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Mary Ann Mahony - Uesc

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Um passado para justifi car o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política...<br />

pouco, mas defi nitivamente, o capitalismo os estava arrastando<br />

para o mundo moderno. Contudo, isso ocorria sem a cooperação<br />

dos próprios cacauicultores 70 .<br />

Eusínio Lavigne fi cou furioso com Amado por causa do<br />

romance Gabriela. Em Cultura e regionalismo cacaueiro: A<br />

personalidade de Manuel Ferreira da Câmara Betencourt e Sá,<br />

ele argumentou que era responsabilidade dos intelectuais da<br />

região cacaueira trabalhar pelo seu bem. Em sua visão, Amado<br />

traiu sua terra natal ao escrever um romance que mostrava que<br />

a riqueza do cacau havia criado uma sociedade podre, uma terra<br />

de aventureiros, charlatões e mulheres pervertidas. Alguns fi caram<br />

enfurecidos pelo tratamento que Amado deu às mulheres<br />

ilheenses. Outros não gostaram de ter sido chamados de grileiros,<br />

exploradores de seus trabalhadores e de serem comparados<br />

aos senhores de escravos do século XIX. Houve os que fi caram<br />

escandalizados porque ele parecia estar “lavando a roupa suja”<br />

de várias famílias da região cacaueira em público. Gabriela foi<br />

polêmico em todo o Brasil, mas em Ilhéus a polêmica ganhou<br />

cores fortes entre a elite ilheense que se sentiu atacada em seus<br />

valores e símbolos fundamentais 71 .<br />

Apesar de Gabriela, os cacauicultores receberam assistência<br />

signifi cativa do governo Kubitschek, os quais há muito tempo<br />

reclamavam do governo federal a modernização do porto, a<br />

grande obra que não veio com esta gestão. Mas, em compensação,<br />

em 1957 a administração federal mais uma vez perdoou as<br />

dívidas dos cacauicultores, declarou moratória para o pagamento<br />

dos empréstimos e criou a Comissão Executiva do Plano da<br />

Lavoura Cacaueira (CEPLAC), o maior programa de pesquisa<br />

e desenvolvimento de cacau do mundo 72 . Os produtores logo<br />

perceberam que a CEPLAC não era o Instituto de Cacau da<br />

Bahia. Tosta Filho planejou o novo Instituto, mas ele aprendeu<br />

com seus erros. Especialistas de todo o Brasil vieram trabalhar<br />

na CEPLAC nos vários estágios da lavoura cacaueira, menos em<br />

Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.<br />

v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 737-793.<br />

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