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(RE) DESCOBRINDO A BELEZA DOS CONTOS MARAVILHOSOS COM<br />

MARINA COLASANTI<br />

Francielly Coelho da Silva<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Norte<br />

francylang@yahoo.com.br<br />

Magnólia Cristina Albuquerque da Silva<br />

Universidade Potiguar<br />

profamagnoliacristina@yahoo.com.br<br />

RESUMO<br />

Este trabalho descreve uma experiência desenvolvida, em sala de aula, numa turma de 6º ano,<br />

numa escola pública municipal de Natal. Analisa-se aqui a recepção das obras Uma idéia toda<br />

azul (1978) e Doze reis e a moça do labirinto de vento (1978), de Marina Colasanti, com o<br />

intuito de contribuir teórica e metodologicamente para uma ampliação nos conhecimentos<br />

relacionados ao ensino de literatura. Este trabalho justifica-se por apresentar uma experiência<br />

voltada para a prática da leitura em contexto escolar, assim como pela importância da autora e<br />

de suas obras no contexto da literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea e por fomentar<br />

uma discussão acerca da formação do leitor. Está embasado, teoricamente, em reflexões sobre a<br />

literatura infantil e o leitor, pautadas, especialmente, em ABRAMOVICH (1994), COELHO<br />

(1991, 2009), KHEDE (1990), LAJOLO; ZILBERMAN (1988) e ZILBERMAN (2003).<br />

Primeiro, apresentar-se-ão as estruturas das obras mencionadas; em seguida, relatar-se-ão as<br />

atividades realizadas em sala de aula; por fim, refletir-se-á sobre as relações estabelecidas pelos<br />

leitores: a recepção das obras por parte deles. A partir desse trabalho, foi possível perceber e<br />

constatar o surgimento de novas idéias e comportamentos nos alunos, assim como um maior<br />

interesse por parte deles pelos livros desse gênero e dessa autora.<br />

Palavras-chave: Leitura, Recepção, Literatura Infantil, Contos Maravilhosos, Marina<br />

Colasanti.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

O presente trabalho descreve uma experiência desenvolvida, em sala de aula,<br />

numa turma de 6º ano, numa escola pública municipal de Natal. Analisa-se aqui a<br />

recepção das obras, escritas em 1978, Uma idéia toda azul (2006) e Doze reis e a moça<br />

no labirinto do vento (2006a), por Marina Colasanti, com o intuito de contribuir, teórica<br />

e metodologicamente, para uma ampliação nos conhecimentos relacionados ao ensino<br />

de literatura.<br />

Este trabalho justifica-se por apresentar uma experiência voltada para a prática<br />

da leitura, em contexto escolar, assim como pela importância da autora e de suas obras


no contexto da literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea e por fomentar uma<br />

discussão acerca da formação do leitor.<br />

Como embasamento teórico, escolhemos ZILBERMAN (1993), autora que<br />

reflete sobre a leitura, na escola, de literatura e o leitor. Assim como COELHO (1991,<br />

1991a) o qual aborda, historicamente, os contos de fadas e os contos maravilhosos<br />

tradicionais (suas origens, suas características, seus principais escritores).<br />

Primeiro, serão apresentadas, de acordo com COELHO (1991, 1991a), as<br />

diferenças entre os contos de fadas e os contos tradicionais. Como também, reflexões<br />

acerca dos escritos de Perrault, os Grimm e Andersen.<br />

Em seguida, serão apresentadas as estruturas dos contos das obras Uma ideia<br />

toda azul e Doze reis e a moça no labirinto do vento, de Marina Colasanti, trabalhadas<br />

em sala de aula.<br />

Logo após, serão relatadas as atividades feitas com e pela turma. Por fim,<br />

refletir-se-á sobre as relações estabelecidas pelos leitores: a recepção das obras por parte<br />

deles.<br />

A partir desse trabalho, foi possível perceber e constatar o surgimento de novas<br />

idéias e comportamentos nos alunos, assim como um maior interesse por parte dos<br />

alunos pela leitura dos contos maravilhosos dessa autora.<br />

2. DIFERENCIANDO OS CONTOS DE FADAS DOS CONTOS<br />

MARAVILHOSOS TRADICIONAIS<br />

De acordo com COELHO (1991), os contos de fadas e os contos maravilhosos<br />

possuem fontes bem distintas, considerando problemáticas bem diversificadas entre si.<br />

No entanto se confundem por possuírem elementos pertencentes ao mundo maravilhoso.<br />

Nota-se que há uma diferença essencial entre ambos: a problemática motriz de cada<br />

conto.<br />

Os contos de fadas, havendo fadas ou não (no entanto sempre com elementos do<br />

maravilhoso), com elementos da atmosfera feérica, têm como eixo uma problemática<br />

existencial. O núcleo problemático é a realização essencial do herói ou da heroína, na<br />

maioria das vezes, isso está ligado à união homem-mulher. Há sempre obstáculos ou<br />

provas a serem vencidas pelo herói ou pela heroína, a fim de que alcancem auto-<br />

realização existencial. Há um ideal a ser alcançado. Via de regra, um encantamento,<br />

2


uma metamorfose é o ponto de partida para a aventura da busca. São de origem celta e<br />

surgiram como poemas que revelavam amores estranhos, fatais, eternos.<br />

Os contos maravilhosos se desenvolvem, via de regra, em um ambiente mágico e<br />

têm como eixo gerador uma problemática social. O herói deseja se auto-realizar<br />

socioeconomicamente, por exemplo. A miséria ou a necessidade de sobrevivência física<br />

é o ponto de partida para a aventura da busca. São de origem oriental e enfatizam a parte<br />

material/ sensorial/ ética do ser humano: suas necessidades básicas.<br />

2.1. A origem dos contos e seus representantes<br />

Na França do século XVII, nasceram, historicamente, os contos clássicos<br />

infantis, pela mão do erudito Charles Perrault. Apesar de serem tidos como contos<br />

infantis, eles eram direcionados ao público adulto.<br />

A partir do século XIX, com os estudos sobre literatura folclórica e popular,<br />

descobriu-se que esses contos possuíam raízes na produção anônima e coletiva dos<br />

povos.<br />

Às histórias contadas por Perrault seguiram-se as dos Irmãos Jacob e Wilhelm<br />

Grimm e as de Hans Christian Andersen no século XIX.<br />

COELHO (1991a, p.142) comenta:<br />

Assim, a violência (patente ou latente dos Contos de Perrault) cede<br />

agora a um humanismo, onde se mescla o sentido do maravilhoso da<br />

vida. A despeito dos aspectos negativos que continuam presentes<br />

nessas estórias, o que predomina sempre é a esperança e a confiança<br />

na vida.<br />

Ao lermos os contos desses autores, comparando-os, percebemos diferentes formas de<br />

visão de homem, de mundo e de vida. Isso confirma a idéia de que as mudanças pelas quais as<br />

sociedades passam, ao longo do tempo, influenciam, de maneira direta, a arte, a literatura e os<br />

costumes.<br />

3. OS CONTOS MARAVILHOSOS DE MARINA COLASANTI<br />

Para o nosso trabalho, tomamos como ponto de partida as obras, escritas em<br />

1978, Uma idéia toda azul (2006) e Doze reis e a moça no labirinto do vento (2006a),<br />

3


ambas, de Marina Colasanti. A primeira é constituída de dez contos maravilhosos e a<br />

segunda, de treze 1 .<br />

3.1. Uma idéia toda azul<br />

Todos os contos desse livro são narrados em terceira pessoa, portanto, o narrador<br />

é observador. Não poderia ser diferente disso, visto que essa é uma característica tanto<br />

dos contos de fadas quanto dos contos maravilhosos. Todos os contos giram em torno<br />

de uma atmosfera feérica (príncipes, princesas, reis, rainhas...).<br />

Aqui, nos interessam, para análise, apenas os contos trabalhados em sala de aula.<br />

A ordem dos contos apresentados tem a ver com a ordem em que eles foram<br />

trabalhados. Dos dez, apenas seis foram lidos em sala.<br />

O primeiro conto do livro tem como título O último rei. É construído em torno<br />

da figura de estilo prosopopéia, visto que seres inanimados ganham vida. Um exemplo<br />

disso é: “[...] O vento vinha de longe e tinha o mundo inteiro para contar. [...] o vento<br />

beijou de sal a boca de Kublai-Khan”. (p. 10, 12)<br />

Trata-se da história de um rei, o último da dinastia Mogul. Ele jamais havia<br />

saído de sua fortaleza e conhecia o mundo pelas experiências vividas pelo vento e que<br />

este lhe contava. Certo dia, o vento conhece o mar e traz para o rei a novidade do canto<br />

da sereia. Este, encantado com o que ouvia, resolve ir em busca do oceano.<br />

Há um traço da oralidade que no conto: “Ouviu Kublai-Klan o chamado da<br />

sereia na voz do vento? Ninguém sabe. Dizem os pastores da planície que o viram<br />

prender cordas de linho nas pontas da grande pipa de seda [...]”. (p. 12)<br />

O segundo conto do livro tem como título Além do Bastidor. Trata-se de uma<br />

narrativa com muitas descrições de como e o que a menina, personagem protagonista,<br />

bordava. A menina bordava e, logo após isso, entrava no bastidor, experienciando as<br />

cenas que bordava. O clímax se dá quando a irmã mais velha, encantada com a cena que<br />

via da menina agarrada com a garça que ela acabara de bordar, resolve bordar o que<br />

1 Em sala de aula, não lemos todos os contos dos livros. Escolhemos alguns para trabalhar com os alunos:<br />

aqueles de que mais gostamos.<br />

4


faltava e corta a linha que ligava o mundo real da menina com o mundo mágico do<br />

bastidor. A menina fica lá presa para sempre.<br />

O terceiro conto tem como título Um espinho de marfim. Nele, há a presença de<br />

um ser mitológico, o unicórnio, símbolo da pureza. Trata-se da história de amor entre<br />

uma princesa e o unicórnio.<br />

Durante muito tempo, o unicórnio observou a princesa. Todas as manhãs, ele<br />

“olhava a janela do quarto por onde ela vinha cumprimentar o dia. [...] quando o<br />

pezinho pequeno pisava no primeiro degrau da escadaria descendo ao jardim, fugia o<br />

unicórnio para o escuro da floresta.” (p. 24). A complicação da narrativa se dá quando o<br />

pai da princesa avista o animal e desejo tê-lo para si. Como não consegue, se entristece<br />

profundamente. A moça, penalizada, promete ao pai que o trará até ele. Mas que, para<br />

isso, aguarde três luas.<br />

A princesa tece uma rede de fios de ouro com seus cabelos e consegue capturá-<br />

lo. O unicórnio amava a princesa, por isso não lhe ofereceu resistência. Ela também<br />

sentia o mesmo por ele.<br />

Passadas as três luas, a princesa precisava cumprir a palavra que havia dado ao<br />

pai. E, nesse dia, ela “aproximou a cabeça [do unicórnio] do seu peito, com suave força,<br />

com força de amor empurrando, cravando o espinho de marfim no coração, enfim,<br />

florido”. (p. 27) Quando o rei chegou para cobrar a sua promessa, recebeu uma “rosa de<br />

sangue e um feixe de lírios”. (p. 27)<br />

O quarto conto tem como título Entre as folhas do verde O. O conto começa<br />

com uma epígrafe de uma canção popular da Idade Média. Logo após, o narrador fala<br />

de um costume vigente na época dos reis e rainhas da Era Medieval: a caça.<br />

Foi saindo para caçar que o príncipe a viu: metade mulher, metade corça. “A<br />

mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher ele queria amar, a corça ele queria matar”.<br />

(p. 36) Ele a amava e desejava se casar com ela. Mas, para isso, chamaria o melhor<br />

feiticeiro do reino, a fim de torná-la toda mulher. Ela também o amava e queria se casar<br />

com ele. E, para isso, pediria à Rainha das Corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um<br />

belo pêlo. Mas eles não falavam a mesma língua e um não podia entender o que pensava<br />

o outro.<br />

Ela chorou. E, nesse dia, ele pensou que ela queria ser, totalmente, mulher. O<br />

príncipe chamou o feiticeiro e, quando a corça-mulher acordou, já não era mais corça.<br />

5


Tinha pernas. “Só não tinha a palavra. E o desejo de ser mulher” (p. 40). Aprendeu a<br />

andar e fugiu do castelo. Pediu a sua rainha para torná-la só corça e não mais mulher.<br />

O quinto conto tem como titulo Fio após fio. É a história de duas fadas<br />

bordadeiras: Nemésia e Gloxínia. A primeira bordava tranquilamente. A segunda<br />

bordava de dia e desmanchava de noite o que havia feito, insatisfeita com o seu<br />

trabalho. Nemésia tornou-se aranha. E passou a tecer para Gloxínia. Esta, encantada<br />

com o seu trabalho, bordava dia e noite. Esquecendo-se do mundo. Presa pelas teias da<br />

irmã, Gloxínia foi esquecida pela corte.<br />

O sexto conto tem como título Sete anos e mais sete. Trata-se de uma história<br />

um pouco parecida com A bela adormecida. O rei tinha uma única filha e por isso<br />

gostava dela mais do que de qualquer outra. A filha também sentia isso pelo seu pai. Até<br />

o dia em que ela conheceu o príncipe. Aí, ela gostou dele mais do que de qualquer<br />

outro.<br />

Como o pai não tinha outra para gostar, logo não gostou do príncipe. Achou que<br />

ele não servia para a sua filha. E solicitou à fada, madrinha da menina, que colocasse<br />

sua filha para dormir. Assim, ela se esqueceria do príncipe. Quando o jovem soube<br />

disso, também quis dormir. E o fez. Nem um se esqueceu do outro. Eles sonhavam que<br />

estavam juntos, que se casavam, que tiveram muitos filhos e que eram felizes para o<br />

resto da vida.<br />

3.2. Doze reis e a moça no labirinto do vento<br />

Assim como na obra do tópico anterior, todos os contos desse livro são<br />

narrados em terceira pessoa, sendo, portanto, o narrador, observador. Todos os contos<br />

giram em torno de uma atmosfera feérica (príncipes, princesas, reis, rainhas...).<br />

O primeiro conto do livro tem como título A moça tecelã. É a história de uma<br />

jovem que tinha como ofício tecer. Ela tecia os dias, as estações do ano, a comida, tudo<br />

de que precisava. Sentindo-se sozinha, certo dia, resolveu tecer um marido. Acreditava<br />

que havia achado a felicidade. Mas o homem era cheia de vontades. Ganancioso,<br />

exigente, obrigava a moça a tecer riquezas e nunca estava satisfeito. Certa noite, a moça<br />

tecelã resolveu desfazer-se daquilo que a incomodava: o marido e tudo o mais que ele<br />

desejou. Assim, o conflito foi resolvido.<br />

6


O segundo conto do livro tem como título Entre leão e unicórnio. É a história de<br />

uma rainha que, durante a noite, não sonhava, pois um leão guardava o seu sono. Até<br />

que contou ao seu marido o segredo para fazê-la sonhar. Tudo que a mulher sonhava, de<br />

fato, se concretizava. E o rei passou a se aproveitar dos sonhos de sua rainha. Tudo o<br />

que ele mais desejava era que chegasse a hora dela dormir. O rei deparou-se com um<br />

unicórnio e com ele foi conhecer o mundo. Durante o dia, o rei se entristecia. Não se<br />

importava mais com nada nem com ninguém. Só desejava que a noite chegasse para a<br />

rainha dormir.<br />

A rainha, enciumada, contou a sua criada como desfazer o feitiço e ela cumpriu<br />

com as ordens dadas pela soberana. “Nenhum sonho mais sairia das noites da rainha.<br />

Nenhum entraria. Nem mesmo aquele em que um unicórnio azul galopava e galopava,<br />

levando no dorso um rei para sempre errante”. (p.21)<br />

O terceiro conto do livro tem como título A mulher ramada. Trata-se de um<br />

jardineiro que se apaixona por uma mulher, a qual ele mesmo havia esculpido, em<br />

forma de planta.<br />

O quarto conto do livro tem como título Uma concha à beira-mar. Trata-se de<br />

um rei que tinha tudo o que queria e, em seu aniversário, ganhou de presente uma<br />

concha. Ele não conhecia o mar. E se encantou com aquela concha, dela saía água e um<br />

canto belíssimo. Certa vez, ele notou que da concha saía uma trança e puxou-a. De<br />

dentro, saiu um gemido de mulher. Mas ele continou a puxar e acabou que de dentro da<br />

concha saiu uma sereia minúscula.<br />

Apaixonando-se por aquela criatura pequena. Triste por vê-la triste. Resolveu<br />

que a devolveria ao mar. Perdeu sua amada em meio a tantas outras conchas que<br />

estavam na praia. “Talvez ele ande até hoje. O certo é quem encostar uma concha ao<br />

ouvido ouvirá apenas um marulhar distante, encobrindo para sempre a voz perdida da<br />

sereia”. (p. 41)<br />

O quinto conto do livro tem como título Um desejo e dois irmãos. É a história de<br />

dois irmão: um desejava ser o outro. O rei, antes de morrer, para que os filhos não<br />

brigassem, dividiu o seu reino, dando o mar a um dos filhos e o céu ao outro.<br />

A fim de ganhar um o reino do outro, os irmãos resolvem competir. Quem<br />

chegasse primeiro à linha do horizonte ficaria com o reino do outro. Mas isso era quase<br />

impossível. “Até que a linha do horizonte teve pena. E devagar, sem deixar-se perceber,<br />

7


foi chegando perto.” (p. 52) Eis que acontece algo inesperado: eles se encontram e se<br />

tornam um só.<br />

O sexto conto do livro tem como título Uma ponte entre dois reinos. Trata-se da<br />

história de uma menina que, quando criança, a mãe tosquiava-lhe os cabelos, mas,<br />

depois de uns anos, seus cabelos tornaram-se impossíveis de cortar.<br />

Somente a menina podia tirar os fios de seus cabelos. A cada fio arrancado, uma<br />

gota de sangue caía e se transformava em rubi. “Vendo a riqueza cair a seus pés, a velha<br />

não se cansava de pedir fios e mais fios”. Dizia que era para colocar a roupa para secar<br />

ou para segurar suas flores.<br />

As pessoas admiravam-se dos lindos e fortes cabelos da menina e vinham de<br />

longe admirá-los. O rei pediu que a menina fosse até ele, a fim de que lhe desse fios<br />

para construção de uma ponte até o reino vizinho. A mãe deixou que fosse, mas a<br />

proibiu de arrancar qualquer fio que fosse longe dela.<br />

A moça atou uns fios aos outros e entregou-lhes ao rei. Este construiu a sua<br />

ponte. E, um tempo depois, mandou chamar a moça e sua mãe para a inauguração.<br />

Grande festa se fez no reino. A velha senhora disse que a filha só passaria naquela ponte<br />

depois dela. Acabou morrendo por peso excessivo dos rubis nos bolsos.<br />

O sétimo conto do livro tem como título Doze reis e a moça no labirinto do<br />

vento. O pai havia construído um labirinto, a fim de que este pudesse acalmar o vento e<br />

não estragar as flores. Dentro desse labirinto, doze reis de mármore, um deles, para<br />

casar com a sua adorada filha.<br />

Chegada a hora de casar, a princesa anuncia, por quais provas cada rei terá que<br />

passar, até que um deles vença e se torne seu marido. De tempos em tempos, um a um<br />

enfrenta os obstáculos, mas, dos doze, apenas um consegue vencer.<br />

A história termina assim: “Até que não há mais labirinto, só folhas espalhadas. E<br />

a moça. Que livre, no gramado, lhe sorri”. (p. 86)<br />

O oitavo conto do livro tem como título Palavras aladas. É a história de um rei,<br />

cuja principal característica era gostar de silêncio. “Qualquer ruído, dizia, era faca em<br />

seus ouvidos.” (p. 89)<br />

Quando era jovem, mandou construir altíssimos muros ao redor do castelo. E por<br />

cima de tudo – dos muros, das torres, dos telhados e dos jardins – mandou que<br />

passassem imensa redoma de vidro.<br />

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As palavras ficavam presas voando dentro do castelo. Até que um dia, o rei<br />

recebeu em seu castelo, um embaixador estrangeiro que ouviu, ao abrir a porta, o grito<br />

do cozinheiro mandando que ele depenasse uma galinha. Irritado, Sua majestade<br />

ordenou que fossem recolhidas todas as palavras que estavam voando no reino.<br />

Foi, portanto, que por acaso o rei passou em frente s um desses<br />

cômodos. E passando ouviu um murmúrio, rasgo de conversa. [...] A<br />

lembrança daquelas palavras pareceu voltar ao rei de muito longe,<br />

atravessando o tempo, ardendo novamente no peito. E em cada uma<br />

ele reconheceu com surpresa sua própria voz, sua jovem paixão. Era<br />

aquela conversa de amor há tantos anos trancada.(p. 92)<br />

Depois disso, gritou que se abrissem as portas, que se derrubasse a redoma. E o<br />

vidro se estilhaçou. As palavras ficaram livres.<br />

4. A TEORIA NA PRÁTICA<br />

O projeto sobre as obras de Marina Colasanti supracitadas, o qual executamos,<br />

durante o ano de 2010, durou dois bimestres: o segundo e o terceiro.<br />

O objetivo geral desse projeto: despertar o gosto pela leitura de textos<br />

literários, em especial, os que pertencem ao gênero conto maravilhoso e sensibilizar os<br />

nossos alunos para perceberem o valor, a importância e a beleza da literatura.<br />

Partindo do objetivo geral, escolhemos como alguns dos objetivos específicos:<br />

reconhecer o valor de se ler as obras da literatura infanto-juvenil da escritora Marina<br />

Colasanti, em especial, e de outras do mesmo gênero; reconhecer as características<br />

estruturais e linguísticas do gênero discursivo estudado, no nosso caso, do conto<br />

maravilhoso; tornar-se mais sensível aos prazeres que a literatura pode proporcionar;<br />

aperfeiçoar a leitura, a escrita e reescrita de textos (tal qual se espera que alunos nesse<br />

nível de ensino possuam).<br />

4.1. De onde partimos<br />

Começamos o nosso projeto “revisitando” alguns contos de fadas tradicionais e<br />

alguns contos maravilhosos, a fim de averiguar quais eram os conhecimentos prévios<br />

9


dos nossos alunos. Em círculo, sentados, discutíamos as histórias mais conhecidas entre<br />

eles. Percebemos o quanto os alunos ligavam essas histórias a valores, à moralidade.<br />

Após esse momento, foram distribuídos para a turma, alguns contos clássicos,<br />

os quais eles não conheciam: A menina dos fósforos, Soldadinho de chumbo, O ganso<br />

de ouro entre outros. O intuito era que eles se dessem conta de que existiam outros<br />

contos tão interessantes quanto aqueles mais conhecidos.<br />

Pesquisamos a bibliografia de Charles Perrault, dos Irmãos Grimm e de<br />

Andersen. Os alunos puderam conhecer um pouco da vida desses autores, o contexto<br />

histórico em que viviam e em que isso poderia ter influenciado as suas obras. O intuito<br />

era que eles percebessem que o texto não está isolado do seu tempo de produção e que é<br />

preciso conhecê-lo, para que se entende melhor a sua “mensagem”.<br />

Lemos algumas releituras dos contos de fadas tradicionais e dos contos<br />

maravilhosos. Os alunos produziram releituras dessas obras (misturando tempo, espaço,<br />

personagens, trocando as suas características entre outras atividades).<br />

Fizemos comparações entre os contos tradicionais e as releituras deles.<br />

Expomos para a sala e discutimos. O intuito era que os alunos pudessem perceber o que<br />

havia de comum e de diferente entre esses textos e o porquê de, mesmo sendo<br />

diferentes, esses textos ainda se conservavam como contos.<br />

4.2. Por onde andamos<br />

Estudamos os elementos que formam a narrativa tradicional: tipos de narrador<br />

(se observador ou personagem), tipos de personagens (se protagonista, antagonista ou<br />

secundários), identificação do tempo e do espaço. Assim como os momentos da<br />

narrativa tradicional: situação inicial, complicação, clímax e desfecho.<br />

Assistimos ao filme Shrek Terceiro, da Dream Works. Discutimos os<br />

elementos e os momentos da narrativa presentes na obra. Assim como, a desconstrução<br />

do que seria um conto de fadas tradicional e a reconstrução do conto de fadas hoje.<br />

Discutimos também o humor, seu papel, a sátira e a paródia hoje. Assim como a<br />

intertextualidade.<br />

10


trabalho.<br />

Os alunos fizeram reescrituras dos textos que produziram na primeira etapa do<br />

Diferenciamos os contos de fadas dos contos maravilhosos. Embora no final,<br />

eles tenham optado por classificar todos os contos de contos maravilhosos.<br />

Concordamos por causa do nível da turma.<br />

Depois, cada aluno foi convidado a escrever uma carta para o seu personagem<br />

preferido. Essa etapa foi bastante prazerosa para eles. Depois, eles trocaram as cartas<br />

entre si e respondiam as dos colegas como se fossem os próprios personagens.<br />

Após essa etapa, os alunos pesquisaram na internet a vida e a obra de Marina<br />

Colasanti. Fizemos isso, para que eles pudessem ligar a imagem da autora a suas obras.<br />

Acreditamos que isso é importante.<br />

No primeiro dia, resolvemos apresentar os livros à turma. Exploramos as capas,<br />

as orelhas, as páginas, as ilustrações. Os alunos podiam pegar no livro, cheirá-lo, folheá-<br />

lo. O que acreditamos ser importante. Falamos bastante dos contos que seriam lidos<br />

para eles ou por eles.<br />

A cada semana, líamos um conto do livro Uma Idéia Toda Azul. Essa leitura<br />

era alternada (ora era responsabilidade da professora, ora era responsabilidade de um<br />

dos alunos). Ou eles utilizavam seus cadernos para escrever suas impressões ou falavam<br />

para os colegas livremente. Eles podiam desenhar, pintar as histórias ou contá-las com<br />

um final diferente.<br />

Depois, foi a vez de lermos Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento. Cada<br />

vez que era citado um ser mitológico, os alunos pesquisavam, na internet, sobre seres<br />

eles. E essa era a oportunidade de falarmos um pouco sobre a Mitologia Grega. Eles<br />

adoravam.<br />

4.3. Aonde chegamos<br />

A fim de estreitarmos os laços entre leitores e escritora, os alunos escreveram<br />

cartas para a autora, as quais serão enviadas, após reescritas, para a atual editora a que<br />

ela está filiada.<br />

11


5. A LEITURA DE LITERATURA E O LEITOR LITERÁRIO<br />

Ler textos literários, na escola, deveria ser sinônimo de prazer. E esse prazer<br />

não, necessariamente, precisa ser sinônimo de fácil. Esse prazer precisa ser sinônimo de<br />

crescimento cognitivo, humano, pessoal. Ora, quando lemos, mesmo que essa leitura<br />

seja complicada, ao conseguirmos entendê-la, isso poderá nos dá prazer. O prazer que a<br />

aprendizagem nos propicia. De acordo com ZILBERMAN (1993, p 19), ler literatura é<br />

importante, porque<br />

O ato de ler se configura como uma relação privilegiada com o real,<br />

já que engloba tanto um convívio com a linguagem, como exercício<br />

hermenêutico de interpretação dos significados ocultos que o texto<br />

enigmático suscita, a obra de ficção avulta como o modelo por<br />

excelência da leitura. Pois, sendo uma imagem simbólica do mundo<br />

que se deseja conhecer, ela nunca se dá de maneira completa e<br />

fechada.Pelo contrário, sua estrutura, marcada pelos vazios e pelo<br />

inacabamento das situações e figuras propostas, reclama a intervenção<br />

de um leitor, o qual preenche as lacunas, dando vida ao mundo<br />

formulado pelo escritor. Deste modo, à tarefa de deciframento se<br />

implanta outra: a do preenchimento, executada particularmente por<br />

cada leitor, imiscuindo suas vivências e imaginação.<br />

É preciso dar sentido ao que se ler na escola. Não é ler literatura por ler. É ler<br />

para crescer, para aprender sobre a vida, sobre os costumes, sobre as pessoas, as<br />

sociedades e sobre si mesmo. É ler para refletir, para se encontrar, para se pôr no lugar<br />

do outro e sentir a sua alegria, a sua dor e, assim, poder entendê-lo. É ler para<br />

sensibilizar. Para resolver problemas seus problemas pessoais e os seus<br />

questionamentos.<br />

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O trabalho realizado por nós confirmou o quanto a leitura do texto literário<br />

pode ser eficaz na escola. Desde que se tenha consciência do que se deseja ao realizar<br />

cada atividade, do por que e para que se ler determinado texto com os alunos.<br />

Elaboramos sequências didáticas, a fim de que trabalhássemos, de maneira<br />

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mais sistemática, com os textos por nós escolhidos. E que pudéssemos alcançar os<br />

nossos objetivos. O trabalho sofreu algumas mudanças ao longo do percurso, dadas as<br />

dificuldades de alguns alunos e a dinâmica de tempo da escola.<br />

O trabalho foi bastante prazeroso para nós. Obtivemos excelentes resultados.<br />

Percebemos uma melhoria no nível de leitura e de escrita dos alunos. Assim como no<br />

nível de argumentação deles. Percebemos que a procura por livros para serem lidos<br />

aumentou relativamente. E a recepção das obras por parte dos alunos foi bastante<br />

intensa.<br />

REFERÊNCIAS<br />

COELHO, Nelly Noaves. O Conto de Fadas. 2 ed. São Paulo: Ática, 1991.<br />

COELHO, Nelly Novaes. Panorama histórico da literatura infantil-juvenil. 4 ed.<br />

São Paulo: Ática, 1991 a.<br />

COLASANTI, Marina. Uma idéia toda azul. 23 ed. São Paulo: Global, 2006.<br />

COLASANTI, Marina. Doze reis e a moça no labirinto do vento. 12 ed. São Paulo:<br />

Global, 2006 a.<br />

ZILBERMAN, Regina (org). A Leitura na escola. In: Leitura em crise na escola. 11<br />

ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1993.<br />

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