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XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO <strong>CCSA</strong><br />

ISSN 1808-6381<br />

PROJETO ECOLOGIA DA LEITURA: UMA INTERVENÇÃO NA SALA DE AULA A PARTIR DA<br />

VIVÊNCIA DA LITERATURA INFANTIL<br />

Introdução<br />

¹ Graduanda <strong>do</strong> Curso de Pedagogia. E-mail: iedalicurgo@hotmail.com<br />

² Graduanda <strong>do</strong> Curso de Pedagogia. E-mail: samela.raissa@hotmail.com<br />

Iêda Licurgo Gurgel Fernandes, UFRN ¹<br />

Sâmela Raissa Oliveira Batista, UFRN ²<br />

O projeto Ecologia da Leitura é um trabalho de pesquisa dividi<strong>do</strong> em três etapas, proposto<br />

aos alunos da disciplina Literatura Infantil I (EDU 0596) ministra<strong>do</strong> pela professora Dra. Marly<br />

Amarilha no curso de Pedagogia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>Grande</strong> <strong>do</strong> Norte.<br />

A primeira etapa visa a investigação e o estu<strong>do</strong> da realidade de uma escola pública, da<br />

cidade de Natal-RN, no que concerne ao méto<strong>do</strong> de ensino e ao ambiente físico em que são<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s os trabalhos de incentivo a leitura de literatura infantil.<br />

A segunda consiste na realização de um seminário ministra<strong>do</strong> pelos investiga<strong>do</strong>res sobre<br />

prática pedagógica à uma professora de uma turma <strong>do</strong> Ensino Fundamental I, visan<strong>do</strong> a reciclagem<br />

de idéias relacionadas a atividade literária.<br />

Concluin<strong>do</strong> as etapas <strong>do</strong> projeto, a terceira etapa proporciona uma vivência e intervenção<br />

literária com os alunos da turma escolhida, sen<strong>do</strong> estes posteriormente entrevista<strong>do</strong>s.<br />

A pesquisa teve como objetivos: avaliar as condições físicas da biblioteca e/ou sala de leitura<br />

perceben<strong>do</strong> o funcionamento e o desenvolvimento das atividades nesses ambientes; oferecer ao<br />

professor participante <strong>do</strong> projeto subsídios teórico-meto<strong>do</strong>lógicos para o ensino de leitura e literatura;<br />

realizar uma contação de história da literatura infantil às crianças, promoven<strong>do</strong> uma nova experiência<br />

com a literatura na sala de aula; entrevistar certa quantidade de crianças verifican<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s<br />

com os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s durante a disciplina.<br />

Ecologia da Leitura é um projeto proposto pela professora de Literatura Infantil que possibilita<br />

ao aluno <strong>do</strong> curso de Pedagogia um contato com a realidade escolar, uma prática da contação de<br />

histórias infantis, um suporte a formação <strong>do</strong> professor da instituição escolar, introduzin<strong>do</strong> os<br />

investiga<strong>do</strong>res a pesquisa de Iniciação Científica e Extensão. A escola que recebe esse projeto tem a<br />

oportunidade de renovar a meto<strong>do</strong>logia de trabalho com a literatura infantil melhoran<strong>do</strong> o seu ensino-<br />

aprendizagem, pois incentiva o gosto pela leitura facilitan<strong>do</strong> a formação de leitores ativos na<br />

sociedade.<br />

A possibilidade de trabalho com a literatura na sala de aula de Ensino Fundamental tem como<br />

justificativa, segun<strong>do</strong> Diane Valdez e Patrícia Lapot Costa “[...] o prazer e o gosto das crianças em


XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO <strong>CCSA</strong><br />

ISSN 1808-6381<br />

ouvir histórias, <strong>do</strong> conhecimento que essa prática propicia, <strong>do</strong> estímulo para a imaginação e<br />

criatividade, incentiva o „gosto‟ da leitura, <strong>do</strong> estímulo para o olhar e a linguagem etc.” (VALDEZ e<br />

COSTA, 2007, p. 168).<br />

Para realização <strong>do</strong> projeto utilizamos os seguintes procedimentos: observação <strong>do</strong> espaço<br />

físico da biblioteca e <strong>do</strong> acervo referente á literatura infantil; realizar um seminário sobre o capítulo<br />

„Literatura Infantil e prática pedagógica‟ <strong>do</strong> livro Estão Mortas as Fadas?Literatura infantil e prática<br />

pedagógica de Marly Amarilha; contar ou ler uma história, de preferência um conto de fada; planejar a<br />

atividade segun<strong>do</strong> as etapas de pré, durante e pós-leitura; entrevistar, após a contação, 15% de<br />

alunos, seleciona<strong>do</strong>s aleatoriamente, da turma escolhida.<br />

Os instrumentos realiza<strong>do</strong>s para pesquisa foram: Mp3 para gravação das entrevistas com as<br />

crianças; Notebook para apresentação <strong>do</strong> seminário; livro de literatura infantil para contação de<br />

história.<br />

Esse trabalho foi proposto com o intuito de pensarmos nossa prática como professores que<br />

trabalharão com literatura infantil como um exercício para a prática na sala de aula, “Portanto, não<br />

basta somente ter boa vontade e gostar de literatura. É preciso ser leitor crítico e conhecer não<br />

somente as obras literárias, como também debater, ler, discutir e pesquisar a respeito de diferentes<br />

temas que envolvem infância e suas necessidades.” (VALDEZ e COSTA, 2007, p. 163).<br />

1ª etapa – Ecologia <strong>do</strong> espaço de leitura na escola<br />

A escola escolhida foi a Escola Municipal Professor Arnal<strong>do</strong> Monteiro situada no bairro de<br />

Pirangi, na cidade de Natal-RN. A instituição contém uma biblioteca que divide o mesmo espaço <strong>do</strong><br />

local que será a sala de informática. No momento da visitação, a biblioteca estava aberta para<br />

limpeza e apresentava um forte cheiro de mofo. A mesma não possui janelas, têm <strong>do</strong>is ventila<strong>do</strong>res,<br />

teatro para fantoches, uma televisão, um aparelho de DVD, apresenta uma mesa, poucas cadeiras e<br />

um amplo espaço para sentar no chão que é cerca<strong>do</strong> por estantes de metal com livros e as paredes<br />

continham cartazes de incentivo à leitura, relaciona<strong>do</strong>s com a educação ambiental.<br />

A biblioteca possui um acervo de livros didáticos com livros de língua portuguesa, matemática,<br />

ciências, história e geografia destina<strong>do</strong>s ao uso <strong>do</strong> aluno e <strong>do</strong> professor, sejam para recorte ou para<br />

pesquisa. Possui também, antigas coleções de enciclopédias e dicionários. O local disponibiliza para<br />

o professor um acervo com livros para o auxílio pedagógico <strong>do</strong> mesmo, com livros de psicologia,<br />

livros didáticos <strong>do</strong> professor e revistas.<br />

O acervo de literatura infantil apresenta uma razoável quantidade livros - disponível em<br />

prateleiras ao alcance <strong>do</strong>s alunos - <strong>do</strong>s diversos autores, como: Ana Maria Macha<strong>do</strong>, Ziral<strong>do</strong>, Mario<br />

Quintana, Hans Christian Andersen, Sylvia Orthof, Lygia Bojunga, Monteiro Lobato, entre outros.<br />

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A funcionária que trabalha na biblioteca no perío<strong>do</strong> da tarde esta à poucos meses<br />

desempenhan<strong>do</strong> essa função, é uma professora readaptada que além de não possuir um cadastro<br />

<strong>do</strong>s livros, não realiza atividades relacionadas à prática da leitura. Os alunos têm acesso aos livros a<br />

partir de um pequeno controle feito na agenda da própria bibliotecária que tem garanti<strong>do</strong> a devolução<br />

<strong>do</strong>s livros no prazo estabeleci<strong>do</strong> de uma semana. Para Garcia (1989, p. 17), para que a biblioteca<br />

seja um local “útil à realidade escolar, torna-se necessária a presença de uma pessoa capacitada,<br />

que ensine o aluno a pesquisar, uma vez que a busca de novos conhecimentos em livros faz parte <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de habilidade <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>”, mas percebemos um esforço dessa professora para<br />

fazer algum trabalho na biblioteca.<br />

Podemos perceber que a biblioteca da escola não é um local agradável e nem confortável para<br />

a prática de atividades de leitura. Mesmo apresentan<strong>do</strong> fácil acesso das crianças aos livros, a<br />

biblioteca não se mostra um ambiente motiva<strong>do</strong>r e interessante para a formação <strong>do</strong> gosto pela leitura.<br />

Segun<strong>do</strong> Garcia (1989) a biblioteca deveria ser um “ambiente carrega<strong>do</strong> de motivações (...) local por<br />

excelência onde a criança aprende a gostar de ler, a se auto-expressar a se educar” (p. 14).<br />

2ª etapa – Encontro de formação com os professores<br />

Na segunda etapa <strong>do</strong> projeto Ecologia da leitura foi realiza<strong>do</strong> com a professora da turma <strong>do</strong><br />

terceiro ano, um seminário de formação como apoio para o seu trabalho pedagógico literário. O<br />

seminário foi o mesmo realiza<strong>do</strong> para a turma de Pedagogia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>Grande</strong><br />

<strong>do</strong> Norte, com o tema Literatura Infantil e Prática Pedagógica.<br />

A professora <strong>do</strong> terceiro ano, que fez a formação, se mostrou muito receptiva com essa<br />

possibilidade de „troca de experiência‟, e ela contou que já realizava trabalho com literatura para a<br />

turma a qual ensina para acalmá-los depois que eles chegavam, muito agita<strong>do</strong>s <strong>do</strong> intervalo. Os livros<br />

que ela trabalha com as crianças são os clássicos da literatura de coleções infantis que ela trazia de<br />

casa, são as histórias simplificadas que não permitem aos alunos utilizarem a imaginação.<br />

Também foi relata<strong>do</strong> pela professora que ela usava um pouco da técnica de „pré‟ e „pós‟ leitura<br />

com os alunos e sempre pedia para eles fazerem um texto/resumo sobre a lição que haviam<br />

aprendi<strong>do</strong> com a história, contrarian<strong>do</strong>, dessa forma, o senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ler sem ter um propósito real para<br />

isso, <strong>do</strong> ler apenas por prazer. Essa citação só confirma o que a professora Dra. Marly Amarilha<br />

descobriu em suas pesquisas de literatura nas salas de aula,<br />

Segun<strong>do</strong> os professores, a narrativa é usada para acalmar as crianças quan<strong>do</strong> estão muito<br />

inquietas e também para impor silêncio e disciplina ao caos que, às vezes, ocorre na sala de aula.<br />

Constata-se, então, que o conceito de atividade „sem significa<strong>do</strong>‟, que é atribuí<strong>do</strong> à literatura, não<br />

corresponde à verdade. Ela é de fato, utilitária, é instrumento de controle sobre a criança.<br />

(AMARILHA, 1997, p. 17).<br />

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A degustação literária feita com a professora na formação foi o livro de Sylvia Orthof, „Manual<br />

de boas maneiras das fadas‟. A professora disse que não conhecia a história e era muito interessante<br />

usá-la no momento <strong>do</strong>s combina<strong>do</strong>s no início <strong>do</strong> ano com a turma.<br />

A formação foi muito interessante, a professora gostou muito e sempre tinha uma experiência<br />

de sala de aula para compartilhar, ela incentivou muito a nossa continuação como futuras<br />

educa<strong>do</strong>ras.<br />

Seria interessante então, que os professores sempre trabalhem com a literatura, assim como<br />

afirma Gládis E. Kaercher que a Literatura é arte<br />

Arte que se utiliza da palavra como meio de expressão para, de algum<br />

mo<strong>do</strong>, dar senti<strong>do</strong> à nossa existência. Se nós, na nossa prática cotidiana<br />

deixarmos um espaço para que esta forma de manifestação artística nos<br />

conquiste seremos, com certeza, mais plenos de senti<strong>do</strong>, mais enriqueci<strong>do</strong>s<br />

e mais felizes (2001, p. 87).<br />

3ª etapa – Pesquisa (Contação de histórias e entrevistas com crianças e professores)<br />

Na terceira etapa, foi realizada a leitura da história Chapeuzinho Vermelho, <strong>do</strong>s Irmãos Grimm<br />

para a turma <strong>do</strong> 3º ano <strong>do</strong> Ensino Fundamental I. Muitos <strong>do</strong>s alunos já conheciam a história. Foi feito<br />

um momento de pré leitura, onde os alunos falaram um pouco da versão que eles conheciam, a qual<br />

se assemelhava bastante com a <strong>do</strong>s Irmãos Grimm, possuin<strong>do</strong> apenas um final diferente da mesma.<br />

Durante a leitura, em geral, os alunos estavam bem atentos a história, se mostran<strong>do</strong> inclusive<br />

surpresos quan<strong>do</strong> o Lobo Mau devora a Chapeuzinho Vermelho. As crianças assimilam bastante<br />

essa coisa <strong>do</strong> imaginário, já que “A fantasia preenche as enormes lacunas na compreensão de uma<br />

criança que são devidas à imaturidade de seu pensamento e à sua falta de informação pertinente”<br />

(BETTELHEIM, 1992, p. 77).<br />

A ideia de utilizarmos um conto de fadas se deu por considerarmos uma história que meche<br />

com o imaginário da criança, e “A imaginação, como a inteligencia ou a senssibilidade, ou se atrofia.<br />

Pensamos que a imaginação de uma criança deve ser alimentada, que existe – com a condição de<br />

que não se estabeleçam receitas – uma pedagogia <strong>do</strong> imaginário, que tal pedagogia está a caminho<br />

[...]. Seria preciso apeas desenvolvê-la” (HELD, 1980, P. 46).<br />

Para a realização da entrevista, dentre os vinte e três alunos da turma, foram escolhidas quatro<br />

crianças, <strong>do</strong>is meninos e duas meninas (17% <strong>do</strong> total). Nessa entrevista, foram feitas perguntas sobre<br />

a história – se eles gostaram, o que eles acharam, etc. As crianças também foram questionadas<br />

quanto a qual personagem elas haviam se identifica<strong>do</strong> e gostariam de interpretar se estivessem<br />

fazen<strong>do</strong> uma peça teatral. Esse jogo dramático, relação da história com o teatro, foi discuti<strong>do</strong> por<br />

Marly Amarilha em seu livro “Estão mortas as fadas? – Literatura infantil e prática pedagógica”, onde<br />

ela acredita que a literatura proporciona para a criança um momento de abstração onde através da<br />

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narrativa ela “não só assiste ao desenrolar <strong>do</strong> enre<strong>do</strong> como pode encarnar um personagem, vestir<br />

sua máscara e viver suas emoções” (AMARILHA, 1997, p. 53).<br />

As crianças entrevistadas, no geral, responderam de acor<strong>do</strong> com o espera<strong>do</strong>. As duas meninas<br />

disseram que se identificaram com a personagem principal da história alegan<strong>do</strong> que “D – Porque ela<br />

é muito animada, e quan<strong>do</strong>... ela faz umas coisas erradas ela fica... faz as coisas toda certinha”. Para<br />

Amarilha (1997), é a “identificação com as personagens de uma narrativa que dá ao leitor ou ouvinte<br />

a possibilidade de suspender, transitoriamente, a relação com o cotidiano e viver outras vidas ” (p.<br />

55). Essa identificação também é tratada por Jacqueline Held quan<strong>do</strong> afirma que<br />

“[...] é também porque, na procura de si mesmo, sofren<strong>do</strong> com sua<br />

inferioriadade momentânea, desejan<strong>do</strong> ser adulto e, de maneira mais geral,<br />

ser outro, não importa como e por que meio, projeta-se com prazer sobre o<br />

herói, torna<strong>do</strong> diferente [...]. É essa necessidade que a criança tem, vez por<br />

outra, de escapar de si mesmo pela ficção, de se colocar „na pele‟ de outra<br />

pessoa, de um animal... e mesmo, se podemos dizer de um ojjeto técnico<br />

atual.” (HELD, 1980, p. 43).<br />

Enquanto estava sen<strong>do</strong> feita a entrevista com os alunos, foi feito um breve momento de pós-<br />

leitura com os demais alunos que permaneceram dentro da sala de aula, onde eles foram<br />

questiona<strong>do</strong>s sobre o que eles haviam acha<strong>do</strong> da história, a diferença que eles tinham nota<strong>do</strong> dessa<br />

para a que eles conheciam, o que mais tinha chama<strong>do</strong> a atenção deles. Logo após esse momento, foi<br />

realizada uma atividade em que os alunos deveriam escolher uma cena da história que havia lhe<br />

chama<strong>do</strong> a atenção para então desenhar e colorir a mesma.<br />

Em geral, os alunos receberam bem a atividade, fazen<strong>do</strong> pouca objeção em realizá-la. Eles se<br />

interessaram pela versão da Chapeuzinho <strong>do</strong>s irmãos Grimm.<br />

Ao preparar uma atividade de qualidade o professor pode atrair seus alunos para novas<br />

práticas de leitura, desse mo<strong>do</strong>, “A qualidade <strong>do</strong> trabalho educativo é que vai fazer a diferença na<br />

história e na formação da criança como sujeito de direitos” (VALDEZ e COSTA, 2007, p. 182).<br />

Conclusão<br />

O projeto Ecologia da Leitura nos possibilitou perceber que a Escola Municipal Professor<br />

Arnal<strong>do</strong> Monteiro falha em muitos pontos sobre a organização <strong>do</strong> seu ambiente direciona<strong>do</strong> a leitura<br />

e contação de estórias. Um ponto positivo encontra<strong>do</strong> é a forma como os livros estão disponíveis as<br />

crianças, em prateleiras baixas e chaman<strong>do</strong> atenção aos alunos para uma possível leitura “[...] os<br />

primeiros contatos com o leitor são fundamentais para a formação de um leitor: se apresenta<strong>do</strong> de<br />

fora lúdica, um livro – dispon<strong>do</strong> ou não de bom visual – poderá despertar a curiosidade da criança e o<br />

gosto pela leitura” (GARCIA, 1989, p. 18-19).<br />

A escolha <strong>do</strong> conto de fadas se deu porque acreditamos, e comprovamos com o projeto, no<br />

que Bruno Bettelheim (1992, p. 82) afirma na sua Psicanálise <strong>do</strong>s contos de fadas<br />

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Por sua própria conta, a criança ainda não é capaz de ordenar e dar senti<strong>do</strong><br />

a seus processos internos. Os contos de fadas oferecem figuras nas quais a<br />

criança pode externalizar o que se passa na sua mente, de mo<strong>do</strong><br />

controlável. Os contos de fadas mostram à criança de que mo<strong>do</strong> ela pode<br />

personificar seus desejos destrutivos numa figura, obter satisfações<br />

desejadas de outra, identificar-se com um terceira, ter ligações ideais com<br />

uma quarta, e daí para diante, como requeiram suas necessidades<br />

momentâneas.<br />

No momento da narração com a classe as crianças a pesar de já conhecerem a estória de<br />

Chapeuzinho Vermelho ficaram surpresas com o final, elas não conheciam a versão <strong>do</strong>s irmãos<br />

Grimm, onde o lobo engolia a vovó e a chapeuzinho e depois que o caça<strong>do</strong>r abril a barriga <strong>do</strong> lobo e<br />

colocou as pedras dentro. Com isso perdemos que “Ao narrar oralmente, o professor está fornecen<strong>do</strong><br />

à criança a possibilidade de ampliar sua capacidade de antecipação sobre as estratégias da<br />

linguagem literária e da construção <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>” (AMARILHA, 1997, p. 21).<br />

Só há benefícios encontra<strong>do</strong>s na introdução da criança a literatura e com esse projeto é<br />

possível fazê-lo através da oralização que “tem a finalidade de enriquecer a bagagem antecipatória<br />

<strong>do</strong> leitor [...] não só atrai o leitor para o livro como também o encoraja a enfrentar a escrita no silêncio”<br />

(AMARILHA, 1997, p. 22). A literatura também educa, contribuin<strong>do</strong> para o acesso a língua em<br />

articulações próprias da linguagem escrita.<br />

A participação no projeto Ecologia da Leitura nos fez perceber o quão importante é o trabalho<br />

da leitura e da literatura na escola para a formação <strong>do</strong>s futuros leitores, e que é preciso um preparo<br />

meto<strong>do</strong>lógico sério para isso. Essa prática nos ensina a melhor preparamos como educa<strong>do</strong>res<br />

responsáveis pelo incentivo a leitura de textos literários aos nossos tão sonha<strong>do</strong>s alunos.<br />

Referências<br />

AMARILHA, Marly. Estão mortas as fadas? Literatura infantil e prática pedagógica. Petrópolis,<br />

RJ: Vozes, 1997 – Natal: EDUFRN<br />

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise <strong>do</strong>s contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 1992.<br />

GARCIA, E. G. Biblioteca escolar: estrutura e funcionamento. São Paulo: Loyola, 1989.<br />

HELD, Jacqueline. O imaginário no poder: as crianças e a literatura fantástica. Trad. Carlos Rizzi.<br />

São Paulo: Summus, 1980.<br />

KAERCHER, Gládis Elise. E por falar em literatura... IN: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis<br />

Elise. Educação infantil pra que te quero? Porto Alegre, RS: Artmed, 2001, p. 81-88.<br />

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XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO <strong>CCSA</strong><br />

ISSN 1808-6381<br />

VALDEZ, Diane; COSTA, Patrícia Lapot. Ouvir e viver histórias na educação infantil, um direito da<br />

criança. IN: ARCE, Alessandra e MARTINS, Lígia Márcia (Org.). Quem tem me<strong>do</strong> de ensinar na<br />

educação infantil?: Em defesa <strong>do</strong> ato de ensinar. Campinas, SP: Alínea, 2007, p. 163-184.<br />

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