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MAHONY, <strong>Mary</strong> <strong>Ann</strong><br />
tensas, refl etindo os legados de três séculos de escravidão e a<br />
hierarquia social colonial. O problema central estava na recusa<br />
da elite tradicional ilheense em tratar os novos-ricos como iguais<br />
– como membros da mesma classe social. As elites tradicionais<br />
consideravam os proprietários novos-ricos como inferiores. Eles<br />
encontravam a confi rmação para as suas atitudes nos hábitos<br />
de consumo dos agricultores novos-ricos. Para os proprietários<br />
da aristocracia, as marcas de riqueza dos novos-ricos – as casas<br />
enormes e cheias de ostentação, como monogramas acima de<br />
cada porta de entrada, os penicos de porcelana Limoges importados<br />
da França (considerados muito bonitos e elegantes para o<br />
uso para o qual foram feitos) usados como vasos de fl ores nas<br />
sacadas das novas mansões, os pianos nas casas das fazendas<br />
onde ninguém sabia tocar – simplesmente mostravam que os<br />
novos-ricos cacauicultores eram “grosseiros”. Para os aristocratas<br />
baianos, o novo grupo tinha riqueza, mas isso não os elevava à<br />
condição de indivíduos distintos e ilustres. No máximo, eram<br />
pouco mais do que uns lavradores caboclos ou mulatos e, na pior<br />
das hipóteses, ex-escravos arrogantes com dinheiro.<br />
A elite de Salvador partilhava as atitudes de seus parentes<br />
e amigos das famílias aristocráticas de Ilhéus em relação aos<br />
novos-ricos, mesmo porque muitos membros da elite tradicional<br />
ilheense descendiam de famílias ricas do Recôncavo. Quando os<br />
novos-ricos começaram a aparecer em Salvador para tratar de<br />
negócios, cuidar da saúde, educar os fi lhos, tirar férias ou morar,<br />
eles enfrentaram muita discriminação social por parte da elite<br />
soteropolitana. Talvez os homens novos-ricos e os aristocratas<br />
se encontrassem nas casas de comércio da Cidade Baixa de Salvador,<br />
mas as famílias não conviviam. As famílias aristocráticas<br />
de Salvador não abriam suas casas para receber os novos-ricos<br />
como hóspedes, nem os convidavam para almoçar em casa ou<br />
participar de festas de aniversário, de batismo ou de casamento.<br />
Além disso, não consideravam os fi lhos ou fi lhas dos novos-ricos<br />
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Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.<br />
v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 737-793.