Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
<strong>Acórdão</strong>s TRL <strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
Processo: 10414/2007-1<br />
Relator: AFONSO HENRIQUE<br />
Descritores: ESTADO ESTRANGEIRO<br />
PERSONALIDADE JUDICIÁRIA<br />
LEGITIMIDADE<br />
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS<br />
Nº <strong>do</strong> Documento: RL<br />
Data <strong>do</strong> Acordão: 06-05-2008<br />
Votação: UNANIMIDADE<br />
Texto Integral: S<br />
Meio Processual: AGRAVO<br />
Decisão: CONFIRMADA A DECISÃO<br />
Sumário: I – O sistema constitucional português português a<strong>do</strong>ptou a<br />
<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> concepção restrita <strong>da</strong> regra <strong>da</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
jurisdição, que restringe aos actos pratica<strong>do</strong>s jure imperii,<br />
excluin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> os actos pratica<strong>do</strong>s jure gestionis.<br />
II – Ora, in casu, consubstancia a causa <strong>de</strong> pedir o alega<strong>do</strong><br />
incumprimento <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços celebra<strong>do</strong><br />
entre as partes.<br />
III – Ten<strong>do</strong> a R. (missão diplomática acredita<strong>da</strong> no nosso País)<br />
subscrito aquele contrato na sua veste civil, há que consi<strong>de</strong>rar<br />
ter realiza<strong>do</strong> um mero acto jure gestionis, ao qual não é<br />
aplicável a regra acima enuncia<strong>da</strong> e obriga à sua citação nos<br />
autos.<br />
A.H.<br />
Decisão Texto Integral:ACORDAM NESTE TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA<br />
T, SA, veio intentar a presente acção, contra República <strong>de</strong><br />
Moçambique, representa<strong>da</strong> pela Embaixa<strong>da</strong> <strong>da</strong> República <strong>de</strong><br />
Moçambique,<br />
Alegan<strong>do</strong>, para o efeito, que:<br />
- A A. prestou serviços <strong>de</strong> natureza móvel terrestre (telemóvel)<br />
à R. no valor <strong>de</strong> €12.917;<br />
- Contu<strong>do</strong>, apesar <strong>da</strong> A. ter interpela<strong>do</strong> a R. para o seu<br />
pagamento, o mesmo não teve lugar;<br />
Conclui pedin<strong>do</strong> que, a acção seja julga<strong>da</strong> proce<strong>de</strong>nte e, em<br />
consequência, ser a R. con<strong>de</strong>na<strong>da</strong> a pagar à A. a quantia em<br />
dívi<strong>da</strong>, acresci<strong>da</strong> <strong>do</strong>s respectivos juros <strong>de</strong> mora, venci<strong>do</strong>s<br />
(€17.637,63) e vincen<strong>do</strong>s até integral pagamento.<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
A R. contestou, concluin<strong>do</strong> pela improcedência <strong>da</strong> acção e,<br />
pela procedência <strong>da</strong>s nuli<strong>da</strong><strong>de</strong>s e excepções invoca<strong>da</strong>s, e ain<strong>da</strong>,<br />
pelo <strong>de</strong>ferimento <strong>da</strong> intervenção principal suscita<strong>da</strong>, bem<br />
como, pela procedência <strong>da</strong> reconvenção e consequente,<br />
con<strong>de</strong>nação <strong>da</strong> A., no pagamento dum in<strong>de</strong>mnização a favor<br />
<strong>da</strong> R., no valor <strong>de</strong> €17.637,63 pelos alega<strong>do</strong>s prejuízos<br />
causa<strong>do</strong>s a esta.<br />
Replicou a A., pugnan<strong>do</strong> pela improcedência <strong>da</strong>s invoca<strong>da</strong>s<br />
nuli<strong>da</strong><strong>de</strong>s e excepções e concluin<strong>do</strong> como o fizera na petição.<br />
A R. apresentou a sua tréplica, a qual não foi admiti<strong>da</strong>, nos<br />
termos <strong>do</strong> <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> fls.225 e 226.<br />
Após os relata<strong>do</strong>s articula<strong>do</strong>s, pelo Mº Juiz a quo, foi proferi<strong>do</strong> o<br />
seguinte <strong>de</strong>spacho:<br />
“-…-<br />
A Ré veio invocar a nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua citação, efectua<strong>da</strong> por, carta<br />
reg. com a/r - ver fls. 50.<br />
Cumpriu-se o regime <strong>do</strong> CPC - artigos 233° e 236°.<br />
Não se crê que em Moçambique vigore regime mais favorável,<br />
nem se crê que haja outro aplicável.<br />
Por outro la<strong>do</strong> a Ré compreen<strong>de</strong>u o pedi<strong>do</strong> e a causa <strong>de</strong> pedir <strong>da</strong><br />
A, não ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> minimamente prejudica<strong>do</strong> o seu direito <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>fesa, e bem assim o seu competente exercício art 198°-4 <strong>do</strong><br />
CPC.<br />
In<strong>de</strong>firo arguição.<br />
Not.<br />
*<br />
A Ré veio invocar falta <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> judiciárias.<br />
Mas não. A Ré é a REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Esta tem<br />
personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> judiciárias. Está <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente<br />
representa<strong>da</strong> pela sua Embaixa<strong>da</strong> no País, a qual constituiu<br />
man<strong>da</strong>tário forense para o efeito, estan<strong>do</strong> a procuração a fls. 76,<br />
que em tu<strong>do</strong> me parece regular.<br />
In<strong>de</strong>firo à arguição.<br />
Not.<br />
*<br />
A Ré vem a fls. 66 arguir a sua ilegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> para a causa.<br />
Confun<strong>de</strong> a apreciação <strong>da</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> para a causa, questão<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
formal, que a proce<strong>de</strong>r leva à absolvição <strong>da</strong> instância, com a<br />
questão <strong>de</strong> fun<strong>do</strong>: saber quem contratou, se a Ré, se outrem, o<br />
que po<strong>de</strong>rá levar ã procedência ou não <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong>. São coisas<br />
diferentes.<br />
Neste momento, em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa por excepção, temos <strong>de</strong> aferir<br />
a situação face à relação jurídica material controverti<strong>da</strong>. Essa<br />
relação jurídica é trazi<strong>da</strong> pela A. E perante a petição inicial a Ré<br />
é titular <strong>da</strong> relação jurídica controverti<strong>da</strong>, pelo que, a Ré tem<br />
interesse em contestar, e é assim parte legítima - art 26°- 1 e 3 <strong>do</strong><br />
CPC.<br />
In<strong>de</strong>firo à arguição,<br />
Not.<br />
*<br />
A Ré vem a fls. 72 e ss requerer a intervenção principal<br />
provoca<strong>da</strong> <strong>de</strong> L. Fun<strong>da</strong>mentalmente alega que, estas pessoas se<br />
fizeram representar junto <strong>da</strong> A, e celebraram os contratos, por<br />
sua conta e risco; que foram eles e não a Ré quem beneficiou<br />
com os contratos; que agiram por si e nunca em representação<br />
<strong>da</strong> Ré; que eles é que têm manifesto interesse em intervir como<br />
partes legítimas porque possuem pleno conhecimento e<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre to<strong>do</strong>s os factos articula<strong>do</strong>s pela A.<br />
A A opõe-se.<br />
E com razão.<br />
Não é o momento <strong>de</strong> julgar o mérito, <strong>de</strong> apreciar provas, <strong>de</strong><br />
saber quem negociou, com que po<strong>de</strong>res, o quê, para quem, quem<br />
beneficiou, quem sabe, quem é o responsável.<br />
É o momento <strong>de</strong> perante as disposições <strong>do</strong>s artigos 325° e ss <strong>do</strong><br />
CPC verificar se a Ré po<strong>de</strong> fazer intervir por si as aludi<strong>da</strong>s<br />
pessoas<br />
O autor <strong>do</strong> chamamento alega a causa <strong>do</strong> chamamento e<br />
justifica o interesse que através <strong>de</strong>le preten<strong>de</strong> acautelar - art.<br />
325°- 3 <strong>do</strong> CPC.<br />
A causa que a Ré invoca é que a L e o R é que contrataram, por<br />
si e para si, foi quem beneficiou, <strong>de</strong>vem ser responsabiliza<strong>do</strong>s -<br />
nunca a Ré,<br />
Ora, esta é a causa. No fun<strong>do</strong> uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira <strong>de</strong>fesa por<br />
impugnação, que a proce<strong>de</strong>r leva à absolvição <strong>da</strong> Ré <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong><br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
formula<strong>do</strong>.<br />
Mas a Ré na<strong>da</strong> diz sobre o interesse, factual, palpável, digno <strong>de</strong><br />
ser qualifica<strong>do</strong> <strong>de</strong> interesse para a Lei, que tem, ela própria, em<br />
chamar estas pessoas, para serem <strong>de</strong>man<strong>da</strong><strong>da</strong>s, "como Rés”, <strong>de</strong><br />
mo<strong>do</strong> a acautelar esse interesse, que é seu, e não <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>s.<br />
E esse interesse tem <strong>de</strong> ser justifica<strong>do</strong>, e a justificação tem <strong>de</strong> ser<br />
fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> e compreensível. E não o é.<br />
Não se cumpre assim o disposto no art 325°- 3 <strong>do</strong> CPC. In<strong>de</strong>firo<br />
ao chamamento.<br />
As custas <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte seriam pela Ré, que <strong>de</strong>las está isenta.<br />
Not..<br />
*<br />
A Ré veio a fls. 73 e ss reconvir.<br />
Pe<strong>de</strong> que a A seja con<strong>de</strong>na<strong>da</strong> a pagar à Ré uma in<strong>de</strong>mnização<br />
que liqui<strong>da</strong> em 17.637,63 euros.<br />
É esse o valor <strong>do</strong> pedi<strong>do</strong> inicial.<br />
A fls. 73 a Ré atribui à reconvenção o valor <strong>da</strong> acção - para<br />
efeitos <strong>do</strong> art. 501° 2 <strong>do</strong> CPC.<br />
Apesar <strong>de</strong>, face ao pedi<strong>do</strong> inicial a Ré ter vin<strong>do</strong> arguir que havia<br />
nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> citação, havia falta <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Ré, havia ilegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> para a causa, o certo é<br />
que, a Ré ao <strong>de</strong>duzir reconvenção, tem <strong>de</strong>, obrigatoriamente,<br />
partir <strong>do</strong> pressuposto que está <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente representa<strong>da</strong> em<br />
juízo e tem personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> judiciárias.<br />
Posto isto, e ven<strong>do</strong> o que se alega no artigo 58° e ss <strong>da</strong> <strong>do</strong>uta<br />
contestação, a Ré invoca que é alheia aos negócios e facilitações<br />
celebra<strong>do</strong>s com a A e terceiros, que rotula <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> má fé<br />
em nome <strong>da</strong> Ré.<br />
A Ré Invoca que, tem o direito <strong>de</strong> exigir <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as partes<br />
outorgantes <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s/contratos em causa uma justa<br />
in<strong>de</strong>mnização pelos transtornos causa<strong>do</strong>s pela utilização abusiva<br />
<strong>do</strong> seu nome, <strong>da</strong><strong>do</strong>s, selos, carimbos, para alcançarem fins<br />
<strong>de</strong>sonestos e ilegítimos. Depois alega ain<strong>da</strong> que, a A. protelou,<br />
por mais <strong>de</strong> 4 anos a vigência <strong>de</strong> situações ilícitas, para causar<br />
prejuízos à Ré.<br />
Ora, a Ré, ten<strong>do</strong> como vimos, <strong>de</strong>duzi<strong>do</strong> chamamento contra a<br />
Laura e o Rafael, não resolve agora a questão <strong>de</strong>, como e on<strong>de</strong>,<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong>r estes.<br />
A A neste processo vem, fun<strong>da</strong>mentalmente, com <strong>do</strong>is contratos<br />
<strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços para o acesso a comunicações móveis,<br />
que junta, no âmbito <strong>de</strong> cuja vigência invoca que, se venceram<br />
<strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s valores <strong>de</strong> serviços presta<strong>do</strong>s e não pagos, que<br />
facturou.<br />
Vem exigir esses pagamentos com juros <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o vencimento.<br />
Portanto a A vem, como causa <strong>de</strong> pedir, trazer a<br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> contratual, responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> por actos lícitos.<br />
Mas a Ré, em se<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconvenção, coloca-se nesta postura:<br />
na<strong>da</strong> tenho a ver com os contratos, nem com o seu teor, nem com<br />
a vigência <strong>do</strong>s mesmos, nem com os serviços <strong>de</strong> que não<br />
beneficiei. Na<strong>da</strong> tenho a ver com as facturas.<br />
Assim, a Ré alheia-se <strong>do</strong>s contratos, <strong>do</strong> seu regime, <strong>da</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> contratual que se preten<strong>de</strong> efectivar na acção.<br />
A Ré abor<strong>da</strong> a situação <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> utilização <strong>do</strong> seu<br />
nome, <strong>do</strong>s seus selos, <strong>do</strong>s seus carimbos, para a prática <strong>de</strong> actos<br />
ilícitos, abusivos, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros ilícitos criminais, que<br />
prejudicaram a Ré no seu nome, e apo<strong>da</strong>n<strong>do</strong> a A <strong>de</strong>, ao protelar<br />
as situações <strong>do</strong>s contratos por mais <strong>de</strong> 4 anos, o fez <strong>de</strong> propósito<br />
e <strong>de</strong> má fé para prejudicar a Ré.<br />
Vem assim, a Ré com fun<strong>da</strong>mento em responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> por<br />
factos ilícitos, já não fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em factos ilícitos, requerer o<br />
pagamento <strong>de</strong> uma in<strong>de</strong>mnização apenas <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s invoca<strong>da</strong>s<br />
partes causa<strong>do</strong>ras <strong>do</strong> invoca<strong>do</strong> <strong>da</strong>no. A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
invoca<strong>da</strong> pela Ré po<strong>de</strong>rá ser a, por factos ilícitos civis e ou<br />
criminais, mas já não a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> contratual.<br />
O pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ré não emerge assim <strong>do</strong> facto jurídico - contratos -<br />
que serve <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mento à acção - art 274°- 2 a) <strong>do</strong> CPC.<br />
Se virmos bem, a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> Ré é: não contratei, é negação.<br />
A restante <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa passa por averiguações, necessariamente,<br />
em processos crime - e processos on<strong>de</strong> cabe o pedi<strong>do</strong> cível <strong>de</strong><br />
in<strong>de</strong>mnização competente. Passa por outros tipos <strong>de</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, que não a apenas contratual, passa por outra<br />
relação material controverti<strong>da</strong>, que não a que está nos autos,<br />
necessariamente com outros titulares no la<strong>do</strong> passivo, que<br />
também não estão nos autos, e cuja falta leva â ilegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>. No<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
fun<strong>do</strong> - uma outra relação jurídica controverti<strong>da</strong>, que a Ré na<br />
sua <strong>de</strong>fesa esboça muito levemente, e que não é ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente<br />
o fun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>fesa.<br />
O pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> Ré não emerge assim <strong>do</strong> facto jurídico que serve <strong>de</strong><br />
fun<strong>da</strong>mento à <strong>de</strong>fesa, que ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente é <strong>de</strong> impugnação, e<br />
no que se refere à excepção - terá a ver com outro fonte <strong>de</strong><br />
responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, outro factualismo, outros sujeitos, que carece<br />
fun<strong>da</strong>mentar - art 274°- 2 a) <strong>do</strong> CPC.<br />
Não admito assim a reconvenção.<br />
As custas <strong>do</strong> inci<strong>de</strong>nte seriam pela Ré, que <strong>de</strong>las está isenta.<br />
Not..<br />
-…-”<br />
Desta <strong>de</strong>cisão, veio a R. recorrer, recurso esse que foi admiti<strong>do</strong><br />
como sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> agravo, a subir nos próprios autos e com efeito<br />
suspensivo – fls. 171 -.<br />
E, fun<strong>da</strong>mentou o respectivo recurso, formulan<strong>do</strong> as seguintes<br />
CONCLUSÕES:<br />
1 - O Veneran<strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> recorri<strong>do</strong>, ao citar uma Missão<br />
Diplomática sem observância <strong>de</strong> requisitos legais,<br />
nomea<strong>da</strong>mente, as previstas na lei portuguesa e no Direito<br />
Internacional praticou um acto ilegal e como tal nulo.<br />
2 - O Veneran<strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> violou as normas <strong>de</strong> Direito<br />
Internacional, nomea<strong>da</strong>mente, a Convenção <strong>de</strong> Viena,<br />
relativamente, às regras a observar sobre as comunicações<br />
entre os Agentes <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> acredita<strong>do</strong>r e uma Missão<br />
Diplomática acredita<strong>da</strong>.<br />
2 - Ain<strong>da</strong> por invocação <strong>do</strong> Princípio <strong>de</strong> Reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é<br />
apanágio <strong>da</strong>s Relações Diplomáticas entre Esta<strong>do</strong>s, o <strong>Tribunal</strong><br />
recorri<strong>do</strong> não tinha legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> citar e, tão pouco, expedir<br />
uma citação para uma Missão Diplomática, uma vez que a<br />
República <strong>de</strong> Moçambique, no seu relacionamento com<br />
Portugal, tem observa<strong>do</strong> to<strong>da</strong>s as normas <strong>de</strong> Direito<br />
Internacional.<br />
4 - A citação <strong>da</strong> Missão Diplomática nos termos em que<br />
ocorreu, não mais constitui uma violação <strong>da</strong> soberania <strong>de</strong> um<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
Esta<strong>do</strong>, uma vez que, não se afigura que o Veneran<strong>do</strong><br />
<strong>Tribunal</strong> tenha esgota<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os mecanismos existentes no<br />
Esta<strong>do</strong> Português para contactar a República <strong>de</strong> Moçambique<br />
sobre qualquer espécie <strong>de</strong> matéria.<br />
5 - O caminho escolhi<strong>do</strong> para a realização <strong>de</strong>ste acto ilegal,<br />
apenas constituiu um facto <strong>de</strong>stabiliza<strong>do</strong>r para o <strong>de</strong>sempenho<br />
<strong>de</strong> funções para as quais aquela enti<strong>da</strong><strong>de</strong> se encontra<br />
acometi<strong>da</strong> junto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Português,<br />
6 - Este facto é agrava<strong>do</strong> pela simples questão <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
cita<strong>da</strong> ser em absoluto alheia ás relações jurídico-materiais<br />
subjacentes às providências judicias para as quais é cita<strong>da</strong>.<br />
7 - O <strong>Tribunal</strong>, não apreciou e tão pouco, avaliou previamente<br />
<strong>da</strong> situação objecto <strong>da</strong>s providências judiciais <strong>da</strong> Autora, <strong>da</strong>í<br />
que citou uma enti<strong>da</strong><strong>de</strong> ilegítima.<br />
8 - De igual mo<strong>do</strong> que, proferiu um <strong>de</strong>spacho com manifesta<br />
violação <strong>da</strong> lei portuguesa e <strong>da</strong>s norma <strong>de</strong> Direito<br />
Internacional relativamente ao relacionamento entre Esta<strong>do</strong>s,<br />
9- O <strong>de</strong>spacho proferi<strong>do</strong> não é consistente e <strong>de</strong>monstra um<br />
manifesto <strong>de</strong>sconhecimento <strong>da</strong>s normas que regem as relações<br />
entre o Esta<strong>do</strong> Português e o Esta<strong>do</strong> Moçambicano,<br />
in<strong>de</strong>ferin<strong>do</strong> pura e simplesmente os factos expressamente<br />
invoca<strong>do</strong>s sem qualquer fun<strong>da</strong>mento legal.<br />
10 - A<strong>de</strong>mais, o <strong>de</strong>spacho recorri<strong>do</strong> omite <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente<br />
factos relevantes que obstam o prosseguimento <strong>da</strong> acção,<br />
nomea<strong>da</strong>mente, a excepção argui<strong>da</strong> pela agravante,<br />
relativamente à Prescrição <strong>do</strong>s factos essenciais que sustentam<br />
o pedi<strong>do</strong> <strong>da</strong> autora, aqui agrava<strong>da</strong>.<br />
11 - Violan<strong>do</strong> assim, o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> julgar com isenção e o<br />
Principio <strong>da</strong> Imparciali<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
12 - O <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> que se recorre, ao in<strong>de</strong>ferir a<br />
excepção <strong>da</strong> ilegitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agravante, fê-lo com erro<br />
manifesto, pois, a sua sustentação é manifestamente ilegal e<br />
contrária á lei e sua jurisprudência.<br />
13 - Demonstra ain<strong>da</strong>, que foi proferi<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma precipita<strong>da</strong> e<br />
sem a percepção profun<strong>da</strong> <strong>do</strong>s factos que fun<strong>da</strong>mentam a<br />
acção e tão pouco a análise <strong>da</strong> posição <strong>da</strong>s partes e em especial<br />
<strong>da</strong> Ré em relação á relação jurídico material controverti<strong>da</strong>.<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
14 - Por ter in<strong>de</strong>feri<strong>do</strong> a intervenção provoca<strong>da</strong> <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente<br />
requeri<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong>, nos termos <strong>do</strong> arca 325° e ss <strong>do</strong> CPC,<br />
sem o mínimo <strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mentação lógica e legalmente<br />
admissível, não somente impe<strong>de</strong> que os presumíveis<br />
intervenientes directos na relação jurídico controverti<strong>da</strong><br />
intervenham para o esclarecimento <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong> material.<br />
15 - Violan<strong>do</strong> assim o <strong>Tribunal</strong> a quo, o Principio <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
Material nas <strong>de</strong>cisões judicias.<br />
16 - O <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho não cumpriu os requisitos essenciais<br />
para se aferir impostos pela lei e jurisprudência e, abstrain<strong>do</strong>se<br />
<strong>da</strong>s suas funções <strong>de</strong> julgar e conhecer os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong><br />
acção e o papel <strong>da</strong>s partes, julgan<strong>do</strong> erra<strong>da</strong>mente sobre a<br />
legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> agravante.<br />
17- No final, o <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho volta a in<strong>de</strong>ferir ilegitimamente<br />
o pedi<strong>do</strong> reconvencional formula<strong>do</strong> pela agravante, e<br />
<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente justifica<strong>do</strong>s e com o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> enquadramento legal,<br />
isto com base na leitura e interpretação erra<strong>da</strong> <strong>da</strong> lei,<br />
18 - Os fun<strong>da</strong>mentos <strong>da</strong> agravante para formular o pedi<strong>do</strong><br />
reconvencional são claros e manifestamente indubitáveis<br />
atentas a sua sustentação assente, efectivamente, nos factos<br />
que serem <strong>de</strong> base <strong>da</strong> acção (alega<strong>do</strong>s contratos abusivos, suas<br />
consequências na esfera jurídica <strong>da</strong> agrava<strong>da</strong>), o que não po<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> merecer a protecção legal, como erra<strong>da</strong>mente o<br />
<strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho postula.<br />
19 - O <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho in<strong>de</strong>fere liminarmente e <strong>de</strong> forma<br />
precipita<strong>da</strong> o pedi<strong>do</strong> reconvencional em momento processual e<br />
legalmente ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>, isto em contradição com a<br />
jurisprudência que relega este facto para o momento <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>spacho sanea<strong>do</strong>r que não se afigura reflecti<strong>do</strong> e enquadra<strong>do</strong><br />
neste simples <strong>de</strong>spacho.<br />
20 - O <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho recorri<strong>do</strong> não mais se objectivou senão<br />
para fazer tábua-rasa a <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> agravante, brin<strong>da</strong>n<strong>do</strong> pela<br />
parciali<strong>da</strong><strong>de</strong> como fez à agrava<strong>da</strong> em tu<strong>do</strong> quanto é<br />
manifestamente contrário á lei, ao Principio <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s<br />
partes (art° 3°-A CPC) e ao Direito Internacional,<br />
Em resumo:<br />
O <strong>do</strong>uto Despacho proferi<strong>do</strong> pelo Veneran<strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> a quo,<br />
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<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
<strong>de</strong>ve ser integralmente revoga<strong>do</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser, na sua<br />
plenitu<strong>de</strong>, parcial, ilegal e viola<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s mais elementares ditames<br />
<strong>da</strong> justiça portuguesa e <strong>do</strong> Direito Internacional.<br />
Em concreto, o <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho proferi<strong>do</strong> pelo Veneran<strong>do</strong><br />
<strong>Tribunal</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, violou em concreto, o art°3°-A CPC; os art°<br />
s5°;9°; 26°;198°,230°; 274°; 325°ss;493°;494°;501°;510° Código<br />
<strong>do</strong> Processo Civil; o art°310 <strong>do</strong> Código Civil; a Lei 23/96 <strong>de</strong> 26<br />
<strong>de</strong> Junho; a Convenção <strong>de</strong> Viena Sobre Relações Diplomáticas<br />
(art°22°); o Direito Internacional expresso no art°8° CRP, art°s<br />
2° e 3° LOFTJ e art°s 202° a 205° to<strong>do</strong>s <strong>da</strong> CRP.<br />
Termos em que,<br />
Deve o presente recurso proce<strong>de</strong>r no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>, ser revoga<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong> o <strong>do</strong>uto <strong>de</strong>spacho recorri<strong>do</strong> e serem reconheci<strong>da</strong>s a<br />
nuli<strong>da</strong><strong>de</strong>s e excepções argui<strong>da</strong>s peia agravante, serem corrigi<strong>da</strong>s<br />
e aprecia<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as omiss6es e erros judicias.<br />
Contra - alegou a recorri<strong>da</strong>/A., formulan<strong>do</strong> as seguintes<br />
CONCLUSÕES:<br />
- Vem a agravante alegar, sem que lhe assista qualquer razão,<br />
a nuli<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> citação efectua<strong>da</strong>, por se ter verifica<strong>do</strong> o<br />
<strong>de</strong>srespeito pelas regras constantes <strong>da</strong> Convenção <strong>de</strong> Viena <strong>de</strong><br />
1961 e <strong>do</strong> artº230º <strong>do</strong> CPC.<br />
- Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, foram cumpri<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as regras impostas para<br />
a citação <strong>da</strong> ré e agravante.<br />
- O Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Moçambique é <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e<br />
capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> judiciárias.<br />
- A agravante é parte legítima na presente acção, <strong>de</strong>ven<strong>do</strong><br />
prosseguir nos seus precisos termos.<br />
- Quanto à parte <strong>do</strong> recurso que versa sobre a matéria <strong>da</strong><br />
prescrição, equivoca-se a agravante, porquanto, tratan<strong>do</strong>-se,<br />
como inequivocamente se trata, <strong>da</strong> invocação <strong>de</strong> excepção<br />
peremptória, não é este o momento processual <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à sua<br />
apreciação, mas antes o <strong>de</strong>spacho sanea<strong>do</strong>r.<br />
- Não po<strong>de</strong>m ser chama<strong>do</strong>s pela agravante a intervir nestes<br />
autos, na posição <strong>de</strong> intervenientes principais, porquanto, se<br />
mostram <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> para tal.<br />
- E, é legalmente inadmissível o pedi<strong>do</strong> reconvencional<br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802...547c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (9 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]
<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
<strong>de</strong>duzi<strong>do</strong> pela agravante/reconvinte.<br />
Conclui no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser nega<strong>do</strong> provimento ao recurso.<br />
Foram colhi<strong>do</strong>s os necessários vistos.<br />
APRECIANDO E DECIDINDO<br />
Thema <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>ndum:<br />
Em função <strong>da</strong>s conclusões <strong>do</strong> recurso (com excepção <strong>da</strong> matéria<br />
referente à alega<strong>da</strong> prescrição, por não ter si<strong>do</strong> objecto <strong>da</strong><br />
<strong>de</strong>cisão recorri<strong>da</strong> – o que se compreen<strong>de</strong> por ser uma excepção<br />
peremptória que só <strong>de</strong>ve ser conheci<strong>da</strong> em se<strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>de</strong>spacho<br />
sanea<strong>do</strong>r) temos que:<br />
- A recorrente/R. não se conforma (por ser uma missão<br />
diplomática) com o facto <strong>de</strong> ter si<strong>do</strong> cita<strong>da</strong> e também enten<strong>de</strong><br />
que, não é parte legítima, razão pela qual, <strong>de</strong>viam ser admiti<strong>do</strong>s<br />
os por si chama<strong>do</strong>s aos autos;<br />
- Finalmente, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a mesma recorrente, que há fun<strong>da</strong>mento<br />
(ao contrário <strong>do</strong> <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> pelo Mº Juiz a quo) para a<br />
reconvenção que, oportunamente, <strong>de</strong>duziu na contestação.<br />
I – Da citação <strong>da</strong> R.:<br />
Segun<strong>do</strong> a R., o <strong>Tribunal</strong> a quo não respeitou a Convenção <strong>de</strong><br />
Viena, pelo que praticou um acto ilegal, logo, nulo.<br />
Sabemos que a citação é o acto pelo qual se dá conhecimento<br />
ao réu <strong>de</strong> que foi proposta contra si uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> acção,<br />
<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> exercer o<br />
respectivo contraditório.<br />
Dispõe o artº230º (citação ou notificação <strong>do</strong>s agentes<br />
diplomáticos):<br />
- Com os agentes diplomáticos observar-se-á o que estiver<br />
estipula<strong>do</strong> nos trata<strong>do</strong>s e, na falta <strong>de</strong> estipulação, o princípio <strong>da</strong><br />
reciproci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Quid juris?<br />
Na matéria sub judice mantém-se a regra consuetudinária <strong>de</strong><br />
direito internacional, segun<strong>do</strong> a qual, os Esta<strong>do</strong>s estrangeiros<br />
gozam <strong>de</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> jurisdição local quanto às causas em<br />
que po<strong>de</strong>riam ser réus.<br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc73231603980...47c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (10 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]
<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
A Constituição <strong>da</strong> República Portuguesa <strong>de</strong> 1976, não revogou<br />
tal regra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, por a mesma não contrariar nenhum <strong>do</strong>s<br />
preceitos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Constituição.<br />
Contu<strong>do</strong>, o sistema constitucional português a<strong>do</strong>ptou a<br />
<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> concepção restrita <strong>da</strong> regra <strong>da</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
jurisdição, que a restringe aos actos pratica<strong>do</strong>s jure imperii,<br />
excluin<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> os actos pratica<strong>do</strong>s jure gestionis.<br />
Os critérios <strong>de</strong> diferenciação entres estes tipos <strong>de</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />
não têm contornos precisos e evoluem <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a prática,<br />
<strong>de</strong>signa<strong>da</strong>mente jurispru<strong>de</strong>ncial, <strong>do</strong>s diversos Esta<strong>do</strong>s que<br />
integram a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional.<br />
A Jurisprudência nacional tem-se mostra<strong>do</strong>, neste <strong>do</strong>mínio,<br />
particularmente oscilante, entre uma concepção mais dilata<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong> alcance <strong>da</strong> regra <strong>da</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> jurisdição (cfr. acordãos<br />
<strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1989, na<br />
Colectânea <strong>de</strong> Jurisprudência, ano XIV, 1989, tomo IV, pág.<br />
178, <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1994, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2000, e <strong>do</strong><br />
<strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>do</strong> Porto, <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1981, na<br />
Colectânea <strong>de</strong> Jurisprudência, ano VI, 1981, tomo I, pág. 183) e,<br />
uma concepção mais restrita (cfr. acórdão <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong> <strong>de</strong> 16-5-85 in Colectânea <strong>de</strong> Jurisprudência,<br />
Ano X, Tomo III, fls.147 - contrato <strong>de</strong> arren<strong>da</strong>mento relativo à<br />
habitação <strong>do</strong> respectivo diplomata -, acórdão <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1990, confirma<strong>do</strong> pelo<br />
acórdão <strong>de</strong>ste Supremo <strong>Tribunal</strong> <strong>de</strong> Justiça, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong><br />
1991, no Boletim <strong>do</strong> Ministério <strong>da</strong> Justiça, n. 403, pág. 267 -<br />
ambos <strong>de</strong>cidiram serem os tribunais <strong>de</strong> trabalho portugueses<br />
internacionalmente competentes para conhecer <strong>de</strong> acção <strong>de</strong><br />
impugnação <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedimento intenta<strong>da</strong> por emprega<strong>da</strong><br />
<strong>do</strong>méstica <strong>do</strong> 1.º Secretário <strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong> <strong>da</strong> França em <strong>Lisboa</strong><br />
-).<br />
É esta última a concepção que se reputa mais correcta e mais<br />
conforme ao estádio actual <strong>da</strong> prática internacional, que<br />
aponta para o afastamento <strong>da</strong> imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> jurisdição <strong>do</strong><br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc73231603980...47c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (11 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]
<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
Esta<strong>do</strong> estrangeiro quanto estejam em causa relações<br />
regula<strong>da</strong>s pelo direito priva<strong>do</strong> (civil e comercial / transacções<br />
comerciais, contratos para fornecimento <strong>de</strong> serviços,<br />
empréstimos e obrigações financeiras, titulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, posse e uso<br />
<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, protecção <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial e<br />
intelectual) – neste senti<strong>do</strong>, “contracts of employment and<br />
contracts for professional services to which a foreign State (or its<br />
agent) is a party” <strong>do</strong> Projecto <strong>de</strong> Resolução relativo à Imuni<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Jurisdição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, aprecia<strong>do</strong> na sessão plenária <strong>de</strong><br />
Santiago <strong>de</strong> Compostela, em 1989, publica<strong>do</strong> no Annuaire <strong>de</strong><br />
l’Institut <strong>de</strong> Droit International, vol. 63, tomo II, pág. 83-120;<br />
artigo II, c) e, a Resolução a<strong>do</strong>pta<strong>da</strong> na sessão <strong>de</strong> Basileia, em<br />
1991, publica<strong>da</strong> no Tableau <strong>de</strong>s Résolutions A<strong>do</strong>ptées (1957-<br />
1991), Instituto <strong>de</strong> Direito Internacional, Paris, 1992, págs. 220-<br />
231 -.<br />
Ora, in casu, consubstancia a causa <strong>de</strong> pedir o alega<strong>do</strong><br />
incumprimento <strong>do</strong> contrato <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço celebra<strong>do</strong><br />
entre a A. e a R..<br />
A R., segun<strong>do</strong> os <strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> fls.10 e 11, interveio nos<br />
contratos em análise, precisamente, na sua veste civil,<br />
pratican<strong>do</strong> pois, um mero acto jure gestionis, e não, jure<br />
imperii.<br />
Deste mo<strong>do</strong> e, em conformi<strong>da</strong><strong>de</strong> com os fun<strong>da</strong>mentos antes<br />
aduzi<strong>do</strong>s, reconhece-se ter a R., personali<strong>da</strong><strong>de</strong> e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
judiciárias e, julga-se váli<strong>da</strong> a citação <strong>da</strong> R.<br />
II - Da legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> R.:<br />
Afasta<strong>da</strong> que está a imuni<strong>da</strong><strong>de</strong> jurisdicional <strong>da</strong> R., atenta a<br />
natureza cível <strong>da</strong> questão a dirimir, e ain<strong>da</strong>, porque “na falta<br />
<strong>de</strong> indicação em contrário, são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s titulares <strong>do</strong><br />
interesse relevante para o efeito <strong>de</strong> legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> os sujeitos <strong>da</strong><br />
relação controverti<strong>da</strong>, tal como é configura<strong>da</strong> pelo A.”, concluise<br />
pela legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> R., para contradizer, o alega<strong>do</strong> pela A.<br />
– artº26º nº3 <strong>do</strong> CPC -.<br />
III – Do pedi<strong>do</strong> <strong>de</strong> intervenção provoca<strong>da</strong> <strong>de</strong> terceiros:<br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc73231603980...47c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (12 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]
<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
A R. <strong>de</strong>duziu a intervenção <strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>s – nos respectivos<br />
contratos – utiliza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> serviço móvel contrata<strong>do</strong> entre a A.<br />
e R..<br />
O Mº Juiz a quo – veja-se relatório supra – in<strong>de</strong>feriu esse<br />
pedi<strong>do</strong>.<br />
Quid juris?<br />
Pensamos que, as intervenções solicita<strong>da</strong>s não <strong>de</strong>vem ser<br />
admiti<strong>da</strong>s.<br />
Isto porque, os factos alega<strong>do</strong>s pela R. (serem os chama<strong>do</strong>s os<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros contratantes e beneficiários <strong>do</strong> serviço móvel<br />
presta<strong>do</strong> pela A.) a provarem-se, não levam, como preten<strong>de</strong> a<br />
R., ao reconhecimento <strong>de</strong> qualquer direito <strong>de</strong> regresso -<br />
artº330º <strong>do</strong> CPC -, mas sim, como se frisou na <strong>de</strong>cisão<br />
impugna<strong>da</strong>, à sua absolvição “tout court”.<br />
Pelo que fica dito, mantém-se, igualmente, o <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong> pelo<br />
<strong>Tribunal</strong> a quo, neste particular.<br />
IV – Da reconvenção:<br />
Mutatis mutandis, os argumentos que levam a que, não se<br />
permita a <strong>de</strong>duzi<strong>da</strong> intervenção <strong>de</strong> terceiros, implicam a não<br />
admissão <strong>da</strong> contra-acção, sen<strong>do</strong> certo, igualmente, que esta<br />
tem subjacente, um conluio entre a A. e os “chama<strong>do</strong>s”, que<br />
não tem cabimento em qualquer <strong>da</strong>s alíneas <strong>do</strong> artº274º nº2 <strong>do</strong><br />
CPC, que elenca os casos – taxativos – <strong>de</strong> admissibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />
reconvenção, <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>mente, na sua a) - (por exemplo: A vem<br />
pedir a con<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> B na prestação que ele se obrigou no<br />
contrato bilateral por ambos celebra<strong>do</strong> e, B, por via <strong>de</strong><br />
reconvenção, exige o cumprimento judicial <strong>da</strong> prestação a que o<br />
A, por força <strong>do</strong> mesmo contrato, se encontra adstrito com ele) -<br />
in “Manual <strong>de</strong> Processo Civil”, <strong>de</strong> Antunes Varela, Coimbra<br />
Editora, 1984, pags.308 a 319, em especial, pags.313 e 314 -.<br />
Pelo exposto, também se mantém o <strong>de</strong>cidi<strong>do</strong>, quanto a este<br />
ponto.<br />
DECISÃO:<br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc73231603980...47c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (13 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]
<strong>Acórdão</strong> <strong>do</strong> <strong>Tribunal</strong> <strong>da</strong> <strong>Relação</strong> <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong><br />
- Assim e pelos fun<strong>da</strong>mentos antes explicita<strong>do</strong>s, os Juízes <strong>de</strong>sta<br />
<strong>Relação</strong> acor<strong>da</strong>m em não <strong>da</strong>r provimento ao recurso <strong>da</strong> R. e,<br />
consequentemente, mantêm as impugna<strong>da</strong>s <strong>de</strong>cisões proferi<strong>da</strong>s<br />
pelo Mº Juiz a quo.<br />
Custas pela agravante/R..<br />
<strong>Lisboa</strong>, 6-5-08<br />
Afonso Henrique Cabral Ferreira (relator)<br />
Rui Torres Vouga<br />
José Gabriel Pereira <strong>da</strong> Silva<br />
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc73231603980...47c01?OpenDocument&Highlight=0,10414%2F2007-1 (14 <strong>de</strong> 14) [14-03-2013 16:11:10]