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A diversidade eclesiológica no cristianismo primitivo

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(f) A herança das epístolas joaninas – comunidades formadas por pessoas guiadas<br />

pelo Espírito/Paráclito. Em termos sociológicos, parece-me que os problemas levantados<br />

por Brown, sobretudo quando fala das “fraquezas” dessa eclesiologia, se repetiram na<br />

história do <strong>cristianismo</strong> em grupos que radicalizaram o pietismo em formas mais<br />

carismáticas, rejeitando formas mínimas de organização e hierarquia e que perderam o<br />

controle de si mesmas, diluindo-se em cismas diversos devido aos riscos da subjetividade;<br />

(g) A herança da cristandade judaico-cristã em Mateus – ênfase na autoridade e<br />

em princípios hierárquicos sem anular o ensi<strong>no</strong> e exemplo de Jesus. Todos sabemos que o<br />

evangelho de Mateus sempre desempenhou forte papel nas eclesiologias católicas.<br />

Optando por apresentar a eclesiologia mateana por último, pareceu-me que Brown quis<br />

enfatizar a necessidade – ou incontornável contingência histórica – de princípios de<br />

hierarquia e autoridade para que uma comunidade sobreviva, mas mostra claramente que<br />

tais princípios devem estar sempre subordinados ao ensi<strong>no</strong> e á prática de Jesus. Isso é<br />

confirmado quando ele afirma na conclusão que “a grande ambigüidade do <strong>cristianismo</strong><br />

consiste em que, somente através de uma instituição, a mensagem de um Jesus nãoinstitucional<br />

pode ser preservada”.<br />

Em suma, o texto de Brown mostra que não se pode projetar sobre o primeiro<br />

século cristão a situação de uma igreja ideal, tampouco buscar <strong>no</strong> NT uma igreja perfeita.<br />

Essa igreja perfeita, em que havia plena unidade de pensamento ou mesmo de ética,<br />

nunca existiu. Isso é importante para saber que não podemos idealizar a IEAB tampouco a<br />

Comunhão Anglicana. Se quisermos ser fiéis ao testemunho bíblico, também não<br />

podemos pretender acentuar um único padrão eclesiológico em detrimento dos demais.<br />

Tal como os/as cristãs/aos do Novo Testamento, todos/as estamos buscando responder à<br />

<strong>no</strong>ssa vocação da melhor maneira possível. Nosso desafio é tentarmos extrair da<br />

experiência neotestamentária aquilo que <strong>no</strong>s falta <strong>no</strong> momento, bem como identificar nas<br />

fraquezas de <strong>no</strong>ssos/as irmãos e irmãs do passado, também as <strong>no</strong>ssas fraquezas e<br />

tentarmos superá-las respeitando e acolhendo outras experiências. Afinal de contas, o<br />

importante não é que todos tenhamos as mesmas idéias, mas que reconheçamos, tal<br />

como a comunidade joanina, que “há outras ovelhas que não são deste aprisco” e que<br />

cabe a Jesus também apascentá-las. Trata-se de compreender que, apesar de <strong>no</strong>ssas<br />

diferenças, somos “um só rebanho” e temos “um só pastor”.<br />

Bibliografia<br />

Apócrifos e Pseudo-epígrafos da Bíblia. São Paulo, Novo Século, 2004<br />

AQUINO, Jorge “A inclusividade anglicana e a <strong>no</strong>ção complexa de sistema aberto”. Revista<br />

Inclusividade, Porto Alegre, CEA, n. 9, p. 9-10.<br />

BROWN, Raymond, A Comunidade do Discípulo Amado. Paulinas, 1984<br />

BROWN, Raymond. As Igrejas dos Apóstolos. Paulinas, São Paulo, Paulinas, 1986<br />

BULTMANN, Rudolf ,Teologia del Nuevo Testamento, Salamanca, Sigueme, 1980

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