leituras benjaminianas da cidade - Agenciawad.com.br
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dos “outros”. Trata-se, quem sabe, de uma “tentação hermenêutica” (<strong>com</strong> os<<strong>br</strong> />
rumores de um ofício sacralizante evocativo do deus Hermes). Certo dia, fui<<strong>br</strong> />
convi<strong>da</strong>do em Piracicaba a servir de intérprete para alguns palestrantes dos<<strong>br</strong> />
Estados Unidos ligados ao movimento “Black Power” (“Poder Negro”). O público<<strong>br</strong> />
era formado por estu<strong>da</strong>ntes e professores universitários. Aos poucos me<<strong>br</strong> />
entusiasmei. Em determinado momento os meus gestos e tim<strong>br</strong>e de voz<<strong>br</strong> />
rivalizavam <strong>com</strong> os do próprio palestrante, representante do Black Power. De<<strong>br</strong> />
repente, interrompendo um dos momentos mais dramáticos dessa encenação, o<<strong>br</strong> />
público <strong>com</strong>eçou a rir. Confuso, olhei para os lados, procurando o palestrante,<<strong>br</strong> />
sem o encontrar. Sorrateiramente, esse havia desaparecido. Absorvido no papel<<strong>br</strong> />
de intérprete, eu nem percebera. O palestrante negro se ocultara, colocando-se<<strong>br</strong> />
proposita<strong>da</strong>mente atrás do seu intérprete <strong>br</strong>anco.<<strong>br</strong> />
Poderíamos também falar de “tentações litúrgicas”? Haveriam “afini<strong>da</strong>des<<strong>br</strong> />
eletivas” entre “tentações” litúrgicas e hermenêuticas? A favela do Jardim Glória<<strong>br</strong> />
não existe mais. Quase todos os barracos viraram casas. O antigo “buraco” virou o<<strong>br</strong> />
bairro do “Jardim Glória II”. Um dos únicos barracos remanescentes pertenceu a<<strong>br</strong> />
um frei franciscano chamado Francisco. Através de recursos provenientes <strong>da</strong><<strong>br</strong> />
Suiça, que se transformaram em tijolos e casas de alvenaria graças a um esforço<<strong>br</strong> />
persistente do frei junto aos moradores que trabalharam em mutirões, uma antiga<<strong>br</strong> />
favela virou bairro. Das oito imagens fotográficas reproduzi<strong>da</strong>s em uma<<strong>br</strong> />
reportagem recente do Jornal de Piracicaba (9-8-98) a respeito do Jardim Glória,<<strong>br</strong> />
apenas duas foram tira<strong>da</strong>s no antigo “buracão”. Uma delas, a de maior destaque<<strong>br</strong> />
na reportagem, é uma imagem luminosa <strong>da</strong> catedral construí<strong>da</strong> em anos recentes<<strong>br</strong> />
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