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leituras benjaminianas da cidade - Agenciawad.com.br

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simplesmente não irão embora. Eles também querem um lugar sob a luz. [...]<<strong>br</strong> />

Pondo abaixo as velhas e miseráveis habitações medievais, Haussmann, de<<strong>br</strong> />

maneira involuntária, rompeu a crosta do mundo até então hermeticamente selado<<strong>br</strong> />

<strong>da</strong> tradicional po<strong>br</strong>eza urbana. Os bulevares, a<strong>br</strong>indo formidáveis buracos nos<<strong>br</strong> />

bairros po<strong>br</strong>es permitiram aos po<strong>br</strong>es caminhar através desses mesmos buracos,<<strong>br</strong> />

afastando-se de suas vizinhas arruina<strong>da</strong>s, para desco<strong>br</strong>ir, pela primeira vez em<<strong>br</strong> />

suas vi<strong>da</strong>s, <strong>com</strong>o era o resto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e <strong>com</strong>o era a outra espécie de vi<strong>da</strong> que aí<<strong>br</strong> />

existia. E, à medi<strong>da</strong> que vêem, eles também são vistos: visão e epifania fluem nos<<strong>br</strong> />

dois sentidos. [...] Os bulevares de Haussmann transformaram o exótico no<<strong>br</strong> />

imediato; a miséria que foi um dia mistério é agora um fato.”<<strong>br</strong> />

Nos anos 70 e 80, sonhos de “modernização” do campo e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<<strong>br</strong> />

tomaram conta <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de <strong>br</strong>asileira. Por detrás dos destroços, surgiram os<<strong>br</strong> />

“bóias-frias”. Às vezes, as carrocerias de caminhões carrega<strong>da</strong>s dessas “famílias<<strong>br</strong> />

de olhos” tomavam de surpresa os moradores do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, descendo por<<strong>br</strong> />

aveni<strong>da</strong>s principais ou irrompendo ao lado de clubes de campo, geralmente<<strong>br</strong> />

quando, por alguma razão, retornavam mais cedo dos canaviais.Tais <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

“famílias dos olhos”, os “bóias-frias” não iam embora. Num vai-e-vem diário, iam e<<strong>br</strong> />

voltavam, mas sempre voltavam. Muitos sentiram-se in<strong>com</strong>o<strong>da</strong>dos, provocados e,<<strong>br</strong> />

talvez, até seduzidos pelos olhares dos “bóias-frias”.<<strong>br</strong> />

Como se fossem atores num teatro épico de Brecht, os “bóias-frias”<<strong>br</strong> />

provocavam no palco <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de um momento de tensão: a “dialética em<<strong>br</strong> />

estado de paralisia”. Reunindo reali<strong>da</strong>des distantes, <strong>com</strong>o Walter Benjamin diria,<<strong>br</strong> />

em uma única “imagem dialética”, produziram em quem tentava vê-los <strong>com</strong>o<<strong>br</strong> />

outros, uma sensação de assom<strong>br</strong>o. Benjamin (1985a:231) escreve: “Quando o<<strong>br</strong> />

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