Para este tópico usaremos a classificação estabelecida por Santos (1980, p. 13),<br />

que aponta para o período entre 1840 a 1910, com sendo a fase da expansão gomífera na<br />

Amazônia. Em meados do século XIX, fatores externos fizeram da região amazônica um<br />

espaço cobiçado por capitalistas nacionais e estrangeiros.<br />

Dentre 1840 a 1850, o Estado do Pará recuperava sua política e economia,<br />

desfragmentados pelo processo desencadeado pela revolta cabana. Após, surgia no mundo a<br />

85


industria automobilística que precisaria da borracha com matéria-prima, cuja Amazônia<br />

possuía em grandes proporções.<br />

A situação da Amazônia estaria traçada a viver por um tempo sob a produção da<br />

borracha, onde um conjunto de elementos favoreceu a nova condição da Amazônia no mundo,<br />

conforme comenta SANTOS (1980, p. 75)<br />

Precedida de um conhecimento científico que se desenvolvia desde 1736, a<br />

descoberta da vulcanização da borracha nos Estados Unidos e Inglaterra, cerca de<br />

um século após, criaria novas oportunidades para a combalida economia da<br />

Amazônia. A firmeza e longa duração da procura externa do produto suscitaria uma<br />

atmosfera propicia aos negócios regionais, justificando a imposição de tecnologia<br />

então moderna no setor dos transportes (navio a vapor em 1853) e a orientação<br />

decidida de recursos para a produção gomífera.<br />

Para termos uma idéia da importância da borracha, verifiquemos a demanda deste<br />

produto, tomando por base as importações da Grã-Bretanha, que em 1830, importou 200 kg,<br />

em 1857, 10.000 kg e, em 1874, 58.000 kg.<br />

Novas invenções impulsionaram a necessidade de consumo de borracha no<br />

mercado mundial, uma delas foi à invenção da roda pneumática por Dunlop, em 1888<br />

(PROST, 1998, p. 18), que beneficiou a industrialização de pneus. Desde então, crescia<br />

rapidamente e a necessidade de mais borracha no mercado, elevando a Amazônia ao patamar<br />

de principal fornecedor dessa matéria-prima, como mostra o Gráfico 07:<br />

86


Toneladas<br />

45000<br />

40000<br />

35000<br />

30000<br />

25000<br />

20000<br />

15000<br />

10000<br />

5000<br />

0<br />

Fonte: Santos apud Prost (1998, p. 19)<br />

Gráfico 07<br />

Produção da Borracha (em toneladas)<br />

30<br />

460<br />

1900<br />

8500<br />

Com a crescente demanda internacional da borracha, as indústrias paraenses<br />

também aumentaram em número que passaram de 15 para 154, entre 1860 e 1919 (PROST,<br />

1998, p. 37). A cidade de Belém antes da fase da borracha, concentrava-se basicamente em<br />

dois bairros: a) a Cidade velha e b) o Comércio, posteriormente com o grande fluxo<br />

populacional, em virtude da febre da borracha, a área urbana cresceu desordenadamente.<br />

A importância regional de Belém no período foi enorme, porque se tornou um<br />

entreposto comercial, sendo a terceira cidade mais importante do país, ficando atrás, apenas<br />

1600<br />

de São Paulo e Rio de Janeiro, como observa Prost (1998, p. 47):<br />

Com possibilidades excepcionais, decorrentes da renda da economia da borracha,<br />

tratou-se de modernizar a capital, imitando as cidades européias com os últimos<br />

requisitos do urbanismo moderno. Esta foi a política, sobretudo, do intendente<br />

Antônio Lemos. (PROST, 1998, p. 74).<br />

27000<br />

13000 15500<br />

35000<br />

1827<br />

1840<br />

1850<br />

1880<br />

1890<br />

1900<br />

1905<br />

1910<br />

Anos<br />

41000<br />

10500 9500<br />

Amazônia<br />

Pará<br />

87


Em 1897, assume a intendência 15 de Belém, Antonio Lemos, o Governador do<br />

Estado do Pará era Paes de Carvalho. O período de administração deste intendente merece<br />

nossa atenção, pelo fato de muitas obras terem sido realizadas em seu governo. Segundo<br />

Prost, (1998, p. 48-49), a política de higiene de Lemos teve como realizações as seguintes<br />

obras:<br />

1) Construção dos mercados de ferro e do Mercado do Ver-o-peso;<br />

2) Implantou-se uma rede de água e esgotos;<br />

3) As construções e os espaços exteriores sofreram influência da arquitetura da França,<br />

Inglaterra e Itália.<br />

As ações realizadas por Antonio Lemos são retratadas por Pereira (1995, p. 2), em<br />

estudo sobre a modernidade e higiene vistas na cidade de Belém durante a administração<br />

deste intendente, no qual destaca:<br />

A cidade de Belém encarnando o ideal de progresso e prosperidade, aproveitando a<br />

orientação da economia da borracha no sentido da demanda do comércio, dá início a<br />

um ambicioso projeto de transformação, intensificado durante a administração de<br />

Antonio Lemos. Saneamento, coleta de lixo, abertura de ruas, sistema portuário<br />

moderno, eletricidade, edifícios públicos suntuosos, serviços telefônicos, bondes<br />

elétricos, residências confortáveis, arborização que atestam a modernidade da<br />

cidade.<br />

A cidade foi organizada para atender os interesses das classes ricas, onde a<br />

modernidade da cidade estava associada à beleza e ao conforto. Conforme, Alvares apud<br />

Pereira (1995, p. 27), a política de Antonio Lemos em relação à urbanização e higiene da<br />

cidade de Belém era excludente e estava mais relacionada:<br />

15 Designação dada a atual prefeitura municipal de Belém.<br />

88


À fisionomia do logradouro do que com a melhoria das condições de vida das<br />

camadas populares, a quem se escorchava de impostos, de imposições nas suas<br />

subordinações de vida; transferia-se destas classes para os empresários -<br />

pertencentes à elite - as responsabilidades dos serviços formais e até informais,<br />

retirando-lhes a possibilidade de garantia, por esses meios, a sua subsistência. No<br />

discurso do intendente, percebido através de seus relatórios, a reurbanização da<br />

cidade direcionava-se para as camadas pobres, contrariando as práticas cujas<br />

“pistas” são visíveis nas principais mudanças efetivadas na cidade. Seriam, ao que<br />

consta, uma modernidade para poucos. (grifo do autor)<br />

O arranjo político da época favorecia as pessoas mais esclarecidas e informadas<br />

sobre os assuntos da área política e econômica, onde 60% da população paraense em 1920 era<br />

analfabeta, a da capital 40%. Eram poucos os que se interessavam e estavam à parte dos<br />

acontecimentos políticos, cuja disputa no cenário local rondava entre liberais e conservadores,<br />

os primeiros representados pelo Intendente Antonio Lemos, os segundos, por Lauro Sodré,<br />

representante dos grandes fazendeiros.<br />

O comentário de Santos (1980, p. 244) sobre o aspecto político do Pará neste<br />

período torna-se relevante para nossa analise ao dizer que:<br />

O caso paraense é notório pelo personalismo da luta entre os protagonistas. O<br />

Intendente Lemos brilhara como administrador de Belém quando o celebrado<br />

Augusto Montenegro, ex-líder do presidente Campos Sales, estivera à testa do<br />

governo estadual (1901-1909). Caudilho poderoso e às vezes violento, Lemos<br />

empenhara com menor entusiasmo, em prol de João Coelho. Enquanto isso, um<br />

grupo de apoio a Lauro Sodré, encastelado em jornal de grande penetração, fazia<br />

cerrada oposição a Lemos. Do plano político, a animosidade entre o grupo<br />

“lauriasta” e o “lemista” passou rapidamente ao plano pessoal, alimentada por sinais<br />

inequívocos de irreconciliabilidade.<br />

Com o início do ciclo da borracha, a cidade de Belém, passaria por grandes<br />

transformações na área urbana. Uma delas foi o crescimento populacional, onde imigrantes<br />

89


estrangeiros e nacionais rumaram para Amazônia, Santos (1980, p. 87-88) diz que houve<br />

imigrações espontâneas, dirigidas e induzidas.<br />

Segundo este autor, a imigração dirigida é aquela efetivada pelo governo ou por<br />

particulares para fins agrícolas; a espontânea foi provavelmente motivada, por um lado, pela:<br />

[...] construção da Estrada de Ferro Madeira-Marmoré, e de por outro, a fama do<br />

crescimento econômico regional particularmente o disparo dos preços da borracha<br />

desde 1909 até 1910, devido à necessidade de reconstituição dos estoques nos<br />

centros industriais do exterior; tanto assim que para 1912 a fonte estatística já não<br />

acusa entrada alguma de estrangeiros no porto de Belém. (Santos, 1980, p. 88-89)<br />

A imigração induzida, segundo Santos (1980), acontecia por intermédio de<br />

pessoas más intencionadas, que arregimentavam homens no nordeste brasileiro para trabalhos<br />

na extração da borracha. Diante dessa dinâmica os estrangeiros vieram em busca de<br />

enriquecimento rápido, como se nota pelo aumento da migração para a região expressada no<br />

gráfico 08:<br />

5%<br />

3%<br />

4%<br />

5%<br />

7%<br />

16%<br />

Fonte: Santos 1980, p. 88.<br />

Gráfico 08<br />

Imigração Estrangeira no Quadriênio 1908-11<br />

14%<br />

46%<br />

Portugueses<br />

Espanhóis<br />

Ingleses<br />

Turco-árabes<br />

Franceses e alemães<br />

Italianos<br />

Norte-americanos<br />

Outros<br />

90


Porém, a imigração regional e estrangeira fracassou e resultou em sérios<br />

problemas para as pessoas que se instalaram nos seringas, ficando cada vez mais pobres e<br />

miseráveis e se concentrando nos núcleos urbanos em busca de emprego e melhores<br />

condições de vida. Somente no porto de Belém, deram entrada entre 1908 a 1911, 15.000<br />

imigrantes. (SANTOS, 1980, p. 88).<br />

O fluxo de capital no Estado do Pará aumentava e os empréstimos foram se<br />

tornando uma prática entre os governantes, como observa Santos (1980, p. 137)<br />

[...] empréstimo de 1901, contratado com Seligman Brothes, de Londres, no valor de<br />

£ 1.450.000, com juros de 5%-ouro e tipo de 69%, resgatável em 50 anos. Produziu<br />

líquidas somente £ 1.000.000, ou vinte mil contos de réis. Esse empréstimo teve por<br />

fim resgatar a dívida fundada existente e pagar a dívida flutuante, reservando-se um<br />

saldo de 4.000 contos para o Tesouro do Estado. A garantia da operação consistiu na<br />

totalidade das rendas do Estado, “inclusive a receita da Estrada de Ferro e do<br />

abastecimento de água, havendo ainda uma hipoteca especial de todos os impostos<br />

de exportação”. Grifo nosso.<br />

O consumo anual, já em 1900, era superior a 50.000 toneladas, e a produção<br />

regional havia estagnado em volta de 40.000 toneladas. O preço da borracha caiu brutalmente,<br />

a partir de mês de maio de 1910, pela entrada da produção asiática, suprindo a demanda<br />

mundial, em 1910 a produção chegava a 76.000 toneladas, e a 240.000 em 1919. A<br />

conseqüência do declínio da borracha para Belém foi sério, e as importações diminuíram<br />

50%, porque não havia dinheiro para importar. E a queda dos impostos (sobre as exportações)<br />

impediu que o governo terminasse as obras públicas que beneficiariam a economia. (PROST,<br />

1998, p. 40).<br />

O contexto do declínio da borracha acarretou em sério problema para a cidade de<br />

Belém, como discerne Santos (1980, p. 239)<br />

91


Não se dispõe de descrição pormenorizadas dos dramas ocorridos naquela época, do<br />

aumento do desemprego de dezenas de milhares de indivíduos numa área que desde<br />

1900 e particularmente após 1908 sofria a martelação intermitente dos preços, da<br />

concentração de ociosos nas cidades, do fechamento melancólico de seringais, da<br />

paralisação quase completa de uma frota fluvial que se considerava a maior do<br />

mundo [...] Poder-se-ia imaginar o agravamento dos problemas sanitários. Por<br />

felicidade, no entanto, algumas medidas tomadas no passado - como a de<br />

abastecimento regular de água, iniciação da rede de esgotos, remoção e<br />

cremação do lixo urbano, etc. - além da memorável campanha de Oswaldo Cruz<br />

contra a febre amarela em Belém, entre 1910 e 1911, o funcionamento razoável dos<br />

serviços de assistência sanitária, vacinações, etc. Grifo nosso.<br />

Os acontecimentos que marcaram o mundo durante o ano de 1929 e o Brasil em<br />

1930 foram os marcos políticos e econômicos para a nova configuração da cidade de Belém.<br />

Estamos nos referindo a crise de 29, e a ascensão de Getúlio Vargas ao Poder Federal.<br />

Sobre esse período, no Brasil, há uma maneira de se entender as políticas que marcaram o<br />

governo getulista e sua influência na Amazônia, como comentam Ianni (1971); Skidmore<br />

(1982); Villela & Suzigan (1972) apud Machado (1997, p. 28):<br />

[...] as principais inovações atribuídas a sua administração podem ser grosseiramente<br />

agrupadas em quatro categorias não-excludentes: centralização, regulamentação,<br />

incentivos à iniciativa privada e intervenção direta do Estado [...] embora a<br />

interpretação do período ainda seja objeto de controvérsias, um consenso existe<br />

segundo o qual Vargas fortaleceu o aparato do governo federal.<br />

Foi nesse período que a ideologia do “espaço vazio” perdurou ignorando, tanto a<br />

floresta, quanto os nativos que a habitavam já há muito. Isso se explica pela lógica de que a<br />

vontade de controle político esteve sempre associada às vantagens econômicas, embora,<br />

“...neste momento sem muito êxito” como fala Machado (1997, p. 31)<br />

92


2.10 Os Anos Bélicos<br />

No tempo da Primeira Guerra Mundial (1914-18) a Amazônia se encontrava em<br />

estado lastimável no âmbito político e econômico, Santos (1980, p. 278), resume esse quadro<br />

da seguinte forma:<br />

[...] a aguda contração da atividade econômica, o caos das finanças públicas, a<br />

incompetência técnica da União, e em geral a penúria de recursos não tenham<br />

desembocado em insurreição generalizadas, intensa propaganda separatista, a grande<br />

fome epidêmica, etc.<br />

A maior parcela da renda era apropriada pelo governo central – como em 1910,<br />

onde cerca de 62% da arrecadação total da região ficaram com este Poder – essa arrecadação<br />

não era acompanhada de investimentos federais. (Ver gráfico 09)<br />

80000<br />

70000<br />

60000<br />

50000<br />

40000<br />

30000<br />

20000<br />

10000<br />

0<br />

Fonte: Santos, 1980, p. 193.<br />

Gráfico 09<br />

Evolução das Receitas Públicas segundo as unidades da Amazônia: 1890-1915 (contos de<br />

réis)<br />

44220<br />

55881<br />

20452<br />

20255<br />

18629<br />

14035<br />

16063<br />

13834<br />

9764 10640<br />

9155<br />

9155<br />

8887<br />

3196<br />

6611<br />

1075<br />

O conflito “mundial” que, como se sabe, envolveu apenas os países com maior<br />

poder político e econômico do início do século XX (Inglaterra, Alemanha, Itália), sendo<br />

assim, a guerra travada entre esses países atingiria de forma peculiar cada região e/ou locais<br />

influenciados por suas políticas e economias.<br />

30663<br />

O Brasil se inseria neste contexto na medida em que mantinha cooperações<br />

bilaterais e multilaterais com os países aliados. Principalmente, Inglaterra e Estados Unidos<br />

72771<br />

41876<br />

29332<br />

1890 1900 1905 1910 1915<br />

anos<br />

No Pará<br />

Federal<br />

Estadual<br />

Municipal<br />

93


da América. Temos como exemplo dessa dinâmica, o “Contrato assinado entre o Ministério<br />

da Educação e Saúde e o Instituto de Assuntos Interamericanos, uma agência do Governo dos<br />

Estados Unidos e teve sua continuidade garantida por vários Contratos assinados por períodos<br />

variáveis”, iniciado em 1942, como o nome de Programa Cooperativo de Saúde e Saneamento<br />

- Brasil/Estados Unidos da América.<br />

Contudo, conforme Bastos (1993, p. 35-36) este contrato durou 18 anos e<br />

trabalhava seguindo as seguintes diretrizes:<br />

O programa representou um tremendo e extraordinário esforço em estimular a ajuda<br />

mútua através de cooperação, treinamento, encorajamento e interesse nos problemas<br />

básicos do país.<br />

Concentrando inicialmente, em áreas que dispunham de materiais estratégicos<br />

necessários para atender as necessidades das Nações Unidas empenhadas na 2ª<br />

Guerra Mundial, tão cedo passou a ajuda às áreas economicamente<br />

subdesenvolvidas para melhorar as condições de trabalho e de vida das suas<br />

populações.<br />

Com novos fatos aparecendo no decorrer do segundo conflito mundial algumas<br />

cidades em várias partes do mundo tiveram suas bases produtivas incentivadas e melhoradas,<br />

isso, somente se a produção estivesse ligada a produtos de necessidade bélica, como citamos<br />

anteriormente.<br />

Dessa feita, a Amazônia passaria por novo ciclo econômico, porém por motivos<br />

diferentes do primeiro ciclo, estes estavam entrelaçados aos “esforços de guerra”:<br />

Em fins de 1941 e princípio de 1942, a Segunda Guerra Mundial estava no seu<br />

ápice. Com o ataque dos japoneses às bases navais americanas em Pearl Harbor, o<br />

conflito se deslocou para o Pacífico e logo para o Atlântico, não somente navais<br />

mercantes brasileiros. A situação dos aliados em termos econômicos assumiu<br />

proporções dramáticas com as perdas sofridas, não somente navais, como aéreas.<br />

Além disso, a captura pêlos japoneses das fontes produtoras de estanho, borracha,<br />

quinino, fibras e outras matérias-primas, no extremo oriente, ainda agravou mais a<br />

94


situação. Havia necessidade não somente de compensar essas perdas, mas de<br />

construir mais do que os alemães, italianos e japoneses destruíram. A decisão da<br />

guerra passou a desenvolver-se nos estaleiros, que necessitavam de matérias-primas<br />

para a fabricação de equipamentos bélicos em operação. (CARTIER, 1967 apud<br />

BASTOS 1993, p. 27). Grifo nosso.<br />

Durante a 2ª guerra mundial os países da Ásia, com plantações de Hévia 16 foram<br />

ocupados pelo exército do Japão que, nessa conflagração, era inimigo dos EUA. Os EUA<br />

ficaram com “dificuldade em obter borracha para a produção de pneus e outros produtos. O<br />

governo desse país firmou um acordo com o governo do Brasil para a produção de borracha”<br />

(PROST, 1998, p. 68). Que fracassou no cessar guerra.<br />

Foi então que em março de 1942 foi aprovado pelo Congresso americano o<br />

programa, que deu origem ao “Instituto de Assuntos Interamericanos” (IAIA), que era órgão<br />

integrante do Escritório do Coordenador de Assuntos Interamericanos, destinado a coordenar<br />

e administrar os programas bilaterais de Saúde na América Latina e outros.<br />

A verdadeira razão para o abastecimento dessa cooperação foi a demanda por<br />

recursos minerais e vegetais surgidas com a II Guerra Mundial, visto que as<br />

principais fontes dos recursos naturais, como borracha, estanho, quinino e fibras,<br />

haviam sido ocupadas pêlos japoneses e alemães. Assim, os interesses norte-<br />

americanos voltaram-se para outras fontes produtoras, como o Vale Amazonas, o<br />

Estado de Goiás e o Vale do Rio do Rio Doce, o que levou aquele governo a assinar<br />

um acordo de cooperação com o Brasil. (REZEN<strong>DE</strong> e HELLER, 2002, p. 180).<br />

No Brasil foi criada uma unidade administrativa da IAIA, denominada de Serviço<br />

Especial de Saúde Pública (SESP), instalada em Belém no ano de 1942, onde realizou<br />

muitas obras na área de saúde publica, mas a construção do Dique de Belém é considerada<br />

até hoje a maior obra de engenharia desta instituição na Amazônia. (BASTOS, 1998)<br />

16 Espécie vegetal que deu nome a borracha.<br />

95


A SESP atuava, no início de suas atividades, com fundos bilaterais - entre Estados<br />

Unidos da América e Brasil -, e posteriormente com verbas de terceiros. Esta instituição teve<br />

um papel importante na área sanitária, no início, como destaca Costa apud (REZEN<strong>DE</strong> e<br />

HELLER, 2002, p. 181),<br />

[...] a criação do SESP e o modo como evoluíram suas ações representaram uma<br />

forma de atuar sobre o processo saúde-doença. Isto porque os quimioterápicos e<br />

biocidas foram largamente utilizados nesta primeira fase, bem como as práticas<br />

curativas, em detrimentos das ações de saneamento e da educação sanitária, porque<br />

foi a primeira a promover a integralização de ramos dissociados do conhecimento,<br />

em uma instituição que tinha por objetivo principal a saúde pública. A partir da<br />

chamada fase nacional (1949) mudaram as perspectivas para o modo de atuação,<br />

voltando-se para as ações de saneamento [...].<br />

Em um segundo momento, a fundação SESP modificou sua linha de atuação<br />

voltando-se para a integralização dos aspectos preventivos e curativos de interferência no<br />

processo saúde-doença. Isso significa que esta instituição foi pioneira no Brasil - e na cidade<br />

de Belém - no tratamento da questão sanitária sob um foco interdisciplinar, como podemos<br />

observar no argumento abaixo:<br />

2.11 Os Fatores Econômicos pós-década de 50<br />

O SESP investia ainda na formação de recursos humanos, dando uma nova<br />

dinâmica, na integração entre o ensino, a pesquisa e o serviço, promovendo o<br />

treinamento, a reciclagem, a captação e a supervisão de pessoal técnico e auxiliar.<br />

(PINHEIRO apud REZEN<strong>DE</strong> e HELLER, 2002, p. 195).<br />

Em 1952, foi lançada a base para o Primeiro Plano Nacional de Financiamento<br />

para o Abastecimento de Água, estávamos no segundo governo getulista e este foi discutido<br />

no II Congresso Nacional de Municípios Brasileiros, “quando os investimentos dispersos e<br />

96


pulverizados e a pequena utilização de recursos retornáveis foram questionados”. (Rezende &<br />

Heller, 2002, p. 220).<br />

Em 1953, ocorreu em Belém uma primeira tentativa de planejamento, ainda que<br />

de forma indireta, para a problemática urbana. Esta tentativa se corporificou em um programa<br />

intitulado “Propósitos de Governo”, apresentado pelo prefeito Celso Malcher. Segundo, Pinto,<br />

(1985) apud Corrêa (1989, p. 136), dentre as medidas anunciadas nesse programa estavam o<br />

“encaminhamento do problema de esgotos”.<br />

No contexto nacional o clima para a área do saneamento, também, estava se<br />

modificando. Onde novas idéias estavam sendo incorporadas e estudadas para a viabilidade<br />

do saneamento nas cidades brasileiras.<br />

O setor de saneamento, por sua vez, assumiu um caráter cada vez mais independente<br />

do setor de saúde, devido a uma série de fatores que lhe incutiram uma feição mais<br />

dinâmica, a partir de novos modelos de gestão representada pela administração<br />

direta. Buscou-se uma maior autonomia para o setor, podendo-se dizer que as<br />

décadas de 1950 1960 traduziram um período de transição entre o modelo de gestão<br />

centralizado e empresas de caráter autônomo. Esse período foi caracterizado por<br />

importantes decisões para o progresso das ações de saneamento, embaladas pela<br />

implantação do conceito de auto-sustentação tarifária, cuja prática contribuiu para o<br />

aporte de recursos financeiros adicionais para o setor. (REZEN<strong>DE</strong> e HELLER,<br />

2002, p. 193).<br />

Em l954, a SPVEA-Superintendência do Plano de Valorização Econômica da<br />

Amazônia, conseguiu solucionar a crise de energia elétrica que afetava a produção industrial<br />

belenense desde meados dos anos 40. Conforme, Santos (1980) apud Corrêa (1989, p. 133),<br />

esta instituição era apoiada por órgão regional, conseqüentemente a produção industrial<br />

recuperou-se e, a partir de 1965, expandindo-se firmemente até o final da década de 60.<br />

97


Em 1959, foi criado o Conselho Permanente do Plano Diretor da Cidade,<br />

constituído de nove membros e presidido pelo Secretário de Obras do Município de Belém,<br />

informação obtida em Corrêa (1989, p. 138).<br />

A inauguração da rodovia Belém-Brasília em 1960 marcou o início da conexão<br />

física da Amazônia ao resto do Brasil por via terrestre. A partir daí, os processos sócio-<br />

espaciais amazônicos, em suas escalas regional e urbana, se tornaram cada vez mais<br />

dependentes dos fenômenos e das mudanças que ocorreram ao nível de contexto nacional,<br />

Corrêa (1989, p. 138).<br />

Em 1974-5 foi inaugurada a estrada que liga o Pará - Maranhão-Piauí-Ceará que<br />

deve ter induzido o crescimento urbano. Outro fator de crescimento urbano foi a PA-150 que<br />

liga Belém ao Sudeste Oeste do Estado do Pará. Associados a isto têm o Desenvolvimento<br />

dos Projetos Carajás, a construção da Ferrovia Carajás-Itaqui, UHEI de Tucuruí, a indústria<br />

de Alumínio da Albrás, o Projeto da Pará-Pigmento na bacia do Rio Capim.<br />

Este contexto caracterizou-se, no início da década, pela intensificação da crise<br />

econômica que já se fazia sentir no final do governo Kubitschek, Corrêa (1989 p. 138).<br />

Segundo este autor a taxa de crescimento do produto, que tinha alcançado o índice de 7,7 %<br />

em 1961, caiu para 3,5% em 1962. A crise política que culminou com a renúncia do<br />

Presidente Jânio Quadros em 1961.<br />

O quadro 06 (pagina seguinte) destaca os principais fatos econômicos e políticos<br />

que influenciaram as ações nas áreas de saneamento no Brasil após o ano de 1910:<br />

98


Processos econômicos<br />

Processos Políticos<br />

Quadro 07 -Fatos políticos e econômicos que influenciaram as ações na área de<br />

saneamento no Brasil após 1910<br />

1910-1950 1950-1969 A partir da década de 1970<br />

Aparecimento das primeiras<br />

indústrias: expansão urbana<br />

(Sudeste)<br />

Consolidação da influência dos<br />

EUA na economia nacional:<br />

ações em áreas de interesse<br />

Destaque para financiamentos<br />

visando o retorno dos<br />

investimentos<br />

Centralização do poder público:<br />

ações realizadas pelo Estado<br />

Hegemonia norte-americana no<br />

Brasil e influência sobre a<br />

política nacional<br />

Fonte: Rezende & Heller, 2002, p. 274.<br />

Crescimento da industria<br />

(substituição de<br />

importações) e do processo<br />

de urbanização<br />

Brasil: mercado<br />

consumidor dos EUA –<br />

tecnologia e produtos para<br />

aplicação em sistema de<br />

saneamento<br />

Transposição política:<br />

democracia a ditadura<br />

(apoio dos EUA)<br />

Continuidade na política de<br />

saneamento: estatização<br />

Auto-sustentação tarifária<br />

Incapacidade dos<br />

municípios para a gestão do<br />

saneamento<br />

Crescimento acelerado da<br />

economia (1968 – 1974):<br />

milagre econômico a<br />

PLANASA<br />

99<br />

Pós milagre: inflação e recessão<br />

(década de 1980)<br />

Investida neoliberal: redução do<br />

papel do Estado na economia,<br />

privatização de estatais,<br />

prevalência do capital<br />

especulativo e desemprego em<br />

massa<br />

Ditadura: facilitou a implantação<br />

do PLANASA<br />

Redemocratização: Constituição<br />

de 1988<br />

Neoliberalismo: prioridades<br />

econômicas e desmobilização<br />

das ações sociais ferem os<br />

princípios constitucionais


3.1 Introdução<br />

Capítulo 3<br />

BELÉM: UMA CIDA<strong>DE</strong> DUAL<br />

Neste capítulo mostramos, através de ilustrações, as áreas com infra-estrutura de<br />

água e esgoto existentes na cidade de Belém, contudo, apenas por motivações comparativas,<br />

apresentamos a forma que a Prefeitura de Belém organiza seus espaços institucionais, como<br />

mostra a tabela abaixo.<br />

Quadro 08: Distritos Administrativos da Prefeitura Municipal de Belém<br />

Distrito Administrativo Sigla População<br />

Distrito Administrativo de Mosqueiro DAMOS 27.896 hab.<br />

Distrito Administrativo de Outeiro DAOUT 26.225 hab.<br />

Distrito Administrativo de Incoaraci DAICON 133.150 hab.<br />

Distrito Administrativo de Belém DABEL 140.574 hab.<br />

Distrito Administrativo da Sacramenta DASAC 249.370 hab<br />

Distrito Administrativo do Entroncamento DAENT 116. 561 hab.<br />

Distrito Administrativo do Guamá DAGUA 349.535 hab<br />

Distrito Administrativo de Benguí DABEN 237.303 hab.<br />

Fonte: Prefeitura de Belém, 2003.<br />

Vamos nos basear nesta divisão para mostrar como está estruturada a rede de água e<br />

esgoto da cidade de Belém, tendo em vista a evolução urbana da cidade e de sua área de<br />

expansão após a Primeira Légua Patrimonial. Esta área é abastecida completamente pela água<br />

proveniente dos mananciais dos Lagos Água Preta e Bolonha, com complemento volumétrico<br />

bombeado do Rio Guamá.<br />

Dos distritos mostrados na tabela anterior Icoaraci foi o primeiro a ser atendido<br />

com sistema de água isolado - construído pelo Sistema Autônomo de Água e Esgoto de<br />

Belém/SAAEB -, cuja captação provinha dos aqüíferos subterrâneos. Esse fato nos indica que<br />

o modelo adotado para captação de água da Companhia de Saneamento do Pará - COSANPA,<br />

não garantia a universalização do atendimento com água potável. Essa condição é definida<br />

pelos altos custos de adução de água para percorrer grandes distâncias e bombear grandes<br />

100


volumes de água entre a captação de água no Manancial do Utinga até a porção mais a<br />

noroeste da expansão da cidade em relação à Primeira Légua Patrimonial, onde está<br />

localizado o distrito de Icoaraci.<br />

Dessa forma a saída técnica e econômica para abastecimento do distrito de Icoaraci<br />

foi a utilização de águas subterrâneas através de perfurações de poços tubulares, em<br />

contrapartida aos mananciais superficiais que abasteciam até o limite da Primeira Légua<br />

Patrimonial.<br />

Seguidamente, no distrito do Mosqueiro ocorreu a construção do sistema de água<br />

da Vila desse distrito pelo SAAEB. Posteriormente, a expansão da distribuição de água para<br />

as praias do Murubira, Ariramba (até a localidade de Cajueiro), Chapéu Virado, e uma porção<br />

da Vila do Mosqueiro foi realizado pela COSANPA. Com base em informações verbais, o<br />

atendimento de água pela COSANPA em Mosqueiro fora em decorrência da falta de recursos<br />

para consecução do projeto pelo SAAEB.<br />

Com os exemplos acima registramos duas situações. A primeira está relacionada ao<br />

sistema central que abastece com água a cidade de Belém até a Primeira Légua Patrimonial,<br />

que é atendida historicamente pela COSANPA, em contrapartida às dificuldades encontradas<br />

para atender a área de expansão da cidade, no caso, o distrito de Icoaraci, no qual o sistema de<br />

água é construído pela municipalidade através do SAAEB, inclusive indicando um modelo de<br />

captação de água diferenciado daquele adotado pela Companhia Estadual.<br />

A segunda situação refere-se ao sistema de água do distrito de Mosqueiro, onde<br />

após a construção do sistema de água pelo SAAEB, na fase de expansão é realizado através da<br />

COSANPA em sistemas separados um do outro, entretanto ambos utilizam-se das mesmas<br />

fontes de águas subterrâneas.<br />

Com isso temos no exemplo da construção do sistema de água do distrito de<br />

Icoaraci com a utilização das águas subterrâneas como o marco histórico de uso desses<br />

101


mananciais para uso público na cidade de Belém. Esse fato concorreu para que o SAAEB<br />

executasse o sistema de água do distrito de Mosqueiro tomando o mesmo modelo que em<br />

momentos posterior a COSANPA amplia o sistema de água desse distrito, se utilizado do<br />

manancial de água, também, subterrâneo. Reconhecendo assim, mesmo que de forma parcial,<br />

que seria possível o atendimento das áreas de expansão da cidade utilizando-se dos<br />

mananciais subterrâneos que em última analise estão presente onde a demanda existe,<br />

contrariamente às águas superficiais que são encontradas em áreas especificadas,<br />

principalmente porque Belém se encontra em ambiente de influência de maré, que promove o<br />

aumento de sais dissolvidos, colocando-a em condições não potáveis.<br />

Em debate realizado na Agência de Desenvolvimento da Amazônia (antiga<br />

SUDAM-Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), no Pará e, especialmente em<br />

Belém, são muitas as dificuldades enfrentadas com relação à prestação dos serviços de<br />

saneamento e à concessão da Companhia de Saneamento do Pará, do Governo do Estado.<br />

A população, em 2000, era de 1.280.614 habitantes em Belém, cuja COSANPA<br />

atendia com água potável apenas 960.530 pessoas ou 74% do total, deixando sem<br />

abastecimento 190 mil pessoas.<br />

Esse déficit só não é maior, porque o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de<br />

Belém - SAAEB, autarquia municipal de Belém, atende aproximadamente 139 mil habitantes,<br />

com água subterrânea. O atendimento prestado pela COSANPA apresenta freqüentemente<br />

interrupções de fornecimento e apresenta alto índice de perdas de água, devido à má<br />

conservação da rede de distribuição. Apenas 5 dos 8 distritos da cidade são cobertos pelo<br />

abastecimento da Empresa. (Texto Orientador do Congresso da Cidade 2003 - Os desafios<br />

para o saneamento em Belém - PMB/SEGEP/ Núcleo de Democratização da Informação).<br />

A rede desta Companhia é mais extensa, antiga e a água vem basicamente de um<br />

manancial principal, o do Utinga, e por isso, se algum problema estrutural como a queda de<br />

102


energia elétrica na cidade pode ocorrer a interrupção total do sistema enquanto, os sistemas<br />

com águas subterrâneas são setorizados, tanto a produção, quanto a distribuição.<br />

3.2 O Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém - SAAEB e a Companhia de<br />

Saneamento do Pará - COSANPA<br />

Em 1997 assume a prefeitura de Belém o arquiteto Edmilson Rodrigues Brito do<br />

Partido dos Trabalhadores - PT, e na área do saneamento, uma das primeiras tarefas desse<br />

governo foi resgatar o SAAEB, que até então era administrado pela Fundação Nacional de<br />

Saúde - FUNASA e possuía apenas dois sistemas de abastecimento de água nos distritos de<br />

Incoaraci e Mosqueiro, mas com um déficit de 100 mil habitantes sem atendimento nessas<br />

áreas.<br />

Atualmente Hoje o SAAEB aumentou para quatro áreas o seu sistema de<br />

abastecimento, como se pode observar no diagrama 02:<br />

Diagrama 02<br />

Sistemas de abastecimento do SAAEB<br />

SAAEB<br />

Icoaraci Mosqueiro Outeiro Bengui<br />

Esse órgão mantém sistemas alternativos na região das ilhas de Belém,<br />

distribuindo água potável subterrânea, beneficiando cerca de 139 mil pessoas. Implantou<br />

sistemas de esgotamento sanitário em Bairros periféricos da cidade de Belém, como os da<br />

Pratinha, distrito de Benguí e nos distritos de Outeiro e Mosqueiro, beneficiando 103. 914 mil<br />

pessoas, quase 10% da população do município.<br />

103


3.3 Participação popular na área do saneamento<br />

A participação popular na área do saneamento pode ser expressa por alguns<br />

acontecimentos, classificados como encontros, reuniões técnicas, congressos dentre outros<br />

eventos. A dinâmica desses fatos é caracterizada por discussões, controvérsias e debates<br />

efervescentes que envolvem tanto técnicos, quanto populares (moradores dos bairros com<br />

problemas de infra-estrutura) que geralmente levam propostas e problemas específicos de suas<br />

localidades para serem apresentadas nas discussões realizadas.<br />

Atentando para o ano de 2002, no qual foi realizado o “Congresso Municipal de<br />

Saneamento: Os Desafios da Municipalização da Prestação dos Serviços de Saneamento em<br />

Belém”, realizado no período 13 a 15 de setembro de 2002, temos a questão de água e esgoto<br />

sendo debatida e colocada em pauta entre os órgãos atuantes na área do saneamento em<br />

Belém, ou seja, a COSANPA e o SAAEB.<br />

Em setembro de 2002 aconteceu ferrenha manifestação popular contra a suposta<br />

privatização da COSANPA, esta ficou conhecida como “Caminhada em Defesa da Água, pela<br />

Vida e Contra a Privatização da COSANPA”, com a participação da população em geral e<br />

entidades civis, totalizando cerca de 2.000 pessoas. Esse fato foi registra em artigo publicado<br />

no site da prefeitura de Belém no dia 04 de setembro de 2002:<br />

Em Belém, já se discute a possibilidade de privatização da Cosanpa, o que trouxe à<br />

tona o debate sobre a questão da Água. Neste mês de setembro, a Prefeitura realiza<br />

com o apoio de entidades da sociedade civil organizada, várias atividades sobre este<br />

tema. Haverá, em primeiro lugar, uma consulta popular sobre a privatização da<br />

Cosanpa, que acontece de 9 a 12 com urnas espalhadas durante o dia todo em vários<br />

pontos dos oito distritos administrativos do município, além das praças da República<br />

(centro) e do Operário (São Braz), Feira do Ver-O-Peso e em frente aos shoppings<br />

Castanheira e Iguatemi.<br />

104


A consulta culmina com a Caminhada em Defesa da Água, pela Vida e Contra a<br />

Privatização da Cosanpa, e no dia seguinte se inicia o Congresso Municipal de<br />

Saneamento, de 13 a 15, no Hilton Hotel. Toda essa campanha visa chamar a<br />

atenção dos cidadãos para o projeto de lei sobre política nacional de saneamento,<br />

que tramita no Congresso Nacional, dispondo sobre as concessões para exploração<br />

do setor.<br />

(http://www.prefeituradebelem.com.br/artigo.asp?artigo_id=244)<br />

Recentemente tem havido o “Congresso da Cidade de 2003” que tem em uma de<br />

suas pautas a situação atual do sistema de água e esgoto de Belém. Onde os problemas antigos<br />

são repensados e debatidos para que se busquem soluções.<br />

Segundo informações obtidas em uma das discussões realizadas no Congresso da<br />

Cidade no ano de 2003:<br />

3.4 O Mapa do saneamento em Belém<br />

A Cosanpa atende apenas os bairros centrais com rede coletora. Em 2000, de<br />

296.352 domicílios da cidade, segundo o IBGE, apenas 76.177 ou 27% do total<br />

eram atendidos por reder coletora de esgoto. Porém, a Companhia não possui<br />

nenhum sistema de tratamento de esgoto na capital. (Texto Orientador do Congresso<br />

da Cidade 2003 - Os desafios para o saneamento em Belém - PMB/SEGEP/ Núcleo<br />

de Democratização da Informação).<br />

Neste tópico mostramos através de algumas figuras a situação atual do sistema de<br />

água e esgoto da cidade de Belém. Na figura 09 mostramos a relação existente entre Distritos<br />

Administrativos e População equivalente.<br />

105


Fig. 09: Dados Populacionais por Distritos Administrativos<br />

Fonte: IBGE/Censo 2000.<br />

As figuras de 10 a 13 nos fornecem uma visão comparada sobre as áreas atendidas<br />

pelo SAAEB e pela COSANPA.<br />

DAOUT<br />

DAICO<br />

DAENT<br />

DAMOS<br />

106


LEGENDA<br />

Fig. 10: Área Totalmente Atendida Pelo SAAEB e pela COSANPA<br />

DA BEN<br />

DAMOS<br />

DAENT<br />

Área Totalmente Atendida Pelo SAAEB<br />

DAM OS<br />

DAOUTDAICODA<br />

Ilha de Ilha Nova<br />

Cotijuba<br />

Ilha<br />

Paquetá<br />

Ilha<br />

Mirim<br />

Jararaca<br />

Açu<br />

Ilha<br />

e<br />

d<br />

a a<br />

h b<br />

I l u<br />

u t<br />

J<br />

Ilha<br />

Jararaquinha<br />

Longa Ilha da<br />

Ilha dos<br />

Barra<br />

Patos Ilha de<br />

Cintra<br />

Ilha do Combu<br />

D A O U T<br />

D A I C O<br />

I l h a<br />

d e<br />

M<br />

u r u c u t u<br />

DAMOS<br />

D A E DAENT N T<br />

Ilha<br />

Grande<br />

LEGENDA<br />

Área Atendida Pela<br />

COSANPA<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Belém/Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Belém.Água:<br />

saneamento. 2003. CD-ROM.<br />

D A S A C<br />

D A B E L<br />

U<br />

A<br />

G<br />

D<br />

A<br />

DAGUA<br />

DAB EN<br />

Ilha<br />

Canaari<br />

Ilha do<br />

Papagaio<br />

Ilha da<br />

Conceição<br />

107


Fig. 11: Área Atendida Pela COSANPA<br />

Ilha<br />

Cotijub<br />

Paquetá<br />

Aç<br />

Ilha<br />

Mirim<br />

Ilha<br />

Jararac<br />

Ilha<br />

Long<br />

Ilha<br />

d<br />

e<br />

I l<br />

h<br />

a<br />

J<br />

u t<br />

u<br />

b a<br />

Ilha<br />

Jararaquinh<br />

Ilha dos<br />

Pato<br />

Ilha<br />

Barr<br />

D A S A C<br />

D A B E L<br />

D A<br />

GU A<br />

DAGUA<br />

Ilha de<br />

Cintr<br />

Ilha do<br />

O<br />

D A U T<br />

DAMOS<br />

d e<br />

Il ha<br />

M u ru c u tu<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Belém/Serviço Autônomo de Água e Esgoto de<br />

Belém.Água: saneamento. 2003. CD-ROM.<br />

D A IC O<br />

D A B EN<br />

D A E N T DAEN<br />

LEGENDA<br />

Ilha<br />

Grand<br />

Área Atendida Pela COSANPA<br />

Papagaio<br />

Ilha do<br />

Ilha Conceição<br />

Ilha da Canaari<br />

108


Fig. 12: Distribuição dos sistemas de Abastecimento da Cidade de Belém do Pará<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Belém/Serviço Autônomo de Água e Esgoto de<br />

Belém.Água: saneamento. 2003. CD-ROM.<br />

109


Fig. 13: Áreas com tratamento de esgoto - SAAEB<br />

DASAC<br />

DABEL<br />

DAGUA DAGUA<br />

DAOUT<br />

DAICO<br />

DABEN<br />

DAMOS<br />

DAENT<br />

Bairro Bairro de de Água Água Boa Boa<br />

LEGENDA<br />

Bairro Bairro de de Brasília Brasília<br />

ÁREA COM TRATAMENTO <strong>DE</strong> ESGOTO SAAEB<br />

Fonte: Prefeitura Municipal de Belém/Serviço Autônomo de Água e Esgoto de<br />

Belém.Água: saneamento. 2003. CD-ROM.<br />

110


CONSI<strong>DE</strong>RAÇÕES FINAIS<br />

As primeiras idéias ou demonstrações dos Governantes, da necessidade de dotar a<br />

cidade de Belém, de um Sistema de Abastecimento de Água permaneceram no discurso<br />

durante os períodos colonial e imperial, onde nesse período, a localidade era abastecida pelos<br />

Aguadeiros - vendedores de água em carro pipa - durante a inexistência de um sistema<br />

coletivo de água, supriram-na para consumo humano, para apagar incêndios e reduzir a poeira<br />

das ruas principais.<br />

Após a criação da Companhia das Águas do Grão-Pará no ano de 1883, os<br />

Aguadeiros permaneceram vendendo água em função da não universalização do atendimento<br />

do Sistema, pelo menos até próximo a 1895, quando a Companhia das Águas do Grão Pará foi<br />

estatizada a partir de uma indenização financeira que incluiu, além dos investimentos<br />

realizados, imbutiu-se todos os lucros previstos no período de Concessão. Houve<br />

cumprimento contratual sem ocasionar nenhuma perda financeira à Companhia. Com a<br />

Indenização ocorreu a troca de nome para Inspetoria das Águas de Belém, em 1895. A partir<br />

de 1901 passou a denominação de Diretoria de Serviço de Água, que em 1940 recebeu o<br />

nome de Serviço de Águas, redenominado em 1946, em Departamento Estadual de Águas,<br />

que em 1962, recebeu pela primeira vez a denominação com referências ao Sistema de<br />

Esgoto, agora como Departamento de Águas e Esgoto. Ora, se em todo esse período, o<br />

Sistema de Água não havia sido universalizado, agora aparece a denominação esgoto que<br />

induz mais investimentos e tecnologia específica para construí-lo e opera-lo. É nesse<br />

momento, que aflora a insatisfação municipal que resolve criar uma Autarquia: o Sistema<br />

Autônomo de Água e Esgoto de Belém (SAAEB), também aqui com uso do termo esgoto. O<br />

sistema é concebido para atender as áreas mais distantes, em relação à captação de água dos<br />

Mananciais do Utinga, utilizados pelo Departamento de Águas e Esgoto.<br />

111


Vale ressaltar que esta ação, significa a primeira vez que se utiliza sistema de<br />

captação de águas subterrâneas na cidade de Belém, através de poços tubulares, para<br />

abastecimento coletivo; aqui nos referimos ao Sistema de Água da Vila de Icoaraci, mais<br />

tarde denominado de Distrito. A impossibilidade de universalizar o Sistema de Água, no<br />

Período de 1883-1962 promoveu nos dois extremos tentativas duais. No extremo primeiro foi<br />

exercido pela Companhia das Águas do Grão Pará mais as ações dos aguadeiros, enquanto<br />

que no outro extremo a dualidade passou a ser exercida pelos Órgãos Estadual e Municipal,<br />

agora com uma nova tarefa, implantar e operar Sistemas de Esgotos Sanitários.<br />

Além disto, o órgão estadual cuidou de ampliar sua área de atuação além de<br />

Belém, passando a se denominar de Companhia de Saneamento do Pará, que traz consigo um<br />

termo mais genérico, moderno que é Saneamento em contrapartida ao de Água e Esgoto<br />

acoplado ao interesse de expansão de sua ação territorial, passando de um Departamento para<br />

uma Companhia, uma empresa de capital Misto, com amplitude de ação no Estado do Pará,<br />

mesmo que não tenha dado conta de universalizar o atendimento de Água e Esgotamento<br />

Sanitário na sua capital. Esse período é Dicotômico.Enquanto se expandem as pretensões da<br />

Companhia ao território estadual se cria um Sistema Municipal (o SAAEB) na Capital para<br />

atender o déficit não atendido pela Companhia, agora com atenção a todo o Estado do Pará.<br />

A criação do SAAEB traz uma novidade tecnológica, que é a utilização das águas<br />

subterrâneas, em contrapartida, a utilização das águas superficiais do manancial do Utinga<br />

pela COSANPA. Essa novidade traz consigo uma possibilidade de universalização do<br />

atendimento, buscando atender o déficit urbano nas áreas de expansão. Isso se prende ao uso<br />

do manancial subterrâneo que se distribui de forma mais ou menos homogênea verticalmente<br />

em toda área do Município de Belém, em contrapartida ao manancial do Utinga que possui<br />

ponto fixo de captação de água a partir do qual se dá a captação, adução e posterior elevação<br />

para tratamento e distribuição para atender a área circunscrita a Primeira légua patrimonial.<br />

112


O atendimento com abastecimento de água da área de expansão - após a Primeira<br />

Légua Patrimonial-, foi constituído por ocupações territoriais rarefeitas, caóticas, históricas e<br />

não planejadas pelo poder público, mostrou-se com dificuldade, ao longo dos anos, para ser<br />

abastecida pela Companhia de Saneamento do Pará, devido às longas distâncias, necessidades<br />

de grandes diâmetros de adutora principal e secundária, para atender núcleos urbanos<br />

dispersos e não consolidados, do ponto de vista urbano, produzindo no projeto de engenharia,<br />

além de custos elevados, variáveis espaciais e de consumo, indeterminadas.<br />

Foi somente, em 1980, que a COSANPA passa a utilizar-se do uso das águas<br />

subterrâneas, para abastecer as áreas de expansão no município de Belém, em caso particular<br />

e no restante da Região Metropolitana de Belém, em conjuntos residenciais, como os do<br />

Sistema Banco Nacional de Habitação.<br />

Hoje, com a existência dos dois sistemas de água (SAAEB e COSANPA) pode-se<br />

observar que o sistema de captação de água, do manancial do Utinga, deverá continuar<br />

existindo, mesmo que, se possa atender o crescimento populacional com a indução do uso de<br />

águas subterrâneas em pontos estratégicos de distribuição, considerando-se os limites da<br />

Primeira Légua Patrimonial. Na área de expansão, o uso das águas subterrâneas é<br />

inquestionável, do ponto de vista quantitativo, qualitativo e de custo de produção e já fora<br />

adotado de forma geral, pelos sistemas de abastecimento de água, existentes na cidade de<br />

Belém.<br />

113


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116

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