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Mary Ann Mahony - Uesc

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MAHONY, <strong>Mary</strong> <strong>Ann</strong><br />

sua história e cultura. Infl uenciados por Tosta, muitos sociólogos<br />

e agrônomos logo perceberam que era fundamental conceder<br />

títulos de terras aos pequenos produtores. Não demorou muito<br />

para que a elite viesse a perceber que aqueles técnicos representavam<br />

uma ameaça.<br />

Foi nesse contexto que um “jornalista, interessado nos problemas<br />

da economia cacaueira”, Carlos Pereira Filho, publicou<br />

um livro em que afi rmava que a economia cacaueira fora fundada<br />

por famílias aristocratas que possuíam latifúndios e muitos<br />

escravos. Ele rejeitou a versão da história regional que afi rmava<br />

que a economia cacaueira era “produto do obscuro trabalhador,<br />

cujo único capital foram os seus braços.” “Ao contrário”, ele<br />

escreveu, “nasceu a lavoura cacaueira ao lado dos engenhos<br />

de açúcar, economia explorada naquele tempo nas fazendas do<br />

Almada, Castelo Novo e Provisão, dos Cerqueira Lima, dos d´El<br />

Rei, dos Adami, famílias tradicionais, que dominavam aquelas<br />

passagens com suas propriedades” 73 . Esses cacauicultores sofreram<br />

com a abolição, porque “a alforria libertou os escravos e a<br />

lavoura fi cou sem braços” 74 . Alguns trabalhadores assalariados<br />

ou desbravadores prosperaram, acreditava, mas ele valorizava<br />

mais as ações de famílias nobres na formação e no desenvolvimento<br />

da lavoura cacaueira.<br />

Pereira Filho poderia ter economizado sua energia e seu papel,<br />

pois ninguém deu muita atenção ao que ele escreveu - algo<br />

injusto, pois a história que ele contou aproxima-se das evidências<br />

encontradas nos documentos do século XIX. A nova geração da<br />

elite cacaueira, em sua maioria fi lhos e netos dos primeiros cacauicultores,<br />

ignorava o fato de que alguns de seus avós haviam<br />

se utilizado de mão-de-obra escrava. Tendo sido criados com<br />

histórias sobre os desbravadores heróicos, de acordo com Odette<br />

Rosa da Silva, eles acreditavam que seus antepassados foram pioneiros<br />

que conquistaram a fl oresta apesar de muitas difi culdades.<br />

Viam a si mesmos como os herdeiros daqueles primeiros heróis<br />

776<br />

Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.<br />

v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 737-793.

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