leituras benjaminianas da cidade - Agenciawad.com.br
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“bonecos pescadores” que se recusam a deixar as margens do rio vem<<strong>br</strong> />
carrega<strong>da</strong>s de forças. O fenômeno, aliás, poderia suscitar interesse por uma<<strong>br</strong> />
questão que emerge dos estudos clássicos de Frazer a respeito <strong>da</strong> magia<<strong>br</strong> />
simpática: os efeitos de poder <strong>da</strong>s representações so<strong>br</strong>e os representados.<<strong>br</strong> />
“Bonecos pescadores” que evocam imagens de “barranqueiros” suscitam forças<<strong>br</strong> />
em “barranqueiros” que fazem suas mora<strong>da</strong>s à beira do rio.<<strong>br</strong> />
Irrompendo ao lado de monumentos históricos, imagens de bonecos<<strong>br</strong> />
pescadores interrompem o efeito sedutor de narrativas <strong>da</strong> história, impedindo a<<strong>br</strong> />
o<strong>br</strong>a de esquecimento que se produz, paradoxalmente, em projetos de<<strong>br</strong> />
“preservação <strong>da</strong> memória”, tais <strong>com</strong>o os que se vinculam à “Casa do Povoador”.<<strong>br</strong> />
O que emerge nestas imagens é algo <strong>da</strong> memória involuntária <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, seu<<strong>br</strong> />
inconsciente social, que em relatos oníricos “oficiais” se encontra apenas em<<strong>br</strong> />
forma de elipses, rasuras e emen<strong>da</strong>s suspeitas. Uma “história originária” se<<strong>br</strong> />
articula ao presente. Os bonecos evocam os “mortos”. “Quando olho para os<<strong>br</strong> />
bonecos nos barrancos do rio eu vejo meus próprios parentes e amigos, muitos<<strong>br</strong> />
que já morreram”, diz “Seu Elias”. “É a minha família.”<<strong>br</strong> />
Os “bonecos” também evocam um código <strong>da</strong> dádiva que permeia as<<strong>br</strong> />
relações de “barranqueiros” <strong>com</strong> o rio, originando <strong>com</strong>o uma espécie de<<strong>br</strong> />
“contradom” capaz de suscitar, <strong>com</strong> varas de pescar e trajes de pescadores<<strong>br</strong> />
“caipiras”, a vi<strong>da</strong> de um rio ameaçado pelas forças do “progresso”. O rio que<<strong>br</strong> />
nunca deixou de oferecer peixes em épocas de fome e desemprêgo, passa a<<strong>br</strong> />
depender, em termos desse código, dos “contradons” de “velhos barranqueiros”.<<strong>br</strong> />
“Devo o<strong>br</strong>igação pro rio”.<<strong>br</strong> />
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