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Prosa - Academia Brasileira de Letras

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A justiça como meta da arte mo<strong>de</strong>rna<br />

A encampação do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> justiça pela arte – não bastasse a dignida<strong>de</strong> do<br />

humanismo <strong>de</strong>ssa posição – coinci<strong>de</strong> ainda com a própria tradição do conceito<br />

<strong>de</strong> beleza, a qual <strong>de</strong>ixa entrever que a beleza não po<strong>de</strong> separar-se da verda<strong>de</strong><br />

e da justiça. Só uma socieda<strong>de</strong> justa é, verda<strong>de</strong>iramente, socieda<strong>de</strong>, e só nesta<br />

há lugar para a beleza. A prova maior está aqui, diante <strong>de</strong> nossos olhos, no<br />

terrorismo cotidiano – seja ele i<strong>de</strong>ológico ou burocrático, cultural ou financeiro.<br />

E o homem feliz não a<strong>de</strong>re ao terrorismo. Essa presença necessária da<br />

verda<strong>de</strong> e da justiça no interior da beleza foi abertamente exigida pela estética<br />

materialista, mas está clara também nos conceitos dos 3 mais altos pontos do<br />

i<strong>de</strong>alismo oci<strong>de</strong>ntal:<br />

Platão: Belo é o esplendor do Verda<strong>de</strong>iro e do Bem. (apud Huismann, p. 26).<br />

Kant: A beleza, para a qual <strong>de</strong>ve ser buscado um i<strong>de</strong>al, não <strong>de</strong>ve ser uma<br />

beleza vaga, mas tem <strong>de</strong> ser uma beleza fixada por um conceito <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong><br />

objetiva (1974: 325, grifo do autor).<br />

Hegel: O belo é a i<strong>de</strong>ia concebida como unida<strong>de</strong> imediata do conceito e<br />

da sua realida<strong>de</strong>, quando esta unida<strong>de</strong> se apresenta na sua manifestação real<br />

e sensível (p. 182).<br />

Qual seria essa “manifestação real e sensível” da beleza? Claro: a sua<br />

utilida<strong>de</strong>, ou seja, a sua “finalida<strong>de</strong> objetiva”, ou seja, a felicida<strong>de</strong> – que<br />

ninguém po<strong>de</strong> conquistar, reduzido a condições sub-humanas <strong>de</strong> vida. E,<br />

ao afirmar que “a justiça é, por si mesma, o bem mais excelente da alma”,<br />

Platão (s/d., p. 294) chancela a fixação da justiça como exigência prévia <strong>de</strong><br />

qualquer relacionamento humano. E por que “o bem mais excelente”? Porque<br />

constitui a condição platafórmica imprescindível sobre a qual o homem<br />

movimenta a virtualida<strong>de</strong> do seu ser, para a produção/aquisição dos <strong>de</strong>mais<br />

bens necessários à sua realização, isto é: para a própria fruição da verda<strong>de</strong><br />

e da beleza.<br />

Veja-se o que diz outro poeta cearense, Artur Eduardo Benevi<strong>de</strong>s (1974: 36):<br />

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