O BURRO DE NIETZSCHE ANTICRISTO Diretor: Lars Von Trier ...
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psíquica com a cultura, das condições práticas de vida e das dinâmicas das interações<br />
sociais.<br />
O direito e a religião, portanto, padecem do mesmo mal, que é fazer um ideal<br />
abstrato caber numa vida realmente mais complexa, de buscar como normalidade uma<br />
redução mutilante da dinâmica social e cultural. Tal qual na pensão de Procusto, onde se<br />
mutilava os hóspedes para que coubessem em suas camas.<br />
Um dos sintomas mais evidentes da luta cultural pela normalidade (independente<br />
de qual ela seja), para a qual o direito e a religião são seus elementos institucionais mais<br />
importantes, é a perene confusão cognitiva partilhada pelos indivíduos, que se apresenta<br />
como um fóssil psíquico do big-bang cultural, o Éden de nossa vida social. Repetindo,<br />
muito de nossa dor, hoje, está em não sabermos o quão somos responsáveis por nossos<br />
atos e suas consequências, e o quanto os fatores heteronômicos conduzem nossa vida. É<br />
normal culparmo-nos por coisas indevidas e responsabilizarmo-nos por consequências<br />
de nossas ações, como se nossa base cognitivo-moral fosse bem definida e muito de<br />
nossa vida não fosse obra do acaso. É assim que a dinâmica entre o triunfo individual<br />
sobre a indiferença do todo e da culpa pela impotência da vontade constitui o drama<br />
mais comum e frequente das pessoas, enquanto elas esforçam-se arduamente a pertencer<br />
e serem previsíveis.<br />
Nessa busca ansiosa e incerta pela normalidade, há a pressa em corrigir o que<br />
não se ajusta ao ideal. Por isso que todo o atual discurso dos direitos humanos, embora<br />
tendo nascido da concepção religiosa de dignidade humana, terá que se confrontar com<br />
ela um dia, necessariamente. Viver num mundo sem inimigos e sem diabos, aspiração<br />
última dos direitos humanos, é atacar a condição suprema que mantém<br />
competentemente o discurso salvacionista institucionalizado, seja ele político, religioso<br />
ou jurídico.<br />
Indivíduo e cultura<br />
No debate teórico sobre a igualdade perde-se a realidade. Entre pontos de vista<br />
opostos e inteligentes, a vida se desenrola quase indiferente, num dinamismo distante<br />
das consciências e esforços individuais.<br />
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