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a imagem nas imagens: leituras iconológicas - Jackbran.com.br

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REVISTA LUMEN ET VIRTUS<<strong>br</strong> />

ISSN 2177-2789<<strong>br</strong> />

VOL. I Nº 2 MAIO/2010<<strong>br</strong> />

Não se quer dizer, contudo, que os artistas sempre desfrutaram de boa reputação,<<strong>br</strong> />

inclusive na base da sociedade ocidental, a cultura grega. Na Grécia, por exemplo, exaltavam-se as<<strong>br</strong> />

estátuas do τεχυίτης (technítes - artífice) – <strong>com</strong>o Fídias –, porém este era menosprezado por<<strong>br</strong> />

executar “mero” trabalho manual, alguém que “ape<strong>nas</strong>” domina a τέχυη (téchne) mecânica.<<strong>br</strong> />

Afinal, não é porque a o<strong>br</strong>a oferecia prazer que os artífices deveriam ser dignos de estima. Ao<<strong>br</strong> />

poeta, cuja o<strong>br</strong>a também era exaltada, também não restava tanta consideração. Isso porque, para<<strong>br</strong> />

os gregos, a o<strong>br</strong>a poética não dependia das próprias faculdades do poeta, mas da inspiração 8 , ou<<strong>br</strong> />

seja, o poeta não era filtro do meio em que estava, mas da divindade a que estava submetido. Vale<<strong>br</strong> />

salientar que a inspiração para Platão em A República era sinal de falta de conhecimento próprio,<<strong>br</strong> />

do jogo dos deuses em relação aos homens, cujo fim seriam o encantamento e a distância das<<strong>br</strong> />

coisas sérias, logo não conduziria à sabedoria e a virtude, pois envolvia o homem num mundo<<strong>br</strong> />

onírico e irreal.<<strong>br</strong> />

Para o teórico de arte alemão Erwin Panofsky, é possível identificar três níveis no tema<<strong>br</strong> />

ou no significado de uma o<strong>br</strong>a de arte, a fim de que possamos <strong>com</strong>preender os conceitos de<<strong>br</strong> />

“iconografia” e “iconologia” que se empregará neste artigo:<<strong>br</strong> />

a) tema primário ou natural (descrição pré-iconográfica): identificação das formas básicas 9 de<<strong>br</strong> />

uma expressão artística, cuja base é nossa experiência prática: cores, linhas e volumes; materiais<<strong>br</strong> />

identificados <strong>com</strong> as formas animadas ou inanimadas (homens, animais, plantas, objetos etc)<<strong>br</strong> />

<strong>com</strong>o <strong>br</strong>onze, madeira, pedra; percepção de alguns modos de expressão – alegria, tristeza, raiva;<<strong>br</strong> />

b) tema secundário ou convencional (descrição iconográfica): ligação de motivos artísticos e<<strong>br</strong> />

suas <strong>com</strong>binações <strong>com</strong> assuntos ou conceitos que podem ser reconhecidos <strong>com</strong>o portadores de<<strong>br</strong> />

significados, <strong>com</strong>o as alegorias; pressupõe, portanto, familiaridade <strong>com</strong> temas ou conceitos<<strong>br</strong> />

específicos (<strong>imagens</strong> de santos <strong>com</strong> uma palma na mão representam que foram martirizados, por<<strong>br</strong> />

exemplo); demanda, portanto, conhecimento prévio para sua interpretação 10 ;<<strong>br</strong> />

c) significado intrínseco ou conteúdo (descrição iconológica): apreensão de princípios<<strong>br</strong> />

subjacentes que “revelam a atitude básica de uma nação, de um período, classe social, crença<<strong>br</strong> />

8 Pode-se dizer, portanto, que o resultado do processo artístico provém de dois saberes: de um lado o saber racional<<strong>br</strong> />

ou técnico, de outro o irracional que provém da inspiração. Quando o artífice constrói um navio, utiliza de seus<<strong>br</strong> />

conhecimentos adquiridos via τέχυη juntamente <strong>com</strong> a razão, no entanto, <strong>com</strong>o a inspiração proveria de outrem e<<strong>br</strong> />

não de capacidades próprias, essa escaparia do domínio da razão.<<strong>br</strong> />

9 Puras para Panofsky.<<strong>br</strong> />

10 No entanto, tal conhecimento prévio pode não garantir a totalidade da interpretação, já que podem haver variáveis<<strong>br</strong> />

de percurso, conforme exemplo dado por Panofsky acerca da pseudo-figura de João Batista degolado. (Cf. Ibidem, pp.<<strong>br</strong> />

59-62)<<strong>br</strong> />

Antônio Jackson de Souza Brandão

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