17.04.2013 Views

218 Em busca da infância perdida - Aslegis

218 Em busca da infância perdida - Aslegis

218 Em busca da infância perdida - Aslegis

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>218</strong><br />

<strong>Em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong> <strong>infância</strong> perdi<strong>da</strong><br />

Edmílson Caminha<br />

Escritor e jornalista, é consultor legislativo<br />

<strong>da</strong> Câmara dos Deputados, área de re<strong>da</strong>ção<br />

parlamentar. Obras publica<strong>da</strong>s: Palavra de<br />

escritor (1995); Inventário de crônicas (1997);<br />

Villaça, um noviço na solidão do mosteiro<br />

(1998); Lutar com palavras (2001); Drummond,<br />

a lição do poeta (2002); Pedro Nava: em<br />

<strong>busca</strong> do tempo vivido (2003); Brasil e Cuba:<br />

modos de ver, maneiras de sentir (2007) e<br />

O monge do Hotel Bela Vista (2008).<br />

Querido Ivan<br />

Haroldo maranhão<br />

Belém: Jornal Pessoal<br />

1998


esumo<br />

Palavras-Chave<br />

Abstract<br />

Keywords:<br />

Abor<strong>da</strong>m-se, nesta resenha, aspectos <strong>da</strong> estrutura e<br />

do conteúdo do relato <strong>da</strong> experiência de observadora–participante<br />

feita por Barbara Ehrenreich, em três<br />

diferentes Estados americanos, analisando as condições<br />

de vi<strong>da</strong> e trabalho <strong>da</strong> população feminina de<br />

baixa ren<strong>da</strong>.<br />

resenha. Livro: miséria à Americana. Subemprego.<br />

Condições de vi<strong>da</strong>. Baixa ren<strong>da</strong>. Agruras <strong>da</strong> população<br />

feminina<br />

The intention of this book review is to comment aspects<br />

of the content and structure of the report, made by Barbara<br />

Ehrenreich, of her experience as a participant-observer,<br />

in three different American States, analysing the<br />

life conditions of the female low income population.<br />

Book review: Nickel and Dimed: on (not) getting by<br />

in America. Underemployement. Life conditions. Low<br />

income. Hardcomes of the female population.<br />

219


Uma <strong>da</strong>s mais substanciosas vertentes<br />

do memorialismo brasileiro é aquela<br />

em que se destacam Minha formação,<br />

de Joaquim Nabuco; Minha vi<strong>da</strong> de menina,<br />

de Helena Morley; Infância, de Graciliano<br />

Ramos, e Meus verdes anos, de<br />

José Lins do Rego. Nessa importante linhagem<br />

pode-se inscrever, sem nenhum<br />

favor, Querido Ivan, de Haroldo Maranhão<br />

(Belém, Jornal Pessoal, 1998). São<br />

21 cartas, plenas de afeto e de grandeza<br />

humana, man<strong>da</strong><strong>da</strong>s do Rio de Janeiro<br />

pelo autor do Memorial do fim para o<br />

irmão querido, que sucumbe ao câncer<br />

na capital paraense.<br />

A matéria <strong>da</strong>ria um romance, que<br />

Haroldo bem poderia ter escrito: duas<br />

crianças que vivem com os pais no prédio<br />

do jornal Folha do Norte, pertencente<br />

à família, impossibilita<strong>da</strong>s de sair à rua<br />

pelo perigo de um atentado, tamanho a<br />

violência com que se odiavam governo<br />

e oposição na Belém <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s de<br />

1920 a 1940. Assim, em vez <strong>da</strong>s praças<br />

e quintais em que costumam reinar os<br />

meninos, Haroldo e Ivan confinavam-se<br />

à re<strong>da</strong>ção e às oficinas do diário; como<br />

não podiam empinar papagaios nem<br />

jogar futebol, brincavam de ser jornalistas,<br />

profissão que acabaram por exercer<br />

como dois dos melhores valores <strong>da</strong> nossa<br />

imprensa.<br />

Enquanto resgata o tempo histórico<br />

e a circunstância política, Haroldo Maranhão<br />

dá a conhecer casos e tipos surpreendentes,<br />

como o norte-americano que<br />

desembarca no porto carioca <strong>da</strong> Praça<br />

Mauá e, sem perguntar na<strong>da</strong> a ninguém<br />

(mesmo porque não sabe uma palavra<br />

de português), vence a pé os muitos qui-<br />

220 Cadernos ASLEGIS | 37 • maio/agosto • 2009<br />

lômetros que o separam do endereço de<br />

Ivan, em Copacabana... Ou o Dr. França,<br />

médico de confiança <strong>da</strong> família Maranhão<br />

que, já velho, apetrechava-se de<br />

um cinturão de couro com enorme falo<br />

de borracha, para suplício <strong>da</strong>s parceiras<br />

de cama...<br />

Histórias que Haroldo conta sempre<br />

com leveza e graça: “<strong>Em</strong> tarde que<br />

não esqueço, enfrentei um bigu na rua,<br />

porque ousou gracejar com a minha namora<strong>da</strong><br />

Conceição, irmã <strong>da</strong> tua, Célia,<br />

e irmãs do ‘Café-com-leite’, duas belezocas<br />

que se transformavam em dois<br />

bofes quando confronta<strong>da</strong>s com a mãe,<br />

que era o mais perfeito violão produzido<br />

no Pará, pernas fantásticas, ancas tornea<strong>da</strong>s<br />

na melhor olaria do Outeiro e de<br />

quem eu suspeitava ser um demônio na<br />

cama.”<br />

Para o jornalista Lúcio Flávio Pinto,<br />

são essas cartas de Haroldo Maranhão<br />

“a melhor e mais pura literatura<br />

que Belém já inspirou”. O elogio vale<br />

por um prêmio, e basta para recomen<strong>da</strong>r<br />

Querido Ivan ao mais exigente<br />

dos leitores, para quem um bom texto<br />

literário é joia que não tem preço.<br />

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!