GÊNESE DO PENSAMENTO ÚNICO EM EDUCAÇÃO ... - UFF

O horizonte que se abre aponta para uma pluralidade paradigmática, ou seja,
haverá cada vez mais espaço a variados meios de orientação para a vida no mundo, sem,
todavia, renunciarmos aos cuidados éticos.
Conforme acentuou Norbert Elias, uma investigação de larga duração sobre o
desenvolvimento do conhecimento, mostra, de forma conclusiva, que o conhecimento
científico chegou apenas tardiamente a ser o tipo de conhecimento dominante. Em
épocas anteriores, havia outras formas de conhecimento dominante que cumpriam a
função de orientar a existência humana. Para Norbert Elias, pareceu ser “um grave
equívoco confirmar a teoria do conhecimento à consideração do que na atualidade
chamamos conhecimento científico deixando de lado outras formas de conhecimento”. 13
Do interior do próprio discurso científico, porém, surgiram novas teorias que
desestabilizaram os antigos princípios inferidos de uma lógica binária, linear,
hierárquica que presidiu o ideal de racionalidade assumido pela práxis jesuítica. Essa
mesma lógica excluiu a pluralidade dos enunciados e mesmo outras “razões” ou
“racionalidades” definidas por outros grupos humanos, culturas ou referenciais teóricos.
No início do século passado, a Física descortinou “um mundo de surpresas impossíveis
de serem abrigadas nos conceitos clássicos da ciência”, 14 através das discussões sobre
a teoria da relatividade, a teoria do caos, a teoria quântica, os avanços da física das
estruturas dissipativas e as novas perspectivas do campo eletromagnético. Segundo
Linhares, “as certezas absolutas ficaram canceladas nestes novos tipos de
conhecimento e o processo de captar e traduzir o conhecimento passou a precisar de
recursos mais ágeis e voláteis e, freqüentemente, a poesia passou a auxiliar na tentativa
de aprender os movimentos da vida, na chamada ‘dança do universo’”. 15
13 ELIAS, Norbert. A Sociedade dos Indivíduos, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994, p. 73.
14 LINHARES, Célia. O Ovo Não é Só da Serpente – A Educação nos Labirintos de Tempos e
Espaços Novos. Cadernos de Ensaio e Pesquisa, UFF, Niterói, nº 1, pp. 11-30, jul/ago/set, 2000, p. 19.
15 Idem, p. 20.