O papel dos Brics na economia mundial - Paulo Roberto de Almeida
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A rigor, a Chi<strong>na</strong> parece reproduzir, com maior velocida<strong>de</strong> adaptativa e uma imensa<br />
ambição <strong>de</strong> recuperar rapidamente as décadas perdidas <strong>de</strong> socialismo doentio, a experiência<br />
japonesa da Revolução Meiji – mandar seus filhos apren<strong>de</strong>r com os lí<strong>de</strong>res científicos e<br />
tecnológicos do capitalismo avançado – e, sobretudo, o milagre japonês do pós-Segunda<br />
Guerra, com muita cópia e adaptação do know-how oci<strong>de</strong>ntal e um cuidado extremo em<br />
fabricar os mesmos produtos com novos <strong>de</strong>senhos e marcas próprias. De to<strong>dos</strong> os Bric, é a<br />
única <strong>economia</strong> emergente que parece <strong>de</strong>sti<strong>na</strong>da a converter-se, efetivamente, em <strong>economia</strong><br />
domi<strong>na</strong>nte, a<strong>de</strong>mais <strong>de</strong> potência tecnológica e militar, muito embora ela ainda esteja muito<br />
longe <strong>de</strong> igualar, para os seus cidadãos – muitos <strong>de</strong>les ainda súditos <strong>de</strong> um regime autoritário<br />
–, os níveis <strong>de</strong> bem-estar individual das populações <strong>dos</strong> países do capitalismo avançado.<br />
A Rússia, amputada <strong>de</strong> territórios, recursos <strong>na</strong>turais e humanos em dimensões<br />
importantes, não parece próxima <strong>de</strong> recuperar a relevância estratégica e política alcançada no<br />
ponto máximo <strong>de</strong> sua “expansão” geopolítica do fi<strong>na</strong>l <strong>dos</strong> anos 1970. Ainda que <strong>de</strong>tentora <strong>de</strong><br />
formidável arse<strong>na</strong>l nuclear e <strong>de</strong> certa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> projeção militar, ela não terá condições<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>safiar efetivamente os dois gigantes da <strong>economia</strong> <strong>mundial</strong> <strong>de</strong> mea<strong>dos</strong> do presente século.<br />
Ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos finitos e mesmo sua <strong>de</strong>mografia é <strong>de</strong>cli<strong>na</strong>nte.<br />
No que se refere à Índia, ela po<strong>de</strong> domi<strong>na</strong>r com competência os serviços eletrônicos<br />
que ela já oferece <strong>de</strong> maneira competitiva, mas terá <strong>de</strong> absorver <strong>na</strong> <strong>economia</strong> <strong>de</strong> mercado<br />
cente<strong>na</strong>s <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> camponeses que ainda vegetam numa <strong>economia</strong> ancestral. O Brasil<br />
tem pela frente, durante uma geração aproximadamente, a chance <strong>de</strong> beneficiar-se do<br />
chamado “bônus <strong>de</strong>mográfico” – ou seja, a melhor relação possível entre população ativa e<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes econômicos –, oportunida<strong>de</strong> que será provavelmente perdida, em gran<strong>de</strong> medida<br />
<strong>de</strong>vido à baixa qualificação técnica e educacio<strong>na</strong>l da população, o que reduz bastante os<br />
ganhos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>.<br />
Essas <strong>de</strong>ficiências não <strong>de</strong>vem impedir os Bric <strong>de</strong> se tor<strong>na</strong>rem relevantes: eles o serão<br />
pelo gran<strong>de</strong> peso <strong>de</strong>mográfico e enquanto merca<strong>dos</strong> <strong>de</strong> consumo em expansão – com exceção<br />
da Rússia –, mas não é provável que alcancem o nível <strong>de</strong> excelência tecnológica já logrado<br />
por quase to<strong>dos</strong> os países do bloco avançado do capitalismo <strong>mundial</strong>. A exceção, mais uma<br />
vez, <strong>de</strong>ve ser a Chi<strong>na</strong>, que reproduzirá o <strong>de</strong>sempenho tecnológico <strong>de</strong> Taiwan e da Coréia do<br />
Sul com rapi<strong>de</strong>z surpreen<strong>de</strong>nte.<br />
No plano da liberalização <strong>dos</strong> movimentos <strong>de</strong> capitais e da abertura comercial, as<br />
políticas <strong>dos</strong> Bric são também muito diversas, embora ten<strong>de</strong>ntes à adoção <strong>de</strong> um padrão mais<br />
propício à sua integração inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, o que contrasta com as formas historicamente<br />
restritivas que to<strong>dos</strong> eles exibiam até menos <strong>de</strong> uma geração atrás. As rupturas mais<br />
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