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Um passado para justifi car o presente: memória coletiva, representação histórica e dominação política...<br />
assistência federal em tempos difíceis. Então, nós sustentamos<br />
que esta versão histórica serviu como uma arma na luta da elite<br />
cacaueira por legitimidade e poder tanto no contexto local quanto<br />
nos contextos regional e nacional.<br />
Portanto, essa narrativa heróica do pioneirismo das elites<br />
cacaueiras não foi inventada, pelo menos não completamente 5 .<br />
Defendemos que ela refl ete as experiências e as preocupações de<br />
um grupo de novos-ricos 6 da elite cacaueira no início do século<br />
XX, as quais podem ser comprovadas em documentos ofi ciais,<br />
em publicações dos primeiros anos do século XX, em estudos<br />
agronômicos, pela tradição oral e pelas memórias. Mas a tradição<br />
virou mito quando começou a superdimensionar o papel histórico<br />
deste grupo em detrimento do papel de outros grupos, entre<br />
eles o dos grandes proprietários que mandaram seus escravos<br />
para plantar cacau no século XIX e também formaram parte da<br />
elite cacaueira do século XX.<br />
O presente trabalho refl ete sobre o desenvolvimento da tradição<br />
narrativa do pioneirismo heróico, como ela se relacionou com<br />
as disputas políticas regionais e como, com o passar do tempo,<br />
foi sendo transformada em memória coletiva e em história 7 . Ele<br />
mostra que elites cacaueiras, funcionários do governo, cientistas<br />
e intelectuais não a criaram, embora, várias vezes, tenham<br />
ajudado a dar forma, a disseminá-la e a torná-la o paradigma<br />
dominante da história regional. Como veremos, a batalha pelo<br />
controle político da região sempre esteve intimamente ligada à<br />
luta pelo controle da história.<br />
1. DA MADEIRA, DOS PRODUTOS ALIMENTÍCIOS E DO AÇÚCAR AO CACAU:<br />
ILHÉUS ATÉ OS ANOS 1880<br />
Ao longo do período colonial e nos primeiros dois terços<br />
do século XIX, o que viria a ser a região cacaueira da Bahia<br />
Cadernos de Ciências Humanas - Especiaria.<br />
v. 10, n.18, jul. - dez. 2007, p. 737-793.<br />
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