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Um passado para justifi car o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política...<br />
na sua luta por se tornar hegemônica” 82 .<br />
Os mestrandos baianos não foram os únicos a achar difícil<br />
desafi ar o que era uma narrativa bem-estabelecida. Angus Wright,<br />
um doutorando americano, também estudou a história da economia<br />
cacaueira na mesma época e descobriu documentos que permitiram<br />
argumentar, em sua tese de doutorado, que uma “modesta oligarquia”,<br />
com alguns escravos e relações políticas com o governo da<br />
Província, existia em Ilhéus no século XIX. Mas ele também terminou<br />
argumentando que essas famílias, fundamentalmente, não foram<br />
importantes para o desenvolvimento geral da economia 83 . Wright, na<br />
verdade, reiterou o que historiadores e cientistas vinham repetindo<br />
há décadas sobre a história da região 84 .<br />
Três sociólogos, Selem Raschid Asmar, Amílcar Baiardi e<br />
Gustavo Falcon, levaram a tradição histórica adiante na metade<br />
dos anos 80. Eles começaram a argumentar que o cacau tinha sido<br />
uma cultura de trabalho livre na Bahia, que os escravos nunca<br />
haviam trabalhado no cacau. Eles se apoiaram em Adonias Filho,<br />
na tradição local e em vários textos que falavam dos pobres<br />
camponeses cultivando cacau no século XIX 85 . Baiardi e Falcon<br />
parecem acreditar que as elites cacaueiras eram compostas por<br />
ladrões violentos que roubavam as terras, mas eles nunca questionaram<br />
a narrativa sobre os pioneiros de forma alguma. Não havia<br />
necessidade de se fazer isso: nos anos 80, todo mundo conhecia<br />
os fundamentos da história regional e eles não incluíam grandes<br />
propriedades, donos aristocráticos ou trabalho escravo.<br />
Em 1986, quando publicou Tocaia Grande: a face obscura,<br />
Jorge Amado reforçou o que antes tinha escrito sobre o processo<br />
de ocupação da região. O livro traz poucas novidades e não é<br />
uma de suas obras-primas. Está repleto de homens que usaram<br />
da violência e de redes de clientelismo para se tornar ricos 86 .<br />
Mais uma vez, ele criticou o mito dos desbravadores, embora<br />
não ofereça uma narrativa histórica alternativa sobre as origens<br />
sociais da elite cacaueira.<br />
Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.<br />
v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 737-793.<br />
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