17.04.2013 Views

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

Prosa - Academia Brasileira de Letras

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

A justiça como meta da arte mo<strong>de</strong>rna<br />

A 2.ª é a Arte-Ludismo – a que se acentua como fonte <strong>de</strong> lazer, espontaneamente<br />

envolvida num i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> beleza.<br />

A 3.ª é a Arte-Combate – a que se acentua como agente <strong>de</strong> participação<br />

social nas lutas do tempo do artista, <strong>de</strong>liberadamente comprometida com<br />

um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> justiça.<br />

Observe-se: falamos <strong>de</strong> arte que se acentua como um <strong>de</strong>sses três gran<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ais da<br />

humanida<strong>de</strong>, o que implica a presença dos <strong>de</strong>mais, apenas em menor escala.<br />

De fato: toda gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> arte é uma feliz fusão <strong>de</strong>sses três i<strong>de</strong>ais.<br />

Como disse Platão, também citado por Huismann (p. 17): “É impossível<br />

que, visando o belo, se atinja o que não é o bom”. E, numa expressiva síntese:<br />

“Quem respon<strong>de</strong> bem é bom e belo” (id., p. 21).<br />

Assim também Aristóteles: percebendo a utilida<strong>de</strong> especial do literário,<br />

ele con<strong>de</strong>na o unilateralismo das práticas culturais e reclama uma utilida<strong>de</strong><br />

cognitiva para além da pragmática. Disse ele (1966: 160): “É necessário<br />

ensinar aos filhos algumas coisas úteis, não apenas porque sejam úteis, como<br />

a literatura, porém porque conferem o meio <strong>de</strong> conseguir muitos outros<br />

conhecimentos.”<br />

E completou, numa direta e clara con<strong>de</strong>nação das mentalida<strong>de</strong>s puramente<br />

pragmáticas (id., p.161): “Buscar em todas as coisas somente o útil é o menos<br />

conveniente a homens livres que possuem espírito elevado.”<br />

O i<strong>de</strong>al está novamente numa síntese platonista, em referência aos poetas<br />

(s/d. 290): “De bom grado os ouviremos, porque só temos a lucrar com isso,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nos possam provar que aí se junta o útil ao agradável.” 1<br />

No entanto, esse i<strong>de</strong>al foi sempre muito difícil <strong>de</strong> atingir – tanto na arte<br />

como na vida. Shakespeare (s/d: 1262) proclama e lamenta:<br />

1 Esta passagem <strong>de</strong> Platão (não sei <strong>de</strong> que modo ou com que interesse ignorada por alguns <strong>de</strong> seus<br />

críticos) anula a acusação que lhe é feita <strong>de</strong> que teria expulsado o poeta da república i<strong>de</strong>al. Ele expulsou<br />

apenas o melodramático, por capaz <strong>de</strong> quebrantar o ânimo dos guerreiros.<br />

213

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!